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Ciência Política I - Fichamento - Do Contrato Social e Discurso Sobre Economia Política - Rousseau

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Ciência Política I – Fichamento 
Víctor Rodrigues Nascimento Vieira 
DO CONTRATO SOCIAL E DISCURSO SOBRE ECONOMIA POLÍTICA 
Jean Jacques Rousseau 
LIVRO PRIMEIRO 
 
Capítulo I – Assunto deste primeiro livro. 
 
Este primeiro capítulo serve, portanto para elucidar qual o tema a ser tratado no primeiro livro, que, 
diga-se de passagem, diz respeito à perda da liberdade humana e o direito de retomá-la, assim como 
também discorre sobra a fundação de convenções. 
 
“Como ocorreu essa mudança ? Eu ignoro. O que pode torna-la legítima? Acredito poder 
solucionar essa questão.” (pág. 17) 
 
A mudança de que trata Rousseau diz respeito à como “o homem nasceu livre e em toda parte está 
a ferros.” (pág. 17). 
 
Capítulo II – Das primeiras sociedades. 
 
Rousseau considera “A mais antiga de todas as sociedades, e a única natural, a família.”. 
Sobre a liberdade comum de que dispõe o ser humano ao nascer e a natureza do homem, ele vai 
dizer o seguinte: “Sua primeira lei é a de velar por sua própria conservação, seus primeiros 
cuidados são aqueles que deve a si mesmo e, assim que alcança a idade da razão, sendo o único 
juiz dos meios adequados a sua conservação, torna-se por isso, seu próprio senhor.”(pág. 18). 
 
Em seguida, ele traça um paralelo entre as sociedades políticas e a família: 
 
“ A família pode ser considerada, então, o primeiro modelo das sociedades políticas : o chefe é a 
imagem do pai, o povo é a imagem dos filhos; e todos, nascidos iguais e livres, alienam sua 
liberdade apenas pela sua utilidade. Toda diferença reside em que na família, o amor do pai pelos 
seus filhos é o pagamento dos cuidados que lhes presta; e que, no Estado, o prazer de comandar, 
substitui este amor que o chefe não tem pelos seus povos.” (pág. 18) 
No mesmo capítulo, Rousseau também compara a espécie humana à um rebanho com seu 
pastor, junto a isso, faz uma crítica direta a Hobbes, que também tratou do assunto referente ao 
contrato social. 
 
“Assim, eis a espécie humana dividida em rebanhos de gado, dos quais cada um tem seu chefe, que 
o guarda para devorá-lo. 
Como um pastor é de natureza superior à de seu rebanho, os pastores dos homens, que são seus 
chefes, são também de natureza superior a de seus povos. Assim, pensava, segundo Filon, o 
imperador Caligula, concluindo bastante bem desta analogia que ou os reis eram deuses ou os 
povos eram bestas. 
O raciocínio desse Calígula concorda com os de Hobbes e de Grotius.” (pág. 19) 
 
Capítulo III – Do direito do mais forte. 
 
Nesse capítulo o autor discorre sobre o estabelecimento do direito pela força e a obediência que se 
segue à esses. Para que se mantenha senhor dos demais, Rousseau diz o que se segue: 
“O mais forte, nunca é suficientemente forte para ser sempre o senhor, se não transforar sua força 
em direito e a obediência em dever.” (pág. 20,). Eis a fórmula da manutenção do poder, que agora 
estabelecido em princípio, justifica o direito de uso da força pelo mais forte contra o mais fraco. 
 
Sobre a força é dito o seguinte: 
“ A força é uma potência física, não vejo qual moralidade poderá resultar de seus efeitos. Ceder à 
força é um ato de necessidade, não de vontade, é no máximo um ato de prudência. Em que sentido 
poderá ser um dever?” (pág. 20). Esse é, portanto, o questionamento rousseauniano acerca do 
uso da força. 
 
Assim, tomando-se por base que a força faz o direito, esse direito não é legítimo, visto que acaba 
quando a força perece. Dessa forma, “Se é preciso obedecer pela força, não há a necessidade de 
obedecer pelo dever; e se não se é mais forçado a obedecer, não se está mais obrigado.” (pág. 20) 
 
Há de se convir, portanto, que a força não gera o direito e que deve-se obediência somente às 
potências legítimas. 
 
Capítulo IV – Da escravidão 
 
Os tópicos tratados neste capítulo versam sobre a escravidão, a origem da autoridade legitima do 
homem, a alienação, a liberdade (ou renúncia dessa) e o estado de natureza e de guerra. 
 
Sobre a autoridade e a força Rousseau diz o seguinte: “Como nenhum homem possui autoridade 
sobre seu semelhante e como a força não produz nenhum efeito, restam, então, as convenções como 
base de toda a autoridade legitima entre os homens.”(pág. 21) 
 
O autor discorre ainda sobre a alienação falando que: “ Se um particular, diz Grotius, pode alienar 
sua liberdade e se tornar escravo de um senhor, por que todo o povo não pode alienar a sua e 
torna-se súdito de um rei? Temos ai palavras equívocas que precisam ser explicadas, mas 
atenhamo-nos à alienar. Alienar é dar ou vender. Ora, um homem que se torna escravo de um 
outro não se dá; ele se vende pelo menos por sua subsistência; mas por que um povo iria se 
vender? Um rei, longe de fornecer subsistência aos seus súditos, tira a sua deles (...).” (pág. 21) 
 
Complementando o raciocínio acima descrito, segundo Rousseau, dizer que um homem se dá de 
forma gratuita, é professar algo absurdo e que não pode ser concebível. Quem realiza tal ato não 
está de posse de seu bom senso e dessa forma está agindo de forma ilegítima. Estender esse ato para 
toda uma população é supor que se trata de um povo louco e portanto, a loucura não gera direito. 
 
Quanto a renúncia da liberdade, Rousseau escreve o que se segue: 
 
“Renunciar a liberdade é renunciar a sua qualidade de homem, aos direitos da humanidade, e 
mesmo aos seus deveres. Não há recompensa possível para quem renuncia a tudo. Uma tal 
renuncia é incompatível com a natureza do homem; e excluir toda liberdade de sua vontade é 
excluir toda moralidade de seus atos. Enfim, é convenção vã e contraditória estipular de uma parte 
uma autoridade absoluta, e de outra uma obediência ilimitada.”(pág. 22) 
 
Dessa forma, pode-se inferir que o escravo não tem direitos, pois “qual direito tem meu escravo 
contra mim, uma vez que tudo que tem me pertence e, sendo seu direito o meu, esse direito meu 
contra mim mesmo é uma palavra sem nenhum sentido?” (pág. 22) 
 
Em contraposição a Hobbes, Rousseau vai dizer o seguinte sobre o estado de natureza e também 
de guerra dos homens. 
 
“Simplesmente porque os homens em sua primitiva independência não mantinham entre si relação 
suficientemente constante para constituir nem o estado de paz, nem o de guerra, não sendo 
naturalmente, inimigos. É a relação das coisas e não a dos homens que constitui a guerra, e o 
estado de guerra não pode nascer das simples relações pessoais, mas somente das relações reais, a 
guerra privada ou de homem pra homem não pode existir nem no estado de natureza, onde não há 
propriedade constante, nem no estado social onde tudo se encontra sobre autoridade das leis” 
(pág. 23) 
 
Compreende-se por guerra, dessa forma, uma relação de Estado para Estado, em que os indivíduos 
são inimigos por mero acaso, entendidos não como homens ou cidadãos, porém, como soldados, 
não como integrantes da pátria, porém como seus defensores, assim, não é uma relação de homem 
para homem. 
“Enfim, cada Estado só pode ter por inimigos outros Estados, e não homens, uma vez que entre 
coisas de naturezas diferentes não se pode estabelecer nenhuma verdadeira relação.” (pág. 24) 
Dessa forma, observa-se que a guerra não garante direito algum que não seja necessário à sua 
finalidade, que é destruir o Estado. 
 
Para Rousseau, a troca da liberdade pela vida, por aqueles que são derrotados em uma guerra é uma 
troca injusta, visto que os que conquistaram a vitória não tem nenhum direito sobre a vida dos 
conquistados, por conseguinte, não tem também direito à liberdade deles. 
 
“Assim, de qualquer direção que se observem as coisas, o direito de escravatura é nulo, não 
apenas porque é ilegítimo,mas porque é absurdo e não significa nada. Essas palavras, escravatura 
e direito, são contraditórias, excluem-se mutuamente. Seja de homem para homem, seja de homem, 
para um povo, esse discurso, sempre será, igualmente, insensato: „Faço contigo uma convenção, 
ficando tudo a teu cargo e tudo para o meu proveito, que observarei enquanto me agradar e que 
observarás enquanto me agradar.” (pág. 25) 
 
Capítulo V – De como é necessário sempre remontar a uma primeira convenção. 
 
“Sempre haverá diferença entre submeter uma multidão e reger uma sociedade. Quantos homens 
isolados possam ser submetidos a um só, em qualquer número, que sejam, vejo apenas nisso um 
senhor e uns escravos, não vejo aí um povo e seu chefe; é, se se desejar, uma agregação, mas não 
há uma associação; não há nela bem público nem corpo político. Este homem, ainda que haja 
subjugado metade do mundo sempre será um particular;” (pág. 25 e 26) 
 
Grotius diz que antes mesmo de se entregar a um rei o povo é um povo. Dessa forma, eis aí o 
verdadeiro fundamento da sociedade, o povo. Por conseguinte instituir-se-á uma convenção, a do 
sufrágio. 
 
“A lei da pluralidade dos sufrágios é, também, a instituição de uma convenção e supõe, pelo menos 
uma vez, a unanimidade.” (pág. 26) 
 
Capítulo VI – Do pacto social. 
 
Rousseau começa o capítulo esclarecendo o que é pra ele o estado de natureza diferentemente do 
que pensavam Hobbes e Locke. 
“Suponho os homens chegados àquele ponto em que os obstáculos prejudiciais a sua conservação 
no estado de natureza sobrepujam pela sua resistência, as forças que cada indivíduo pode 
empregara para se manter neste estado. Então esse Estado primitivo já não pode mais subsistir e o 
gênero humano pereceria se não mudasse sua maneira de ser.” (pág. 26) 
 
Tendo em vista o risco de perecer é preciso que se faça algo com o objetivo de se conservar. 
Portanto faz-se necessária a agregação de um conjunto de forças que possa sobrepor-se a qualquer 
resistência e possam ser acionadas em prol de um único objetivo, sendo que devem operar em 
conjunto. 
Rousseau põe em questão, portanto, como conseguir manter as forças e as liberdades individuais 
com a instituição de um contrato em que há de se abdicar da liberdade natural. 
Eis o problema fundamental que o Contrato Social dá a solução: “Encontrar uma forma de 
associação que defenda e proteja de toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e 
pela qual cada um, se unindo a todos, obedeça apenas, portanto, a si mesmo, e permaneça tão livre 
quanto antes”. (pág. 27) 
 
Visto que esse contrato pode ser passível de quebra, devido às paixões humanas, segundo Rousseau, 
a menor modificação, qualquer índice de quebra do pacto social o torna vão e sem efeito e cada 
um retoma seus direitos primários e sua liberdade natural em face daquela liberdade convencional. 
 
Quanto à alienação que já foi tratada anteriormente, o autor postula o seguinte: 
“Essas cláusulas, se reduzem, quando bem compreendidas, a uma só, a saber: a alienação total de 
cada associado com todos seus direitos a toda comunidade.” (pág. 27) 
“Enfim, cada um se doando a todos, não se dá a ninguém, e como não há um associado sobre o 
qual não se adquire o direito que se cede sobre si mesmo, ganha-se o equivalente de tudo quanto se 
perde e mais força para conservar o que se tem” (pág. 27) 
 
Os termos do pacto, portanto, são os que se seguem: 
“ Cada um de nós coloca sua pessoa e toda sua potência sob a direção suprema da vontade geral; 
e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do todo.” (pág. 28) 
 
O estabelecimento dessa associação gera um corpo social e coletivo, que tem a composição de 
tantos membros quantos são os votos da assembleia. 
 
Antigamente, essa pessoa pública tinha o nome de cidade, agora passa a chamar-se república ou 
corpo político, que é chamado por seus componentes de Estado. 
 
Quando este Estado é passivo tem o nome de soberano, quando é ativo, chama-se potência, 
comparando-o a seus semelhantes. 
 
O povo é compreendido pelos associados do Estado, chamando se cada um de cidadão quando 
participam da autoridade soberana, e súditos, quando submetidos as leis do Estado. 
 
“É interessante ter um cuidado particular com duas palavras aqui definidas: „soberano‟ e „estado‟. 
„Soberano‟ não serve para designar uma pessoa, mas sim o conjunto do corpo político enquanto 
elabora leis. 
„Estado‟ não designa o conjunto de instituições políticas, mas todo o povo enquanto obedecendo a 
leis.” (pág. 29) 
 
Capítulo VII – Do Soberano 
 
“Vê-se, por esta fórmula, que o ato de associação encera um compromisso recíproco do público 
com os particulares, e que cada indivíduo, contratando, por assim dizer, consigo mesmo, encontra-
se comprometido sob uma dupla relação, a saber: como membro do soberano relativamente aos 
particulares, e como membro do Estado relativamente ao soberano.” (pág. 29) 
 
“Assim que esta multidão encontra-se reunida desta maneira num corpo, não se pode ofender um 
dos membros sem atacar o corpo, e menos ainda ofender o corpo sem que os membros venham a se 
ressentir. Destarte, o dever e o interesse obrigam as duas partes contratantes à ajuda mútua e os 
próprios homens devem procurar reunir, nessa dupla relação, todas as vantagens que dela 
dependem. 
Ora, o soberano sendo formado apenas pelos particulares que os compõem, não tem nem pode ter 
interesse contrário ao seu, consequentemente, a potência soberana não tem nenhuma necessidade 
de garantia face a seus súditos, porque é impossível que o corpo deseje prejudicar a todos seus 
membros; e veremos, dentro em breve que não pode prejudicar a nenhum em particular. O 
soberano , por apenas aquilo que é, é sempre o que deve ser.” (pág. 30) 
 
“ A fim de que esse pacto social não seja, pois, um formulário vão, ele compreende tacitamente este 
compromisso, o único que poderá dar força aos outros, que quem quer que venha a recusar a 
vontade geral, será constrangido a isso por todo o corpo, o que significa apenas que será forçado a 
ser livre, pois esta é a condição que, dando cada cidadão à pátria, o garante de toda dependência 
pessoal, condição que constitui o artifício e o jogo da máquina política e que é a única a legitimar 
os compromissos civis, os quais sem isso, seriam absurdos, tirânicos, e sujeitos aos maiores 
abusos.” (pág. 30 e 31) 
 
Capítulo VIII – Do Estado Civil 
 
Rousseau vai fazer neste capítulo, considerações acerca da passagem do estado de natureza para o 
estado civil. Ele não nega que há vantagens e desvantagens nessa transição, porém, há de se convir 
que os prós sejam maiores que os contras nesse contrato. 
 
“Esta passagem do estado de natureza ao estado civil produz no homem, uma mudança 
notabilíssima, substituindo em sua conduta o instinto pela justiça, e dando às suas ações, a 
moralidade de que não dispunha anteriormente. É só então que, a voz do dever sucedendo ao do 
impulso físico e o direito ao apetite, o homem, que até então apenas havia olhado para si mesmo, é 
forçado a agir tomando como base outros princípios e consultando sua razão antes de ser 
influenciado por suas tendências”(pág. 31) 
 
Neste novo estado o homem é privado de algumas vantagens naturais, mas é compensado por 
outras de mesmo porte, há o desenvolvimento de suas faculdades, a ampliação de suas ideias, o 
enobrecimento dos seus sentimentos e a elevação de sua alma. 
Em síntese, o homem perde por meio do contrato social a sua liberdade natural e o direito ilimitado 
a tentar tudo aquilo que possa alcançar. Por outro lado, ganha a liberdade civil e a propriedade 
assegurada de tudo aquilo que por ventura possui. A liberdadecivil, neste caso é limitada somente 
pela vontade geral. 
A única coisa no Estado Civil que torna o homem senhor de si é a liberdade moral, pois obedecer a 
lei que foi prescrita a si mesmo é estar em estado de liberdade, porém ceder ao impulso que é 
gerado pelo apetite é encarado como escravidão. 
 
Capítulo IX – Do Domínio Real 
“Cada membro da comunidade se dá a ela no momento em que ela se forma, tal qual se encontra 
naquele instante, ele e todas as suas forças, de que os bens possui fazem parte.” (pág. 32) 
 
“(...) o Estado quanto a seus membros, é o senhor de todos os seus bens pelo contrato social que, 
no Estado serve de base a todos os direitos, mas não o é, frente a outras potências, senão pelo 
direito de primeiro ocupante, que tomou dos particulares” (pág. 32) 
 
Para que o direito de primeiro ocupante, que é considerado mais real do que aquele do mais forte, 
seja considerado verdadeiro é preciso que se estabeleça o direito de propriedade . Dessa forma, 
todo homem tem direito a tudo aquilo que lhe é necessário, porém ao passo que se torna proprietário 
de algo, por meio de um ato positivo, tudo que lhe é alheio não lhe é de direito. 
“Concebe-se como as terras dos particulares reunidas e contiguas se tornam território público, e 
como o direito de soberania, estendendo-se dos súditos aos terrenos por eles ocupados. Torna-se 
ao mesmo tempo real e pessoal, colocando os possuidores numa dependência ainda maior e 
fazendo de suas próprias forças a garantia de sua fidelidade.” (pág. 33) 
 
Sobre a alienação Rousseau vai dizer o seguinte: 
 
“O que há de singular nesta alienação é que a comunidade, aceitando bem os particulares, longe 
de despojá-los, não faz senão assegurar a posse legítima, mudando a usurpação num verdadeiro 
direito e o gozo em propriedade. 
Então, os possuidores sendo considerados como depositários do bem público, seus direitos sendo 
respeitados por todos os membros e mantidos com todas suas forças contra o estrangeiro, por uma 
cessão vantajosa ao público e mais ainda, a eles mesmos adquiriram, por assim dizer, tudo o que 
deram: paradoxo que se explica pela distinção dos direitos que o soberano e o proprietário têm 
sobre os mesmos bens como veremos mais adiante.” (pág. 34) 
 
“(...) o direito que cada particular tem sobre seus próprios bens sempre é subordinado ao direito 
que a comunidade tem sobre todos, sem o que não há mais solidez no vínculo social, nem força 
real no exercício da soberania.” (pág. 34) 
 
Para finalizar o capítulo e o primeiro livro, Rousseau diz o seguinte: 
 
“(...) em lugar de destruir a igualdade social, o pacto fundamental substitui, ao contrário, uma 
igualdade moral e legítima naquilo que a natureza poderia trazer de desigualdade física entre os 
homens, e que podendo ser desiguais na força ou capacidade, tornam-se todos iguais por 
convenção e direito(*) 
(*) Em todos os maus governos essa igualdade é apenas aparente e ilusória, serve apenas para 
manter o pobre em sua miséria e o rico em sua usurpação. De fato, as leis sempre são uteis àqueles 
que possuem e prejudiciais àqueles que nada tem: donde se segue que o estado social apenas é 
vantajoso aos homens quando todos possuem alguma coisa e nenhum deles tem nada demais.” 
(pág. 34) 
 
LIVRO SEGUNDO 
O segundo livro vai tratar da soberania em si, dos limites, e das leis iminentes do soberano. 
 
Capítulo I – A Soberania é inalienável 
 
“A primeira e a mais importante consequência dos princípios anteriormente estabelecidos é que a 
vontade geral apenas pode dirigir as forças do Estado, segundo o fim de sua instituição, que é o 
bem comum, pois se a oposição dos interesses particulares tornou necessário o estabelecimento 
das sociedades, foi o acordo desses mesmos interesses que o tornou possível. É o que há de comum 
nos diferentes interesses que formam o vínculo social, e se não houvesse algum ponto no qual todos 
os interesses concordassem, nenhuma sociedade poderia existir. Ora, é unicamente segundo este 
interesse comum que a sociedade deve ser governada. 
Afirmo então que a soberania sendo apenas o exercício da vontade geral, jamais pode ser alienada, 
e que o soberano, que é um ser coletivo, apenas pode ser representado por sim mesmo: o poder 
pode ser transmitido, mas não a vontade.” (pág. 37) 
 
“Se, portanto, o povo promete simplesmente obedecer, ele se dissolve por esse ato, perde a sua 
qualidade de povo; no instante em que tem um senhor, não mais possui soberano, e desde logo, o 
corpo político está destruído.” (pág. 38) 
 
Capítulo II – A Soberania é Indivisível 
 
Se, como foi dito anteriormente, a vontade é geral, portanto inalienável, por esse mesmo motivo ela 
não pode ser dividida. Para que uma vontade seja geral, não significa que ela precisa ser unânime, 
porém, todos os votos precisam ser levados em conta. 
 
“Mas nossos políticos, não podendo dividir a soberania em seu princípio, dividem-na em seu 
objeto: dividem-na em força e em vontade, em poder legislativo e poder executivo; em direitos de 
imposto, de justiça e de guerra; em administração interior e em poder tratar com o estrangeiro; 
tanto confundem essas partes, quanto as separam. Fazem do soberano um ser fantástico e formado 
de peças ajustadas; é como se compusessem o homem de muitos corpos, dos quais um tivesse os 
olhos, o outro os braços, o outro pés e nada mais.” (pág. 38) 
 
“(...) observar-se-á que todas as vezes que se acreditava ver a soberania dividida, há engano; que 
os direitos que são tomados por parte dessa soberania são todos subordinados a ela e sempre 
supõem vontades supremas de que esses direitos dão apenas a execução.” (pág. 39) 
 
Capítulo III – Se a vontade geral pode se enganar 
 
“Segue-se do precedente que a vontade geral é sempre certa e sempre tende à utilidade pública, 
mas disso não se segue que as deliberações do povo sempre tenham a mesma retidão.” (pág. 40) 
 
Rousseau destaca que há diferença entre vontade de todos e vontade geral. Para ele, a vontade 
geral se refere ao interesse comum, já a vontade de todos, refere-se ao interesse privado, sendo 
uma expressão das vontades particulares. 
“(...) quando se estabelecem facções, associações parciais às expensas da grande, a vontade de 
cada uma dessas associações torna-se geral relativamente a seus membros e particular ao Estado; 
poder-se-ia então dizer que não há mais tantos votantes quanto homens, mas apenas quanto 
associações. As diferenças tornam-se menos numerosas em dão um resultado menos geral. Enfim, 
quando uma dessas associações for tão grande que venha a se impor sobre as outras, não mais se 
terá uma soma de pequenas diferenças, mas uma diferença única, ; então não existe mais vontade 
geral, e a opinião que manifesta é apenas uma opinião particular. 
Importa, portanto, para obter precisamente o enunciado da vontade geral, que não haja sociedade 
parcial no Estado, e que cada cidadão opine apenas segundo seus ditames.” (pág. 41) 
 
Capítulo IV – Dos limites do poder soberano. 
 
“Se o Estado ou a cidade não são mais que uma pessoa moral cuja vida consiste na união de seus 
membros, e se o mais importante de seus cuidados é sua própria conservação, lhe é necessária uma 
força universal e compulsiva para mover e dispor cada parte da maneira mais conveniente ao 
todo.” (pág. 41) 
 
“(...) o pacto social dá ao corpo político um poder absoluto sobre todos os seus, e é esse mesmo 
poder que, dirigido pela vontade geral, recebe, como foi dito, nome de soberania. 
Mas além da pessoa pública, devemos considerar as pessoas privadas que a compõem, e cuja vida 
e liberdade são naturalmente independentes dela. Trata-se então de distinguir bem os direitos 
respectivosdos cidadãos e do soberano e os deveres que tem a cumprir os primeiros na qualidade 
de súditos, do direito natural de que devem fruir na qualidade de homens.” (pág. 42) 
 
Dessa forma, “a vontade geral, para ser verdadeiramente tal, deve sê-lo em seu objeto, bem como 
em sua essência; que ela deve partir de todos para se aplicar a todos, e que perde sua retidão 
natural assim que tende a qualquer objeto individual e determinado, porque então, julgado acerca 
do que nos é estranho, não temos nenhum verdadeiro princípio de equidade que nos guie.” (pág. 
43) 
 
O pacto social tem por fim, portanto, buscar estabelecer uma igualdade que faça os seus signatários 
submeterem-se as mesmas condições e desfrutarem dos mesmos direitos. Dessa forma, todo ato que 
emana do soberano, ou seja que traduz a vontade geral, favorece de forma igualitária a todos os 
cidadãos. 
Ao passo que o soberano não faz distinções entre o corpo da nação ele está convencionando uma 
condição do corpo com cada um de seus membros. Essa convenção é legitima, pois tem por base o 
pacto social, que é a vontade de todos. Ela é útil, pois objetiva o bem geral. É sólida, porque tem 
como garantia a força pública e o poder supremo. 
Os súditos ao se submeterem a essas condições não estão obedecendo a ninguém, senão a eles 
mesmos. 
 
“(...) perguntar até onde se estendem os direitos respectivos do soberano e dos cidadãos, é 
perguntar até que ponto aqueles podem se comprometer consigo mesmos, cada um com todos e 
cada um com cada um.” (pág. 44) 
 
“Vê-se por isso que o poder soberano, por mais absoluto, mais sagrado, mais inviolável que seja, 
não ultrapassa, nem pode ultrapassar os limites das convenções gerais, e que todo homem pode 
dispor plenamente daquilo que lhe foi deixado de seus bens e de sua liberdade por essas 
convenções; de modo que o soberano jamais tem direito de onerar um súdito mais que outro, 
porque então, s questão se tornando particular, seu poder deixa de ser competente. 
 
Capítulo V – Do direito de vida e de morte. 
 
“Pergunta-se como os particulares, não tendo o direito de dispor da própria vida, podem 
transmitir ao soberano este mesmo direito que não possuem. Esta questão só parece dificl de 
responder pelo fato de ter sido mal colocada. Todo homem tem o direito de arriscar sua própria 
vida para conservá-la.” (pág. 45) 
 
Dessa forma, o pacto social tem por fim conservar os contratantes. Entretanto, quem quer 
conservar a sua vida as custas dos outros, deve estar apto a concedê-la também para a conservação 
dos outros. 
 
“Aliás, todo malfeitor, atacando o direito social, torna-se, por seus crimes, rebelde e traidor da 
pátria, deixa de ser seu membro violando suas leis e chega mesmo a mover-lhe guerra. Então a 
conservação do Estado é incompatível com a sua; é preciso que um dos dois pereça, e quando se 
faz que o culpado morra, é menos como cidadão do que como inimigo. Os processos, o 
julgamento,, são as provas e a declaração de que ele rompeu o tratado social e que, 
consequentemente, não é mais membro do Estado. Ora, como ele se reconheceu como tal, pelo 
menos por sua residência, deve ser isolado pelo exílio como infrator do pacto, ou pela morte como 
inimigo público; pois um tal inimigo não é uma pessoa moral, é um homem, então o direito da 
guerra é de matar o vencido. 
Mas, dir-se-á, a condenação de um criminoso é um ato particular. De acordo, essa condenação 
não pertence também ao soberano, é um direito que ele pode conferir sem que possa exercê-lo.” 
(pág. 46) 
 
O soberano, por estar acima do juiz e da lei, tem ainda o direito de conceder graça ou isentar um 
culpado de uma pena que lhe foi imposta ou pronunciada por um juiz. 
 
Capítulo VI – Da Lei. 
 
“ São necessárias então convenções e leis para unir os direitos aos deveres e reconduzir a justiça a 
seu objeto. Neste estado de natureza, onde tudo é comum, nada devo aqueles a quem me prometi, 
só reconheço como de outrem aquilo que me é inútil. Não acontece assim no estado civil, onde 
todos os direitos são fixados por leis.” (pág. 47) 
 
“Mas quando todo povo estatui algo para todo o povo, considera apenas a si mesmo, e forma-se 
então uma relação, isto é, do objeto inteiro sob o ponto de vista ao objeto inteiro sob outro ponto 
de vista, sem nenhuma divisão do todo. Então a matéria sob a qual se estatui é geral como a 
vontade que estatui. É a este ato que chamo uma lei. 
Quando digo que o objeto das leis sempre é geral entendendo que a lei considera os súditos como 
corpo e as ações como abstratas, nunca um homem como um indivíduo nem uma ação como 
particular. Assim, a lei pode perfeitamente estatuir que existam privilégios, (...)” 
 
A lei tem o poder de constituir várias classes de cidade e classificar quais são as qualidades que 
dão direito a essas classes. Pode estabelecer um governo real e um sucessão do tipo hereditária. 
 
“(...) em resumo, toda função que se refere a um objeto não pertence a potencia legislativa.” (pág. 
48) 
 
“Através desta ideia percebe-se imediatamente que não é preciso mais perguntar quem deve fazer 
as leis, uma vez que estas são ato da vontade geral, nem se o príncipe está acima da lei, posto que é 
membro do Estado; nem se a lei pode ser injusta, posto que ninguém pode ser injusto consigo 
mesmo; nem como se é livre e sujeito as leis, uma vez que estas são o registro de nossas 
vontades.”(pág. 48) 
 
“Chamo então república, todo Estado regido por leis, sob qualquer forma de organização que 
possa existir; pois então só o interesse público governa e a coisa pública é qualquer coisa. Todo 
governo legítimo é republicano. (*) (pág. 48) 
 
(*)Com esta palavra não entendo apenas uma aristocracia ou uma democracia, mas em geral, todo 
governo, guiado pela vontade geral, que é a lei. Para ser legítimo, não é preciso que o governo se 
confunda com o soberano, mas que seja seu ministro; então própria monarquia é república.” (pág. 
48 e 49) 
 
“As leis são propriamente as condições da associação civil . O povo submetido as leis deve ser o 
autor destas; somente aos que se associam é pertinente regulamentar as condições da sociedade.” 
(pág. 49) 
 
Capítulo VII – Do legislador 
 
“ No nascimento das sociedades – diz Montesquieu – são os chefes das repúblicas que fazem a 
instituição, e a seguir é a instituição que forma os chefes das repúblicas.” (pág. 50) 
 
“Quanto mais essas forças naturais são mortas e anuladas, mais as adquiridas são grandes e 
duráveis, e ainda mais a instituição é sólida e perfeita: de modo que se cada cidadão não é nada 
porque tem poder apenas incluído num todo e uma vez que a força adquirida pelo todo é igual ou 
superior à soma de todas as forças naturais de todos os indivíduos, pode-se dizer que a legislação 
se encontra no mais alto grau de perfeição que poderia alcançar. 
 
O legislador é sob todos os pontos de vista um homem extraordinário no Estado. Se ele deve sê-lo 
por seu gênio, não o é menos por seu emprego. Não se trata de magistratura nem de soberania. 
Este emprego, que constitui a república, não entra em sua constituição; é uma função particular e 
superior que nada tem de comum com o império humano, pois se aquele que comanda os homens 
não deve impor a lei, aqueles que impõem a lei, não devem comandar os homens.” (pág. 51) 
 
Por conseguinte, quem elabora as leis, não deve ter direito legislativo e o povo, ainda que deseje, 
não pode abdicar de seus direitos. 
 
“E, em verdade, diz Maquiavel, jamais houve algum legislador extraordinário num povo, que não 
recorresse a Deus, porque doutra forma, suas leis não seriam aceitas; porque há muitos bens 
conhecidos pelo prudente, que não possuem em si razões evidentespara poder persuadir aos 
outros.” (pág. 53 e 54) 
 
Observa-se que a política e a religião tem uma na outra, um objeto comum, porém, quando das 
origens das nações, uma era instrumento da outra. 
 
Capítulo VIII – Do povo. 
 
Rousseau começa este capítulo dizendo que o sábio legislador é aquele que antes de estatuir leis, 
procura conhecer seu povo e examinar se essa população é capaz de suportar tais leis. 
 
“A maior parte dos povos, bem como os homens são dóceis apenas em sua juventude, tornam-se 
incorrigíveis com o envelhecimento. Uma vez estabelecidos os costumes e os preconceitos 
enraizados, é empreendimento perigoso e vão querer reformá-los; o povo nem sequer pode 
suportar que seus males sejam tocados para serem destruídos, de modo semelhante a esses doentes 
estúpidos e sem coragem que tremem frente ao médico.” (pág. 54) 
 
O autor compara, em seguida, as fases da vida à cronologia de formação de uma nação. 
 
“A juventude não é a infância. Há para as nações como para os homens um tempo de juventude, ou 
então, um tempo de maturidade, que é preciso esperar antes de submetê-los às leis, mas a 
maturidade de um povo nem sempre é fácil de conhecer e se é antecipada, a obra está perdida. Tal 
povo é disciplinável ao nascer, outro o é apenas ao fim de dez séculos.” (pág. 55) 
 
Capítulo IX – Sequência. 
 
Este capítulo, intitulado sequência trata dos limites que tem a constituição e das relações existentes 
entre o tamanho e a força de um Estado. 
 
“(...) há quanto a melhor constituição de um Estado, limites a extensão que possa ter, a fim de que 
não seja muito grande para poder ser bem governado, nem muito pequena para poder se manter 
por si mesmo. Há, em todo corpo político, um maximum de força que não se deve ultrapassar e do 
qual frequentemente se afasta devido a seu crescimento. Quanto mais o vínculo social se estende, 
tanto mais se enfraquece; e em geral um pequeno estado é mais forte do que um grande” (pág. 
56) 
 
Rousseau justifica a força de um Estado pequeno ser maior do que a de um grande pelo fato de que 
quanto maiores as distâncias e as extensões de terra, mais difícil é de se controlar a sua população, 
mais oneroso torna-se esse empreendimento, mais dividido é o poder e mais encargos caem sobre a 
população. 
 
“Tantas sobrecargas esgotam continuamente os súditos, longe de serem bem governados por essas 
diferentes ordens (...).” (pág. 56) 
 
“E não é tudo; não apenas o governo tem menos vigor e celeridade para fazer com que as leis 
sejam cumpridas, impedir os vexames, corrigir os abusos, evitar os empreendimentos sediciosos 
que podem ocorre nos lugares isolados; mas o povo tem menor afeição pelos seus chefes que nunca 
vê, pela pátria que a seus olhos é como o mundo e pelos concidadãos dos quais a maioria lhe é 
estranha. 
As mesmas leis não podem ser convenientes a tantas províncias diferentes que tem costumes 
diversos, que vivem em climas opostos, e que não podem ter a mesma forma de governo. 
 
(...) 
 
(...) é assim que um corpo muito grande por sua constituição se enfraquece e perece esmagado pelo 
seu próprio peso.” (pág. 57) 
 
Dessa forma, Rousseau dá a forma para que se crie um constituição forte e que prevaleça. 
 
“Uma constituição forte e sã é a primeira coisa que se deve procurar e deve-se tomar em 
consideração mais o vigor que nasce de um bom governo que os recursos fornecidos por um 
grande território.” (pág. 58) 
 
Capítulo X – Sequência. 
 
Segundo Rousseau há duas formas de se mensurar um corpo político, uma delas é pela extensão 
territorial dele, a outra é pela quantidade de habitantes. 
 
“ Esses são os homens que fazem o estado e é o terreno que nutre os homens, essa relação é dada 
portanto pela terra suficiente para nutrir seus habitantes e que haja tantos habitantes quanto a 
terra possa nutrir. É nessa proporção que se encontra o maximum de força de um dado número de 
habitantes; pois se há terra em excesso, a guarda é onerosa, o cultivo é insuficiente, o produto 
supérfluo; é a causa próxima das guerras de defesa; se não há suficiente, o Estado se encontrará a 
mercê de seus vizinhos; eis a causa próxima das guerras ofensivas.” (pág. 58) 
 
Dessa forma, “para constituir um povo é preciso acrescentar uma condição que não pode suprir a 
nenhuma outra, mas sem a qual todas são inúteis, é que se goze um tempo de abundância e paz , 
pois o tempo em que se ordena um Estado é, como aquele em que se forma um batalhão, o instante 
em que o corpo é menos capaz de resistência e mais fácil de destruir. Resistir-se-ia melhor numa 
desordem absoluta que num momento de fermentação, em que cada um se ocupa com sua posição e 
não com o perigo. Se sobreviver uma guerra, fome ou sedição, nesse tempo de crise, o Estado será 
infalivelmente subvertido. 
Não que não existam muitos governos que se estabeleçam durante essas tormentas, mas então são 
esses mesmos governos que destroem o Estado. Os usurpadores suscitam ou escolhem sempre esses 
tempos conturbados para fazer com que sejam aprovadas, graças ao temor público, leis destrutivas 
que o povo jamais admitiria a sangue-frio. A escolha do momento da instituição é um dos 
caracteres mais seguros pelos quais podemos distinguir a obra do legislador daquela do tirano. 
 
Capítulo XI – Dos diferentes sistemas de legislação. 
 
Segundo Rousseau a finalidade de todo sistema de legislação deve ser a liberdade e a igualdade. 
A liberdade porque toda dependência particular é força retirada ao corpo do Estado; e a igualdade 
porque, a liberdade não pode subsistir sem ela. 
 
A liberdade deve ser entendida como algo em que a potência possa estar acima da violência e que 
jamais seja exercida a não ser em prol da posição e das leis; já a riqueza, deve ser distribuída, ou 
seja, nenhum cidadão deve ser tão rico a ponto de comprar o outro e também, não deve haver 
cidadão tão pobre que chegue ao ponto de se vender. 
 
“(*) Se desejais dar consistência ao Estado, aproximai os graus extremos tanto quanto for 
possível; não permiti nem a existência de opulentos, nem a de miseráveis.” (pág. 62) 
 
“ (...) além das máximas comuns a todos, cada povo encerra em si mesmo, alguma causa que os 
ordena de um modo particular, e torna sua legislação adequada tão somente a ele.” (pág. 62) 
 
“O que torna a constituição de um estado verdadeiramente sólida e durável ocorre quando as 
conveniências são observadas de tal forma que as relações naturais entre as leis sempre sejam de 
acordo sobre os mesmos pontos e que estas apenas, por assim dizer, acompanhem, assegurem e 
retifiquem as outras. Mas o legislador, se enganando em seu objeto, toma um princípio diferente 
daquele que nasce da natureza das coisas; quando um tende a servidão e o outro a liberdade; um a 
riqueza o outro a população; um a paz, outro as conquistas; ver-se-ão as leis enfraquecendo 
insensivelmente, a constituição se alterar, e o Estado não deixará de ser agitado até que seja 
destruído ou mudado e que a natureza invencível tenha readquirido seu império.” (pág. 63) 
 
Capítulo XII – Divisão das leis. 
 
“ Para ordenar o todo ou dar melhor forma possível a coisa pública, há diversas relações a 
considerar. Primeiramente a ação de todo o corpo atuando sobre si mesmo, isto é, a relação do 
todo com o todo ou do soberano com o Estado; e esta relação é composta por aquela dos termos 
intermediários como veremos mais adiante. 
As leis que regem essa relação têm o nome de leis políticas, e também são chamadas leis 
fundamentais (...)” (pág. 63) 
 
A segunda relação, enumera Rousseau, é aquela que todo cidadão deve encontrar-se numa situação 
de total independência de qualquer outro cidadão, porém,deve ser dependente , de forma excessiva, 
da cidade. O autor ainda completa dizendo que é dessa segunda relação que nascem as leis civis. 
 
O Terceiro tipo de relação diz respeito à desobediência à pena. Essa gera o estabelecimento das leis 
criminais. 
 
“A esses três tipos de leis junta-se um quarto (...) 
Falo dos usos, dos costumes, e sobretudo da opinião, parte desconhecida por nossos políticos, mas 
da qual depende o sucesso das outras; 
(...) 
Entre essas várias classes, as leis políticas que, constituem a forma do governo, são as únicas 
relativas a meu assunto. 
 
LIVRO TERCEIRO 
 
Neste terceiro livro, Rousseau vai tratar do governo, sua definição, diferentes formas, instituição, e 
prevenção contra as usurpações que esse pode vir a causar. 
 
Capítulo I – Do Governo em Geral. 
 
Rousseau compara no início deste capítulo a força e a vontade aos poderes do estado. A força seria 
então o poder legislativo e a força seria o poder executivo. 
 
“Vimos que o poder legislativo pertence ao povo e só pode pertencer a ele. Pode-se ver facilmente 
ao contrário, pelos princípios anteriormente estabelecidos, que o poder executivo não pode 
pertencer à generalidade como legislador ou soberano, porque este poder consiste em atos 
particulares que não são da alçada da lei nem, por consequência, daquela do soberano, cujos atos 
só podem ser leis.” (pág. 67) 
 
Segundo o autor, governo é : “Um corpo intermediário estabelecido entre os súditos e o soberano 
para sua mutua correspondência, encarregado da execução das leis e da manutenção da liberdade, 
tanto civil quanto política 
Os membros desse corpo chama-se magistrados ou reis, isto é, governadores e o corpo todo 
recebem o nome de príncipe. (*) Assim, aqueles que pretendem que um ato pelo qual um povo se 
submete a chefes não é um contrato, têm toda razão. Trata-se apenas de uma comissão, de um 
emprego, no qual simples funcionários do soberano exercem em seu nome o poder de que foram 
feitos depositários por ele e ele que pode limitar, modificar e retomar quando lhe aprouver, sendo 
a alienação de um tal direito incompatível com a natureza do corpo social e contrária a finalidade 
da associação. 
Chamo então governo, ou administração suprema, ao exercício legítimo do poder executivo e 
príncipe ou magistrado, o homem ou o corpo encarregado dessa administração.” (pág. 68) 
 
Rousseau considera que quanto maior o Estado, tanto menor a liberdade de sua população. 
“Ora, quanto menos a vontade particular se relaciona com a vontade geral, isto é, os costumes, as 
leis, mais a força repressora deve aumentar. Então o governo para de ser bom, deve ser 
relativamente mais forte, à medida que o povo é mais numeroso.” (pág. 70) 
 
Quanto a constituição do governo, Rousseau afirma que não há uma que seja única e absoluta, mas 
que podem existir diferentes naturezas e grandezas de governos e Estados. 
 
Há de se considerar ainda o governo como sendo um novo corpo no Estado, que seja diferente do 
povo, e do soberano, e que esteja entre um e outro, como intermediário. 
 
Capítulo II – Do princípio que constitui as diversas formas de governo. 
 
Segundo Rousseau, quanto maior o número de magistrados, mais o governo é fraco. 
 
“Numa legislação perfeita, a vontade particular ou individual deve ser nula; a vontade de corpo 
própria do governo, muito subordinada; e consequentemente a vontade geral ou soberana sempre 
dominante e a única de todas as outras.” (pág. 73) 
Eis aí, portanto a fórmula para a legislação perfeita, porém não é o que acontece. 
 
“Segundo a ordem natural, ao contrário, essas diferentes vontades tornam-se mais ativas a medida 
que se concentram. Assim, a vontade geral é sempre a mais fraca, a vontade do corpo ocupa o 
segundo escalão e vontade particular o primeiro de todos; de modo que, no governo, cada membro 
é primeiramente ele mesmo, e depois magistrado, e depois cidadão; gradação diretamente oposta 
aquela que exige a ordem social.” (pág. 73) 
 
Dessa forma, em oposição a quantidade numerosa de magistrados, segundo o autor, o mais ativo 
dos governos é aquele que é composto por um só. 
 
Já em relação ao Estado, “(...) quanto mais se estende o Estado, mais sua força real aumenta, ainda 
que não aumente em função de sua extensão;” (pág. 74) 
“(...) quanto mais o Estado cresce, mais o governo deve se contrair, de modo que o número de 
chefes diminua em relação com o aumento do povo.” (pág. 74) 
 
Capítulo III – Divisão dos Governos. 
 
Rousseau considera nesse capítulo as três principais formas de governo e considera que podem 
também existir formas mistas a partir das que são tidas como base. 
 
Democracia 
“O soberano pode em primeiro lugar, confiar o governo a todo o povo ou a maior parte do povo, 
de modo que haja mais cidadãos magistrados que simples cidadão particulares” (pág. 75) 
 
Aristocracia 
“Ou ainda pode confiar o governo nas mãos de um pequeno número, de modo que existam mais 
simples cidadão que magistrados (...)”(pág. 75) 
 
Monarquia 
“Finalmente, pode conceder todo o governo nas mãos de um único magistrado do qual todos os 
outros recebem seu poder” (pág. 75) 
 
“ (...) em geral, o governo democrático convém aos pequenos Estados, a aristocracia aos médios, e 
a monarquia aos grandes.”(pág. 76) 
 
Capítulo IV – Da Democracia. 
 
“não se poderia ter melhor constituição que aquela em que o poder executivo é conjugado ao 
legislativo; mas é isso mesmo que torna esse governos insuficiente sob certos aspectos” (pág. 76) 
 
Tomando o termo em sua acepção rigorosa, jamais existe verdadeira democracia e jamais 
existirá” (pág. 76) 
 
“Acrescentemos que não há governo tão sujeito as guerras civis e às agitações intestinas como o 
democrático ou popular, porque não há outro que tenda a mudar de forma tão contínua e 
fortemente, nem que exija tanta vigilância e coragem para ser mantido na sua” (pág. 77) 
 
Capítulo V – Da Aristocracia. 
 
“Temos aqui duas pessoas morais muito distintas, a saber, o governo e o soberano, e 
consequentemente duas vontades gerais, uma relativamente a todos os cidadãos, a outra somente 
para os membros da administração. Assim, ainda que o governo possa regulamentar a sua polícia 
interna como bem lhe agradar, não pode jamais falar ao povo senão em nome do soberano; isto é, 
em nome do próprio povo, o que é preciso que jamais esqueça.” (pág. 78) 
 
Ele ainda distingue as três formas existentes de aristocracia: 
“Há então três tipos de aristocracia; natural, eletiva, hereditária. A primeira convém somente aos 
povos simples; a terceira é o pior de todos os governos. A segunda é o melhor; é a aristocracia 
propriamente dita.” (pág. 78) 
 
“ Além disso as assembleias são feitas mais comodamente, os negócios são melhor discutidos, são 
despachados com maior ordem e diligência; o crédito do Estado é melhor sustentado no 
estrangeiro por veneráveis senadores do que por uma multidão desconhecida ou desprezada. 
Em resumo, é e melhor e mais natural ordem que os mais sábios governem a multidão, quanto se 
está seguro que eles governarão para o proveito desta e não para o seu próprio” (pág. 79) 
 
Capítulo VI – Da Monarquia. 
 
“Temos agora a considerar essa potência reunida entre as mãos de uma pessoa natural, de um 
homem real, o único que tem direito dele dispor segundo as leis. É o que se chama monarca ou rei. 
Contrariamente às outras administrações, onde um ser coletivo representa um indivíduo, nesta, um 
indivíduo representa o ser coletivo;” (pág. 80) 
 
A potência a que se refere acima Rousseau é considerada como a força das leis e depositária, no 
Estado do poder executivo. 
 
“Achamos,por narrações gerais, que a monarquia convém somente aos grandes Estados; e ao 
examiná-la em si mesma chegamos a mesma conclusão.” 
 
Capítulo VII – Dos Governos Mistos. 
 
Rousseau considera que não existem governos simples e que há de se analisar a situação para ver 
qual tipo de governo e subdivisões do mesmo são melhores em cada Estado. 
 
Capítulo VIII – Que qualquer forma de governar não convém a qualquer país. 
 
“ (...) nem todos os governos são da mesma natureza; há mais e menos vorazes; e as diferenças 
fundam-se neste outro princípio de que, quanto mais as contribuições políticas se afastam de sua 
fonte, mais são onerosas” (pág. 87) 
 
“Segue-se disso que, quanto mais a distância do povo ao governo aumenta, mais os tributos se 
somam onerosos;” (pág. 87) 
 
“A monarquia convém apenas, portanto, às nações opulentas; a aristocracia aos Estados 
medíocres tanto em riqueza quanto em grandeza; a democracia aos Estados pequenos e pobres.” 
(pág. 87) 
 
Rousseau condiciona o tipo de população (bárbaros, selvagens, homens livres) a quantidade de 
produção de um Estado. Relaciona também, o clima de uma região ao tipo de povo que nela habita. 
 
Capítulo IX – Signos de um bom governo. 
 
Segundo o autor é impossível responder a pergunta que quer saber qual é o melhor tipo de governo, 
pois cada forma é adequada a um tipo de situação, de Estado, de clima, de tamanho territorial, de 
quantidade de pessoas. Porém podem ser procurados sinais de que uma população está sendo bem 
governada, mas mesmo assim ainda será encontradas contradições, pois as concepções de bom ou 
mau governo variam com as perspectivas dos governantes e do povo. 
Rousseau, entretanto vai considerar um ponto em comum entre todos os bons governos. Ele leva em 
consideração a quantidade da população, se ela diminuiu ou aumenta, se mais se reproduz ou se 
mais tem óbitos. 
 
 
Capítulo X – Do abuso do governo e de seu pendor a degenerar. 
 
Do abuso de governo: 
“Assim como a vontade particular atua incessantemente contra a vontade geral, também o governo 
esforça-se continuamente contra a soberania. Quanto mais esse esforço aumenta, mais a 
constituição se altera; e como não há aqui outra vontade que, resistindo àquela do príncipe, venha 
a equilibrá-la, deve acontecer, cedo ou tarde, que o príncipe, oprima, finalmente o soberano e 
rompa o contrato social.” (pág. 93) 
 
Do pendor a degenerar: 
 
“Há dois modos pelos quais o governo degenera, a saber: quando de restringe ou quando o Estado 
se dissolve” (pág. 93) 
“ Quando o Estado se dissolve, o abuso do governo, seja lá qual for, toma o nome comum de 
anarquia. Distinguindo-se, a democracia degenera em oclocracia, a aristocracia em oligarquia; 
eu acrescentei que a realeza degenera em tirania; mas esta última palavra é equívoca e exige 
explicação.” (pág. 95) 
 
 
Capítulo XI – Da morte do corpo político. 
 
“ Se desejamos formar um estabelecimento durável, não sonhemos então em torná-lo eterno. Para 
logra sucesso, é preciso não tentar o impossível nem pretender dar à obra dos homens uma solidez 
que as coisas não comportam.” (pág. 96) 
 
“O Estado melhor constituído acabará, mais tarde que outro, se nenhum acidente imprevisto 
provocar sua perda antes do tempo. 
O princípio da vida política está na autoridade do soberano. O poder legislativo é o coração do 
Estado, o poder executivo é o cérebro, que dá o movimento a todas as partes. 
(...) 
Não é pelas leis que o Estado subsiste, mas pelo poder legislativo.” (pág. 96) 
 
“(...) em todo lugar em que as leis se enfraquecem ao envelhecer, isto vem provar que não mais há 
poder legislativo, e que o Estado não mais vive.” 
 
Capítulo XII – Como se mantém a autoridade soberana . 
 
Mantendo-se conselhos e reuniões com os magistrados e cidadãos. 
 
Capítulo XIII – Sequência. 
 
As convocações das reuniões ou assembleias jurídicas devem ser feitas de forma legitima e 
instituídas por lei. 
 
“(...) quanto mais o governo tem força, mais o soberano deve ter frequente suas reuniões.” 
 
Outra forma sugerida por Rousseau para a manutenção da autoridade é o rodízio da “capital” de um 
Estado, em que o governo passa de cidade em cidade e lá fica por determinado tempo. 
 
“Povoai igualmente o território, estendei por toda a parte a abundância e a vida” (pág. 99) 
 
Capítulo XIV – Sequência. 
 
Quanto a reunião dos populares, Rousseau diz o que se segue: “ (...) essas assembleias do povo, que 
são a égide do corpo político e o freio do governo, (...)” (pág. 100) 
 
Capítulo XV – Dos deputados ou representantes. 
 
Rousseau diz no início do capítulo que num Estado verdadeiramente livre os cidadãos fazem tudo 
com seus braços e nada com seu dinheiro, ou seja, não precisam de intermediários para 
conseguirem o que desejam. 
 
“ A soberania não pode ser representada pela mesma razão que não pode ser alienada; consiste 
essencialmente na vontade geral, e a vontade não é representada; é a mesma ou é outra, não há 
meio termo. Os deputados do povo não são, portanto, nem podem ser seus representantes, são tão 
somente seus comissários, nada podem concluir em definitivo. Toda lei que o povo em pessoa não 
ratificou, é nula; não é, absolutamente uma lei. (pág. 101) 
 
Capítulo XVI – De que a instituição do governo não é, de modo algum, um contrato. 
 
“Primeiramente, a autoridade suprema não pode nem se modificar, nem se alienar; limitá-la 
significa destruí-la. É absurdo e contraditório que o soberano se atribua um superior; Obrigar-se a 
obedecer um senhor é entregar-se em plena liberdade. 
Além disso, é evidente que esse contrato do povo com estas ou aquelas pessoas seriam um ato 
particular, donde se segue que este contrato não seria uma lei, nem um ato de soberania e que, 
consequentemente seria ilegítimo. 
Vê-se ainda que as partes contratantes estariam entre si sob uma única lei de natureza e sem 
nenhuma garantia de seus compromissos recíprocos, o que repugna de todas as formas ao estado 
civil: aquele que tem a força nas mãos sendo sempre o senhor da execução, melhor seria dar o 
nome de contrato ao ato de um homem que disse a outro: „Dou-vos todo meu bem, contanto que me 
deis o que vos aprouver‟. ”(pág. 104 e 105) 
 
Capítulo XVII – Da instituição do governo. 
 
 Rousseau enumera dois atos de que são compostos a instituição do governo, que são o 
estabelecimento e a execução da lei. 
“Para o primeiro, o soberano estatui que terá um corpo de governo sob esta ou aquela forma; e é 
claro, que este ato é uma lei. 
Pelo segundo, o povo nomeia os chefes que serão encarregados do governo estabelecido.” (pág. 
105) 
 
“Não é possível estabelecer o governo de alguma outra maneira legitima e sem renunciar aos 
princípios anteriormente estabelecidos. 
 
Capítulo XVIII – Modo de prevenir as usurpações do governo. 
 
“As assembleias periódicas das quais falei anteriormente, são precisamente para prevenir ou 
retardar essa infelicidade, sobretudo quando não precisam de convocação formal; pois então o 
príncipe não saberia impedi-las sem se declarar infrator das leis e inimigo do Estado. 
A abertura dessas assembleias, que tem por objetivo apenas a manutenção do tratado social, deve 
sempre se fazer por duas proposições que não se possam jamais suprimir, e que sejam sufragadas 
separadamente. 
A primeira: „Se é conveniente ao soberano conservar esta presente forma de governo‟. 
A segunda, „Se é conveniente para o povo deixar a administração àqueles que dela atualmente 
estão encarregados.‟ 
Supondo aqui aquilo que acredito ter demonstrado, isto é, que não há no estado nenhuma lei 
fundamental que não possa ser revogada, nemmesmo o pacto social, pois se todos os cidadãos se 
reunirem para romper este pacto em comum acordo, não se pode duvidar que este tenha sido 
legitimamente rompido.” (pág. 108)

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