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GISELDA TESTAMENTO NEGÓCIO JURÍDICO UNILATERAL FORMALIDADES

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TESTAMENTO – NEGÓCIO JURÍDICO UNILATERAL
Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka
Professora Titular de Direito Civil da
Faculdade de Direito da USP
TESTAMENTO
É negócio jurídico unilateral, formal e pessoal, cujos efeitos ficam suspensos até que ocorra o evento futuro e indeterminado no tempo, que é a morte do próprio testador. (Paulo Lôbo)
Contrariamente ao que se dá com a sucessão Legítima, a sucessão testamentária pressupõe uma aquisição de situação jurídica decorrente da intervenção volitiva do autor da herança, o testador. (Giselda Hironaka)
Testamento – negócio jurídico unilateral
O Código Civil não define expressamente o testamento, mas positiva algumas de suas características em seus arts. 1.857 e 1.858.
É negócio jurídico unilateral – o momento de seu aperfeiçoamento é aquele em que o autor da herança declara a sua vontade, na forma da lei, dispondo, desta maneira, sobre a própria sucessão.
A futura aceitação da herança ou legado não desvirtua a unilateralidade do testamento, já que se trata de manifestação de vontade posterior ao momento de formação, aperfeiçoamento e eficácia do negócio.
EM SÍNTESE
O testamento é negócio jurídico:
Personalíssimo – apenas o testador pode realizá-lo;
Revogável – a qualquer tempo o testador pode produzir novo instrumento revocatório do anterior, no que respeita às disposições de caráter patrimonial;
Unilateral – porque se aperfeiçoa apenas e exclusivamente com a manifestação de vontade do testador;
Gratuito – não se compadece e não suporta qualquer aspecto oneroso;
Solene – exige, para valer, a estrita observância dos requisitos essenciais e das formalidades legais;
Causa mortis – sua eficácia só será produzida após a morte do testador.
TESTAMENTO - FORMALIDADES
A validade e consequente eficácia do testamento dependo o estrito cumprimento das formalidades do modelo testamentário em cada caso concreto, isto é, dependerá do atendimento a determinada forma externa que fixará a espécie (escolhida ou imposta), traduzindo a livre vontade do testador.
Conserva-se, no direito brasileiro, a duplicidade herdada do direito romano, classificando as formas testamentárias em ordinárias e especiais.
Formalidades testamentárias
Interna: capacidade testamentária, distribuição dos bens, observância da quota legitimaria.
Externa: nº de testemunhas, modo especial de expressão da vontade, pessoas encarregadas do cumprimento das disposições testamentárias.
Finalidade principal: preservação da autenticidade do testamento e preservação da vontade do testador.
Espécies de testamentos
Ordinários: público, cerrado e particular – art. 1.862 e ss. CC
Especiais: aeronáutico, militar e marítimo - art. 1.886 e ss. CC
São proibidos os testamentos conjuntivos, ou simultâneos, ou de mão comum, ou mancomunados.
Testamento público
Requisitos ou formalidades (sem os quais – nulo!):
Escrito manual ou mecanicamente pelo tabelião ou substituto
No livro de notas (pode haver minuta)
2 testemunhas
Declaração livre, direta e espontânea
Língua nacional (português)
Por escritura pública (art. 215, § 3º CC)
Obs.: se qualquer dos comparecentes não souber a língua portuguesa, deverá haver tradutor público.
Leitura pelo notário, na presença do testador e 2 testemunhas
Assinaturas (testador, testemunhas, tabelião)
Importância: exata correspondência entre o que foi declarado e a vontade do testador.
Testamento público (cont.)
Podem testar: quem puder declarar, de viva voz, a sua vontade.
Não podem testar: o mudo e o surdo-mudo.
Exceção: o apenas surdo pode testar por esta forma pública – se souber ler, lerá; se não souber, 3ª pessoa lerá por ele (que não ouvirá).
Observação: o cego apenas por esta forma poderá testar – serão 2 leituras, uma pelo tabelião e outra por uma das testemunhas.
Testamento cerrado (místico ou secreto)
Elementos: a) cédula testamentária, b) auto de aprovação.
Requisitos ou formalidades: art. 1.868 e ss. CC :
Escrito pelo testador ou por outra pessoa que não seja herdeiro ou legatário, ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do beneficiado.
Língua nacional ou estrangeira – art. 1.871 CC
Só pode testar, por esta modalidade, quem puder ou souber ler (cego e analfabeto não podem).
Assinatura – testador ou terceiro, a rogo.
Entrega da cédula testamentária ao tabelião, com 2 testemunhas
Testador deverá responder se aquele é o seu testamento, que deseja seja aprovado (o mudo ou o surdo-mudo deverão escrever na face externa da cédula).
Testamento cerrado (místico ou secreto) – cont.
Requisitos ou formalidades: art. 1.868 e ss. CC (cont.):
Tabelião aprova (instrumento ou auto de aprovação), sob sua fé. O fará na última folha, depois da assinatura do testador.
Será aposto o sinal público do testador.
Auto de aprovação: introdução, confirmação e encerramento.
Leitura do auto de aprovação, pelo tabelião, ao testador e testemunhas (art. 1.868, III – 2ª parte e IV, CC).
Encerramento: dobra da cédula e do auto de aprovação num só invólucro.
O invólucro será cosido e cerrado com 5 pontos de retrós, lacrando-se os pontos.
Devolvido ao testador. Tabelião lançará no livro de notas
O próprio testador o guardará (ou pessoa por ele designada).
Testamento cerrado (místico ou secreto) – cont.
Requisitos ou formalidades: art. 1.868 e ss. CC (cont.):
O testamento cerrado não pode ser aberto antes do falecimento do testador, sob pena de revogação.
Após a morte, a abertura se faz em juízo.
Se não houver rasura, adulteração, supressão de parte – MP será ouvido.
Enfim, será cumprido.
Podem testar por esta forma: todos que saibam ou possam ler (art. 1.872 CC). Não podem os analfabetos e os cegos (para estes, apenas o testamento público).
Testamento particular (aberto ou hológrafo) 
Requisitos ou formalidades (art. 1.876 e ss. CC):
Redação e assinatura de próprio punho do testador; não admite assinatura a rogo.
Pode ser digitado, mas deve ser impresso.
Admite ser em língua estrangeira, se as testemunhas entenderem esta língua.
Deve ser datado.
Rasuras e correções deverão ser ressalvadas e autenticadas, para evitar nulidade, se escrito à mão.
Se escrito por forma mecânica, não pode ter rasuras ou espaõs em branco.
Testamento particular (aberto ou hológrafo) – cont.
Requisitos ou formalidades (art. 1.876 e ss. CC) – cont.
Assinatura no final da cédula testamentária.
3 testemunhas
Leitura pelo testador perante todas as testemunhas, que assinarão (não pode haver assinatura a rogo).
Publicação (abertura) em juízo, após o falecimento do testador.
Testemunhas o confirmam e testamento passa a ter eficácia.
Testemunhas não precisam se lembrar do conteúdo, mas sim do fato que ouviram a leitura e reconheçam suas assinaturas.
Se testemunha não comparecer, por morte ou ausência, mas se uma testemunha comparecer, o testamento será tido como válido, ouvido o MP.
Se não houver nenhuma testemunha, o testamento não produzirá os seus efeitos.
Enfim: juiz homologa e ordena seu registro, inscrição e cumprimento.
Testamento de emergência (particular)
SEM TESTEMUNHAS, excepcionalmente (art. 1.879 CC).
Poderá o juiz considera-lo válido.
Se o testador não morrer em até 90 dias, o testamento terá sua eficácia afastada.

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