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Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES CAPÍTULO IV - AVES 1. ORIGEM As aves são abundantes desde o fim do Cretácico. Conhecem-se cerca de10 000 espécies de aves, e destas pelo menos 6 ordens e 40 famílias são fósseis. O voo vai modificar o corpo de certa maneira, impondo limites aos habitats potenciais passíveis de serem ocupados. Assim, não há aves estritamente aquáticas (como a baleia nos mamíferos e as cobras marinhas nos répteis), nem cavernícolas estritas. A ovoviviparidade e a incubação obrigatória dos ovos também são limitações. As aves apresentam muitas características comuns com os répteis, por exemplo um só côndilo occipital, os ossos da mandíbula inferior e a sua articulação com o crâneo, a estrutura do ouvido, os ossos pneumáticos com correspondência nalgumas formas reptilianas, escamas epidérmicas, poucas glândulas na pele, ovo amniótico com casca e dente do ovo, bem como músculos de eclosão, a mesma disposição do aparelho excretor e reprodutor, etc. Diferem dos répteis sobretudo pelo voo e pela endotermia (determinada pela insulação das penas e pelo calor de origem metabólica). Embora hajam lagartos (Draco) e mamíferos (esquilo) voadores, apenas os insectos, morcegos, pterossauros e aves desenvolveram asas verdadeiras e voo por batimentos. Na verdade, o desenvolvimento das penas é o acontecimento evolutivo chave para a linhagem das aves. Sem penas, e no início elas não serviriam para o voo mas para para a termoregulação, nunca existiriam as aves. A modificação das penas do dorso e da cauda é uma adaptação posterior ao voo. Alguns fósseis intermédios, encontrados sobretudos na Ásia, esclarecem-nos sobre a origem e evolução das penas (Figura 4.1). Figura 4.1. Fósseis de percursores de ave (“dinobirds”) dispostos numa linha evolutiva com referência ao tipo de locomoção (em cima) e às transformações do esqueleto (em baixo). Fonte: Pough e tal., 1999. 64 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES O fóssil mais conhecido de aves é o Archeopterix do Jurássico, com penas já diferenciadas em primárias e secundárias no dorso, 15 pares de rectrizes dicotomicamente dispostas numa cauda (fila de vértebras caudais). Os detalhes da cauda sugerem parentesco com os répteis Ornitischia. Os pterossauros eram contemporâneos do Archeopterix mas tinham uma estrutura de asa completamente diferente, com dedos esticados e ligados para dar uma asa membranar, enquanto que no Archeopterix e nas aves é o braço todo que está alongado e envolvido no voo. Várias formas de dinossauros com penas foram entretanto encontrados, sobretudo na Ásia, permitindo traçar a evolução das penas e do voo por batimento, cuja inovação reside sobretudo na adaptação da estrutura óssea (Figura 4.1). Mais tarde no Cretácio há já muitos fósseis de aves, nomeadamente de aves aquáticas, em grande parte semelhantes a formas actuais, por exemplo flamingos, mergulhões e cormorões. Coexistem com formas de aves que não tem correspondência actual, como Ichthyornis e Hesperornis, formas marinhas não voadoras. Depois de um grande período de especiação do Cretácio, resultante do aparecimento do voo e capacidade de explorar o meio aéreo, surge um outro no Eocénico, (40 a 50 milhões de anos B.P.), correspondendo à época de grande diversificação, em que foram criadas as raízes de muitas das famílias actuais, incluindo a maior parte das formas aquáticas que faltavam e as aves terrestres não passeriformes. Um segundo período de especiação ocorre no Miocénio, e inclui o resto das formas aquáticas e a maior parte dos passeriformes, bem como formas adaptadas a ambientes mais secos e florestais. 2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS GERAIS • Corpo coberto de penas • Dois pares de extremidades. Par anterior modificado em forma de asas. Par posterior adaptado a pousar, andar e nadar. Patas com 4 dedos, cobertas de pele cornificada (muito raramente com 3 ou 2 dedos, caso da avestruz). • Esqueleto delicado mas totalmente ossificado. A boca é um bico saliente de cobertura córnea, sem dentes • Um só côndilo occipital. Esterno geralmente com quilha mediana. Cauda formada por poucas vértebras e comprimidas. • Coração com 4 câmaras, separadas. Respiração por pulmões compactos aderentes às costelas e/ou em comunicação com sacos aéreos de paredes finas, que se estendem entre os orgãos internos e penetram mesmo nos ossos. • Sem bexiga, com excrecção semi-sólida. Frequentemente apenas o ovário e o oviducto esquerdo subsistem nas fêmeas • Homeotérmicos. Fecundação interna. Ovos amnióticos, com muita albumina, cobertos de casca dura, incubação activa, cuidados parentais. 3. TOPOGRAFIA DE UMA AVE (Figura 4.2) • Cabeça diferenciada, com pescoço largo e flexível e corpo robusto e fusiforme. • Duas extremidades anteriores que se inserem na parte superior do dorso e com penas voadoras (rémiges). Dobram-se em forma de Z em repouso e estendem-se em voo 65 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES • Patas posteriores com um primeira parte musculosa e uma segunda parte com tendões sem músculos, revestida de escamas córneas, tal como os dedos que terminam em unhas córneas. • Cauda curta e com um grupo de penas grandes, rectrizes • Bico coberto de epiderme córnea, com duas aberturas nasais alargadas. Olhos grandes e laterais, com duas pálpebras, com membrana nictitante, transversal. • Abertura auditiva escondida sob penas especiais Figura 4.2. Topografia de uma ave vulgarmente utilizada na sua descrição. Fonte: Costa, 1988. 66 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES 4. PENAS, VOO E FUNÇÕES ASSOCIADAS 4. 1. Pele A pele é branda e flexível, laxamente aderente aos músculos. Não tem glândulas com excepção de uma glânfdula na base da cauda (glândula uropígia, que nem todas as aves possuem), com a função de untar as penas e manter o bico funcional. As penas são orgão epidérmicos que constituem uma coberta de pouco peso mas resistente, para proteger o corpo e realizar o voo. Formam-se, tal como a escama dos répteis, a partir de uma papila dérmica local que sobressai na epiderme. Este primórdio de pena está inserido numa depressão circular, o folículo, a zona onde a pena está inserida na pele (Figura 4.3). As células externas desta invaginação convertem-se numa capa lisa córnea (peridermo) dentro da qual se dispõem capas epidérmicas paralelas. A mediana, maior, será o ráquis, ou eixo da pena, e as paralelas as barbas da pena. A polpa dérmica central contem vasos sanguíneos e alimenta esta evolução. Quando a pena está forma, seca, esta torna-se uma estrutura exclusivamente epidérmica. O pigmento deposita-se durante o crescimento mas não depois. Figura 4.3. Origem das penas (em cima à esquerda), estrutura e tipos de penas (à direita) e sulcos de inserção das penas no corpo da ave (“pterilae”) (em baixo à esquerda). Fonte: Storer e Usinguer, 1972 4.2. Origem e composição das penas 67 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Há grande homogeneidade bioquímica das penas das aves e das escamas dos répteis, bem como no seu desenvolvimento. Contudo, as penas são moldadas como estruturas individuais, enquanto a pele dos répteis é cornificada por inteiro. Presentemente é aceite em geral que as penas evoluíram como auxiliares termoregulatórios associados à endotermia, isto é, as escamas reptilianas evoluíram para estruturas ramificadas alongadas funcionando como escudos de absorção de radiação. Porque surgiram a dado momento as penas com função de voo? • Teoria arbórea-As dinoaves eram bípedes arbóreos agarrados às árvores com as garras das asas, utilizadas para termoregulação. Dos saltos entre árvores e para o solo evoluiria o bater de asas. Mas será esta concepção de uma bípede arbóreo plausível? • Teoria cursorial- As dinoaves eram bípedes de savana, predadores em pradarias de gramíneas, saltando sobre as presas. Do esvoaçar para abater as presas teria evoluido o voar por batimentos. No entanto, a cauda num bípede predador de savana causa desiquilíbrio. Por outro lado, em termos físicos e mecânicos o esvoaçar não aumenta a velocidade e em consequência é pouco interessante para um predador. A composição das penas é muito simples. Mais de 90% consiste em β-queratina, uma proteína aparentada à das escamas dos répteis e ao pelo e cornos dos mamíferos. Cerca de 1% consiste em lípidos, cerca de 8% em água e o restante são outras proteínas e pigmentos como a melanina. 4. 3. Tipos de penas Penas tectrizes (coberturas, rémiges e rectrizes) Formam o revestimento geral do corpo e determinam o perfil do mesmo (importante na identificação mas também na identificação dos hábitos e habitats). Cada uma delas é formada por uma lâmina central, o ráquis, na base do qual está o cálamo, zona escavada em U situada na inserção do folículo (figura 4.3). Cada metade possui séries de barbas para lelas, estreitas e próximas. No lado proximal e distal das barbas há barbilhas paralelas, providas de ganchos que mantem unidas as barbilhas opostas. As tectrizes podem ter um formato assimétrico. Muitas das tectrizes tem um ráquis secundário, formando na base das penas uma cobertura penugenta e fofa, com excelentes propriedades de isolamento e insulação (o seu formato pode ser simétrico em relação ao ráquis principal). A parte mais distante é rígida e compacta, utilizando as correntes de ar, protegendo a base, isolando da água, reflectindo ou absorvendo a radiação solar e com uma função visual. As bárbulas mantêm a estrutura da pena. Quando esta é actuada fisicamente, o bico e os movimentos do corpo fazem com que as barbulas voltem ao seu lugar. As rémiges e rectrizes têm frequentemente forma assimétrica. Por exemplo, nas penas primárias de muitas rapinas, a parte final da pena termina bruscamente de um lado, de modo que quando distendidas se assemelham a um dedo, reduzindo a fricção com o vento e permitindo o direccionamento, como um 'flapper' de avião. Também há penas que, sem ter ráquis secundário, apresentam estrutura de plúmula na base, contribuindo para o revestimento da base do corpo. As penas dispoêm-se em faixas ('contour tracks', pterilae), separadas por outras faixas sem penas (apterilae). As faixas de inserção de penas estão relacionadas com o aerodinamismo do 68 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES voo. Nas aves não voadoras, as penas distribuem-se mais uniformemente, por exemplo, nas Ratites (avestruzes e afins) não há 'contour tracks'. Plúmulas São penas fofas em que o ráquis, quando existe, tem um comprimento menor que a maior barba. Estão escondidas sob as tectrizes e fornecem isolamento térmico. São usadas na incubação e dominam 0 corpo dos recém-nascidos antes de se desenvolverem as tectrizes. Dispõem-se preferencialmente nos espaços deixados livres pelos 'contour tracks' Cerdas São penas especializadas com um ráquis rígido. Ocorrem em certas partes do corpo, junto aos olhos, ao bico, no alto da cabeça, etc. São normalmente muito coloridas, de escuro, e a melanina ajuda a sua rigidez. Protegem os orgãos como os olhos das poeiras e são orgãos tácteis que ajudam por exemplo na alimentação Filoplumas Penas finas e longas com um penacho de barbas e barbulas na ponta. Normalmente muito expostas, em certas espécies ultrapassam as tectrizes e ajudam na aparência externa. São estruturas sensoriais, com terminais nervososnas paredes do folículo, ligados aos centros de recepção de pressão e vibrações. Transmitem estímulos desde as coberturas aos centros nervosos, de modo às coberturas serem ajustadas adequadamente ao voo, insolação, natação, etc. 4.4. Tipos de plumas e mudas A primeira plumagem, após a penugem pós-eclosão, designa-se por juvenil. ou imatura. Tecnicamente a ave é imatura até a segunda série de penas das asas. As espécies que mudam as penas duas vezes antes de substituirem as penas das asas designam-se por juvenis outonais ou juvenis invernais. Em muitas Famílias e na maior parte dos Passeriformes, a primeira plumagem é rapidamente substituida total ou parcialmente por penas definitivas. Quanto mais rapidamente é substituída a plumagem, menos resistente ao desgaste e mais penugentas são as suas características. Esta primeira plumagem é essencialmente mimética. A plumagem adulta tem a coloração completa. Pode mudar as penas juvenis todas (cotovias, chapins) ou permanecerem algumas. Quando a plumagem é adquirida de inverno, geralmente os juvenis são mais tardios que os adultos em muda. Muitas aves passam por mudas anuais, que consistem na substituição das tectrizes, de uma forma mais ou menos gradual de modo ao corpo nunca ficar nu. As mudas realizam-se normalmente duas vezes por ano, completa após nidificação e parcial antes desta. Mas pode haver substituições mais frequentes, ao longo do ano. Embora geralmente gradual, nalguns casos é tão radical (patos, gansos), que impede o voo durante este período. A ave adulta pode ter mais do que uma plumagem distinta por ano, designadas por adulta de Inverno (Outono) ou adulta de Verão (Primavera). Nalguns casos, a plumagem adulta é 69 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES precedida por uma série variável de camadas sub-adultas (por exemplo, no tartaranhão ruivo dos paúis, na águia real e nas gaivotas do género Larus. 4.5. Funções das penas Termoregulação As aves produzem calor endotérmico por meio do seu metabolismo de base, durante a digestão e absorção de alimentos, por contracções musculares locais e ainda com o movimento associado ao voo. Uma grande parte da retenção do calor é controlada pelas penas, conforme são comprimidas ou distendidas junto ao corpo. A maior parte das aves vive em ambientes mais frios do que a temperatura corporal, logo tende a perder calor. Assim, a maior parte das aves em estado de repouso e em temperaturas ambientes mais quentes, apresenta penas e pelos distendidos enquanto em temperaturas mais frias irá distender as penas e criar uma camada de ar entre o corpo e as penas de retenção de calor corporal (Figura 4.4). Figura 4.4. Proporção dos mecanismos de obtenção de calor por produção metabólica ou termoregulação. TB- variação nomotérmica da temperatura do corpo, característica de cada espécie. TNZ- zona termoneutral. T1- início da temperatura letal mínima. T2- início da temperatura mínima crítica. T3- início da temperatura máxima crítica. T1- início da temperatura letal máxima. Fonte: Pough e tal., 1999. 70 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Para cada espécie, a linha T1-T4 da Figura 4.4. em baixo varia (jogo da obtenção de calor através de metabolismo interno e/ou de comportamentos termoregulatórios). Acima ou abaixo dos limiares T1 e T4, o animal morre de hipotermia ou de hipertermia. Espécies com grandes capacidades termoregulatórias têm T2-T3 maior do que as aves de penas finas e pouco termoacumuladoras e dependem menos do calor interno (T1-T2). A zona termoneutral é a zona térmica em que o metabolismo basal permanece constante e a perca de calor é regulada por outros mecanismos que não o metabolismo, como o distender ou o comprimir das penas, vasodilatação das partes expostas do corpo, etc. Quanto maior a capacidade de o animal acumular calor porestas vias, mais à esquerda se encontra o valor T2. Uma vez atingido este, a taxa metabólica tem que aumentar para compensar a perca de calor, com os custos energéticos que tal acarreta. A inclinação da recta da taxa metabólica também é interessante em termos de adaptação ao habitat e bom indicador da eficácia da plumagem, que é proporcional à sua inclinação. Adaptações ao voo O voo é uma característica evolutiva fundamental e decisiva que condiciona todas as actividades: alimentação e procura de alimento, exploração de habitats, migrações, fuga, paradas nupciais, etc. A morfologia e metabolismo das aves estão também associadas aos vários tipos de voo, que são conseguidos através de dois tipos de características, as que tendem a reduzir a massa corporal e as que tendem a produzir energia (Quadro 4.1). Quadro 4.1. Mecanismos e características associados ao voo (Fonte: MacFarland e tal., 1985. REDUÇÃO DO PESO CORPORAL PRODUÇÃO DE ENERGIA Ossos finos e ocos Homeotermia e taxas metabólicas elevadas Penas leves Plumagem isolante Eliminação de dentes e mandíbulas Alimentação com elevado teor energético Eliminação de alguns ossos e fusão de outros Sistema respiratório muito eficiente Sistema de sacos aéreos ramificados Movimentos respiratórios sincronizados com os movimentos das asas Ovoviviparidade e não viviparidade Coração grande, com mais batimentos do que o dos mamíferos Atrofia das gónadas em períodos não reprodutivos Circulação sanguínea sob maior pressão Ingestão de alimentos concentrados Digestão rápida e eficiente Excrecção de ácido úrico 71 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Outras adaptações ao voo são: os músculus peitorais poderosos (por ex. 20% do peso corporal nos pombos); cérebro comparativamente grande, para coordenação dos movimentos; lobos ópticos muito desenvolvidos para as informações corporais de que necessitam. As asas funcionam como superfície de elevação e como impulsionadores. As rémiges primárias são principalmente impulsionadoras e as rémiges secundárias elevadoras. O bater de asas produz um fluxo de ar que se dispoe em duas componentes, uma vertical ('lift') e uma horizontal ('drag'), contrárias ao movimento. Se a asa se mantivesse horizontal a pressão do ar seria igual e não haveria elevação. Contudo, se o contorno da asa for concavo, há menos pressão do ar dorsalmente e efectua-se elevação. Para evitar o turbilhonamento do ar sobre a asa, que impediria a elevação, pequenas aletas (asas bastardas) na base da asa funcionam como restauradores do fluxo de ar. Em alternativa, alguams penas primárias devidamente posicionadas funcionam como asas bastardas. Há vários tipos de voo (Figura 4.5): arranque, planar activo, planar passivo, batimento com deslocação, batimento sem deslocação (colibri), aterrar, etc. A forma mais primitiva de voo é o planar (voo passivo), em que a ave se deixa arrastar pelas correntes de ar. Este voo é alternado com frequência pelo voo activo. Muitas rapinas, o albatroz e a cegonha são especialistas no voo passivo. No planar activo, há uma combinação de voo activo e planar de modo à ave subir activamente ao longo das massas de ar quente. Figura 4.5. Ossos das asas de andorinhões Apodiformes (em cima):batidas rápidas e poderosas, força propulasiva máxima das primárias, ossos da mão maiores do que os antebraços e braços juntos e poucas secundárias na parte interior da asa; de fragatas Pelecaniformes (ao meio): asas longas e estreitas preparadas para batimentos poderosos mas também para o planar e deslizar nas correntes de ar, os dois segmentos são iguais em comprimento; de albatrozes Procelariformes (em baixo) : o comprimento do braço e da asa são levados ao extremo. Fonte: MacFarland e tal., 1985. 72 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES As aves pequenas normalmente praticam o voo activo, em que a propulsão é assegurada pelo batimento das asas cujas pontas descrevem uma elipse. As asas, movidas pelos músculos peitorais, impulsionam o corpo para a frente como os remos de um barco. Um voo mais raro é o do colibri, que utiliza um movimento turbilhonar em forma de oito, comparável às hélices de um helicóptero, mantendo-se no mesmo lugar. O tipo de voo está relacionado com a forma do corpo. Dois índices corporais importantes são: índice de forma = comprimento da asa / largura da asa, em que quanto maior for a razão, maior a capacidade de elevação; e carga da asa = peso da ave / área da asa, em que quanto maior a carga mais força é necessária para suster o corpo em voo. Cores As penas desempenham um papel importante na comunicação social, no esconder de predadores, na troca de calor com o meio ambiente. Há dois pigmentos nas penas, as melaninas, o pigmento maioritário, que produz os pretos, amarelos e castanhos e os lipocromos, que produzem os vermelhos, laranjas e verdes. As diferentes colorações intermédias são dadas pelas misturas deste dois pigmentos. A estrutura física das penas também contribui para a cor, de acordo com o ângulo de visão. A dispersão da luz em pequenos comprimentos de onda por partículas mais pequenas que o comprimento de onda da luz vermelha resulta na reflexão de pequenos c.d.o. da luz incidente, sendo o efeito resultante de azul e violeta (por exemplo, o pavão Pavo cristatus). A iridiscência tem origem no ângulo de luz incidente entre o observador e a pena, sobretudo as bárbulas. Propriedades hidrófobas Várias adaptações impedem a água de penetrar da cobertura para as plúmulas. Um óleo é utilizado pela ave para tornar as penas hidrófobas. Há evidência de arranjo físico de espaçamento e ângulos das barbas e bárbulas com propriedades igualmente hidrófobas. Algumas aves aquáticas apresentam bárbulas enroladas que retardam igualmente a penetração da água. Comunicação As penas são importantes orgãos de comunicação visual, contribuem com movimentos ritualizados para a biologia reprodutiva das espécies, reflectem o dimorfismo sexual (os machos são em geral mais coloridos). A coloração dimórfica sexiual é frequentemente sazonal, porque cores vivas e penas mais compridas atrairiam os predadores. A cor e forma do revestimento das penas tem frequentemente potencialidades miméticas, sobretudo nas aves que habitam o solo e nas aves que habitam zonas de inverno com cobertura de neve (por ex. ptármige Lagopus sp.). Para além das vocalizações, as aves também produzem sons associados às penas, através do bater destas, sobretudo as primárias e as rectrizes. Estes sons são em geral avisos territoriais ou relacionam-se com chamamentos sexuais. As Strigiformes e Caprimulgiformes são em geral predadores nocturnos e tem adaptações das tectrizes de modo a evitar a produção de sons. As penas dorsais tem uma textura aveludada 73 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES com barbulas pubescentes erectas, que projectam pontas muito finas, de modo às asas não produzirem sons durante o voo. 5. BIOLOGIA REPRODUTIVA Fertilização interna, incubação e cuidados parentais são características das aves, estando associados a uma ligação profunda das crias com os progenitores. Não há vantagens numa retenção dos ovos porque: tem desvantagens em termos de peso para o voo; a actividade visceral das aves é compacta não permitindo mais do que um ovo maturo de cada vez, o que restringiria a fertilidade noutro tipo de animais; pôr um avo após a cópula assegura ao macho a paternidade e diminui as possibilidades de abandono do ninho (ovos externos e bem visíveis podem ser o estímulo de paternidade em muitas espécies). Acasalamento Cerca de 92% das aves são definitivamente monogâmicas. Contudo,a poliginia verifica-se em muitas aves (cerca de 2%) por exemplo na maior parte dos Galliformes. A poliginia implica que a fêmea normalmente cuide dos filhotes sozinha e o macho toma conta do harém. Nalguns casos, há parada de machos, em que a fêmea tem direito de opção. A poliandria ocorre em ambientes muito produtivos, geralmente pântanos, e neste caso a capacidade de pôr ovos em sucessão é muito grande. O acasalamento neste caso é em geral promíscuo, sem preferência de par, e muitas vezes ocorre repetidas vezes. A parada nupcial é o primeiro passo do acasalamento e consiste num conjunto de acções que permitem a um macho atrair a fêmea, incluindo canto e atitudes comportamentais. A cópula segue-se à parada nupcial. A frequência e regularidade da cópula variam muito, em certos casos há-a apenas antes da nidificação, noutros prolonga-se pela incubação. Manifestações sonoras A maior parte das espécies apresenta dois cantos ou manifestações sonoras, o de todo o ano, com variantes sazonais, e o reprodutor, associado a actividades reprodutoras despoletadas por diferentes níveis hormonais. Às manifestações vocais, que provêm da traqueia e não da laringe como no caso dos mamíferos, estão associadas manifestações sonoras que incluem o bater e friccionar de bicos e penas. Uma grande parte das manifestações sonoras está impressa geneticamente, contudo, uma parte substancial é adquirida por aprendizagem. Ninhos O tipo de ninho varia muito desde os muito elaborados aos que utilizam simples cavidades. O tipo de ninho, incluindo a forma, materiais e localização, estão associados ao habitat e nicho ecológico da espécie. A maior parte das espécies faz ninho, embora algumas ponham os ovos directamente no solo ou numa depressão deste. Muitas aves fazem ninhos no solo (borrelho), muitas nas árvores outras na vegetação. Os mergulhões fazem-nos em ninhos flutuantes, outras aves suspensos a certa altura da água (abetouro). Há ninhos soltos de ervas e ramos, que aproveitam bifurcações 74 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES de árvores (rolas, pombos) e outros muito elaborados e coesos, em vários sítios da árvore. Os buracos das árvores são muito acolhedores, e também todos os buracos em geral. Algumas espécies fazem o seu próprio buraco (cavernícolas primárias, pica-pau), enquanto outras aproveitam buracos á feitos (cavernícolas secundárias). O material de construção é muito variável: fetos, briófitas, galhos, lã, penas, pelos e teias de aranha são alguns dos materiais utilizados. Há espécies muito selectivas nos materiais de construção e outras que apanham os materiais que encontrarem. Argila e madeira podre fazem argamassas. A saliva e a água ajudam a aglutinar os materiais (andorinhas). Os andorinhões fazem os ninhos com saliva na parede das cavernas. Os ninhos podem ter várias entradas ou apenas uma, colocada lateralmente ou em cima, ou galerias de entradas com corredor de acesso. Na maior parte das aves a fêmea faz o ninho, enquanto o macho assinala e defende o território. Levam em geral de 4-6 horas (dependendo dos materiais disponíveis, estação do ano, participação de outras aves mais velhas, etc), mas podem levar até 3-6 semanas. A forma de construir os ninhos é hereditária e específica, mas o factor geográfico é importante. O falcão faz ninho em rochedos na Europa Central, enquanto na Europa Setentrional o faz nas árvores de grande porte. Uma vez criados, os juvenis em geral não voltam ao ninho. Todos os anos é feito um novo ninho com excepções para as aves grandes, como as cegonhas. Algumas rapinas têm vários ninhos nos territórios de caça e vão criando alternadamente neles. Muitas aves perderam contudo o hábito de fazerem ninhos e usam ninhos abandonados. Também os ninhos coloniais são comuns (nidificação colectiva), surgindo para protecção do grupo e em locais de riqueza alimentar. Crias As crias partem a casca do ovo com o 'dente do ovo', uma pequena protuberância córnea que se desnvolve na ponta do superior do bico do embrião. e qua cai alguns dias depois da eclosão. Os pais removem de imediato as cascas e membranas que atrairiam predadores. Há crias nidífugas, que são sobretudo de espécies que habitam o solo e a água, e que abandonam o ninho após algumas horas, mostrando uma grande autonomia na alimentação e movimentos (patos, perdizes). Os pais guiam-nos e durante a noite abrigam-nos. As crias nidícolas (a maior parte dos Passeriformes) eclodem nus, cegos, e totalmente dependentes dos pais que lhes trazem o alimento. Crescem mais rapidamente que as nidífugas. A actividade de procura e transporte de alimento é tremenda. No caso do chapim, os progenitores podem realizar 500 viagens por dia para o ninho. O interior do bico das crias nidícolas é muito coloridoe eles soltam pios agudos, ambos os sinais sendo estímulos para os pais. Nos primeiros dias, as crias nidícolas defecam quase d imediato após ingestão de alimento, pelo que os pais desenvolvem actividade intensa de limpeza dos ninhos ou ingerem os excrementos. Algumas crias defecam em sacos fecais que são deitados foram pelos pais. Em alguams espécies contudo não há cuidados especiais com as defecções (pica-peixe). A forma de alimentar as crias varia para cada espécie: são-lhes dadas regurgitações no ninho ou no bico; a presa é dada inteira ou partida aos bocados; os Columbiformes dão um puré regurgitado a partir do papo. Ambos os pais participam em geral na alimentação e na protecção (ataque ao predador, desviar a atenção deste). 75 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES A ligação parental pode ser longa. As crias de gansos, cisnes, grous e algumas rapinas ainda se encontram com os progenitores um ano após o nascimento. Nos Passeriformes os laços são muito curtos e separam-se em geral no final do Verão. Nas nidificações parasitárias (por ex. cucos) os ovos tem o tamanho e a cor dos do hospedeiro, em geral um insectívoro. Tem uma casca muito dura que não se parte apesar da progenitora os atirar para o ninho parasitado. Eclodem rapidamente, mais depressa que os ovos do hospedeiro e atira estes para fora do ninho (este comportamento está impresso geneticamente). Territórios (de nidificação) A escolha do território para a nidificação é em geral tarefa do macho, que o delimita e defende. Inicia então o canto ou comportamento de chamada da fêmea. A dissuasão em relação a competidores é em geral feita por combate simbólico. Os territórios servem para isolar o casal de modo ao acasalamento se fazer sem interferências; distribuem as aves de uma forma em princípio optimizada, em função dos recursos disponíveis e da adensidade das populações; optimiza a procura de alimento; assegura melhores condições para a defesa do ninho e do casal. Os territórios são frequentemente utilizados na contagem de aves nidificantes. A área de nidificação é determinada pela posição do ninho e é normalmente circular (Figura). Mas pode ser determinado por barreiras naturais, como rios, arvoredos e canais. A defesa é realizada em relação a inimigos e à mesma espécie, mas várias espécies podem coexistir na mesma área. O tamanho da área de nidificação está em geral directamente relacionada com a forma de alimentação. Assim, as rapinas tem áreas de centenas de km2 e os Passeriformes em geral de algumas centenas de m2. Em ninhos coloniais, a área de alimentação é muito grande mas a área considerada pela ave como sendo de nidificação é muito pequena, por exemplo as garças brancas tem cerca de 1m2 de área para cada ninho. Podem haver áreas de nidificação e áreas de alimentação separadas, mais ou menos defendidas ambas de acordo com a espécie. Algumas aves só tem área de nidificação durante o acasalamento e a cópula, a arena,caso dos Galiiformes (faisões, perdizes). Assim, há: a) Territórios polivalentes, que servem para alimentação, acasalamento e nidificação (a maior parte dos Passeriformes) b) Territórios de nidificação estrita, servem para tudo menos alimentação (certas aves de rapina, andorinhas não coloniais) c) Territórios de ninho, servem apenas para os ninhos, o acasalamento e alimentação é exterior (aves coloniais como a andorinha do amr e a garça branca) d) Territórios de acasalamento ou arenas, só para este fim e para a cópula (faisão, galo da serra) Ovos e incubação O tamanho do ovo relaciona-se com o tamanho da ave mas não só, caso do cuco parasita. Raramente tem cores vivas, embora haja grande variedade. Na sua maioria são esbranquiçados ou cinzentos, de cor uniforme ou manchados. 76 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES O número de ovos varia de 1 a 20, conforme as espécies. Uma ave de rapina tem 2 ovos/postura em geral, uma perdiz pode ter 15 ovos/postura e um chapim 10 a 12 ovos /postura. A taxa de sobrevivência e o tamanho da ave está indirectamente relacionada com o número de ovos/postura (Figura 4.6). Na maioria dos Passeriformes a postura faz-se a 1 ovo por dia. Quando os ovos são destruídos, a postura recomeça, sendo o processo fisiológico que controla este fenómeno ainda mal conhecido, mas muito aproveitado pelo homem, caso das galinhas domésticas e dos patos residentes. Figura 4.6. Características reprodutivas(número de ovos, duração da incubação, e outras) de espécies cinegéticas e seus predadores. Fonte: Costa, 1988. Durante a incubação desenvolve-se a pelada da incubação na zona ventral, onde as penas de coberturas caem e a densidade de plumulas aumenta, verificando-se grande concentração de vasos sanguíneos dilatados que transmitem calor metabólico ao ovo. Os machos que incubam também têm pelada. A temperatura de incubação situa-se nos 42 ºC. O tempo de incubação é em geral de 10 a 18 dias, dependendo das espécies, das condições atmosféricas, das perturbações, etc. A fêmea, o macho, ou ambos, podem incubar. 6. ALIMENTAÇÃO Há uma inter-relação muito forte entre a forma do corpo, o tipo de bico, as patas a formas de locomoção a movimento, a exploração de habitats e o tipo de habitat característico de cada 77 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES espécie (Figura 4.6). As aves adquiriram uma grande variedade de hábitos alimentares (modificações do bico a do tracto digestivo) que estão associadas a comportamentos, bem como a dadas extremidades a formas de locomoção a ao desenvolvimento de certos orgãos dos sentidos. O aparelho digestivo das aves compreende um bico, variável consoante o regime alimentar, euma lingua usualmente, pequena a ponteaguda, mas também esta variável consoante as espécies. Ambos formam a boca a constituem os principais orgãos de captura de alimentos. À abertura bocal segue-se a faringe e o esófago, de forma tubular, que se estende até à base do pescoço, onde pode sofrer uma dilatação - papo. O papo armazena a amolece os alimentos, sendo um orgão muito desenvolvido nas espécies granívoras. O estômago das aves compreende duas panes, de desenvolvimento a importância variáveis consoante o regime alimentar, o proventrículo e o ventrículo, ou moela. O pro-ventrículo é em geral pouco desenvolvido e com paredes possuidoras de glândulas gástricas, cuja secrecções realizam a decomposição química dos alimentos. O ventrículo ou moela é um orgão de paredes grossas, musculosa, cuja face interna é forrada de uma membrana córnea muito resistente, com funções trituradoras. A sua função é essencialmente a mastigação, visto que a aves não possuem dentes. esta função é particularmente, importante na aves granívoras, enquanto nas aves carnívoras o estômago é simples a predomina a degradação química do alimento. Podemos identificar os seguintes tipos alimentares: Ictiófagos e predadores aquáticos Podem capturar a presa no ar como as fragatas que predam os peixes voadores. Podem obrigar outras aves a regurgitar ou a devolver as presas (gaivotas, águias pesqueiras, fulmares). Em voo, podem capturar presas superficiais, ou nadar à superfície e capturar presas superficiais. O nadar activo atrás das presas (mergulho profundo) pode ser feito com as patas, asas ou ambos. Algumas aves mergulham a cabeça, nadam à superfície (mergulho de superfície) e chegam fundo (cisnes Cygnus spp.). Outras caminham no fundo, segurando-se a este com as patas (Melro-d'água Cinclus cinclus). Finalmente algumas realizam perseguições subaquáticas com a ajuda das asas, o que está associado a uma certa velocidade a predação activa de presas como crustáceos, peixes a cefalópodes. Os comedores de peixe tem os bicos a as línguas adaptados: o movimento é de "forceps" e associado a superficies escorregadias, muitas vezes a borda do bico tem rugosidades ou ganchos. Algumas espécies espetam o peixe com o bico. A Águia-pesqueira Pandion halieutus captura os peixes com as garras a estas tem espículas para ajudar a reter as superfícies escorregadias do peixe. Os piscívoros em geral são eurifágicos Filtradores aquáticos Trata-se de recolha passiva de organismos do lodo a areia, ou na água. Estes materiais são triados a retido o alimento vivo. São características suas as mandíbulas muito distendidas, bolsas junto à garganta a sistemas de filtração. Alguns painhos nadam filtrando. Os flamingos e patos reais filtram em estruturas do bico 78 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Figura 4.7. Tipos de bicos relacionados com diferentes tipos de alimentação. Fonte: Storer e Usinger, 1972 Predadores terrestres A carnivoria está espalhada em muitas ordens. É frequente as aves comerem juvenis de outras aves. Anfíbios a répteis são os animais mais predados, mas outras aves a mamíferos também. A carnívora pode ser oportunista a pouco especializada (gaivotas Larus spp., corvídeos Corvus spp.) ou muito especializada, neste último caso envolvendo perseguição, captura, morte a ingestão. A presa pode ser ingerida por inteiro ou aos bocados, quando é muito grande. A maior parte das aves predadoras são diurnas a visuais. Algumas são espécies nocturnas e auditivas (Strigiformes). Os predadores velozes atacam por voo batido com perseguição como, por exemplo o Falcão-peregrino Falco peregrinus, e o Açor Accipiter gentilis. Os predadores de bosque são em geral de pequeno porte a também usam voo batido. Em geral as aves predam com o bico a as garras em conjugação. As patas tendem a ser largas, proporcionalmente a com grandes garras. O género Falco usa tipicamente a "bicada no pescoço", um comportamento interessante. Os Falconídeos possuem uma reentrância no bico inferior que engancha numa saliência do bico superior a que ajuda nesta bicada. Os predadores menos especializados engolem em geral a presa inteira (por ex. répteis), os mais especializados às bicadas a bocados. Alguns empalam as presas em ramos a aos poucos vão-nas comendo. Os estômagos dos predadores são bolsas em saco com poderosos enzimas proteolíticos e ácidos. Não há movimentos musculares como nos granívoros. Os restos são regurgitados. Nos predadores de ofídios venenosos (predação comportamental), há escamação acentuada das patas, a patas curtas a poderosas para imobilizar a presa. Normalmente, actuam por bicada rápida no pescoço, separando a cabeça do corpo: todas as aves cobreiras adquiriram este comportamento, com por exemplo a Águia-cobreira Circaetus gallicus. Um predador muito especializado da Florida (EUA) tem o pescoço muito curvo para extrair os caracóis de que se alimenta. Necrófagos Os necrófagos estritos tem cabeças com poucaspenas a pescoços sem elas (provavelmente para evitar que os líquidos da carcaça sujem a plumagem). Possuem patas mais adaptadas a andar no solo do que a apanhar presas. A carcaça é detectada especialmente pela visão a pelo cheiro. As variações do bico a do tamanho do corpo a do pescoço tem a ver com o tamanho das carcaças, a sequência de necrófagos sobre esta e a parte comida da carcaça. A sequência mais diversificada de necrófagos verifica-se nas pradarias africanas. Insectívoras a comedouras de invertebrados Cerca de 60% das aves são total ou parcialmente insectívoras. Podem apanhar visualmente os insectos localizados em folhagem a troncos (o caso mais vulgar é o dos Passeriformes florestais). Tem bicos curtos a pontiagudos. 79 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Muitas vezes voam de uma posição fixa para apanhar o insecto em voo. Os bicos são largos e ligeiramente curvados com cerdas abundantes. Alguns especializaram-se em comer insectos como abelhas a vespas. Movem o insecto no bico na zona do ferrão a dão várias bicadas até este sair ou o veneno. Limpam os insectos num ramo a comem-nos (especialização comportamental). Algumas aves voam alto e de bico aberto a filtrar os enxames de insectos, por contacto casual a alguma orientação visual. Tem voo rápido, bicos curtos a largos a ossos palatinos expandidos (andorinhas a andorinhões). Os "sondadores" introduzem os bicos em buracos de solo a vegetação para apanhar insectos, ovos a larvas. Alguns tem fortes músculos para introduzir o bico a alargar o buraco e introduzir a língua. Normalmente tem olhos muito à frente para ver o interior do buraco. Os sondadores de plantas chupam o nectar a os insectos que existem no interior dos cálices (Figura 4.7). O bico ponteagudo é comum em aves limícolas a aquáticas. Os pica-paus escavam buracos sobretudo em árvores mortas para expor insectos escondidos. Tem línguas longas a próctáteis a crânio espessado para aguentar o choque das batidas do bico (Figura 4.8). Muitas aves escavam o solo com o bico a as patas para expor a comida. Variam de tamanho entre os galináceos como o perú a os pequenos Passeriformes, sendo um grupo muito variado e heterogéneo. Alguns falcões a corujas atacam os insectos com as garras, embora nenhum seja exclusivamente insectívoro. Melanófagos a nectarífagos As línguas tem escovas nas pontas a são tubulares para aspirar o nectar. O comprimento, forma a curvatura do bico dependem das plantas de que se alimentam. Frugívoros Os juvenis predam insectos porque necessitam de um regime alimentar rico em proteínas nesta fase da vida para o seu desenvolvimento a os frutos tem poucos amino-ácidos. Tem um aparelho digestivo curto a tubular com estômago muito desenvolvido. Só a polpa do fruto é digerida, e a comida passa rapidamente pelo tracto digestivo. Granívoros Os granívoros têm bicos cónicos a simples, adoptados à colheita a descasque de grãos. Há espécies que ingerem sementes intactas a dependem de pré-ventrículos papos a moelas poderosos para a digestão, incluindo sucos gástricos muito activos (caso do Perú e do Pato real). Há espécies que abrem as sementes com o bico a comem o interior mole. Podem segurar as sementes com as patas ou polas em buracos a abri-las por percussão. Podem desenvolver bicos fortes a côncavos, palatos a músculos para abrir as sementes a escalar árvores, caso dos Psitaciformes (papagaios a afins) que possuem bicos curtos a pesados, com a borda inferior pontiaguda a encaixando numa depressão da borda inferior. Herbívoros Os anatídeos comem partes vegetais de plantas aquáticas, mas há poucas espécies que comam exclusivamente plantas normalmente, todas estas complementadas, pelo menos em certas fases 80 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES do ciclo de vida, com proteína animal. Os herbívoros exclusivos tem o tubo digestivo com sacos laterais onde o material é armazenado a digerido por bactérias simbióticas. Estas divisões alimentares não são de forma nenhuma estanques, apenas facilitam a visualização das tendências de cada grupo. Grande parte das espécies não se encaixa exclusivamente numa só divisão. Há espécies muito eurifágicas (a Pega-rabuda Pica pica come insectos, grãos, pequenas aves a cadáveres) a outras muito estenofágicas (as andorinhas quase só comem insectos bem como as felosas Phylloscopus spp. Dentro das predadoras também pode haver euricarnivoria (aves, mamíferos, anfíbios, insectos, cadaveres - Milhano Milvus milvus) e estenocarnivoria (Falcão-peregrino só come aves a mamíferos) Os piscívoros também comem em geral anfíbios. E os necrófagos estritos são raros. Figura 4.8. Tipos de bicos relacionados com diferentes tipos de alimentação. Fonte: Pough et al., 1999 Os granívoros tem bicos cónicos a simples, adaptados à colheita a descasque de grãos. Os insectívoros tem um bico fino a pontiagudo (Figura 4.8). O bico forte a côncavo serve para frutos duros (papagaios) a escalar árvores. O bico cortante a cruzado das rapinas serve para cortar as presas. O bico achatado dorso-ventralmente serve para filtrar a água aspirada (colhereiros). O bico pontiagudo é comum em aves limícolas a aquáticas. O alimento é ingerido inteiro ou partido em bocados pelo bico. A língua curta a córnea ajuda o processo. Por vezes os alimentos permanecem uns tempos em invaginações da faringe a do esófago onde são amolecidas por sucos ácidos (sobretudo granívoros). A digestão é efectuada numa primeira parte glandular do estômago (pro-ventrículo) a depois num papo muscular, particularmente desenvolvido em granívoros. Os resíduos não digeríveis são frequentemente regurgitados sob a forma de pequenas massas (pêlos, penas, escamas). A digestão é mais rápida do que nos mamíferos e a quantidade ingerida comparativamente maior do que estes (por vezes comem diariamente mais do que o seu peso). Muita desta energia vai para as actividades de voo. A assimilação é também muito rápida. A 81 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES visão e a audição são os principais sentidos utilizados na alimentação. O odor e o gosto estão muito pouco desenvolvidos. Outras dietas ainda mais estranhas existem, por exemplo, a de Geospiza difficilis, que come o sangue de outras aves depois de debicar zonas de penas; dietas de excrementos de mamíferos; os albatrozes conseguem comer medusas tóxicas; um abelharuco africano consegue comer cera por meio de bactérias simbióticas. Métodos de estudo de hábitos alimentares • observação directa dos hábitos; • análise do conteúdo estomacal de várias zonas do tracto digestivos, como proventrículos e papos; • análise de excrementos; • análise de regurgitações; • análise dos restos deixados no ninho a cercanias; • uso de crias artificiais 7. ESPECIALIZAÇÕES LOCOMOTORAS Podemos esquematizar formas de locomoção e/ou de patas. As associadas ao meio terrestre incluem o correr (sobre um estrato herbáceo dominante), as formas arborícolas (trepar, pendurar, empoleirar), e o saltitar (sub-bosque, clareiras). E as associadas ao meio aquático, incluindo o mergulhar (natação sub-aquática), nadar à superfície (remar), e as limícolas (caminhar em águas pouco profundas). Finalmente temos ainda as rapinas diurnas e nocturnas. Meio aquático Não há aves totalmente aquáticas, mas muitas associadas a este meio, cerca de 390 espécies incluídas em 9 ordens. Entre outras adaptações incluem-se o aumento da largura do corpo para aumentar a estabilidade; plumagem densa para boiar; existência de um oleo glandular que oleia as penas e as torna impermeáveis; modificações nas penas que igualmente as ajudam a serem hidrófobas; patas muito atrás para dirigir e impulsionaro corpo, embora os tornem desajeitados em terra; patas lobadas ou membranadas, total ou parcialmente, em todos os dedos ou só em três. Os lobos podem ser rígidos (torcem o pé para nadar) ou flexíveis, estes mais eficientes (Figura 4.9). 82 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Figura 4.9. Algumas formas que os membros posteriores podem assumir na especialização aos diferentes meios: a) patos e afins; b) corvo-marinho; c-e) detalhe da pata de um mergulhão; d) pata vista de frente; e) vista lateralmente. Fonte: Mcfarland et al.(1985). A natação na água pode ser só com as patas (corvos marinhos, pelicanos) ou com as patas e as asas (pinguins Spheniscidae, painhos Procellaridae). Os Cinclidae são Passeriformes também adaptados à vida aquática, que caminham dentro de água segurando-se às pedras. O mergulho é ajudado por redução do volume dos sacos aéreos, redução da pneumaticidade dos ossos, compressão da plumagem e expulsão do ar, e alguns pinguins ingerem pedras. O fluxo de sangue na periferia do corpo é reduzido, as batidas cardíacas também, e assim tem menores necessidades de oxigénio na água. O sangue tem maior capacidade de transporte de oxigénio, músculos ricos em hemoglobina, sangue com grande tolerância de CO2, podem obter por vezes, energia do metabolismo anaeróbio. 1 a 3 mn de mergulho é normal em aves aquáticas. Nas aves aquáticas, há membranas entre três ou quatro dedos, ou em alternativa uma membrana lateral ou lobo em cada dedo. Quando nada, comprimem as penas e expelem o ar dos sacos aéreos. O seu peso espécífico é em geral superior ao das outras aves. Somente os pinguins nadam com as asas, as outras aves nadam sobretudo com as patas, enquanto as asas dirigem a natação. Os pinguins, Alcidae e Procelariidae mergulham com as asas também. Normalmente os bons nadadores e mergulhadores deslocam-se mal no meio terrestre. As patas são muito posteriores e as membranas digitais não ajudam. Também os que apresentam melhores capacidades de voo, a locomoção terrestre é pior. Pelo contrário, as aves com boas capacidades cursoriais não voam, tem patas robustas e com reduzido número de dedos (Ema, Casuar e Avestruz), habitando estepes em geral. Esta tendência também se verifica em aves grandes e/ou de meios dominados por pradarias de gramíneas como as abetardas e galináceas. Meio terrestre 83 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Os bípedes e corredores exclusivos apresentam uma redução da superfície dos membros e do contacto com o solo (2 dedos nas avestruzes e 3 nas outras Ratites), redução do número de dedos, aumento do comprimento dos membros inferiores. Contudo, os mamíferos estão mais bem adaptados à vida cursorial e apenas algumas aves apresentam este tipo de vida. O deslocamento em meios arborícolas tem muitas adaptações, incluindo espécies com zonas córneas na face interna dos dedos, tendões cruzados especiais para pendurar o corpo sem esforço, dedos oponíveis, patas curtas com garras prensoras. A cauda serve muitas vezes também de apoio. O saltitar das aves florestais e de outras é característico como locomoção dos Passeriformes, somente alguns outros grupos saltitam. Entre as adaptações a viver em zonas arbustivas, a principal é a dos 4 dedos serem livremente, móveis de comprimento moderado, estarem no mesmo plano mas o 4º dedo ser também oponível. A condição zigodáctila (2 dedos para a frente e 2 para trás) também é mais favorável no bosque mas parece mais adaptada a papagaios e pica-paus que trepam, do que a melros e chapins que saltitam. Os pés das aves florestais que se empoleiram tem tendões fortes e cruzados que mantém a posição mesmo quando estas relaxam e dormem nos ramos. A contracção dos músculos é feita pelo peso do corpo. As limícolas (“waders") tem patas menos especializadas que podem variar muito em comprimento porque os substratos e as profundidades aquáticas que frequentam variam muito também nestas características. Geralmente desenvolvem dedos longos para aumentar a sua relação superfície/volume. Figura 4.10. Tipos de patas associados a diferentes formas de deslocação. Fonte: Storer e Usinger, 1972 Meio aéreo Os vários tipos de voo (como o batimento e planar) e possuem adaptações no comprimento e disposição dos ossos da asa. Nos colibris que voam rapidamente por batidas (grande propulsão das rémiges primárias), os ossos das mãos são maiores do que os do braço e o antebraço. Em aves que usam o planar, o braço e o antebraço são muito distendidos e a mão pequena. Há quatro tipos estruturais e funcionais de asas (Figura 4.11): 1. Elípticas, para habitats fechados (faisão, galinha) tipo florestas, com índice de forma da asa baixo, pouca velocidade, grande perda de manobra. 84 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES 2. Batimento rápido (andorinha), grande velocidade, ataca as presas em voo, índice de forma moderado, asa pontiaguda. 3. Planadores, planar activo (albatroz, pardelas) Asas longas e estreitas (18:1 de índice de forma no albatroz). Há planar activo quando há gradientes fortes de vento. Só é vantajoso em zonas muito ventosas como as orlas marítimas e em zonas de montanha. 4. Planar passivo (aves de presa) índice de forma entre o 1 e o 3. As rémiges primárias funcionam como “flappers”, assimétricas, permitindo a combinação de velocidades pequenas e elevação grande. As rémiges primárias muito separadas actuam como no planar activo cada uma e diminuem o turbilhão criado pelas asas. No planar passivo, as aves não sobem e descem como no planar activo, mantém-se no mesmo sítio ou deixam-se levar com as correntes de ar ascendentes. Figura 4.11. Comparação de quatro tipos funcionais e estruturais de asas: a) pardela com asas adaptadas para o planar activo; b) faisão com asas em forma elíptica; c) ave de presa com asas adaptadas ao planar passivo; d) andorinha com asas desenhadas para um voo rápido. Fonte: Mcfarland et al. (1985). 8.MIGRAÇÕES Algumas aves permanecem fixas, mas muitas espécies de aves são migradoras e mudam regularmente de uma região para outra quando se alteram as condições sazonais. Consoante a época em que as aves permanecem numa dada região as espécies migratórias podem-se dividir, em invernantes ou nidificantes. Muitas das aves regressam periodicamente a locais previamente ocupados. A maioria das migrações dão-se no sentido norte-sul, segundo a latitude (latitudionais). As aves deslocam-se para as regiões temperadas e sub-árcticas a norte onde encontram habitats para se alimentarem e nidificarem durante os meses quentes de Verão, no Inverno retiram-se para sul. Um movimento oposto, menos predominante, existe no hemisfério Sul. Outras aves 85 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES apresentam migrações altitudinais, para o topo das montanhas no Verão e de regresso aos vales no Inverno. A maioria das espécies usa rotas pré-estabelecidas para a migração e viajam mais ou menos em escala, aparecendo e desaparecendo regularmente numa dada região de acordo com a calendário. As aves podem voar a pouca altitude (30 m) ou até 900 a 1500 m, raramente a maior altitude. Embora os indivíduos possam voar de 50 a 80 km/h, o progresso migratório é muito mais lento, numa média de 40 km/dia porque as aves vão parando para comer e repousar. Normalmente percorrem 160 km a 500 km/dia. Tanto a migração como a reprodução e muda são fases no ciclo anual das aves reguladas pelo sistema endócrino. A corticosterona e a prolactina são as principais substâncias hormonais cuja concentração no sangue desencadeia o inicio das mudanças da pré-imigração: engorda, crescimentodas gónadas e actividade contínua. Com frequência antes da migração as aves adquirem rapidamente reservas de lípidos, presentes em pequenas quantidades noutras alturas, que fornecem energia suplementar durante os longos períodos de voo. As secreções hormonais são activadas pelas condições ambientais, intervindo também factores genéticos inatos ao indivíduo. Nas zonas temperadas o principal estímulo à migração é a alteração do número de horas de dia, mas as condições atmosféricas também podem influenciar a altura da partida. O estímulo fotoperiódico (alteração da luz do dia) actua talvez no hipotálamo (hipófise) ou na pituitária promovendo a libertação da corticosterona e da prolactina. Algumas aves estritamente diurnas tornam-se nocturnas durante a migração. Durante a migração algumas aves seguem trilhos determinados: costas, rios, vales, mas outras passam sob os mares ou terra planas com poucas características direccionais. A maioria das aves parece aprender rapidamente as características topográficas enquanto outras que, quando jovens migram independentemente dos pais, parecem ter sob a forma inata a aprendizagem das principais características terrestres que sobrevoam. Em muitas espécies a migração durante as horas do dia parece ser guiada pela posição e azímute do Sol, e durante a noite pelo eixo estrelar de rotação. O uso de guias celestiais requere por sua vez um sentido do tempo (relógio biológico) bem desenvolvido. Outras espécie orientam-se segundo o campo magnético da terra não necessitando por isso de relógio biológico. A orientação segundo o campo magnético foi demonstrada provocando distorções com o uso de ímans e criando campos magnéticos artificiais, a que as aves respondem. Consoante o seu comportamento migratório as aves podem dividir-se pelos seguintes grupos: i) aves sedentárias - nunca deixam o território onde nidificam; ii) aves migratórias - deixam o território de nidificação no Outono ou o fim do Verão e dirigem-se para estações de Inverno mais quentes e retornam na Primavera, ou então são só invernantes; iii) aves de passagem ou errantes - viajam para muito longe do seu local de nidificação, por vezes centenas de km, em todas as direcções, depois da época de reprodução, segundo o clima e alimento que se lhes proporciona. Há contudo toda uma gama de transições entre estes três grupos principais e o comportamento para uma mesma espécie pode variar consoante a sua distribuição geográfica. Por exemplo o Falcão peregrino é migrador no Norte da Europa e sedentário na Europa Central. Nalgumas espécies, apenas parte das populações é migratória, sobretudo os jovens e as fêmeas, enquanto 86 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES o resto da população é sedentária (por ex. melro-preto e pato real). Mesmo em espécies geralmente consideradas migradoras podem ocorrer indivíduos que permaneçam próximo dos seus ninhos no Inverno (alguns não abandonam o companheiro se estiver doente). Por vezes as aves sedentárias podem de repente iniciar em grande massa grandes viagens para Sul ou Sudoeste - migrações invasoras. Hipóteses migratórias. Nem sempre é fácil determinar-se porque algumas espécies migram outras não. Nalgumas espécies a principal razão é a insuficiência de alimento. São exemplo as aves insectívoras que no Norte, em climas frios, não encontram durante o Inverno, os insectos de que se alimentam. Algumas espécies que eram inicialmente migradoras tornam-se sedentárias alojando-se perto das habitação humanas que lhes vão providenciando alimento. Uma teoria acerca da migração das aves postula que inicialmente as aves eram predominantemente tropicais e subtropicais. Era nestas regiões que nidificavam e criavam os seus descendentes, e quando o seu número se multiplicou excessivamente, começaram a dirigir-se para regiões mais a norte procurando outras fontes de alimento e voltavam a Sul quando os jovens eram adultos e entravam em condição de se reproduzir. Esta teoria só é válida para algumas aves, poucas, nativas dos trópicos. Uma outra teoria, sugere que as aves habitavam inicialmente todo o Hemisfério Norte, antes das glaciações, mas dirigiram-se para Sul com o avanço dos glaciares, sendo por isso forçada a abandonar os seus locais de nidificações durante o Inverno. Depois as glaciares recuaram e as aves empreenderam as suas rotas migratórias para Norte para encontrar os seus locais de nidificação originais. Depois de milhares de anos, as migrações tornaram-se um fenómeno irreversível. Mas esta teoria não explica o comportamento das aves que vivem em zonas do globo que não sofreram glaciações. Provavelmente existem várias causas, que são a origem deste fenómeno. As aves da Europa migram principalmente em três direcções: do Norte e Nordeste para Sudoeste, através da Europa Ocidental e da Península Ibérica; directamente para Sul passando pela Itália e Sicília; e para Sudeste atravessando a Península das Balcãs e Ásia Menor. Mas nem todas as aves migram segundo estas três direcções principais. Por exemplo os estorninhos de nordeste da Europa voam para Oeste e para as Ilhas Britânicas. Muitas aves europeias não vão mais longe que o sudoeste da Europa, outras vão até à África do Norte, e outras vão até aos trópicos e mesmo África do Sul. Estas viagens fazem-se com várias paragens pelo caminho. Algumas aves, como os Guarda-rios, percorrem 100 km por dia, contudo outras aves chegam a viajar 300 a 600 km por dia. Naturalmente as aves param para descansar e se alimentarem. Em condições climáticas desfavoráveis podem mesmo parar por vários dias e abrigar-se até que o tempo lhes permita reiniciar seu voo. Deste modo a viagem pode durar vários meses. A sua permanência no local de invernação só dura algumas semanas após as quais reiniciam os preparativos para a viagem de retorno. A viagem para a Europa do Sul só exige alguns dias, dependendo do local de partida. O retorno para o local de nidificação é mais rápido, sendo os animais apressados pelo instinto da reprodução. Algumas aves migram em grandes bandos formando nuvens como os estorninhos, mas muitas aves migram individualmente (aves de presa) ou em pequenos grupos. Algumas migram de dia, por exemplo o Guarda-rios, Corvídeos, etc., outras como as andorinhas, migram de noite, outras ainda como os abutres, voam indiferentemente de dia e de noite durante o seu percurso migratório. As vagas migradoras são por vezes, constituídas por diversas espécies migradoras em conjunto. Quanto à forma dos bandos, ele vai desde as formações caóticas até às formações compactas coordenadas. Outro tipo são longas filas, caso 87 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES dos corvos-marinhos. A forma mais típica é contudo em “V”, com a ponta na direcção do voo, caso dos pelicanos, gansos, patos e etc. As distâncias percorridas por algumas aves são incríveis. Muitas aves que nidificam na África do Sul, como cegonhas e cucos, fazem perto de 10 000 km, duas vezes por ano, na Primavera e no Outono. O voo é o principal modo de migração das aves, mas algumas, como os pinguins que não voam, fazem-no nadando, e outros como algumas Rallidae, migram caminhando (por ex. Fulica americana). Marcação de aves migradoras Para se estudar as aves migratórias (e as suas rotas preferenciais) recorre-se uma frequência à anilhagem, permitindo este método estudar os percursos da aves e o número de indivíduos que volta ao local da origem. A anilhagem é feita com anéis metálicos que se colocam tanto no jovens como nos adultos Nas patas ou noutras partes do corpo, como os bicos (as “selas”). Nas anilhas encontra-se em geral gravado um número e um código designativo da entidade autora da anilhagem. Perto de 100 000 aves são anilhagem todos os anos na Europa; são ainda utilizadosno estudo das aves migratórias equipamentos de radar, aviões e emissores de ondas curtas. Presentemente outros tipos de marcação são também usados, mas ainda não em rotina ou na maior parte dos países. A captura de aves anilhadas permite a determinação da sua rota, velocidade de voo e seu destino. As anilhas recuperadas são também enviadas às entidades de origem, que estabelecem, com base nelas, cartas de migração ou mapas como o Atlas das Aves. A anilhagem permite retirar outras informações sobre a vida das aves, como saber se os casais permanecem juntos durante a sua vida, se voltam aos mesmos locais quando deixam os seus locais de invernação, se apenas os jovens migram, taxas de longevidade e de mortalidade, etc. A captura das aves para anilhagem permite também estudar a composição avifaunística de uma região com grande pormenor e aproveitar-se para recolher dados relativos às mudanças de plumagem, dados biométricos, etc. As aves podem ser capturadas com armadilhas, quando adultas, ou menos frequentemente quando ainda estão no ninho, ainda jovens. Depois de capturada a ave é identificada e regista- se o seu nome científico, idade e sexo. Anota-se a data, hora e local de anilhagem e o número de anilha que lhe foi aplicada. Podem-se também registar dados complementares como sejam medidas das asas, presença de plumagem em muda e seu estado, peso, etc. Pode-se ainda colher parasitas externos, amostras de sangue e os excrementos deixados pela ave no pano, onde normalmente são guardados antes de serem anilhadas, para proceder a análises de composição alimentar. O registo de anilhagem fica arquivado no centro de anilhagem. Se a ave anilhada vier a ser posteriormente recapturada, preencher-se-á então uma ficha, de modelo internacional onde serão registados, para além dos dados de anilhagem, os dados de recaptura e alguns cálculos e determinações acessórios, tal como a direcção da deslocação, a distância entre os locais de anilhagem e recaptura, o período de tempo decorrido, etc. Uma vez reunido um número considerável de dados de uma mesma espécie o investigador poderá então proceder ao seu tratamento matemático. A anilhagem em Portugal, assim como os cursos de anilhagem, fazem-se actualmente por equipas organizadas pelo Instituto de Conservação da Natureza, onde foi integrado o CEMPA (Centro de Estudos de Migrações e Protecção de Aves), pertencente ao Ministério do Ambiente, bem por algumas organizações não governamentais de ornitólogos, como A Rocha, no Algarve ou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, SPEA. 88 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES 9.TÉCNICAS DE CENSO DE AVES Descrevem-se resumidamente alguns métodos de recenseamento correntemente aplicados na Europa e na América do Norte para o censo de comunidades ou populações de aves muito especialmente em ecossistemas terrestres e aquáticos associados. Os censos de aves são úteis na identificação das espécies existentes numa dada área, condição fundamental para a sua gestão. Nestas populações incluem-se espécies sedentárias mas igualmente espécies migradoras que durante um certo período habitam dada zona. Os censos são baseados em contacto visual ou auditivo, pelo que o observador tem que estar familiarizado com a plumagem ou sons emitidos pelas várias fases do ciclo de vida das várias espécies potencialmente existentes na área. Para isso, é necessário um treino adequado auditivo e experiência visual. Os censos são geralmente conduzidos nas horas e períodos de maior actividade (amanhecer e Primavera) mas podem ter que ser feitos em outros períodos conforme as espécies e os objectivos do trabalho. Como se compreende, os resultados dos métodos são influenciados, por vários factores geradores de erros ou desvios, tornando-os pouco comparáveis entre si e fazendo variar quer a sua fiabilidade e a sua exactidão. As fontes de erros devem ser reconhecidas, de modo a tornar os resultados mais fiáveis, exactos e comparáveis normalmente quando da aplicação de um mesmo método por diferentes observadores. De entre as diferentes fontes de erros referem-se: • resultantes do observador, como o grau de experiência, motivação e capacidades de observação (audição ou visão); • método e execução do censo normalmente diferentes susceptibilidade dos métodos aos erros de amostragem, não normalização dos métodos ou não cumprimentos das regras de normalização, emprego de distintos esforço e velocidade de execução e diferentes equipamentos (uso de binóculos ou telescópios com capacidades diferentes, localização não aleatória das parcelas de amostragem); • habitat (coloca distintas dificuldades logísticas de deslocação e na detecção das aves, dependendo do declive do terreno, da estrutura e densidade da vegetação); • espécie, com diferentes actividade e conspicuidades visual ou auditiva (por ex: há espécies muito discretas ou quase silenciosas, enquanto outras são muito visíveis ou muito “ruidosas”), distintas utilizações de habitat, tamanhos, frequência e intensidade das suas actividades e desfasadas ao longo do dia ou de ano; • densidade (“poluição” sonora provocada por ex. por espécies mais “ruidosas” e abundantes, elevado número de aves a registar e localizar); • período do dia (a actividade é em regra mais elevada nas primeiras horas da manhã e ao fim do dia), • período do ano (a actividade das espécies varia de acordo com o período fenológico, verificando-se desfasamentos nos período e picos de actividade e da sua conspicuidade, a vegetação sofre alterações no seu estado de desenvolvimento vegetativo); • condições atmosféricas (a actividade varia consoante as condições atmosféricas (temperatura, pluviosidades), criando dificuldades ao observador); 89 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES • sexo e idade das aves (actividades e conspicuidades distintas consoante o sexo e a idade (mochos em regra mais visíveis ou activos, jovens mais errantes pós período reprodutor). A aplicação dos métodos é função dos objectivos o estudo, da espécie ou grupo de espécies a estudar (tendo em conta os seus hábitos, comportamento social, tamanho da espécie e do território), do habitat, da época do ano, etc. Note-se que para cada um dos diferentes métodos de detecção, censo e monitorização de aves está subjacente um adequado esquema de amostragem. Aves de pequeno e médio porte 1.Método dos mapas Método que permite obter densidades absolutas das espécies, tendo sido desenvolvidos inicialmente por William (1936), nos EUA, e por Enemar (1959), na Suécia. É um método utilizado desde há bastante tempo, tendo sido normalizado em 1969 pelo ICBP (actual BirdLife International). Pressupostos: • aves relativamente estacionárias, i.e. acantonadas a territórios; • macho em canto defende um território e está acasalado; • ao fim de um certo número de visitas a totalidade dos casais é teoricamente detectada. Procedimentos: • selecção da(s) parcela(s) e do tamanho da parcela. Superfície da amostragem variável, consoante as características do habitat e a densidade das populações: entre 6-20 ha em habitats florestais e muito densos em aves, de 20-30 até 50-100 ha, em habitats abertos e pobres; • balizagem da parcela - constituição de grelha de referência no terreno para o estabelecimentos de percursos e de cálculo de distâncias e cartografia; • registo nos Mapas de Visitas (escala 1/2000 ou 1/2500) de todos os contacto auditivos e visuais; • transferências e acumulação em Mapas Específicos dos contactos de cada espécie em cada visita. Delimitação das nuvens de contactos e determinação do número de casais; • em regra aplicado somente na época reprodutora, quando do acantonamento dos machos/casais a um território; • devemser efectuadas um mínimo de 10 visitas na época de reprodução. Vantagens: • permite obter com algum rigor densidades absolutas da comunidades de Passeriformes; • pode ser e é em regra correntemente usado para calibração de índices de densidade; • em associação com a cartografia das características do habitat permite conhecer a repartição dos territórios ao longo do habitat e estudar selecção de habitat por parte das espécies. 90 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Desvantagens: • método moroso e que envolve muito esforço na balizagem e traçado de percursos; • só é possível amostrar no máximo 4 parcelas (áreas) por ano, por observador. Métodos pontuais Pressupostos gerais: • o comportamento das aves não é influenciado pela presença do observador (não se aproximam nem se afastam); • as aves são 100% detectáveis; • as aves não se movimentam demasiado; • as aves não são contadas mais que uma vez; • a detecção de uma ave é independente da presença de outras; • as distâncias (quando estimadas) devem ser calculadas ou medidas com precisão, pois os erros na estimativa da densidade são elevados ao quadrado; • as aves são bem identificadas e localizadas. Requerem bons observadores. Vantagens gerais: • pontos-estações de amostragem são mais fáceis de localizar no terreno; • são muito menos consumidores de tempo e de esforço que o método das mapas; • permitem a amostragem em habitats fragmentados; • permitem amostrar maior número de habitats e originam maior conjunto de dados para análise que o método dos mapas; • permitem estudos em sucessões ecológicas e comparação de abundâncias intra-específicas entre habitats; • em cada ponto-estação há mais tempo para detectar as espécies mais discretas; • tem dificuldade em distinguir indivíduos migradores de não reprodutores; • permite a monitorização a médio-longo prazo das populações; • a normalização dos resultados é mais eficiente, pois o observador está imóvel; • são possíveis de aplicar ao longo de todo o ano. Procedimento gerais: • Após o delineamento do esquema de amostragem, os pontos devem distar entre si no mínimo de 200 metros; • Duração de cada ponto-estação variável, entre 5 a 20 minutos. a) Métodos pontuais sem limite de distância IPA (índice pontual de abundância) Desenvolvido por Blondel, Ferry & Frochot (1970) IPA1 = N1 / unid. tempo, N1= nº indivíduos da espécie I 91 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES Procedimentos: • registos em cada ponto de todos os contactos, sem limite de distância, por períodos de 20 minutos, divididos em subperíodos de 5 minutos; • cada ponto deve ser contado duas vezes na época reprodutora, em regra cerca de seis semanas e depois da data média de chegada do migradores estivais; • registos (contactos são traduzidos e contabilizados em casais; • registo das características do habitat. Vantagens: • é expedito e possibilita a amostragem de grande número de habitats no ano. É possível realizar de 4 a 5 pontos por dia; • pode ser calibrado com o método dos mapas e usado posteriormente para estimativas de densidade; • é aplicável todo o ano, embora usualmente seja aplicado na época reprodutora; • é adequado para estudos entre comunidades de aves e estrutura da vegetação; • fornece Riquezas médias e Riquezas Totais (cumulativas) por habitat e permite análise estatística. Amostragem frequencial progressiva Desenvolvido por Blondel (1975), retomando o método das Frequências de Ocorrência primeira aplicado por Linsdale, 1924 e 1936). Os resultados são expressos de acordo com: EFP = Pj/Pt Sendo: Pj = nº de pontos de corrência da espécie I Pt = nº de pontos-estação de escuta. Procedimentos: • registo de todos os contactos, sem limite de distância, por períodos de 20 minutos, sendo apenas necessário registar a presença ou ausência da espécie; • cada ponto é apenas contando uma vez durante a época reprodutora; Vantagens: • é expedito e possibilita a amostragem de grande número de habitats e apresenta maior flexibilidade que os transectos - é aplicável em habitats menos homogéneos, mais fragmentados e em situações de terreno mais acidentado; • a frequência de ocorrência de uma espécies está correlacionada com a densidade (com o seu logaritmo) e é uma medida objectiva do número de indivíduos de uma população. Apenas quando de altas densidades de aves a correlação deixa de ser significativa. No entanto, a riqueza média está altamente correlacionada com a densidade total de aves; • permite análise estatística; • é adequado para estudos entre comunidades de aves e estrutura da vegetação; 92 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES • pode ser executado em simultâneo com o IPA; • é aplicável todo o ano; • como não necessita de registar e contabilizar machos em canto ou outros indivíduos, pode ser executado até mais tarde no dia. Possibilita por isso a realização de 7 a 9 pontos por dia e de algumas centenas por época, por apenas um observador. b) Métodos pontuais com medição da distância à ave São vários os métodos que recorrem à medição ou cálculo da distância da ave ao observador. Um dos métodos mais usados é por ex. o de Reynolds et al. (1980), que recorre a faixas circulares móveis (cf. Ralph & Scott, 1981 ou Bibby et al., 1992). Dos seus procedimentos constam: • medição da distância horizontal da ave contactada ao observador; • o raio basal (ri) específico para cada espécie (i) é determinado com base na distância a partir da qual a detectabilidade da ave começa a declinar; • são utilizadas bandas de cerca de 10 metros até aos 180 metros e de cerca de 20 metros entre os 180 - 360 metros; • a densidade é calculada com base no número de contacto da espécie i dentro da área circular de raio basal ri. 2. Métodos dos transeptos Pressupostos gerais: • as aves ao longo do percurso do transecto ou da faixa central (Main Belt), são todas detectadas; • as aves não se movimentam ou mudam de faixa antes da detecção; • as aves não são afectadas pelo observador (não se afastam ou aproximam); • cada ave é detectada independentemente da actividade das restantes; • a determinação das distâncias, quando de métodos que recorrem à estimativa de distâncias, deve ser precisa; • para os métodos que implicam a medição de distâncias, exige-se um número mínimo de 40 aves contadas no transecto, por exemplo, o método de Burnham et al. (1980). Procedimentos gerais: • localização dos transectos afastados no mínimo de 150 - 200 metros em habitats fechados, e 250-500 metros em habitats abertos; • para efeitos de aumento do volume de informação e de análise, devem ser seleccionados preferencialmente vários transectos mais curtos em detrimento de transectos de grandes dimensões; • nos transectos de grandes dimensões deve optar-se por subdividi-los em segmentos fixos e/ou sempre que interceptem habitats distintos; • o comprimento do transecto ser superior a 800-1000 metros, embora nos habitats com grande densidade de aves o seu comprimento unitário possa ser de apenas 100 metros; 93 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - AVES • a velocidade média de progressão deve situar-se entre os 1 a 2 quilómetros, verificando-se as velocidades mais lentas quando de habitats com elevadas densidades; • devem registar-se os habitats e alterações que o transecto intercepta; • cada transecto deve ser percorrido pelo menos duas vezes por época; • o cálculo ou medição das distâncias deve fazer-se na perpendicular do transecto. Vantagens: • bastante mais expeditos que o método dos mapas e mais
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