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AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política COMUNICAÇÃO E POLÍTICA Aula 08: O dispositivo panóptico como prática de poder disciplinar AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política Temas/objetivos desta aula 1. Analisar a Prisão Panóptica como estrutura arquitetônica exemplar das Sociedades Disciplinares; 2. Compreender o panoptismo como relação de vigilância e punição característica das práticas de poder da Modernidade europeia segundo o pensamento de Michel Foucault. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo – parte I Como visto na aula anterior, o autor Michel Foucault efetuou uma análise das práticas de poder na Modernidade europeia. Apesar do caráter reflexivo desta análise, o autor buscou uma série de evidências empíricas para chegar a algumas conclusões. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo – parte II Segundo Danilo Marcondes (2007, p. 277), a respeito do método de Foucault: “Seu método de análise se pretende crítico em um sentido diverso do que encontramos na filosofia crítica de Kant à Escola de Frankfurt, já que visa explicitar o implícito e mostrar relações entre os saberes e as formas de exercer o poder em nossa cultura até então não detectadas. Seu trabalho se define, portanto, mais como história das ideias ou da cultura, como ele mesmo admite, do que como vinculado à filosofia em seu sentido estrito ou tradicional, uma vez que envolve um conhecimento profundo de história, uma análise documental, e uma pesquisa de campo, que normalmente não pertencem a uma à metodologia filosófica. Entretanto, esse tipo de análise se caracteriza exatamente por sua natureza interdisciplinar e por romper com as fronteiras tradicionais das disciplinas e áreas do saber.” AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo – parte III Uma das características fundamentais das Sociedades Disciplinares seria, para Foucault, o panoptismo enquanto instrumento disciplinar. Trata-se de uma relação de poder que ganha forma através de dispositivos arquitetônicos construídos para garantir uma determinada relação de visibilidade entre os que exercem a prática de poder e os que são alvo desta mesma prática. O panoptismo é uma relação diretamente ligada à centralidade do dispositivo panóptico. O significado desta palavra/conceito seria: a) Pan = Total b) Óptico = Visão c) Panóptico = Visão total. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo – parte IV Deste modo, o panoptismo é uma relação de visão total (ou global) entre um vigilante e um vigiado. Como a Modernidade passou a racionalizar o espaço social, foi preciso encontrar mecanismos que disciplinassem os corpos para o trabalho fabril. Neste sentido, a violência utilizada nas sociedades de soberania era muito custosa e difícil de ser aplicada em um contexto cada vez mais massivo. Era preciso utilizar dispositivos que pudessem servir para um número grande de pessoas ao mesmo tempo. O panoptismo seria esta relação de vigilância e punição característica da organização política moderna. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo – parte V Foucault percebe uma correspondência no modo como a medicina, a educação e a repressão social se transformam a partir do período Moderno, tendo em comum esta relação de visibilidade disciplinar. No livro intitulado Vigiar e Punir, o terceiro capítulo é dedicado à explicação da relação panóptica e do dispositivo panóptico. O capítulo é intitulado justamente “O panoptismo”. Foucault inicia o texto em questão com uma comparação entre as distintas abordagens para a contenção da Lepra, no século XIV, e da peste, no século XVII. O autor percebe que o sistema usado no século XVII envolvia uma racionalização da observação sobre os doentes, na qual a regularidade do exame se fazia notar. Tratava-se de um tipo de quarentena em que era possível reintegrar, através da observação sistemática, alguns doentes à sociedade, mediante a visibilidade de sua melhora. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo – parte VI Trata-se de um sistema onde os doentes ficavam confinados em suas casas, mas as mesmas eram observadas (através das janelas) diariamente. Este sistema ordenado e passível de um registro diário começa a constituir, segundo o autor, uma relação cada vez mais características da Modernidade europeia. Conforme as palavras do próprio Foucault (1987, p. 163): “Esse espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estão inseridos em um lugar fixo, onde os menores movimentos são controlados, onde todos os acontecimentos são registrados, onde um trabalho ininterrupto de escrita liga o centro e a periferia, onde o poder é exercido sem divisão, segundo uma figura hierárquica contínua, onde cada indivíduo é constantemente localizado, examinado e distribuído entre os vivos, os doentes e os mortos – isso tudo constitui um modelo compacto do dispositivo disciplinar.” AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo – parte VII Para o autor francês, a evolução das práticas disciplinares fez com que, no século XIX, vários espaços sociais institucionalizados estivessem usando mecanismos disciplinares de vigilância similares ao usado no tratamento da peste do século XVII. Segundo Foucault (op. cit., p. 165): “O asilo psiquiátrico, a penitenciária, a casa de correção, o estabelecimento de educação vigiada, e por um lado os hospitais, de um modo geral todas as instâncias de controle individual funcional num duplo modo: o da divisão binária e da marcação (louco-não louco; perigoso- inofensivo; normal-anormal); e o da determinação coercitiva, da repartição diferencial (quem é ele; onde deve estar; como caracterizá-lo, como reconhecê-lo; como exercer sobre ele, de maneira individual, uma vigilância constante, etc.). AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | A prisão panóptica – parte I A relação panóptica possui, como modelo exemplar, a prisão panóptica definida pelo filósofo utilitarista inglês Jeremy Bentham (1748-1832): “O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel: no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas se se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. (...) Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar de luz e esconder – só se conservaa primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha”(FOUCAULT, op. cit., p. 165-166). AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | A prisão panóptica – parte II A imagem ao lado é um desenho do arquiteto inglês Willey Reveley, de 1791. Trata-se da planta da estrutura da prisão panóptica concebida por Jeremy Bentham (Fonte: Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pan- óptico#/media/File:Panopticon.jpg, última consulta em 02/01/2017). AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | A prisão panóptica – parte III Michel Foucault, ao realizar observações de campo em hospitais, percebeu a correspondência entre estes espaços e o que ocorria na prisão de Bentham. A prisão panóptica consiste em um modelo exemplar, para Foucault, das relações de poder que se estabelecem em diversas outras instituições sociais modernas, tais como a escola, a fábrica, a universidade, etc. Se na masmorra a pessoa era trancafiada e excluída do convívio social, a prisão panóptica coloca o indivíduo trancado e separado por determinado tempo. Se ele tiver comportamento adequado, poderá sair e ser reintegrado à sociedade. Durante seu período de confinamento, a relação panóptica garante uma interiorização do olhar do vigia, pois o detento nunca sabe ao certo quando estará sendo observado. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | A prisão panóptica – parte IV Nas palavras de Foucault (op. cit., p. 166-167): “Daí, o efeito mais importante do Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício; que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder independente daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de poder de que eles mesmos são os portadores. (...) Por isso Bentham colocou o princípio de que o poder devia ser visível e inverificável. Visível: sem cessar o detento terá diante dos olhos a alta silhueta da torre central de onde é espionado. Inverificável: o detento nunca deve saber se está sendo observado; mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo.” AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo como elemento de ordenação política – parte I A análise que Michel Foucault realiza a respeito das práticas de poder modernas coloca a estrutura de caráter panóptico enquanto arquitetura que dispõe os corpos no espaço de determinado modo. Esta ordenação é, para o autor, uma ordenação política. Ao contrário de outros autores estudados em aulas anteriores (Maquiavel e Hobbes, por exemplo), o pensador francês não afirma que a política deve ser assim (como um ideal a ser seguido), mas afirma que as relações que envolvem práticas de poder na modernidade têm sido assim. Foucault, portanto, não define uma teoria para servir ao governante e ao Estado, mas aponta para o que a análise pode concluir a partir do que já vinha ocorrendo cada vez mais desde o século XVII. Trata-se, portanto, da constatação de uma necessidade política de lidar com a acumulação dos corpos em cidades cada vez maiores. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política | O Panoptismo como elemento de ordenação política - parte II O panoptismo como mecanismo de poder é a constatação foucaultiana de que o poder de um soberano está agora dividido e menos permanente. As instituições políticas modernas, a revitalização do ideal democrático após a Revolução Francesa, o advento da Revolução Industrial: a sociedade moderna criou formas menos onerosas e mais eficazes de lidar com as questões hierárquicas e relacionadas às práticas de poder. Segundo Foucault (op. cit., p. 172): “Ao nível teórico, Bentham define outra maneira de analisar o corpo social e as relações de poder que o atravessam; em termos de prática, ele define um processo de subordinação dos corpos e das forças que a utilidade do poder deve majorar fazendo a economia do Príncipe. O panoptismo é o princípio geral de uma nova ‘anatomia política’ cujo objeto e fim não são a relação de soberania, mas as relações de disciplina.” AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política Saiba mais Para saber mais sobre o conceito de Sociedade Disciplinar definido por Michel Foucault, leia o texto intitulado: “O panoptismo”, do próprio autor citado. In: FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1987, p. 162-192. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política Referências CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2004. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1979. _______________. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1987. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos Pré- Socráticos a Wittgenstein. – 2. ed. rev. ampl. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política Referências MATTELART, Armand; MATTELART, Michèle. História das teorias da comunicação. São Paulo: Ed. Loyola, 1999. THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Trad. Wagner de Oliveira Brandão – 9 ed. – Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2008. AULA 08: O DISPOSITIVO PANÓPTICO COMO PRÁTICA DE PODER DISCIPLINAR Comunicação e política VAMOS AOS PRÓXIMOS PASSOS? Compreender a análise de Gilles Deleuze sobre as práticas de poder no período Pós-Moderno (Contemporâneo); Compreender o conceito Deleuziano de Sociedades de Controle, articulando-o a exemplos concretos contemporâneos. AVANCE PARA FINALIZAR A APRESENTAÇÃO.
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