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Apostila_DireitoCivil_PabloStolze[1]

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Material de Apoio
Direito Civil
Apostila 
Pablo Stolze
Aluno:______________________________
Matrícula:_________________________
“Não devemos pedir a Deus fardos mais leves, mas ombros mais fortes” (Santo Agostinho).
PERSONALIDADE JURÍDICA
Conceito: Lembra-nos Clóvis Beviláqua que a personalidade para o direito não é apenas um processo de atividade psíquica, mas sim uma criação social moldada pela ordem jurídica. Para o direito, a personalidade é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na ordem jurídica, ou seja, é a qualidade para ser sujeito de direito. 
Em que momento a pessoa física adquire personalidade jurídica? Em uma interpretação literal, à luz do art. 2º do CC (1ª parte), a personalidade civil é adquirida a partir do nascimento com vida (resposta ideal para uma prova objetiva).
	Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
OBS: Nascer com vida significa o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório do recém-nascido (ver resolução nº 1/88, do CNS).
OBS: Diferentemente do art. 30 do CC da Espanha, o direito brasileiro, à luz do princípio da dignidade humana, não exige do recém-nascido forma humana nem tempo mínimo de sobrevida.
Teorias explicativas do nascituro: Em princípio, são três teorias explicativas do nascituro.
Teoria natalista (majoritária – a exemplo de Vicente Ráo, Sílvio Rodrigues e Eduardo Espínola): Para esta primeira teoria o nascituro é apenas um ente concebido ainda não nascido, desprovido de personalidade. Vale dizer, o nascituro não é pessoa, gozando apenas mera expectativa de direitos.
Teoria da personalidade condicional (Serpa Lopes): Para esta segunda teoria, o nascituro, ao ser concebido, teria uma simples personalidade formal, permitindo-lhe gozar de direitos personalíssimos. No entanto, só viria a adquirir direitos patrimoniais sob a condição de nascer com vida.
Teoria concepcionista (Pablo Stolze, Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua, Silmara Chinelato): Essa terceira teoria é a mais defendida pela corrente moderna. O nascituro seria considerado pessoa para efeitos patrimoniais ou extra-patrimoniais desde a concepção.
OBS: Com base na teoria concepcionista, inúmeros direitos podem ser reconhecidos ao nascituro, inclusive o direito aos alimentos (de caráter patrimonial), além do sagrado direito à vida (personalíssimo). Lamentavelmente, a maioria da jurisprudência brasileira ainda não adota esta teoria, não reconhecendo ao nascituro direito aos alimentos, dentre outros. Mas, já há algumas decisões judiciais que homenageiam a teoria concepcionista.
Também com base na teoria concepcionista, vale lembrar que o STJ já admitiu inclusive, no RESP 399028/SP, dano moral ao nascituro.
OBS: Não podemos confundir nascituro, embrião e natimorto. Nascituro é o ente concebido no ventre materno. O nascituro é um embrião com vida intra-uterina, ou seja, o embrião produzido em laboratório não é nascituro, mas mero embrião. Já o natimorto é o nascido morto. O enunciado nº 1 da 1ª jornada de Direito Civil afirma que o natimorto goza de tutela jurídica no que tange ao nome, à imagem e à sepultura.
Qual das três teorias é adotada pelo CCB? Aparentemente, seguindo a linha de Clóvis Beviláqua, o codificador, ao afirmar que a personalidade da pessoa começa do nascimento com vida, pretendeu abraçar a teoria natalista, mas em inúmeros pontos do próprio código sofre inequívoca influência da teoria concepcionista.
CAPACIDADE CIVIL
Conceito: Fundamentalmente, no direito, a capacidade se desdobra em capacidade de direito e capacidade de fato. A capacidade de direito, segundo Orlando Gomes, confunde-se com o próprio conceito de personalidade, ou seja, é a capacidade jurídica genericamente reconhecida a qualquer pessoa. Ao lado dela, temos a capacidade de fato, que é a capacidade de, pessoalmente, exercer os atos da vida civil (é a chamada capacidade de exercício). A soma da capacidade de direito com a capacidade de fato gera a chamada capacidade civil plena (que em geral é adquirida aos 18 anos).
OBS: Não podemos confundir capacidade com legitimidade. A falta de legitimidade significa que, mesmo sendo capaz, a pessoa está impedida por lei de praticar determinado ato (exemplo: os irmãos não podem se casar, mesmo que capazes).
Todo mundo tem capacidade de direito. A falta da capacidade de fato gera a incapacidade civil, que pode ser absoluta ou relativa.
	Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos (menores impúberes);
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (menores púberes);
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
Considerações importantes acerca das incapacidades (absoluta e relativa):
O absolutamente incapaz deverá ser interditado (procedimento judicial) e dever-se-á nomear-lhe um curador.
OBS: O ato praticado por uma pessoa portadora de enfermidade ou deficiência mental e desprovida de discernimento ainda não interditada pode ser invalidado? Com base na doutrina italiana, Orlando Gomes afirma que o ato praticado pelo incapaz ainda não interditado pode ser invalidado, desde que concorram três requisitos:
A incapacidade de discernimento;
O prejuízo ao incapaz;
A má-fé da outra parte (que pode ser presumida das circunstâncias do negócio).
O art. 503 do código da França, na mesma linha, admite que os atos anteriores à interdição possam ser invalidados se a incapacidade já existia.
OBS: É bom lembrar que, uma vez declarada a incapacidade por sentença, o interditado não poderá praticar atos jurídicos sem o seu curador, mesmo em momentos de lucidez. 
OBS: Onde está o surdo-mudo que não tenha habilidade para manifestar sua vontade? O NCC não trouxe inciso específico para o surdo-mudo incapaz de manifestar vontade, mas ele pode estar subsumido implicitamente na previsão do inciso III do art. 3º.
OBS: A senilidade (idade avançada) não é causa de incapacidade absoluta no direito brasileiro!
OBS: Os absolutamente incapazes são representados, ao passo que os relativamente incapazes são assistidos.
OBS: Lembra-nos Alvino Lima que a teoria da actio libera in causa, adotada em países como a Bélgica, a Alemanha e a Suíça, também pode ser aplicada ao Direito Civil, de maneira que a pessoa que voluntariamente se intoxica não está isenta de responsabilidade civil sob a alegação de incapacidade.
OBS: A prodigalidade é um conceito técnico. Pródiga é a pessoa que desordenadamente dilapida seu patrimônio, podendo reduzir-se à miséria. O sistema jurídico brasileiro permite a interdição do pródigo, de maneira que seu curador irá assisti-lo em atos de natureza / repercussão patrimonial (art. 1782). 
Justifica a interdição do pródigo, além do interesse público, a teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo, desenvolvida pelo professor Luiz Edson Fachin. Para essa doutrina, em uma perspectiva civil-constitucional, e em respeito ao princípio da dignidade humana, as normas em vigor devem resguardar um mínimo de patrimônio para que cada pessoa tenha vida digna.
OBS: O pródigo, para casar, precisa da manifestação do seu curador? O curador do pródigo deve se manifestar quanto ao regime de bens adotado, pois há efeitos patrimoniais. Mas, não deve se manifestar sobre a questão meramente afetiva.
O NCC não regula a capacidade doíndio. Esta é regulada pela Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio).
	Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente. 
Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos.
OBS: No campo da proteção do incapaz, é aplicável o benefício de restituição (restitutio in integrum)? Trata-se, segundo Clóvis Beviláqua, do benefício reconhecido ao incapaz para permitir que ele possa anular qualquer ato que lhe seja prejudicial. Esse benefício continua proibido em respeito à boa-fé e à segurança dos negócios. Mas, caso exista conflito de interesses entre o representante e o incapaz, pode-se invocar o art. 119 do CCB.
	Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou.
Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.
EMANCIPAÇÃO
É a cessação da incapacidade do menor antes do momento oportuno. Permite a antecipação da capacidade plena. Terá repercussões civis, ou seja, não pode responder penalmente e administrativamente. O emancipado também não pode tirar carteira de habilitação.
Existem três tipos de emancipação: voluntária, judicial ou legal.
	Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
Voluntária (art. 5°, I, 1ª parte, CC) – ato concedido pelos pais (ou um deles, na falta do outro), mediante escritura pública. É irrevogável e independe de homologação do juiz. Só é possível se o menor tiver, pelo menos, 16 anos completos. A doutrina brasileira é no sentido de que, em respeito à vítima, a emancipação realizada pelos pais não os isenta de uma futura responsabilidade civil por ato ilícito causado pelo filho emancipado – os pais permanecem responsáveis pelos atos que o menor emancipado praticar até os 18 anos de idade. A responsabilidade é solidária. Caio Mário diz que a vontade não pode sobrepor-se à lei. 
Judicial (art. 5°, I, 2ª parte, CC) – É a concedida por sentença em procedimento de jurisdição voluntária, ouvindo-se o tutor, desde que o menor tenha 16 anos completos. O juiz ouve a opinião do tutor e concede a emancipação – em geral, é concedida a órfãos ou cujos pais estejam destituídos do poder familiar. E os pais ausentes? Tem que ter pelo menos 16 anos completos. O juiz analisa o caso concreto para saber se tem condições de ser emancipado.
Legal (art. 5°, II a V, CC) – Hipóteses mais cobradas em prova! Não é necessário sentença, a emancipação decorre da lei. Por questão de segurança jurídica pode entrar com ação declaratória, inclusive pedindo tutela antecipada. Hipóteses:
Casamento – pode aos 16 anos de idade. Veja que a lei não diz “união estável”. O menor adquire capacidade plena. A separação e o divórcio, por terem efeitos para o futuro, não prejudicam a emancipação decorrente do casamento. OBS: o art. 1520 admite o casamento abaixo dos 16 anos.
	Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade civil.
Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.
OBS: Invalidado o casamento, a emancipação é mantida? É forte a doutrina no Brasil (a exemplo de Pontes de Miranda) no sentido de que a sentença que invalidada o casamento tem eficácia retroativa, com o condão de cancelar o registro matrimonial. Assim, é lógico concluir que a emancipação perderá a eficácia, ressalvada a hipótese do casamento putativo.
Exercício de emprego público efetivo (emprego público ou cargo público) – Não tem idade mínima para o CC, entretanto o estatuto do servidor diz que a idade é de 18 anos. Não vale cargo em comissão. A hipótese de emancipação legal, por exercício de emprego ou cargo público efetivo é de difícil ocorrência, podendo se apontar como exemplo a assunção de função pública em carreira militar – há carreiras militares que começam aos 17 anos de idade, incidindo nessa hipótese.
Colação de grau em curso de ensino superior – Cuidado! Aprovação no vestibular não emancipa. Não importa a idade.
Estabelecimento civil (realiza uma atividade técnica, artística, intelectual. Ex. dar aulas de violão, artesão, prestar serviço) ou estabelecimento comercial (empresarial. Ex.: compra e revenda de gado, quitanda) ou existência de relação de emprego (Novidade. É provado com base na CTPS) DESQUE QUE, em função deles, o menor tenha economia própria – desde que ele tiver 16 anos completos e economia própria (conceito aberto/indeterminado que será analisado pelo juiz – ver Box abaixo – princípio da operabilidade). Preenchido no caso concreto – não há conceito estabelecido. Ex: Se o menor de 17 anos, “pobre”, que trabalha numa loja no shopping, está emancipado por força de lei. Agora, se o mesmo caso, o menor for de uma família “rica”, não poderá se sustentar com o salário que ganha então não será emancipado. Vale acrescentar que, à luz do princípio da segurança jurídica, caso um menor emancipado seja demitido, ele não deve retornar à situação de incapacidade.
OBS: PRINCÍPIOS DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO:
Princípio da eticidade – o código civil se preocupa com valores éticos. Ex.: boa-fé objetiva.
Princípio da socialidade – o CC se preocupa com a função social.
Princípio da operabilidade – o CC consagrou um sistema aberto de normas com conceitos indeterminados e cláusulas gerais a serem construídos ou complementados pelo juiz no caso concreto.
OBS: para concurso de Procurador Federal – no RGPS há um detalhe estranho – O emancipado, nos termos do art. 16, I da L. 8213/91, não tem direito ao benefício previdenciário.
Não podemos olvidar que a emancipação não antecipa a imputabilidade penal, que só advém aos 18 anos. Prova: MAS O MENOR EMANCIPADO PODERÁ SER PRESO CIVILMENTE!
OBS: Repercussão jurídica da redução da maioridade civil: 
A doutrina penalista (Marcus Viveiros Dias e Luiz Flávio Gomes) sustenta que os benefícios penais em favor do réu entre 18 e 21 anos continuam em vigor, à luz do princípio de individualização da pena.
Os atos processuais praticados por pessoa maior de 18 anos não exigem mais assistência.
No campo previdenciário, com a redução da maioridade, o enunciado 03 da 1ª Jornada de D. Civil e nota 42/03 da Casa Civil do governo federal, determinam que os benefícios previdenciários devem acompanhar o limite etário da lei previdenciária, e não do Código Civil. Então será até os 21 anos de idade. No âmbito do direito da infância e da juventude prevalece a orientação de que, em havendo conflito com o CC prepondera o ECA (STJ). Art. 121, § 5°, ECA (não foi revogado pelo CC).
No direito de família, o STJ já pacificou (ver informativo 232 – STJ e acórdãos constantes do material de apoio no sentido de que a redução da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia.A justiça brasileira prevê que vai até o fim da faculdade). A pensão alimentícia deve continuar a ser paga até o término da faculdade – em regra aos 24 anos. 
Prosseguindo o julgamento, a Seção, por maioria, proveu o recurso, entendendo que, com a maioridade do filho, a pensão alimentícia não pode cessar automaticamente. O pai terá de fazer o procedimento judicial para exonerar-se ou não da obrigação de dar pensão ao filho. Explicitou-se que completar a maioridade de 18 anos não significa que o filho não irá depender do pai.
OBS: o STJ tem reafirmado o entendimento de que o Ministério Público não tem legitimidade para interpor recurso da decisão que exonerou o devedor de alimentos por conta da maioridade do credor (RESP 982410 DF – 2007).
OBS: eu me tornei maior de 18 anos no primeiro instante do dia do aniversário (segundo Washington de Barros Monteiro. Trata-se de entendimento pacificado).
Extinção da pessoa física ou natural / morte presumida / morte simultânea (ou comoriência)
Morte:
Morte: Tradicionalmente, a extinção da pessoa física opera-se em virtude da parada total do aparelho cardiorrespiratório. No entanto, a comunidade científica mundial, assim como o Conselho Federal de Medicina tem afirmado que o marco mais seguro para se aferir a extinção da pessoa física é a morte encefálica, inclusive, para efeito de transplante. Isso porque a morte encefálica é irreversível. Resolução 1480/97 – Conselho Federal de Medicina. OBS.: Em medicina legal, quem estuda a morte é a tanatologia. OBS.2: A morte deve ser declarada por profissional da medicina, admitindo-se, na ausência deste, nos termos da lei 6015/73 (L. de registros públicos), a declaração de óbito possa ser feita por duas testemunhas. Então, excepcionalmente, não havendo declaração médica, ela poderá ser feita por duas testemunhas.
Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
Morte presumida: pode se dar em duas situações: ausência ou nas hipóteses do art. 7º, CC. Em relação ao instituto da ausência, o professor falou que não vale a pena estudar pela doutrina, pois está tudo na lei. 
	CAPÍTULO III
DA AUSÊNCIA
Seção I
Da Curadoria dos Bens do Ausente
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.
Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.
Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.
Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.
§ 1o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.
§ 2o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
§ 3o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.
Seção II
Da Sucessão Provisória
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:
I - o cônjuge não separado judicialmente;
II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.
§ 1o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo competente.
§ 2o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União.
Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.
§ 1o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia.
§ 2o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.
Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.
Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele forem movidas.
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria.
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo.
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.
Seção III
Da Sucessão Definitiva
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessadopromover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal.
Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Ausência: é um procedimento. Foi tratada pelo legislador como situação de morte presumida, a partir do momento em que é aberta a sucessão definitiva dos bens do ausente (ver apostila no material de apoio). O sujeito desaparece do domicílio sem deixar paradeiro, sem deixar procurador. É registrada em livro próprio (e não no registro de óbito). A ausência tem duas fases:
Provisória – é provisoriamente transmitida ao herdeiro;
Permanente – abre-se a sucessão definitiva dos bens do ausente.
Pela lei brasileira (art. 6º, CC) no momento em que se abre a sucessão definitiva do ausente, ele é considerado presumidamente morto.
OBS: Na forma do § 1º, art. 1.571, CC, aberta a sucessão definitiva e considerado morto o ausente, resulta rompido o vínculo matrimonial (viúva presumida ou viúvo presumido).
OBS: Mesmo a ausência sendo uma morte presumida, o registro da ausência é feito no livro de ausentes, não no de óbito.
Existem hipóteses de morte presumida que não se confundem com a ausência e estão prevista no art. 7º, CC.
Depois de cessada as buscas, o juiz começa o procedimento de justificação. Esse procedimento ocorre nas hipóteses do art. 7º. O juiz declara o óbito e fixa a data do falecimento. Esta sentença não é de ausência; é de declaração de óbito.
O juiz competente deve ser Estadual, pois se refere ao status da pessoa.
Art. 7o PODE SER DECLARADA A MORTE PRESUMIDA, SEM DECRETAÇÃO DE AUSÊNCIA:
	I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
	II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até 2 anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
PROVA: ESSA SENTENÇA É REGISTRADA NO LIVRO DE ÓBITO, pois não é ausência.
Comoriência:
Art. 8o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, PRESUMIR-SE-ÃO SIMULTANEAMENTE MORTOS.
É uma situação de morte simultânea. Traduz a situação em que duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa indicar a ordem cronológica das mortes. Art. 8º, CC.
O art. 8º, CC, na mesma linha dos códigos do Chile e da Argentina, consagra a regra segundo a qual não se podendo averiguar a ordem cronológica das mortes, os comorientes presumem-se mortos ao mesmo tempo, de maneira que um comoriente não herda do outro, abrindo-se cadeias sucessórias autônomas e distintas. Na prática significa dizer que se os comorientes morreram ao mesmo tempo,abrem-se cadeias sucessórias distintas, um não herda do outro. A sua parte vai para seus herdeiros, não para o cônjuge.
Caso: João é casado com Maria sob o regime de comunhão parcial de bens e sofreram acidente de carro em que ambos os corpos foram carbonizados, não se podendo dizer quem morreu primeiro. Nesse caso, aplica-se o art. 8º.
OBS: em tese, os comorientes podem estar em locais distintos. Mas é de difícil ocorrência.
PESSOA JURÍDICA
É chamada de ente de existência ideal por alguns. Nasce para o direito sob a influência da sociologia, pois nasceu como decorrência do fato associativo.
Conceito: ente que recebeu da lei personalidade para fazer o que é compatível com a função de pessoa jurídica. Grupo humano personificado pelo direito, visando atingir finalidades comuns. A Pessoa jurídica é um sujeito de direito (Kelsen – pessoa jurídica é centro de imputação).
Requisitos para constituição de pessoa jurídica:
Vontade;
Ato constitutivo – documento escrito (contrato social, estatuto...);
Registro: sociedade de advogados – OAB; sociedade empresária – junta comercial; sociedade simples, fundação e associação – cartório de registro de pessoa jurídica;
Objeto lícito: requisito de validade. 
Classificação quanto à atuação:
Pessoas jurídicas de direito público:
Externo (Organizações internacionais, Países) 
Interno (Entes políticos, Autarquias, fundações públicas, Agências reguladoras, Associações públicas – associações formadas por entes políticos para a gestão associada de serviços públicos. Ela faz a gestão de serviço e não a execução dele). 
Pessoas jurídicas de direito privado:
Sociedades – pessoas jurídicas com objetivo de lucro. Entram as sociedades criadas pelo Estado (sociedade de economia mista e empresas públicas) e as não criadas pelo Estado.
Associações – constituídas de pessoas que se reúnem para realização de fins não econômicos.
Fundações
Partidos políticos 
Organizações religiosas – autônomas. A lei não diz como será regida a situação delas. 
Consórcios públicos de direito privado – são pessoas jurídicas formadas pela reunião de entes políticos para a gestão de serviços que possa ser realizada por pessoas de direito privado. 
Teorias explicativas da pessoa jurídica (Prova dissertativa):
Teoria negativista – negava a pessoa jurídica como sujeito de direito, negava a sua existência. Ihering, Brinz, Bekker, Planiol, Duguit, etc. Primeiro argumento: A pessoa jurídica é apenas um patrimônio afetado a uma finalidade. Segundo argumento: a pessoa jurídica é apenas um patrimônio coletivo, um condomínio. Último argumento e mais utilizado: pessoa jurídica é um grupo de pessoas físicas reunidas. Teoria que não vingou;
Teoria afirmativista – reconhece a existência da pessoa jurídica. Possui três correntes (o que têm de comum é aceitar a pessoa jurídica):
Teoria da ficção – Savigny. A pessoa jurídica não teria existência social, de maneira que seria um produto da técnica jurídica – a pessoa jurídica seria uma abstração, sem realidade social. Essa teoria tem proximidade com a teoria institucionalista (D. Constitucional). A pessoa jurídica tem existência meramente ideal (abstrata). Ela existe, mas é uma criação do direito. Não tem atuação na realidade – Esse argumento é considerado pelos defensores das próximas teorias como sendo a falha do pensamento de Savigny.
Teoria da realidade objetiva ou organicista – Augusto comte, Clóvis Beviláqua, Cunha Gonçalves, etc. Influenciado pelo organicismo sociológico, contrariamente, afirmavam a PJ teria existência social consistindo em um organismo vivo na sociedade. A pessoa jurídica teria uma atuação social real, ou seja, defendia-se que a pessoa jurídica seria uma célula ou um organismo social vivo na sociedade.
Teoria da realidade técnica – Ferrara; Sabilles etc. Equilibra as duas teorias anteriores. Observa o que cada uma das anteriores tem de melhor. Afirma que a pessoa jurídica, embora personificada pelo direito, tem atuação social. Reconhece a atuação social da pessoa jurídica, admitindo ainda que a sua personalidade é fruto da técnica jurídica. É a que melhor explica a pessoa jurídica e o CC brasileiro, no art. 45, adotou essa técnica.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do atorespectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
Aquisição da personalidade jurídica da pessoa jurídica:
Art. 45, CC – começa com o registro. O registro da pessoa jurídica é ato constitutivo (não declaratório) da personalidade jurídica. Já o registro da pessoa física é declaratório. 
Caio Mário: É por isso que as sociedades sem registro não têm personalidade jurídica. Para algumas pessoas jurídicas, além do registro, exige-se autorização especial do poder executivo para existirem (ex: bancos). A falta dessa autorização gera a inexistência da pessoa jurídica.
OBS: A falta do registro público do ato constitutivo caracteriza o ente como sociedade despersonificada/irregular/de fato. Considerando-se que o registro da pessoa jurídica é constitutivo da sua personalidade, as entidades desprovidas de registro são consideradas irregulares, tratando-as o CC, a partir do art. 986, como sociedade “despersonificada” (eram chamadas no código antigo de sociedade de fato ou irregulares). Nos termos do art. 990 do CC, estas sociedades despersonificadas permitem que seus sócios ou administradores possam ser pessoalmente responsáveis pelos débitos sociais – RESPONDEM OS SÓCIOS ILIMITADAMENTE – eis os perigos da sociedade despersonificada. Vale lembrar, nos termos do art. 12 do CPC, que também não são pessoas jurídicas, mas apenas entes despersonificados, com capacidade processual, o condomínio, o espólio, a massa falida e a herança jacente. 
Ex: Uma sociedade, desprovida de registro, funcionou por oito anos. A partir daí, os sócios registraram-na. Os efeitos do registro de uma pessoa jurídica são sempre para o futuro, ou seja, ex nunc. Não se pode retroagir, legitimar o passado.
Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, por seus procuradores;
II - o Município, por seu Prefeito ou procurador;
III - a massa falida, pelo síndico;
IV - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
V - o espólio, pelo inventariante;
VI - as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores;
VII - as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração dos seus bens;
VIII - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88, parágrafo único);
IX - o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.
Ato constitutivo de uma pessoa jurídica pode ser ou contrato social ou estatuto.
O registro do ato constitutivo da pessoa jurídica, em geral, é realizado (feito) na junta comercial ou no cartório de registro de pessoa jurídica (CRPJ).
Em algumas situações a pessoa jurídica tem que ser autorizada pelo poder executivo. Ex: Banco.
OBS: O que são os grupos despersonificados ou grupos de personificação anômala? Art. 12, CPC. Não são pessoas jurídicas, mas têm capacidade processual. Ex: Sociedade irregular, massa falida, espólio, condomínio, etc.
OBS: Questão de prova ( Pessoa jurídica pode sofrer dano moral? Sim, é pacífico. Todavia, o examinador queria saber os argumentos contrários a essa tese. Vejamos as correntes:
Pessoa jurídica pode sofrer dano moral (majoritária): súmula 227 do STJ e art. 52 do CC. A pessoa jurídica tem honra objetiva, logo, pode sofrer dano moral.
Arruda Alvim e Enunciado 286 da quarta jornada de direito civil.
Portanto, a corrente predominante, baseada na Súmula 227 – STJ e no art. 52, CC, admite a possibilidade de a pessoa jurídica sofrer dano moral. Tem honra objetiva – imagem. Não tem honra subjetiva. A corrente minoritária (Arruda Alvim) baseada no Enunciado 286 da 4ª Jornada de direito Civil não aceita a responsabilidade por dano moral. O argumento utilizado é que se a pessoa jurídica for denegrida perante a sociedade, por exemplo, só se prejudicará financeiramente (aspecto patrimonial). E dano moral = lesão a direito da personalidade.
Quais são as espécies de pessoa jurídica de direito privado? As contidas no art. 44, CC (rol não exaustivo):
As associações;
As sociedades;
As fundações;
As organizações religiosas. Ex: Centro Espírita, igreja evangélica etc.
Os partidos políticos.
Os dois últimos são espécies de associações, por isso, no código antigo não estavam especificados. Foram acrescentados no art. 44, do NCC, pois visava a permitir em seguida a alteração do art. 2031, NCC, para excluir essas entidades da obrigação de se adaptarem ao NCC.
Se as três primeiras não se adaptarem ao novo código as conseqüências serão as seguintes:
São proibidas de participarem de licitações;
São proibidas de obterem linha de crédito;
Tornam-se sociedades irregulares (sem personalidade jurídica. Os sócios passam a ter responsabilidade pessoal).
Associações
Conceito: As associações são pessoas jurídicas de direito privado formadas pela união de indivíduos com o propósito de realizarem fins não econômicos. 
	Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.
Ex: um clube recreativo (iate clube).
OBS: Sindicado tem natureza de associação. Parte da doutrina (Pablo Stolze) defende que não cabe mandado de segurança contra ato de dirigente de sindicato.
OBS: Uma associação pode gerar receita, mas essa receita é revestida nela mesma (a finalidade da associação é ideal, e não lucrativa).
O ato constitutivo de uma associação é o seu estatuto.
	Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
I - a denominação, os fins e a sede da associação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados;
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção;
V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas.
O órgão máximo de uma associação não é o diretor-presidente. É a Assembléia Geral. A competência / as atribuições da Assembléia Geral de associados encontra-se no art. 59 do CC:
	Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral:
I – destituir os administradores; 
II – alterar o estatuto.
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores.
OBS: Vale lembrar que é possível a existência de categorias diferenciadas de associados, mas dentro de cada categoria os associados não podem ser discriminados entre si (art. 55 CC).
	Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
OBS: Qual é o destino do patrimônio de uma associação extinta? Nos termos do art. 61 CC, regra geral, dissolvida a associação do seu patrimônio, será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no estatuto, ou, omisso este, será atribuído a instituição municipal, estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes.
	Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes.
§ 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação.§ 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.
O NCC admite a exclusão / a expulsão do associado, nos termos do art. 57 CC:
	Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa (conceito aberto), assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto (devido processo legal privado – eficácia horizontal dos direitos fundamentais).
OBS: Não se aplica o art. 57 a condômino!
Fundações (de direito privado):
As ONGs (chamado terceiro setor) organizam-se no Brasil ou como associação ou como fundação.
As fundações, assim como as associações, têm finalidade ideal ou não lucrativa (art. 62 CC).
	Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
OBS: Uma fundação, assim como uma associação, pode gerar receita, mas essa receita é revestida nela mesma (a finalidade da associação é ideal, e não lucrativa).
Conceito de fundação: A fundação, diferentemente da associação, não é grupo de pessoas, mas sim um patrimônio que se personifica visando a perseguir finalidade ideal.
O ato constitutivo organizacional da fundação é o seu estatuto.
Pessoas Jurídicas também podem constituir fundação (ex: fundação Roberto Marinho; fundação Xuxa Meneguel)!
Requisitos para a instituição de uma fundação:
A afetação de bens livres do instituidor;
Escritura pública (tabelionato de notas) ou testamento;
A elaboração do estatuto da fundação (pelo próprio instituidor ou, fiduciariamente, por terceiro, nos termos do art. 65 CC);
	Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz.
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.
OBS: O MP, supletivamente, poderá elaborar o estatuto, caso o terceiro não o faça.
O estatuto elaborado deverá ainda ser aprovado pelo MP e em seguida registrado no cartório de registro de PJ.
É o MP que tem atribuição legal de fiscalização das fundações no Brasil (art. 66 CC).
	Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
§ 1o Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal. (Vide ADIN nº 2.794-8)
§ 2o Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público.
OBS: Se a fundação funcionar no DF, ou em Território (não existe), caberá o encargo ao MPDFT (o p. 1º do art. 66 foi declarado inconstitucional pelo STF – ADI 2.794-8 – em razão da usurpação da atribuição constitucional constante no referido dispositivo).
O art. 67 do CC alterou o quórum de deliberação para alteração do estatuto da fundação que, no código anterior, era de maioria absoluta.
	Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma:
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta;
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.
Se não houver unanimidade da alteração do estatuto, poderá haver impugnação pela minoria vencida (prazo decadencial de 10 dias), de acordo com o art. 68 do CC.
	Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias.
Sociedades:
Conceito: A sociedade, espécie de PJ de direito privado, instituída por meio de contrato social, é dotada de personalidade jurídica própria e visa a perseguir fins econômicos ou lucrativos.
O elemento teleológico / finalístico de uma sociedade (finalidade lucrativa) é a principal característica da sociedade que a diferencia de uma associação ou de uma fundação.
Sociedade não tem como ato constitutivo o estatuto; mas o contrato social.
	Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.
OBS: É possível sociedade entre cônjuges?
	Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.
Essa presunção de fraude, na opinião de Pablo Stolze, é flagrantemente inconstitucional. Mas, a despeito dessa opinião do citado doutrinador, o dispositivo está em pleno vigor.
O Departamento Nacional de Registro de Comércio (DNRC), por meio do parecer jurídico 125/2003, firmou o entendimento (correto) de que o art. 977, em respeito ao ato jurídico perfeito, não atinge sociedade entre cônjuges anterior ao NCC.
Classificação das sociedades:
Tradicionalmente, no Brasil, as sociedades eram classificadas da seguinte maneira:
Sociedades civis;
Sociedades mercantis (comerciais).
O ponto comum entre sociedades civis e mercantis era que ambas buscavam finalidade econômica.
As sociedades mercantis praticavam atos de comércio (à luz da doutrina francesa), diferentemente das sociedades civis, que não praticavam atos de comércio.
A doutrina italiana revolucionou essa matéria (a noção de comércio era pouco precisa e foi substituída pela teoria da empresa). Não se fala mais em sociedades civis e mercantis (o NCC não adotou a teoria dos atos de comércio). O NCC divide as sociedades em:
Sociedades simples;
Sociedades empresárias.
A chave da diferença entre sociedades simples e empresárias está no art. 982 do CC.
	Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. 
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.
OBS: Vale observar que a sociedade anônima é sempre empresária e a cooperativa é sempre sociedade simples, por determinação da lei.
Uma sociedade é empresária quando se observam dois requisitos:
Requisito material: toda sociedade empresária realiza uma atividade econômica organizada, ou seja, uma atividade empresarial, nos termos do art. 966.
	Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
Requisito formal: Registro na Junta Comercial (Registro Público de Empresa).
Há uma grande semelhança entre os conceitos de sociedade empresária e o antigo conceito de sociedade mercantil. Mas há diferenças. O conceito de sociedade empresária é mais abrangente do que o conceito (antigo) de sociedade mercantil (conjugação dos dois requisitos).
A sociedade empresária é aquelaque conjuga os requisitos do art. 982, e além disso, com a característica da impessoalidade, os seus sócios atuam precipuamente como meros articuladores de fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria prima), a exemplo de um banco ou de uma revendedora de veículos. O seu registro é feito na Junta Comercial e sujeitam-se à legislação falimentar. Já as sociedades simples têm por principal característica a pessoalidade: os seus sócios não são meros articuladores de fatores de produção, uma vez que prestam e supervisionam direta e pessoalmente a atividade desenvolvida. Em geral, são sociedades prestadoras de serviços, a exemplo da sociedade de advogados ou de médicos. O seu registro é feito, em geral, no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas (CRPJ).
OBS: Uma grande banca de advocacia, a depender do caso concreto, sob o aspecto material, podem até constituir uma sociedade empresária (característica de empresa). Mas, ela continua sendo simples, pois o registro continua sendo feito no CRPJ e na OAB (e não na J. Comercial).
Quanto às cooperativas, são tratadas como sociedades simples, por força de lei, predominando o entendimento doutrinário (Julieta Lenz, Paulo Rego) no sentido de que, a despeito da Lei 8.934/94, o seu registro, à luz do NCC, deve ser feito no CRPJ, e não na Junta Comercial (há entendimento doutrinário minoritário em sentido contrário, no sentido de que a Lei 8.934/94 é lei especial – esse entendimento não deve prevalecer, uma vez que o NCC é muito claro em relação ao tema).
OBS: Magistrado pode ser sócio de empresa, só não pode administrar.
Extinção da Pessoa Jurídica:
Para ser liquidada a PJ, o seu passivo deve ser satisfeito, especialmente as obrigações tributárias, para só então se poder cancelar o registro.
Existem três formas básicas de dissolução da PJ:
Convencional: aplica-se às sociedades e se opera por ato de vontade dos próprios sócios, que firmam distrato.
Administrativa: é aquela que decorre da cassação da autorização de funcionamento, específica para algumas entidades (ex: banco – demanda uma autorização específica do BC).
Judicial: se dá por sentença em procedimento falimentar (sociedades empresárias, em regra) ou de liquidação (sociedades simples, em regra).
OBS: Qual é a regra que disciplina a dissolução de uma sociedade não sujeita à lei de falência? À luz do art. 1.218 VII CPC, o procedimento a ser seguido é o do CPC de 1939.
	Art. 1.218. Continuam em vigor até serem incorporados nas leis especiais os procedimentos regulados pelo Decreto-lei no 1.608, de 18 de setembro de 1939, concernentes:
Vll - à dissolução e liquidação das sociedades (arts. 655 a 674);
Desconsideração da Pessoa Jurídica (“disregard doctrine”):
A expressão é inglesa porque a origem da teoria é inglesa (Grã-Bretanha). O caso paradigmático foi o famoso Salomon vs. Salomon Co.
Rubens Requião (grande comercialista) foi quem introduziu essa teoria no Brasil.
Conceito: A doutrina da desconsideração pretende o afastamento temporário da personalidade jurídica da entidade, para permitir que os credores prejudicados possam satisfazer os seus direitos no patrimônio pessoal do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo. 
OBS: É importante lembrar que a desconsideração não se confunde com a despersonificação da PJ. A desconsideração, à luz do princípio da continuidade da empresa, tende a permitir a mantença posterior de suas atividades. Diferentemente, a despersonificação aniquila a PJ, cancelando o seu registro.
OBS: O enunciado nº 7 da 1ª Jornada de Direito Civil lembra-nos de que a desconsideração, por ser medida de força, deve atingir apenas o sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo (ou se beneficiou dele).
OBS: Qual a diferença entre a Desconsideração da PJ e a Teoria da Ultra Vires Societatis? De origem anglo-saxônica, e regulada no art. 1.015 do CC, esta teoria sustenta ser nulo o ato praticado pelo sócio que extrapolou os poderes a si concedidos pelo Contrato Social. Esta teoria visa a proteger a PJ.
	Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir.
Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;
II - provando-se que era conhecida do terceiro;
III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.
Desconsideração da Personalidade Jurídica e Direito Positivo:
O CC/1916 não previa a desconsideração da personalidade jurídica.
O primeiro diploma legal a tratar do assunto foi o CDC (art. 28); depois veio a Lei Anti-Truste; a Legislação Ambiental; e, mais recentemente, também regulou a desconsideração da personalidade jurídica o CC/2002, em seu art. 50:
	Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
OBS: Lembra-nos Edmar Andrade que, regra geral, a desconsideração é matéria sob reserva de jurisdição. Mas, observa Gustavo Tepedino (em artigo publicado na RTDC) que EXCEPCIONALMENTE poderá haver desconsideração administrativa da PJ (RESP 15166/BA).
Requisitos para a desconsideração da PJ no CC:
Que tenha havido o descumprimento da obrigação (ou até mesmo – o que é mais grave – a insolvência da PJ);
Abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial.
OBS: Um exemplo típico de abuso por confusão patrimonial opera-se quando uma PJ (controladora) constitui uma nova PJ (controlada) para praticar atos por meio desta (essa nova PJ assume todo o passivo da PJ controladora).
OBS: Seguindo a doutrina do prof. Fabio Konder Comparato, podemos concluir que o art. 50 do CC concebeu a teoria da desconsideração com caráter objetivo, dispensando a prova do dolo específico do sócio ou administrador (elemento subjetivo). Adotar outro raciocínio significaria aniquilar por completo a essência da teoria da desconsideração da personalidade jurídica!
OBS: Qual é a diferença entre a teoria maior e a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica? Teoria maior é a adotada pelo CC, exigindo uma gama maior de requisitos, uma vez que demanda a prova do abuso do sócio ou administrador; já a teoria menor, adotada pelo CDC e pela Legislação Ambiental, é de aplicação mais facilitada, pois não exige a demonstração do abuso (basta que haja o descumprimento da obrigação). É esse o entendimento da doutrina e da jurisprudência (aplicação farta, por exemplo, no STJ).
OBS: O que é desconsideração inversa? Este tipo de desconsideração, especialmente aplicada no direito de família, segundo Rolf Madaleno, pretende, inversamente, atingir o patrimônio da PJ, visando a alcançar o sócio ou administrador causador do desvio de recursos do seu patrimônio pessoal. O enunciado nº 283 da Jornada de Direito Civil consagrou esta teoria.
OBS: É pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que a desconsideração da PJ é cabível no curso da execução (RESP 920602/DF). É evidente que o Juiz precisa abrir o contraditório, respeitando o Devido Processo Constitucional.
DOMICÍLIO
A raiz dessa palavra vem do latim domus (que significa casa). A noção de domicílio veio para o direito moderno e sua importância reside no aspecto de SEGURANÇA JURÍDICA – ex: o foro do domicílio do réu fixa a competência territorial do processo.
Precisamos diferenciar domicílio de residência e morada:
Morada: é o lugar em que a pessoa se fixa temporariamente (no direito italiano a moradaé uma espécie de estadia). A morada não desloca o seu domicílio! 
Residência: é o lugar em que a pessoa física é encontrada com habitualidade (a pessoa pode ter mais de uma residência, inclusive). Ex: uma pessoa que tem domicílio e residência em Salvador, mas passa todos os finais de semana em uma casa de praia (residência) próxima à cidade. 
Domicílio: para ser domicílio é preciso algo mais: o domicílio abrange a noção de residência, porque no domicílio também há o aspecto da habitualidade. Mas, para ser domicílio, além da habitualidade, é preciso que haja a intenção de permanência (alguns autores chamam de animus manendi), transformando aquele local em centro da vida jurídica daquela pessoa. Então, domicílio é o lugar onde a pessoa física fixa residência com ânimo definitivo, transformando-o em centro de sua vida jurídica (conceito). Vejamos o art. 70 do CC:
	Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo (conceito legal de domicílio).
OBS: Pode haver pluralidade de domicílios? Sim, o sistema brasileiro, seguindo o direito alemão, admite pluralidade de domicílios, nos termos do art. 71 do CC:
	Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
OBS: O que é domicílio profissional? Seguindo a linha do art. 83 do Código de Portugal, o art. 72 do CC considera, APENAS PARA EFEITOS PROFISSIONAIS, como domicílio o lugar onde a atividade é desenvolvida.
	Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.
O CC cuida ainda da mudança de domicílio, no art. 74 (trata-se de uma norma imperfeita: desprovida de sanção):
	Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem (para o campo da pessoa física, essa norma é desprovida de importância prática).
O Código traz ainda a noção de domicilio aparente ou ocasional (trata-se de uma aplicação da teoria da aparência): para pessoas que não têm domicílio certo, por ficção legal, é considerado o seu domicílio o lugar em que for encontrada (ex: ciganos).
	Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.
No CC, o artigo que cuida do domicílio da PJ é o seguinte:
	Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
§ 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.
§ 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.
Classificação do domicílio:
O domicílio poderá ser:
Domicílio voluntário: é o geral / o comum, fixado por simples ato de vontade, cuja natureza jurídica é de ato jurídico em sentido estrito (também chamado de ato não negocial).
Domicílio especial (ou de eleição): é o estipulado por cláusula especial de contrato (art. 78 do CC).
	Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.
OBS: Nos contratos de adesão, especialmente de consumo, a cláusula de foro de eleição prejudicial ao consumidor ou aderente é NULA DE PLENO DIREITO. Inclusive, o juiz pode declinar de ofício de sua competência (mesmo sem haver exceção de incompetência relativa), quando verificar o prejuízo ao consumidor (RESP 201195/SP). Isso está expresso no art. 112 do CPC:
	Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.
Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu (Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006).
Domicílio legal: decorre do próprio ordenamento jurídico (arts. 76 e 77).
	Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo (marinheiro particular), onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença (CUIDADO: a lei não disse prisão provisória ou cautelar).
Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.
OBS: Servidor público de função temporária ou comissionada não tem domicílio legal!
BEM DE FAMÍLIA
A fonte histórica mais significativa do bem de família é o “Homestead Act” do Direito Texano, do ano de 1839. O “Homestead Act” conferia proteção especial ao bem de família.
No direito brasileiro, temos duas espécies de bens de família:
Bem de família voluntário (regulado a partir do art. 1.711 do CC):
Conceito: o bem de família voluntário é o instituído por ato de vontade do casal, ou de terceiro, mediante formalização no registro de imóveis, deflagrando dois efeitos fundamentais:
Impenhorabilidade limitada (significa que o imóvel torna-se isento de dívidas futuras, salvo obrigações tributárias referentes ao bem e despesas condominiais – art. 1.715 do CC);
Inalienabilidade relativa (uma vez instituído bem de família voluntário, ele só poderá ser alienado com a autorização dos interessados, cabendo ao MP intervir quando houver participação de incapaz – art. 1.717 do CC).
OBS: Obviamente, só pode instituir bem de família voluntário quem for solvente!
OBS: Para evitar fraudes, o art. 1.711 do CC limitou o valor do bem de família voluntário ao teto de 1/3 (um terço) do patrimônio líquido dos seus instituidores.
OBS: O NCC também inovou ao admitir, no art. 1.712, a possibilidade de afetar rendas ao bem de família voluntário, visando à proteção legal (desde que se comprove que essa renda se destinará à mantença do imóvel ( crítica de Pablo Stolze: isso dá muita margem a fraudes).
OBS: O STJ tem admitido, também, em situação diversa, inclusive para o bem de família legal, que a renda proveniente de imóvel locado seja considerada impenhorável, à luz das normas do bem de família.
Vejamos alguns artigos complementares (importantes):
	Art. 1.720 (cuida da administração do bem de família voluntário). Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência.
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.
Art. 1.722 (cuida da extinção do bem de família voluntário). Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.
OBS: A verdadeé que as regras do bem de família voluntário “não pegaram” (na prática). Por isso, foi editada a Lei 8.009/90, que cuida do bem de família legal. Aliás, a Súmula 205 do STJ (para desespero dos bancos) admite a aplicação retroativa dessa lei a penhoras anteriores à sua vigência!
Bem de família legal (Lei 8.009/90): o efeito dessa lei é consagrar a impenhorabilidade legal do bem de família, independentemente de inscrição voluntária em cartório. Essa lei, aliás, não revogou as regras do bem de família voluntário (não impede a existência jurídica do bem de família voluntário).
OBS: Não há limite de valor para o bem de família legal!
	Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados (ex (jurisprudência do STJ): máquina de lavar, máquina de passar, ar condicionado, antena parabólica, televisão, instrumento musical etc.).
OBS: A despeito do que dispõe o parágrafo único do art. 1º da Lei 8.009/90, o STJ tem admitido o desmembramento para efeito de penhora (a exemplo do RESP 510643/DF).
Estão excluídos da proteção do bem de família (art. 2º da Lei 8.009/90):
	Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.
Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.
Exceções à proteção do bem de família legal (art. 3º da Lei 8.009/90):
	Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias (a melhor hermenêutica deste inciso é no sentido de que empregados meramente eventuais não se subsumem à exceção prevista em lei – Min. Luiz Fux – STJ);
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
III - pelo credor de pensão alimentícia;
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar (o STF já entendeu, interpretando este inciso, que despesas condominiais também vencem a proteção legal do bem de família – RE 439003/SP);
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar (a mera indicação do bem a penhora, segundo o STJ, não impede a futura alegação de bem de família – AgRg no Resp 813543/DF);
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação (o STF já pacificou o entendimento de que o fiador em contrato de locação não goza da proteção do bem de família, de maneira que a penhora de seu imóvel residencial é considerada constitucional – RE 352940-4/SP ( Pablo Stolze critica muito este dispositivo, alegando que ele inverte a lógica: como pode o devedor principal gozar de proteção do bem de família e o fiador não gozar? OBS: vale lembrar, nos termos do art. 1.647 do CC, que o cônjuge casado em regime que não seja de separação de bens, necessita da autorização do outro para prestar fiança – essa pode ser a salvação do fiador!).
OBS: Pablo Stolze entende que essas exceções aplicam-se, também, aos bens de família voluntários (pois a maioria das hipóteses é de ordem pública).
OBS: O devedor solteiro goza da proteção do bem de família? Sim. A base de proteção do bem de família não é a família, mas a proteção constitucional da dignidade humana, que se traduz no direito à moradia (o STJ já firmou esse entendimento).
BENS JURÍDICOS
Conceito: bem jurídico é toda utilidade física ou ideal que seja objeto de um direito subjetivo.
Qual é a diferença entre bem e coisa? Orlando Gomes afirma que bem é gênero e coisa é espécie. Maria Helena Diniz e Silvio Venosa, contrariamente, afirmam que a noção de coisa é mais ampla. E Washington de Barros Monteiro, em determinado trecho de sua obra “curso de direito civil” afirma poder haver uma sinonímia.
Pablo Stolze entende que razão assiste a Orlando Gomes, seguindo o Direito Alemão, quando afirma que a noção de coisa é mais restrita, limitando-se aos objetos corpóreos ou materiais.
Bem seria um gênero que se subdivide em bens imateriais e bens materiais (= coisa).
OBS: O que se entende por patrimônio jurídico? Para os clássicos, patrimônio era a representação econômica da pessoa. Atualmente, afirma-se quanto à sua natureza jurídica, que patrimônio é uma universalidade de direitos e obrigações. Inclusive, na doutrina brasileira o entendimento predominante (desde Clóvis Bevilaqua) é no sentido de que cada pessoa possui apenas UM patrimônio.
Sob o influxo da dignidade da pessoa humana, renomados autores (Carlos Bittar, Wilson Melo da Silva, Rodolfo Pamplona Filho) têm admitido o denominado o patrimônio moral (que seria o conjunto de direitos da personalidade).
Vale lembrar que a teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo (Luiz Edson Fachin) sustenta, em respeito ao princípio da dignidade, que cada pessoa deve ter resguardado pela lei civil um mínimo de patrimônio.
Principais classificações de bens jurídicos:
Imóveis por força de Lei: o art. 80 do CC estabelece que:
	Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
OBS: Por conta da natureza imobiliária do direito à herança, no caso de cessão do direito hereditário exige-se escritura pública, bem como, forte corrente doutrinária (Francisco Cahali) afirma a necessidade de autorização conjugal, nos termos do art. 1.647.
Móveis por força de lei: o art. 83 do CC estabelece que:
	Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:
I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
OBS: O sêmen do boi é considerado energia biológica (inciso I). 
Bens acessórios: Dividiremos:
Frutos: os frutos, espécies de bens acessórios, são utilidades renováveis, cuja percepção não exaure a coisa principal (ex: laranja, amendoim – frutos naturais – tecido de indústria – frutos industriais – juros, aluguéis – frutos civis).
Produtos: diferentemente do fruto, é uma utilidade que não se renova, esgotando a coisa principal (ex: ouro).
Pertenças: é a coisa que serve o bem principal, sem integrá-lo (art. 93 do CC). Ex: aparelho de ar condicionado, rádio do carro.
	Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
Benfeitorias: a benfeitoria é toda obra realizada pelo homem na estrutura de uma coisa com propósito de conservá-la (benfeitoria necessária), melhorá-la (benfeitoria útil) ou proporcionar prazer (benfeitoria voluptuária).
OBS: benfeitoria não se confunde com acessão (construção). As benfeitorias são reformas em uma estrutura que já existe!
O que são bens imóveis por acessão intelectual? São os bens que o proprietário intencionalmente destina para exploração industrial, aformoseamento ou comodidade (art. 43, IIIdo CC/1916). Ex: um fazendeiro compra um grande maquinário agrícola para a exploração do imóvel. O enunciado nº 11 da 1ª Jornada de Direito Civil afirmou que esta classificação não existe mais. Mas, esse maquinário agrícola, então, é o que? Pode-se, seguindo a linha do Código Novo, classificá-lo como pertença. 
Vejamos os dispositivos do CC que tratam dos bens (a leitura destes artigos é essencial, pois em concursos públicos sempre cai mais a literalidade da lei):
	LIVRO II
DOS BENS
TÍTULO ÚNICO
Das Diferentes Classes de Bens
CAPÍTULO I
Dos Bens Considerados em Si Mesmos
Seção I
Dos Bens Imóveis
Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.
Seção II
Dos Bens Móveis
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:
I - as energias que tenham valor econômico;
II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.
Seção III
Dos Bens Fungíveis e Consumíveis
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Seção IV
Dos Bens Divisíveis
Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.
Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes.
Seção V
Dos Bens Singulares e Coletivos
Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais.
Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias.
Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico. 
CAPÍTULO II
Dos Bens Reciprocamente Considerados
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.
Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico.
Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.
§ 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.
§ 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.
§ 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
CAPÍTULO III
Dos Bens Públicos
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Art. 99. São bens públicos:
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem.
TEORIA DO FATO JURÍDICO
Conceito: fato jurídico é todo acontecimento natural ou humano que deflagra efeitos jurídicos (que tem relevância para o Direito).
Classificação: Fato jurídico em SENTIDO LATO se divide em:
Fato jurídico em sentido estrito: é o acontecimento natural.
Ordinário: quando for um acontecimento comum / previsível (ex: nascimento, morte, chuva).
Extraordinário: é aquele que não se espera ( imprevisibilidade (ex: uma nevasca em Salvador).
Os fatos jurídicos em sentido estrito não podem ser estudados sob o prisma da validade (não se fala em nulidade ou anulabilidade).
Ato-fato jurídico (teoria desenvolvida por Pontes de Miranda).
Ações humanas:
Lícitas: seguindo a linha de Orlando Gomes e de Clóvis Bevilaqua, as ações humanas lícitas são o que se chama, em sentido amplo, de atos jurídicos.
Ilícitas: atos ilícitos (abuso de direito).
OBS: os atos ilícitos tanto são uma categoria própria – distinta do ato jurídico – que são regulados no CC em título próprio (a partir do art. 186) ( mas há quem defenda que não é assim.
Seguindo a doutrina dualista, o NCC, diferentemente do CC/1916, que era unitarista, subdivide os atos jurídicos (em sentido amplo) em atos jurídicos em sentido estrito e negócios jurídicos (a mais importante das categorias).
E qual seria a diferença entre atos jurídicos em sentido estrito e negócio jurídico? O ato jurídico em sentido estrito, também chamado de ato não negocial, previsto no art. 185, traduz um simples comportamento humano, voluntário e consciente, cujos efeitos estão predeterminados na lei (ex: o ato de fixação do domicílio; percepção dos frutos de uma árvore; atos de comunicação processual – como a notificação). Já no negócio jurídico há uma carga (em maior ou menor grau) de liberdade (autonomia privada).
O que é um ato-fato jurídico? Desenvolvido por Pontes de Miranda, o ato-fato jurídico consiste em um comportamento que, embora derive da atuação humana, é desprovido de vontade consciente em direção ao resultado que se pretende atingir (ex: alienado mental que pega argila, pensando se tratar de comida, e produz uma belíssima obra de arte; criança que encontra tesouro na rua).
OBS: Qual é a natureza jurídica da venda de um doce a uma criança de cinco anos de idade? Pode ser entendido como um negócio nulo socialmente aceito (Silvio Venosa). O professor Jorge Cesa Ferreira afirma que a venda de um doce a uma criança enquadra-se melhor na noção de ato-fato (essa linha é seguida pelo prof. Pablo Stolze).
Negócio Jurídico: é a categoria

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