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Texto 3 ética e psicologia

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Prévia do material em texto

Elizete Passos 
ÉTICA 
E PSICOLOGIA 
teoria e prática 
VETOR 
EDITORA PSICO-PEDAGÓGICA LTDA. 
Rua Cubatão, 48 - CEP 04013-000 - SP 
Tel. (11) 3146-0333 - Fax. (11) 3146-0340 
 
 
ÉTICA E PSICOLOGIA 
 
Após tomarmos conhecimento sobre o que se entende por ética 
e sua fundamentação teórica, firmar um conceito da ética aplicada 
à vida, ou seja, a bioética, e indicar como a Psicologia se incluiu 
nessa especificidade, continuaremos nossa trajetória de forma 
mais focalizada na ética e psicologia. O presente capítulo tem 
como meta analisar o que se entende por ética no campo da 
psicologia, identificar os principais problemas de ordem ética 
enfrentados pelos profissionais da área, o que vem sendo 
considerado como ético por eles e pelos estudiosos do assunto e 
qual deve ser o compromisso ético da profissão e dos profissionais, 
sem restringir a sua aplicação, pois este é o propósito do capítulo 
seguinte. 
O OUTRO E A SAÚDE MENTAL 
As questões psicológicas sempre foram objeto de interesse de 
filósofos e estudiosos, na busca por conhecer e definir o ser 
humano. As diferentes formas de compreensão da realidade e as 
emergências de cada momento histórico fizeram com que não se 
tivesse, nem se tenha, uma única forma de compreensão desses 
problemas. Até mesmo o objeto de estudo da psicologia tem-se 
modificado ao longo dos tempos. 
E l i zete P ass os 
A primeira tentativa mais consistente de tratar o assunto 
surgiu no ano de 1879, na Universidade de Leipzig, quando 
Wundt organizou um laboratório de pesquisa psicológica. A ideia 
de laboratório demonstra a orientação mecanicista com que esta 
era tratada. Como afirma Laia (1991, p. 17): 
Wundt vai buscar em ciências já constituídas de seu tempo - a 
física, a Fisiologia, por exemplo - o rigor e o método para 
fundamentar a Psicologia - de William James aos modernos 
skinnerianos e à psicologia da “Nova Era” preconizada pelo 
transpessoal - acaba por repetir, com mais ou menos sucesso, o 
procedimento wundtiano. 
A posição do autor é evidenciada na prática, a partir do con-
ceito que se tem da loucura, do portador de transtornos mentais e 
do modelo de hospitais psiquiátricos ainda hoje em voga em nossa 
sociedade. 
O louco é considerado uma pessoa alienada, sem posse da sua 
razão, sem controle sobre os seus impulsos, sem consciência e 
adequação às normas sociais. Por ser diferente das pessoas 
consideradas “normais”, é tomado como desigual e destituído de 
sua liberdade e cidadania. A falta desses direitos, que definem a 
posição de sujeito, coloca-o em posição oposta, na situação de 
objeto e de coisa. 
O ponto crucial para desencadear esse processo é sua não-
aceitação das normas socialmente impostas, apesar de 
oficialmente argumentarem que eles não têm discernimento sobre 
o que é verdadeiro ou não e que estão desajustados e 
impossibilitados para a convivência social, de modo que precisam 
ser “tratados”, a fim de voltarem a ter uma vida normal. Esses 
argumentos escondem os reais motivos do incômodo que o 
“louco”/diferente/liberto provoca, com sua atitude transgressora da 
ordem estabelecida. Como conseqüência, afirma Wickert (1999, p. 
39): “[...] a exclusão se torna necessária socialmente quando a 
diferença e o insano que escapam à domesticação dos valores e 
símbolos humanos não são suportáveis.” 
5 6 
Ét ic a e Ps ic o l og i a : te or ia e pr át i c a 
Nesse aspecto, muito contribuiu a medicina que, a partir da 
sua suposta neutralidade, possuía, e até certo ponto ainda possui, 
o poder de definir a normalidade e a anormalidade e, assim, quem 
está apto para a convivência social e quem não está e precisa ser 
segregado até que esteja ajustado/conformado. 
Os hospitais psiquiátricos e os manicômios foram criados a 
partir da ideologia da massificação, da igualização das pessoas, ou 
seja, da supressão da diferença. Neles eram segregados os 
indivíduos que não apresentarem um comportamento aceitável e 
previsível socialmente, sob a “bondosa” alegação do Estado em 
protegê-los e ajudá-los a se restabelecer; quando, de fato, o que 
pretendem é silenciá-lo, não dar visibilidade à sua diferença e 
livrar-se dos incômodos que seu comportamento acarreta à 
“ordem” pública. Isso porque, como diz Foucault (1989 apud 
WICKERT, 1999, p. 25): “a loucura não diz tanto respeito à 
verdade e ao mundo quanto ao homem e à verdade de si mesmo 
que ele acredita distinguir”. 
Do mesmo modo, a saúde não significa acomodação, aceitação, 
uniformidade de ação, mas autonomia e poder de escolha. Uma 
pessoa saudável é aquela que pode e sabe escolher o que lhe traz 
felicidade e bem-estar em todos os sentidos. O que não lhe é 
permitido fazer quando ela é aprisionada em uma instituição 
manicomial, pois lá a proposta é inversa à liberdade, tanto no 
sentido físico quanto psíquico. Seu objetivo consiste em 
normatizar, adequar, silenciar as revoltas e atitudes que 
subvertam a ordem dos valores socialmente estabelecida. 
Wickert (1999) não tem dúvidas quanto à incapacidade do 
sistema manicomial na promoção da saúde do indivíduo. Afirma 
que ele: “[...] não promove a saúde do paciente, visto que não 
permite a alteridade do indivíduo.” (WICKERT, 1999, p. 41). A 
autora desdobra e aprofunda esse entendimento, dizendo que 
essas instituições padronizam o comportamento das pessoas ali 
aprisionadas, não permite que elas vivam suas 
E l i zete P ass os 
limitações, sonhos e frustrações, o que além de não diminuir o seu 
sofrimento ainda o aumenta. 
As instituições oficiais responsáveis pela promoção da saúde 
mental dos indivíduos em nosso país, por meio de seus 
profissionais e das teorias e técnicas utilizadas, em sua maioria, 
vêm destituindo o indivíduo da sua subjetividade, dos seus gostos 
e hábitos e, mais sério ainda, da sua dignidade. 
Diante da gravidade da situação, faz-se necessário que a 
sociedade, especialmente os profissionais da saúde, reveja seus 
conceitos do ponto de vista teórico, prático e moral, e o ser 
humano seja colocado como o centro, e sua individualidade e 
dignidade sejam preservadas. Os profissionais da psicologia 
podem contribuir bastante nesse processo, o que deve ser iniciado 
por sua própria transformação ideológica e utilização de novas 
orientações teóricas, diferentes daquelas de base positivista e 
mais histórica e cultural. Até porque, cada vez mais, atribuições 
que no passado eram da competência de médicos, estão sendo 
transferidas para os psicólogos, a exemplo de laudos e 
diagnósticos. Nesses momentos, sua atitude ética é fundamental, 
a fim de evitarem seguir os caminhos anteriormente descritos e se 
colocarem a serviço do outro, de sua saúde e dignidade. 
O que é possível e, até certo ponto, já vem sendo uma prática 
de muitos profissionais, pois, diferentemente do caráter me- 
canicista e técnico com que a Psicologia foi criada, hoje ela se 
coloca como uma ciência, que visa a estudar o comportamento 
humano. Do mesmo modo, já se pode falar de uma psicologia que 
possui diferentes formas de tratar a subjetividade, a fim de dar 
conta da diversidade dos indivíduos. A assunção dessa direção 
pluralista caracteriza-se como uma atitude ética, uma vez que o 
sujeito não será destituído de sua individualidade e historicidade, 
ao contrário, elas serão incluídas assim como suas 
circunstancialidades histórico-sociais. 
5 8 
Ét ic a e Ps ic o l og i a : te or ia e pr át i c a 
ALGUNS PROBLEMAS ÉTICOS QUE 
ENVOLVEM A PSICOLOGIA 
Os profissionais da Psicologia1 vivem no seu dia-a-dia de 
trabalho inúmeras situações que os coloca diante da problemática 
da moral. Inicialmente, porqueseu foco de atuação é o ser 
humano, o que apriori já o coloca na seara das relações e da 
necessidade de agir com consciência e respeito à especificidade do 
outro. Nessa relação, em especial do psicólogo com o cliente, 
problemas como os relacionados ao sigilo, aos riscos da sua 
violação por parte de participantes de grupos terapêuticos, ao 
atendimento de pessoas portadoras de doenças contagiosas, o 
valor a ser cobrado pelo serviço prestado, até o conhecimento da 
prática antiética de um colega de profissão o coloca diante de 
dilemas éticos. 
A esses problemas vão sendo agregados outros, decorrentes da 
ampliação do âmbito de atuação da Psicologia, com a abertura de 
novas áreas a exemplo da Psicologia Jurídica e da Hospitalar. 
Quanto a esta, o psicólogo passou a conviver com situações de 
nascimento, doenças graves, morte, inconformismos das famílias; 
também estão diante de grandes e preocupantes questões 
relacionadas à biotecnologia: experiências com embriões, 
transplante, eutanásia, engenharia genética, como vimos em 
capítulo anterior. 
Todos eles geram medo e insegurança e exigem reflexão e 
orientação moral sólida. O que não se dá de forma fácil e segura, 
porque vivemos em uma sociedade sem definição moral, em que 
existe, por um lado, os paladinos da moral, que não conseguem 
traduzir suas sofisticadas teorias em prática e, por outro, 
indivíduos comuns que vivem em busca da satisfação das suas 
necessidades e interesses, orientando-se pela “Lei do Gerson”. Isso 
deságua em uma situação difícil e 
1 Utilizaremos esse termo como sinônimo de psicólogo. Então, em alguns momentos, usaremos 
a palavra psicólogo e, em outros, profissionais da Psicologia. 
E l i zete P ass os 
constrangedora para quem quer e procura agir eticamente. Elas 
não encontram eco para o seu desejo nem explicações convincentes 
sobre o que significa uma-atitude ética e porque devem agir de 
determinada forma evitando outras. Segundo Drawin (1991), as 
pessoas estão desamparadas e sem modelos éticos a serem 
seguidos. 
Como os psicólogos devem se posicionar diante dos inúmeros 
problemas éticos vivenciados por eles enquanto cidadãos e 
enquanto profissionais? Nossa resposta é clara e taxativa: ele não 
pode nem deve compactuar, silenciar ou repetir atitudes que 
violem a liberdade, a dignidade e os direitos da pessoa humana. 
Nada deve impedi-lo de agir eticamente e de procurar parcerias 
na sociedade capazes de fortalecer sua prática ética e estimular 
atitudes socialmente dignas. Agindo assim, ele estará 
contribuindo para o advento de uma sociedade mais ética, em que 
as pessoas tenham exemplos a serem seguidos e encontrem apoio 
para colocar em prática seu desejo de agir moralmente. Os 
profissionais da psicologia precisam tomar consciência da sua 
importância nesse processo, considerando-se que ela é uma 
prática social que deve se fazer de forma politicamente engajada e 
comprometida com os direitos humanos. Do mesmo modo, eles são 
fazedores de opinião porque, querendo ou não, influenciam as 
pessoas com quem trabalham e são vistos por elas e por grande 
parte da sociedade como pessoas que possuem um conhecimento 
poderoso sobre a “alma” humana. 
No plano mais estrito à sua prática profissional, ele não pode 
se omitir, por exemplo, diante de situações em que a doença 
mental torna-se instrumento para a manipulação dos indivíduos, 
suprimindo seus direitos civis, a convivência social e sua 
identidade. O psicólogo precisa agir a fim de estancar esses 
procedimentos, investindo em novas práticas, analisando a doença 
dentro do seu contexto histórico social e desencastelando-se do 
consultório para viver, sentir e trabalhar as grandes questões 
sociais que motivam o sofrimento humano. 
6 0 
Ét ic a e Ps ic o l og i a : te or ia e pr át i c a 
Em síntese, ele precisa atuar em escolas, creches, abrigos, 
associações, ou seja, em todos os lugares em que a existência 
humana se faz. 
COMPROMISSO ÉTICO DA PSICOLOGIA 
Mesmo sabendo-se que a ética se dá na prática, é preciso 
reconhecer que a teoria também traz embutida uma dimensão 
ética e sua escolha passa pelo compromisso ético que o 
profissional, o estudioso, o indivíduo possui. Assim, “[...] as teorias 
psicológicas têm não apenas consequências éticas, mas implicam 
em pressupostos éticos.” (DRAWIN, 1985, p. 16). Com isso, infere-
se que não existe prática psicológica neutra, pois todas são 
perpassadas por valores e intencionalidades. 
O destino das teorias é de se articular com a prática, o que 
significa dizer que escolher uma é optar por uma forma de agir. O 
psicólogo por algum tempo foi preparado tecnicamente para agir, 
na ingênua compreensão de que a teoria não tinha uma base 
axiológica, entretanto a formação atual desse profissional vem 
investindo no repasse e na produção de teorias psicológicas, por 
entender que elas fundamentam a prática e orientam as ações. 
Diante disso, os profissionais vêm recebendo uma formação que 
contempla teorias, técnicas, métodos, enfim, ferramentas a serem 
usadas no seu dia-a-dia. No entanto, mais do que se conformar a 
ela de maneira mecânica e sem reflexão, eles devem analisar seus 
alcances e sua adequação aos ideais sociais que o profissional 
possui. Conscientes disso, precisam incluir nessa “bagagem” um 
número maior de itens, de visões, de direções, a fim de dar conta 
da pluralidade e da diversidade social e individual. 
Ao escolher as “ferramentas” teóricas e metodológicas, os 
psicólogos definem seu compromisso ético e social. No nosso ponto 
de vista, eles serão eticamente positivos quando as 
E l i zete P ass os 
escolhas recaírem em teoria, métodos e técnicas que contribuam 
para a autonomia do sujeito e para a sua emancipação. O isso 
significa? Para Marilena Chauí (1995), é autônomo o indivíduo 
que não se submete ao desejo do outro, aquele que tem condições 
de escolher o caminho que considera mais adequado ao seu bem-
estar e a sua felicidade, pois autonomia do grego, autos, significa 
“eu mesmo”, “si mesmo” e nomos quer dizer lei, norma, regra. 
E autônomo quem não se conforma às normas impostas por 
outros, mas pode escolher aquelas que lhes sejam mais 
convincentes. Do mesmo modo, aquele que tem possibilidades de 
escolher o que é melhor para si, para a sua vida e não quem é 
obrigado a seguir um caminho determinado. Como dissemos no 
primeiro capítulo, não pretendemos com isso afirmar que o sujeito 
moral seja livre de condicionamentos, mas que eles não 
inviabilizam a escolha, apenas coloca algumas dificuldades. 
O compromisso ético do psicólogo já se encontra explicitado nos 
objetivos da Psicologia que, em síntese, consistem em ajudar o 
indivíduo a ser livre. Especificamente, das suas angústias, suas 
ansiedades e seus medos e, no plano maior, em fortalecer e 
defender os direitos humanos, sem preconceitos nem sectarismos. 
Diante disso, na sua prática profissional, mesmo sabendo que 
quando uma pessoa o procura está dizendo que confia no seu 
saber e na sua competência, ele não pode usar isso como forma de 
estabelecer com ela uma relação vertical, pois estaria indo de 
encontro ao escopo da sua profissão e tendo uma atitude antiética. 
A relação ética, que deve firmar com o outro (o atendido), deve 
ser de sujeito para sujeito, reconhecendo que ele também é 
portador de saberes e mais, de emoções e sentimentos. Assim, sua 
ação deve ser respeitosa, cuidadosa e amorosa. O psicólogo e 
psicoterapeuta Marcos Alberto da Silva Pinto, em entrevista 
concedida no ano de 1994, a estudantes de psicologia de uma 
universidade de São Paulo, assim se referiu 
6 2 
Ét ic a e Ps ic o log i a : te or ia e pr át i c a 
ao assunto: “O respeito ao cliente, o respeito consigo próprio, a 
atenção e o respeito aos próprios limites. Saber olhar o outro e 
respeitar a sua direção, sendo apenas um facilitador do processo 
do outro.” (D’AMARAL; PERA, 2005, p. 1). Também afirma que 
não é ético o profissional que se impõe sobre o atendido, pois 
assim retira dele o poder de escolher o seu caminho, o seu destino. 
E evidente que existem situações em que a pessoa atendida 
precisa de maior atuação por parte do profissional, por não ser 
capaz de se responsabilizar pelos atos praticados. Essas situações 
não podem ser enfrentadas da mesma maneira, pois cada caso é 
um caso e necessita de uma análise específica. Mesmo nesses 
quadros, o profissional não deve se abster de perseguir o objetivo 
de auxiliar o indivíduo a encontrar e poder fazer uso da sua 
liberdade, o que não acontecerá se ele for tomado como um 
alienado que deve ser submetido ao poder do “curador”. 
Esse caminho difere totalmente daquele, em alguns momentos, 
percorrido pela Psicologia, quando ao profissional competia 
fornecer laudos, quase sempre descontextualizados e focados na 
subjetividade individual, os quais serviam apenas para classificar, 
rotular e controlar as pessoas, visando a manter a ordem 
socialmente estabelecida. 
O chamado para participarem de perícias e elaborarem laudos, 
por exemplo, continua existindo; porém, com outra orientação 
ética em muitos casos. Também o psicólogo passou a fazer parte 
de comissões técnicas e de equipes de saúde, assim como vem 
sendo demandada sua atuação na área familiar, entre outros. Em 
todas essas situações, ele precisa se questionar acerca do seu 
fazer, do papel das instituições públicas, entre outros, conscientes 
de que não podem transformar sua função em burocrática e 
legalista. A ele compete oferecer oportunidades para o 
crescimento do indivíduo, ajudá-lo a reorientar sua vida e 
estabelecer 
Et i zete P as s os 
novos vínculos sociais. Confirmando esse compromisso ético, 
Miranda Júnior (1985, p. 31) nos diz: “Alguns profissionais, entre 
eles o psicólogo, têm hoje a árdua missão de fazer ouvir o que 
querem calar. E para calar, inclusive já crucificaram.” 
Mesmo sendo possível identificar o avanço dessa tendência, há2 
quem acredite que os psicólogos não estão totalmente 
comprometidos com essa nova postura ética, reduzindo sua 
atuação em reafirmar a identidade do indivíduo. 
Tem razão quem assim pensa se considerarmos que o modelo 
ético hegemônico na sociedade e para muitos profissionais 
continua sendo o de base metafísica, centrado em princípios a-
históricos, ou de inspiração naturalista e ainda biológica e 
tecnológica. Todavia elas vêm sendo rechaçadas em virtude de não 
darem conta do sentido e do significado das ações humanas, como: 
por que o casamento homossexual não é aceito em nossa 
sociedade? E a eutanásia? No caso de fertilização e inseminação 
artificial, como fica a questão da paternidade? 
Essas são questões também do campo de atuação do psicólogo, 
porque ele passou a fazer parte de equipes de saúde e porque elas 
influenciam no conceito de vida, morte entre outros, interferindo 
na subjetividade dos sujeitos. Assim sendo, a ética tradicional 
baseada em conceitos universais quase sempre desconexos da 
realidade, não é capaz de satisfazer as necessidades dos 
profissionais da área; reivindica-se uma ética de inspiração sócio-
histórica. 
O novo modelo de ética, como já dissemos em momento 
anterior, não autoriza o profissional a ver o diferente como 
desigual; não permite que ele faça generalizações acerca da saúde 
mental, mas que a analise separadamente e de forma 
2 O assunto é discutido por alguns autores, entre eles Célio José Freire (2003), em artigo 
intitulado A Psicologia a serviço do outro: ética e cidadania na prática psicológica. 
6 4 
Ét i c a e P s i c o l og i a : t e or i a e pr át i c a 
contextualizada; não reforça a tendência da sociedade de silenciar 
os inconformados com a ordem estabelecida. Ele conduz os 
profissionais de saúde mental, entre eles os psicólogos a 
discutirem o sofrimento do outro de forma séria e amorosa, 
visando a encontrar soluções. 
Sem dúvida, esse caminho não reforçará as atitudes de 
exclusão, a segregação, nem o desrespeito pelas diferenças e será 
um reforço para o estabelecimento dos direitos humanos. O que 
muito tem para ser feito, pois, como entende Miranda Júnior 
(1998, p. 37): “Trabalhar pelos direitos do homem é tarefa que a 
humanidade mal começou a compreender. E neste começo 
deveríamos evitar o erro de reduzir estes direitos ao 
reconhecimento do estado de vítima.” 
A ÉTICA NA PSICOLOGIA COMO CAMINHO PARA 
O RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS 
O debate sobre os Direitos Humanos, infelizmente, só teve 
início após a vivência da violação total de qualquer respeito à vida 
e à dignidade da pessoa, especialmente após a Segunda Guerra 
Mundial. A partir daí, diante das barbaridades praticadas, a 
sociedade deixou de responsabilizar os indivíduos pelos 
sofrimentos a que eram submetidos e os assumiram como “crimes 
contra a humanidade” e de responsabilidade dos poderes 
constituídos. Nas palavras de Tidball-Binz (2000, p. 12): 
A consciência internacional despertada pelo horror dos campos 
de extermínio e elas atrocidades cometidas nos mesmos 
constituiu, sem dúvida, um catalisador para a emergência e 
consolidação de uma nova sensibilidade e de um compromisso 
global contra a violação dos D.H. e seus efeitos. 
6 5 
E l i zete P ass os 
Diante da consciência de que os crimes praticados contra os 
indivíduos eram da responsabilidade dos governos, muitos 
instrumentos legais foram elaborados, a fim de barrá-las e punir 
seus autores. O mais significativo entre eles possui mais de 50 
anos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada no 
dia 10 de dezembro de 1948, pela Assembléia Geral das Nações 
Unidas (ONU), com a presença do nosso país. 
O seu preâmbulo evidencia os objetivos que pretendia atingir, 
exteriorizados no elenco dos seus considerandos. Neles fica claro o 
compromisso com a liberdade da pessoa, o respeito à sua 
dignidade, a igualdade de direitos e a defesa da justiça e da paz 
mundial. Além disso, destacam: “A liberdade de viverem a salvo 
do temor e da necessidade, foi proclamado como a mais alta 
aspiração humana” (ONU, 1998, p. 2). 
Essa exigência é justificável, considerando-se que os seres 
humanos sempre foram hierarquizados e, a partir disso, seus 
direitos foram estabelecidos. No Brasil, do final do século XIX e 
início do XX, o discurso médico, reforçado pelo dos psiquiatras, 
depois dos sociólogos, antropólogos entre outros, legitimava as 
desigualdades a partir de argumentos considerados científicos, 
mas que, de fato, eram de origem moralista e ideológica. Por 
exemplo, os negros eram vistos como degenerados, inferiores e 
anormais, o que justificava seu tratamento desigual e autorizava 
as autoridades científicas da época a investirem na sua 
domesticação e, mais ainda, na luta por conseguir chegar a uma 
“raça pura”, entre outras formas, por meio da proibição de uma 
“procriação defeituosa”. 
Outras iniciativas consideradas cautelares ou reparadoras 
eram defendidas: esterilização de loucos, mendigos e pobres, tidos 
como parasitas, pois improdutivos. Chegou-se ao grande poder 
que os médicos passaram a ter sobre a forma de vida das famílias 
e a tutela da classe trabalhadora, no caso, tendo em vista ajustá-la 
aos modelos de produção vigentes e aos princípios morais 
estabelecidos (COIMBRA, 2000). 
Ét ic a e Ps ic o l og i a : te oria e pr át i c a 
No fundo, o que se pretendia era adequar as pessoas à ordem 
social, visando à estabilidade da governabilidade e ao impedimen-
to de qualquer reação que significasse perigo à sua continuidade. 
Nisso, além dos profissionais já mencionados, foi de grande valia a 
contribuição da Psiquiatria e mais tarde da Psicologia. 
Hoje, nem o Brasil nem o mundo se ressentem de normas e leis 
explícitas que se proponham a barrar e orientar a humanidade 
em prol do respeito aos direitos da pessoa, contudo continuamos 
presenciando cotidianamente sua violação. Diante do que 
algumas perguntas se colocam: o que continua reforçando tal 
descaso? Por que as leis não são cumpridas? O que a sociedade 
pode fazer diante da violação dos Direitos Humanos e, 
especialmente, o que os profissionais da Psicologia vêm fazendo e 
o que ainda precisam fazer? 
Como o nosso interesse não consiste em alargar a discussão em 
direção ao macrossocial, e sim focalizar no micro, ou seja, na ação 
de uma categoria profissional, mesmo sabendo que isso não pode 
ser feito de forma descontextualizada, faremos algumas reflexões 
ampliadas, antes de focalizar no que interessa à discussão 
específica. A primeira referência que fazemos, remete-nos aos 
capítulos anteriores, principalmente ao primeiro, quando 
dissemos que a lei não é uma garantia para sua concretização na 
prática. Muito mais do que imposição, a mudança de 
comportamento ou a assunção de uma nova forma de ser implica 
consciência e convencimento da sua importância. Assim, a 
motivação não pode vir de fora, mas do íntimo dos indivíduos. 
Também a defesa de que a impunidade é o principal motivo da 
violação das normas não deixa de ser um estímulo, entretanto ela 
assim o será se vivermos em uma sociedade em que as bases 
morais não estiverem bem definidas e os exemplos contribuírem 
para a repetição de tais práticas. Concordando com Arantes (2000, 
p. 65): “Não há como conceder direitos humanos sem a obrigação 
de garanti-los. Senão, fica-se meramente no plano teórico, formal, 
abstrato.” 
E l i zete P ass os 
Quanto aos psicólogos, na visão de Cecília Coimbra (2000), 
profissionais da subjetividade humana, não lhes é permitido 
acomodar-se diante da violência contra os Direitos Humanos e, 
muito menos, usar seu saber e suas ferramentas profissionais 
para levar os indivíduos a se acomodarem diante do seu so-
frimento físico e mental. Físico, porque os direitos Humanos 
devem incluir os direitos de ordem social e econômica, caracte-
rizados pela fome, pela violência a que as pessoas encarceradas 
normalmente são vítimas, por torturas, violência contra mulheres 
e crianças. Contudo, ainda mais sérios são os de ordem mental, 
mais profundos, difíceis de serem superados e quase sempre 
invisíveis. 
Os problemas referentes ao desrespeito aos direitos da pessoa 
são graves e se avolumam a cada dia. Como dissemos 
anteriormente, existem novas vítimas: homens, mulheres, 
crianças, negros, homossexuais, índios, enfim, os desprotegidos. 
Seu clamor se faz ouvir e exige ações enérgicas e imediatas, não só 
dos governantes, mas de toda a sociedade e das categorias 
profissionais. Inicialmente, porque o exercício da solidariedade e 
da responsabilidade faz parte do ser humano e são elementos que 
o definem; do mesmo modo, porque se continuarmos fazendo de 
conta que o assunto não nos pertence, estaremos decretando o fim 
da convivência social e, quiçá, da vida humana. Com isso, o que 
estamos afirmando é que a violação dos direitos humanos não 
afeta apenas o violado e seus familiares, mas a sociedade como 
um todo. 
O compromisso ético da Psicologia com o respeito e for-
talecimento dos Direitos Humanos, como vimos, é inerente ao seu 
próprio objeto. O que não foi suficiente para que ela, durante a 
sua história, tivesse atitudes coerentes com esse propósito. Alguns 
fatores contribuíram para isso, a iniciar por sua herança 
positivista, que exigia dos profissionais atitudes neutras, a fim de 
manterem a coerência com os princípios da ciência positivista; no 
Brasil, a situação é agravada por ter seu desenvolvimento 
coincidido com um período de repressão. 
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Ét ic a e Ps ic o l og i a : te or ia e pr át i c a 
Esses são fatores que impediram ou dificultaram que ela 
crescesse de forma socialmente engajada, todavia, hoje, esse 
engajamento é um imperativo. Ela busca se redimir da omissão 
anterior, ser coerente com seu propósito básico e, principalmente, 
cumprir o seu papel ético, contribuindo para que as pessoas 
possam ser livres, cidadãs e fraternas. 
Logicamente, isso não poderá se dar se os profissionais em sua 
prática fizerem coro com algumas pseudo-ações éticas que 
defendem que o ser humano precisa ser alegre e feliz, por 
exemplo, como mais uma obrigação, uma conquista individual que 
deve ser buscada no seu íntimo, deixando de lado seu aspecto 
social e suas condições concretas de vida. Isso porque, como 
querem alguns estudiosos, a exemplo de Sawaia (2004), a 
afetividade é importante, mas não de forma mecânica e 
obrigatória. 
Outro cuidado que se deve ter é quanto à solidariedade e 
tolerância que a sociedade exalta a respeito das minorias, pois se 
não praticada de forma ética e politicamente comprometida pode 
resvalar em seu oposto, ou seja, além de não contribuir para a sua 
emancipação, será uma forma de legitimar a exclusão e manter os 
excluídos na condição de vítimas e coitados. Diante de tal ameaça 
Sawaia (2000, p. 72) adverte: 
Essa perspectiva ético política aumenta a responsabilidade do 
psicólogo, no debate atual sobre os direitos humanos, visto que 
sua ciência é o lugar legitimado de construção de sentidos de 
sujeito e subjetividade. Precisamos refletir sobre as 
repercussões sociais de nossas teorias e práticas. Será que elas 
não estão criando semânticos apartheids e conduzindo a novas 
formas de subordinação. 
Essa preocupação, que traz embutida uma recomendação, com 
a qual concordamos, delineia um ponto de vista atual da 
Psicologia quanto ao entendimento de que os Direitos Humanos 
devem ter por base a dignidade da pessoa, de modo que 
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E l i zete P ass os 
eles não devem ser cindidos entre os sociais, econômicos ou 
políticos, mas que sejam respeitados e garantidos todos os direitos 
fundamentais a uma vida humanamente digna. 
Vale lembrar, ainda que essa vertente esteja sendo firmada no 
momento presente, que a Psicologia já possui uma história nesse 
campo, por meio da postura de muitos dos seus profissionais de 
hoje, estudantes na década de 1970, quando o País vivia um 
momento de repressão, e estes tiveram uma participação ativa 
nos movimentos de reação ao regime e seus desmandos. A 
experiência serviu para que eles pudessem demonstrar e 
fortalecer sua consciência cidadã e seu compromisso com a 
emancipação individual e social. Também vale registro a atitude 
pioneira do Conselho Federal de Psicologia (CFP) à época, ao não 
se intimidar diante dos profissionais que colocavam sua 
competência técnica a serviço dos aparelhos repressores. 
Mais recentemente, em agosto do ano de 1997, essa vin- 
culação estrutural da Psicologia com os Direitos Humanos, 
ensaiada em muitos momentos, ganhou forma e consistência com 
a criação da Comissão Nacional de Direitos Humanos, do CFP 
Seu objetivo principal é abrir a discussão entre os profissionais 
sobre os direitos fundamentais dos seres humanos, incluindo aí os 
clássicos presentes do documento de 1948 (Declaração Universal 
dos Direitos Humanos), como: direito à vida, à segurança, à plena 
igualdade, a se locomover e a ter liberdade, entre outros. 
A esses foramacrescidos outros direitos, a partir das 
peculiaridades de cada nação. No caso dos países da América 
Latina, os direitos econômicos e sociais se impuseram e 
continuam se impondo, pois, além da desigualdade e da exclusão 
visível cotidianamente, estudos atuais confirmam que existem 
220 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. Em 
nosso país, as cifras são alarmantes e exigem que toda a sociedade 
se mobilize para reverter o quadro: são 
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32 milhões de pessoas sem condições para se alimentar, óbitos de 
300 mil crianças por ano, decorrentes da desnutrição. Agravam o 
quadro a violência urbana, a situação desumana em que vivem os 
nossos indígenas e os trabalhadores sem terra (MENDONÇA, 
2004). 
Como dissemos, a luta deve ser de todos, pois apesar de sermos 
indivíduos, somos também seres sociais e só nos realizamos nas 
relações e na dialogicidade. Isso não ocorre praticando uma 
inclusão técnica, mecânica, vendo o outro como menor e carente 
de proteção. O outro precisa ser reconhecido, como formaliza a 
Declaração Universal, como ser de razão, de sentimentos e de 
liberdade. Quanto a essa última, somos levados a acreditar que 
ela depende apenas da vontade e da ação de cada indivíduo, sem 
levar em conta que sua condição original de ser livre, depende de 
condições satisfatórias para concretizá-la. Por exemplo, poderá ser 
livre um ser humano destituído de toda e qualquer condição 
material? Maria Rita Kehl (2004), em um artigo intitulado 
Subjetividade e Direitos Humanos, traz uma argumentação 
extremamente coerente com o que pensamos, ao afirmar que a 
necessidade priva o indivíduo da sua condição de sujeito e, assim, 
ele não terá condições de ser livre. Conclui o raciocínio dizendo 
que ela é, portanto, uma forma de exclusão do indivíduo de sua 
condição humana. 
Apesar disso, a exclusão não se caracteriza apenas pela falta 
de emprego, mas pela qualidade do emprego, pelas condições de 
trabalho, pelo lugar em que o indivíduo é colocado nele. Também 
não se concretiza apenas por não se ter direito à educação, mas 
por ter uma educação de péssima qualidade, que não possibilita 
que o indivíduo cresça como pessoa, desenvolva suas 
potencialidades criativas e seus talentos. 
Com isso, queremos afirmar que o compromisso dos go-
vernantes, da sociedade e dos profissionais, destacando-se os 
psicólogos com o fortalecimento e o respeito com os Direitos 
Humanos, deve ultrapassar a ações caritativas ou filantró 
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picas e atingir os valores, o compromisso filosófico e a ética, 
voltados para a emancipação, para a cidadania e para a inclusão 
social. Infelizmente, ainda estamos longe de alcançar esses 
objetivos, pois, por mais que se tenha falado e se fale em direitos 
humanos, eles são continuamente desrespeitados, como vimos em 
passagem anterior. 
A situação torna-se mais grave porque, além de não ser en-
frentada, ainda se busca mascará-la por meio de argumentos e 
práticas supostamente éticas. Diante disso e para sustentar nossa 
argumentação, relembramos o Artigo XXIX da Declaração 
Universal: “Todo homem tem deveres para com a comunidade, na 
qual é possível o livre e pleno desenvolvimento de sua 
personalidade [...]” (1978, p. 26). Há, no texto, de forma explícita, 
a responsabilidade da sociedade e, assim, de cada cidadão e 
cidadã com as condições do planeta em que vivemos, da 
comunidade a que pertencemos, de cada ser humano com os quais 
nos relacionamos; com isso, estaremos também nos preocupando 
conosco. Porque, como já referimos e já havia sido preconizado 
remotamente por Aristóteles, somos animais políticos, ou seja, 
vivemos na polis, na cidade, em relação. Assim, não basta 
cuidarmos dos nossos interesses, de nós mesmos, para sermos 
felizes e conseguirmos crescer como pessoas, é necessário que 
possamos conviver com pessoas que também sejam sujeitos de 
direitos na teoria e na prática. 
No que se refere ao papel da Psicologia nesse processo, muito 
já dissemos, contudo, uma síntese pode ser feita a partir da 
posição Kehl (2004), ao afirmar que os cidadãos deveriam ter 
vergonha de conviver com a de falta de ética, de desrespeito aos 
seres humanos. Nisso, ela inclui os psicólogos, alegando que, ain-
da que não sejam responsáveis pelo que ocorre, devem trabalhar 
com essa idéia de vergonha. Vejamos em suas palavras: 
Tenho a impressão, então, que a psicologia deveria começar a 
trabalhar um pouco com essa idéia de vergonha, a vergonha 
que tem a ver com a nossa participação no espaço 
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público, com nossa imagem pública e com os nossos ideais, 
para que possamos construir uma sociedade da inclusão. 
(KEHL, 2004, p. 40). 
Após delinearmos o caminho da ética no campo da Psicologia 
de maneira geral, destacando que ela deve levar à defesa dos 
direitos fundamentais da pessoa, ainda demonstrado que esse 
deve ser um compromisso de toda a sociedade, especialmente das 
categoriais profissionais organizadas, como a dos psicólogos, no 
capítulo seguinte focalizaremos nossas reflexões sobre a ética nas 
práticas dos profissionais da Psicologia. 
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