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Aula 4 - Diversidade cultural e a formação social brasileira

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Diversidade cultural e a formação social brasileira
Várias visões
Roberto da Matta
É notória a importância dos elementos étnicos, a dizer branco: negro e indígena na formação da sociedade brasileira 
A mistura destes elementos, através de suas relações sociais e pessoais, proporcionou o reconhecimento da nossa identidade nacional como peculiar em relação a outros países com experiências semelhantes 
O Brasil se tornou uma sociedade mestiça e homogênea, onde não existiria preconceito "racial" e todos os indivíduos seriam, em potencial, capazes de possuírem igualdade formal, material e moral entre si 
Estas seriam as raças que compõem o mito de origem da sociedade brasileira, conhecido como o "mito das três raças"
Canto Das Três Raças 
Clara Nunes
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou
E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô
E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas 
Como um soluçar de dor
Peter Fry – realidade idealizada
Para ele é possível notar a presença do mito das 3 raças em diversos âmbitos da sociedade, desde interpretações acadêmicas até em relações corriqueiras do cotidiano
Apesar de não corresponder com precisão à realidade vivida, este mito serve como uma orientação para se avaliar as relações sociais, positivas ou negativas, pois corresponde à realidade idealizada
O que é uma realidade idealizada?
Ela não existe no plano do real, mas é tão forte no plano do inconsciente que passa a existir
Várias correntes explicam a formação racial/cultural da sociedade brasileira
Conde de Gobineau
Gilberto Freyre
Sergio Buarque de Holanda
Darcy Ribeiro
Conde de Gaubineau
Via a mistura de raças como fator de decadência e degenerescência da sociedade brasileira, e influenciou a obra de expoentes do pensamento brasileiro como Sílvio Romero, Oliveira Vianna e Nina Rodrigues.
Século XIX - França
Gilberto Freyre
Desloca o debate superioridade/inferioridade para a observação de uma situação de contato e de troca que ocorre dentro de uma estrutura social de desigualdade
Nesta troca uma das partes é o senhor e as outras duas encontram-se, com menor ou maior intensidade numa condição servil
 Para Freyre, a miscigenação deixa de ser considerada um fenômeno meramente biológico ou ainda um processo gerador de aptidões e costumes - degenerescências derivadas da própria miscigenação e agravadas pela ação deprimente do clima 
Ao contrario, a mistura de diferentes grupos étnicos é vista como algo positivo e ate mesmo capaz de promover uma democratização a partir da posição ambivalente do mestiço (ele desfruta da cultura de ambas as heranças biológicas)
1900/1987 - Brasil
Sergio Buarque de Holanda
Escreveu o livro Raízes do Brasil, onde estuda as características da identidade nacional e afirma que os males do país também não provêm da miscigenação
São oriundos da personalidade do português que era tão dominante que a mistura com índios e negros não conseguiu superá-la 
Argumenta que, por conta disso, a personalidade dos negros tornou-se semelhante à dos portugueses, ou seja, plástica e maleável. Eram antissociais e preferiam o entretenimento ao trabalho
Para Holanda, as relações sociais existiam a partir da cordialidade e do personalismo, de formas distintas, de acordo com o interlocutor, mas sempre de maneira afetiva. Esta característica se tornou geral na sociedade brasileira onde a cordialidade favoreceria a dinâmica social através da emoção, ao invés de regras sociais fixas
1902/1982 - Brasil
Darcy Ribeiro
Segundo Adelia Miglievich 
“Darcy desenha um povo que nasce de contínuos e violentos atos que vêm a caracterizar a história de nossa unificação política” 
1922/1997 - Brasil
O cunhadismo
Em sua obra, “O povo Brasileiro” (1995), Darcy intitula o capítulo que inicia a segunda parte de seu livro, significativamente, de Brasil: criatório de gente e nele explica o cunhadismo
Esta antiga prática indígena para incorporar estranhos à sua comunidade consistia em lhes dar uma moça índia como esposa. Desse modo, o homem estranho à tribo deixava de sê-lo e estabelecia-se, automaticamente, mil laços que o aparentavam a todos os membros do grupo 
Isso se alcançava graças ao sistema de parentesco classificatório dos índios que relaciona, uns com os outros, todos os membros de um povo
Brasileiros/mamelucos/caboclos/brasilíndios
Os portugueses procriaram com os “selvagens” e nasceram os mamelucos que Darcy Ribeiro nomeia de brasilíndios
O mameluco rejeita a mãe índia que lhe deu a luz e opõe-se aos irmãos de sangue das Américas, ao mesmo tempo em que é desconhecido por seu pai branco e banido entre os irmãos de ultramar 
Cândido Portinari
Brasileiros/mamelucos/caboclos/brasilíndios
Constituíam uma raça bravia, forte e resistente renegada pelos ancestrais dos dois lados – índios e brancos 
Eles foram os responsáveis pela captura dos seus irmãos indígenas para o trabalho nas minas e agricultura – “caçadores de gente” 
Sabiam onde achá-los e os métodos ideais para combatê-los e prendê-los – conhecimentos que estavam no sangue, nas origens, na alma
Percy Lau
Brasileiros/mamelucos/caboclos/brasilíndios
Em São Paulo havia grande quantidade de mamelucos
Tinham domínio da floresta tropical
Língua própria
Visão particular dos dois mundos que conheciam
Muitos índios aderiam aos mamelucos para alcançar uma “promoção” de vida
Por outro lado os mamelucos “escravizavam” os irmãos índios
Lutavam contra os Tapuias – a mais agressiva das etnias
Afrobrasileiros/mulatos
Como se já não bastasse essa confusão de sangues, os brancos foram à África caçar negros
 Entre as vastas etnias do continente trouxeram elementos (escolhidos a dedo) – saúde, bons dentes, bom porte - para colaborar não só no trabalho braçal, mas na composição dessa raça que ninguém queria se dar conta que estava se formando nos trópicos brasileiros
Albert Eckhout
Afrobrasileiros/mulatos
Papel cultural mais passivo do que o dos mamelucos
Viviam uma fragmentação de etnias, língua e religiões, enfrentando conflitos de origem
Esta condição era conveniente aos senhores para evitar rebelião
Aprenderam a falar português com os capatazes
Ensinavam aos escravos com uma “sub educação”
Trabalhavam nas minas e culturas 18 horas por dia
São responsáveis pelo aportuguesamento da cultura e da língua
Não eram nem brancos nem negros e tiveram que criar uma identidade própria
Afrobrasileiros/mulatos
A partir daí, os segredos, aptidões e misticismos dos negros somaram-se a tudo que já se tinha “roubado” dos índios na constituição dos afro-brasileiros.
A fuga era a mais forte motivação do cativo para se manter vivo
Deste modo, se inicia o principal dos conflitos havidos na história brasileira: o racial que não oculta, ao contrário, os elementos classistas. 
Antagonismos estes que alcançavam o caráter mais cruento no enfrentamento dos negros a seus senhores
Neobrasileiros
Darcy nos mostra que da associação de índios, mamelucos e afro-brasileiros surgem os neobrasileiros com sua aparência mais indígena que branca, língua própria e especialistas em vender armas e pau-brasil 
Sua língua era a nheeengalu – mistura de português com tupi
Viviam bem nas florestas tropicais – sua mãe natural – e viam sua identidade se perder na medida exata do crescimento de sua gente
Tornavam-se pouco a pouco os “donos do Brasil”
Brasileiros
Os neobrasileiros deram lugar aos brasileiros que se tornaram urbanos
Malocas dão lugar a casas 
Passaram a produzir seus móveis
e produtos de consumo e a formar famílias mononucleares 
Não eram nem negros, nem índios, nem portugueses e em suas células revelava-se uma miscigenação de raça, cultura e misticismo
Somos todos nós 
Povo novo
Darcy defende a noção de um povo novo nascido na maioria dos países da América Latina resultado dos processos de desindianização do índio, de desafricanização do negro e de deseuropeização do europeu
Um país de mestiços, os quais não são iguais aos seus ascendentes de uma ou outra etnia, portanto, uma nova etnia nacional, dos índios e dos africanos mortos, dos mamelucos, caboclos e mulatos que, sem identidade, plasmaram a identidade do brasileiro
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras.1995.
Exemplo – questão de múltipla escolha
Há uma "ideologia abrangente" permeando todas as camadas e espaços sociais: "preguiça do índio", "melancolia do negro", a "cupidez" e "estupidez", do branco lusitano, responsáveis, nessa visão popular, pelo nosso atraso econômico e social, indigência cultural e a nossa necessidade de autoritarismo político, fator corretivo básico neste universo social que, entregue a si mesmo, só poderia degenerar.  (Roberto da Matta in Relativizando: uma introdução à antropologia social).
O fragmento de texto acima se refere ao pensamento de:
A) Gilberto Freyre
B) Sérgio Buarque de Hollanda
C) Conde de Gobineau
D) Darcy Ribeiro
E) Fernando Henrique Cardoso
Questão discursiva: 
Leia a reportagem a seguir: ?Antes de pedalar pelas ruas de Amsterdã com uma bicicleta vermelha e um sorriso largo, como fez na tarde da quarta-feira da semana passada, Ícaro Luís Vidal dos Santos, 25 anos, percorreu um caminho duro, mas que poderia ter sido bem mais tortuoso. Talvez instransponível. Ele foi o primeiro cotista negro a entrar na Faculdade de Medicina da Federal da Bahia. Formando da turma de 2011, Ícaro trabalha como clínico geral em um hospital de Salvador. A foto ao lado celebra a alegria de alguém que tinha tudo para não estar ali. É que, no Brasil, a cor da pele determina as chances de uma pessoa chegar à universidade. Para pobres e alunos de escolas públicas, também são poucas as rotas disponíveis. Como tantos outros, Ícaro reúne várias barreiras numa só pessoa: sempre frequentou colégio gratuito, sempre foi pobre ? e é negro. Mesmo assim, sua história é diferente. Contra todas as probabilidades, tornou-se doutor diplomado, com dinheiro suficiente para cruzar o Atlântico e saborear a primeira viagem internacional.? (Revista Isto É, 05/04/2013).
A partir da leitura do texto acima explique em que consiste o ?Mito das Três Raças? e interprete a história de Ícaro Luiz Vidal dos Santos com base nas discussões acerca da atualidade desse mito.
Segundo Roberto Da Matta é notória a importância dos elementos étnicos, a dizer branco: negro e indígena na formação da sociedade brasileira. A amálgama formada a partir desses elementos, através de suas relações sociais e pessoais, proporcionou o reconhecimento da identidade nacional como deveras peculiar em relação a outros países com experiências semelhantes. O Brasil se tornou uma sociedade mestiça e homogênea, onde não existiria preconceito racial e todos os indivíduos seriam, em potencial, capazes de possuírem igualdade formal, material e moral entre si. Em termos gerais, este é o mito de origem da sociedade brasileira, conhecido como o “mito das três raças”. O caso retratado mostra que, ao contrário do mito, na realidade não há igualdade formal, material e moral entre os indivíduos de diferentes origens étnicas.

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