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AULA 12 CONHECIMENTO ART+ìSTICO

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AULA 12 – Conhecimento como arte.
Profa. Leonor Natividade de Medeiros Campos
Na modernidade ocorreu uma grande valorização da criatividade e da imaginação como elementos constitutivos do conhecimento. A arte, no entanto, não reflete uma forma de conhecimento que se encerra em si, pois a partir dela é possível alcançar novas formas de experiência humana.
Morin acredita que a arte é um elemento essencial para analisar a condição humana. No livro “A cabeça bemfeita”, ele diz que os romances e os filmes põem à mostra as relações do ser humano com o outro, com a sociedade e o mundo: “O romance do século XIX e o cinema do século XX transportam-nos para dentro da História e pelos continentes, para dentro das guerras e da paz. E o milagre de um grande romance, como de um grande filme, é revelar a universalidade da condição humana”. Assim, em toda grande obra, seja de literatura, poesia, cinema, música, pintura ou escultura, há um profundo pensamento sobre a condição humana. Entretanto, essa maneira de ter contato com o mundo representado pela arte foi marginalizada durante décadas.
A aceitação da arte como conhecimento implica a necessidade de compreender como essa manifestação se desenvolve. Sabe-se que existe um lado racional na produção artística, mas também existe um componente não racional e, portanto, difícil de ser verbalizado. Uma das obras mais relevantes para a compreensão desse processo é o livro “Desenhando com o lado direito do cérebro”, de Betty Edwards. Baseando-se em pesquisas científicas sobre a constituição do cérebro, ela percebeu que, geralmente, o hemisfério esquerdo é dominante na maioria das pessoas, o que dificulta a livre expressão da criatividade, já que o lado esquerdo é racional, lógico e analítico, enquanto o lado direito é intuitivo e criador.
Outra forma de compreender o fenômeno é relacionar o raciocínio com o consciente e a intuição com o inconsciente. Quando se pensa que algo foi esquecido, na verdade essa informação passou para o inconsciente, sendo lembrada em momentos específicos.
O psicólogo Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicanalista suíço, foi fundador da escola analítica da psicologia. Ele viveu de 1875 a 1961. Dizia que a intuição nos faz ver o que está acontecendo nos cantos mais escondidos de nossa mente. Já o filósofo Henri Bergson afirmava que, por meio da intuição, problemas que julgamos insolúveis vão se resolver, ou, antes, se dissolver, seja para desaparecerem definitivamente, seja para colocarem-se de outra maneira.
A intuição surge quando o raciocínio lógico e a observação empírica falham em processar nosso contato com o mundo. A intuição aparece, assim, repentinamente, sem a necessidade de qualquer percepção que passe pelos sentidos. Ela registra-se no nível do inconsciente.
A intuição e o uso do lado direito do cérebro não são exclusivos dos artistas. Cientistas, por exemplo, usam a intuição e a criação para elaborar hipóteses. Entretanto, na arte, a intuição e a criação são fundamentais.
A intuição criadora, segundo os psicanalistas neofreudianos, estaria vinculada não ao inconsciente, mas ao pré-consciente, já que pode ser acessada quando ocorre um relaxamento da parte racional. Os artistas teriam essa capacidade plenamente desenvolvida, o que lhes permitiria criar obras que são importantes intuições da condição humana. Geralmente, o hemisfério esquerdo é dominante na maioria das pessoas, o que dificulta a livre expressão da criatividade, já que o lado esquerdo é racional, lógico e analítico, enquanto o lado direito é intuitivo e criador.
Morin afirma, no capítulo 2- "A cabeça bem feita"-, que a primeira finalidade do ensino foi formulada por Montaigne: “Mais vale uma cabeça bem feita do que bem cheia” e explica que uma cabeça bem feita é uma cabeça apta a organizar, ligar os conhecimentos e lhes dar sentido (p.21). Já acumulação estéril de conhecimentos é o que configura a cabeça bem cheia (p.24). O autor observa que todo conhecimento comporta, ao mesmo tempo, separação e ligação, análise e síntese e que nossa civilização e, por conseguinte, nosso ensino privilegiou a separação em detrimento da ligação, e a análise em detrimento da síntese (p.24). Ele propõe princípios que permitem seguir a indicação de Pascal: “sendo todas as coisas causadas e causadoras, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas e todas elas mantidas por um elo natural e insensível, que interliga as mais distantes e as mais diferentes, considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer, particularmente, as partes...” (p.25). Morin destaca que a segunda revolução científica do século XX, iniciada nos anos 60, contribui, atualmente, para formar uma cabeça bem feita, pois gerou desdobramentos que levam a ligar, contextualizar e globalizar saberes até então fragmentados e que permitem articular as disciplinas de modo mais fecundo (p.26).
De acordo com Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” A criação de algo novo é consumada pelo intelecto, mas despertado pelo instinto de uma necessidade pessoal. A mente criativa age sobre algo que ela ama.
Referências:
JUNG, Carl. Gustav. Memórias, sonhos e reflexões. RIO DE JANEIRO: Editora Nova Fronteira. 1986.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 8a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

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