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Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 77 3.7.3 – Captação de Água Subterrânea Água Subterrânea no Abastecimento Público A utilização das águas subterrâneas remonta aos primórdios das civilizações, sendo exploradas através de poços rasos escavados, cujos vestígios mais antigos datam de 12.000 antes de Cristo. O início da arte de perfurar poços é atribuída aos chineses e assinala-se que em 5.000 antes de Cristo já perfuravam poços até profundidades de centenas de metros. Até a década de 50 as águas subterrâneas eram, em geral, consideradas como um bem natural de uso doméstico/industrial precário. O surto de desenvolvimento sócio-econômico verificado após o término da II Guerra Mundial e a crescente deterioração das águas dos rios e lagos, engendraram a rápida evolução da importância das águas subterrâneas, ao ponto de serem consideradas, atualmente, como um recurso de grande valor econômico, vital ou estratégico. A evolução do conhecimento científico sobre as formas de ocorrência, hidrodinâmica e hidroquímica das águas subterrâneas, muito tem contribuído à redução do caráter de golpe de sorte da obtenção de uma água de boa qualidade e/ou de uma vazão segura de um poço. Por outro lado, os progressos tecnológicos verificados durante as últimas décadas nos meios de perfuração, nas bombas submersas e na oferta de energia elétrica, viabilizam a construção de poços com até milhares de metros de profundidade, para obtenção de vazões de centenas e até milhares de metros cúbicos por hora dos aquíferos confinados profundos. Estes fatos são responsáveis pelo verdadeiro surto de crescimento na exploração das águas subterrâneas, a nível mundial e nacional. Estima-se que cerca de 12 milhões de poços foram perfurados anualmente nos últimos 25 anos no mundo. Nos Estados Unidos estima-se que, atualmente, entre 800 e 900 mil poços são perfurados por ano. Os incrementos de consumo de águas subterrâneas, verificados na última década na Europa e Estados Unidos, são superiores aos 100%, sendo que o uso para irrigação triplicou nos Estados Unidos. Na Índia cerca de 31 milhões de hectares são irrigados com água subterrânea. Nos Estados Unidos, 45% do total de terras irrigadas, 58% no Irã, 67% na Argélia e 100% na Líbia, dependem exclusivamente do manancial subterrâneo. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 78 Em termos de abastecimento público, em muitos países, tais como Arábia Saudita, Dinamarca e Malta, as águas subterrâneas são o único recurso disponível. Em muitos outros, tais como Áustria, Alemanha, Bélgica, França, Hungria, Itália, Holanda, Marrocos, Rússia e Suíça, mais de 70% da demanda é atendida pelo manancial subterrâneo. As obras de captação são variadas: nascentes, cacimbões simples, cacimbões com drenos radiais, poços tubulares rasos e profundos. Os aquíferos explorados com maior freqüência, são do tipo livre, com espessuras de algumas centenas de metros e com recarga garantida a partir da gestão integrada dos recursos hídricos das bacias hidrográficas em que estão inseridos, com reuso de água, em alguns casos. No Brasil a utilização das águas subterrâneas ainda é muito modesta, haja vista que se perfura entre 8 e 10.000 poços por ano, a grande maioria para abastecimento de indústrias. Somente nas últimas décadas é que se vem observando uma tendência de se buscar água subterrânea para o abastecimento público. Segundo os dados mais recentes do IBGE, 61% da população se abastece do manancial subterrâneo por meio de poços rasos (6%), nascentes (12%), e poços profundos (43%). O Estado de São Paulo é, certamente, o maior usuário das águas subterrâneas no Brasil, tendo cerca de 65% dos seus núcleos urbanos e cerca de 90% das indústrias abastecidas parcial ou totalmente por poços. Neste particular, deve-se salientar que, face as potencialidades hidrogeológicas do território brasileiro, para 80% das nossas cidades as águas subterrâneas constituem a alternativa mais barata, sobretudo por dispensarem as onerosas obras de engenharia para captação, adução e, sobretudo, pelos crescentes custos de tratamento. Tendo em vista que 92% dos esgotos é lançado nos rios e 87% do lixo fica à mercê das enxurradas, a alternativa de uso das águas superficiais (rios, açudes e lagoas) só se torna viável na ausência de manancial subterrâneo compatível com as demandas. Ademais, nas áreas metropolitanas, as águas subterrâneas constituem um recurso de importância estratégica vital ou econômica, sendo utilizadas de forma intensiva para auto abastecimento de condomínios, hospitais, hotéis e indústrias. Isto decorre das freqüentes faltas de água nas rêdes públicas, ou por razões econômicas, uma vez que os investimentos necessários à construção dos poços são, em geral, amortizados em cerca de um terço da vida útil dos mesmos. Esta situação é bem ilustrada pela existência de cerca de sete mil poços em operação na Grande São Paulo. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 79 Importância da Água Subterrânea para Abastecimentos A grande importância da água subterrânea para abastecimento de água pode ser apresentada pelos aspectos abaixo destacados e também pela principais vantagens apontadas no seu uso, principalmente quando comparadas aos demais tipos de manancial. Os principais aspectos que podem ser destacados são : § 97% de toda água doce disponível existente no planeta é composta por águas subterrâneas. · Brasil detém um quinto de toda a água doce disponível no planeta. Somente um dos reservatórios subterrâneos existentes no Nordeste do Brasil possui um volume de 18 trilhões de metros cúbicos de água disponível para o consumo humano, volume este suficiente para abastecer toda a atual população brasileira por um período de no mínimo de 60 anos. § A população do planeta cresce 90 milhões pessoas / ano. A saturação populacional é prevista para o ano de 2040. · Brasil tem o impressionante volume de 111 trilhões e 661 milhões de metros cúbicos de água em suas reservas subterrâneas. § Somente na região metropolitana de São Paulo cerca de 3 milhões de habitantes são auto-abastecidos com água de poços profundos. § A cidade de Ribeirão Preto é totalmente abastecida por água subterrânea. · Aquífero Botucatu, o maior do planeta e conhecido como Aquífero Gigante do Mercosul, possui um volume de água suficiente para abastecer toda a população atual do mundo até o ano de 2400. § A cidade de São Sebastião em Brasília, com 60.000 habitantes, é totalmente abastecida com água de poços profundos. § No Vale do Gurgueia no Piauí e em Mossoró no Rio Grande do Norte existem hoje importantes plantações irrigadas com água de poços profundos nas culturas de uva e cítricos que são exportados para diversos países da Europa e E.U.A. § A utilização de águas subterrâneas remonta aos primórdios das civilizações, sendo que existem vestígios de sua utilização que datam do ano 12.000 a.C. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 80 § No ano 5.000 a.C., os chineses já perfuravam poços de até 100 metros de profundidade. § 12 milhões de poços profundos foram perfurados no mundo no período de 1970 a 1995. § Atualmente nos E.U.A. se perfuram em média entre 800.000 e 900.000 poços / ano e no Brasil entre 8.000 e 10.000 poços / ano. O Estado de São Paulo e o maior usuário de águas subterrâneas do Brasil. 70% de seus núcleos urbanos e cerca de 90% das indústrias são abastecidas parcial ou totalmentepor poços profundos. § Para 80% das cidades brasileiras a água subterrânea representa a alternativa mais barata, dispensando obras caras de captação, adução e tratamento. § Um poço profundo é amortizado em cerca de um terço da sua vida útil. § Os prazos de execução de um poço são de dezenas de dias, contra dezenas de meses nos casos de captação de águas superficiais. · Brasil é hoje um dos países mais desenvolvidos do mundo em tecnologia de poços profundos. § 1 litro de água proveniente de poço profundo, em alguns casos, pode custar até 15 vezes menos que 1 litro de água proveniente de recursos hídricos superficiais. Principais Vantagens das Águas Subterrâneas Como principais vantagens das águas subterrâneas podem ser citadas : § Os custos de captação da água subterrânea são baixos em relação a água superficial, por dispensarem a construção de obras de barramento, adutora de recalque e estação d e tratamento. § Os prazos de execução de um poço são de dezenas de dias, em contraposição a dezenas de meses e até anos no caso da captação de um rio. § Os poços podem ser construídos na medida em que cresce a demanda de água, possibilitando um parcelamento das inversões financeiras. § Não se verificam os impactos ambientais decorrentes do barramento de curso de água, e os recalques de terreno não ocorrem quando os poços são bem construídos. § As águas subterrâneas são, geralmente, de boa qualidade para consumo humano sem tratamento, desde que a captação tenha sido construída e seja operada de forma adequada. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 81 § As águas subterrâneas acham-se naturalmente melhor protegidas dos agentes de poluição que atingem rios e lagos, tendo em vista ocorrerem sob uma faixa de rocha não saturada através da qual as águas de recarga filtram. § Os potenciais hidrogeológicos do Brasil possibilitam o abastecimento de cerca de 80% dos seus núcleos urbanos, a partir de dois a três poços, exceção daqueles localizados nos domínios de ocorrência de rochas cristalinas no Polígono das Secas. § Os poços que apresentam um bom nível de engenharia nas fases de projeto, construção e operação, tem vida útil entre vinte e trinta anos, com amortização dos investimentos realizados em apenas cerca de um terço desse período. Formações Geológicas e Ocorrência das Águas Subterrâneas A ocorrência de água subterrânea está ligada à existência de formações geológicas capazes de acumular e fazer circular o líquido. Cada tipo de rocha tem características determinadas quanto às possibilidades aquíferas. No trato com os problemas de obtenção de água de lençóis profundos, há necessidade de se ter um conhecimento mínimo das características aquíferas de algumas rochas comuns. Água subterrânea é a água que ocorre no subsolo preenchendo os poros e fraturas das rochas. Estes elementos tem dimensões milimétricas, porém, são em tão grande número que as águas subterrâneas representam cerca de 97% dos volumes de água doce dos continentes, com exceção das calotas polares e geleiras. As águas subterrâneas, naturalmente de boa qualidade para o consumo em geral, são realimentadas pelas infiltrações de águas de origem meteorológica: chuvas, neblinas, neves, geadas. Essas águas fluem lentamente (centímetros/dia) pelos poros das rochas e alimentam os rios, lagos e nascentes durante os períodos sem chuvas, ou vão desaguar diretamente nos oceanos e mares, de onde evaporam e sobem à atmosfera para dar origem a novas chuvas. Os processos de filtração e as reações bio-geoquímicas que tem lugar no subsolo, fazem com que as águas subterrâneas apresentem, geralmente, boa potabilidade e achem-se melhor protegidas dos agentes de poluição que atingem os rios e lagos. As rochas que apresentam boas condições de porosidade e permeabilidade são denominadas de aquíferas. A Tabela 8 abaixo visa esclarecer os principais aspectos com relação às mesmas. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 82 Tabela 8 – Formações Geológicas e suas Possibilidades Aquíferas Formação Geológica Características Possibilidades Aquíferas Rochas Ígneas Possuem estrutura maciça e são também conhecidas como rochas do cristalino. A determinação da posição de falhas e rupturas é feita por meio de interpretação fotogeológica ou pela aplicação de métodos geofísicos de prospecção. Ex: granitos. A presença de água está condicionada à existência de falhas, fissuras ou fendas, que diminuem de dimensão com o aumento da profundidade, ficando assim reduzidas as possibilidades de obtenção de água. Essas rochas podem estar recobertas por um manto resultante da decomposição da própria rocha ou por solos aluvionares transportados, resultando em camadas que contém quase sempre materiais granulares que podem representar bons aquíferos. Rochas Eruptivas São de origem vulcânica, como os basaltos e diabases. Podem conter água quando estiverem fraturadas ou forem do tipo vesicular, isto é, contiverem numerosos vazios em seu interior. A possibilidade de dar escoamento à água depende da existência de ligação entre as vesículas. Rochas Sedimentares Calcário Folhelhos Arenitos Conglomerados São geralmente maciços e impermeáveis sendo, entretanto, rochas bastante solúveis à ação da água, contendo gás carbônico ou ácidos orgânicos contêm freqüentemente poros e cavernas em seu interior. Resultam da consolidação de argilas. São formados de partículas muito finas de areia de origem lacustre ou eólica, podendo ser muito permeáveis, dependendo do grau de cimentação e da granulometria das partículas. São constituídos de misturas heterogêneas de pedregulho consolidado. Com o tempo, formam-se condutos subterrâneos que, aflorando, produzem ricas fontes. São geralmente impermeáveis e atuam como camadas confinantes de aquíferos. As vezes, contêm material betuminoso em seu interior, que pode conferir gosto e cheiro característico à água. Os arenitos de um modo geral são tidos como um dos melhores aquíferos. A capacidade aquífera varia grandemente, dependendo do tipo e quantidade do material de cimentação e enchimento. Rochas Metamórficas Resultam da formação de rochas ígneas e sedimentares devido principalmente, à ação do calor e da pressão. O gneiss, rocha metamórfica típica, assemelha-se ao granito, quanto às possibilidades aquíferas. O mármore, sendo solúvel, poderá, como no caso dos calcáreos, conter canais para acumulação e movimentação da água. Os xistos e ardósias, resultantes da transformação de argilas e folhelos, são geralmente impermeáveis, podendo, entretanto, conter água em juntas, fendas de clivagem e fraturas. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 83 Tipos de Aquíferos e Formas de Captação As formações geológicas que contêm e transmitem águas subterrâneas são chamadas aquíferos. Os aquíferos podem ocorrer formando a superfície dos terrenos e neste caso constituem os aquíferos livres; podem ter centenas de metros de espessura; podem ter extensões de milhares de quilômetros quadrados; podem ter o nível de água ou de saturação a alguns metros de profundidade (freático), ou a centenas de metros. Os aquíferos também podem ocorrer encerrados entre camadas relativamente menos permeáveis, e neste caso, formam os aquíferos confinados. Denomina-se aquífero freático aquele em que o lençol de água se encontra livre com sua superfície sob ação da pressão atmosférica. Denomina-se aquífero artesiano aquele em que a água nele contida encontra-se confinada por camadas impermeáveis e sujeita à pressõesmaiores do que a atmosférica. Essa classificação é de interesse técnico uma vez que as fórmulas que governam o escoamento nos aquíferos, variam em conformidade com a mesma; correspondendo à classificação em condutos livres e forçados, adotada no estudo em canalizações. A captação do lençol freático pode ser executada por galerias filtrantes, drenos, fontes ou poços freáticos. O emprego de galerias filtrantes é característico de terrenos permeáveis (Fig. 23), mas de pequena espessura (aproximadamente de 1 a 2 metros) onde há necessidade de se aumentar a área vertical de captação para coleta de maior vazão (Fig. 24). Estas galerias em geral são tubos furados, que convergem para um poço de reunião. Figura 23 – Posição da galeria filtrante Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 84 Figura 24 – Posição da galeria filtrante Quando o lençol freático é muito superficial, as canalizações coletoras ficam na superfície ou a pequenas profundidades de aterramento, então temos os chamados drenos. Podem ser construídos com tubos furados ou simplesmente com manilhas cerâmicas não rejuntadas. As galerias são mais comuns sob leitos arenosos de rios com grande variação de nível, enquanto que os drenos são mais comuns em áreas onde o lençol é aflorante permanecendo praticamente no mesmo nível do terreno saturado ou sob leitos arenosos de rios com pequena variação de nível. Os poços são mais freqüentes nos lençóis freáticos porque normalmente o lençol freático tem grande variação de nível entre os períodos de chuvas, ou seja, durante os períodos de estiagem, necessitando de maiores profundidades de escavações para garantia da permanência da vazão de captação. Os tipos de poços empregados na captação de água do lençol freático são o raso comum, o amazonas e o tubular. O poço raso, popularmente chamado de cacimba ou cacimbão, é um poço construído escavando-se o terreno, em geral na forma cilíndrica, com revestimento de alvenaria ou com peças pré-moldadas (tubulões), com diâmetro da ordem de um a quatro metros por cinco a vinte de profundidade em média, a depender da posição do lençol freático. A parte inferior, em contato com o lençol deve ser de pedra arrumada, de alvenaria furada ou de peças cilíndricas pré-moldadas furadas quando for o caso (Figura. 25). Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 85 Para evitar o carreamento de areia para o interior dos poço ou mesmo dos orifícios pode-se envolver a área de drenagem com uma camada de pedregulho e areia grossa, externamente. A retirada da água do seu interior deve ser através de bombeamento por medida de segurança sanitária, mas para abastecimentos singelos são freqüentes o uso de sarilhos e outras bombas manuais. O poço amazonas é uma variável do escavado, próprio de áreas onde o terreno é muito instável por excesso de água no solo (areias movediças). Seu método construtivo é que o caracteriza, pois sua construção tem de ser executada por pessoal especializado, empregando peças pré-fabricadas a medida que a escavação vai desenvolvendo-se. Sua denominação deve-se ao fato de ser muito comum na região amazônica em função de que os terrenos terem este comportamento, principalmente nas épocas de enchentes. São poços para pequenas vazões, destinados a abastecerem pequenas comunidades. Um poço perfurado em um aquífero freático (poço freático), terá o nível d’água em seu interior coincidente com o nível do lençol. Em poço que penetra num aquífero artesiano (poço artesiano), o nível d’água em seu interior subirá acima da camada aquífera, podendo em determinadas situações atingir a boca do poço produzindo uma descarga contínua, Figura 25 - Estrutura típica de um poço raso comum Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 86 sendo denominado, neste caso particular, de poço jorrante ou surgente, dispensando qualquer bombeamento. Se o nível piezométrico do aquífero se situar abaixo da superfície do solo, dever-se-á bombear a água. O volume das águas subterrâneas que se pode conseguir em uma determinada zona dependerá das características do aquífero situado sob a mesma e da freqüência de recarga. A alimentação dos aquíferos freáticos ocorre geralmente ao longo do próprio lençol, ao passo que, nos aquíferos artesianos, ela se verifica somente no contato da formação com a superfície, podendo ocorrer a uma distância considerável do local do poço, ocorrendo a recarga do lençol neste ponto. As condições climáticas ou o regime hidrológico observados na área de perfuração do poço, neste caso, pouco ou nada influirão na produção do poço. A Figura 26 a seguir, mostra esquematicamente, os tipos de aquíferos e de poços, bem como as áreas de realimentação ou recarga dos lençóis. Observa-se que o rio é o ponto de descarga do lençol freático. O lençol artesiano descarrega-se num ponto baixo onde o mesmo irá novamente aflorar à superfície. Figura 26 – Tipos de Aquíferos e de Poços Os aquíferos artesianos geralmente têm uma área de recarga relativamente pequena, se comparada com os aquíferos freáticos, e têm também menor vazão. A importância econômica dos aquíferos artesianos reside no fato de que eles transmitem água a distâncias consideráveis e a elevam acima do nível da camada aquífera reduzindo assim os custos de bombeamento. O bombeamento de águas artesianas pode provocar o abaixamento do terreno em algumas regiões, como resultado do adensamento dos aquíferos. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 87 Princípios Básicos do Escoamento em Meios Porosos Devem-se ao hidráulico francês Henry Darcy as primeiras observações experimentais sobre o escoamento através de meios porosos. A facilidade maior ou menor de um material permitir a circulação de água, é a identificada por uma propriedade física que se denomina permeabilidade. Ela é medida pelo coeficiente de permeabilidade (K), definido como sendo a quantidade de água que passa através da unidade de área da seção do material, quando a perda de carga unitária (gradiente hidráulico) for igual a 1. O coeficiente de permeabilidade tem a dimensão de uma velocidade. Examinando as características do fluxo através de filtros de areia, Darcy concluiu que a vazão era diretamente proporcional à carga hidrostática e inversamente proporcional à espessura da camada. Essa conclusão, conhecida universalmente como lei de Darcy, pode ser expressa por : KAJ L H KAQ == KJ A Q V == onde : Q = vazão; A= área total da seção do escoamento (incluindo os sólidos); K = coeficiente de permeabilidade; H/L = J = perda de carga unitária; V = velocidade média aparente (pois considera a área total incluindo os sólidos). Figura 27 – Perda de Carga em um Meio Poroso Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 88 Como se observa na própria representação gráfica acima, nos estudos de filtração, desprezam-se as alturas de velocidade, considerando-se as perdas de carga como equivalentes às variações do potencial piezométrico ( z + p/g ). Na quase totalidade dos casos, o erro introduzido com essa simplificação é completamente desprezível. De fato, nos movimentos através de meios porosos, as velocidades de escoamento são geralmente muito baixas, havendo um predomínio acentuado da viscosidade sobre os efeitos de inércia, caracterizando geralmente um escoamento laminar. A velocidade V é umavelocidade aparente, pois a área que está sendo considerada é a total. A velocidade efetiva varia de ponto para ponto, dentro da massa. O valor do coeficiente de permeabilidade (K) depende, não somente da porosidade (relação entre o volume de vazios e o volume total do material), como também da distribuição granulométrica e da forma e arranjo interno das partículas granulares do solo. Argilas com 50 % de porosidade são bastante impermeáveis. Ao contrário, arenitos, com apenas 15 % ou menos de porosidade, podem ser bastante permeáveis. Este é um conceito importante que nunca pode ser esquecido. A Tabela 9 abaixo, apresenta os principais valores de porosidade de alguns materiais sedimentares : Tabela 9 – Porosidade de Materiais Sedimentares Material Porosidade (%) Solos 50 – 60 Argila 45 – 55 Silte 40 – 50 Areia média a grossa misturada 35 – 40 Areia uniforme 30 – 40 Areia Fina a média misturada 30 – 35 Pedregulho 30 – 40 Pedregulho e areia 20 – 35 Arenito 10 – 20 Folhelho 1 – 10 Calcáreo 1 – 10 Fonte : D.K.Todd em “Ground Water Hydrology” Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 89 De um modo geral, os valores de porosidade variam de 1 a 60 %. Acima de 20 % a porosidade é considerada alta, entre 20 e 5 % é média e abaixo de 5 % é considerada reduzida. A argila e o silte são materiais de alta porosidade; podem, portanto, receber grande quantidade de água em seus interstícios. A Tabela 10 a seguir, apresenta os coeficientes de permeabilidade (K) dos principais materiais : Tabela 10 – Coeficientes de Permeabilidade de Materiais K ( cm/seg ) Material Características de escoamento 1 a 100 Pedregulho limpo Aquíferos bons 0,001 a 1 Areias limpas, misturas de areias limpas e pedregulho Aquíferos bons 10-7 a 0,001 Areias muito finas, siltes, mistura de areia, silte e argila,argilas estratificadas Aquíferos pobres 10-7 a 10-9 Argilas não alteradas Impermeáveis Fonte : A. Casagrande Um outro parâmetro importante do ponto de vista de capacidade de fornecimento de água subterrânea de um material e que apresenta bastante interesse prático é o suprimento específico (s.e.) . O suprimento específico do material, também denominado de produção específica, porosidade efetiva ou cessão específica caracteriza a quantidade porcentual de água que pode ser libertada de uma formação saturada, pela ação da gravidade. Devido a fenômenos diversos, não é possível drenar toda a água contida nos interstícios, fato que deve ser levado em conta no cálculo dos volumes aproveitáveis de depósitos subterrâneos de água. Esta propriedade está intimamente relacionada com a superfície total dos interstícios. Em termos práticos, tem-se : 100×= lVolumeTota adoVolumeDren .e.s Para exemplificar o suprimento específico podemos comparar a argila e a areia grossa. A argila tem uma grande porosidade, ou seja elevada porcentagem de vazios, mas Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 90 possui um reduzido suprimento específico; não é capaz, portanto, de ceder muita água a poços ou drenos. A areia grossa, por outro lado, tem também uma elevada porosidade e ao mesmo tempo um elevado suprimento específico sendo capaz de fornecer bastante água. A Tabela 11 abaixo fornece os percentuais de suprimento específico de alguns materiais : Tabela 11 – Suprimento Específico de Alguns Materiais Material Suprimento Específico Pedregulho 25 % Areia c/ pedregulho misturado 20 % Areia fina, arenito 10 % Argila c/ misturas 5 % Argila, silte e outros depósitos 3 % Fonte : Poland, citado por D.K.Todd em “Ground Water Hydrology” Hidráulica de Poços Algumas definições são importantes quando se estuda a hidráulica dos poços : · Nível estático do poço – é o nível de equilíbrio da água no poço, quando o mesmo não está sendo bombeado. · Nível dinâmico do poço – é o nível de água no poço, quando o mesmo estiver sendo bombeado. O nível dinâmico está relacionado com a vazão de água a ser retirada e com o tempo decorrido desde o início do bombeamento. Quando, para uma dada vazão o nível se estabiliza, tem-se o denominado nível dinâmico de equilíbrio, relativo à vazão em causa. Neste caso, portanto, se estabelece um regime permanente, conforme pode ser visto na figura 28. · Abaixamento ou Depressão – é a distância vertical compreendida entre os níveis estático e dinâmico no interior do poço. · Superfície Piezométrica de Depressão ou Cone de Depressão – em poços freáticos, é a superfície real formada pelos níveis de água em volta do poço, quando em bombeamento. Em poços artesianos é a superfície imaginária formada pelos níveis Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 91 piezométricos. Em ambos os casos, tem a forma de um funil com o vértice no próprio poço. Figura 28 – Definições de um Poço · Curva de Abaixamento ou de Depressão – é a curva formada pela interseção da superfície piezométrica por um plano vertical que passa pelo poço. Os dois ramos da curva nem sempre são simétricos. A assimetria é mais acentuada em lençóis freáticos e no plano coincidente com a direção do escoamento da água subterrânea. Pode-se conhecer a curva de abaixamento abrindo poços de observação num plano diametral em relação ao poço em bombeamento, e medindo os respectivos níveis de água. · Zona de Influência do Poço – é constituída por toda a área atingida pelo cone de depressão de um poço. Um outro poço qualquer, perfurado dentro dessa zona, terá, quando bombeado, uma redução em seus níveis estático e dinâmico, sendo portanto prejudicado pelo bombeamento do primeiro. · Regime de Equilíbrio – situação que se verifica em um poço quando o nível dinâmico no seu interior para uma vazão de bombeamento constante, mantém-se inalterável no decorrer do tempo. Essa condição ocorre quando a vazão de escoamento da água subterrânea, na faixa abrigada pela zona de influência do poço, equilibra a vazão retirada. Portanto, atingido o regime de equilíbrio, a superfície piezométrica de depressão, a curva de abaixamento e a zona de influência do poço, não mais variam Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 92 com o tempo. O tempo necessário para se obter o equilíbrio perfeito do nível dinâmico, varia amplamente com a vazão de bombeamento e as características do aquífero, e poderá, inclusive, nunca ser alcançado. Fórmulas do escoamento de água para poços no regime permanente As fórmulas aplicáveis ao estudos de poços derivam principalmente dos estudos dos escoamentos bidimensionais, empregando a lei de Darcy. Admitida a validade da lei de Darcy e a homogeneidade e isotropia dos meios porosos, é possível equacionar-se com simplicidade diversas situações particulares de escoamentos permanentes representativas dos problemas práticos mais comuns, verificados na exploração dos lençóis subterrâneos. As fórmulas apresentadas a seguir para escoamento de água para poços no regime permanente foram obtidas por Dupuit em 1863 após algumas hipóteses simplificadoras. Poço em um aquífero artesiano Considerando-se um poço perfurado em um aquífero confinado de espessura constante e extensão indefinida na direção horizontal, do qual se extrai uma vazão Q, em condições de regime permanente, conforme a figura a seguir, pode-se escrever : dr dH rbKQ ×p×= 2 Figura 29 – Poço em um Aquífero Artesiano Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________93 Conhecidos os níveis d’água no poço e no nível da superfície piezométrica correspondente a um raio R2, a integração da equação fornece : ò ò=×p 2 1 2 1 2 H H R R r dr dH Q Kb \ ÷÷ ø ö çç è æ = -×p 1 2122 R R ln Q )HH(Kb logo : ÷÷ ø ö çç è æ -×p = 1 2 122 R R ln )HH(Kb Q (válida para aquíferos artesianos) Poço em um aquífero freático O problema análogo, em um lençol freático, pode ser resolvido também com facilidade, através de hipóteses simplificadoras. Observando a figura 30 a seguir tem-se : dr dh rhKQ ×p×= 2 Figura 30 – Poço em um Aquífero Freático Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 94 Integrando entre h1 e h2, tem-se : ò ò=××p 2 1 2 1 2 h h R R r dr dhh Q K \ ÷÷ ø ö çç è æ = -×p 1 2 2 1 2 2 R R ln Q )hh(K logo : ÷÷ ø ö çç è æ -×p = 1 2 2 1 2 2 R R ln )hh(K Q (válida para aquíferos freáticos) As expressões acima obtidas recebem, freqüentemente, a denominação de fórmulas de Dupuit. As fórmulas de Dupuit propiciam, teoricamente, um instrumento ideal para a avaliação do coeficiente médio de permeabilidade (K) de um aquífero, por meio de testes de vazão, em poços explorados em regime permanente : Em aquíferos artesianos : )HH(b R R lnQ K 12 1 2 2 -×p ÷÷ ø ö çç è æ × = ; Em aquíferos freáticos : )hh( R R lnQ K 2 1 2 2 1 2 -×p ÷÷ ø ö çç è æ × = ; Porém, nos ensaios de poços, baseados nas fórmulas de Dupuit, exige-se uma série de precauções para a correta avaliação da influência das condições naturais, geralmente, distintas das ideais utilizadas para a dedução das fórmulas. Deve-se levar em conta que os poços nem sempre penetram totalmente no aquífero; os estratos não são horizontais e variam em espessura e permeabilidade; as superfícies freáticas ou piezométricas não perturbadas raramente são horizontais; além de outras. Um outro fato importante é o de que o nível medido nos poços não corresponde, em geral, ao nível do lençol, definido pelas equações teóricas. Não só as condições do escoamento nas proximidades do poço podem deixar de obedecer a lei de Darcy, devido à elevação das velocidades, como ocorrem perdas Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 95 de carga relativamente importantes através das telas de revestimento e do próprio tubo de extração da água. Freqüentemente, os poços captam água de lençóis dotados de escoamento natural, segundo linhas de corrente paralelas entre si (lençol em escoamento permanente e uniforme). Pelo fato de estarem em escoamento, a superfície piezométrica apresenta uma inclinação definida pelas linhas eqüipotenciais,. Consegue-se o regime de equilíbrio quando a zona de influência do poço para a permitir que este seja alimentado por uma faixa de lençol de largura L, em que a vazão do escoamento natural iguala-se à vazão de bombeamento, conforme pode ser visto na Figura 31. Em tais casos, os valores de abaixamento, para um mesmo valor de R, dependem da posição em que se situam os poços de observação com relação ao poço de bombeamento. Figura 31 – Regime de Equilíbrio e Zona de Influência de um Poço Um outro aspecto que deve-se ter em mente é o de que raramente um cone de depressão no lençol freático em torno de um poço apresenta simetria. A heterogeneidade do aquífero e a interferência de um poço em outro causam rebaixamento assimétrico. Se os Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 96 cones de depressão se sobrepõem, o rebaixamento em um ponto será a soma dos rebaixamentos de cada um dos poços. Se os poços forem muito próximos entre si, a vazão deles é menor porque os maiores rebaixamentos provocam uma redução no gradiente de energia em direção aos poços. Rios, lagos ou reservatórios nas proximidades de um poço também tem influência no rebaixamento. Localização de Poços Em regiões cujo subsolo é suficientemente conhecido e sabe-se da existência de aquíferos através de várias perfurações anteriores, a localização e abertura de novos poços não representa problema de maior preocupação. Devido às irregularidades das camadas, podem ocorrer variações consideráveis nas características dos poços vizinhos, mas, de qualquer forma, o problema se circunscreve a áreas não muito extensas. Porém, face ao custo da perfuração de poços, é conveniente assegurar-se previamente que um poço a ser aberto irá penetrar em um aquífero produtivo. Projetos de porte justificarão uma pesquisa mais completa por parte de geólogos e engenheiros experimentados. A perfuração de poços, sem estudo prévio, poderá levar ao fracasso, pois muitas vezes não se tem muitas informações sobre o subsolo ou sabe-se da existência de camadas favoráveis ao fornecimento de água, mas desconhece-se a sua posição. Logo, os levantamentos geológicos conduzido por especialistas, na área em estudo, podem trazer grandes informações, especialmente quando complementados por estudos geofísicos, para caracterização de camadas geológicas e lençóis de água. Quando os recursos disponíveis permitirem, é conveniente efetuar perfurações de sondagem, destinadas ao levantamento do perfil geológico e à constatação direta da presença de aquíferos. Além de satisfazer à condição de existência de lençol aproveitável, a localização de um poço deve levar em conta a sua posição mais adequada em relação ao sistema distribuidor, tendo em vista o aspecto econômico. Do ponto de vista sanitário, os poços deverão ficar afastados convenientemente de instalações, estruturas e condutos que contenham ou veiculem líquidos contaminantes. Recomendam-se as seguintes distâncias mínimas : Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 97 · de privadas secas, fossas negras, redes de irrigação superficial de esgotos, lagoas de oxidação ........................................................................................... 30 metros; · de fossas sépticas, canalizações de esgoto, depósitos e despejos de águas servidas ................................................................................................. 15 metros; · de galerias de águas pluviais, escavações e edifícios em geral ............. 5 metros; Métodos Geofísicos de Prospecção Os métodos geofísicos de prospecção constituem técnicas especializadas que permitem conhecer a conformação e as características do subsolo e com isso levantar hipóteses quanto à possível existência de água. Baseiam-se na medida de certas propriedades físicas da crosta terrestre, tais como a resistividade elétrica, a elasticidade das rochas, o magnetismo e a gravidade. Complementada com perfurações de sondagem, a aplicação dos métodos geofísicos poderá conduzir a previsões bastante seguras de posições de camadas aquíferas em determinada área. No método da eletro-resistividade, mede-se a variação de resistência que as diferentes camadas do solo apresentam à passagem de uma corrente elétrica, em razão de fatores geológicos, tais como porosidade, compactação, presença de minerais condutores de eletricidade, presença e características da água, etc. O método sísmico estabelece relação com as propriedades elásticas dos materiais. Mede-se o tempo requerido para que uma vibração produzida artificialmente por detonaçãode dinamite ou o impacto de uma ferramenta, atinja um determinado ponto de captação após reflexão e refração. Fornecem informações sobre a estrutura geológica e hidrogeológica da região. Os métodos magnéticos e gravimétricos medem, respectivamente, variações de campos magnéticos e diferenças de gravidade terrestre, causadas por influência de massas portadoras de propriedades magnéticas ou pela presença de rochas de intensidade diferentes. Como a presença de água não atua sensivelmente nos parâmetros medidos, não oferecem informações diretas sobre as possibilidades aqüíferas. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 98 Métodos de Abertura e Construção de Poços Para a abertura e construção de poços, utilizam-se em geral os seguintes métodos : escavação direta, jato hidráulico, cravação, hidráulico-rotativo e percussão. Os três primeiros métodos são aplicados na captação de lençóis freáticos situados a pequena profundidade empregando ferramentas e dispositivos de pequeno porte e fácil manuseio. Os dois últimos são utilizados especialmente na abertura de poços freáticos ou artesianos de maior profundidade, empregando equipamentos conhecidos por sondas ou perfuratrizes de grande porte e mecanizados, que são operados por técnicos bastante capacitados. Método de escavação direta Indicado quando o lençol está próximo a superfície e com boa alimentação do aquífero para o poço. Aplicável geralmente em abastecimentos individuais ou de pequenas comunidades. Consiste no tipo mais simples de poço, ou seja, um simples buraco feito por escavação direta até se atingir as águas subterrâneas. O trabalho é geralmente manual e as ferramentas e aparelhos utilizados são os mais simples : picaretas, pás, trados, caçambas, baldes, roldana, sarilho ou talha. Pode ser realizada uma escavação total, seguida de um trabalho de revestimento com alvenaria de tijolos, alvenaria de pedra, concreto, material cerâmico, aço, madeira, etc. Em terreno firme, sem risco de desmoronamento, a escavação é feita sem precaução especial; sendo desmoronável, o terreno é escorado com pranchas de madeira ou aço. A escavação ainda pode ser acompanhada de descida do revestimento protetor, processo particularmente indicado no caso de solo desmoronável e em presença de muita água. O escoramento e a ensecadeira são proporcionados pelo próprio tubo de revestimento feito de concreto armado, metal ou pranchas de madeira. Os poços escavados possuem diâmetro geralmente acima de 80 cm podendo chegar até 6 metros no caso de terrenos que só forneçam água de maneira lenta. A profundidade total é de cerca de 20 ou 30 metros com penetração na camada aquífera de até 7 metros, dependendo muito da formação geológica e da posição do lençol. As dificuldade de extração de material removido e da descida do revestimento protetor, limitam a profundidade praticável dos poços escavados. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 99 Em seu funcionamento, a água aflui ao poço pelo fundo e/ou por orifícios abertos no revestimento protetor. Conforme a vazão de bombeamento e a granulometria do solo, pode ser necessário, em certos casos, colocar pedregulho no fundo e em torno dos orifícios laterais visando impedir o afluxo de areia e o conseqüente desmoronamento do poço. Método do jato hidráulico O método do jato hidráulico é muito aplicável na construção de pequenos poços, assim como em perfurações para sondagem do subsolo. Sua aplicação só é possível em rochas sedimentares, como areias e argilas. A perfuração deverá ser interrompida quando forem atingidas terrenos ou rochas duras. Consiste na perfuração do poço através de injeção de água sob pressão através de uma bomba. Os jatos d’água saem por orifícios existentes em uma broca que possui formato aguçado. Tais jatos de água expelidos pelos orifícios e a ação mecânica da ponta, desagregam o material a ser atravessado, conforme pode ser visualizado na Figura 32. Figura 32 – Método do Jato Hidráulico – Equipamentos Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 100 Em regra, usa-se uma só tubulação de revestimento em toda a profundidade da perfuração. Geralmente, porém, é difícil descer uma única tubulação em toda a profundidade. Logo, para maiores profundidades, usam-se tubulações de diâmetro menor. A quantidade de água exigida para a perfuração e descida do revestimento, depende do tipo de sedimento e da profundidade. Método hidráulico-rotativo Indicado para a perfuração de poços profundos em geral, tanto para obtenção de água como para sondagens de grande profundidade. Os poços petrolíferos são, geralmente, abertos por este método. Nesse método adapta-se uma broca na extremidade de uma série de tubos conectados entre si ou a uma haste vazada e imprimi-se ao conjunto um movimento giratório. Faz-se circular continuamente lama especialmente dosada, fazendo-a descer pelo do conjunto perfurador até o fundo da escavação, e retirando-a por fora desse tubo. A lama serve para sustentação das paredes do poço durante a perfuração e para carrear o material escavado pela broca até a superfície. Vários são os tipos de brocas perfuradoras rotativas, as quais são escolhidas em função do tipo de rocha a ser atravessado. Pelo método hidráulico-rotativo podem ser obtidos poços com diâmetros de 100 a 200 mm, a grandes profundidades. A profundidades menores permite perfurar poços de 500 mm ou mais, dependendo das dimensões e potência dos equipamentos. Projeto de Poços Uma vez escolhido o local da perfuração, devem ser definidas as principais características do poço, como o diâmetro, a profundidade, o tipo de revestimento, bem como o tipo e características do filtro e dos materiais de envolvimento do mesmo. Em muitos casos, quando se procura construir um poço sem conhecimento prévio das formações ou se pretende transformar um poço experimental ou de sondagem em poço definitivo, o projeto deverá ser desenvolvido paralelamente à execução dos trabalhos de perfuração fazendo uso dos resultados de exames ou ensaios que forem sendo realizados. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 101 O projeto final de um poço deverá considerar, essencialmente : · as posições do nível estático e do nível dinâmico para a vazão desejada; · o diâmetro útil do poço; · a profundidade de perfuração; · os tipos de tubos de revestimento; · os materiais de envolvimento do filtro; e · a posição de colocação de bombas submersas ou do injetor de ar comprimido no caso de se utilizar bombas injetoras. Diâmetro útil do poço O diâmetro útil do poço é o diâmetro interno do tubo de revestimento ou do próprio poço, quando não revestido. Tem relação com a vazão que se pretende extrair, devido às dimensões externas de bombas normalmente utilizadas. Tubos de revestimento Os tubos de revestimento destinam-se especificamente a suportar formações desmoronantes e a impedir a entrada no poço de água com características indesejáveis (contendo poluentes ou contaminantes). O tubo de revestimento interno ou principal é aquele que contém a água em seu interior. Às vezes, por razões construtivas, poderá existir um outro tubo, externo ao primeiro; nesse caso, o espaço anular formado entre os dois será cimentado ou enchido com material granular que vai envolver o filtro. Os tubos de revestimento são geralmente de aço, ferro fundido ou plástico (estes últimos muito empregados atualmente). Filtros Os filtros,também conhecidos por crivos, ou por telas, são peças tubulares perfuradas, colocadas no prolongamento dos tubos de revestimento e junto às camadas geológicas que contêm água. São utilizados, geralmente, quando as formações aquíferas são constituídas de material granular, com o objetivo principal de permitir a fácil passagem da água para o interior do poço, sem arrastar quantidades prejudiciais de areia. A velocidade de passagem da água através do filtro é fator determinante de perda de carga hidráulica. Quanto maior a velocidade, maior será a perda de carga, abaixando o nível Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 102 dinâmico e aumentando a altura de elevação através das bombas, tornando o bombeamento mais oneroso. As velocidades elevadas, além do inconveniente de produzirem maiores perdas de carga, favorecem o arrasto da areia, produzindo rápido desgaste das bombas. Os materiais de fabricação dos filtros devem ter suficiente resistência para suportar a pressão das camadas e os variados esforços a que estão sujeitos durante a fase de instalação. Devem também ser resistentes a agressividade da água. Fabricam-se filtros geralmente de latão ou de bronze. A conexão do filtro à extremidade inferior do tubo de revestimento é feita por meio de soldas, roscas especiais, flanges ou encaixes particulares de acordo com o método de colocação ou com patentes de fabricação. Depois de ser colocado o filtro procede-se ao desenvolvimento do poço por meio de um bombeamento intenso. Consegue-se assim uma agitação do material em torno do filtro, o que possibilita a entrada das partículas pequenas para dentro do poço, do qual podem ser retiradas por bombeamento. Essa ação proporciona um escoamento mais livre em direção ao poço e aumenta a vazão relativa a um determinado rebaixamento. Se o aquífero for constituído só de material fino, a agitação não trará vantagens. Nesse caso deve-se fazer, artificialmente, um envoltório com pedregulho, escavando um diâmetro maior do que o do projeto, e colocando um revestimento interior concêntrico a um exterior (Figura 33). Coloca-se pedregulho no espaço anular entre os dois revestimentos, à medida que se retira o revestimento externo e assim o pedregulho forma um envoltório em torno do filtro. Figura 33 – Poço com Filtro e Envoltório de Pedregulho Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 103 Proteção Sanitária dos Poços Uma das importantes vantagens das águas subterrâneas como fonte de abastecimento doméstico é ser comparativamente isenta de poluição bacteriana. As águas subterrâneas, escoando-se em grandes veios do subsolo, podem levar a poluição a grandes distâncias, porém a água que percola através de camadas constituídas de material fino livra- se, em geral, da poluição bacteriana já em pequenos percursos (6 a 30 m). As águas poluídas da superfície podem encaminhar-se aos aquíferos passando por cima dos bordos do revestimento, e o solo em torno do mesmo deve ser cimentado para ficar impermeabilizado. Não se deve permitir que as águas superficiais se juntem em torno da borda do poço. Os poços abandonados devem ser enchidos com argila, concreto ou outro material, para evitar a contaminação do aquífero. Uma última providência no que se refere aos poços para usos residenciais é a cloração (desinfecção) para neutralizar qualquer contaminação havida durante a construção. Procede-se à cloração enchendo o poço com uma solução de cloro (50 partes por milhão – 50 ppm) e deixando permanecer por cerca de 2 horas. Depois, enxágua-se, com água limpa bombeada bem no fundo do poço. 3.7.4 – Captação de Água de Chuva A água de chuva pode ser armazenada em cisternas, que são pequenos reservatórios individuais. A cisterna tem sua aplicação em áreas de grande pluviosidade, ou em casos extremos, em áreas de seca onde se procura acumular a água da época chuvosa para a época de estiagem com o propósito de garantir, pelo menos, a água para beber. A cisterna consiste em um reservatório protegido, que acumula a água da chuva captada da superfície dos telhados das edificações. A água que cai no telhado vem ter às calhas, e destas, aos condutores verticais e, finalmente, ao reservatório. Os reservatórios mais simples são os de tambor, de cimento-amianto e os de plástico. Para os locais onde há pouca mão-de-obra especializada, aconselham-se cisternas não enterradas. Deve-se abandonar as águas das primeiras chuvas, pois lavam os telhados onde se depositam a sujeira proveniente de pássaros, de animais e a poeira. Para evitar que essas águas caiam nas cisternas, pode-se desconectar os condutores de descida, que Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 104 normalmente devem permanecer desligados para serem religados manualmente, pouco depois de iniciada a chuva. Existem dispositivos automáticos que permitem o desvio, para fora das cisternas, das águas das primeiras chuvas e as das chuvas fracas, aproveitando-se, unicamente, as das chuvas fortes (Figura 34). A cisterna deve sofrer desinfecção antes do uso. A água armazenada, quando for usada para fins domésticos, deve ser previamente fervida ou clorada. Figura 34 – Cisterna para captação de água de chuva Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 105 Dados úteis para projetos de cisternas estão especificados nas tabelas 12, 13 e 14 a seguir. Tabela 12 - Área Máxima de Cobertura Coletada por Calhas Semicirculares (0,5% de Caimento) Diâmetro Área Máxima de Cobertura Diâmetro Área Máxima de Cobertura 7.5 cm – 3” 16 m2 15 cm - 6” 89 m2 10 cm - 4” 39 m2 18 cm - 7” 128 m2 13 cm - 5” 58 m2 20 cm - 8” 185 m2 25 cm - 10” 334 m2 Tabela 13 - Área Máxima de Cobertura Coletada por Condutores Cilíndricos Diâmetro Área Máxima de Cobertura Diâmetro Área Máxima de Cobertura 5,0 cm – 2” 46 m2 10 cm - 6” 288 m2 6,5 cm – 2 1/2” 89 m2 13 cm - 7” 501 m2 7,6 cm - 3” 139 m2 15 cm - 8” 616 m2 20 cm - 10” 780 m2 Tabela 14 - Área Máxima de Cobertura Esgotada pelo Ramal Caimento do Ramal (declividade) Diâmetro 0,5 % 1 % 2 % 4 % 5,0 cm – 2” - - 32 m2 46 m2 7.5 cm – 3” - 69 m2 97 m2 139 m2 10 cm - 4” - 144 m2 199 m2 288 m2 13 cm - 5” 167 m2 255 m2 334 m2 502 m2 15 cm - 8” 278 m2 390 m2 557 m2 780 m2 20 cm - 10” 548 m2 808 m2 1105 m2 1616 m2 25 cm - 10” 910 m2 1412 m2 1820 m2 2824 m2 Exemplo de cálculo de um Sistema de Captação de Água de Chuva · · Quantidade de água para as necessidades mínimas de uma família com cinco pessoas: - consumo diário : 22 litros/pessoa x 5 pessoas = 110 litros; - consumo mensal : 110 litros/dia x 30 dias = 3.300 litros; - consumo anual : 3.300 litros/mês x 12 meses = 39.600 litros. · · Capacidade da Cisterna Para se obter a capacidade da cisterna, deve-se considerar somente o consumo durante o período de estiagem. Assim, se a previsão for de 6 meses sem chuva, deveremos ter a seguinte capacidade de reservação: 3.300 litros/mês x 6 meses = 19.800 litros. Unidade Didática II – Abastecimento de Água ________________________________________________________________________________________ 106 · · Superfície de Coleta Para se determinar a área da superfície de coleta, deve-se conhecer a precipitação pluviométrica anual da região, medida em mm. Considerando uma residência com área da projeção horizontal do telhado igual a 40 m2 e precipitação pluviométrica anual igual a 800 mm, poderemos captar a seguinte quantidade de água : 40m 2 x 0,8m (800mm) = 32 m3 = 32.000 litros/ano.Considerando ainda um coeficiente de aproveitamento, para os casos de telhado, igual a 0,80, já que nem toda área pode ser aproveitada, a quantidade máxima de água a ser captada será de: 32.000 litros x 0,8 = 25.600 litros/ano Portanto suficiente para suprir a cisterna dimensionada neste exemplo.
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