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Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 865-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
Processos excluídos deste informativo esquematizado por não terem sido concluídos em virtude de pedidos de vista: MI 
1613 AgR-AgR/DF; Rcl 25980 AgR/RS. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
IMUNIDADE MATERIAL 
 Imunidade material alcança o delito do art. 3º da Lei 7.492/86 (“divulgar informação falsa ou prejudicialmente 
incompleta sobre instituição financeira”) 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
 Fixação de honorários recursais mesmo quando não há a apresentação de contrarrazões ou contraminuta. 
 
DIREITO PENAL 
CONFISCO DE BENS 
 O confisco de bens apreendidos em decorrência do tráfico pode ocorrer o bem mesmo que o bem não fosse utilizado 
de forma habitual e mesmo que ele não tenha sido alterado. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
PRISÃO 
 Advogado condenado em 2ª instância ainda tem direito à prisão em sala de Estado-maior? 
 
HABEAS CORPUS 
 Não cabimento de HC contra ato de Ministro do STF. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
IMUNIDADE MATERIAL 
Imunidade material alcança o delito do art. 3º da Lei 7.492/86 
(“divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira”) 
 
Deputado Estadual que, ao defender a privatização de banco estadual, presta declarações 
supostamente falsas sobre o montante das dívidas dessa instituição financeira não comete o 
delito do art. 3º da Lei nº 7.492/86, estando acobertado pela imunidade material. 
STF. 1ª Turma. HC 115397/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/5/2017 (Info 865). 
 
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
José era Deputado Estadual e Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo. 
Determinado dia, ele convocou a imprensa e, no exercício do cargo de Deputado Estadual, declarou que 
era a favor da privatização do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), considerando que a referida 
instituição possuiria uma dívida de R$ 500 milhões. 
Algum tempo depois, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra José alegando que ele, na 
entrevista coletiva, prestou informações falsas e incompletas sobre a situação patrimonial e contábil da 
instituição financeira estadual (Banestes). Ao agir assim, José teria praticado o delito previsto no art. 3º da 
Lei nº 7.492/86: 
Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira: 
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 
 
O objetivo do legislador, ao prever este tipo penal, foi o de proteger a confiança no sistema financeiro. 
Isso porque “a divulgação de uma informação falsa sobre a saúde da instituição financeira pode provocar 
a corrida dos correntistas à instituição para sacarem seus valores, trazendo prejuízo efetivo à instituição e 
ao sistema”. (BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2016, p. 636). 
 
Assiste razão ao MPF? José deverá ser condenado pela prática do referido delito? 
NÃO. O STF apontou dois argumentos para absolver o ex-Deputado: 
 
1) Ausência de dolo 
A declaração do ex-parlamentar demonstrou apenas sua satisfação com o fato de o Banco ser privatizado, o 
que geraria desoneração de dívida do Estado. Dessa forma, não se percebe que esteja presente o dolo de 
divulgar informação falsa ou incompleta sobre a instituição financeira. Nas palavras do Min. Marco Aurélio: 
“Não ficou configurado na conduta o dolo de divulgar informação falsa ou incompleta sobre instituição 
financeira, inclusive porque as afirmações do deputado fizeram-se ligadas a análises de operações 
realizadas pelo banco. O que consignado nas entrevistas evidenciou a opinião do parlamentar quanto à 
viabilidade da privatização.” 
 
2) Imunidade material 
A entrevista concedida tinha relação direta com o cargo de Deputado Estadual que, à época, era ocupado 
pelo réu. Isso se mostra ainda mais evidente pelo fato de que as declarações foram prestadas dentro da 
Assembleia Legislativa, reforçando que se tratou de uma manifestação do exercício de suas prerrogativas 
de parlamentar. 
Em virtude disso, não se pode dizer que tenha havido crime porque o acusado agiu acobertado pela 
imunidade material prevista no art. 53 da CF/88: 
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas 
opiniões, palavras e votos. 
 
A CF/88, ao tratar sobre as imunidades, no art. 53 fala sobre Deputados Federais e Senadores. Indaga-
se: os Deputados Estaduais e os Vereadores também gozam das mesmas imunidades? 
Deputados Estaduais Vereadores 
SIM. A CF/88 determina que os 
Deputados Estaduais possuem as 
mesmas imunidades que os 
parlamentares federais (art. 27, § 1º). 
 
Os Vereadores gozam de inviolabilidade por suas opiniões, 
palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição 
do Município (art. 29, VIII). 
 
Resumindo: 
• Imunidade formal: NÃO gozam; 
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Logo, os Deputados Estaduais gozam 
tanto da imunidade material como 
formal. 
• Imunidade material: possuem, mas desde que relacionada 
ao mandato e por manifestações promovidas dentro do 
Município. 
 
Em suma: 
Deputado Estadual que, ao defender a privatização de banco estadual, presta declarações 
supostamente falsas sobre o montante das dívidas dessa instituição financeira não comete o delito do 
art. 3º da Lei nº 7.492/86, estando acobertado pela imunidade material. 
STF. 1ª Turma. HC 115397/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/5/2017 (Info 865). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 
Fixação de honorários recursais mesmo quando não 
há a apresentação de contrarrazões ou contraminuta 
 
É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, mesmo 
quando não apresentadas contrarrazões ou contraminuta pelo advogado. 
STF. Plenário. AO 2063 AgR/CE , rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
18/5/2017 (Info 865). 
 
Nos recursos em geral, se a parte recorrente perde, ela deverá ser condenada em honorários 
advocatícios mesmo já tendo sido condenada em 1ª instância? 
SIM. Agora, com o novo CPC, em regra, existe condenação em honorários advocatícios para a parte que 
interpôs recurso, mas sucumbiu. Esta previsão encontra-se no § 11 do art. 85 do CPC/2015: 
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o 
trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, 
sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, 
ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento. 
 
Ex: João ajuizou ação contra Pedro, sendo o pedido julgado improcedente. O juiz condenou João a pagar 
10% de honorários advocatícios (§ 2º do art. 85). O autor não se conformou e interpôs apelação, tendo o 
Tribunal de Justiça mantido a sentença e aumentado a condenação em honorários para 15%, na forma do 
§ 11 do art. 85. 
 
Veja o que diz a doutrina sobre este importante § 11 do art. 85 do novo CPC: 
"Esta é uma das principais inovações do CPC/2015. No CPC/1973, em cada processo, havia uma 
única condenação em honorários. No novo sistema, a cada recurso, há a majoração na condenação 
em honorários – além daqueles já fixados anteriormente. 13.1. O teto para a fixação dos 
honorários é o limite previsto no § 2º (20%, no caso de particulares) e § 3º (3% a 20%, conforme a 
faixa, no caso da Fazenda Pública). Ou seja, mesmo com a sucumbência recursal, o teto de 20% de 
honorários não poderá ser ultrapassado.(...) 13.3. Ao julgar o recurso, de ofício, o tribunal irá 
aumentar os honorários. Assim, é possível que, no cotidiano, ocorra o seguinte: condenação em 
10% quando da sentença, majorada para 15% quando do acórdão da apelação e para 20% quando 
do acórdão do recurso especial (por ser esse o teto legal, como visto). Mas o mais provável é que 
ocorra o seguinte: condenação em 10% quando da sentença, majorada para 20% quando do 
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
acórdão da apelação e mantida nesses 20% quando do acórdão de eventual recurso especial 
(exatamente por ser o teto legal). 13.4. Em virtude de quais recursos deve ser aplicada a 
sucumbência recursal? Seriam todos os recursos previstos no artigo 994 do CPC/2015? Como o § 
11 destaca “tribunal”, é de se concluir que não há a aplicação em 1º grau. Assim, quando dos 
embargos de declaração da interlocutória ou sentença, descabe aplicar honorários recursais." 
(DELLORE, Luiz. Comentários ao art. 85 do CPC. Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 
2015 - Parte Geral. São Paulo: Método, 2015, p. 298-299). 
 
Essa nova previsão tem dois objetivos principais: 
1º) Remunerar o trabalho do advogado que terá que atuar também na fase de recurso; 
2º) Desestimular a interposição de recursos, considerando que, agora, se eles forem desprovidos, o 
recorrente terá que pagar honorários advocatícios, o que não existia antes. 
 
Nesse sentido: 
O § 11 do art. 85 do Código de Processo Civil de 2015 tem dupla funcionalidade, devendo atender à justa 
remuneração do patrono pelo trabalho adicional na fase recursal e inibir recursos provenientes de 
decisões condenatórias antecedentes. (...) 
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 370.579/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/06/2016. 
 
Se a parte recorrida não apresentar contrarrazões ao recurso, mesmo assim a parte recorrente que 
perdeu terá que pagar honorários advocatícios recursais? Ex: João recorreu contra a sentença; Pedro foi 
intimado, mas não apresentou contrarrazões ao recurso; João terá que pagar honorários recursais 
mesmo não tendo havido contrarrazões? 
SIM. 
É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, mesmo quando não 
apresentadas contrarrazões ou contraminuta pelo advogado da parte recorrida. 
STF. Plenário. AO 2063 AgR/CE , rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
18/5/2017 (Info 865). 
 
A ausência de resposta ao recurso pela parte contrária não tem o condão de afastar a aplicação do disposto 
no art. 85, §11, do CPC, eis que a medida tem o claro intuito de desestimular a interposição de recursos 
procrastinatórios que serão desprovidos, independentemente da apresentação de contrarrazões. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
CONFISCO DE BENS 
O confisco de bens apreendidos em decorrência do tráfico pode ocorrer ainda que o bem não 
fosse utilizado de forma habitual e mesmo que ele não tenha sido alterado 
 
É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência 
do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do 
bem para tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do 
acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além daqueles previstos 
expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição Federal. 
STF. Plenário. RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/5/2017 (repercussão geral) (Info 865). 
Rafael Verol
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João foi preso transportando, em seu veículo, 88 quilos de maconha. 
O Ministério Público denunciou o agente e, nas alegações finais, pediu que o juiz, além de condenar o réu, 
determinasse o confisco do automóvel, com base no art. 243, parágrafo único, da CF/88: 
Art. 243 (...) 
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito 
de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a 
fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela EC 81/2014) 
 
A defesa, por sua vez, refutou o pedido alegando que o veículo não foi preparado para disfarçar o 
transporte da droga (não foi instalado um fundo falso, p. ex.). Além disso, essa foi a primeira e única vez 
que ele utilizou o automóvel para o tráfico, não havendo habitualidade que justificasse o perdimento do 
bem. Para a defesa, perda do bem pelo confisco deve ficar reservada aos casos de utilização do bem de 
forma efetiva (e não eventual) para a prática do delito. 
 
A tese da defesa encontra amparo na jurisprudência do STF? Para que haja o confisco de que trata o art. 
243, parágrafo único, da CF/88 é necessário que fique provado que o bem era utilizado de forma habitual 
para o crime ou que ele tenha sido modificado com a finalidade de cometer o delito? 
NÃO. A tese da defesa não encontra acolhida. Segundo a tese firmada pelo STF: 
É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico 
de drogas, sem a necessidade de se perquirir (investigar) a habitualidade, reiteração do uso do bem para 
tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou 
qualquer outro requisito além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da 
Constituição Federal. 
STF. Plenário. RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/5/2017 (repercussão geral) (Info 865). 
 
Tais exigências não estão previstas no dispositivo constitucional 
O art. 243, parágrafo único, da CF/88, é muito claro e afirma que todo e qualquer bem de valor econômico 
apreendido em decorrência do tráfico de drogas será confiscado. Este dispositivo não faz nenhuma 
exigência extra. Não exige que haja habitualidade ou que o bem tenha sido “transformado” para a prática 
do crime. Nada disso. Basta que o bem tenha sido apreendido em decorrência do tráfico. 
 
Interpretação literal 
O confisco de bens pelo Estado é uma forma de restrição ao direito fundamental de propriedade, 
garantido pelo art. 5º, caput e XXII, da CF/88. 
Como se trata de uma restrição a direito fundamental, o confisco de bens deve ser aplicado de acordo 
com a literalidade do texto constitucional, sendo, portanto, vedado criar outros requisitos que não os 
estabelecidos pelo art. 243, parágrafo único, da CF/88. 
 
Repressão ao tráfico 
O confisco, no direito comparado, é um instituto aplicado aos delitos de repercussão econômica, a fim de 
garantir o ideal de que “o crime não deve compensar”. 
Essa mesma perspectiva foi adotada pela CF/88, que internalizou diversos diplomas internacionais que 
visam a reprimir severamente o tráfico de drogas. 
 
 
 
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Mandados constitucionais de criminalização 
Os preceitos constitucionais sobre o tráfico de drogas e o respectivo confisco de bens constituem parte 
dos mandados de criminalização previstos pelo poder constituinte originário a exigir uma atuação enérgica 
do Estado sobre o tema, sob pena de o ordenamento jurídico brasileiro incorrer em proteção deficiente 
dos direitos fundamentais. 
 
Princípios da unidade e da supremacia da Constituição 
O confisco previsto no art. 243, parágrafo único, da CF/88, deve ser interpretado à luz dos princípios da 
unidade e da supremacia da Constituição, ou seja, não se pode ler o direito de propriedade em separado, 
sem considerar a restrição feita a esse direito. 
Assim, a habitualidade do uso do bem na prática criminosa ou sua adulteração para dificultar a descoberta 
do local de acondicionamento não são pressupostos para o confisco de bens. 
 
Confisco de bensprevisto na legislação infraconstitucional 
O julgado acima foi proferido tendo como parâmetro de exame unicamente o texto do art. 243, parágrafo 
único, da CF/88. 
Penso, no entanto, que, para a explicação ficar completa, seja necessário mencionar que a legislação 
infraconstitucional também prevê hipóteses de confisco dos bens. 
É o caso, por exemplo, do Código Penal: 
Art. 91. São efeitos da condenação: 
(...) 
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: 
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte 
ou detenção constitua fato ilícito; 
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente 
com a prática do fato criminoso. 
 
A Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) também traz uma previsão nesse sentido: 
Art. 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os 
maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática 
dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade 
de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica. 
(...) 
Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou 
valor apreendido, sequestrado ou declarado indisponível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
PRISÃO 
Advogado condenado em 2ª instância ainda tem direito à prisão em sala de Estado-maior? 
 
Importante!!! 
A prerrogativa conferida ao advogado da prisão em sala de Estado-Maior (art. 7º, V, da Lei nº 
8.906/94) continua existindo mesmo que já estejamos na fase de execução provisória da pena? 
 Redação literal da Lei: SIM. O art. 7º, V, afirma que o advogado terá direito de ser preso em 
sala de Estado-Maior até que haja o trânsito em julgado. 
 STJ: NÃO. A prerrogativa conferida aos advogados pelo art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94, refere-
se à prisão cautelar, não se aplicando para o caso de execução provisória da pena (prisão-
pena). STJ. 6ª Turma. HC 356.158/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 
19/05/2016. 
 STF: ainda não tem posição expressa sobre o tema. No entanto, a Corte não admite 
reclamação contra decisões dos Tribunais que determinam a prisão dos advogados 
condenados em 2ª instância em unidades prisionais comuns (STF. 2ª Turma. Rcl 25111 
AgR/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2017. Info 865). 
 
Prisão em sala de Estado-Maior 
A legislação prevê que os advogados e os integrantes de determinadas carreiras, se forem presos antes 
do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, possuem o direito de ficar recolhidos não em uma 
cela com grades, mas sim em uma sala de Estado-Maior. Veja a redação do art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94 
(Estatuto da OAB): 
Art. 7º São direitos do advogado: 
V — não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado Maior, 
com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta, em prisão 
domiciliar; 
 
Obs.1: a expressão riscada “assim reconhecidas pela OAB” foi declarada inconstitucional pelo STF no 
julgamento da ADI n.1.127/DF. Desse modo, não é a OAB quem tem o poder de definir se o local onde 
foi preso o advogado é ou não compatível com a definição de sala de Estado-Maior. Tal análise é feita pelo 
juiz/Tribunal que determinou a prisão. 
 
Obs.2: esse direito só é garantido em caso de prisão provisória. Quando houver o trânsito em julgado da 
condenação, o cumprimento da pena deverá ocorrer em uma unidade prisional comum, como as demais 
pessoas. 
 
Veja as carreiras que possuem a garantia de prisão em sala de Estado-Maior: 
Magistrados LC 35/79 
Membros do MP Lei 8.625/93 
Membros da Defensoria LC 80/94 
Advogados públicos federais 13.327/2016 
Advogados Lei 8.906/94 
 
 
 
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
Rafael Verol
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
Em que consiste sala de Estado-Maior? 
Segundo já explicou o ex-Ministro Nelson Jobim, a palavra “Estado-Maior” representa o grupo de Oficiais 
que assessora o Comandante das Forças Armadas, do Corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar. Logo, sala 
de Estado-Maior é o compartimento localizado na unidade militar que é utilizado por eles para o exercício 
de suas funções (Voto no HC 81632/SP, DJU em 21/3/2003). 
Essa mesma conclusão acima exposta é comungada pelo Ministério da Defesa, que afirma que não existe uma 
definição exata do que seja sala de Estado-Maior. Contudo, “aglutinando os costumes da lide castrense e 
alicerçado na definição de Estado-Maior, ou seja 'Estado-Maior — Órgão composto de pessoal militar 
qualificado, que tem por finalidade assessorar o comandante no exercício do comando' — glossário das Forças 
Armadas MD35-G-01 (4ª Edição/2007), pode-se dizer que 'sala de Estado-Maior' é um compartimento de 
qualquer unidade militar que possa ser utilizado pelo Estado-Maior para exercer suas funções”. 
 
Problema: inexistência de sala de Estado-Maior em diversas localidades 
A prática constata que a grande maioria dos Municípios brasileiros não possui salas de Estado-Maior, 
considerando que são poucas as localidades onde existem comandos de unidade militar das Forças 
Armadas. 
Além disso, nas unidades onde ela existe, normalmente só há uma sala desse tipo, sendo utilizada para os 
serviços militares. Logo, manter uma pessoa lá presa durante meses inviabilizaria o próprio funcionamento 
regular das Forças Armadas, que não poderiam utilizar a sala neste período. 
Diante disso, a jurisprudência conferiu uma interpretação teleológica ao dispositivo e passou a entender 
que, quando a lei fala que determinada pessoa deve ficar presa em sala de Estado-Maior, isso significa que 
ela deverá ficar recolhida em um gabinete (escritório), sem celas, sem grades, e que ofereça instalações 
condignas, com condições adequadas de higiene e segurança. Esse gabinete (sala) pode ser localizado em 
unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar. 
Em outras palavras, os advogados, membros da Magistratura, MP e Defensoria Pública, quando forem 
presos provisoriamente, não precisam ficar em uma sala dentro do Comando das Forças Armadas, mas 
devem ser recolhidos em um local equiparado à sala de Estado-Maior, ou seja, em um ambiente separado, 
sem grades, localizado em unidades prisionais ou em batalhões da Polícia Militar, que tenha instalações e 
comodidades adequadas à higiene e à segurança do preso. 
STF. Plenário. Rcl 5826/PR e Rcl 8853/GO, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 
julgados em 18/3/2015 (Info 778). 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
João (advogado) foi condenado a uma pena de 8 anos de reclusão, tendo sido a ele assegurado na sentença 
o direito de recorrer em liberdade. 
O réu interpôs apelação, mas o Tribunal de Justiça manteve a condenação. 
Contra esse acórdão, João interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. 
 
João, que passou todo o processo em liberdade, deverá aguardar o julgamento dos recursos especial e 
extraordinário preso? É possível executar provisoriamente a condenação enquanto se aguarda o 
julgamento dos recursos especial e extraordinário? É possível que o réu condenado em 2ª instância seja 
obrigado a iniciar o cumprimento da pena mesmo sem ter havido ainda o trânsito em julgado? 
SIM. Conforme entendimento atual do STF, é possível iniciar a execução da pena se o réu condenado 
somente está esperando o julgamento de recursos especial e extraordinário. Isso porque tais recursos não 
gozam de efeito suspensivo. Nesse sentido: 
A execuçãoprovisória de acórdão penal condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a 
recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de 
inocência afirmado pelo artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal. 
STF. Plenário virtual. ARE 964246 RG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/11/2016 (repercussão geral). 
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
 
Até aqui, tudo bem, sem polêmicas. A dúvida surge agora: esse réu condenado, por ser advogado, 
deverá ser preso em uma sala equiparada à sala de Estado-Maior enquanto aguarda o julgamento dos 
recursos especial e extraordinário? A prerrogativa da prisão em sala de Estado-Maior (art. 7º, V, da Lei 
nº 8.906/94) continua existindo mesmo que já estejamos na fase de execução provisória da pena? 
NÃO. 
Em caso de execução provisória da pena, o advogado condenado não mais possui o direito de 
permanecer preso em sala de Estado-Maior. 
A prerrogativa conferida aos advogados pelo art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94 refere-se à prisão cautelar, 
não se aplicando para o caso de execução provisória da pena (prisão-pena). 
STJ. 6ª Turma. HC 356.158/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/05/2016. 
 
E o STF, entende da mesma forma? 
O STF ainda não possui uma decisão expressa sobre o tema, mas há um precedente que pode servir de 
indicativo da tendência da Corte. Vou explicar. A situação foi a seguinte: 
O TJ manteve a condenação de Pedro (advogado), que interpôs RE e REsp contra o acórdão. 
Como esses recursos não gozam de efeito suspensivo, o Desembargador determinou que o condenado 
iniciasse o cumprimento da pena (execução provisória da pena). 
Pedro pediu para ficar em sala de Estado-Maior e o Desembargador negou, utilizando justamente os 
argumentos acima explicados, ou seja, o de que a prerrogativa conferida aos advogados pelo art. 7º, V, da 
Lei nº 8.906/94 refere-se apenas à prisão cautelar, não se aplicando para o caso de execução provisória 
da pena (prisão-pena). 
Contra esta decisão do Desembargador, a defesa de Pedro ingressou com reclamação diretamente no STF 
alegando que houve desrespeito ao que o Supremo teria decidido na ADI 1.127/DF. 
Essa ADI foi proposta contra o Estatuto da OAB e, na ocasião, o STF decidiu que o art. 7º, V, da Lei nº 
8.906/94 era constitucional, com exceção do trecho “assim reconhecidas pela OAB” (veja novamente a 
explicação acima). 
O STF rejeitou a reclamação afirmando que: 
 Se a condenação do réu foi confirmada em 2ª instância e ele somente está aguardando RE e REsp, 
então, neste caso, a sua custódia não tem mais natureza cautelar, sendo, na verdade, uma prisão-
pena. 
 Mesmo não tendo havido ainda o trânsito em julgado, esta é uma prisão-pena. 
 O STF, ao julgar a ADI 1.127/DF, não discutiu se o direito de o advogado permanecer recolhido em sala 
de Estado-Maior se estende ou não ao preso em razão de acórdão penal condenatório de 2º grau. 
Como na época da ADI 1.127/DF, o STF não admitia a execução provisória da pena, esse tema não foi 
debatido na ocasião. 
 Logo, não se pode dizer que a decisão do Desembargador que negou a prisão em sala de Estado-Maior 
para o condenado em 2ª instância tenha violado o acórdão do STF na ADI 1.127/DF. Não violou porque 
isso não se discutiu neste acórdão. 
 Dessa forma, não há identidade fática entre o ato reclamado e o julgado na ação paradigma. 
STF. 2ª Turma. Rcl 25111 AgR/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2017 (Info 865). 
 
Assim, não se pode dizer, ainda, qual é a posição do STF a respeito do tema. 
 
Vale ressaltar que já existe uma decisão monocrática do Min. Celso de Mello no mesmo sentido do STJ, 
ou seja, afirmando que não mais existe direito à sala de Estado-Maior se o advogado foi condenado em 2ª 
instância: STF. Decisão monocrática. HC 135711, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24/10/2016. 
 
 
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Resumindo: 
A prerrogativa conferida ao advogado da prisão em sala de Estado-Maior (art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94) 
continua existindo mesmo que já estejamos na fase de execução provisória da pena? 
Redação literal da Lei: SIM STJ: NÃO STF 
O art. 7º, V afirma que o 
advogado terá direito de ser 
preso em sala de Estado-
Maior até que haja o 
trânsito em julgado. 
A prerrogativa conferida aos 
advogados pelo art. 7º, V, da 
Lei nº 8.906/94 refere-se à 
prisão cautelar, não se 
aplicando para o caso de 
execução provisória da pena 
(prisão-pena). 
STJ. 6ª Turma. HC 356.158/SP, 
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 
julgado em 19/05/2016. 
Ainda não tem posição expressa sobre 
o tema. No entanto, a Corte não 
admite reclamação contra decisões dos 
Tribunais que determinam a prisão dos 
advogados condenados em 2ª 
instância em unidades prisionais 
comuns. 
STF. 2ª Turma. Rcl 25111 AgR/PR, Rel. 
Min. Dias Toffoli, julgado em 
16/5/2017 (Info 865). 
 
 
 
 
HABEAS CORPUS 
Não cabimento de HC contra ato de Ministro do STF 
 
Não cabe habeas corpus se a impetração for ajuizada em face de decisões monocráticas 
proferidas por Ministro do Supremo Tribunal Federal. 
STF. Plenário. HC 115787/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 
18/5/2017 (Info 865). 
 
Imagine que um Ministro do STF, em um processo que lá tramita, profere decisão monocrática 
("sozinho") contrária a um investigado ou réu. Neste caso, caberá habeas corpus contra essa decisão? É 
cabível HC contra decisão monocrática de Ministro do STF? 
NÃO. 
Não é cabível HC em face de decisão monocrática de Ministro do STF. 
STF. Plenário. HC 115787/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/5/2017 
(Info 865). 
 
Caso a parte deseje impugnar decisão monocrática proferida por Ministro do STF, o instrumento 
processual cabível é o agravo regimental, no prazo de 5 dias, nos termos do art. 39 da Lei nº 8.038/90 e 
art. 317 do Regimento Interno do STF. 
 
O STF é dividido em duas Turmas (1ª e 2ª), cada uma com 5 Ministros e mais o Plenário (composto pelos 
11 Ministros). Se uma das Turmas toma uma decisão contrária ao réu, é possível impetrar habeas corpus 
para ser julgado pelo Plenário? 
NÃO. Este entendimento encontra-se cristalizado em uma súmula: 
Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do 
plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso. 
 
 
 
 
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EXERCÍCIOS 
 
Julgue os itens a seguir: 
1) Deputado Estadual que, ao defender a privatização de banco estadual, presta declarações supostamente 
falsas sobre o montante das dívidas dessa instituição financeira comete o delito do art. 3º da Lei nº 
7.492/86 (Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição financeira). ( ) 
2) (Defensor DPE-MA 2015 FCC) É inconstitucional disposição normativa veiculada por Constituição 
Estadual que reconheça aos Deputados Estaduais as imunidades e inviolabilidades constitucionalmente 
reservadas aos Deputados Federais e Senadores. ( ) 
3) (Juiz TJ/SC 2017 FCC) Os deputados federais, estaduais e os vereadores gozam de imunidade material e 
de imunidade processual. Em razão da primeira, não podem, desde a expedição do diploma, ser 
responsabilizados por suas opiniões, palavras e votos proferidos no exercício do mandato e, em razão da 
segunda, não podem, desde a expedição do diploma, ser presos, salvo em flagrante delito. ( ) 
4) (Juiz TJ/SC 2017 FCC) Os deputados federais, estaduais e os vereadores são invioláveis por suas opiniões, 
palavras e votos, desde que proferidos no exercício do mandato. No entanto, os deputados estaduais e 
os vereadores gozam dessa garantia apenas na circunscrição do respectivo ente federativo.( ) 
5) É cabível a fixação de honorários recursais, prevista no art. 85, § 11, do CPC/2015, desde que haja a 
apresentação de contrarrazões pelo advogado da parte recorrida. ( ) 
6) (Promotor MP/PA 2014 FCC) A expropriação, sem qualquer espécie de indenização ao proprietário, 
somente se dá nas hipóteses de utilização da propriedade para culturas ilegais de plantas psicotrópicas 
ou exploração de trabalho escravo, estabelecendo, ainda, a Constituição que todo e qualquer bem de 
valor econômico, apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da 
exploração de trabalho escravo, será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, 
na forma da lei. ( ) 
7) É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico 
de drogas, sem a necessidade de se perquirir (investigar) a habitualidade, reiteração do uso do bem para 
tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou 
qualquer outro requisito além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da 
Constituição Federal. ( ) 
8) Segundo entende o STJ, a prerrogativa conferida aos advogados pelo art. 7º, V, da Lei nº 8.906/94 refere-
se à prisão cautelar, não se aplicando para o caso de execução provisória da pena (prisão-pena). ( ) 
9) (Delegado PC-GO 2017 CESPE) É cabível habeas corpus contra decisão monocrática de ministro de 
tribunal. ( ) 
10) Não cabe habeas corpus se a impetração for ajuizada em face de decisões monocráticas proferidas por 
Ministro do Supremo Tribunal Federal. ( ) 
 
 
Gabarito 
1. E 2. E 3. E 4. E 5. E 6. C 7. C 8. C 9. E 10. C 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio eletrônico* 
Pleno 17.5.2017 18.5.2017 3 25 
1ª Turma 16.5.2017 — 84 51 
2ª Turma 16.5.2017 — 16 80 
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 12 a 18 de maio de 2017. 
 
 
CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L 
DJE de 15 a 19 de maio de 2017 
 
 
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 937.595 – SP 
RELATOR: MIN. ROBERTO BARROSO 
EMENTA: DIREITO PREVIDENCIÁRIO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. READEQUAÇÃO DE BENEFÍCIO CONCEDIDO ENTRE 05.10.1988 E 05.04.1991 (BURACO 
NEGRO). APLICAÇÃO IMEDIATA DOS TETOS INSTITUÍDOS PELAS EC´S Nº 20/1998 E 41/2003. REPERCUSSÃO GERAL. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 
 
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N.1.014.286– SP 
RELATOR: MIN. LUIZ FUX 
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL DE SERVIDOR PÚBLICO. ARTIGO 40, § 4º, III, DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL. PEDIDO DE AVERBAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO EM ATIVIDADES EXERCIDAS SOB CONDIÇÕES ESPECIAIS QUE PREJUDIQUEM A 
SAÚDE OU A INTEGRIDADE FÍSICA DO SERVIDOR, COM CONVERSÃO DO TEMPO ESPECIAL EM COMUM, MEDIANTE CONTAGEM DIFERENCIADA, 
PARA OBTENÇÃO DE OUTROS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS. QUESTÃO NÃO ABRANGIDA PELO ENUNCIADO DA SÚMULA VINCULANTE 33. 
REITERAÇÃO DA CONTROVÉRSIA EM MÚLTIPLOS PROCESSOS. IMPACTO DA DECISÃO NO EQUILÍBRIO FINANCEIRO E ATUARIAL DA PREVIDÊNCIA 
PÚBLICA. RECONHECIDA A EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 
 
Decisões Publicadas: 2 
 
TRANSCRIÇÕES 
 
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais aprofundada 
do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham despertado ou possam 
despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica. 
 
Prisão cautelar - Duração excessiva - Inadmissibilidade (Transcrições) 
HC 139.664/GO* 
Relator: Ministro Celso de Mello 
EMENTA: “HABEAS CORPUS”. PRISÃO CAUTELAR QUE SE PROLONGA POR MAIS DE 04 (QUATRO) ANOS. PACIENTE QUE, 
EMBORA PRONUNCIADA, SEQUER FOI SUBMETIDA, ATÉ O PRESENTE MOMENTO, A JULGAMENTO PERANTE O TRIBUNAL 
DO JÚRI. INADMISSIBILIDADE. EXCESSO DE PRAZO CARACTERIZADO. SITUAÇÃO QUE NÃO PODE SER TOLERADA NEM 
ADMITIDA. DIREITO PÚBLICO SUBJETIVO DE QUALQUER RÉU, MESMO TRATANDO-SE DE DELITO HEDIONDO, A 
JULGAMENTO PENAL SEM DILAÇÕES INDEVIDAS NEM DEMORA EXCESSIVA OU IRRAZOÁVEL. DURAÇÃO ABUSIVA DA 
PRISÃO CAUTELAR QUE TRADUZ SITUAÇÃO ANÔMALA APTA A COMPROMETER A EFETIVIDADE DO PROCESSO E A 
FRUSTRAR O DIREITO DO ACUSADO À PROTEÇÃO JUDICIAL DIGNA E CÉLERE. PRECEDENTES (RTJ 187/933-934, Rel. Min. 
CELSO DE MELLO – HC 85.237/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). MAGISTÉRIO DA DOUTRINA (Odone Sanguiné, José Rogério 
Cruz e Tucci, Luiz Flávio Gomes e Rogério Lauria Tucci). OCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE, DE LESÃO EVIDENTE AO “STATUS 
LIBERTATIS” DA PACIENTE EM RAZÃO DE OFENSA À CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (ARTIGO 7º, n. 5) E 
À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (ART. 5º, INCISO LXXVIII). “HABEAS CORPUS” DEFERIDO. 
 
– Nada pode justificar a permanência de uma pessoa na prisão, sem culpa formada, quando configurado excesso irrazoável no tempo 
de sua segregação cautelar (RTJ 137/287 – RTJ 157/633 – RTJ 180/262- -264 – RTJ 187/933-934), considerada a excepcionalidade de que 
se reveste, em nosso sistema jurídico, a prisão meramente processual do indiciado ou do réu, mesmo que se trate de crime hediondo ou de 
delito a este equiparado. 
 
– O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário – não derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório 
causalmente atribuível ao réu –, traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de tornar evidente o desprezo estatal 
pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio sem dilações indevidas (CF, art. 5º, 
 
Informativo 865-STF (29/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
LXXVIII) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional, inclusive a de não sofrer o arbítrio da coerção estatal representado 
pela privação cautelar da liberdade por tempo irrazoável ou superior àquele estabelecido em lei. 
 
– A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade da 
pessoa humana, que representa – considerada a centralidade desse princípio essencial (CF, art. 1º, III) – significativo vetor 
interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de 
modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito 
constitucional positivo. Constituição Federal (Art. 5º, incisos LIV e LXXVIII). EC 45/2004. Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
(Art. 7º, ns. 5 e 6). Doutrina. Jurisprudência. 
 
DECISÃO: Trata-se de “habeas corpus”, impetrado contra decisões que, emanadas do E. Superior Tribunal de Justiça, acham-se 
consubstanciadas em acórdãos assim ementados: 
 
“’HABEAS CORPUS’. PRISÃO PREVENTIVA. SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO DOMICILIAR. DOENÇA GRAVE. 
IMPOSSIBILIDADE DE TRATAMENTO ADEQUADO NA UNIDADE PRISIONAL. FALTA DE COMPROVAÇÃO. INEVIDENTE 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. PARECER ACOLHIDO. 
1. Não comprovada a impossibilidade de recebimento de tratamento adequado no estabelecimento prisional, como na espécie, 
inviável a concessão da prisão domiciliar com base no art. 318, II, do CPP. 
2. Ordem denegada.” 
(HC 350.315/GO, Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR – grifei) 
 
“’HABEAS CORPUS’. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. DEMORA PROVOCADA PELA DEFESA. 
SÚMULA 64/STJ. INEVIDÊNCIA DE ILEGALIDADE. PARECER ACOLHIDO. 
 
1. Os prazos para a conclusão da instrução criminal não são peremptórios, podendo ser flexibilizados diante das peculiaridades 
do caso concreto, em atenção e dentro dos limites da razoabilidade. 
 
2. Se a alegada demora foi provocada pela própria defesa, em razão dos diversos recursosinterpostos após a decisão de 
pronúncia, afasta-se o apontado constrangimento ilegal por excesso de prazo. Aplicação da Súmula 64/STJ. 
 
3. Ordem denegada.” 
(HC 369.243/GO, Rel. Min. SEBASTIÃO REIS JÚNIOR – grifei) 
 
Sustenta-se, em síntese, neste “writ” constitucional, que a ora paciente estaria sofrendo injusto constrangimento ilegal em seu “status libertatis”, 
motivado pelo excesso de prazo na duração da custódia preventiva, bem assim por não estar recebendo tratamento de saúde adequado no cárcere. 
Busca-se, desse modo, nesta sede processual, a revogação da prisão cautelar da ora paciente ou, subsidiariamente, a concessão de prisão 
domiciliar para tratamento de saúde, nos termos do artigo 318, inciso II, do Código de Processo Penal” (grifei). 
O Juízo de Direito da Vara Judicial da comarca de Itaberaí/GO, ao prestar as informações que lhe foram solicitadas, apresentou os seguintes 
esclarecimentos: 
 
“Tramita neste Juízo ação penal movida pelo Ministério Público Estadual contra a paciente e seu companheiro, Cléber Antônio Utim, 
sendo-lhes imputada a conduta descrita no art. 121, § 2º, I e IV, do Código Penal Brasileiro. 
 
Aparecida e Cléber foram denunciados, por, supostamente, em comunhão de interesses na obtenção de seguro de vida da vítima, Núbia 
Cristina de Paula, ceifar-lhe a vida atirando-a de uma ponte com 10m de altura. 
 
A paciente foi presa preventivamente em 19.4.2013, sendo pronunciada em 12.4.2014, desde quando seu defensor vem 
incessantemente interpondo recursos em todas as instâncias. 
 
Através do Ofício 760/2015, em 15.12.2015, o diretor da unidade prisional local comunicou que foi apreendido na cela da paciente 
vasilhame contendo aproximadamente 1kg de sal, que, em tese, estaria sendo ingerido pela detenta, para provocar reações necessárias de 
atendimento médico, o que sempre acontecia em horários em que o médico da unidade carcerária já não mais ali estava. Ressalte-se que poucos 
dias antes de tal fato os impetrantes haviam formulado pedido de prisão domiciliar em favor da Sra. Aparecida pelo fato desta ser hipertensa. 
 
Também calha informar que os autos de inquérito que motivaram a presente ação penal permaneceram arquivados por cerca de 10 
(dez) anos, por razão de, à época, as testemunhas negarem os fatos, atribuindo-lhes caráter acidental. 
 
Com a decisão de pronúncia, há mais de dois anos, a defesa interpôs recurso em sentido estrito, seguido de inúmeros outros, inclusive 
direcionados ao Pretório Excelso, tendo todos sido negados. 
 
Atualmente, aguarda-se o trânsito em julgado de recurso interposto no Superior Tribunal de Justiça, a fim de que se dê normal 
seguimento ao processo criminal.” (grifei) 
 
O Ministério Público Federal, em pronunciamento da lavra da ilustre Subprocuradora-Geral da República Dra. CLÁUDIA SAMPAIO 
MARQUES, opinou pelo não conhecimento deste “habeas corpus” em parecer assim ementado: 
 
“’HABEAS CORPUS’ SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO. HOMICÍDIO DUPLAMENTE 
QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA MANTIDA NA PRONÚNCIA E PRESERVADA PELO TJ/GO E STJ. EXCESSO DE PRAZO 
DA CUSTÓDIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. AÇÃO PRINCIPAL QUE TRAMITA COM REGULARIDADE, NÃO OBSTANTE AS 
INSURGÊNCIAS (INFINDÁVEIS) DA DEFESA. CONCESSÃO DE PRISÃO DOMICILIAR. PLEITO INVIÁVEL. AUSÊNCIA DOS 
REQUISITOS DO ART. 318, II, CPP. PARECER PELO NÃO CONHECIMENTO DO ‘WRIT’.” (grifei) 
 
Sendo esse o contexto, passo a examinar a causa ora em julgamento. E, ao fazê-lo, entendo assistir razão aos ora impetrantes no ponto em 
que sustentam a duração excessiva da prisão cautelar imposta à paciente (quatro anos e trinta e três dias), sem que sequer tenha sido julgada, até o 
presente momento, pelo Tribunal do Júri da comarca de Itaberaí/GO. 
A presente impetração, como precedentemente referido, apoia-se na alegada ocorrência de excesso de prazo na manutenção da custódia 
cautelar da ora paciente, que já se prolonga, comprovadamente, como assinalado, por mais de 04 (quatro) anos, sem que, nesse ínterim, tenha ela sido 
submetida a julgamento perante o Tribunal do Júri. 
Cumpre acentuar, por oportuno, que a paciente – pronunciada, em 12/04/2014, por suposta prática do crime de homicídio duplamente 
qualificado (CP, art. 121, § 2º, incisos I e IV) – veio a ser presa, preventivamente, em 19/04/2013. 
 
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Impende reiterar, por necessário, que, até esta data, o julgamento da ora paciente perante o Tribunal do Júri ainda não se realizou, não 
obstante decorrido tão longo período de tempo (mais de 04 anos desde a prisão preventiva em 19/04/2013 ou mais de 03 anos desde a pronúncia em 
12/04/2014). 
O que me parece grave, no caso ora em análise, considerados todos os aspectos que venho de referir, é que o exame destes autos evidencia 
que a paciente permanece presa, cautelarmente, até agora, não obstante – insista-se – decorridos mais de quatro (04) anos, sem que sequer tenha 
sido julgada por seu juiz natural. 
Não desconheço que o Supremo Tribunal Federal, em reiteradas decisões, tem afirmado que a superveniência da decisão de pronúncia, por 
importar em superação de eventual excesso de prazo, afastaria a configuração, quando ocorrente, da situação de injusto constrangimento (HC 
100.567/SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA – HC 118.065/SP, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI – RHC 123.730/AgR-SP, Rel. Min. LUIZ FUX, 
v.g.). 
Impende registrar, por relevante, que esta Suprema Corte – embora assinalando que a prisão cautelar fundada em decisão de pronúncia não 
tem prazo legalmente predeterminado – adverte, no entanto, que a duração dessa prisão meramente processual está sujeita a um necessário critério 
de razoabilidade, no que concerne ao tempo de sua subsistência, como o evidenciam decisões proferidas por este Tribunal: 
 
“‘HABEAS CORPUS’ – ADITAMENTO DA DENÚNCIA – ALEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA – PRETENDIDA OBSERVÂNCIA 
DO ART. 384, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPP – INAPLICABILIDADE – ADITAMENTO QUE SE LIMITA A FORMALIZAR NOVA 
CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA DOS FATOS QUE FORAM DESCRITOS, COM CLAREZA, NA DENÚNCIA – HIPÓTESE DE SIMPLES 
‘EMENDATIO LIBELLI’ – POSSIBILIDADE – APLICABILIDADE DO ART. 383 DO CPP – PRISÃO PROCESSUAL – EXCESSO DE PRAZO 
EM SUA DURAÇÃO – PACIENTES PRESOS, CAUTELARMENTE, HÁ MAIS DE 4 (QUATRO) ANOS – INADMISSIBILIDADE – 
DESRESPEITO AO POSTULADO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (CF, ART. 1º, III) – TRANSGRESSÃO À 
GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5º, LIV) – OFENSA AO DIREITO DO RÉU A JULGAMENTO SEM DILAÇÕES 
INDEVIDAS (CF, ART. 5º, LXXVIII) – ‘HABEAS CORPUS’ DEFERIDO. 
....................................................................................................... 
 
O EXCESSO DE PRAZO NA DURAÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR, MESMO TRATANDO-SE DE DELITO HEDIONDO (OU A 
ESTE EQUIPARADO), IMPÕE, EM OBSÉQUIO AOS PRINCÍPIOS CONSAGRADOS NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, A 
IMEDIATA CONCESSÃO DE LIBERDADE AO INDICIADO OU AO RÉU. 
 
– Nada justifica a permanência de uma pessoa na prisão, sem culpa formada, quando configurado excesso irrazoável no tempo de sua 
segregação cautelar (RTJ 137/287 – RTJ 157/633 – RTJ 180/262-264 – RTJ 187/933-934 – RTJ 195/212-213), considerada a excepcionalidade 
de que se reveste, em nosso sistema jurídico, a prisão meramente processual do indiciado ou do réu, mesmo que se trate de crime hediondo 
ou de delito a este equiparado. 
 
– O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário – não derivando, portanto, de qualquer fato 
procrastinatório causalmente atribuível ao réu –, traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de tornar 
evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio 
sem dilações indevidas (CF, art. 5º, LXXVIII) e comtodas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional, inclusive a de não 
sofrer o arbítrio da coerção estatal representado pela privação cautelar da liberdade por tempo irrazoável ou superior àquele estabelecido 
em lei. 
 
– A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade 
da pessoa humana, que representa – considerada a centralidade desse princípio essencial (CF, art. 1º, III) – significativo vetor 
interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo 
expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito 
constitucional positivo (RTJ 195/212-213). Constituição Federal (Art. 5º, incisos LIV e LXXVIII). EC nº 45/2004. Convenção Americana sobre 
Direitos Humanos (Art. 7º, ns. 5 e 6). Doutrina. Jurisprudência. 
 
– A prisão cautelar – qualquer que seja a modalidade que ostente no ordenamento positivo brasileiro (prisão em flagrante, prisão 
temporária, prisão preventiva, prisão decorrente de sentença de pronúncia ou prisão motivada por condenação penal recorrível) – não pode 
transmudar-se, mediante subversão dos fins que a autorizam, em meio de inconstitucional antecipação executória da própria sanção penal, 
pois tal instrumento de tutela cautelar penal somente se legitima, se se comprovar, com apoio em base empírica idônea, a real necessidade da 
adoção, pelo Estado, dessa extraordinária medida de constrição do ‘status libertatis’ do indiciado ou do réu. Precedentes.” 
(RTJ 201/286-288, Rel. Min. CELSO DE MELLO) 
 
“O encerramento da instrução criminal supera o excesso de prazo para a prisão processual que antes dele se tenha verificado, mas não 
elide o que acaso se caracterize pelo posterior e injustificado retardamento do término do processo.” 
(RHC 71.954/PA, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei) 
 
“Prisão por pronúncia: duração que, embora não delimitada em lei, sujeita-se ao limite da razoabilidade (…).” 
(HC 83.977/RJ, Red. p/ o acórdão Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei) 
 
“AÇÃO PENAL. Prisão preventiva. Decretação em sentença de pronúncia. Excesso de prazo. Caracterização. Custódia que perdura 
por mais de quatro (4) anos e quatro (4) meses. Instrução processual ainda não encerrada. Demora não imputável à defesa. Dilação não 
razoável. Constrangimento ilegal caracterizado. ‘HC’ concedido. Aplicação do art. 5º, LXXVIII, da CF. Precedentes. A duração prolongada, 
abusiva e irrazoável da prisão cautelar do réu, sem julgamento da causa, ofende o postulado da dignidade da pessoa humana e, como tal, 
consubstancia constrangimento ilegal, ainda que se trate da imputação de crime grave.” 
(HC 87.676/ES, Rel. Min. CEZAR PELUSO – grifei) 
 
“‘Habeas Corpus’. 1. Pronúncia. Homicídio duplamente qualificado. 2. Alegações de falta de fundamentação do decreto de prisão 
preventiva e excesso de prazo. 3. Prisão preventiva adequadamente fundamentada na garantia da ordem pública e da aplicação da lei penal, 
nos termos do art. 312 do CPP. 4. É considerável o transcurso de mais de 3 anos desde a decretação da prisão preventiva e mais de 2 anos da 
sentença de pronúncia sem julgamento pelo Tribunal do Júri. 5. Ausência de elementos indicativos de que a defesa contribuiu, de qualquer 
maneira, para a demora processual. 6. A perpetuação temporal de indefinição jurídica quanto à liberdade de locomoção do paciente afeta a 
própria garantia constitucional da proteção judicial digna, legítima, eficaz e célere (CF, art. 1º, III c/c art. 5º, incisos LIV, LV e LXXVIII). 
Precedentes. 7. Situação de constrangimento ilegal apta a ensejar o deferimento da ordem. 8. Ordem deferida para revogar a prisão decretada 
em desfavor do ora paciente, determinando-se a expedição de alvará de soltura, se por outra razão não estiver preso.” 
(HC 92.604/SP, Rel. Min. GILMAR MENDES – grifei) 
 
 
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É por essa razão que o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o HC 80.379/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, em que o paciente se 
encontrava cautelarmente preso havia 02 (dois) anos e 03 (três) meses (bem menos, portanto, que a ora paciente, que se acha recolhida ao sistema 
prisional há mais de quatro anos), proferiu decisão consubstanciada em acórdão, assim ementado, cujo teor reflete a diretriz jurisprudencial 
prevalecente nesta Corte em torno da legitimidade do controle jurisdicional sobre o tempo de duração das prisões cautelares: 
 
 
“O JULGAMENTO SEM DILAÇÕES INDEVIDAS CONSTITUI PROJEÇÃO DO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. 
 
– O direito ao julgamento sem dilações indevidas qualifica-se como prerrogativa fundamental que decorre da garantia 
constitucional do ‘due process of law’. 
 
O réu – especialmente aquele que se acha sujeito a medidas cautelares de privação da sua liberdade – tem o direito público 
subjetivo de ser julgado, pelo Poder Público, dentro de prazo razoável, sem demora excessiva nem dilações indevidas. Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos (Art. 7º, ns. 5 e 6). Doutrina. Jurisprudência. 
 
– O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário – não derivando, portanto, de qualquer fato 
procrastinatório causalmente atribuível ao réu –, traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de 
tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à 
resolução do litígio sem dilações indevidas e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional. 
 
O EXCESSO DE PRAZO, NOS CRIMES HEDIONDOS, IMPÕE O RELAXAMENTO DA PRISÃO CAUTELAR. 
 
– Impõe-se o relaxamento da prisão cautelar, mesmo que se trate de procedimento instaurado pela suposta prática de crime 
hediondo, desde que se registre situação configuradora de excesso de prazo não imputável ao indiciado/acusado. A natureza da infração 
penal não pode restringir a aplicabilidade e a força normativa da regra inscrita no art. 5º, LXV, da Constituição da República, que 
dispõe, em caráter imperativo, que a prisão ilegal ‘será imediatamente relaxada’ pela autoridade judiciária. Precedentes.” 
(RTJ 187/933-934, Rel. Min. CELSO DE MELLO) 
 
Nada pode justificar a permanência de uma pessoa na prisão, sem culpa formada, quando configurado excesso irrazoável no tempo de 
segregação cautelar do acusado, considerada a excepcionalidade da prisão processual, mesmo que se trate de crime hediondo (RTJ 137/287 – RTJ 
157/633 – RTJ 180/262-264, v.g.). 
É que a prisão de qualquer pessoa, especialmente quando se tratar de medida de índole meramente processual, por revestir-se de caráter 
excepcional, não pode nem deve perdurar, sem justa razão, por período excessivo, sob pena de consagrar-se inaceitável prática abusiva de arbítrio 
estatal, em tudo incompatível com o modelo constitucional do Estado Democrático de Direito. 
Mostram-se extremamente valiosas, a propósito do tema ora em análise, as observações feitas, em preciosa obra monográfica (“Prisão 
Cautelar, Medidas Alternativas e Direitos Fundamentais”, p. 463/465 e 467, item n. 3.1, 2014, Forense), por ODONE SANGUINÉ, eminente 
Desembargador aposentado, hoje Advogado e Professor associado da Faculdade de Direito da UFRGS: 
 
“A prisão cautelar é uma medida provisória, pois se destina a garantir a ordem jurídica até que outras medidas (desenvolvimento 
regular do processo e a execução da sentença) possam ser tomadas. A sua duração, em princípio, encontra-se em função da duração do 
processo penal principal, cujo objeto tende a assegurar. A limitação temporal máxima da prisão cautelar tem como fundamento sua natureza 
de medida cautelar instrumental e excepcional em virtude da presunção de inocência, doprincípio de proporcionalidade e do Estado de Direito 
e atua como um reforço efetivo para todas aquelas garantias concernentes à liberdade física da pessoa humana, de modo que implicará a 
necessidade de que se extinga quando terminar o processo principal, com ou sem sentença condenatória transitada em julgado, sem a qual não 
cabe a execução da pena. Como a meta da agilização dos processos principais não se cumpre na praxe judicial, é necessário fixar um prazo 
máximo para evitar que o imputado seja privado de liberdade por um tempo excessivo por causa de dilações indevidas no curso do processo 
penal. A existência de um limite temporal à prisão cautelar age tanto como um impulso à acusação para agir rapidamente no julgamento 
quanto uma proteção ao acusado no sentido de que deve ser minimizada qualquer dilação desnecessária. 
 
O direito fundamental de ser julgado em um prazo razoável ou de ser colocado em liberdade está previsto em diversos Convênios 
Internacionais: art. 5º, 3 da Convenção Europeia de Direitos Humanos, de 1950; art. 9.1 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, 
de 1966, em vigor no plano interno desde 1992, e art. 7.5 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969. 
 
A Recomendação Rec (2006) n. 13, adotada em 27.09.2006, pelo Comitê de Ministros do Conselho da Europa, estabelece que ‘é 
necessário sempre dar prioridade aos casos envolvendo uma pessoa que tenha sido colocada em prisão provisória' (item 24.2). Ademais, ‘em 
nenhum caso, a prisão provisória deve violar o direito de uma pessoa detida de ser julgada em um prazo razoável’ (item n. 22.3). 
 
A jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos considera que ‘o art. 7.5 da Convenção garante o direito de toda 
pessoa em prisão preventiva a ser julgada dentro de um prazo razoável ou ser colocada em liberdade, sem prejuízo de que continue o processo. 
Esta norma impõe limites temporais à duração da prisão preventiva e, em consequência, às faculdades do Estado para assegurar os fins do 
processo mediante esta medida cautelar’. Para a Corte Interamericana, ‘quando o prazo de prisão preventiva ultrapassa o razoável, o Estado 
poderá limitar a liberdade do imputado com outras medidas menos lesivas que assegurem seu comparecimento ao julgamento, distintas da 
privação da liberdade. Este direito do indivíduo traz consigo, por sua vez, uma obrigação judicial de tramitar com maior diligência e presteza 
os processos penais nos quais o imputado se encontre privado da liberdade. Do princípio de presunção de inocência reconhecido no artigo 8.2 
da Convenção, deriva a obrigação estatal de não restringir a liberdade do detido mais além dos limites estritamente necessários para assegurar 
que não impedirá o desenvolvimento eficiente das investigações e que não elidirá a ação da justiça. A prisão preventiva é uma medida cautelar, 
não punitiva. Constitui, ademais, a medida mais severa que se pode impor ao imputado. Por isso, se deve aplicar excepcionalmente. A regra 
deve ser a liberdade do processado enquanto se resolve acerca de sua responsabilidade penal. 
 
A jurisprudência do Tribunal Constitucional Espanhol considera que a verdadeira razão para a exigência de um prazo máximo para 
a prisão cautelar é a de oferecer uma garantia de segurança jurídica ao atingido pela medida cautelar e contribuir a evitar dilações indevidas 
(…). 
…................................................................................................... 
 
A razoável duração do processo penal constitui um princípio que por natureza tende a infringir a tradicional dialética dicotômica entre 
garantia e eficiência. Embora intrinsecamente ligado à finalidade de economia processual, representa uma das garantias qualificadas do 
‘devido processo legal’, traduzindo-se, no âmbito penal, na exigência de evitar que uma pessoa submetida a uma acusação permaneça um 
tempo demasiado na incerteza da sua sorte e, contemporaneamente, na consagração de um princípio geral de boa administração da justiça, 
com o qual se visa garantir o correto exercício dos direitos fundamentais do acusado. 
 
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…................................................................................................... 
 
(…) A exigência de controle do juiz sobre o tempo de prisão constitui providência que dá efetiva vigência ao princípio constitucional 
da duração razoável do processo (art. 5º, inciso LXXVIII) (…).” (grifei) 
 
 
É preciso reconhecer, portanto, que a duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar de alguém, como sucede na espécie, 
ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade da pessoa humana, que representa – considerada a centralidade desse princípio essencial (CF, 
art. 1º, III) – significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso 
País e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo 
sistema de direito constitucional positivo. 
Ou, em outras palavras, cumpre enfatizar que o excesso de prazo na duração irrazoável da prisão meramente processual de qualquer pessoa, 
notadamente quando não submetida a julgamento por efeito de obstáculo criado pelo próprio Estado, revela-se conflitante com esse paradigma 
ético-jurídico conformador da própria organização institucional do Estado brasileiro. 
Cabe referir, ainda, por relevante, que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos – tendo presente o estado de tensão dialética que 
existe entre a pretensão punitiva do Poder Público, de um lado, e a aspiração de liberdade inerente às pessoas, de outro – prescreve, em seu Art. 7º, n. 
5, que “Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções 
judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade (…)” (grifei). 
Na realidade, o Pacto de São José da Costa Rica constitui instrumento normativo destinado a desempenhar um papel de extremo relevo no 
âmbito do sistema interamericano de proteção aos direitos básicos da pessoa humana, qualificando-se, sob tal perspectiva, como peça complementar 
e decisiva no processo de tutela das liberdades públicas fundamentais. 
O réu – especialmente aquele que se acha sujeito a medidas cautelares de privação de sua liberdade – tem o direito público subjetivo de ser 
julgado, pelo Poder Público, dentro de um prazo razoável, sob pena de caracterizar-se situação de injusto constrangimento ao seu “status libertatis”, 
como já o reconheceu esta Suprema Corte ao deferir o HC 84.254/PI, Rel. Min. CELSO DE MELLO, em julgamento no qual a colenda Segunda 
Turma, por votação unânime, concedeu liberdade ao paciente que se encontrava submetido à prisão cautelar havia 04 (quatro) anos, 01 (um) mês e 
04 (quatro) dias, sem julgamento perante órgão judiciário competente, entendimento esse reiterado também pela Egrégia Segunda Turma do 
Tribunal, quando da concessão do HC 83.773/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, em face de excesso de prazo da prisão cautelar do paciente, que 
se prolongava, abusivamente, naquele caso, por 04 (quatro) anos e 28 (vinte e oito) dias. 
Como bem acentua JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI (“Tempo e Processo – Uma análise empírica das repercussões do tempo na 
fenomenologia processual – civil e penal”, p. 87/88, item n. 3.5, 1998, RT), “o direito ao processo sem dilações indevidas” – além de qualificar-se 
como prerrogativa reconhecida por importantes Declarações de Direitos (Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 7º, ns. 5 e 6; 
Convenção Europeia para Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, art. 5, n. 3, v.g.) – representa expressiva consequência 
de ordem jurídica quedecorre da cláusula constitucional que a todos assegura a garantia do devido processo legal. 
Isso significa, portanto, que o excesso de prazo, analisado na perspectiva dos efeitos lesivos que dele emanam – notadamente daqueles que 
afetam, de maneira grave, a posição jurídica de quem se acha cautelarmente privado de sua liberdade –, traduz, na concreção de seu alcance, 
situação configuradora de injusta restrição à garantia constitucional do “due process of law”, pois evidencia, de um lado, a incapacidade de o Poder 
Público cumprir o seu dever de conferir celeridade aos procedimentos judiciais e representa, de outro, ofensa inequívoca ao “status libertatis” de 
quem sofre a persecução penal movida pelo Estado. 
A respeito desse específico aspecto da controvérsia, revela-se valiosa a observação de LUIZ FLÁVIO GOMES (“O Sistema 
Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos e o Direito Brasileiro”, p. 242/245, 2000, RT), cujo magistério – expendido a propósito 
da garantia que assiste a qualquer acusado de ser julgado em prazo razoável, sem demora excessiva ou sem dilações indevidas – expõe as seguintes 
considerações: 
 
“Nossa Constituição Federal expressamente não prevê a garantia do encerramento do processo em prazo razoável, mas, como 
sabemos, contemplou não somente a previsão genérica do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV), senão também a regra de que os direitos e 
garantias nela expressamente contemplados não excluem outros decorrentes dos tratados internacionais (art. 5º, § 2º). 
....................................................................................................... 
 
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, por seu turno, enfatiza que ‘Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas 
garantias e dentro de um prazo razoável...’ (art. 8.1). No que diz respeito ao preso: ‘Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem 
demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um 
prazo razoável ou a ser posta em liberdade...’ (art. 7.5); ‘Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal 
competente, a fim de que este decida, sem demora...’ (art. 7.6). 
 
Em harmonia com esses textos internacionais, é bem verdade que o nosso Código de Processo Penal contém um conjunto de dispositivos 
(CPP, art. 799 a 801) que cuida da necessidade do cumprimento dos prazos, estabelecendo inclusive sanções em caso de violação. Porém o 
que mais sobressai em conformidade com a valoração doutrinária é sua total e absoluta ‘inocuidade’: os prazos não são, em geral, cumpridos 
e muito raramente aplica-se qualquer sanção. 
....................................................................................................... 
 
De um aspecto da garantia de ser julgado em prazo razoável, a jurisprudência brasileira, em geral, vem cuidando com certa atenção: 
trata-se do excesso de prazo no julgamento do réu preso. Há constrangimento ilegal (CPP, art. 648) quando alguém está preso por mais 
tempo do que determina a lei. Com base nesse preceito, o direito jurisprudencial criou a regra de que o julgamento do réu preso, em primeiro 
grau, tem que acontecer no prazo de 81 dias (que é a soma de todos os prazos processuais no procedimento ordinário; são outros os prazos 
nos procedimentos especiais). Havendo excesso, sem justificação, coloca-se o acusado em liberdade, sem prejuízo do prosseguimento do 
processo.” (grifei) 
 
 
Extremamente oportuno referir, ainda, neste ponto, o douto magistério do eminente e saudoso Professor ROGÉRIO LAURIA TUCCI 
(“Direitos e Garantias Individuais no Processo Penal Brasileiro”, p. 249/254, itens ns. 10.1 e 10.2, 2ª ed., 2004, RT), que oferece importante reflexão 
sobre o tema, cujo significado – por envolver o reconhecimento do direito a julgamento sem dilações indevidas – traduz uma das múltiplas projeções 
que emanam da garantia constitucional do devido processo legal: 
 
“Outra ‘garantia’ que se encarta no ‘devido processo penal’ é a referente ao desenrolamento da ‘persecutio criminis’ em ‘prazo 
razoável’. 
....................................................................................................... 
 
 
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Ora, nosso País é um dos signatários da ‘Convenção americana sobre direitos humanos’, assinada em San José, Costa Rica, no dia 
22.11.1969, e cujo art. 8.º, 1, tem a seguinte (também ora repetida) redação: ‘‘Toda pessoa tem direito de ser ouvida’ com as devidas garantias 
e ‘dentro de um prazo razoável’ por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por lei anterior, ‘na defesa de 
qualquer acusação penal contra ela formulada’ (…). 
 
Por via de consequência, dúvida não pode haver acerca da determinação (…) na Carta Magna brasileira em vigor, do término de 
qualquer procedimento, especialmente o relativo à persecução penal, em ‘prazo razoável’. 
 
Essa, aliás, é concepção que se universalizou, sobretudo a partir da ‘Convenção Europeia para salvaguarda dos direitos do homem e 
das liberdades fundamentais’, como anota JOSÉ ROGÉRIO CRUZ E TUCCI, asserindo que, desde a edição, em 04.11.1950, desse diploma 
legal supranacional, ‘‘o direito ao processo sem dilações indevidas’ passou a ser concebido como um direito subjetivo constitucional, de caráter 
autônomo, de todos os membros da coletividade (incluídas as pessoas jurídicas) à ‘tutela jurisdicional dentro de um prazo razoável’, decorrente 
da proibição do ‘non liquet’, vale dizer, do dever que têm os agentes do Poder Judiciário de julgar as causas com estrita observância das 
normas de direito positivo’. 
....................................................................................................... 
 
Afigura-se, com efeito, de todo inaceitável a delonga na finalização do processo de conhecimento (especialmente o de caráter 
condenatório), com a ultrapassagem do tempo necessário à consecução de sua finalidade, qual seja a de definição da relação jurídica 
estabelecida entre o ser humano, membro da comunidade, enredado na ‘persecutio criminis’, e o Estado: o imputado tem, realmente, direito 
ao pronto solucionamento do conflito de interesses de alta relevância social que os respectivos autos retratam, pelo órgão jurisdicional 
competente. 
....................................................................................................... 
 
Realmente, tendo-se na devida conta as graves conseqüências psicológicas (no plano subjetivo), sociais (no objetivo), processuais, e até 
mesmo pecuniárias, resultantes da persecução penal para o indivíduo nela envolvido, imperiosa torna-se a agilização do respectivo 
procedimento, a fim de que elas, tanto quanto possível, se minimizem, pela sua conclusão num ‘prazo razoável’.” (grifei) 
 
Essa percepção da matéria encontra pleno apoio na jurisprudência que o Supremo Tribunal Federal firmou no tema ora em exame, tanto que 
se registrou nesta Corte, em diversas decisões, a concessão de ordens de “habeas corpus” em situações nas quais o excesso de prazo – reconhecido 
em tais julgamentos – foi reputado abusivo por este Tribunal (RTJ 181/1064, Rel. Min. ILMAR GALVÃO). 
Tal entendimento também foi reiterado pelo Supremo Tribunal Federal – e a ordem de “habeas corpus”, da mesma forma, foi deferida – em 
hipóteses nas quais o excesso de prazo pertinente à prisão cautelar revelava-se substancialmente inferior ao que se registra na presente impetração: 
02 (dois) anos, 04 (quatro) meses e 08 (oito) dias (HC 84.662/BA, Rel. Min. EROS GRAU); 01 (um) ano, 05 (cinco) meses e 15 (quinze) dias (HC 
79.789/AM, Rel. Min. ILMAR GALVÃO); 01 (um) ano e 03 (três) meses (HC 84.907/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE); 01 (um) ano e 05 
(cinco) dias (HC 84.181/RJ, Rel. Min. MARCO AURÉLIO); 10(dez) meses e 21 (vinte e um) dias (HC 83.867/PB, Rel. Min. MARCO AURÉLIO); 
04 (quatro) meses e 10 (dias) (RTJ 118/484, Rel. Min. CARLOS MADEIRA). 
Impende rememorar, neste ponto, por oportuno, julgamento plenário do Supremo Tribunal Federal, proferido sob a égide do inciso LXXVIII 
do art. 5º da Constituição Federal (na redação dada pela EC nº 45/2004), em que esta Corte, examinando situação virtualmente idêntica à que ora se 
analisa na espécie, igualmente reconheceu inadmissível, porque abusivo, o excesso de prazo na duração da prisão cautelar do paciente, que, no precedente 
ora invocado (HC 85.237/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO), estava preso, ainda sem julgamento pelo Júri (embora já pronunciado), havia quase quatro 
(04) anos e meio, valendo referir, ante a sua extrema pertinência, o teor do ato decisório em questão, consubstanciado em acórdão assim ementado: 
 
“O EXCESSO DE PRAZO, MESMO TRATANDO-SE DE DELITO HEDIONDO (OU A ESTE EQUIPARADO), NÃO PODE SER 
TOLERADO, IMPONDO-SE AO PODER JUDICIÁRIO, EM OBSÉQUIO AOS PRINCÍPIOS CONSAGRADOS NA CONSTITUIÇÃO DA 
REPÚBLICA, O IMEDIATO RELAXAMENTO DA PRISÃO CAUTELAR DO INDICIADO OU DO RÉU. 
 
 
– Nada pode justificar a permanência de uma pessoa na prisão, sem culpa formada, quando configurado excesso irrazoável no 
tempo de sua segregação cautelar (RTJ 137/287 – RTJ 157/633 – RTJ 180/262-264 – RTJ 187/933-934), considerada a 
excepcionalidade de que se reveste, em nosso sistema jurídico, a prisão meramente processual do indiciado ou do réu, mesmo que se 
trate de crime hediondo ou de delito a este equiparado. 
 
– O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário – não derivando, portanto, de qualquer fato 
procrastinatório causalmente atribuível ao réu –, traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de 
tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à 
resolução do litígio, sem dilações indevidas (CF, art. 5º, LXXVIII) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento 
constitucional, inclusive a de não sofrer o arbítrio da coerção estatal representado pela privação cautelar da liberdade por tempo 
irrazoável ou superior àquele estabelecido em lei. 
 
– A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade 
da pessoa humana, que representa – considerada a centralidade desse princípio essencial (CF, art. 1º, III) – significativo vetor 
interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de 
modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de 
direito constitucional positivo. Constituição Federal (Art. 5º, incisos LIV e LXXVIII). EC 45/2004. Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos (Art. 7º, ns. 5 e 6). Doutrina. Jurisprudência. 
 
– O indiciado ou o réu, quando configurado excesso irrazoável na duração de sua prisão cautelar, não podem permanecer expostos a 
tal situação de evidente abusividade, ainda que se cuide de pessoas acusadas da suposta prática de crime hediondo (Súmula 697/STF), sob 
pena de o instrumento processual da tutela cautelar penal transmudar-se, mediante subversão dos fins que o legitimam, em inaceitável (e 
inconstitucional) meio de antecipação executória da própria sanção penal. Precedentes.” 
(RTJ 195/212-213, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno) 
 
 
Cabe também assinalar que o Supremo Tribunal Federal, revelando extrema sensibilidade a propósito de situações anômalas derivadas da 
superação abusiva e irrazoável do prazo de duração de prisões meramente cautelares, tem conhecido do pedido de “habeas corpus”, até mesmo 
quando não examinada essa específica questão pelo Tribunal de jurisdição inferior, como resulta claro das decisões a seguir mencionadas: 
 
“RECURSO EM ‘HABEAS CORPUS’. LIBERDADE PROVISÓRIA. EXCESSO DE PRAZO. CONHECIMENTO DE OFÍCIO DA 
MATÉRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. EXTENSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA. 
 
 
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O Tribunal tem admitido conhecer da questão do excesso de prazo quando esta se mostra gritante, mesmo que o tribunal recorrido não 
a tenha examinado. 
....................................................................................................... 
 
Recurso provido em parte. ‘Habeas corpus’ concedido de ofício.” 
(RHC 83.177/PI, Rel. Min. NELSON JOBIM – grifei) 
 
“– ‘Habeas corpus’. Excesso de prazo para o encerramento da instrução criminal. 
 
– ‘Habeas corpus’ que não se conhece por não ser caso de pedido originário a esta Corte, mas que se concede, ‘ex officio’, por 
gritante excesso de prazo.” 
 
(HC 59.629/PA, Rel. Min. MOREIRA ALVES – grifei) 
 
Todos os aspectos ora ressaltados põem em evidência um fato que assume extremo relevo jurídico, consistente na circunstância de que se 
registra, na espécie, evidente excesso de prazo, eis que a prisão cautelar da ora paciente, sem causa legítima, excedeu período que ultrapassa quatro 
(04) anos de duração, sem que, até o presente momento, e por razões exclusivamente imputáveis ao Estado, essa mesma paciente tenha sido julgada 
por seu juiz natural: o Tribunal do Júri. 
Bem por isso é que a EC nº 45/2004 – que instituiu a “Reforma do Judiciário” – introduziu o inciso LXXVIII no art. 5º da Constituição da 
República, consagrando, de modo formal, uma expressiva garantia enunciada nos seguintes termos: 
 
“LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a 
celeridade de sua tramitação.” (grifei) 
 
Nem se diga, finalmente, que a circunstância de a acusação penal envolver a suposta prática de crime hediondo (como o delito de homicídio 
qualificado, p. ex.) impediria a ré de invocar, em seu favor, a prerrogativa da liberdade, especialmente naquelas situações em que o tempo de prisão 
cautelar excede, de maneira abusiva, como no caso, os limites razoáveis de duração. 
É preciso enfatizar, uma vez configurado excesso irrazoável na duração da prisão cautelar do réu, que este não pode permanecer exposto 
a uma situação de evidente abusividade, ainda que se cuide de pessoa acusada da suposta prática de crime hediondo (Súmula 697/STF), sob pena de 
o instrumento processual da tutela cautelar penal transmudar-se, mediante subversão dos fins que o legitimam, em inaceitável (e inconstitucional) 
meio de antecipação executória da própria sanção penal: 
 
“A gravidade do crime imputado, um dos malsinados ‘crimes hediondos’ (Lei 8.072/90), não basta à justificação da prisão preventiva, 
que tem natureza cautelar, no interesse dos interesses do desenvolvimento e do resultado do processo, e só se legitima quando a tanto se 
mostrar necessária: não serve à prisão preventiva, nem a Constituição permitiria que para isso fosse utilizada, a punir sem processo, em 
atenção à gravidade do crime imputado, do qual, entretanto, ‘ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória’ (CF, art. 5º, LVII).” 
(RTJ 137/287, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE – grifei) 
 
“Caracterizado o excesso de prazo na custódia cautelar do paciente, mesmo em face da duplicação, instituída pelo art. 10 da Lei nº 
8.072/90, dos prazos processuais previstos no art. 35 da Lei nº 6.368/76, é de deferir-se o ‘habeas corpus’ para que seja relaxada a prisão, já 
que a vedação de liberdade provisória para os crimes hediondos não pode restringir o alcance do art. 5º, LXV, da Carta da República, que 
garante o relaxamento da prisão eivada de ilegalidade.” 
(RTJ 157/633, Rel. Min. ILMAR GALVÃO – grifei) 
 
“Prisão preventiva: à falta da demonstração em concreto do ‘periculum

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