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Transformações de fases: Microestrutura e propriedades de ligas Fe-C O desenvolvimento de um conjunto de características mecânicas desejáveis para um material resulta, com freqüência, de uma transformação de fases, a qual é forjada por um tratamento térmico. As dependências em relação ao tempo e à temperatura de algumas transformações de fases são representadas de uma maneira conveniente em diagramas de fases modificados. É importante saber usar esses diagramas a fim de se projetar um tratamento térmico para uma dada liga que produzirá as propriedades mecânicas desejadas à temperatura ambiente. Três mecanismos de fortalecimento: refinamento de grão, endurecimento por solução sólida e endurecimento por deformação (encruamento). São disponíveis técnicas adicionais por meio das quais propriedades mecânicas são confiadas às características da microestrutura. O desenvolvimento de microestrutura em ligas tanto monofásicas quanto bifásicas ordinariamente envolve algum tipo de transformação de fase A maioria das transformações de fase não ocorre instantaneamente, consideração deve ser dada à dependência do progresso da reação em relação ao tempo, ou taxa de transformação. Transformações multifásicas Transformações de fase podem ser produzidas em sistemas de ligas metálicas pela variação da temperatura, composição e pressão externa; entretanto, mudanças de temperatura por meio de tratamentos térmicos são as mais convenientemente usadas para induzir transformações de fases. Isto corresponde a cruzar um limite de fases no diagrama de fases composição-temperatura quando uma liga de dada composição é aquecida ou resfriada. A maioria das transformações requer algum tempo finito para se completar e a velocidade ou taxa é importante na correlação entre o tratamento térmico e o desenvolvimento de microestrutura. Condições de equilíbrio são mantidas somente se aquecimento ou resfriamento é realizado em taxas extremamente lentas. Para resfriamentos outros que não o de equilíbrio, as transformações são deslocadas para temperaturas menores do que aquelas indicadas pelo diagrama de fases; para o aquecimento, o deslocamento é para temperaturas maiores do que as indicadas pelo diagrama de fases. Estes fenômenos são denominados superresfriamento e superaquecimento, respectivamente. O grau de cada um depende da taxa de variação da temperatura; quanto mais rápido o resfriamento ou o aquecimento, tanto maior o superresfriamento ou o superaquecimento. Por exemplo, para taxas comuns de resfriamento a reação eutetóide ferro-carbono é tipicamente deslocada 10 a 20oC (18 a 36oF) abaixo da temperatura de transformação de equilíbrio. Diagramas de transformações isotérmicas • Perlita C(6,7%pC)FepC)%022,0(γ(0,76%pC) 3 toresfriamen oaqueciment Ponto invariante eutetóide. Localizado à 0,76%pC e 727°C Extremamente importantes para os tratamentos térmicos dos aços. A temperatura desempenha um papel importante na taxa da transformação da austenita em perlita. Curvas em forma de S: porcentagem da transformação em função do logaritmo do tempo, para três temperaturas diferentes. Os dados foram coletados após se resfriar rapidamente uma amostra composta por 100% de austenita até a temperatura indicada no gráfico (mantida constante). Curvas transformação tempo- temperatura (TTT) Várias restrições são impostas ao uso desses diagramas: •Este gráfico particular é válido apenas para uma liga ferro- carbono de composição eutetóide; para outras composições, as curvas terão diferentes configurações. •Estes gráficos são precisos apenas para transformações nas quais a temperatura da liga é mantida constante ao longo de toda a duração da reação. Condições de temperatura constante são denominadas isotérmicas. Tratamento térmico isotérmico (ABCD) que está superposto ao diagrama de transformação isotérmica para uma liga ferro-carbono com composição eutetóide. A espessura absoluta da perlita depende da temperatura da transformação isotérmica. Pode formar a perlita grosseira e a perlita fina. A perlita grosseira forma-se a temperaturas mais altas (imediatamente abaixo da temperatura eutetóide). Taxas de difusão relativamente altas: C pode se difundir ao longo de maiores distâncias, resultando em lamelas grossas. A perlita fina forma-se a temperatura mais baixas (vizinhança de 540ºC). Taxa de difusão do C diminui: camadas mais finas. Perlita grosseira Perlita fina Bainita A temperaturas mais baixas, outros microconstituintes são encontrados, um deles é a bainita. Dois tipos: bainita superior e inferior. Também consiste de ferrita e cementita, mas arranjos diferentes da estrutura lamelar. Bainita superior: uma série de ripas paralelas (tiras finas e estreitas) ou agulhas de ferrita separadas por partículas alongadas da fase cementita. Se forma entre 300 e 540°C. Bainita superior (MET) Bainita inferior: a fase ferrita existe na forma de placas finas, e partículas estreitas de cementita se formam no interior dessas placas de ferrita. Se forma entre 200 e 300°C. Bainita inferior (MEV) Cementita globulizada (esferoidita) Uma liga de aço com microestrutura de perlita ou bainita aquecida e deixada a uma temperatura abaixo da temperatura eutetóide durante um período suficientemente longo (700°C por entre 18 e 24 horas), forma uma outra microestrutura : cementita globulizada. 1000x A fase Fe3C aparece como partículas com aspecto esférico que estão encerradas em uma matriz contínua da fase . Essa transformação ocorreu mediante uma difusão adicional de carbono, sem qualquer alteração nas composições ou quantidades relativas das fases ferrita e cementita. Martensita A martensita é formada quando ligas ferro-carbono austenitizadas são resfriadas rapidamente (ou temperadas) até uma temperatura relativamente baixa (na vizinhança da temperatura ambiente). Estrutura monofásica que não se encontra em equilíbrio, resultante de uma transformação sem difusão da austenita. A austenita CFC experimenta uma transformação em uma martensita tetragonal de corpo centrado (TCC). Uma célula unitária dessa estrutura consiste em um cubo de corpo centrado que foi alongado ao longo de uma das suas dimensões. Os átomos de carbono permanecem como impurezas intersticiais na martensita: solução sólida supersaturada. Os grãos de martensita nucleiam e crescem a uma taxa muito rápida, equivalente à velocidade do som no interior da matriz da austenita:a taxa de transformação martensítica é independente do tempo. Martensita em ripa (ou maciça) Ligas com menos do que 0,6%C, os grãos de martensita se formam como ripas (isto é, placas longas e finas), lado a lado, alinhados paralelamente uns aos outros. Essas ripas se agrupam em estruturais maiores (blocos). Martensita lenticular (ou em placas) Encontrada em ligas Fe-C que contêm concentrações de carbono superiores a 0,6% C. Os grãos adquirem uma aparência em formato de agulha (lenticular) ou em formato de placas. Região escura: martensita; Branca: austenita retida. 1220 x Martensita não aparece no diagrama de fases: fase fora de equilíbrio. Representação esquemática de curvas TTT para aço carbono: eutetóide (C = 0,8%); hipoeutetóide (C<0,8%) hipereutetóide (C>0,8%) Diagramas de Transformação por Resfriamento Contínuo (TRC) A maioria dos tratamentos térmicos para aços envolvem resfriamento contínuo de uma amostra até à temperatura ambiente. Um diagrama de transformação isotérmica é válido apenas para condições de temperatura constante, que deve ser modificadopara transformações que ocorrem à medida em que a temperatura é constantemente mudada. Para resfriamento contínuo, o tempo requerido para uma reação se iniciar e terminar é retardado. Assim as curvas isotérmicas são deslocadas para tempos maiores e temperaturas menores: diagrama de transformação sob contínuo resfriamento (CCT em inglês). Superposição dos diagramas de transformação isotérmica e transformação por resfriamento contínuo para uma liga ferro- carbono com composição eutetóide. Duas curvas de resfriamento correspondentes a taxas moderadamente rápida e lenta: aço eutetóide. A transformação começa após um período de tempo correspondente à interseção da curva de resfriamento com a curva de início de reação e conclui-se ao cruzar a curva de término da transformação. Para resfriamento contínuo de um aço, existe uma taxa de resfriamento rápido crítico, que representa a mínima taxa de têmpera que produzirá uma estrutura totalmente martensítica. Apenas martensita:taxas de têmpera maior do que a crítica; Estrutura totalmente perlítica se desenvolve para menores taxas de resfriamento. Diagrama de transformação sob resfriamento contínuo para um aço-liga (tipo 4340) e várias curvas de resfriamento superpostas Diagramas de transformação isotérmica e sob resfriamento contínuo são, num sentido, diagramas de fase nos quais o parâmetro tempo é introduzido. Cada um é experimentalmente determinado para uma liga de especificada composição, as variáveis sendo temperatura e tempo. Estes diagramas permitem a previsão da microestrutura após algum período de tempo para tratamentos térmicos à temperatura constante e sob resfriamento contínuo, respectivamente. Comportamento mecânico de ligas Fe-C Comportamento mecânico de ligas ferro- carbono perlita fina e grosseira, cementita globulizada (esferoidita), bainita e martensita Para todas, exceto martensita, 2 fases estão presentes (isto é, ferrita e cementita) Perlita A cementita é muito mais dura, mas mais frágil do que a ferrita. Assim, o aumento da fração de Fe3C num aço enquanto mantém-se outros elementos microestruturais constantes resultará num material mais duro e mais resistente. Grande grau de aderência entre as duas fases através de um contorno: a forte e rígida fase cementita severamente restringe a deformação da fase ferrita mais dúctil na região adjacente ao contorno: substancialmente maior em perlita mais fina porque maior será a área de interface por unidade de volume de material. Contornos de fase servem como barreiras para o movimento de discordância da mesma maneira que os contornos de grão. Maior restrição à deformação plástica da perlita fina. Cementita globulizada A cementita têm diferentes formas e arranjos nas microestruturas da perlita e da esferoidita. Ligas contendo microestruturas perlíticas têm maior resistência mecânica e dureza do que aquelas contendo microestrutura de esferoidita. Este comportamento é explicado em termos de reforço nos contornos de grão e impedimento ao movimento das discordâncias através dos contornos ferrita-cementita. Há uma menor área de contorno por unidade de volume na esferoidita: material dúctil e menos resistente. Aços esferoidizados são extremamente dúcteis, muito mais do que os aços perlíticos finos ou grossos. Bainita Aços bainíticos têm uma estrutura mais fina (isto é, menores partículas de ferrita e Fe3C); eles são geralmente mais fortes e mais duros do que os aços perlíticos; ainda exibem uma desejável combinação de resistência e ductilidade. Martensita A martensita é a microestrutura mais dura e a mais resistente e, em adição, a mais frágil; ela tem, de fato, desprezível ductilidade. Sua dureza é dependente do teor de carbono. A resistência mecânica e a dureza da martensita não estão relacionadas à microestrutura: • Estas propriedades são atribuídas à eficiência dos átomos de carbono intersticiais em impedir (dificultar) o movimento de discordâncias; • Relativamente poucos sistemas de escorregamento (ao longo dos quais as discordâncias se movem) para a estrutura TCC. A austenita é ligeiramente mais densa do que a martensita e, portanto, durante a transformação de fase no resfriamento, há um aumento de volume. Martensita Revenida A martensita, além de ser muito dura, é tão frágil que ela não pode ser usada para a maioria das aplicações: a ductilidade e tenacidade da martensita podem ser aumentadas por um tratamento térmico conhecido como revenimento. Revenimento: aquecimento de um aço martensítico até uma temperatura abaixo da temperatura eutetóide por um certo período de tempo. Normalmente, revenimento é realizado em temperaturas entre 250 e 650ºC; tensões internas podem ser aliviadas em temperaturas tão baixas quanto 200ºC. Martensita revenida: A microestrutura de martensita revenida consiste de extremamente pequenas e uniformemente dispersas partículas de cementita embutidas dentro de uma matriz contínua de ferrita. Similar à microestrutura de esferoidita, exceto pelo fato de que as partículas de cementita são muito menores. Martensita revenida pode ser quase tão dura e tão forte quanto a martensita, mas com ductilidade e tenacidade melhoradas. A dureza e a resistência mecânica podem ser explicadas pela grande área de contorno de fases entre ferrita e cementita por unidade de volume que existe para partículas de cementita muito finas e numerosas. A cementita dura reforça a matriz de ferrita ao longo dos contornos de grão e estes contornos de grão também agem como barreiras para o movimento de discordâncias durante a deformação plástica. A contínua fase ferrita é também muito dúctil e relativamente tenaz, o que explica a melhoria destas propriedades na martensita revenida. O tamanho das partículas de cementita influencia as propriedades mecânicas da martensita revenida; o aumento do tamanho de partícula decresce a área do contorno de fase ferrita-cementita, resultando num material menos resistente, ainda assim mais tenaz e mais dúctil. Além disso, o tratamento térmico de revenimento determina o tamanho das partículas de cementita. As variáveis do tratamento de revenimento são tempo e temperatura; a difusão do carbono está envolvida na transformação da martensita em martensita revenida, o aumento da temperatura vai acelerar o processo de difusão, a taxa de crescimento das partículas de cementita, e portanto a taxa de amolecimento. Com o aumento do tempo, a dureza diminui, o que corresponde ao crescimento e à coalescência das partículas de cementita. Fragilização por revenido O revenimento de alguns aços pode resultar numa redução da tenacidade medida por ensaios de impacto: fragilidade de revenido. O fenômeno ocorre quando o aço é revenido numa temperatura acima de cerca de 575ºC seguido por resfriamento lento até à temperatura ambiente, ou quando o revenimento é realizado numa temperatura compreendida entre aproximadamente 375 e 575ºC. • Presença de elementos de liga manganês, níquel ou cromo e, um ou mais dos elementos antimônio, fósforo, arsênio e estanho como impurezas em relativamente baixas concentrações. A fragilidade de revenido pode ser evitada por: (1) controle de composição; e/ou (2)revenimento acima de 575oC ou abaixo de 375oC, seguido por têmpera até à temperatura ambiente. Além disso, a tenacidade de aços que se tornaram fragilizados pode ser melhorada pelo aquecimento até cerca de 600ºC e a seguir rápido resfriamento até abaixo de 300ºC. A presença desses elementos de liga e impurezas desloca atransição dúctil-frágil para temperaturas significativamente mais elevadas; a temperatura ambiente se situa, dessa forma, no regime de fragilidade. Foi observado que a propagação de trincas nesses materiais fragilizados é intergranular e, adicionalmente, que os elementos de liga e as impurezas se segregam, preferencialmente, nessas regiões.
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