Buscar

info 603 stj1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
Informativo 603-STJ 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONCURSOS PÚBLICOS 
 O grave erro no enunciado – reconhecido pela própria banca examinadora – constitui flagrante ilegalidade apta a 
ensejar a nulidade da questão. 
 O espelho de prova, com a motivação da avaliação do candidato, deve ser apresentado antes ou durante a 
divulgação do resultado, sob pena de nulidade. 
 
CONSELHOS PROFISSIONAIS 
 Suspensão ou cancelamento do registro do profissional que atrasar anuidades. 
 
DIREITO CIVIL 
CONTRATO DE SEGURO 
 A criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos Autorais. 
 
UNIÃO ESTÁVEL 
 Imóvel doado por um companheiro para o outro deve ser excluído do montante partilhável, nos termos do art. 1.659, 
I, do CC. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO 
 Produto de periculosidade inerente e ausência de responsabilidade civil. 
 
RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO 
 O fornecimento de bem durável ao seu destinatário final põe termo à eventual cadeia de seus fornecedores originais. 
 
CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS 
 Prazo prescricional em caso de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
CÉDULA DE PRODUTO RURAL 
 Juros moratórios e cédula de produto rural financeira. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
AÇÃO RESCISÓRIA 
 Figura do revisor na ação rescisória. 
 
COBRANÇA DE ANUIDADES 
 Suspensão ou cancelamento do registro do profissional que atrasar anuidades. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
COMPETÊNCIA 
 Competência para julgar o delito do art. 241-A do ECA praticado por meio de Whatsapp ou chat do Facebook: Justiça 
Estadual. 
 
PROVAS 
 Obrigar o suspeito a colocar seu celular em “viva voz” no momento de uma ligação é considerado prova ilícita, assim 
como as que derivarem dela. 
 
TRIBUNAL DO JÚRI 
 O testemunho por ouvir dizer, produzido somente na fase inquisitorial, não serve como fundamento para pronúncia. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
REFIS 
 Homologação da opção pelo REFIS e prestação de garantia ou arrolamento. 
 
DIREITO PREVIDENCIÁRIO 
SALÁRIO DE BENEFÍCIO 
 Cálculo do salário de benefício e décimo terceiro salário. 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONCURSOS PÚBLICOS 
O grave erro no enunciado – reconhecido pela própria banca examinadora – constitui flagrante 
ilegalidade apta a ensejar a nulidade da questão 
 
Importante!!! 
O STF, em recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida, firmou a seguinte tese: 
"Não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora 
para avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas" (RE 632.853). 
Do voto condutor do mencionado acórdão, percebe-se que a tese nele constante buscou 
esclarecer que o Poder Judiciário não pode avaliar as respostas dadas pelo candidato e as 
notas a eles atribuídas se for necessário apreciar o conteúdo das questões ou os critérios 
utilizados na correção, exceto se flagrante a ilegalidade. 
Ao analisar uma prova para o cargo de assessor do MPRS, o STJ decidiu anular uma das 
questões discursivas pelo fato de que ela possuía um grave erro no enunciado, o que 
prejudicou o candidato na elaboração de sua resposta. 
No enunciado da questão constou a expressão “permissão de saída”, mas na verdade o 
examinador queria saber sobre a “saída temporária”, tanto que a resposta padrão do gabarito 
envolvia este segundo instituto. Houve, portanto, uma troca dos conceitos. 
A própria comissão examinadora reconheceu que houve o erro no enunciado, mas afirmou 
que isso não atrapalhou os candidatos e, por isso, manteve as notas. 
O STJ, contudo, não concordou com isso e anulou a questão. Se a própria banca examinadora 
reconhece o erro na formulação da questão, não se pode fechar os olhos para tal constatação 
ao simplório argumento de que referido erro não influiria na análise do enunciado pelo 
candidato. 
Vale ressaltar que o STJ afirmou que esta anulação não contraria o que decidiu o STF no 
julgamento do RE 632.853 por duas razões: 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
1) o candidato não está buscando que o Poder Judiciário reexamine o conteúdo da questão ou 
o critério de correção para decidir se a resposta dada por ele está ou não correta. Em outras 
palavras, não se quer que recorrija a prova. O que o impetrante pretende é que seja 
reconhecido que o enunciado da questão apresenta um erro grave insuperável. 
2) o STF decidiu que, em regra, não é possível a anulação de questões de concurso, salvo se 
houver ilegalidade a permitir a atuação do Poder Judiciário. Em outras palavras, existe uma 
“exceção” à tese fixada no RE 632.853. E, no presente caso, estamos diante de uma flagrante 
ilegalidade da banca examinadora. 
STJ. 2ª Turma. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/4/2017 (Info 603). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
João participou de concurso para o Ministério Público e foi aprovado na 1ª fase. 
Uma das questões da prova discursiva perguntava: “quais são as consequências caso um apenado fuja 
durante uma ‘permissão de saída’?” 
João respondeu a questão com base no instituto da “permissão de saída”, que é previsto no art. 120 da LEP. 
Ocorre que, na verdade, o examinador se enganou no momento de redigir o enunciado da questão. Em 
vez de “permissão de saída”, ele queria dizer “saída temporária”, que é um outro instituto, previsto no 
art. 122 da LEP. 
Assim, quando João recebeu o resultado da prova se assustou porque errou a questão e, no gabarito 
padrão divulgado pela banca, exigia-se que a resposta fosse dada com base na análise do instituto da 
“saída temporária”. 
João interpôs recurso administrativo, tendo, contudo, sido negado o pedido do candidato. Na resposta, a 
banca reconheceu que houve erro na formulação da questão por conta da troca das expressões. No 
entanto, afirmou que isso não atrapalhava o recorrente no momento da resposta, considerando que a 
“questão tinha como objetivo que o candidato expressasse as implicações decorrentes da fuga de um 
apenado durante licença concedida, prescindindo-se de qualquer análise dos institutos referidos”. 
Desta forma, a banca entendeu que não havia erro substancial que pudesse alterar a análise da questão, 
devendo, portanto, a pontuação dada ser mantida. 
 
João ingressou com mandado de segurança afirmando que o ato praticado foi ilegal e pedindo a 
anulação da questão com a atribuição para si dos respectivos pontos. O pedido foi acolhido pelo STJ? 
SIM. 
 
Tese fixada pelo STF no RE 632853 
Inicialmente, o STJ relembrou que o STF já analisou a controvérsia sobre a possibilidade ou não de o Poder 
Judiciário realizar o controle jurisdicional sobre o ato administrativo que profere avaliação de questões 
em concurso público, tendo sido fixada a seguinte tese: 
Não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora para avaliar 
respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. 
Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo de compatibilidade do conteúdo das questões do 
concurso com o previsto no edital do certame. 
STF. Plenário. RE 632853, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23/04/2015 (repercussão geral) (Info 782) 
 
O STJ afirmou:eu não desconheço a existência dessa tese fixada pelo STF, porém a situação concreta de 
João é diferente daquilo que o Supremo decidiu. Isso porque o candidato não está buscando que o Poder 
Judiciário reexamine o conteúdo da questão ou o critério de correção para decidir se a resposta dada por 
ele está ou não correta. Em outras palavras, não se quer que recorrija a prova. Se esse fosse o pedido, isso 
seria claramente vedado, com base na tese acima explicada, que proíbe que o Poder Judiciário substitua 
a banca nos critérios de correção por ela adotados. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
O que o impetrante pretende é que seja reconhecido que o enunciado da questão apresenta um erro 
grave insuperável, qual seja, a troca das palavras "saída temporária" por "permissão de saída", fato 
reconhecido pela própria banca. 
Dessa forma, tem-se, no presente caso, um distinguishing (distinção) em relação ao precedente do STF. 
Assim, é possível reconhecer circunstâncias particulares do caso concreto e que permitem fazer uma 
diferenciação com o objetivo de não subordiná-lo ao precedente do STF. 
 
Além disso, o STJ tem afirmado que essa tese do STF no RE 632853 é a regra geral, mas que existe uma 
exceção: se houver flagrante ilegalidade, o Poder Judiciário poderia rever questões de concurso. Veja um 
precedente no qual o STJ afirmou a existência dessa “exceção”: 
(...) II. É firme a compreensão do STJ no sentido de que "o reexame dos critérios usados por banca 
examinadora na formulação de questões, correção e atribuição de notas em provas de concursos públicos 
é vedado, como regra, ao Poder Judiciário, que deve se limitar à análise da legalidade e da observância 
às regras contidas no respectivo edital" (STJ, AgRg no AREsp 266.582/DF, Rel. Ministro HERMAN 
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 07/03/2013). Na mesma linha, recentemente - em 23/04/2015 -, o 
Plenário do STF, apreciando o Tema 485 da Repercussão Geral, nos termos do voto do Relator, Ministro 
GILMAR MENDES, conheceu e deu provimento ao RE 632.853/CE, para fixar a tese de que "não compete 
ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca examinadora para avaliar respostas 
dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas. Precedentes. 
Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo de compatibilidade do conteúdo das questões do 
concurso com o previsto no edital do certame" (DJe de 29/06/2015). (...) 
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 46.998/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 01/09/2015. 
 
Dever da banca de formular questões com enunciados corretos 
Como já dito, a própria banca examinadora reconheceu o erro na formulação da questão. Não se pode 
fechar os olhos para tal constatação ao simplório argumento de que o referido erro não influiria na análise 
do enunciado pelo candidato. 
É dever das bancas examinadoras zelarem pela correta formulação das questões, sob pena de agir em 
desconformidade com a lei e o edital, comprometendo, sem sombra de dúvidas, o empenho realizado 
pelos candidatos durante quase toda uma vida. 
Nas exatas e sábias palavras do Min. Og Fernandes: 
“Quantas pessoas não levam dois, três, quatro, dez anos ou mais se preparando para concursos públicos, 
para depois se depararem com questões mal formuladas e, pior, com desculpas muitas das vezes 
infundadas, de que tal erro na formulação não influiria na solução da questão, como vejo acontecer na 
presente hipótese. 
Assim, tenho que o caso é de flagrante ilegalidade a admitir a declaração de nulidade da questão.” 
Diante disso, o STJ declarou nula a referida questão. 
 
Em suma: 
O grave erro no enunciado – reconhecido pela própria banca examinadora – constitui flagrante 
ilegalidade apta a ensejar a nulidade da questão. 
STJ. 2ª Turma. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/4/2017 (Info 603). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
CONCURSOS PÚBLICOS 
O espelho de prova, com a motivação da avaliação do candidato, deve ser apresentado antes ou 
durante a divulgação do resultado, sob pena de nulidade 
 
Importante!!! 
A banca examinadora do certame, por ocasião da divulgação dos resultados das provas, deve 
demonstrar, de forma clara e transparente, que os critérios de avaliação previstos no edital 
foram devidamente considerados, sob pena de nulidade da avaliação. 
As informações constantes dos espelhos de provas subjetivas representam a motivação do ato 
administrativo, consistente na atribuição de nota ao candidato. 
Essa motivação deve ser apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato 
administrativo, pois caso se permita a motivação posterior, isso pode dar ensejo para que se 
fabriquem, forjem ou criem motivações. 
Não é legítima a conduta da banca examinadora de divulgar o espelho de provas com a 
motivação das notas após ser contestada na via judicial ou administrativa. 
Destaque-se também que não há fundamentação válida se a banca apenas divulga critérios 
muito subjetivos e a nota global dos candidatos, desacompanhados do padrão de resposta e 
das notas atribuídas para cada um dos critérios adotados. 
STJ. 2ª Turma. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/4/2017 (Info 603). 
 
No caso das provas discursiva e oral, etapas em que há uma maior discricionariedade por parte dos 
examinadores, mesmo assim é necessário que sejam divulgados os critérios de avaliação dos 
candidatos? 
SIM. Realmente nas provas dissertativa e oral existe uma margem maior para que o avaliador se valha de 
suas impressões. Justamente por essa razão, tais etapas devem adotar critérios de avaliação e correção 
os mais objetivos possíveis, a fim de evitar violação ao princípio da impessoalidade. 
Dessa forma, o ideal é que as bancas examinadoras forneçam espelhos de correção que permitam ao 
candidato condições de identificar: 
a) o padrão de resposta esperado pela banca examinadora para cada questão; 
b) a pontuação válida para cada um dos critérios; 
c) a nota que lhe foi atribuída em cada um deles; e, por fim, 
d) a nota global obtida pelo candidato. 
 
Essas exigências são necessárias para possibilitar o exercício do devido processo administrativo recursal, 
consagrado no art. 5º, LV, da CF/88: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”. 
 
Motivação do ato administrativo 
Vale ressaltar que tais informações que deverão constar nos espelhos das provas subjetivas como forma 
de atribuição de nota ao candidato representam a “motivação do ato administrativo”. Essa motivação do 
ato administrativo é uma exigência expressa dos arts. 2º e 50, III e § 1º, da Lei nº 9.784/99, que trata do 
processo administrativo no âmbito federal. 
 
Motivação deve ser anterior ou concomitante à divulgação do resultado 
A motivação deve ser apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato administrativo. Isso 
porque entende-se que se fosse permitida a motivação posterior, isso poderia dar ensejo para que se 
fabricassem, forjassem ou criassem motivações para burlar eventual impugnação ao ato. Em outras 
palavras, se fosse permitida a motivação posterior, o Administrador mal intencionado poderia decidir do 
Rafael Verol
 Informativo 
comentadoInformativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
jeito que quisesse e, depois, quando questionado, apresentaria motivação apenas para refutar aquela 
impugnação. 
Não se deve, portanto, admitir como legítima a prática imotivada de um ato que, ao ser contestado na via 
judicial ou administrativa, venha o gestor "construir" algum motivo que dê ensejo à validade do ato 
administrativo. 
Por essa razão, repita-se: a motivação deve ocorrer, em regra, antes ou durante a prática do ato 
administrativo. Exceção: a jurisprudência entende que, no caso de remoção ex officio, a motivação pode 
ser apresentada mesmo após o ato ter sido praticado. Nesse sentido: STJ REsp 1.331.224/MG. 
 
Mesmo que o edital não preveja que a banca deve motivar a correção da prova, o candidato poderá 
exigir essa providência 
Alguns editais de concursos públicos não preveem os critérios de correção ou, às vezes, embora os 
prevejam, não estabelecem as notas ou a possibilidade de divulgação dos padrões de respostas que serão 
atribuídos a cada um desses critérios. 
Em tese, com suporte na máxima de que "o edital faz lei entre as partes", o candidato nada poderia fazer 
caso o resultado de sua avaliação fosse divulgado sem a indicação dos critérios ou das notas a eles 
correspondentes, ou, ainda, dos padrões de respostas esperados pela banca examinadora. 
Tal pensamento, no entanto, não merece prosperar, pois os editais de concursos públicos não estão acima 
da Constituição Federal ou das leis que preconizam os princípios da impessoalidade, do devido processo 
administrativo, da motivação, da razoabilidade e proporcionalidade. 
Assim, mesmo que o edital não preveja que a banca deve motivar a correção da prova, o candidato tem 
direito de exigir essa providência. 
 
Resumindo: 
A banca examinadora do certame, por ocasião da divulgação dos resultados das provas, deve 
demonstrar, de forma clara e transparente, que os critérios de avaliação previstos no edital foram 
devidamente considerados, sob pena de nulidade da avaliação. 
As informações constantes dos espelhos de provas subjetivas representam a motivação do ato 
administrativo, consistente na atribuição de nota ao candidato. 
Essa motivação deve ser apresentada anteriormente ou concomitante à prática do ato administrativo, 
pois caso se permita a motivação posterior, isso pode dar ensejo para que se fabriquem, forjem ou criem 
motivações. 
Não é legítima a conduta da banca examinadora de divulgar o espelho de provas com a motivação das 
notas após ser contestada na via judicial ou administrativa. 
Destaque-se também que não há fundamentação válida se a banca apenas divulga critérios muito 
subjetivos e a nota global dos candidatos, desacompanhados do padrão de resposta e das notas 
atribuídas para cada um dos critérios adotados. 
STJ. 2ª Turma. RMS 49.896-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/4/2017 (Info 603). 
 
 
 
CONSELHOS PROFISSIONAIS 
Suspensão ou cancelamento do registro do profissional que atrasar anuidades 
 
Segundo o art. 8º da Lei nº 12.514/2011, para que os Conselhos Profissionais ajuízem 
execução fiscal cobrando anuidades em atraso, é necessário que o total da quantia executada 
seja de, no mínimo, quatro vezes o valor da anuidade. 
Mesmo sem poder executar a dívida, o Conselho Profissional poderá adotar uma outra sanção 
contra o inadimplente: poderá suspender ou cancelar seu registro profissional. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
Assim, o fato de os conselhos não poderem executar dívidas inferiores a quatro vezes o valor 
cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, não impede que seja feita a 
suspensão ou o cancelamento do registro do profissional que deixar de efetuar o pagamento 
das anuidades. Isso está previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 12.514/2011. 
No caso específico dos Engenheiros e Arquitetos, o cancelamento do registro somente pode 
acontecer desde que o atraso seja de, no mínimo, duas anuidades consecutivas (art. 64 da Lei 
nº 5.194/66). 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.659.989-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/4/2017 (Info 603)./ 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
 
 
 
DIREITO CIVIL 
 
CONTRATO DE SEGURO 
A criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos Autorais 
 
O direito autoral não pode proteger as ideias em si, mas apenas as formas de expressá-las. Isso 
porque as ideias constituem patrimônio comum da humanidade. 
Assim, não há proteção autoral a ideia de fazer uma determinada espécie de contrato, por mais 
inovadora e original que seja. No máximo, o texto das cláusulas pode ser protegido. 
A Lei de Direitos Autorais não pode tolher a criatividade e a livre iniciativa, nem o avanço das 
relações comerciais e da ciência jurídica, que ficaria estagnada com o direito de exclusividade 
de certos tipos contratuais. 
Assim, a criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos Autorais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.627.606/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/05/2017 (Info 603). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
“Calma Seguros” é uma seguradora que desenvolveu um tipo de seguro inédito e específico, destinado a 
indenizar o segurado em caso de danos ambientais ocorridos durante o transporte de carga. 
Como já dito, não havia no mercado esse tipo de contrato de seguro, tendo sido idealizado pela “Calma”. 
Este tipo de seguro foi um sucesso e as demais seguradoras passaram a também oferecê-lo. 
A “Calma” não gostou e propôs uma ação de abstenção de uso cumulada com reparação por danos 
materiais contra as seguradoras que estavam oferecendo esse tipo de seguro. Segundo alegou a autora, 
houve violação dos direitos autorais quanto à criação desse seguro. 
 
A tese da “Calma” foi aceita pelo STJ? 
NÃO. 
A criação de nova espécie de seguro não possui a proteção da Lei de Direitos Autorais. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.627.606/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/05/2017 (Info 603). 
 
A Lei nº 9.610/98 trata sobre os direitos autorais. Em seu art. 7º esta Lei estabelece que “são obras 
intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer 
suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro”. 
 
Todavia, para não haver o engessamento do conhecimento, bem como o comprometimento da livre 
concorrência e da livre iniciativa, a própria Lei de Direitos Autorais restringe seu âmbito de atuação, 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
elencando diversas hipóteses em que não há proteção de exclusividade. Dentre aquilo que não pode ser 
objeto de proteção como direito autoral estão as “ideias”. Veja o que diz o art. 8º, I, da Lei: 
Art. 8º Não são objeto de proteção como direitos autorais de que trata esta Lei: 
I - as ideias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos matemáticos 
como tais; 
 
Assim, o direito autoral não pode proteger as ideias em si, visto que constituem patrimônio comum da 
humanidade. Vigora, no ordenamento jurídico, o princípio da liberdade das ideias, de forma que é proibido 
que haja direito de exclusividade sobre elas. 
 
Conclui-se, assim, que não há proteção autoral ao contrato, por mais inovador e original que seja; no 
máximo, o texto das cláusulas contido no pacto pode ser protegido, mas não a ideia em si do contrato. 
 
No caso concreto, as demais seguradoras não utilizaram indevidamenteos textos do contrato de seguro 
idealizado pela “Calma”. Elas utilizaram apenas a ideia de fazer um contrato com esse mesmo objeto. 
 
Admitir que a Lei de Direitos Autorais ponha métodos, estilos e técnicas (contratuais ou não) dentre os 
bens passíveis de proteção tolheria não só a criatividade e a livre iniciativa, mas também o avanço das 
relações comerciais e da ciência jurídica, a qual ficaria estagnada com o direito de exclusividade de certos 
tipos contratuais. 
 
Desse modo, é possível a coexistência de contratos de seguro com a mesma temática comercializados por 
corretoras e seguradoras distintas sem que haja violação de direitos autorais. 
 
 
 
UNIÃO ESTÁVEL 
Imóvel doado por um companheiro para o outro deve ser excluído 
do montante partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do CC 
 
O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união estável regida pelo estatuto 
da comunhão parcial, mas recebido individualmente por um dos companheiros, através de 
doação pura e simples realizada pelo outro, deve ser excluído do monte partilhável, nos 
termos do art. 1.659, I, do CC/2002: 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do 
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; 
Ex: João e Maria vivem em união estável. Durante este relacionamento, João comprou um 
apartamento. Embora adquirido pelo esforço comum do casal, na constância da união estável, 
o imóvel foi doado por João, de forma graciosa, à Maria. Isso significa que, no momento que for 
feita a dissolução da união estável, este bem não irá integrar o montante partilhável. João, 
quando doou o imóvel, o fez quanto à sua metade sobre o bem, que antes pertencia a ambos. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.171.488-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/4/2017 (Info 603). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria viviam em união estável. 
Durante este relacionamento, João comprou um apartamento e o doou a Maria. 
Alguns anos depois a união chegou ao fim e iniciou-se a discussão quanto a divisão dos bens. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
Se duas pessoas estão vivendo em união estável, a lei prevê regras para disciplinar o patrimônio desse casal? 
SIM. O Código Civil estabelece que, na união estável, as relações patrimoniais entre o casal obedecem às 
regras do regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725). Em outras palavras, é como se as pessoas que 
vivem em união estável estivessem casadas sob o regime da comunhão parcial de bens. 
 
Como funciona o regime da comunhão parcial? 
O regime da comunhão parcial é tratado pelos arts. 1.658 a 1.666 do CC. 
Nessa espécie de regime, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, 
com exceção dos casos previstos no Código Civil. 
Dito de outro modo, os bens adquiridos durante a união passam a ser de ambos os cônjuges, salvo em 
algumas situações que o Código Civil determina a incomunicabilidade. Veja o que diz a Lei: 
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na 
constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes. 
 
O art. 1.660 lista bens que, se adquiridos durante o casamento, pertencem ao casal: 
Art. 1.660. Entram na comunhão: 
I — os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de 
um dos cônjuges; 
II — os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho ou despesa anterior; 
III — os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges; 
IV — as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; 
V — os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na constância do 
casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão. 
 
O art. 1.659, por sua vez, elenca aquilo que é excluído da comunhão: 
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
I — os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do 
casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; 
II — os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-
rogação dos bens particulares; 
III — as obrigações anteriores ao casamento; 
IV — as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito do casal; 
V — os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
VI — os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; 
VII — as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes. 
 
Situação do apartamento 
João pediu para ter direito à metade do apartamento doado à Maria. Segundo alegou, o imóvel foi 
adquirido durante a união estável com o esforço comum, devendo, portanto, ser divido entre eles. 
 
A tese de João foi aceita pelo STJ? 
NÃO. O referido apartamento, embora adquirido pelo esforço comum do casal, na constância da união 
estável, foi doado por João, de forma graciosa, à Maria, de modo que essa doação, por força do disposto 
no art. 1.659, I, do CC, afasta o bem do monte partilhável. Quando João fez a doação, ele doou justamente 
a sua parte no imóvel, não tendo mais direito sobre ele. 
 
É possível a doação de um cônjuge para o outro? 
No regime da comunhão parcial de bens, é possível sim. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
É possível a doação de um cônjuge para o outro no caso de três regimes de bens: 
 regime da separação convencional de bens 
 regime da comunhão parcial (havendo patrimônio particular) ou 
 regime da participação final nos aquestos (quanto aos bens particulares). 
 
Em suma: 
O bem imóvel adquirido a título oneroso na constância da união estável regida pelo estatuto da 
comunhão parcial, mas recebido individualmente por um dos companheiros, através de doação pura e 
simples realizada pelo outro, deve ser excluído do monte partilhável, nos termos do art. 1.659, I, do 
CC/2002. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.171.488-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/4/2017 (Info 603). 
 
 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO 
Produto de periculosidade inerente e ausência de responsabilidade civil 
 
Importante!!! 
Para a responsabilização do fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado 
que os danos foram causados pelo medicamento. O defeito do produto deve apresentar-se, 
concretamente, como sendo o causador do dano experimentado pelo consumidor. 
Em se tratando de produto de periculosidade inerente (medicamento com contraindicações), 
cujos riscos são normais à sua natureza e previsíveis, eventual dano por ele causado ao 
consumidor não enseja a responsabilização do fornecedor. Isso porque, neste caso, não se 
pode dizer que o produto é defeituoso. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/4/2017 (Info 603). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João sofreu uma lesão no tornozelo jogando futebol. 
O médico receitou o anti-inflamatório “Vioxx”. 
Após um mês fazendo uso do remédio, foi constatado que ele adquiriu uma doença renal em virtude dos 
efeitos colaterais do medicamento. 
João acabou falecendo em virtude do problema. 
Diante disso, seus herdeiros ingressaram com ação de indenização contra o laboratório que produzia o 
remédio alegando que o medicamento foi a causa da insuficiência renal aguda que gerou a morte de João. 
 
O pedido dos autores foi acolhido pelo STJ? 
NÃO. 
 
Teoria do riscodo empreendimento 
No que tange à responsabilidade do fornecedor pelo chamado “acidente de consumo”, cumpre esclarecer 
que o Código de Defesa do Consumidor acolheu a chamada “teoria do risco do empreendimento” (ou risco 
da atividade), segundo a qual o fornecedor responde objetivamente (ou seja, independente da 
demonstração de culpa) por todos os danos causados ao consumidor pelo produto ou serviço que se 
revele defeituoso. Isso se justifica porque a atividade econômica é desenvolvida, precipuamente, em 
benefício do fornecedor, de modo que ele deve arcar com os riscos que decorrem dessa atividade. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
Apesar de ser objetiva, esta espécie de responsabilidade não é irrestrita, integral, na medida em que 
pressupõe o preenchimento de requisitos próprios. Além disso, existe a possibilidade de que ocorram 
excludentes de responsabilidade. 
Assim, a teoria do risco do empreendimento não se confunde com a teoria do risco integral. 
 
Fornecedor de produto perigoso 
O fornecedor de um produto que possui uma periculosidade inerente não responde objetivamente pelo 
simples fato de ter colocado o produto no mercado. Para que ele responda, é necessário que tenha violado 
o dever jurídico de segurança, o que se dá com a fabricação e a inserção no mercado de um produto 
defeituoso. 
Em outras palavras, não basta que o produto seja perigoso, é necessário que seja defeituoso. 
O próprio CDC reconhece que há determinados produtos que são naturalmente perigosos: 
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde 
ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de 
sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações 
necessárias e adequadas a seu respeito. 
 
Diz-se, neste caso, que são produtos com periculosidade inerente. 
Como se observa do art. 8º, os riscos normais e previsíveis, em decorrência da natureza ou da fruição do 
produto, são absolutamente admissíveis e o fato de um produto ser naturalmente perigoso não significa 
que ele seja defeituoso. 
 
Conforme explica a doutrina: 
“(...) Há produtos e serviços que têm o chamado risco inerente (...) assim entendido o risco 
intrinsecamente atado à própria natureza, qualidade da coisa ou modo de funcionamento, como uma faca 
afiada, medicamentos com contraindicações, agrotóxicos. Não é possível realizar determinados 
tratamentos médicos sem altos riscos, como a cirurgia em paciente idoso e de saúde fragilizada, ainda que 
o serviço seja prestado com toda a técnica e segurança. Embora se mostre capaz de causar danos, a 
periculosidade desses produtos e serviços é normal e conhecida - previsível em decorrência de sua própria 
natureza -, em consonância com a expectativa legítima do consumidor.” (CAVALIERI FILHO, Sérgio. 
Programa de Responsabilidade Civil. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 523) 
 
Medicamentos são produtos de periculosidade inerente 
Os medicamentos em geral podem ser qualificados como produtos de periculosidade inerente. Isso 
porque todos eles, sem distinção, guardam riscos à saúde dos consumidores, na medida em que causam 
efeitos colaterais, alguns com maior e outros com menor gravidade. 
 
Conceito de produto defeituoso 
A definição do que seja produto defeituoso pode ser encontrada no § 1º do art. 12 do CDC: 
Art. 12 (...) 
§ 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, 
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I - sua apresentação; 
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi colocado em circulação. 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
O defeito do produto pode ser: 
 Defeito de concepção técnica: erro no projeto, utilização de material inadequado ou de componente 
prejudicial à saúde ou à segurança do consumidor; 
 Defeito de fabricação: falha na produção; ou 
 Defeito de informação: prestação de informação insuficiente ou inadequada. 
 
Ainda que o medicamento tenha sido a causa da morte, só haverá responsabilidade se ficar comprovado 
que o produto era defeituoso 
Para a responsabilização do fornecedor por acidente do produto não basta ficar evidenciado que os danos 
foram causados pelo medicamento. É necessário que fique demonstrado que o produto era defeituoso. 
O “Vioxx”, assim como todo remédio anti-inflamatório, possui como reação adversa a possibilidade de o 
paciente vir a desenvolver doenças renais graves. 
Essa possibilidade vinha, inclusive, expressamente prevista na bula do medicamento. 
Trata-se, portanto, de risco inerente a esse tipo de medicamento, cuja previsão foi devidamente 
informada ao consumidor, por meio da bula que o acompanha. 
Em se tratando de produto de periculosidade inerente, cujos riscos são normais à sua natureza 
(medicamento com contra-indicações) e previsíveis (na medida em que o consumidor é deles 
expressamente advertido), eventual dano por ele causado ao consumidor não enseja a 
responsabilização do fornecedor. Isso porque não se trata de produto defeituoso. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.599.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 4/4/2017 (Info 603). 
 
 
 
RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO 
O fornecimento de bem durável ao seu destinatário final 
põe termo à eventual cadeia de seus fornecedores originais 
 
O fornecimento de bem durável ao seu destinatário final, por removê-lo do mercado de 
consumo, põe termo à cadeia de seus fornecedores originais. A posterior revenda desse 
mesmo bem por seu adquirente constitui nova relação jurídica obrigacional com o eventual 
comprador. Assim, os eventuais prejuízos decorrentes dessa segunda relação não podem ser 
cobrados do fornecedor original. 
Não se pode estender ao integrante daquela primeira cadeia de fornecimento a 
responsabilidade solidária de que trata o art. 18 do CDC por eventuais vícios que o adquirente 
da segunda relação jurídica venha a detectar no produto. 
Ex: a empresa “Via Autos” alienou um carro para João que, depois de dois anos utilizando o 
veículo, vendeu o automóvel para Pedro. Em seguida, Pedro percebeu que o hodômetro do 
carro havia sido adulterado para reduzir a quilometragem. Pedro não poderá exigir a 
responsabilização da “Via Autos” pelo vício do produto. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.800-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/5/2017 (Info 603). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A empresa “Via Autos” alienou um carro para João. 
Depois de dois anos utilizando o veículo, João vendeu o automóvel para Pedro. 
No momento da celebração do contrato, o hodômetro do automóvel indicava que o veículo havia 
circulado 22.000 km. 
Algum tempo depois, Pedro levou o carro para a revisão na revendedora autorizada da marca Fiat e foi 
então surpreendido com a notícia de que, apesar de o hodômetro apontar 25.000 Km rodados, pelos 
testes realizados, o percurso efetivamente realizado pelo automóvel foi de 52.000 Km. Constatou-se, 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
portanto, que houve uma adulteração do hodômetro a fim de parecer que o carro havia rodado menos 
do que o efetivo. 
Diante disso, Pedro ajuizou ação derescisão de contrato de compra e venda cumulada com pedido de 
indenização por danos materiais e moral contra João e a empresa “Via Autos” afirmando que eles são 
solidariamente responsáveis pelo vício do produto, nos termos do art. 18 do CDC, considerando que todos 
eles integravam uma mesma cadeia de fornecedores. Veja a redação da Lei: 
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem 
solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou 
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem 
ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o 
consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 
 
Na ação, Pedro afirmou que não era capaz de apontar com precisão o momento da adulteração ou qual 
dos personagens envolvidos na cadeia negocial do automóvel seria o real responsável pela prática do 
ilícito, razão pela qual ajuizou a demanda contra ambos. 
 
A tese de Pedro poderá ser acolhida? A empresa “Via Autos” também possui responsabilidade neste caso? 
NÃO. 
 
Duas relações jurídicas distintas 
No caso concreto, são constatadas duas relações jurídicas bem distintas: 
a) a primeira, típica relação de consumo representada pela alienação do veículo da “Via Autos” para João. 
Nesta hipótese, a empresa é fornecedora e João consumidor (destinatário final do produto); 
b) a segunda, típica relação contratual civil, consistente na venda e compra do veículo usado realizada por 
João a Pedro. Nesta segunda relação, não incide o CDC considerando se tratar de uma alienação entre 
particulares. 
 
Responsabilidade solidária somente dentro da mesma cadeia de fornecimento 
Só se pode falar em responsabilidade solidária entre os fornecedores integrantes de uma mesma cadeia 
de oferecimento de produtos e/ou serviços, não podendo ser responsabilizado prestador pertencente à 
cadeia anterior à retirada de bem durável do mercado de consumo (a partir de sua aquisição pelo 
destinatário final) por prejuízos constatados no futuro em virtude da revenda do referido bem. 
Uma primeira cadeia de consumo foi formada e se encerrou quando a “Via Autos” alienou o veículo a João 
(consumidor final). Uma nova e independente cadeia se iniciou quando João, que adquiriu o automóvel e 
lhe deu destinação final, decidiu revender o referido bem a Pedro. 
Em outras palavras, o bem desvinculou-se de uma cadeia de consumo quando saiu de mercado para 
integrar o acervo patrimonial de seu destinatário final, ou seja, quando saiu da “Via Autos” e passou ao 
patrimônio de João, que o adquiriu como consumidor (e não para revender). Após ter usado um tempo e 
decidido alienar o carro, o veículo foi inserido em outra cadeia de consumo desvinculada da primeira. 
Entre as duas relações de consumo, houve uma descontinuidade, uma quebra, o que justifica a ausência 
de responsabilidade solidária. 
Assim, a empresa “Via Autos” não possui nenhuma relação jurídica com Pedro, que deve voltar seu pleito 
indenizatório única e exclusivamente contra João. 
 
Em suma: 
O fornecimento do bem ao seu destinatário final, por removê-lo do mercado de consumo, põe termo à 
cadeia de seus fornecedores originais. A posterior revenda desse mesmo bem por seu adquirente 
constitui nova relação jurídica obrigacional com o eventual comprador. Assim, os eventuais prejuízos 
decorrentes dessa segunda relação não podem ser cobrados do fornecedor original. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
Não se pode estender ao integrante daquela primeira cadeia de fornecimento a responsabilidade 
solidária de que trata o art. 18 do CDC por eventuais vícios que o adquirente da segunda relação jurídica 
venha a detectar no produto. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.517.800-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/5/2017 (Info 603). 
 
 
 
CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS 
Prazo prescricional em caso de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto 
 
Súmula 412-STJ: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo 
prescricional estabelecido no Código Civil. 
O prazo prescricional para as ações de repetição de indébito relativo às tarifas de serviços de 
água e esgoto cobradas indevidamente é de: 
a) 20 (vinte) anos, na forma do art. 177 do Código Civil de 1916; ou 
b) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205 do Código Civil de 2002, observando-se a regra 
de direito intertemporal, estabelecida no art. 2.028 do Código Civil de 2002. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.532.514-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 10/5/2017 
(recurso repetitivo) (Info 603). 
 
Repetição de indébito 
Ação de repetição de indébito (ou ação de restituição de indébito) é a ação na qual o requerente pleiteia 
a devolução de determinada quantia que pagou indevidamente. 
A ação de repetição de indébito, ao contrário do que muitos pensam, não é restrita ao Direito Tributário. 
Assim, por exemplo, se um consumidor é cobrado pelo fornecedor e paga um valor que não era devido, 
poderá ingressar com ação de repetição de indébito para pleitear valor igual ao dobro do que pagou em 
excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável (art. 42, 
parágrafo único do CDC). 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
O condomínio de apartamentos “Bem Viver” instalou um poço artesiano para utilização de seus 
moradores. O condomínio manteve um único hidrômetro, no qual recebe água da concessionária para 
eventuais emergências caso o poço artesiano apresente algum problema. 
Apesar disso, a concessionária, durante anos, continuou cobrando do condomínio a tarifa de água não 
com base na medição do hidrômetro, mas sim por meio de um cálculo por estimativa, de acordo com o 
número de apartamentos existentes no local. 
Depois de alguns anos pagando assim, o condomínio decidiu ingressar com ação pedindo a restituição da 
quantia paga indevidamente (repetição do indébito). 
 
Discussão quanto à prescrição 
A concessionária contestou a demanda argumentando que a pretensão de cobrança de boa parte dos 
valores pelo condomínio estaria prescrita. Isso porque, segundo a empresa, o prazo prescricional seria de 
5 anos, com base no art. 1º do Decreto 20.910/1932, que trata sobre os prazos de ações propostas contra 
a Fazenda Pública. 
O condomínio, por sua vez, argumentava que deveriam ser aplicados os prazos previstos no Código Civil. 
 
Qual das duas teses prevalece na jurisprudência: a da concessionária ou do condomínio? O prazo é o do 
Decreto 20.910/1932 ou do Código Civil? 
Do Código Civil. O STJ editou uma súmula tratando sobre o tema: 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
Súmula 412-STJ: A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo 
prescricional estabelecido no Código Civil. 
 
O valor cobrado pelas concessionárias de água pela prestação do serviço possui natureza jurídica de tarifa 
(preço público). Dessa forma, o regime aplicável é o de direito privado, devendo, portanto, a prescrição 
ser regida pelo Código Civil e não por uma norma que é válida para as relações jurídicas da Fazenda Pública. 
 
Mas, afinal de contas, qual é o prazo prescricional previsto no Código Civil de 2002? 
Não existe um dispositivo específico no Código Civil tratando exatamente dessa situação. Em razão disso, 
aplica-seo prazo de 10 anos, conforme preconiza o art. 205 do CC: 
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. 
 
Ocorre que essas cobranças indevidas da tarifa de água são antigas e muitas vezes ocorreram ainda na 
vigência do Código Civil passado. Dessa forma, é importante investigar: qual era o prazo prescricional 
para a repetição de indébito de tarifas de água no Código Civil de 1916? 
20 anos (art. 177 do CC/1916). 
 
Em suma: 
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: o prazo prescricional é de 10 anos; 
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: o prazo prescricional é de 20 anos. 
 
Algumas vezes, o fato ocorreu na vigência do CC/1916, mas a ação somente foi proposta quando vigorava 
o CC/2002. Neste caso, deve-se analisar a situação concreta para verificar se, quando entrou em vigor o 
CC/2002, já havia se passado mais da metade do prazo prescricional. Isso vai ser importante para definir 
se a prescrição continua sendo contada como 20 anos ou passou para 10. Trata-se da regra de direito 
intertemporal prevista no art. 2.028 do CC/2002: 
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de 
sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei 
revogada. 
 
Exemplo: 
Repetição de indébito de tarifa de água e esgoto prescrevia em 20 anos no CC-1916. No CC-2002 foi 
reduzido para 10 anos. 
 Se o usuário pagou a tarifa cobrada indevidamente em 1991, em 2003 (data em que entrou em vigor 
o CC), já havia se passado 12 anos. Logo, prevalece o prazo do CC-1916 e este usuário só terá mais 8 
anos para ajuizar a ação. 
 Se o usuário pagou a tarifa em 1994, em 2003 havia se passado apenas 9 anos. Logo, será aplicado o 
novo prazo do CC-2002 (de 10 anos). A partir de 11/01/2003 (data da entrada em vigor do CC-2002) 
iniciou o prazo de 10 anos para que o usuário ajuizasse a ação. 
 
O STJ definiu esse tema em sede de recurso especial repetitivo e fixou a seguinte tese: 
O prazo prescricional para as ações de repetição de indébito relativo às tarifas de serviços de água e 
esgoto cobradas indevidamente é de: 
a) 20 (vinte) anos, na forma do art. 177 do Código Civil de 1916; ou 
b) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205 do Código Civil de 2002, observando-se a regra de direito 
intertemporal, estabelecida no art. 2.028 do Código Civil de 2002. 
STJ. 1ª Seção. REsp 1.532.514-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, julgado em 10/5/2017 (recurso 
repetitivo) (Info 603). 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
 
CÉDULA DE PRODUTO RURAL 
Juros moratórios e cédula de produto rural financeira 
 
No caso de cédulas de PRODUTO rural financeira (CPR-F), os juros também estão limitados a 
1% ao ano, conforme prevê o DL 167/67 para as cédulas de CRÉDITO rural? 
1ª corrente: NÃO. A limitação dos juros moratórios ao patamar de 1% ao ano, estabelecida 
pelo art. 5º, parágrafo único, do Decreto-Lei 167/67, não se aplica à cédula de produto rural 
financeira (CPR-F). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.435.979-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 30/3/2017 (Info 603). 
 
2ª corrente: SIM. Os juros de mora no caso de CPR-F deverão ficar limitados em 1% ao ano, nos 
termos do art. 5º do Decreto-Lei nº 167/1967. 
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 906.114/PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 06/10/2016. 
 
Títulos de crédito 
O título de crédito é um documento por meio do qual se prova que existe uma obrigação entre o(s) 
credor(es) e o(s) devedor(es), nos termos do que ali está escrito. 
O conceito tradicional de título de crédito foi dado há décadas por um jurista italiano chamado Cesare 
Vivante: “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele 
contido ou mencionado”. 
Essa definição foi adotada pelo CC-2002: 
Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele 
contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
 
Os títulos de crédito são muito importantes para a economia porque eles facilitam a obtenção e a 
circulação do crédito, além de conferirem maior segurança para os credores. Ex: se a pessoa quer comprar 
uma mercadoria, mas não tem dinheiro no momento, ela poderá assinar uma nota promissória e entregá-
la ao vendedor, comprometendo-se a pagar a quantia em 30 dias. Houve a concessão de um crédito de 
forma simplificada e o credor terá em mãos uma garantia de pagamento. Com isso, mais negócios podem 
ser realizados. 
 
Títulos rurais 
Existem alguns títulos de crédito que são gerais e mais conhecidos, como é o caso da letra de câmbio, 
duplicata, cheque etc. 
No entanto, a experiência mostrou que seria interessante que fossem criados alguns títulos de crédito, 
com características específicas, para facilitar as negociações envolvendo determinados setores da 
economia. 
Em suma, verificou-se a necessidade de criar títulos de crédito específicos para algumas transações 
empresariais. 
No caso da atividade rural, por exemplo, foram idealizados quatro títulos de crédito específicos, chamados 
de “títulos rurais”. São eles: 
a) Cédula de crédito rural; 
b) Cédulas de produto rural; 
c) Nota promissória rural; 
d) Duplicata rural. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
 
Cédulas de Produto Rural (CPR) 
As cédulas de produto rural foram criadas pela Lei nº 8.929/94 com o objetivo de estimular o 
financiamento privado da atividade rural. Existem duas espécies de CPR: 
 CPR física (art. 1º da Lei); 
 CPR financeira (art. 4º-A da Lei). 
 
CPR física CPR financeira 
A cédula de produto rural física (CPR física) é um 
título de crédito por meio do qual o produtor 
rural ou a associação de produtores rurais 
(inclusive cooperativas) se compromete, em um 
documento, a entregar produtos rurais, em um 
momento futuro, recebendo, desde já, o 
pagamento por essa venda. 
No dia do vencimento, o produtor rural entregará 
ao credor os produtos rurais prometidos. 
Na CPR financeira, o produtor rural ou a 
associação de produtores emite a CPR, recebendo 
o dinheiro correspondente a “X” produtos rurais 
(ex: 100kg de café, tipo tal) e comprometendo-se 
a fazer a liquidação financeira da CPR (pagar a 
quantia emprestada) em determinada data e 
segundo os juros ali estipulados. 
Em vez de entregar o produto rural, o produtor irá 
pagar ao credor o valor do que tomou 
emprestado. 
Em outras palavras, a CPR física representa a 
documentalização de um contrato de compra e 
venda de produtos rurais, por meio do qual o 
vendedor recebe o pagamento antecipadamente, 
comprometendo-se a entregar os produtos rurais 
em uma determinada data. 
Em outras palavras, a CPR financeira representa a 
documentalização de um contrato de 
financiamento, por meio do qual o produtor rural 
(ou associação) recebe um valor em dinheiro, 
comprometendo-se a pagar em uma 
determinada data futura. 
Caso o emitente seja inadimplente, o credor 
poderá ajuizar ação de execução para a entrega 
de coisa. 
Caso o emitente seja inadimplente, o credor 
poderá ajuizar ação de execução por quantia 
certa. 
É parecida com uma duplicata mercantil. É parecida com uma nota promissória. 
Art. 1º Fica instituída a Cédula de Produto Rural 
(CPR), representativa de promessa de entrega de 
produtos rurais, com ou sem garantia 
cedularmente constituída. 
Art. 4º-A. Ficapermitida a liquidação financeira 
da CPR de que trata esta Lei, desde que 
observadas as seguintes condições: 
I - que seja explicitado, em seu corpo, os 
referenciais necessários à clara identificação do 
preço ou do índice de preços a ser utilizado no 
resgate do título, a instituição responsável por sua 
apuração ou divulgação, a praça ou o mercado de 
formação do preço e o nome do índice; 
II - que os indicadores de preço de que trata o 
inciso anterior sejam apurados por instituições 
idôneas e de credibilidade junto às partes 
contratantes, tenham divulgação periódica, 
preferencialmente diária, e ampla divulgação ou 
facilidade de acesso, de forma a estarem 
facilmente disponíveis para as partes 
contratantes; 
III - que seja caracterizada por seu nome, seguido 
da expressão "financeira". 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Feitas estas considerações, imagine a seguinte situação hipotética: 
João, um avicultor, emitiu uma cédula de produto rural financeira (CPR-F), mediante a qual se obrigou a 
pagar a quantia de R$ 100 mil (equivalente a 10 toneladas de frango) à Cooperativa agrícola que lhe 
emprestou o dinheiro. 
No contrato, ficou previsto que os juros moratórios seriam de 12% ao ano. 
João tornou-se inadimplente e a cooperativa ajuizou execução de título extrajudicial. 
O devedor apresentou embargos à execução afirmando que os juros de mora previstos no contrato eram 
ilegais e que eles deveriam ficar limitados a 1% ao ano, conforme previsto no art. 5º, parágrafo único, do 
DL 167/67 (que trata sobre as cédulas de crédito rural): 
Art. 5º (...) 
Parágrafo único. Em caso de mora, a taxa de juros constante da cédula será elevável de 1% (um 
por cento) ao ano. 
 
A tese de João é acolhida pelo STJ? No caso de cédulas de PRODUTO rural financeira (CPR-F) os juros 
também estão limitados a 1% ao ano, conforme prevê o DL 167/67 para as cédulas de CRÉDITO rural? 
Existem duas correntes sobre o tema: 
1ª corrente: NÃO 2ª corrente: SIM 
A limitação dos juros moratórios ao patamar de 
1% ao ano, estabelecida pelo art. 5º, parágrafo 
único, do Decreto-Lei 167/67, não se aplica à 
cédula de produto rural financeira (CPR-F). 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.435.979-SP, Rel. Min. Paulo de 
Tarso Sanseverino, julgado em 30/3/2017 (Info 603). 
Os juros de mora no caso de CPR-F deverão ficar 
limitados em 1% ao ano, nos termos do art. 5º do 
Decreto-Lei nº 167/1967. 
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 906.114/PR, Rel. 
Min. Raul Araújo, julgado em 06/10/2016. 
Embora haja alguma semelhança entre a Cédula 
de Crédito Rural (CCR) e a Cédula de Produto Rural 
(CPR), no que tange a aspectos formais dos títulos, 
o certo é que são títulos diferentes não se 
podendo aplicar para a Cédula de Produto Rural 
(CPR) as normas previstas no Decreto-Lei 167/67 
considerando que este diploma disciplina as 
Cédulas de Crédito Rural (CCR). 
Se houvesse a equiparação entre da CPR à CCR, 
isso retiraria a maior utilidade da CPR, que é 
justamente servir de alternativa à CCR, 
considerando que esta é submetida a um rigoroso 
dirigismo contratual, principalmente no que tange 
aos juros remuneratórios e aos encargos da mora. 
Assim, a única limitação passível de ser imposta 
aos juros de mora da CPR é o limite estabelecido 
na Lei da Usura, qual seja, "o dobro da taxa legal" 
(art. 1º do Decreto 22.626/1933). 
A cédula de produto rural tem a mesma natureza 
jurídica da cédula de crédito rural e, portanto, está 
submetida ao mesmo regramento imposto à 
cédula de crédito. 
Diante disso, deve ser aplicado à cédula de 
produto rural o mesmo tratamento conferido à 
cédula de crédito rural quanto aos juros de mora, 
devendo, portanto, eles ficarem limitados em 1% 
ao ano, nos termos do art. 5º do Decreto-Lei nº 
167/1967. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
AÇÃO RESCISÓRIA 
Figura do revisor na ação rescisória 
 
Importante!!! 
Ainda existe a figura do revisor na ação rescisória? 
• Nas rescisórias julgadas pelo TJ e TRF: NÃO. O CPC/2015 eliminou, como regra geral, a figura 
do revisor em caso de ação rescisória. 
• Nas rescisórias julgadas pelo STJ: SIM. Nas ações rescisórias processadas e julgadas 
originariamente no STJ, mesmo após o advento do CPC/2015, continua existindo a figura do 
revisor. Isso porque existe previsão específica no art. 40, I da Lei nº 8.038/90, que continua 
em vigor. 
STJ. Corte Especial. AR 5.241-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 5/4/2017 (Info 603). 
 
Relator 
Quando um processo (recurso ou ação de competência originária) chega ao Tribunal (TJ, TRF, STJ, STF), é 
sorteado um magistrado (Desembargador ou Ministro) para exercer a função de relator deste processo. 
O relator examina o recurso antes dos demais magistrados e elabora um relatório e um voto que serão 
levados ao colegiado para que os demais juízes (em sentido amplo) decidam se concordam ou não com as 
conclusões do relator. 
Em tese, os demais magistrados do Tribunal somente têm conhecimento detalhado do processo quando 
este é levado a julgamento pelo relator. Tirando o relator, os demais magistrados não precisam levar um 
voto escrito para a sessão de julgamento. 
 
Revisor 
O revisor é um outro magistrado, que tem o dever de examinar o processo antes de ele ir a julgamento e 
de elaborar um voto escrito sobre o caso. 
Assim, depois de o relator elaborar seu relatório, ele o encaminha ao revisor, que irá analisá-lo e, quando 
tiver terminado de estudar o processo, irá liberá-lo para julgamento. 
O art. 551 do CPC/1973 afirmava que era obrigatória a figura do revisor em três processos que tramitam 
nos Tribunais: apelação, embargos infringentes e ação rescisória. 
 
O que fez o CPC/2015? 
O CPC/2015 não mais previu a figura do revisor. Não existe um dispositivo semelhante ao art. 551 do 
CPC/1973. Diante disso, em regra, não mais existe revisor. 
 
Por que se falou “em regra”? 
Porque existe uma exceção: continua existindo a figura do revisor no caso de ações rescisórias julgadas 
pelo STJ. Isso se deve ao fato de que há um dispositivo expresso na Lei nº 8.038/90 prevendo o revisor 
nestes casos. Confira: 
Art. 40. Haverá revisão, no Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes processos: 
I - ação rescisória; 
 
Mas esse art. 40, I, da Lei nº 8.038/90 não foi revogado pelo CPC/2015? 
NÃO. O CPC/2015 revogou expressamente onze artigos da Lei nº 8.038/90, dentre os quais não estava o 
art. 40. Logo, conclui-se que, quando o legislador quis revogar algum dispositivo da Lei nº 8.038/90, ele o 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
fez expressamente. Dessa forma, o CPC/2015 optou por não revogar o art. 40, I, restando mantida a figura 
do revisor no caso de ações rescisórias julgadas pelo STJ. 
 
 
 
COBRANÇA DE ANUIDADES 
Suspensão ou cancelamento do registro do profissional que atrasar anuidades 
 
Segundo o art. 8º da Lei nº 12.514/2011, para que os Conselhos Profissionais ajuízem 
execução fiscal cobrando anuidades em atraso, é necessário que o total da quantia executada 
seja de, no mínimo, quatro vezes o valor da anuidade. 
Mesmo sem poder executar a dívida, o Conselho Profissional poderá adotar uma outra sanção 
contra o inadimplente:poderá suspender ou cancelar seu registro profissional. 
Assim, o fato de os conselhos não poderem executar dívidas inferiores a quatro vezes o valor 
cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, não impede que seja feita a 
suspensão ou o cancelamento do registro do profissional que deixar de efetuar o pagamento 
das anuidades. Isso está previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 12.514/2011. 
No caso específico dos Engenheiros e Arquitetos, o cancelamento do registro somente pode 
acontecer desde que o atraso seja de, no mínimo, duas anuidades consecutivas (art. 64 da Lei 
nº 5.194/66). 
STJ. 2ª Turma. REsp 1.659.989-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/4/2017 (Info 603). 
 
Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO etc.)? 
Os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de autarquias federais. 
Exceção: a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria 
ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 
 
Anuidades 
Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram a sua categoria. A isso 
se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei nº 12.514/2011). 
 
Qual é a natureza jurídica dessas anuidades? 
Tais contribuições são consideradas tributo, sendo classificadas como “contribuições profissionais ou 
corporativas”. 
 
Fato gerador 
O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que por tempo limitado, ao 
longo do exercício (art. 5º da Lei nº 12.514/2011). 
 
Execução fiscal 
Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias, em caso de inadimplemento, 
o valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal. 
 
Competência 
A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os Conselhos são 
autarquias federais (Súmula 66 do STJ). 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
Lei nº 12.514/2011 fixou número mínimo de anuidades em atraso para ajuizamento da execução 
O volume de inadimplência nesses Conselhos profissionais é muito alto, o que fazia com que fossem 
ajuizadas, anualmente, milhares de execuções fiscais, a maioria referente a pequenos valores, 
abarrotando a Justiça Federal. Além disso, o custo do processo judicial muitas vezes era superior ao crédito 
perseguido por meio da execução. 
Pensando nisso, o legislador editou a Lei nº 12.514/2011, trazendo uma restrição de valor para que o 
Conselho possa ajuizar a execução fiscal cobrando as anuidades em atraso. Veja: 
Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas referentes a anuidades inferiores a 4 
(quatro) vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente. 
 
Desse modo, o art. 8º da Lei acima referida traz uma nova condição para que os Conselhos profissionais 
ajuízem execuções fiscais: o total da quantia executada deverá ser, no mínimo, quatro vezes o valor da 
anuidade. 
Vale ressaltar que no valor correspondente a 4 anuidades no ano do ajuizamento computam-se também 
as multas, juros e correção monetária, e não apenas a quantidade de parcelas em atraso. Assim, o 
processamento da execução fiscal fica desautorizado somente quando os débitos exequendos 
correspondam a menos de 4 vezes o valor cobrado anualmente da pessoa física ou jurídica inadimplente, 
tomando-se como parâmetro para definir este piso o valor da anuidade referente ao ano de ajuizamento, 
bem como os encargos legais (multa, juros e correção monetária). 
 
Cancelamento do registro profissional 
Importante registrar que, mesmo não podendo ajuizar a execução caso a dívida não seja superior a 4 
anuidades, os Conselhos poderão tomar outras medidas contra o inadimplente, como, por exemplo, 
suspender/cancelar o seu registro profissional. Isso está previsto no art. 8º da Lei nº 12.514/2011: 
Art. 8º (...) Parágrafo único. O disposto no caput não limitará a realização de medidas 
administrativas de cobrança, a aplicação de sanções por violação da ética ou a suspensão do 
exercício profissional. 
 
No caso dos Engenheiros e Arquitetos, existe uma previsão expressa na Lei nº 5.194/66, que regulamenta 
essas profissões, autorizando o Conselho a cancelar o registro profissional desde que o atraso seja de 2 
anos consecutivos: 
Art. 64. Será automaticamente cancelado o registro do profissional ou da pessoa jurídica que 
deixar de efetuar o pagamento da anuidade, a que estiver sujeito, durante 2 (dois) anos 
consecutivos sem prejuízo da obrigatoriedade do pagamento da dívida. 
 
Vale ressaltar que essa suspensão ou cancelamento, para serem considerados válidos, precisam respeitar 
as garantias constitucionais, dentre elas o contraditório e a ampla defesa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
COMPETÊNCIA 
Competência para julgar o delito do art. 241-A do ECA praticado 
por meio de Whatsapp ou chat do Facebook: Justiça Estadual 
 
Importante!!! 
O STF fixou a seguinte tese: 
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou 
adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B 
do ECA), quando praticados por meio da rede mundial de computadores (internet). 
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson 
Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). 
 
O STJ, interpretando a decisão do STF, afirmou que, quando se fala em “praticados por meio 
da rede mundial de computadores (internet)”, o que o STF quer dizer é que a postagem de 
conteúdo pedófilo-pornográfico deve ter sido feita em um ambiente virtual propício ao livre 
acesso. Por outro lado, se a troca de material pedófilo ocorreu entre destinatários certos no 
Brasil, não há relação de internacionalidade e, portanto, a competência é da Justiça Estadual. 
 
Assim, o STJ afirmou que a definição da competência para julgar o delito do art. 241-A do ECA 
passa pela seguinte análise: 
• Se ficar constatada a internacionalidade da conduta: Justiça FEDERAL. Ex: publicação do 
material feita em sites que possam ser acessados por qualquer sujeito, em qualquer parte do 
planeta, desde que esteja conectado à internet. 
• Nos casos em que o crime é praticado por meio de troca de informações privadas, como nas 
conversas via Whatsapp ou por meio de chat na rede social Facebook: Justiça ESTADUAL. 
Isso porque tanto no aplicativo WhatsApp quanto nos diálogos (chat) estabelecido na rede 
social Facebook, a comunicação se dá entre destinatários escolhidos pelo emissor da 
mensagem. Trata-se de troca de informação privada que não está acessível a qualquer pessoa. 
Desse modo, como em tais situações o conteúdo pornográfico não foi disponibilizado em um 
ambiente de livre acesso, não se faz presente a competência da Justiça Federal. 
STJ. 3ª Seção. CC 150.564-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/4/2017 (Info 603). 
 
Inciso V do art. 109 da CF/88 
O art. 109 da CF/88 prevê a competência da Justiça Federal comum em 1ª instância. 
Veja a hipótese trazida pelo inciso V: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
(...) 
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no 
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; 
 
Este incisofixa competência criminal da Justiça Federal. Consiste em competência estabelecida em função 
da matéria. 
 
 
 
Rafael Verol
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
Requisitos para aplicação do inciso V 
Para que o delito seja de competência da Justiça Federal com base neste inciso, são necessários três 
requisitos: 
a) que o fato seja previsto como crime em tratado ou convenção; 
b) que o Brasil tenha assinado tratado/convenção internacional se comprometendo a combater essa 
espécie de delito; 
c) que exista uma relação de internacionalidade entre a conduta criminosa praticada e o resultado 
produzido que foi produzido ou que deveria ter sido produzido. 
 
Relação de internacionalidade 
A relação de internacionalidade ocorre quando: 
• iniciada a execução do crime no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro; 
• iniciada a execução do crime no estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no Brasil. 
 
Desse modo, não basta que o crime esteja previsto em tratado ou convenção internacional para ser 
julgado pela Justiça Federal. 
 
Exemplos 
Podemos citar os seguintes exemplos de crimes que poderão ser submetidos a julgamento pela Justiça 
Federal com fundamento no art. 109, V, da CF/88, desde que haja relação de internacionalidade, por 
serem previstos em tratados internacionais: 
a) tráfico transnacional de drogas (art. 70, da Lei nº 11.343/2006); 
b) tráfico internacional de arma de fogo (art. 18 da Lei nº 10.826/2003); 
c) tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual (art. 149-A do CP); 
d) envio ilegal de criança ou adolescente para o exterior (art. 239 do ECA). 
 
Todo crime praticado pela internet é de competência da Justiça Federal com base neste inciso V? 
Obviamente que não. Segundo entendimento pacífico da jurisprudência, o fato de o delito ter sido 
cometido pela rede mundial de computadores não atrai, por si só, a competência da Justiça Federal. 
Para que o delito cometido por meio da internet seja julgado pela Justiça Federal, é necessário que ele 
preencha os requisitos acima explicados. 
 
Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente 
O ECA prevê três crimes que punem a conduta de disponibilizar ou adquirir material pornográfico 
envolvendo criança ou adolescente. Veja: 
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo 
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. 
 
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer 
meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro 
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: 
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. 
(...) 
 
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma 
de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou 
adolescente: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
(...) 
 
De quem será a competência para julgar esses delitos caso tenham sido praticados por meio da internet? 
O STF decidiu que a competência é da Justiça Federal, com base no art. 109, V, da CF/88. 
Os delitos acima listados são crimes que o Brasil, por meio de tratado internacional, comprometeu-se a 
reprimir. Trata-se da Convenção sobre Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas, aprovada pelo Decreto Legislativo 28/90 e pelo Decreto 99.710/90. 
Se o crime é praticado por meio de página na internet, o vídeo ou a fotografia envolvendo a criança ou o 
adolescente em cenas de sexo ou de pornografia poderão ser visualizados em qualquer computador do 
mundo. Ocorre, portanto, a transnacionalidade do delito. 
Vale ressaltar que, tendo sido divulgado o conteúdo pedófilo por meio de alguma página da internet, isso 
já é suficiente para configurar a relação de internacionalidade, porque o material se tornou acessível por 
alguém no estrangeiro. Não é necessário que se prove que alguém no estrangeiro efetivamente tenha 
acessado. 
 
A tese firmada pelo STF ficou assim redigida: 
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir 
material pornográfico envolvendo criança ou adolescente [artigos 241, 241-A e 241-B da Lei 8.069/1990] 
quando praticados por meio da rede mundial de computadores. 
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado 
em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). 
 
De quem será a competência territorial neste caso? 
A competência territorial é da Seção Judiciária do local onde o réu publicou as fotos, não importando o 
Estado onde se localize o servidor do site: STJ. CC 29.886/SP, julgado em 12/12/2007. 
E se o réu publicou as fotos no exterior? Esse crime poderá ser julgado pelo Brasil, por se enquadrar na 
hipótese prevista no art. 7º, II, do CP, cumpridas as condições previstas no § 2º do mesmo art. 7º. Em 
sendo preenchidos tais requisitos, o delito seria julgado no Brasil pela Justiça Federal, sendo competente 
a Seção Judiciária da capital do Estado onde o acusado por último morou ou, se nunca residiu aqui, será 
competente a Seção Judiciária do Distrito Federal (art. 88 do CPP). 
 
Intepretação dada pelo STJ à tese fixada pelo STF no RE 628624/MG 
Se você observar a tese do STF no RE 628624/MG, verá que ela é bem ampla e afirma que os crimes de 
disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente, quando praticados 
por meio da internet, são de competência da Justiça Federal. 
O STJ, no entanto, interpretando a tese do STF, afirmou que nos casos em que o crime é praticado por 
meio de troca de informações privadas, como nas conversas via Whatsapp ou por meio de chat na rede 
social Facebook, a competência será da Justiça ESTADUAL. 
As conversas via Whatsapp ou chat do Facebook precisam de internet para acontecer. No entanto, o STJ 
afirmou que, nestes casos, a comunicação ocorre entre pessoas específicas, escolhidas pelo emissor da 
mensagem. Trata-se, portanto, de uma troca de informações privadas que não estão acessíveis a qualquer 
pessoa. 
Diante disso, neste caso, não há competência da Justiça Federal porque a postagem de conteúdo pedófilo-
pornográfico não foi feita em um ambiente propício ao livre acesso. 
 
Resumindo: 
O STF fixou a seguinte tese: 
Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir 
material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando 
praticados por meio da rede mundial de computadores (internet). 
 Informativo 
comentado 
 
 
Informativo 603-STJ (07/06/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25 
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 
julgado em 28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805). 
 
O STJ, interpretando a decisão do STF, afirmou que, quando se fala em “praticados por meio da rede 
mundial de computadores (internet)”, o que o STF quer dizer é que a postagem de conteúdo pedófilo-

Continue navegando