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Direito Civil Lfg Pablo Stolze

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Direito Civil-LFG-Pablo Stolze
Aula 01
Personalidade jurídica
Conceito:A personalidade jurídica é a aptidão para se titularizar direitos e contrair obrigações ma órbita jurídica,vale dizer,é o atributo do sujeito de direito.
PESSOA FÍSICA OU NATURAL:Augusto Teixeira de Freitas chama a pessoa física ou natural de ENTE DE EXISTÊNCIA VISÍVEL.Q:EM QUAL MOMENTO A PF OU NATURAL ADQUIRE PERSONALIDADE JURÍDICA?Aparentemente a resposta é dada pela 1ª parte do artigo 2º do código civil,pelo qual a personalidade da pessoa física seria adquiria a partir do nascimento com vida,ou seja,a partir do funcionamento do aparelho cardio-respiratório.Entretanto,a 2ª parte do mesmo dispositivo reconhece a proteção dos DIREITOS DO NASCITURO desde a concepção,o que nos faz indagar:teria também o nascituro personalidade jurídica?Trata-se de uma das mais acesas polêmicas da doutrina civilista brasileira:saber se o nascituro pode ou não ser considerado pessoa.
O nascituro inicialmente,vale lembrar,seguindo a doutrina de Limongi França,que o nascituro é o ente concebido,mas ainda não nascido,em outras palavras,é o ente da vida intrauterina.
Obs:Vale advertir que o nascituro não se confunde com o concepturo e com o natimorto.O concepturo,também chamado de prole eventual,é aquele que nem concebido ainda foi.EX:”A”DEIXARÁ SEU PATRIMÔNIO PARA OS FILHOS DE “B” QUE AINDA NEM NASCERAM.O natimorto é aquele nascido morto,que deverá ser registrado em livro próprio do cartório de pessoas naturais.Ver enunciado nº01 da 1ª jornada de direito civil.
#O intrigante tema atinente à personalidade ou não do nascituro tenta ser solucionado à luz de três teorias explicativas fundamentais:
❶teoria natalista(Sílvio Rodrigues,Vicente Ráo,Sílvio Venosa)
❷teoria da personalidade condicional(Serpa Lopes)
❸teoria concepcionista(Teixeira de Freitas,Silmara Chinelato)
A teoria natalista,tradicional em nosso direito,sustenta que a personalidade jurídica só seria adquirida a partir do nascimento com vida,de maneira que o nascituro,não seria considerado pessoa,gozando de mera expectativa de direitos.
Obs:Mesmo que se siga a teoria natalista,não é razoável,na perspectiva do princípio da dignidade da pessoa humana,que além do nascimento com vida,exija-se forma humana ou tempo mínimo de sobrevida,como exigia o artigo 30 do código civil espanhol antes da lei espanhola nº20 de 21/07/2011.
Para a teoria da personalidade condicional,que fica a meio caminho entre a natalista e a concepcionista,o nascituro seria dotado de personalidade apenas para os direitos existênciais(como o direito à vida),mas apenas consolidaria a personalidade para a aquisição de direitos econômicos ou materiais sob a condição de nascer com vida.
Obs:Esta segunda teoria não é incisiva para afirmar ser o nascituro uma pessoa com personalidade plena,inclusive para efeitos patrimoniais.Aproxima-se da classificação apresentada pela professora Maria Helena Diniz,segundo a qual o nascituro teria uma personalidade formal,mas somente adquiriria direitos materiais sob a condição de nascer com vida.
Finalmente,a teoria concepcionista,mais completa,afirma que o nascituro é dotado de personalidade jurídica desde a concepção,inclusive para efeitos patrimoniais.Percebemos que,aos poucos,a teoria concepcionista ganha mais espaço nos tribunais,inclusive na lei brasileira,a exemplo da lei de alimentos gravídicos(lei 11804/08)e as recentes decisões do STJ que admitiram o dano moral ao nascituro(RESP 399028/SP) e até mesmo pagamento de DPVAT pela morte de nascituro(Noticiário de 15/05/2011).
Q:QUAL DAS TEORIAS O CÓDIGO CIVIL ADOTA?Segundo Clóvis Bevilaqua,em seus comentários ao código civil dos Estados Unidos do Brasil(Ed.Rio,1975),em posição ainda atual,o código civil aparentemente pretendeu adotar a teoria natalista “por parecer mais prática”,embora em diversos momentos sofra influência concepcionista.
Obs:o julgamento da ADI 3510-0 referente à lei de biossegurança não pacificou a controvérsia,pois não teve o objetivo de discutir especificamente qual a teoria adotada.
Capacidade 
A capacidade se desdobra na capacidade de direito e na de fato.A capacidade de direito é uma capacidade geral,genérica,uma que qualquer pessoa tem.Segundo Orlando Gomes,a capacidade de direito é noção que se confunde com o próprio conceito de personalidade.Mas nem todos têm a capacidade de fato ou de exercício,pois ela traduz uma aptidão para pessoalmente praticar atos na vida civil.EX:O RECÉM-NASCIDO NÃO TÊM A CAPACIDADE DE FATO.Quando o indivíduo obtém as duas capacidades,ele obtém a capacidade civil plena.
Obs¹:Vale lembrar que o conceito de capacidade não se confunde com a denominada legitimidade,a qual,lembrando Calmon de Passos,consiste na pertinência subjetiva para a prática de determinados atos jurídicos.Vale dizer,mesmo sendo capaz,a pessoa pode estar impedida de praticar determinado ato jurídico por falta de legitimidade(artigo 1521,IV).A falta da capacidade de fato gera a incapacidade civil.Essa incapacidade civil absoluta está no artigo 3º e a relativa está no artigo 4º.Os absolutamente incapazes serão representados enquanto que os relativamente incapazes serão assistidos.
Obs²:No que tange o inciso II do artigo 3º,vale lembrar que o reconhecimento da incapacidade(absoluta ou relativa)por enfermidade ou deficiência mental,opera-se por meio do procedimento de interdição regulado pelo artigo 1172 do CPC.Proferida,publicada e registrada a sentença de interdição,qualquer ato que o incapaz pratique sem o seu curador,mesmo em estado de lucidez,será INVÁLIDO.
Obs³:Orlando Gomes,segundo doutrina italiana,na mesma esteira da redação original do artigo 503 do código civil francês[antes da lei de 05/03/2007]observa que o ato praticado pelo incapaz ainda não interditado,poderá ser invalidado se concorrerem três requisitos:
1-a incapacidade do entendimento;
2-o prejuízo do incapaz;
3-a má-fé da outra parte(esta má-fé,por óbvio,pode ser circunstancialmente aferida)
IPC¹:A teoria do “Actio libera in causa”,desenvolvida no direito penal(ver texto de Claus Roxin em www.cienciaspenales.net),também se aplica ao direito civil segundo Alvino Lima na obra da culpa ao risco,pois é justo que se responsabilize a pessoa que voluntariamente se coloque em estado de incapacidade.Aplica-se ao inciso III do mesmo artigo.
IPC²:	Menores de 16 anos→impúberes 
	Menores de 18 anos e maiores de 16 anos→púberes 
NOTA:A prodigalidade é a compulsão em reduzir o patrimônio até a miséria.EX:VÍCIO EM JOGOS E COMPULSIVIDADE POR COMPRAS PODEM CARACTERIZAR MOTIVO PARA A INTERDIÇÃO À LUZ DO ARTIGO 1782 CC.Q¹:O PRÓDIGO PRECISA DE CURADOR PARA SE CASAR?Sim,pois o curador é quem decidirá o regime de bens do casamento.Q²:O QUE É O ESTATUTO JURÍDICO DO “PATRIMÔNIO MÍNIMO”?A teoria desse instituto desenvolvida pelo professor Luis Edson Fachin,afirma que à luz do princípio da dignidade da pessoa humana,será quando o indivíduo deve ter preservado pela lei civil o mínimo do patrimônio para se ter uma vida digna.
Aula 02
Q¹:O QUE É “RESTITUTIO IN INTEGRUM”?Pode significar apenas uma restituição integral,mas no campo da capacidade civil,segundo Clóvis Bevilaqua,o benefício de restituição ou “restitutio in integrum”consistia no benefício conferido aos menores ou incapazes em geral de pleitear de volta o que pagou caso alegassem prejuízo,ainda que o ato praticado fosse formalmente perfeito.Vale lembrar que o artigo 8º do código civil de 1916,por segurança jurídica,expressamente o proibia,proibição esta que a doutrina entende ainda em vigor à luz do código novo.O código novo nada diz,mas a doutrina ainda considera ABSURDO esse instituto.
Obs:ver no material de apoio LFG,os comentários ao artigo 119 do código civil.
Q²:QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS EFEITOS DA MAIORIDADE CIVIL?SE A MAIORIDADE CIVIL CAIU DE 21 PARA 18 ANOS,POR QUE O CASO DE PAGAR PENSÃO ALIMENTÍCIA A UMA PESSOA DE 19 ANOS?Inicialmente é importante frisar,que no âmbito do direito de família,que o próprio STJ já consolidou o entendimento(RESP 442502 SP e RESP 739004 DF)no sentido de que o alcanceda maioridade civil NÃO IMPLICA CANCELAMENTO AUTOMÁTICO DA PENSÃO ALIMENTÍCIA,que exige a garantia do contraditório(SÚMULA 358 STJ).A pensão pode ser paga até o fim da conclusão dos estudos(faculdade,curso técnico etc.),ou seja,até 24,25 anos como por exemplo.Em estudo stricto sensu(pós-graduação),o STJ já deu a entender que o pai ou a mãe não pagará pensão.
Obs:ver no material de apoio LFG diversas decisões do STJ atinentes à participação do MP em processos que envolvam pagamento de pensão alimentícia.Vale acrescentar ainda,no âmbito do direito previdenciário,que benefícios pagos pela lei previdenciária deverão observar o seu limite etário e não o do código civil(Nota SAJ 42/2003 e enunciado nº03 da 1ª jornada de direito civil).
Emancipação
Q:O ANIVERSÁRIO SE COMPLETA NO PRIMEIRO INSTANTE DA DATA OU 24 HORAS APÓS O DIA DO ANIVERSÁRIO?Segundo Washington de Barros Monteiro,a maioridade civil é atingida no 1º instante do dia em que se comemora o aniversário.Por meio da emancipação,instituto também presente em outros sistemas do mundo(a exemplo do artigo 133 do código de Portugal),anteciparam-se os efeitos da plena capacidade civil e,segundo nosso direito,a emancipação pode ser:
a)voluntária(artigo 5º,parágrafo único,I,1ª parte)
b)judicial(artigo 5º,parágrafo único,I,2ª parte)
c)legal(artigo 5º,parágrafo único,II a V)
Emancipação voluntária
É aquela concedida pelos pais ou por um deles na falta do outro,mediante instrumento público,independente da homologação do juiz,e desde que o menor tenha 16 anos completos.Atipicamente se houver discordância entre os pais,o juiz poderá decidir.Embora não seja necessário,é recomendável que o emancipado participe da celebração,haja vista que o fato irá repercutir em sua esfera jurídica(O ATO É DOS PAIS!)Q:O FATO DE UM DOS PAIS DETER A GUARDA DO FILHO GARANTE A ELE EMANCIPAR EXCLUSIVAMENTE O FILHO?Não,o fato de um deter a guarda do menor não exclui o poder familiar de outro,salvo se houver alguma sentença que o destitua do poder familiar.
Obs:Lembramos Silvio Venosa em artigo intitulado:”a responsabilidade dos pais pelos filhos menores”que,no caso de emancipação voluntária na linha de entendimento do próprio STF(RTJ 62/108),a responsabilidade dos pais pelo ilícito causado pelo menor emancipado persiste até que se alcance 18 anos,para que a vítima não corra o risco de ficar irressarcida.
Emancipação judicial
A emancipação judicial,segundo o código civil,é aquela concedida pelo juiz(E NÃO PELO TUTOR)ouvido o tutor,desde que o menor tenha pelo menos 16 anos completos.EX:MENOR ÓRFÃO DE PAI E MÃE
Emancipação legal
As formas de emancipação legal,como a própria expressão sugere,deriva diretamente da lei e são as seguintes:
I)Casamento
Desde 1517,tanto homem quanto mulher,atingem capacidade núbil aos 16 anos.Há exceções,no artigo 1520,onde se pode realizar casamento com menos de 16 anos.EX:GRAVIDEZ
Q:O CASAMENTO EMANCIPA,MAS EM CASO DE DIVÓRCIO,O ATO EMANCIPADO PODE SER PREJUDICADO?Não,o divórcio,por projetar efeitos para o futuro,não retorna a situação de incapacidade;diferente é a hipótese de o casamento SER INVALIDADO(EX:CASAMENTO SOB FRAUDE,POR COAÇÃO...),caso em que,ressalvada a hipótese de putatividade,a sentença opera efeitos retroativos restituindo o estado anterior das coisas(Zeno Veloso,Tartuce,Simão...)
II)Exercício de emprego público efetivo(ENGLOBA CARGO TAMBÉM)
É difícil de se acontecer,pois a maioria dos concursos exige a idade mínima de 18 anos.
III)Colação de grau em curso de ensino superior
IV)Estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego,desde que,em função deles,o menor com 16 anos completos TENHA ECONOMIA PRÓPRIA em cada uma das três situações possíveis.
→estabelecimento civil:geralmente se caracteriza pela prestação de um serviço ou o exercício de um ofício.ex:menor professor de música
→”economia própria”:como se sabe,o moderno direito civil adotou um sistema normativo aberto,permeado de cláusula gerais e conceitos abertos ou indeterminados.À luz do princípio da operabilidade(um dos vetores normativos do novo código civil segundo Miguel Reale-ver referência de texto no material de apoio),”economia própria” é um conceito vago ou fluídico,assim como a expressão “justa causa”,a ser preenchido pelo juiz segundo as circunstâncias do caso concreto.
Obs¹:existem mais 2 princípios citados por Miguel Reale,regentes no código civil,são:os princípios da sociabilidade(o código prestigia a função social)e o princípio da eticidade(o código prestigia a boa fé).
QUESTÕES ESPECIAIS ENVOLVENDO O MENOR ANTECIPADO
#O professor Paulo Sumariva no artigo:”a lei das falências e a imputabilidade penal”,sustenta que o menor antecipado poderá falir e caso configurado crime falimentar,responderá por ato infracional segundo o ECA.O professor LFG por sua vez,sustenta a possibilidade da prisão civil ao emancipado,já que é apenas um meio coercitivo de pagamento.
Q:POR QUE O MENOR EMANCIPADO NÃO PODERÁ DIRIGIR?Finalmente é bom lembra que a emancipação não autoriza a condução de veículos na medida que o artigo 140,I do CTB exige que o condutor seja PENALMENTE IMPUTÁVEL.
Extinção da pessoa física ou natural
Como se sabe,nos termos do artigo 6º do CC,a extinção da PF ou natural,opera-se por meio da MORTE.O marco utilizado,hoje,pela medicina para a fixação da morte é a morte encefálica,dado o seu caráter de irreversibilidade(ver resolução 1826/2007 do CFM).Vale acrescentar ainda que,nos termos da lei de registros públicos(lei 6015/73),artigos 77 e seguintes,o óbito deve ser declarado por um profissional da medicina,e,em sua falta,EXCEPCIONALMENTE,por 2 testemunhas.
MORTE PRESUMIDA
O código civil brasileiro reconhece duas situações básicas de morte presumida:
❶em caso de ausência,quando aberta a sucessão definitiva dos bens do ausente;
OBS:a ausência ocorre quando a pessoa desaparece do seu domicílio,sem deixar notícia ou representante que administre os seus bens.Trata-se de um procedimento regulado a partir do artigo 22 do código civil e detalhadamente explicado no texto complementar do material de apoio LFG 01.
❷a morte presumida também pode se dar FORA DA SITUAÇÃO DE AUSÊNCIA,nas hipóteses do artigo 7º do CC.Esse artigo é chamado de “processo de justificação”.
I)Se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida.EX:CASO ULYSSES GUIMARÃES.
II)Se alguém,desaparecido em campanha ou for feito prisioneiro,não for encontrado até 02 anos após o término da guerra.
Finalmente,vale lembrar que o STF editou a súmula nº 33 afirmando ser legítima a incidência do imposto de transmissão ”causa mortis”no inventário por morte presumida.
Aula 03
Q:O QUE É COMORIÊNCIA?A comoriência consiste na situação em que duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião,sem que se possa identificar a ordem cronológica dos óbitos,caso em que se consideram SIMULTANEAMENTE MORTAS(artigo 8º CC).Na prática,a presunção de morte simultânea significa que serão abertas cadeias sucessórias autônomas e distintas,de maneira que um comoriente nada transmita ao outro(ver AI 598569952 TJ/RS).
Obs:NÃO PRECISAM ESTAR NO MESMO LUGAR!EX:”A” EM SP LIGA PARA O IRMÃO “B”NO JAPÃO E DÁ UMA NOTÍCIA TRÁGICA.”B” AO OUVIR INFARTA AUTOMATICAMENTE E “A” OUVINDO O IRMÃO CAIR AO CHÃO,INFARTA TAMBÉM.
Premoriência→Não se confunde com comoriência,pois nada tem a ver com morte simultânea.Trata-se de expressão que caracteriza a situação de pré-morte com implicações no âmbito sucessório.
PESSOA JURÍDICA
Nos dias de hoje,adotamos a expressão “PJ” muito embora,no direito comparado,outras terminologias já foram usadas como pessoas morais,pessoas abstratas e até mesmo,”ente de existência ideal”por Teixeira de Freitas.Como decorrência da natureza humana de associar-se a outros seres humanos(Fato assocativo->os seres humanos são gregários por natureza)segundo a doutrina do sociólogo Machado Neto,os homens têm a tendência inata do agrupamento,pois perceberam que,em grupos,atingiriam com maior eficiência os seus propósitos,especialmente os econômicos.Assim,observa Orlando Gomes,quea categoria da PJ surgiu da necessidade de personificação desses grupos,para que atuassem com autonomia.Portanto,um primeiro e básico conceito de PJ é no sentido de ser aquele grupo humano,criado na forma da lei e dotado de personalidade própria,para a realização de fins comuns.
Obs:naturalmente,dada a complexidade das relações sociais contemporâneas,especiais tipo de PJ têm natureza própria,a exemplo das fundações e da EIRELI(empresa individual de responsabilidade limitada).
TEORIAS EXPLICATIVAS DA PJ(existem duas correntes)
1)corrente afirmativista				
2)corrente negativista
A corrente negativista não aceitava a existência da PJ(Planiol,Britz,Becker...)A PJ nada mais é do que um grupo de PFs reunidas ou um patrimônio coletivo.Com o tempo,essa corrente perdeu força para a corrente afirmativista que gerou várias interpretações teóricas como a teoria da ficção(desenvolvida por Windscheid e Savigny).Para esta teoria,a PJ teria uma existÊncia meramente ideal ou abstrata,sendo uma criação da pura técnica do direito.O defeito dessa teoria da ficção era que por ser abstrata demais ficava difícil observar a sua dimensão(ou existência)social.Uma segunda teoria foi desenvolvida:a teoria da realidade objetivo-sociológica ou teoria organicista(por Clóvis Bevilácqua).Nessa segunda teoria,a PJ seria simplesmente um organismo social vivo,a ser explicado pela sociologia,e não pela técnica do direito.Aqui ela já reconhecia a PJ e a sua existência social,mas negava-lhe a técnica de personificação da pessoa.Finalmente,viu-se uma terceira teoria em meio termo às duas anteriores:a teoria da realidade técnica(por Salleys e Ferrara),captando o melhor das duas teorias.Para esta 3ª teoria,mais equilibrada,a PJ seria personificada pela técnica abstrata do direito,a par de também ter dimensão social,integrando relações de variada ordem.
Aquisição da personalidade da PJ(artigo 45)
Q:EM QUE MOMENTO A PJ ADQUIRE PERSONALIDADE?Nos precisos termos do artigo 45 do CC,começa a existência legal das PJs de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,precedida,quando necessário,de autorização especial do poder executi-vo.Vale dizer,nos termos da própria lei brasileira,o registro do ato constitutivo(contrato social ou estatuto)é constitutivo da sua personalidade.Em geral,esse ato constitutivo é feito na junta comercial ou no CRPJ(cartório de registros de PJ).
CURIOSIDADE:SOCIEDADE DE ADVOGADOS É CONSTITUÍDA NA OAB.
Obs¹:Na pessoa física,o ato não é constitutivo,mas sim,declaratório.
Obs²:Lembra-nos Caio Márcio em sua obra:”instituições de direito civil”que o registro da PJ,por ser constitutivo,tem efeitos ex-nunc.Portanto conforme deverá ser visto em direito empresaria,entes sem registro são considerados despersonificados,o que implica responsabilidade pessoal dos seus sócios ou administradores,nos termos dos artigos 986 e seguintes do CC.
IPC¹:Existem algumas PJs que necessitam de uma autorização especial para se constituírem,caso contrário irá resultar em inexistência da sua PJ.EX¹:BANCOS PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO DO BACEN PARA SE CONSTITUÍREM.EX²:SEGURADORAS PRECISAM DE AUTORIZAÇÃO DA SUSEP PARA SE CONSTITUÍREM(SUSEP=SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS).
IPC²:Essa autorização especial não viola o direito de associação contido na CF,visto que é matéria de ordem pública regulamentando e não,impedindo,além disso no exemplo de falência de uma dessas PJs poderá haver um caos econômico.Q:O QUE SÃO”GRUPOS DESPERSONIFICADOS”COM CAPACIDADE PROCESSUAL?Determinadas entidades,a exemplo de espólio,massa falida,herança[VER ARTIGO 12 CPC],embora tecnicamente não sejam PJs,ela possuem capacidade processual.Alguns autores como a professora Maria Helena Diniz citam que eles têm personalidade anômala,ora tendo,ora não.A título demonstrativo,há um projeto de lei do parlamentar José Santana(2009)que pretende modificar expressamente o CC e a lei de registros públicos para considerar o condomínio como PJ,embora eles tenham CNPJ por ficção tributária.
ESPÉCIES DE PJ DE DIREITO PRIVADO
O CC,em rol não exaustivo,elenca as PJs de direito privado em seu artigo 44.São as seguintes:
PS→”Em sua redação original,o artigo 44 considerava PJ de direito privado as associações,as sociedades e as fundações.O legislador expressamente reconheceu as categorias das ‘organizações religiosas e partidos políticos’,em incisos autônomos,mesmo tendo natureza associativa,com o objetivo de excluí-los e blindá-los ao prazo de adaptação no novo código civil nos termos do artigo 2031.”
Obs:Empresários individuais e PJ anteriores que não se enquadrarem ao novo código civil podem sofrer sanções de variada ordem:
-impossibilidade de obtenção de linha de crédito e financiamento 
-impossibilidade participar de licitação
-passam a atuar como sociedade irregulares;como se sabe a responsabilidade passa a ser individual,ou seja,de seus sócios ou administradores.
Q:PJ PODE SOFRER DANO MORAL?A posição que prevalece no sistema jurídico brasileiro,consolidada em diversos julgados(RESP 752672 RS,AGRG no RESP 865658 RJ)e na própria súmula 227 STJ é no sentido de que a PJ pode sofrer dano moral nos termos inclusive do próprio artigo 52 do CC,a despeito de certa resistência doutrinária(ver enunciado 286 da 4ª jornada de direito civil).
ASSOCIAÇÕES
As associações,nos termos do artigo 53 CC,são PJs de direito privado formadas pela união de indivíduos que buscam finalidade ideal ou não econômica(ASSOCIAÇÃO NÃO PODE TER FINALIDADE ECONÔMICA!)EX:ASSOCIAÇÃO DE MORADORES,CLUBES RECREATIVOS,AS-SOCIAÇÃO EDUCACIONAL...O fato de uma associação gerar uma receita,não significa que ela tenha finalidade de lucro(ela não pode gerar para os seus administradores a percepção de lucro).O ato constitutivo de uma associação é o seu estatuto cujos requisitos se encontram no artigo 54,devendo o seu registro ser feito no CRPJ e não na junta comercial.
Obs:Em regra,desenvolvida a associação,a teor do artigo 61,o seu patrimônio será atribuído a entidades de fins não econômicos designadas no estatuto,ou omisso este,a uma instituição municipal,estadual ou federal de fins iguais ou semelhantes.Em uma associação pode haver categorias diferentes de associados,mas dentro de uma mesma categoria não será possível a descriminação de direitos entre eles,conforme o artigo 55.O código civil no seu artigo 57 prevê a expulsão(exclusão)do associado,desde que garantido o contraditório.
CURIOSIDADE:ESSA EXCLUSÃO NÃO ESTAVA PREVISTA NO ANTIGO CÓDIGO.
Q:PODE SE INVOCAR O ARTIGO 57 PARA EXPULSAR CONDÔMINO?Prevalece ainda no Brasil,a tese segundo o artigo 57,por cuidar de associações,não deve ser aplicada para a expulsão de condômino antissocial,para o qual é prevista sanção específica no parágrafo único do artigo 1337 do CC.Nesse sentido inclusive já decidido no TJ/SP julgando a apelação cível 668403-4/6 de 2009.Parcela da doutrina,todavia,invocando o princípio da função social e a teoria do abuso do direito,começa a ganhar força defendendo a exclusão do condômino por meio de ação judicial própria(Doutrina majoritária-ver enunciado 508 da 5ª jornada de direito civil).

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