Buscar

Comentários a respeito da Lei de Abuso de Autoridade

Prévia do material em texto

Comentários a respeito da Lei de Abuso de Autoridade
RECOMENDAR6COMENTAR
A
Publicado por Analuiza Marcondes
há 2 anos
13,5K visualizações
Palavras chaves: Lei de Abuso de Autoridade – Requisitos – Competência
INTRODUÇÃO
A Lei do Abuso de autoridade foi inspirada no artigo 5º, inciso XXXIV, alíneaa da Constituição Federal, que trata do direito de petição em face dos Poderes Públicos em defesa de direitos contra a ilegalidade ou abuso de poder.
Dai surgiu o direito de representação contra às autoridades que no exercício funcional cometerem abusos, frisando que a responsabilidade deste funcionário público poderá ocorrer nas esferas administrativa, cível e penal.
Tal exercício de direito será feito por meio de duas vias e deverá conter a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas suas circunstâncias e qualificação do acusado.
É sabido que a existência da Lei do abuso de autoridade, veio para proteger os direitos daqueles que eram ameaçados por abusos de certas autoridades, com o intuito de reprimir tais condutas e penalizá-las de acordo com as infrações cometidas.
ABUSO DE AUTORIDADE
Lei 4.898/65
O artigo 1º da Lei 4.898/65 foi consagrado a partir do artigo 5º, inciso XXXIV, alínea a, da Constituição Federal, em que ensinava ser assegurados a todos, independente de pagamento de taxas, o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra a ilegalidade ou abuso de poder.
Trata-se do direito de representação associado às autoridades, em que no exercício funcional vierem a cometer abusos, termos que estão regulamentados na Lei 4.898/65.
Importante destacar que a responsabilidade do funcionário público poderá ocorrer na esfera administrativa, cível e penal.
O artigo 2º da lei acima citada, trata da forma em que será exercido o direito de representação, qual seja por meio de petição escrita dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar a respectiva sanção, à autoridade civil ou militar culpada e dirigida ao Ministério Público que tiver competência para iniciar o processo crime contra a autoridade culpada. Tal representação será feita por meio de duas vias e deverá conter a exposição do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e o rol de testemunhas (no máximo 3).
A competência administrativa possui órgãos estruturados que visam o controle e fiscalização das atividades dos funcionários, ou seja, as Corregedorias e ou as Ouvidorias. No caso de um juiz, por exemplo, ser acusado de abuso de poder, deverá se encaminhada uma petição à Corregedoria Geral da Justiça, a qual irá, caso seja comprovado tal abuso, aplicar a sanção cabível ao magistrado.
Na seara penalista, embora a Lei preveja que a representação deverá ser dirigida ao Ministério Público, por assim dizê-lo competente, e para que assim possa dar início a ação penal contra a autoridade apontada, contudo, não há impedimento algum, que negue ao interessado dirigir o seu reclamo ao juiz ou a polícia, pois tais autoridades se incumbirão de encaminhar a representação aos órgãos competentes.
Importante ressaltar que o crime de abuso de autoridade não faz parte do rol das infrações penais atribuídas ao juízo federal, por não estar expresso no artigo 109 da Constituição Federal, caso em que em regra deverá ser apurado na esfera estadual. Salvo, em casos que a autoridade que comete o crime possuir foro de prerrogativa de função, ou em casos em que o delito atinge o Estado, onde será competente a esfera federal.
Já a Justiça Militar não possui competência para julgar crimes de abuso de autoridade, salvo quando cometidos contra civis, uma vez que não há previsão típica da infração no Código Penal Militar, razão pela qual será competente a Justiça Estadual.
A súmula 172 do STJ diz que:
“Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.”
No tocante a representação deve-se frisar que a petição deverá ser o mais detalhada possível, pois esta tem o objetivo de facilitar a análise do fato ocorrido, por isso, deverá relatar exatamente o que ocorreu, razão pela qual deverá conhecer a autoridade que sofre a imputação criminosa e a maneira pela qual o representante pretende provar o fato alegado.
Após ser apresentada a representação, o Ministério Público deverá deverá caso encontre o justo motivo, requisitar a instauração de inquérito policial para a formação de prova necessária à sustentação de uma futura denúncia. No entanto o artigo 2º, parágrafo único dessa Lei, nada menciona sobre a formação de provas para oferecimento da denúncia, caso em que poderá o autor da representação poderá oferecer provas juntamente com a descrição do ocorrido, juntamente até com a inquirição de testemunhas.
Em suma a representação não é condição de procedibilidade para a ação penal por crime de abuso de autoridade.
Nos caso de abuso de autoridade em que a ação for penal incondicionada, a falta de representação do ofendido não impede a iniciativa ou o curso da ação penal.
O artigo 3º preleciona que:
“ art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:
a) À liberdade de locomoção;
b) À inviolabilidade do domicílio;
c) Ao sigilo da correspondência;
d) À liberdade de consciência e de crença;
e) Ao livre exercício do culto religioso;
f) À liberdade de associação;
g) Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) Ao direito de reunião;
i) À incolumidade física do indivíduo;
j) Aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.”
Os delitos previstos no artigo supracitado a cima, não possuem a modalidade da forma tentada, uma vez que atentar de alguma forma contra qualquer uma delas já seria considerado um delito consumado, e o rol é taxativo.
O sujeito ativo é autoridade, assim como determina o artigo 5º desta Lei e o sujeito passivo é o Estado e também qualquer pessoa atingida pelo abuso.
O elemento subjetivo é caracterizado pelo Dolo, ou seja “ a vontade” de abusar do poder que o agente detém em nome do Estado.
Assim como o objeto material é a pessoa que foi lesada pelo abuso cometido, e o objeto jurídico principal é a dignidade da função pública e lisura do exercício da autoridade pelo Estado, entretanto, o bem jurídico é variável dependendo do bem especificamente tutelado, ou seja aqueles previstos no artigo 3º da Lei4.898/65.
Todavia é importante lembrar que, no Estado Democrático de Direito a força estatal deve ser utilizada para a garantia da ordem e da segurança de todos, embora com imparcialidade, respeitadas as regras legais e sempre voltada ao bem estar comum e não a interesse de particulares, mormemente de quem detém o poder.
No que tange a classificação do crime, podemos dizer que ele é um crimepróprio, isto é, somente poderá ser praticado por sujeito qualificado (autoridade), também é formal, haja vista não depender da ocorrência de efetivo prejuízo naturalístico para a vítima, podendo assim concretizar-se,material, no qual depende do resultado naturalístico, no tocante à incolumidade física. Possui forma livre, podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente, instantâneo, quando a consumação ocorrer em momento definido.
Pode também sofrer a forma permanente em casos como, da privação prolongada de liberdade, e poder ser tanto unissubjetivo, quando cometido por uma única pessoa, unissubsistente, quando cometido por um único ato ou como também ser plurissubsistente, dependendo do meio eleito pelo agente para a execução, razão pela qual não admite tentativa, uma vez ser equiparado ao delito consumado.
Dispõe o artigo 4º da Lei estudada:
Art. 4º. Constitui também abuso de autoridade:
a) ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sobre sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autoridade em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente ao juiz competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;d) deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie, quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa;
h) o ato lesivo da honra, ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade.”
Considera-se a autoridade, para efeitos desta Lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar ainsa que transitoriamente e sem remuneração, conforme demostra o artigo 5º da Lei 4.898/65.
O artigo 6º da Lei 4.898/65 demonstra os tipos de sanções sofridas pela autoridade que abusa de seu poder, diante das três searas, quais sejam, a administrativa, cível e penal.
A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do abuso cometido e poderá ser por meio de advertência, repreensão e suspensão do cargo, função ou posto por prazo de 5 anos a 180 dias, com perda de vencimentos e vantagens, assim como por meio da destituição de função, pela demissão e por essa a bem de serviço público.
No entanto, no caso da sanção civil, em caso que não seja possível fixar o valor do dano, irá ser constituir no pagamento de uma indenização no valor de quinhentos mil cruzeiros. Já a sanção penal será aplicada com base nos artigos42 a 56 do Código Penal e constituirá em, multa de cem a cinco mil cruzeiros; detenção por 10 anos a 6 meses; perda de cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo de até 3 anos. Tais penas poderão ser aplicadas autônomas ou cumulativamente.
Deve ser observar que quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de 1 a 5 anos.
Em relação a prescrição e diante da ausência de regulamentação deste tema na lei estudada, aquela será regulamentada através dos ensinamento da Parte Geral do Código Penal.
Trataremos de analisar o artigo 7º, em que preleciona:
Art. 7º Recebida a representação em que for solicitada a aplicação de sanção administrativa, a autoridade civil ou militar competente determinará a instauração de inquérito para apurar o fato.
§ 1º. O inquérito administrativo obedecerá às norma estabelecidas nas leis municipais, estaduais ou federais, civis ou militares, que estabeleçam o respectivo processo.
§ 2º. Não existindo no Município, no Estado ou na legislação militar normas reguladoras de inquérito administrativo serão aplicadas, supletivamente, as disposições dos artigos 210 a 255 da Lei 1.711/54.
§ 3º. O processo administrativo não poderá ser sobrestado para o fim de aguardar a decisão da ação penal ou civil.”
Neste caso, recebida a representação da vítima, a autoridade superior competente determinará a instauração de procedimento para apuração do fato, portanto, somente quando concluída a sindicância e verificada a justa causa para o processo administrativo, sendo assegurada a ampla defesa e o contraditório à autoridade acusada, este será instaurado.
Caso seja ignorada a representação do ofendido sem justa causa, esta poderá dar ensejo à pratica do crime de condescendência criminosa ou prevaricação, a ser determinada conforme a situação.
Segundo os artigo 8º, a sanção aplicada será notada na ficha funcional da autoridade civil ou militar, uma vez que tal consequência se faz importante no que tange a avaliação do mérito do funcionário que cometeu o abuso.
A inteligência do artigo 9º menciona que simultaneamente com a representação dirigida à autoridade administrativa ou independentemente dela, poderá ser promovida, pela vítima do abuso, a responsabilidade civil ou penal ou ambas, da autoridade culpada.
Devendo a ação penal ser iniciada, independentemente de inquérito policial ou justificação, por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação da vítima do abuso.
Caso em que, apresentada ao Ministério Público a representação da vítima, no prazo de 48 horas, denunciará o réu, desde que o fato narrado constitua abuso de autoridade e requererá ao juiz a sua citação, e, bem assim, a designação de audiência de instrução e julgamento. A denúncia deverá ser oferecida por meio de duas vias.
Dispõe o artigo 14 que:
Art. 14. Se o ato ou fato constitutivo do abuso de autoridade houver deixado vestígios o ofendido ou o acusado poderá:
a) promover a comprovação da existência de tais vestígios, por meio de duas testemunhas qualificadas;
b) requerer ao juiz, até 72 horas antes da audiência de instrução e julgamento, a designação de um perito para fazer as verificações necessárias;
§ 1º. O perito ou as testemunhas farão o seu relatório e prestarão seus depoimentos verbalmente, ou o apresentarão por escrito, querendo, na audiência de instrução e julgamento.
§ 2º. No caso previsto da letra a deste artigo a representação poderá conter a indicação de mais duas testemunhas.
Diante disso, se a infração penal deixar vestígios materiais, será obrigatória, a realização de exame de corpo delito. No entanto, a Lei 4898/65, com o intuito de promover a celeridade, admitiu a formação do corpo de delito do crime de abuso de autoridade, em audiência, através do depoimento de duas testemunhas qualificadas.
Caso o Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requeira o arquivamento da representação, o juiz, caso considere improcedentes as razões invocadas, fará a remessa da representação ao procurados-geral e este oferecerá a denuncia, ou designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la ou também poderá este insistir no arquivamento, momento em que o juiz deverá atender.
No entanto, se o Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo fixado nesta Leu, será admitida ação privada, contudo poderá o órgão daquele aditar a queixa, repudiá-la e oferecer a denúncia substitutiva, podendo interferir em todos os termos do processo, como interpôr recurso, e a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Por fim, o artigo 17 dispõe que, recebidos os autos, o juiz dentro o prazo de 48 horas irá proferir o despacho, recebendo ou rejeitado a denúncia. Sendo que, no despacho em que recebe-la o juiz deverá designar, dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, que deverá ser realizada, improrrogavelmente, dentro de 5 dias. E a citação do réu para se ver processar, até julgamento final e para comparecer à audiência de instrução e julgamento, será feita por mandado sucinto que será acompanhado de segunda via da representação e da denúncia.
CONCLUSÃO
A Lei 4.898/1965, conhecida como Lei de Abuso de Autoridade, apesar de ter se consagrado através do direito de petição, no qual resultou o direito de representação, ou seja, a reclamação com intuito de aguardar providência a respeito de um direito que se tem, hoje se mostra quase que inutilizada.
Essa inutilização decorre da falta de informação do cidadão comum que muitas vezes passa por situações de abuso, seja em qualquer uma das hipótese previstas no artigo 3º desta Lei, e que não sabe como proceder diante de tal lesão sofrida.
Sabe-se que a falta de informação leva a impunidade e é o que vemos dia após dia nos grandes noticiários deste país, seja pelo policial que agredi o meliante/preso, ou pelo juiz que excede o seu poder coibindo a liberdade de locomoção de algum sujeito, um exemplo bom seria a inexistência de provas,de periculosidade para que o indiciado ao crime se mantenha preso provisoriamente ou preventivamente.
BIBLIOGRAFIA
- Lei 4.898/65 ( Lei de Abuso de Autoridade)
NUCCI, de Souza Guilherme - Leis Penais e Processuais Penais Comentadas - vol. 1 8ª Edição – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
A
Analuiza Marcondes
1
PUBLICAÇÃO
1
SEGUIDOR
SEGUIR
Parte superior do formulário
Parte inferior do formulário
PUBLICARCADASTRE-SEENTRAR
Home
Artigos
Notícias
Jurisprudência
Diários Oficiais
Modelos e Peças
Legislação
Diretório de Advogados
Alertas
0 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.
COMENTAR

Continue navegando