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Introdução às Políticas de Comércio Exterior Profº Dr. José Manuel Meireles de Sousa Instrumentos da Política Comercial - Barreiras Não Tarifárias Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias2 Universidade Anhembi Morumbi Instrumentos da Política Comercial - Barreiras Não Tarifárias Sumário: • Acordos multilaterais e barreiras não tarifárias • Barreiras quantitativas • Barreiras administrativas • Barreiras técnicas • Barreiras ambientais Objetivo: Identificar e entender a forma como os obstáculos não tarifários interferem nos fluxos de comércio exterior. Síntese da Unidade: Esta unidade tipifica e sistematiza as barreiras não tarifárias que condicionam as operações de exportação e importação e o papel na implantação das políticas de comércio exterior. Acordos Multilaterais e Barreiras Não Tarifárias Muito embora os acordos multilaterais e a integração em blocos econômicos tendam a liberalizar o comércio exterior pela redução das barreiras tarifárias, persistem outras formas de condicioná-lo, impedindo ou dificultando a entrada e saída de mercadorias pelas alfândegas, levando muitos países a lançar mão de barreiras não tarifárias como meio de limitarem o volume dos fluxos de comércio. Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias3 Universidade Anhembi Morumbi São muito diversificadas as barreiras não tarifárias que são utilizadas para dificultar o acesso aos mercados sem o recurso a tarifas aduaneiras. Uma possível sistematização dos entraves ao comércio internacional considera os seguintes tipos de barreiras : • Barreiras Tarifárias (tarifas de importação, outras taxas e valoração aduaneira). • Barreiras Não-Tarifárias (restrições quantitativas, medidas antidumping e compensatórias. Licenciamento prévio de importações, procedimentos alfandegários, entre outras) . • Barreiras Técnicas (normas e regulamentos técnicos, regulamentos sanitários, fitossanitários e de saúde animal). A OMC tem procurado tipificar cada barreira não tarifária e, regulamentar a sua utilização como instrumento de política comercial; assim, foi criado o acordo sobre barreiras técnicas ao comércio internacional que tende a assegurar que regras ou certificações não sejam utilizadas na criação de obstáculos desnecessários, mas por outro lado possibilitem a implantação de medidas que assegurem a criação de políticas objetivas, tais como a proteção da saúde humana ou a proteção do meio ambiente. Também algumas regulamentações e certificações de produtos podem variar de país para país, dificultando os fluxos comerciais para produtores e exportadores; sempre que regras são estabelecidas de forma não consensual podem ser utilizadas como medidas protecionistas. Outras barreiras não tarifárias utilizadas como instrumentos de políticas comerciais e que são objeto de constante análise pela Organização Mundial do Comércio, são a imposição de licenciamento nas importações, a valoração aduaneira das mercadorias, as inspeções pré- embarque e as regras de origem. Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias4 Universidade Anhembi Morumbi A OMC, como fórum de negociações para as relações comerciais multilaterais procura criar regras claras para que governos e empresas não deturpem o sentido de acordos anteriormente firmados, pelo exercício de práticas consideradas desleais, como é o caso do dumping ou de subsídios à exportação como forma de embaratecer produtos em determinados mercados , tornando-os “artificialmente” mais competitivos. Em síntese podemos tipificar as barreiras não tarifárias da seguinte forma: • Barreiras quantitativas - Cotas tarifárias - Salvaguardas - Restrições voluntárias à exportação • Barreiras administrativas • Barreiras técnicas • Barreiras ambientais • Práticas desleais em comércio internacional - Subvenções - Dumping Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias5 Universidade Anhembi Morumbi Barreiras Quantitativas Exportadores e importadores devem informar-se sobre a possível existência de cotas tarifárias ou contingentes, que fixem quantidades máximas a serem importadas ou exportadas. As cotas tarifárias são limites máximos para importar ou exportar determinado produto normalmente repartidos entre as empresas pela concessão de licenças; Figura 1 – Exemplo de Cotas Tarifárias Fonte: Anexo III, portaria 23 SECEX de 14/07/2011 Os contingentes poderão ser bilaterais (entre o país importador e o exportador) ou multilaterais (para importações procedentes de qualquer país); o contingente tarifário permite importações livres de quaisquer direitos até certo limite, após esse limite às mercadorias pagarão o direito cheio (valor pré-fixado). Figura 2 – Exemplo de Contingente Fonte: Anexo XVII, portaria 23 da SECEX de 14/07/2011 Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias6 Universidade Anhembi Morumbi No exemplo apresentado – figura 2 – a aplicação de um contingente à importação resulta da aplicação de uma medida de salvaguarda e traduz-se na limitação de quantidade de produto a importar, pois se as importações forem além do limite contingenciado o setor de atividade doméstico poderia ter sérios prejuízos. Convém referir que os governos não recebem nenhuma receita extra nestes casos, mas os preços dos produtos no mercado interno aumentam, pois a demanda pelo produto no mercado interno excede a oferta doméstica mais as importações. Os detentores das licenças beneficiam com a revenda das importações; os lucros por eles recebidos designam-se de renda das cotas. Exemplo do sistema de contingente é o “Protocolo do Açúcar” que vigora desde 1975 e concede acesso preferencial às exportações de açúcar provenientes de 20 países ACP , no limite de certas quantidades, determinadas de comum acordo, e a preços garantidos que são negociados numa base anual e refletem os preços na União Européia. No total, o contingente preferencial representa cerca de 1,3 milhões de toneladas por ano. Estas medidas têm caráter temporário, e poderão ainda ser materializadas por um aumento na alíquota do imposto de importação. As restrições voluntárias à exportação (RVE), também designadas por acordos de comercialização ordenada, são acordos bilaterais em que o governo ou uma indústria de um país exportador acede reduzir ou restringir as suas exportações de forma a que o país importador não tenha que recorrer a cotas, revisão de direitos aduaneiros ou outros obstáculos à importação. A utilização deste mecanismo foi restringida quando do estabelecimento da Organização Mundial do Comércio que determina que os seus membros não deverão adotar ou manter quaisquer restrições voluntárias à exportação ou medidas similares. Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias7 Universidade Anhembi Morumbi Os acordos deste tipo podem abranger um ou mais países; o famoso Acordo Fibras (Multifiber Arrangement) limitou durante muitos anos as exportações têxteis de 22 países tendo terminado em 2005. O Brasil celebrou em 2006 com a China um acordo em que os chineses concordaram em restringir as exportações de oito grupos de produtos têxteis para o Brasil, aproximadamente 70 itens. Também o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC) proposto pela Argentina e assinado pelo Brasil, como uma forma de impedir que o mercado argentino fosse “invadido” pela produção brasileira em setores sensíveis configura restrição à exportação. A tênue diferença entre o sistema que limita as exportações de forma voluntária (RVE) e o sistema tradicional de contingentes é na verdade, a não transparência do primeiro. Barreiras AdministrativasQualquer medida pública, que não seja um direito aduaneiro nem uma restrição objetiva e que tenha por efeito, criar uma distorção nas trocas comerciais torna-se numa barreira ao livre comércio. Alguns exemplos dessas medidas são: Grande importadora de carne, a Rússia regularmente impõe bloqueios sobre produtos de países atingidos por doenças e de fábricas específica. • Fiscalidade interna – no Brasil os impostos são arrecadados na importação em cascata o que onera as mercadorias e requer do importador uma maior capacidade de financiamento; • Proibição total ou temporária de importação determinado produto que seja comercializado no mercado interno, No Brasil como exemplo, a proibição de importação de pneus usados; • Impostos e gravames adicionais como é o caso de tarifas portuárias e outras taxas de armazenagem nas importações. No Brasil é exemplo a aplicação da AFRMM – Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante, valor cobrado sobre todos os fretes marítimos na maioria dos portos brasileiros; Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias8 Universidade Anhembi Morumbi • Impostos e gravames internos que discriminem produtos nacionais e importados, quando impostos de consumo oneram mais os produtos importados que os nacionais; • Preços mínimos de importação / exportação, quando se estabelecem previamente preços mínimos como referência para a cobrança de taxas de importação, sem considerar a valoração aduaneira do produto; • Medidas financeiras com criação de sobretaxas às importações como é o caso do empalme argentino; • Licenças de importação automáticas, quando para certos produtos é exigido o licenciamento das importações, apenas para registro de estatística; • Licenças de importação não automáticas, quando determinados produtos estão sujeitos à anuência prévia de algum órgão no país importador; • Controles sanitários e fitossanitários nas importações, como é o caso de normas sanitárias e fitossanitárias exigidas na importação de produtos de origem animal e vegetal; • Restrições impostas a determinadas empresas, sempre que se aplicam exigências específicas para importações de produtos de determinadas empresas; • Organismo estatal importador único, quando para certos produtos a importação é efetuada pelo Estado, em regime de monopólio, como é o caso das bebidas alcoólicas na Noruega; • Serviços nacionais obrigatórios, quando é exigido o pagamento de taxas por serviços consulares relacionados à importação ou exportação; • Requisitos relativos às características de produtos quando estão sujeitos à avaliação de conformidade; • Requisitos relativos à embalagem, quando são exigidos materiais específicos, tamanhos ou padrões de peso para embalagens ou produtos; como exemplo o fato de nas exportações em embalagens de cartão, para a Alemanha o cartão obrigatoriamente deve ser reciclável; Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias9 Universidade Anhembi Morumbi • Requisitos relativos à rotulagem, por exemplo, as exigências especiais quanto ao tipo, tamanho de letras ou tradução nos rótulos dos produtos; • Requisitos relativos a informações sobre o produto, pois certos países exigem informações sobre o conteúdo alimentar ou protéico de produtos; • Requisitos relativos à inspeção, ensaios e quarentena para certos produtos sujeitos à inspeção física e análise nas alfândegas ou a procedimentos de quarentena; • Outros requisitos técnicos, como é o caso da exigência de certificados relativos à fabricação do produto mediante processos não poluidores do meio ambiente; • Inspeção prévia à importação, quando para determinados produtos é exigida uma inspeção pré-embarque; • Procedimentos aduaneiros especiais, quando para o ingresso de importações somente pode ser efetuado em determinados portos ou aeroportos. Um exemplo clássico é um decreto francês que obrigava todos os vídeos-cassete japoneses a passar pela alfândega de Poitiers, que pela sua pequena dimensão demorava normalmente os procedimentos aduaneiros; • Exigência de conteúdo nacional/ regional impondo que determinada fração das importações seja produzida domesticamente, favorecendo as que tenham matéria- prima originária do país do importador; • Exigências de intercâmbio compensado, condicionando importações à exportação casada de determinados produtos; • Exigências especiais para compras governamentais, como é o caso do tratamento favorecido aos produtos nacionais em concorrências públicas; • Exigência de bandeira nacional no uso de navios ou aviões de bandeira nacional para o transporte das importações. Barreiras Tecnicas O grande número de normas técnicas sobre segurança, saúde, e qualidade existente na maioria dos países, de cumprimento obrigatório, constitui uma autêntica barreira a muitas Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias10 Universidade Anhembi Morumbi empresas exportadoras, impedindo a venda dos seus produtos. As barreiras técnicas estão baseadas nos sistemas N + C + H (Normalização, Certificação e Homologação). • Normalização – Elaboração e publicação de especificações técnicas e normas. As normas são especificações técnicas, públicas e consensuais aprovadas por organismos normalizadores (no Brasil a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ) e de cumprimento não obrigatório. • Certificação – Atestar por meio de certificado e / ou marca de conformidade que um produto ou serviço se ajusta a determinadas normas ou especificações técnicas. O seu objetivo é garantir ao comprador que o produto que está adquirindo satisfaz determinados requisitos. • Homologação – É a aprovação oficial de um produto, processo ou serviço realizada por um organismo público que tem legalmente esse poder. A homologação de certos produtos é uma certificação obrigatória. Barreiras Ambientais As relações entre o comércio exterior e o ambiente focam, sobretudo a gestão de resíduos e as embalagens. Tomando como exemplo exportações para a Europa, os exportadores brasileiros deverão cumprir os seguintes requisitos no que respeita às embalagens (diretiva 94/62/CE de 01/01/1998) : 1. Terem um volume e peso mínimo para manter níveis de segurança, higiene e de aceitação pelo consumidor. 2. Serem reutilizáveis ou recicláveis para que o seu impacto sobre o meio ambiente seja o menor possível. 3. Não contenham substâncias perigosas. Instrumentos da Política Comercial – Barreiras Não Tarifárias11 Universidade Anhembi Morumbi Bibliografia HANSON, David. Limits to Free Trade” Ebook disponível para download no site http:// ebookee.org/Limits-to-Free-Trade-Non-Tariff-Barriers-in-the-European-Union-Japan-and- United-States_603946.html, acesso em 19/09/2011 SOUSA, José Meireles. Fundamentos do Comércio Internacional. São Paulo, Saraiva, 2009 Links: MDIC - Barreiras Externas às Exportações Brasileiras, disponível no site: http://www.mdic.gov. br//arquivos/dwnl_1196772454.pdf, acesso em 19/09/2011, descreve as barreiras mais importantes utilizadas na elaboração das políticas comerciais ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, disponível no site: www.abnt.org.br, acesso em 14/09/201, descreve normas e certificações utilizadas no Brasil INMETRO – Barreiras Técnicas, disponível no site http://www.inmetro.gov.br/ barreirastecnicas/, acesso em 14/09/2011. Descreve as barreiras mais importantes que se colocam às exportações brasileiras, identificando-as por país importador e explicitando as exigências técnicas necessárias para possibilitar o acesso a esses mercados SECEX – Portaria SECEX nº 23 de 14 de Julho de 2011, disponível no site: http://www. mdic.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=3175,acesso em 14/09/2011, consolida em um único documento todas as normas emitidas pela SECEX sobre o tratamento administrativo das importações e exportações e sobre o regime especial de drawback