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Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Julgado não comentado por ter menor relevância para concursos públicos: REsp 1.478.439-RS. Leia-o ao final deste Informativo se entender necessário. ÍNDICE DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade por ofensas proferidas por internauta e veiculadas em portal de notícias. Ofensas publicadas em blog e necessidade de indicação dos endereços eletrônicos pelo ofendido. LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO Legitimidade para cobrança de aluguéis vencidos em data anterior à da alienação do imóvel. DIVÓRCIO Desnecessidade de audiência de conciliação ou ratificação na ação de divórcio direto consensual. ADOÇÃO DE MAIORES A adoção de pessoa maior de idade não precisa do consentimento de seu pai biológico. ALIMENTOS Direito a alimentos pelo rompimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo. BEM DE FAMÍLIA Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor. DIREITO EMPRESARIAL SOCIEDADE LIMITADA Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas de responsabilidade limitada. FALÊNCIA Capacidade processual do falido para a propositura de ação rescisória. DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO COLETIVO Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato. AÇÃO MONITÓRIA Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS Não cabimento em caso de contratos de mútuo e financiamento. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 DIREITO PENAL PENA DE MULTA Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública. Legitimidade do MP para promover medida que garanta o pagamento de multa penal. FALSA IDENTIDADE Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. DIREITO PROCESSUAL PENAL ARQUIVAMENTO DE PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO Inaplicabilidade do art. 28 do CPP nos procedimentos investigativos que tramitem originariamente no STJ. EXECUÇÃO PENAL Súmula 520-STJ: O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento prisional. DIREITO TRIBUTÁRIO LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA FEDERAL Impossibilidade de exigência concomitante da multa isolada e da multa de ofício previstas no art. 44 da Lei 9.430/96. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O FGTS A contribuição social do art. 1º da LC 110/2001 continua em vigor. DIREITO CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL Responsabilidade por ofensas proferidas por internauta e veiculadas em portal de notícias A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários postados nesse campo que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014). STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/3/2015 (Info 558). Imagine a seguinte situação hipotética: Determinada empresa jornalística possui um portal de notícias na internet. Certo dia, foi publicada uma reportagem no portal sobre um político da cidade. No site, havia um campo para que os leitores publicassem seus comentários e, após essa reportagem, vários internautas postaram mensagens ofendendo a honra desse político. Ao tomar conhecimento desses comentários, o político ajuizou ação de danos morais contra a empresa jornalística, alegando que o portal tinha responsabilidade civil por esses comentários publicados em seu site e que eles ofenderam sua honra. Após ser citada, a empresa jornalística retirou os comentários do site. A controvérsia, portanto, diz respeito à responsabilidade civil dos provedores de internet por mensagens postadas por terceiros em seu site. Espécies de provedores Existem diversas classificações a respeito dos provedores de internet. Destaco aqui duas que são importantes para o presente tema: Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 a) Provedores de INFORMAÇÃO b) Provedores de CONTEÚDO São aqueles que produzem as informações divulgadas na Internet. São os autores de escritos postados na internet. Ex: alguém que publica um texto seu em um blog. São aqueles que disponibilizam na internet as informações criadas ou desenvolvidas pelos provedores de informação. Como exemplos desta espécie podemos citar os mantenedores de sites de relacionamento na internet (Facebook®, Instagram®, Twitter® etc.). Os provedores de informação possuem responsabilidade civil pelas matérias por ele divulgadas (REsp 1381610/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/09/2013). Em regra, os provedores de conteúdo não possuem responsabilidade civil pelas mensagens postadas diretamente pelos usuários, salvo se não providenciarem a exclusão do conteúdo ofensivo, após notificação (REsp 1338214/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/11/2013). No caso em tela, o referido portal de notícia enquadra-se como provedor de informação ou provedor de conteúdo? Quanto à matéria jornalística divulgada no site: ele se enquadra como provedor de informação; Quanto às postagens feitas pelos usuários: ele se amolda como provedor de conteúdo. Na situação concreta, o portal de notícia deverá responder civilmente pelos comentários ofensivos que foram publicados? SIM. A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de internautas terá responsabilidade solidária por comentários postados nesse campo que, mesmo relacionados à matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro. Mas neste caso, o portal de notícia não era mero provedor de conteúdo quanto aos comentários dos leitores? SIM. Ele era provedor de conteúdo. No entanto, mesmo assim o STJ afirmou que deveria haver a indenização porque o caso em análise trazia uma particularidade: o provedor de conteúdo era também um portal de notícias, ou seja, uma sociedade cuja atividade é precisamente o fornecimento de informações a um vasto público consumidor. Essa particularidade diferencia o presente caso daqueles outros julgados pelo STJ, em que o provedor de conteúdo era empresa da área da informática, como a Google®, o Facebook®, a Microsoft® etc. Não é razoável exigir que empresas de informática controlem o conteúdo das postagens efetuadas pelos usuários de seus serviços ou aplicativos. Todavia, tratando-se de uma sociedade que desenvolve atividade jornalística, o controle do potencial ofensivo dos comentários não apenas é viável, como necessário, por ser atividade inerente ao objeto da empresa. Ademais, é fato notório, nos dias de hoje, que as redes sociais contêm um verdadeiro inconsciente coletivo que faz com que as pessoas escrevam mensagens, sem a necessária reflexão prévia, falando coisas que normalmente não diriam. Isso exige um controle por parte de quem é profissional da área de comunicação, que tem o dever de zelar para que o direito de crítica não ultrapasse o limite legal consistente no respeito à honra, à privacidade e à intimidade da pessoa criticada. Assim, a ausência de qualquer controle, prévio ou posterior, configura defeito do serviço, uma vez que se trata de relação de consumo.Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 Ressalte-se que o ponto nodal não é apenas a efetiva existência de controle editorial, mas a viabilidade de ele ser exercido. Consequentemente, a sociedade empresária deve responder solidariamente pelos danos causados à vítima das ofensas morais, que, em última análise, é um bystander, por força do disposto no art. 17 do CDC. No caso explicado acima, foi aplicada a Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet)? NÃO. O marco civil da Internet (Lei n. 12.965/2014) não pode ser aplicado para a situação acima narrada, porque os fatos ocorreram antes de sua entrada em vigor. RESPONSABILIDADE CIVIL Ofensas publicadas em blog e necessidade de indicação dos endereços eletrônicos pelo ofendido Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas (e não ao provedor de hospedagem do blog) a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. STJ. 3ª Turma. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558). Imagine a seguinte situação adaptada: Foram publicados diversos artigos e comentários ofensivos contra João em um blog hospedado pelo provedor Blogger®, pertencente ao grupo Google®. João ajuizou ação pedindo que a empresa Google® identificasse e rastreasse os autores dos artigos e comentários ofensivos. Ocorre que no referido blog havia vários artigos e comentários sobre diversos assuntos, de vários autores diferentes e o requerente não informou quais seriam aqueles que ele reputou ofensivos. O Google® respondeu afirmando que, para atender a ordem, precisaria que o autor indicasse, de forma específica, os URLs (endereços na rede) das páginas onde se encontram as mensagens. O STJ concordou com a exigência do Google®? SIM. Para o STJ, na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas (e não ao provedor de hospedagem do blog) a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. Os blogs são páginas na internet cuja estrutura possibilita a rápida e constante atualização mediante acréscimo dos denominados posts (comentários, artigos). Essas páginas são hospedadas por provedores, que não exercem controle sobre os conteúdos das páginas criadas e operadas pelos usuários. Não cabe ao provedor de hospedagem localizar os artigos ofensivos à honra do ofendido, fazer juízo prévio para fornecer-lhe os dados requeridos, tais como IPs e outros. Cabe ao interessado informar o respectivo URL (“Universal Resource Locator”, isto é, o localizador universal de recursos) em que se encontram os artigos/posts cujo conteúdo se considera lesivo. Sem essa individualização, a providência do provedor se assemelharia a um rastreamento, ficando ao seu arbítrio o apontamento de interesses exclusivos do ofendido, podendo, inclusive, envolver terceiras pessoas com quem não tem relação alguma ou que não sejam responsáveis pelo que pretende o ofendido. Deve o ofendido, portanto, realizar a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontra a mensagem considerada ofensiva, sem os quais não é possível ao provedor de hospedagem de blogs localizar, com segurança, determinada mensagem considerada ofensiva. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO Legitimidade para cobrança de aluguéis vencidos em data anterior à da alienação do imóvel O proprietário de um imóvel alugado vende este bem para outra pessoa. Se houver alugueis atrasados, quem tem legitimidade para cobrá-los: o antigo ou o novo proprietário? Em regra, o antigo. O antigo proprietário (alienante) tem legitimidade para cobrar os aluguéis que tenham vencido em data anterior à alienação do imóvel. O novo proprietário (adquirente) só terá direito sobre tais parcelas caso tenha ficado previsto no contrato de compra e venda do imóvel essa cessão do crédito. STJ. 4ª Turma. REsp 1.228.266-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/3/2015 (Info 558). Imagine a seguinte situação hipotética: João era proprietário de uma sala comercial. Em 02/02/2012, João alugou a sala para um dentista. Vale ressaltar que o dentista (locatário) sempre cumpriu regularmente suas obrigações, com exceção dos meses de junho, julho e agosto de 2012, período em relação ao qual ele não pagou os alugueis. Em 03/03/2013, João vendeu a sala para Pedro. Alguns dias depois, João ingressou com ação de execução contra o dentista cobrando os três meses de aluguel atrasados referentes ao ano de 2012. O executado se defendeu afirmando que João não tinha mais legitimidade ativa para cobrar os alugueis. Segundo sustentou o devedor, o adquirente do imóvel locado assume, por sub-rogação, a posição do locador, com todos os direitos e deveres que lhe são inerentes. Logo, quem teria legitimidade para cobrar o valor seria o novo proprietário (Pedro) e não o antigo (João). A tese do executado está correta? Quem tem direito aos aluguéis referentes a esses três meses? NÃO, a tese não está correta. O antigo proprietário (alienante) tem sim legitimidade para cobrar os aluguéis que tenham vencido em data anterior à alienação do imóvel. O novo proprietário (adquirente) só terá direito sobre tais parcelas caso tenha ficado previsto no contrato de compra e venda do imóvel essa cessão do crédito. O contrato de locação é uma relação jurídica de cunho obrigacional, pessoal, constituída entre o locador e o locatário, em que o primeiro transfere ao segundo a posse direta do imóvel para uso. Já o contrato de compra e venda celebrado posteriormente entre o proprietário (locador) e o terceiro estabelece um novo negócio jurídico, que não vincula, por si só, o adquirente do imóvel ao locatário, tendo em vista que não foi ele quem contratou a locação, e sim o locador (vendedor), que deixou de ser proprietário da coisa. Além disso, a alienação do imóvel não altera a relação obrigacional entre o locatário e o locador no período anterior à venda do imóvel. Sendo assim, o locatário se tornará obrigado perante o novo proprietário somente após a venda, por força de sub-rogação legal, nos termos do art. 8º, § 2º, da Lei n. 8.245/1991. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 DIVÓRCIO Desnecessidade de audiência de conciliação ou ratificação na ação de divórcio direto consensual O art. 1.122 do CPC 1973 c/c o art. 40, § 2º da Lei 6.515/77 previam a necessidade de ser realizada audiência de conciliação ou ratificação antes de o juiz decretar o divórcio consensual. Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010. A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226, § 6º da CF/88, eliminando os prazos para a concessão do divórcio e afastando a necessidade de que seja discutida culpa, dispensando que sejam debatidas as causas que geraram o fim da união. Atualmente, se as partes querem se divorciar, não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter vez no Direito de Família a figura da intervenção mínima do Estado. O divórcio passou a ser agora efetivamente direto. Por força da alteração constitucional, a leitura que deve ser feita agora do art. 1.122 do CPC é a seguinte: não será necessária audiência com os autores do pedido de divórcio consensual quando o magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais formalidadesforam atendidas. Dito de outro modo, só será designada a audiência de que trata o art. 1.122 do CPC 1973 em caso de dúvida sobre a real intenção das partes de se divorciarem. Não havendo dúvidas, não tem sentido a realização do ato. A audiência de conciliação ou ratificação passou a ter apenas cunho eminentemente formal, sem nada produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir. Obs: seguindo a linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a realização de audiência antes da decretação do divórcio consensual. O tema é tratado nos arts. 731 a 733. STJ. 3ª Turma. REsp 1.483.841-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 17/3/2015 (Info 558). Imagine a seguinte situação hipotética: João e Maria eram casados, mas há muitos anos que não viviam juntos, razão pela qual decidiram se divorciar e, para isso, ingressaram com ação de divórcio consensual. Diante da ausência de qualquer divergência entre os autores, o juiz da vara de família entendeu que era dispensável a realização de audiência para tentativa de reconciliação do casal (chamada de audiência de ratificação) e sentenciou o feito decretando o divórcio. O Promotor de Justiça que intervinha no processo não concordou e recorreu da sentença alegando que o art. 40, § 2º, da Lei n. 6.515/77 determina que o procedimento aplicável para o divórcio consensual é aquele previsto nos arts. 1.120 a 1.124 do CPC 1973. O art. 1.122 do CPC 1973, por sua vez, afirma que é obrigatória a realização de audiência para ouvir o casal. Confira os dispositivos mencionados: Art. 40 (...) § 2º - No divórcio consensual, o procedimento adotado será o previsto nos artigos 1.120 a 1.124 do Código de Processo Civil, observadas, ainda, as seguintes normas: (...) Art. 1.122. Apresentada a petição ao juiz, este verificará se ela preenche os requisitos exigidos nos dois artigos antecedentes; em seguida, ouvirá os cônjuges sobre os motivos da separação consensual, esclarecendo-lhes as consequências da manifestação de vontade. Em suma, o MP alegou que a audiência de ratificação continua sendo obrigatória no divórcio consensual por estar prevista no art. 1.122 do CPC 1973 e que ela não pode ser dispensada em nenhuma hipótese. O STJ concordou com a tese do MP? NÃO. Na ação de divórcio direto consensual, é possível a imediata homologação do divórcio, sendo dispensável a realização de audiência de conciliação ou ratificação (art. 1.122 do CPC 1973) quando o magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais formalidades foram atendidas. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 Mas e o art. 1.122 do CPC 1973? Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010. A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226, § 6º, da CF/88, suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de dois anos de separação de fato no divórcio. Além disso, a doutrina defende que, ao não exigir mais qualquer requisito em seu texto, o novo § 6º também proíbe qualquer discussão sobre culpa para fins de conceder ou não o divórcio. Compare as duas redações: Antes da EC 66/2010 DEPOIS da EC 66/2010 § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos. § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. Assim, a EC 66/2010 eliminou os prazos para a concessão do divórcio e afastou a necessidade de que seja discutida culpa, dispensando que sejam debatidas as causas que geraram o fim da união. Isso não importa mais. Se as partes querem se divorciar, não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter vez no Direito de Família a figura da intervenção mínima do Estado, como deve ser. Não deve o magistrado expor desnecessária e vexatoriamente a intimidade do casal. Criou-se, dessa forma, nova figura totalmente dissociada do divórcio anterior. O divórcio passou a ser agora efetivamente direto. Conclui-se, portanto, que o art. 1.122 do CPC 1973, ao exigir uma audiência de ratificação antes de conceder o divórcio direto consensual, passou a ter redação conflitante com o novo entendimento acima exposto, segundo o qual não mais existem os antigos requisitos para divórcio. Na ação de divórcio consensual direto, atualmente, não há causa de pedir, inexiste necessidade de os autores declinarem o fundamento do pedido, cuidando-se de simples exercício de um direito potestativo. Portanto, a leitura que deve ser feita agora do art. 1.122 do CPC é a seguinte: não será necessária audiência com os autores do pedido de divórcio consensual quando o magistrado tiver condições de aferir a firme disposição dos cônjuges em se divorciarem, bem como de atestar que as demais formalidades foram atendidas. Dito de outro modo, só será designada a audiência de que trata o art. 1.122 do CPC 1973 em caso de dúvida sobre a real intenção das partes de se divorciarem. Não havendo dúvidas, não tem sentido a realização do ato. A audiência de conciliação ou ratificação passou a ter apenas cunho eminentemente formal, sem nada produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir. Os artigos da Lei n. 6.515/77 e do CPC 1973 devem ser interpretados segundo a nova ordem constitucional e a ela se adequar. Como fica o tema no novo CPC? Seguindo a linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a realização de audiência antes da decretação do divórcio consensual. O tema é tratado nos arts. 731 a 733. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 ADOÇÃO DE MAIORES A adoção de pessoa maior de idade não precisa do consentimento de seu pai biológico Imagine que André foi abandonado, ainda criança, pelo seu pai biológico (João), tendo sido criado por Bento, quem considera seu verdadeiro pai. Quando André atinge a maioridade, Bento ajuíza ação para adotar o rapaz. João (pai biológico) apresenta contestação, não concordando com a adoção, e invocando o caput do art. 45 do ECA: “A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.” O simples fato de o pai biológico não concordar com a adoção de seu filho maior de 18 anos é motivo suficiente para impedir que ela aconteça? Aplica-se ao caso o caput do art. 45 do ECA? NÃO. Estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo) entre o adotante e o adotando, a adoção de pessoa maior não pode ser refutada pelo pai biológico que abandonou o filho, a menos que ele apresente uma justa causa. A adoção de pessoas maiores de 18 anos é regida pelo ECA. No entanto, no caso, não se aplica a exigência do caput do art. 45 do ECA porque o § 1º do mesmo artigo afirma que esse consentimento do pai é dispensado caso ele tenha sido destituído do poder familiar. O poder familiar termina quando o filho atinge a maioridade. Logo, sendo André maior que 18 anos, João não mais tem poder familiar sobre ele, não sendo necessário seu consentimento para a adoção. STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.747-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/3/2015 (Info 558). Imagine a seguinte situação adaptada: André é filho biológico e registral de João. Ocorre que o pai, logo nos primeiros meses de vida do filho, o abandonou, nunca tendo lhe dado afeto ou assistência material. A mãe de André casou-se, então, com Bento e este cuidou da criança como se fosse seu filho. No aniversário de 20 anos de André, Bento falou que gostaria de ser seu pai também “no papel”. No dia seguinte, Bento procurou a Defensoria Pública e explicou a situação. Qual medida jurídica foi proposta?Bento, por intermédio da Defensoria Pública, ajuizou “ação de adoção de maior de idade cumulada com pedido de destituição do vínculo paterno” em favor de André (adotando) e em desfavor de João (pai biológico de André). O que o réu alegou na contestação? João argumentou que não se afastou do filho por vontade própria, mas sim porque era muito jovem à época e que teve que se mudar para outra cidade por questões de trabalho. Afirmou que pretende retomar o relacionamento com André. Por fim, o réu alegou que, sem o seu consentimento, a adoção não poderia ser deferida por expressa vedação legal, conforme disposto no art. 1.619 do CC c/c o art. 45, do ECA. Confira os dispositivos citados: Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando. A tese do réu (pai biológico) foi aceita? NÃO. Estabelecida uma relação jurídica paterno-filial (vínculo afetivo) entre o adotante e o adotando, a adoção de pessoa maior não pode ser refutada pelo pai biológico que abandonou o filho, a menos que ele apresente uma justa causa. No caso concreto, o STJ entendeu que não havia justa causa nos argumentos do réu. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 Mas o art. 45 do ECA não exige consentimento dos pais? Vamos por partes. A adoção de pessoas maiores de 18 anos é regida pelo ECA, no que couber, já que o Código Civil trata do tema em apenas um único dispositivo (art. 1.619 do CC). Lendo o ECA, encontra-se a regra prevista no caput do art. 45 exigindo o consentimento dos pais para a adoção: Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando. Ocorre que o § 1º traz uma hipótese de dispensa do consentimento: § 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar. No caso concreto, o pai biológico (João) não mais exerce poder familiar sobre seu filho (André) porque este é maior de 18 anos e o poder familiar extingue-se pela maioridade (art. 1.635, III do CC). Logo, não se aplica a regra do caput do art. 45 do ECA, mas sim a exceção trazida pelo § 1º (destituído do poder familiar). Finalizando Dessa forma, como o direito em discussão está relacionado com interesse individual e disponível de pessoa plenamente capaz e que o exercício da autonomia da vontade do maior de 18 anos não depende mais do consentimento de seus pais ou de seu representante legal, não se aplica o art. 45 do ECA à adoção de maior de idade. Incide, no caso, a regra prevista no art. 48 do ECA: Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos. Assim, sendo possível ao filho maior buscar suas origens biológicas, partindo-se de uma interpretação teleológica desse dispositivo, é possível reconhecer também o direito de afastá-las por definitivo, por meio de adoção quando ele atingir a maioridade. ALIMENTOS Direito a alimentos pelo rompimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo É juridicamente possível o pedido de alimentos decorrente do rompimento de união estável homoafetiva. STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.467-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/3/2015 (Info 558). Imagine a seguinte situação adaptada: Pedro e Carlos viviam em união estável homoafetiva há 15 anos, quando decidiram se separar. Ocorre que Pedro está severamente doente e não tem muitos recursos financeiros, enquanto que Carlos apresenta boas condições materiais. Diante disso, Pedro ajuizou ação de alimentos contra Carlos pedindo o pagamento de pensão alimentícia, nos termos do art. 1.694 do CC: Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 O pedido de Pedro encontra amparo no ordenamento jurídico? É possível a prestação de alimentos em caso de rompimento de união estável homoafetiva? SIM. É juridicamente possível o pedido de alimentos decorrente do rompimento de união estável homoafetiva. Segue abaixo o resumo dos principais argumentos do Min. Luis Felipe Salomão: Para o STF e o STJ, as uniões estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo são juridicamente viáveis e protegidas pela CF/88, com base nos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e do repúdio à discriminação de qualquer natureza. O STF, ao interpretar o art. 1.723 do CC à luz da CF/88, afirmou que não se pode impedir o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Logo, o reconhecimento da união estável homoafetiva deve ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva (ADPF 132/RJ e ADI 4.277/DF). A legislação que regula a união estável deve ser interpretada de forma expansiva e igualitária, permitindo que as uniões homoafetivas tenham o mesmo regime jurídico protetivo conferido aos casais heterossexuais, trazendo efetividade e concreção aos princípios da dignidade da pessoa humana, da não discriminação, igualdade, liberdade, solidariedade, autodeterminação, proteção das minorias, busca da felicidade e ao direito fundamental e personalíssimo à orientação sexual. A igualdade e o tratamento isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à autoafirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias, sendo o alicerce jurídico para a estruturação do direito à orientação sexual como direito personalíssimo, atributo inseparável e incontestável da pessoa humana. Em suma: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se for garantido o direito à diferença. Como a união estável homoafetiva é entidade familiar, não há como afastar da relação de pessoas do mesmo sexo a obrigação de sustento e assistência técnica, protegendo-se, em última análise, a própria sobrevivência do mais vulnerável dos parceiros. O direito a alimentos do companheiro que se encontra em situação precária e de vulnerabilidade assegura o mínimo existencial, com a preservação da dignidade do indivíduo. O projeto de vida advindo do afeto, nutrido pelo amor, solidariedade, companheirismo, alcança também o amparo material dos componentes da união, até porque os alimentos não podem ser negados a pretexto de uma preferência sexual diversa. BEM DE FAMÍLIA Possibilidade de penhora de bem de família por má-fé do devedor A renúncia ao bem de família é válida? O devedor pode oferecer seu bem de família para ser penhorado? Em regra, NÃO. O STJ possui diversos julgados afirmando que a proteção conferida ao instituto de bem de família pela Lei 8.009/90 é uma norma cogente, uma questão de ordem pública. Logo, não se admite que o titular desse benefício renuncie à sua proteção. Exceção: não se deve desconstituir a penhora de imóvel sob o argumento de se tratar de bem de família na hipótese em que, mediante acordo homologado judicialmente, o executado tenha pactuado com o exequente a prorrogação do prazo para pagamento e a redução do valor de Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante| 11 dívida que contraíra em benefício da família, oferecendo o imóvel em garantia e renunciando expressamente ao oferecimento de qualquer defesa, de modo que, descumprido o acordo, a execução prosseguiria com a avaliação e praça do imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.461.301-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/3/2015 (Info 558). Imagine a seguinte situação hipotética: João fez um empréstimo de R$ 300 mil com o banco “XXX” para reformar a casa em que vivia com a família e, como garantia, assinou notas promissórias. Como o débito não foi pago, o banco ajuizou execução por título extrajudicial contra o devedor. No curso do processo, foi celebrado acordo, homologado pelo juiz, por meio do qual o devedor propôs o pagamento da dívida em valor inferior ao cobrado e, em contrapartida, o banco pediu que ficasse penhorada a casa em que João morava com sua família como garantia. Ocorre que João descumpriu o acordo e não pagou aquilo que foi combinado, razão pela qual o credor requereu o prosseguimento do feito com a alienação do bem penhorado. O devedor, por sua vez, pediu a desconstituição da penhora incidente sobre o imóvel residencial, argumentando tratar-se de bem de família e, portanto, impenhorável. A renúncia ao bem de família é válida? O devedor pode oferecer seu bem de família para ser penhorado? REGRA: NÃO. O STJ possui diversos julgados afirmando que a proteção conferida ao instituto de bem de família pela Lei n. 8.009/90 é uma norma cogente, uma questão de ordem pública. Logo, não se admite que o titular desse benefício renuncie à sua proteção. Nesse sentido: STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 537.034/MS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/08/2014. Assim, em regra, a jurisprudência do STJ entende que o bem de família é impenhorável, mesmo quando indicado à constrição pelo próprio devedor. EXCEÇÃO: Na hipótese acima narrada, o STJ entendeu que a situação em exame apresenta certas peculiaridades que tornam válida a renúncia. Com efeito, no caso em análise, o executado agiu em descompasso com o princípio nemo venire contra factum proprium, adotando comportamento contraditório, num momento ofertando o bem à penhora e, no instante seguinte, arguindo a impenhorabilidade do mesmo bem, o que evidencia a ausência de boa-fé. Essa conduta antiética deve ser coibida, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário, que validou o acordo celebrado. Se, por um lado, é verdade que a Lei n. 8.009/90 veio para proteger o núcleo familiar, resguardando-lhe a moradia, não é menos correto afirmar que aquele diploma legal não pretendeu estimular o comportamento dissimulado. Como se trata de acordo judicial celebrado nos próprios autos da execução, a garantia somente podia ser constituída mediante formalização de penhora incidente sobre o bem. Nada impedia, no entanto, que houvesse a celebração do pacto por escritura pública, com a constituição de hipoteca sobre o imóvel e posterior juntada aos autos com vistas à homologação judicial. Se tivesse ocorrido dessa forma, seria plenamente válida a penhora sobre o bem em razão da exceção à impenhorabilidade prevista no inciso V do art. 3º da Lei 8.009/1990, não existindo, portanto, nenhuma diferença substancial entre um ato e outro no que interessa às partes. Acrescente-se, finalmente, que a decisão homologatória do acordo tornou preclusa a discussão da matéria, de forma que o mero inconformismo do devedor contra uma das cláusulas pactuadas, manifestado tempos depois, quando já novamente inadimplentes, não tem força suficiente para tornar ineficaz a avença. Dessa forma, não se pode permitir, em razão da boa-fé que deve reger as relações jurídicas, a desconstituição da penhora, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 DIREITO EMPRESARIAL SOCIEDADE LIMITADA Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante de sociedade por quotas de responsabilidade limitada Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada e continua suas atividades. Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade. Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios. O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de APURAÇÃO DE HAVERES. Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante? SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ: • O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução parcial de sociedade limitada; • No entanto, o critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado; • Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que melhor reflete o valor patrimonial da empresa; • O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente. SEGUNDO O CPC 2015: A primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social (art. 604, II). Somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres, é que será adotado o “balanço de determinação” (art. 606). Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após março de 2016, o mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606, que irá ser bastante cobrado nas provas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2015 (Info 558). Dissolução de uma sociedade: A dissolução de uma sociedade pode ser: a) Parcial: quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela é preservada. b) Total: quando a sociedade é extinta. Dissolução parcial de sociedade: Ocorre, portanto, quando um ou alguns se desligam da sociedade, mas ela continua existindo. A isso também se dá o nome de “liquidação parcial da sociedade”. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte daquela sociedade. Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a sociedade em relação aos demais sócios. Apuração de haveres O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de apuração de haveres e que está previsto no art. 1.031 do CC e no art. 599, III, do CPC 2015. Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado. § 1º O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota. § 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias,a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário. Critérios para a apuração de haveres do sócio retirante A tarefa de calcular o valor que será pago ao sócio que deixa a sociedade, na maioria das vezes, não é algo simples, especialmente em se tratando de sociedades limitadas de grande porte. Existem diversos critérios e metodologias para se calcular esse valor, sendo necessária, na maior parte dos casos, uma perícia contábil para se apurar a quantia efetivamente devida. Critério previsto no contrato social Os critérios para a apuração de haveres do sócio retirante estão previstos, normalmente, no próprio contrato social. No entanto, mesmo que o contrato social eleja o critério para a apuração de haveres, esses parâmetros somente prevalecerão caso haja a concordância das partes (inclusive do sócio que está saindo) com o resultado alcançado. Em outras palavras, se o sócio retirante não concordar com o resultado obtido pela aplicação do critério de apuração de haveres previsto no contrato social, será permitido que ele proponha ação judicial a fim de que seja determinada a melhor metodologia de liquidação. Essa ação é denominada de “ação de dissolução parcial de sociedade” e, apesar de sempre ter sido utilizada na prática, somente agora passou a ser disciplinada pela lei, estando prevista nos arts. 599 a 609 do CPC 2015. Pode-se dizer, portanto, que esse tema é uma das novidades do novo CPC. Obs: quando o CPC 2015 estiver em vigor, não deixe de ler os arts. 599 a 609 do novo Código porque eles serão obrigatoriamente cobrados nas provas de Direito Empresarial. Por enquanto, não é necessário. Qual é o melhor critério de liquidação de haveres? Para o STJ, o melhor critério de liquidação de haveres é o chamado “balanço de determinação”. O balanço de determinação é um balanço patrimonial especial, elaborado por perito contábil, por meio do qual se calcula o valor patrimonial real da empresa. Em linhas simples, o valor patrimonial da empresa é obtido dividindo-se o patrimônio líquido da sociedade pelo número de quotas dos sócios. O valor do patrimônio líquido, por sua vez, irá variar conforme o critério adotado para elaboração do balanço. Por isso, na dissolução parcial, deve-se utilizar um levantamento do balanço que confira ao patrimônio líquido – e, por conseguinte, ao valor patrimonial – um valor real. Esse balanço é justamente o balanço de determinação. O balanço de determinação utiliza um critério diferenciado de avaliação do ativo, que permite uma apuração fiel do patrimônio líquido, baseia-se no valor de mercado, correspondendo a uma simulação da realização de todos os bens do ativo e da satisfação do passivo social, com vistas a apurar qual seria o Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 acervo líquido da sociedade se ela estivesse sendo totalmente dissolvida naquela data. O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente. Desse modo, o entendimento atual do STJ é o seguinte: O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução parcial de sociedade limitada; O critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes quanto ao resultado alcançado; Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que melhor reflete o valor patrimonial da empresa. O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de determinação na apuração de haveres do sócio dissidente. E com o CPC 2015: O CPC 2015 reforça a ideia de que a primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social. Veja o que diz o art. 604, II: Art. 604. Para apuração dos haveres, o juiz: I - fixará a data da resolução da sociedade; II - definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; e III - nomeará o perito. Pela redação literal do novo CPC, somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres, é que seria adotado o “balanço de determinação”. Confira: Art. 606. Em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, como critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se por referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma. Parágrafo único. Em todos os casos em que seja necessária a realização de perícia, a nomeação do perito recairá preferencialmente sobre especialista em avaliação de sociedades. Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após março de 2016, o mais seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606, que irá ser cobrado à exaustão nas provas. FALÊNCIA Capacidade processual do falido para a propositura de ação rescisória O falido poderá propor ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou a falência? SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença transitada em julgado que decretou a sua falência. Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem mesmo em caráter extraordinário. Diz-se que ela sofre uma capitis diminutio (diminuição de sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastada da administração dos seus bens. Sendo assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa. No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal. Desse modo, o STJ entende que o falido mantém a legitimidade para a propositura de ações pessoais, podendo, inclusive, ajuizar ação rescisória para tentar reverter o decreto falimentar. STJ. 3ª Turma. REsp 1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/3/2015 (Info 558). Depois que é decretada a falência, o falido poderá propor ações judiciais tratando sobre os bens da massa falida? NÃO. Depois que é decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade jurídica e não poderá postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem mesmo em caráter extraordinário. Os direitos e créditos que pertencem à sociedade empresária falida passam a ser de interesse da massa falida e somente podem ser requeridos judicialmente pelo síndico (administrador da massa falida). A sociedade empresária falida tem o direito de fiscalizar a administração da massa falida, mas isso não significa que possa ajuizar ações no lugar da massa falida. O máximo que a sociedade empresária podefazer é intervir como assistente nas ações em que a massa falida esteja presente. A falência de um empresário ou sociedade empresária é decretada por meio de uma sentença, após processo judicial. Depois de transitada em julgado, é possível a propositura de ação rescisória para desconstituir a sentença que decretou a falência? Esta ação poderá ser proposta pelo falido? SIM. O falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença transitada em julgado que decretou a sua falência. Como vimos na resposta anterior, com a decretação da falência, o falido realmente sofre uma capitis diminutio (diminuição de sua capacidade) referente aos direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastado da administração dos seus bens. Sendo assim, num processo em que se discuta, por exemplo, a venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa. Entretanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal. Com efeito, a decisão que decreta a falência, conquanto acarrete ao falido uma capitis diminutio (diminuição da capacidade) em relação aos seus bens, não o torna incapaz, de sorte que ele mantém a legitimidade para a propositura de ações pessoais. Ora, dizer que o falido não pode propor ação rescisória contra o decreto falencial é dar uma extensão que a lei não deu. Desse modo, ele tem todos os poderes processuais e todos os poderes como sujeito de direito para tentar reverter o referido decreto falimentar. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO COLETIVO Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que adiantar custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será condenado em honorários advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé. O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil pública movida por SINDICATO na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa. STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/3/2015 (Info 558). Se o Ministério Público, a Defensoria Pública, uma associação ou qualquer outro legitimado for ajuizar uma ação civil pública, antes de propô-la, esse autor precisará recolher custas processuais? NÃO. Com o objetivo de facilitar a propositura de ações coletivas, o legislador isentou o autor da ACP de adiantar as custas processuais afirmando ainda que não haverá condenação em honorários advocatícios, custas e despesas processuais. Isso está previsto tanto no art. 18 da Lei n. 7.347/85 como no art. 87 do CDC. Veja: Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais. Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorário de advogados, custas e despesas processuais. E se o autor for um sindicato? Se um sindicato ajuizar ACP na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa, ele poderá também se valer do art. 18 da Lei n. 7.347/85? SIM. O art. 18 da Lei n. 7.347/1985 é aplicável à ação civil pública movida por sindicato na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa. O STJ entende que é cabível o ajuizamento de ação civil pública em defesa de direitos individuais homogêneos não apenas relacionados com matérias de direito do consumidor, mas também em relação a outros direitos. Assim, deve ser reconhecida a legitimidade do sindicato para ACP em defesa de interesses individuais homogêneos da categoria que representa. Sendo permitido o ajuizamento de ACP, não há porque não aplicar em favor do sindicato autor o art. 18 da Lei n. 7.347/85, com a isenção de custas. AÇÃO MONITÓRIA Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a entrega de determinado bem móvel com base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo. Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que não eram abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória é denominada de “embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são classificados como uma forma de defesa, sendo semelhante à contestação. Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas? NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação monitória. Isso porque os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa. Vimos acima que é como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para apresentar contestação. Isso vale tanto para o CPC 1973 como para o novo CPC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558). AÇÃO MONITÓRIA Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa com base em prova escrita que não tenha eficácia de título executivo. Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito. Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de conta- corrente. O cheque prescrito e o contrato bancário de abertura de conta são provas escritas do débito, mas que não se constituem em título executivo. Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução. Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de cobrança. Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe ação monitória. Novidades do CPC 2015 Com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que não eram abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente. CPC 1973 CPC 2015 A ação monitória poderia ser utilizada para que o autor exigisse do devedor (art. 1.102-A): o pagamento de soma em dinheiro; a entrega de coisa fungível; ou a entrega de determinado bem móvel. A ação monitória poderá ser utilizada para que o autor exija do devedor (art. 700): o pagamento de quantia emdinheiro; a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel; o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer. PROCEDIMENTO Obs: abaixo irei explicar o assunto conforme o CPC 2015. Assim, se entender que não é necessário estudar este ano, basta ler a parte em amarelo no topo do julgado e guardar o material para o ano que vem. 1. PETIÇÃO INICIAL Nesta exordial, o autor pede que o réu pague a quantia, entregue a coisa ou cumpra o comportamento exigido (fazer ou deixar de fazer algo combinado). A petição deve ser instruída com prova escrita sem eficácia de título executivo. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 O CPC 1973 não trazia os requisitos da petição inicial da ação monitória. O CPC 2015, por outro lado, afirma que, na petição inicial, o autor deverá explicitar, conforme o caso: I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo; II - o valor atual da coisa reclamada; III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido. O valor da causa deverá corresponder à importância prevista nesses incisos I a III acima listados. Caso a petição inicial não preencha esses requisitos, ela deverá ser indeferida. A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida antecipadamente. A súmula 339-STJ dispõe o seguinte: É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública. O teor da súmula passou a constar expressamente no § 6º do art. 700 do CPC 2015: “§ 6º É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública.” 2. JUIZ PODERÁ ADOTAR UMA DAS SEGUINTES CONDUTAS: a) Emendar; b) Receber como procedimento ordinário; c) Indeferir a PI; d) Aceitar a monitória: reconhece evidente o direito do autor e manda expedir um mandado monitório para que o réu pague a dívida, entregue a coisa ou execute a obrigação combinada no prazo de 15 dias. CPC/2015. Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa. 3. CITAÇÃO DO RÉU: Admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para o procedimento comum (§ 7º do art. 700 do CPC 2015). Súmula 282-STJ: Cabe a citação por edital em ação monitória. 4. POSTURAS DO RÉU: O réu citado poderá assumir uma das seguintes posturas: a) Cumprir a obrigação. Se o réu cumprir o mandado monitório, ele recebe alguma espécie de benefício? CPC 1973 CPC 2015 O réu que cumprisse o mandado ficava isento do pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios. O réu que cumprir o mandado no prazo ficará isento do pagamento apenas das custas processuais (continuará tendo que pagar os honorários de 5% sobre o valor da causa). Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 b) Não pagar nem se defender. Se o réu não realizar o pagamento nem apresentar os embargos monitórios, haverá a constituição de um título executivo judicial contra ele, independentemente de qualquer formalidade (§ 2º do art. 701 do CPC 2015). Sendo ré a Fazenda Pública e ela não apresentar os embargos monitórios, deverá haver remessa necessária, observando-se, a seguir, no que couber, as regras do cumprimento de sentença. c) Defender-se. A defesa na ação monitória é denominada de “embargos à ação monitória”. CPC 2015. Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no prazo previsto no art. 701, embargos à ação monitória. Qual é a natureza jurídica dos embargos à ação monitória? Os embargos monitórios são classificados como uma forma de defesa, sendo semelhantes à contestação. Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas? NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação monitória. Isso porque os embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa. Vimos acima que é como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para apresentar contestação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558). Quais as matérias que podem ser alegadas nesses embargos? Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que poderia ser alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Se os embargos forem parciais, isto é, não falarem sobre parte do que o autor pede Neste caso, os embargos poderão ser autuados em apartado e, quanto à parte que não foi atacada nos embargos, o juiz poderá constituir, desde logo, título executivo judicial. Confira: § 7º A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais, constituindo-se de pleno direito o título executivo judicial em relação à parcela incontroversa. Se o réu alega que o autor está pedindo um valor superior ao que é devido Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, ele já tem que declarar de imediato na petição dos embargos o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado da dívida (§ 2º do art. 702). Se ele não apontar o valor correto ou não apresentar o demonstrativo, os embargos serão liminarmente rejeitados, se esse for o seu único fundamento. Se houver outro fundamento (além do argumento de que o valor está acima do devido), os embargos serão processados, mas o juiz deixará de examinar a alegação de excesso. Apresentando os embargos, haverá formação do título executivo? Por enquanto não. Pelo menos até a sentença de 1º grau. Isso porque o § 4º do art. 702 prevê o seguinte: § 4º A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do art. 701 até o julgamento em primeiro grau. O autor da monitória (embargado) irá ter a oportunidade de se manifestar sobre o conteúdo dos embargos à ação monitória? SIM. O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15 dias. Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 Além de apresentar os embargos, o réu poderá oferecer reconvenção? SIM. Na ação monitória admite-se a reconvenção. É vedado, no entanto, o oferecimento de reconvenção à reconvenção, ou seja, se o réu da ação monitória apresentar reconvenção, o autor/reconvindo não poderá apresentar uma outra reconvenção. 5. JUIZ DEPOIS QUE RECEBE OS EMBARGOS: Se o juiz REJEITAR os embargos, haverá a formação de título executivo judicial contra o réu, prosseguindo-se o processo como cumprimento de sentença, no que for cabível. Se o juiz ACOLHER os embargos, a ação monitória é julgada improcedente, demonstrando que o réu nada deve, não tem que cumprir nenhuma obrigação para com o autor. 6. MÁ-FÉ DAS PARTES: O juiz pode condenar o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao pagamento, em favor do réu, de multa de até 10% sobre o valor da causa. De igual forma, o juiz poderá condenar o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória ao pagamento de multa de até 10% sobre o valor atribuído à causa, em favor do autor. 7. RECURSO: O recurso cabível contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos é a APELAÇÃO. AÇÃO DE EXIGIR CONTAS Não cabimento em caso de contratos de mútuo e financiamento Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a ação de prestação de contas. O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações: 1) O nome da ação passou a ser “ação de exigircontas”; 2) O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza jurídica de requisito de admissibilidade do processo. Trata-se de um pressuposto de validade objetivo extrínseco. STJ. 2ª Seção. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/3/2015 (Info 558). Ação de prestação de contas (ação de exigir contas) No CPC 1973, há a previsão de um procedimento especial chamado de “ação de prestação de contas”. Ele está disciplinado nos arts. 914 a 919. Sobre o tema, o que muda com o CPC 2015? 1) O nome “ação de prestação de contas” foi alterado para “ação de exigir contas” (art. 550). 2) Foi modificada a finalidade da ação e a pessoa legitimada para propô-la: Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 CPC 1973 CPC 2015 A ação de prestação de contas pode ser proposta por dois legitimados: a) pela pessoa que tenha o direito de exigir a prestação de contas. Ex: os sócios que não participam da administração de uma sociedade podem exigir a prestação de contas do sócio gerente. b) pela pessoa que tenha a obrigação de prestar as contas. Ex: o sócio gerente pode ajuizar ação de prestação de contas em face dos demais sócios para, em juízo, demonstrar como foram utilizados os recursos. A ação somente pode ser proposta na situação “a”, ou seja, pela pessoa que tem o direito de exigir a prestação de contas. Não há mais duplicidade na legitimação, sendo legitimado ativo apenas o sujeito que tem o direito de receber as contas e legitimado passivo o sujeito que tem o dever de prestá-las (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Método, 2014). 3) Haverá a ampliação do prazo para resposta do réu: CPC 1973 CPC 2015 Depois de citado, o réu tem o prazo de 5 dias para apresentar a prestação de contas exigida pelo autor ou contestar a ação. Depois de citado, o réu tem o prazo de 15 dias para apresentar a prestação de contas exigida pelo autor ou oferecer contestação. 4) O CPC 2015 traz regras mais detalhadas sobre o procedimento a ser seguido. Administração de valores: Tanto no CPC 1973 como no CPC 2015, para que seja cabível a ação de prestação de contas (ação de exigir contas), é necessário que determinada pessoa tenha autorizado que outra recebesse certos recursos e aplicasse esse dinheiro em finalidades próprias. Essa obrigação de prestar contas pode ser derivada de um contrato ou da própria lei. Exemplos decorrentes de contrato: mandato, representação mercantil etc. Exemplos decorrentes da lei: gestão de negócios, tutela, curatela etc. Ação de prestação de contas (ação de exigir contas) proposta por correntista contra o banco: Um dos exemplos comuns de ação de prestação de contas (ação de exigir contas) é aquela proposta pelo correntista em face do banco. Foi editada, inclusive, uma súmula para reconhecer essa possibilidade: Súmula 259-STJ: A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta-corrente bancária. Obs: a súmula continua válida com o CPC 2015, mas a redação da súmula deverá ser atualizada com o novo nome do procedimento (ação de exigir contas). Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 22 Desse modo, “A”, analisando seu saldo da conta bancária, desconfia que houve saques indevidos realizados pela instituição financeira. “A” poderá ajuizar ação de exigir contas contra o banco, visando a obter esclarecimentos acerca da cobrança de taxas, tarifas e/ou encargos em sua conta? SIM, devendo o banco, após ser citado, apresentar tais contas no prazo de 15 dias (art. 550 do CPC 2015). As contas deverão ser apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver (art. 551 do CPC 2015). Prestadas as contas, o correntista, também no prazo de 15 dias, irá dizer se concorda ou não com os valores apresentados. Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados (§ 1º do art. 551). Vamos imaginar agora uma situação um pouco diferente também envolvendo banco e correntista: João celebrou contrato de mútuo (“empréstimo de dinheiro”) com o Banco “XX”. O mutuário (devedor) desconfia que o banco cobrou encargos excessivos e critérios abusivos no cálculo das prestações de seu contrato. É possível que João ajuíze ação de prestação de contas (ação de exigir contas) contra o banco? O mutuário pode ajuizar ação de exigir contas do banco? NÃO. O STJ decidiu que nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a ação de prestação de contas. A ação de prestação de contas (ação de exigir contas) tem por finalidade, essencialmente, dirimir incertezas surgidas a partir da administração de bens, negócios e interesses alheios, cabendo ao gestor a apresentação minuciosa de todas as receitas e despesas envolvidas na relação jurídica e, ao final, a exibição do saldo, que tanto pode ser credor quanto devedor. A ação fundamenta-se exclusivamente na existência ou não do direito de exigir essas contas, sem que seja necessário que se invoque alguma desconfiança sobre o trabalho exercido pelo administrador ou algum saldo supostamente existente em razão da atuação deste. Assim, na ação de prestação de contas (ação de exigir contas), é fundamental a existência, entre autor e réu, de relação jurídica de direito material em que um deles administre bens, direitos ou interesses alheios. Sem essa relação, inexiste o dever de prestar contas No contrato de mútuo bancário, a obrigação do mutuante (no caso, o banco) cessa com a entrega da coisa (na hipótese, o dinheiro). Nesse contexto, não há obrigação da instituição financeira em prestar contas, porquanto a relação estabelecida com o mutuário não é de administração ou gestão de bens alheios, sendo apenas um empréstimo. Conclui-se, então, pela inexistência de interesse de agir do cliente/mutuário para propor ação de prestação de contas, haja vista que o mutuante/instituição financeira exime-se de compromissos com a entrega da coisa. Contrato de conta-corrente X contrato de mútuo bancário Importante ressaltar que a situação analisada é diversa da regulada na Súmula 259 do STJ. Aqui, estamos falando de uma pessoa que fez contrato de mútuo (“empréstimo”) com o banco: não cabe ação de prestação de contas (ação de exigir contas). As partes assinam o contrato e o mutuário recebe o dinheiro para usar como quiser. A súmula 259 do STJ trata da pessoa que mantém um contrato de conta-corrente com o banco por meio do qual a instituição financeira fica na posse do dinheiro do cliente e irá administrá-lo: nesse caso, cabe ação de prestação de contas (ação de exigir contas). Recurso repetitivo: A questão foi julgada segundo a sistemática do recurso repetitivo, tendo sido firmada a seguinte tese: “Nos contratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agir para a ação de prestação de contas.” Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 23 Novo CPC O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações: 1) O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”; 2) O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza jurídica de requisito de admissibilidadedo processo. Trata-se de um pressuposto de validade objetivo extrínseco. DIREITO PENAL PENA DE MULTA Execução da pena de multa não paga Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública. STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015. SANÇÃO PENAL Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal. Existem duas espécies de sanção penal: 1) Pena. 2) Medida de segurança. Veja abaixo o esquema que mostra as espécies de sanção penal e suas subespécies: 1.1 Privativas de liberdade 1) PENAS 1.2 Restritivas de direito 1.3 Multa SANÇÃO PENAL 2.1 Detentiva 2) MEDIDAS DE SEGURANÇA 2.2 Restritiva MULTA Conceito Multa é uma espécie de pena, por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma quantia em dinheiro que será revertida em favor do Fundo Penitenciário. Pagamento da multa A pena de multa é fixada na própria sentença condenatória. Depois que a sentença transitar em julgado, o condenado terá um prazo máximo de 10 dias para pagar a multa imposta (art. 50 do CP). O Código prevê a possibilidade de o condenado requerer o parcelamento da multa em prestações mensais, iguais e sucessivas, podendo o juiz autorizar, desde que as circunstâncias justifiquem (ex: réu muito pobre, multa elevadíssima etc.). Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 24 O parcelamento deverá ser feito antes de esgotado o prazo de 10 dias. O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará o número de prestações (art. 169, § 1º da LEP). Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá revogar o benefício (art. 169, § 2º da LEP). O que acontece caso o condenado não pague nem parcele a multa no prazo de 10 dias? Antes da Lei n. 9.268/96: se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser convertida em pena de detenção. Em outras palavras, a multa era transformada em pena privativa de liberdade. Atualmente: a Lei n. 9.268/96 alterou o art. 51 do CP e previu que, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser cobrada do condenado pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal. Importante, no entanto, esclarecer que, mesmo com essa mudança feita pela Lei n. 9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal, ou seja, permanece sendo uma pena. O que essa Lei fez foi mudar a consequência do não pagamento da multa e a sua forma de cobrança: antes, a multa não paga virava pena de detenção; agora, ela deve ser cobrada por meio de execução fiscal. Quem executa a pena de multa? A pena de multa é executada pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal que tramita na vara de execuções fiscais. O rito a ser aplicado é o da Lei n. 6.830/80. Não se aplica a Lei n. 7.210/84 (LEP). A execução da pena de multa ocorre como se estivesse sendo cobrada uma multa tributária. Exemplo: João foi sentenciado por roubo e o juiz de direito (Justiça Estadual) o condenou a 4 anos de reclusão e mais 10 dias-multa no valor de meio salário mínimo cada. Depois do trânsito em julgado, o condenado foi intimado para pagar a pena de multa no prazo de 10 dias, mas não o fez. Diante disso, o escrivão da vara irá fazer uma certidão na qual constarão as informações sobre a condenação e o valor da multa e o magistrado a remeterá para a Procuradoria Geral do Estado. Um dos Procuradores do Estado irá ajuizar, em nome do Estado, uma execução fiscal que tramitará na vara de execuções fiscais (não é na vara de execuções penais). Obs: se João tivesse sido condenado pela Justiça Federal, quem iria ingressar com a execução seria a União, por intermédio da Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN). O Ministério Público pode executar a pena de multa? NÃO. A legitimidade para executar a pena de multa é da Fazenda Pública (União ou Estado-membro), a depender da “Justiça” que condenou o réu e esta execução só pode ser proposta por meio da Procuradoria jurídica da Fazenda Pública (PFN ou PGE). A Lei n. 9.268⁄96, ao alterar a redação do art. 51 do CP, afastou a titularidade do Ministério Público para cobrar a pena de multa. Assim, a legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública (Súmula 521-STJ). Informativo 558-STJ (19/03 a 06/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 25 PENA DE MULTA Legitimidade do MP para promover medida que garanta o pagamento de multa penal O Ministério Público tem legitimidade para promover medida assecuratória que vise à garantia do pagamento de multa imposta por sentença penal condenatória. É certo que, com a edição da Lei 9.268/1996, que deu nova redação ao art. 51 do CP, a legitimidade para a cobrança da pena de multa passou a ser da Fazenda Pública. No entanto, a pena de multa continua tendo natureza jurídica de sanção penal e, no caso em tela, não se está discutindo a legitimidade do MP para cobrança de pena de multa, mas sim para promover medida assecuratória, providência que está assegurada pelo art. 142 do CPP e pela própria CF/88, quando esta prevê que o MP é titular da ação penal. Enquanto não há trânsito em julgado da condenação, a Fazenda Pública não pode tomar qualquer providência relacionada com a cobrança da pena de multa. Assim, se não fosse permitido que o MP atuasse nesse caso, ninguém mais teria legitimidade para essas medidas acautelatórias, já que a atuação da Fazenda Pública na execução da multa penal só ocorre muito mais tarde, após o trânsito em julgado. STJ. 6ª Turma. REsp 1.275.834-PR, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em 17/3/2015 (Info 558) Execução da multa não paga Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública. Não se deve confundir legitimidade para executar a pena de multa com legitimidade para medidas processuais destinadas a garantir o pagamento da multa O Ministério Público não possui legitimidade para executar a pena de multa (Súmula 521-STJ). No entanto, ele possui legitimidade para, antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, propor medidas acautelatórias destinadas a garantir o pagamento da multa. Exemplo concreto: O réu foi condenado por crimes contra o sistema financeiro nacional e recorreu contra a sentença. O Ministério Público, por seu turno, apresentou incidente de “Arresto Prévio de Bens Móveis e Indisponibilidade de Ativos Financeiros” contra o réu pedindo, em suma, que os bens a ele pertencentes fossem retidos para, no futuro, caso a condenação fosse mantida, servissem para pagamento da multa penal e das custas. O juiz deferiu o pedido. O réu recorreu alegando que, como o MP não tem legitimidade para executar a pena de multa, consequentemente ele também não teria legitimidade para propor o arresto cautelar de bens que serão destinados ao pagamento da multa. O que o STJ decidiu? O MP tem legitimidade para o pedido formulado? SIM. O Ministério Público tem legitimidade para promover medida assecuratória que vise à garantia do pagamento de multa imposta por sentença penal condenatória. É certo que, com a edição da Lei n. 9.268/1996, que deu nova redação ao art. 51 do CP, a legitimidade para a cobrança da pena de multa passou a ser da Fazenda Pública. No
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