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Apontanentos de aula Fertilidade do solo

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO 
DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA 
 
 
 
FERTILIDADE DO SOLO 
 
 
 
APONTAMENTOS DE AULA 
 
 
 
Fernando Freire 
Anderson Mailson de Oliveira Souza 
Fernando Bruno Vieira da Silva 
Thiago Rodrigo Schossler de Souza 
 
 
 
 
2016 
 
 
 
 
NOTA DO PRIMEIRO AUTOR 
 
 Inicialmente gostaria de agradecer aos Pós-Graduandos Anderson Mailson, Fernando 
Bruno e Thiago Rodrigo, autores junto comigo, desta pequena contribuição que estamos 
oferecendo aos alunos de Graduação de todos os Cursos que, em algum momento, cursam 
Fertlidade do Solo na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). 
 Esse foi um projeto construído durante a Disciplina de Avaliação da Fertilidade do 
Solo no Programa de Pós-Graduação em Agronomia (Ciência do Solo) aqui no Departamento 
de Agronomia da UFRPE em 2014. 
 Gostaria de acrescentar que há muitas maneiras de se estreitar os laços entre 
Graduação e Pós-Graduação. Essa é uma delas. Com esse trabalho, os graduandos têm a 
oportunidade de uma orientação nos diversos temas aqui tratados. O objetivo é que o aluno 
fique mais atento à aula do professor e utilize essa material para fazer pequenas anotações e 
para ampliarem em outros textos mais profundos seus conhecimentos. 
 Desejo que esse material seja aproveitado com o mesmo carinho com que foi 
produzido e editado. 
Nossas sinceras Saudações Agronômicas a Todas e a Todos. 
 
Grande abraço, 
 
 
Prof. Fernando Freire 
Setembro de 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO À FERTILIDADE DO SOLO 
 
1.1. Conceito de Fertilidade do Solo 
O termo “fertilidade do solo” refere-se ao estudo do solo com relação à quantidade e a 
disponibilidade dos elementos necessários ao desenvolvimento vegetal, em outras palavras é a 
capacidade do solo em fornecer nutrientes as plantas. 
É a ciência que trata da nutrição de plantas cultivadas no sistema solo-planta, 
descrevendo a interrelação entre fatores que afetam a disponibilidade de nutrientes, inclusive 
os efeitos de corretivos e fertilizantes sobre os solos e plantas, organizando os conhecimentos 
para uso na produção agrícola. 
Solo fértil é aquele que contém, em quantidades suficientes e balanceadas, todos os 
nutrientes essenciais em formas disponíveis. Solo produtivo é aquele que, sendo fértil, se 
encontra localizado numa zona climática favorável ao bom desenvolvimento das plantas nele 
cultivadas. 
 
Solo fértil ≠ Solo produtivo 
 
“Nem todo solo fértil é produtivo, porém todo solo produtivo é fértil”. 
 
1.2. Elementos químicos essenciais ao desenvolvimento das plantas 
Quando se faz a análise de uma planta fresca verifica-se que a maior proporção do seu 
peso (70 a 95%) é constituído pela água. Secando-se a planta numa estufa a 65 ºC, 
praticamente toda essa água é eliminada por evaporação, obtendo-se assim a matéria seca. 
Fazendo-se a análise elementar da matéria seca de uma planta de milho, por exemplo, 
encontra-se, em geral, dados como os da Tabela 1. 
 
Tabela 1. Composição elementar da matéria seca de uma planta de milho 
Elemento % Elemento % 
O 44,4 N 1,46 
C 43,6 Si 1,17 
H 6,2 K 0,92 
 Ca 0,23 
 P 0,20 
 
 
 
 
 Mg 0,18 
 S 0,17 
 Cl 0,14 
 Al 0,11 
 Fe 0,08 
 Mn 0,04 
SOMA 94,20 SOMA 4,70 
 
A análise desta planta não é suficiente para caracterizar um elemento como essencial, 
pois muitos elementos estão presentes na composição da matéria seca de uma planta e não são 
considerados essenciais. 
Um elemento é considerado essencial, quando satisfaz dois critérios de essencialidade: 
O direto e o indireto. 
 
Direto: O elemento participa de algum composto ou de alguma reação, sem o qual ou sem a 
qual a planta não vive. 
Indireto: 
▪ Na ausência do elemento a planta não completa o seu ciclo de vida; 
▪ O elemento não pode ser substituído por nenhum outro; 
▪ O elemento deve ter efeito direto na vida da planta e não apenas corrigir condições 
químicas, físicas ou biológicas desfavoráveis. 
 
Os elementos essenciais se classificam de acordo com a quantidade extraída pelas 
plantas em dois grandes grupos: macronutrientes [N (N), P (P), K (K), Ca (Ca), Mg (Mg) e S 
(S)], que são extraídos na dimensão de kg/ha; e micronutrientes [(B (B), Cl (Cl), Cu (Cu), Fe 
(Fe), Mn (Mn), Mo (Mo), Zn (Zn) e Ni (Ni)], que são extraídos na dimensão de g/ha. Na 
Tabela 2 encontram-se quantidades extraídas e exportadas de macronutrientes em algumas 
variedades de cana-de-açúcar no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 2. Extração e exportação de N, P, K, Ca e Mg em diferentes variedades de cana-de-
açúcar conduzidas sob manejo de irrigação plena 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os elementos macro e micronutrientes exercem funções específicas na vida da planta. 
Tais funções podem ser classificadas em três grandes grupos: 
 
a) Estrutural - O elemento faz parte da molécula de um ou mais compostos orgânicos, 
como por exemplo: o N nos aminoácidos e proteínas; o Ca no pectato da lamela média 
da parede celular; o Mg que ocupa o centro do núcleo tetrapirrólico das Clfilas. 
b) Constituinte de enzima - Refere-se a elementos, geralmente metais ou elementos de 
transição (Mo, por exemplo), que fazem parte do grupo prostético de enzimas e que 
são essenciais às atividades das mesmas. Este é também o caso do Cu, Fe, Mn e Zn. 
c) Ativador enzimático - É o caso em que o elemento sem fazer parte do grupo prostético 
da enzima, pois está dissociável da fração protéica é, porém, necessário à atividade da 
mesma. É o caso do K, como ativador enzimático. 
 
De acordo com a função que os macro e micronutrientes exercem nas plantas, eles serão 
responsáveis por diferentes papéis na formação das colheitas, como mostra a Tabela 3. 
A redistribuição dos elementos essenciais à vida das plantas dar-se, predominantemente, 
pelo floema. No entanto, os elementos podem mostrar mobilidade muito diferente. Os 
elementos considerados móveis são o N, P, K, Mg, Cl, Mo e Ni; os pouco móveis são o S, Cu, 
Fe, Mn e o Zn; e os de baixíssima mobilidade são o Ca e o B. 
Essa mobilidade maior ou menor tem muita relevância prática, porque quando ocorre 
deficiência de um elemento móvel, inicialmente os sintomas se manifestarão nas folhas mais 
 
 
 
 
velhas, enquanto que quando ocorre deficiência de um elemento pouco móvel na planta, o 
sintoma de deficiência se manifestará nas folhas e órgãos mais novos. Neste caso, as plantas 
exigem um suprimento contínuo dos elementos pouco móveis, pois, havendo interrupção ou 
diminuição no suprimento, não haverá mobilização suficiente do nutriente para “socorrer” os 
órgãos mais novos. 
 
Tabela 3. Participação dos macro e micronutrientes na formação e na qualidade da colheita 
Elemento Funções e Papeis 
N Constituinte de Aminoácidos (proteína/enzimas). Estimula a formação e 
desenvolvimento de gemas floríferas e frutíferas; maior vegetação e 
perfilhamento; aumenta o teor de proteína. 
P Atua na transferência de energia (ATP e ADP), estrutural (DNA, RNA, 
fosfolipídios). Acelera a formação de raízes; aumenta a frutificação; acelera a 
maturação dos frutos. 
K Ativação enzimática; transporte de fotossintatos; estômatos. Estimula a 
vegetação e perfilhamento (gramíneas); estimula o enchimento de grãos; 
promove o armazenamento de açúcar e amido; aumenta a eficiência do uso da 
água; aumenta a resistência a seca, geadas, pragas e moléstias. 
Ca Parede celular; estabilização membrana; extensão celular (raiz). Estimula o 
desenvolvimento das raízes; aumentaa resistência a pragas e moléstias; maior 
pegamento das floradas. 
Mg Clfila; síntese protéica (ribossomos); atividade enzimática. Colabora com o P. 
S Cisteína e metionina (proteínas); sulfolipídeos; fitoquelatinas. Aumenta a 
vegetação e a frutificação; aumenta o teor de óleos, gorduras e proteínas. 
B Metabolismo de carboidratos e proteínas; complexos enzimáticos. Colabora 
com o Ca; aumenta a granação. 
Cu Proteínas com Cu (Plastocianina); lignificação; formação de pólen. Aumenta à 
resistência às doenças; menor esterilidade masculina (cereais). 
Fe Citocromos; desenvolvimento dos Clplastos; fotossíntese. Fixação do N. 
Mn Cofator enzimático; evolução fotossintética do CO2. Aumenta a resistência a 
algumas doenças. 
Mo Nitrogenase (FBN); redutase do nitrato. Fixação simbiótica do N. 
Zn 
 
Enzimas; síntese protéica; síntese de AIA. Estimula o crescimento e 
frutificação. 
 
 
 
 
Ni Componente estrutural das enzimas uréase e hidrogenase; produção de etileno. 
 
1.3. Absorção e disponibilidade de nutrientes 
 
Movimento de íons do solo para as raízes 
Para que um íon existente na solução do solo possa ser absorvido pelas raízes das 
plantas é necessário que entre em contato com as mesmas. Existem três processos para 
estabelecer o contato: a interceptação radicular, o fluxo de massa e a difusão. 
A interceptação radicular é o encontro da raiz absorvente com o elemento no solo, ou 
seja, o sistema radicular em crescimento entra em contato com a solução do solo e com os 
colóides do solo onde se encontram os íons passíveis de absorção. A quantidade do elemento 
que dessa maneira entra em contato com o sistema radicular é relativamente pequena e 
proporcional a relação superfície da raiz/superfície do solo. Nestas condições, quanto mais 
desenvolvido o sistema radicular de uma planta maior será o contato com a superfície do solo 
(Figura 1). 
O fluxo de massa é definido como o movimento do íon em uma fase aquosa móvel. À 
medida que as raízes absorvem água, ou melhor, solução do solo, se estabelece um gradiente 
de potencial de água (resultante da transpiração da planta) no solo e a solução se move para a 
superfície da raiz e os elementos dissolvidos são carregados pela água por fluxo de massa. 
Pode ser determinada pela taxa de fluxo ou consumo de água pela planta e pela concentração 
média do nutriente na solução do solo. Este é o meio de contato mais importante para a 
maioria dos elementos essenciais entrarem em contato com a superfície das raízes no processo 
de absorção (Figura 1). 
A difusão é definida como o movimento do íon em uma fase aquosa estacionária, a 
distâncias curtas. A absorção de um íon pela raiz faz com que diminua a sua concentração na 
superfície das mesmas, criando um gradiente de concentração ao longo do qual o elemento se 
difunde. O movimento ocorre de uma região de alta concentração para uma de baixa 
concentração (Figura 1). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Movimentação de íons no solo e interceptação radicular raízes. 
 
Tomando-se a cultura do milho como exemplo, a contribuição dos três processos é a 
que aparece na Tabela 4. De acordo com o que se pode observar na referida tabela, o 
conhecimento do tipo de contato íon-raiz é de fundamental importância na localização do 
adubo durante a sua aplicação. 
 
Tabela 4. Relação entre o processo de contato do nutriente com as raízes e a localização do 
adubo 
Elemento 
Processo de contato 
Aplicação de 
Adubos 
Difusão 
Interceptação 
Radicular 
Fluxo de 
Massa 
_______________
 % do total 
_____________
 
N 0 1 99 Distante, cobertura 
P 94 2 4 Perto, localizado 
K 72 3 25 Perto, localizado 
Ca 0 28 72 Lanço 
Mg 0 57 43 Lanço 
S 0 5 95 Distante, cobertura 
 
 
 
 
B 0 29 71 Distante, cobertura 
Cu 10 70 20 Lanço, localizado 
Fe 40 50 10 Lanço, localizado 
Mn 80 15 5 Perto, localizado 
Mo 0 10 90 Lanço 
Zn 60 20 20 Perto, localizado 
 
O processo de contato do íon (nutriente) com a raiz é um dos fatores que determinam a 
localização do adubo em relação à semente ou à planta. O adubo nitrogenado tem de ser 
colocado de maneira tal que a água possa conduzi-lo até a raiz; já os adubos contendo P e K, 
elementos que atingem as raízes por difusão, devem ser colocados de modo a poderem ter o 
maior contato com a raiz possível, pois devido ao pequeno deslocamento destes elementos, as 
necessidades da planta poderão não ser satisfeitas. 
 
Elemento disponível 
Parte do nutriente que se encontra na solução do solo (Fator intensidade) e mais uma 
parte que se encontra na fase sólida (Fator quantidade) em condições de transferência para a 
fase líquida. 
 
Capacidade tampão 
Resistência que apresenta o solo em mudar suas características, principalmente 
químicas. É maior nos solos mais argilosos e com maiores teores de matéria orgânica. 
 
1.4. Leis e princípios da fertilidade do solo 
 
a) Lei da Restituição: É indispensável restituir ao solo, para evitar o seu empobrecimento, 
todos os nutrientes removidos pelas colheitas. 
b) Lei do Mínimo: As produções das culturas são reguladas pelas quantidades do 
elemento disponível que se encontra no mínimo em relação às necessidades das plantas 
(Figura 2) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2. Limitação da produção agrícola pelos nutrientes. 
 
c) Lei dos Acréscimos não Proporcionais: O aumento de produção não é proporcional ao 
aumento do fator limitante (Figura 3). 
 
 
Figura 3. Produção de cana-de-açúcar em função da aplicação de K ao solo. 
 
d) Lei do Máximo: Qualquer fator de produção, quando em excesso, tende a não aumentá-
la ou mesmo a diminuí-la. 
N 
P 
K 
Ca 
Mg 
S 
Fe 
Cu 
Zn 
Mn 
B 
Cl 
Ni 
 
 
 
 
e) Lei do Decréscimo da Fertilidade do Solo: A fertilidade dos solos cultivados tende a 
decrescer com o tempo se não forem executados trabalhos especiais, possibilitados pela 
ciência e pela técnica, para mantê-la ou mesmo elevá-la. 
 
1.5. Fatores que afetam o crescimento vegetal 
 
Fatores genéticos 
▪ Cultivares e exigência nutricional: sob condições de baixa fertilidade, uma cultivar de 
alta produtividade não pode desenvolver seu potencial de produção. 
▪ Importância da pesquisa em melhoramento vegetal: “Nenhuma condição ambiental 
pode superar os limites genéticos da planta ou cultivar”. 
 
Fatores ambientais 
▪ Temperatura – Fotossíntese, respiração, absorção de água e nutrientes, transpiração e 
atividade enzimática. 
▪ Umidade do solo – Crescimento das células, processos fisiológicos, absorção de 
nutrientes. 
▪ Luminosidade – Fotossíntese (qualidade, intensidade e duração). 
▪ Composição da atmosfera – CO2 (0,03%). 
▪ Estrutura e composição do ar do solo – Densidade do solo, oxigênio. 
▪ Reação do solo (pH) – Disponibilidade de nutrientes. 
▪ Fatores bióticos – Pragas e doenças. 
▪ Nutrientes minerais. 
▪ Substancias tóxicas – Al, metais pesados, alelopáticos. 
 
2. REAÇÃO DO SOLO (pH) 
 
2.1. Acidez do solo 
 
A acidez é o principal fator de degradação química do solo e abrange áreas extensas de 
solos nas zonas temperadas e, principalmente, nos trópicos (Figura 4). A acidez do solo afeta 
 
 
 
 
significativamente as características químicas, físicas e biológicas do solo e a nutrição das 
plantas. 
O desenvolvimento da acidez é um processo que ocorre à medida que os cátions de 
caráter básico, como Ca
2+
, Mg
2+
 e K
+
 são removidos do complexo de troca e deslocadospara 
a solução do solo por cátions de natureza ácida, como H
+
 e Al
3+
 e, de alguma forma, 
removidos do meio. 
Os solos tropicais são normalmente ácidos, seja pela ocorrência de precipitação pluvial 
suficientemente alta para lixiviar quantidades elevadas de bases trocáveis do solo, seja pela 
ausência de minerais primários e secundários responsáveis pela reposição dessas bases. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4. Localização do Brasil entre a linha do equador e trópico de capricórnio e 
características mineralógicas e químicas predominantes nos solos desta região. 
 
2.2. Componentes da acidez do solo 
 
Acidez ativa 
A acidez ativa refere-se à atividade dos íons H
+
 em solução, sendo medida usualmente 
por métodos potenciométricos que dão o pH do solo. O conceito de pH foi introduzido para 
70 % caulinita e, ou, 
oxidos de Fe e Al 
 Argila de atividade 
 baixa 
Carga Variável 
Elevada acidez, presença de 
teores tóxicos de Al, baixos 
teores de bases trocáveis 
Equador 
Capricórnio 
 
 
 
 
representar a concentração, ou mais precisamente a atividade de H
+
 na solução do solo. O pH 
é definido como: 
, ou 
em que (H
+
) = atividade do H
+
, em mol L
-1
. 
 
Assim, para uma concentração 0,000001 mol L
-1
 ou 10
-6
 mol L
-1
 de H
+
, o pH será 6. O 
significado prático desta relação é que cada unidade de mudança no pH do solo significa uma 
mudança de 10 vezes no grau de acidez ou basicidade. Um solo com pH = 6,0 tem acidez 10 
vezes maior que pH = 7,0, ou seja, 10 vezes H
+
 mais ativo, significando ainda que as 
necessidades de calcário aumentam rapidamente à medida que o pH diminui. 
Em solos podem ser encontrados valores de pH que variam de 3 a 10, com variações 
mais comuns em solos brasileiros entre 4,0 a 7,5. Solos com pH abaixo de 7 são considerados 
ácidos e os com pH acima de 7 são alcalinos. 
Deve-se salientar que a acidez ativa é apenas uma parte muito pequena em relação à 
acidez trocável ou à acidez potencial do solo. 
 
Acidez trocável 
A acidez trocável mede a quantidade de H
+
 e Al
3+
, além de outros íons de caráter ácido 
na forma trocável (Mn
2+
 ou Mn
4+
, Fe
2+
 ou Fe
3+
 e outros) retidos pelas cargas negativas do 
solo. Porém, como em muitos solos o teor de H
+
 trocável é muito pequeno (o mesmo acontece 
com a acidez de outros cátions de reação ácida), considera-se o resultado de acidez trocável 
como sendo o teor de Al trocável (Al
3+
). 
Esta acidez é determinada por extração com solução de KCl 1 mol L
-1
 a pH em torno de 
5,5, visto que para valores de pH maior que 5,6 o Al trocável é reduzido a praticamente zero, 
devido à precipitação do mesmo. 
 
Acidez potencial 
Essa acidez é composta pela acidez trocável e não-trocável. A acidez potencial inclui H
+
 
e Al
3+
 adsorvidos em forma eletrovalente, bem como os íons H ligados covalentemente que se 
dissociam de compostos orgânicos, de grupos OH na superfície das argilas, e de alguns 
polímeros de Al. 
Esta acidez é representada por (H + Al) e é extraída com um sal tamponado a pH 7,0, 
como o acetato de Ca 0,5 mol L
-1
. 
 
 
 
 
Acidez não-trocável 
A acidez não-trocável é determinada pela diferença entre a acidez potencial e a trocável. 
 
2.3. Origem da acidez do solo 
 
Material de origem 
Os solos podem ser naturalmente ácidos quando a rocha de origem for pobre em bases. 
Clima 
Regiões com altas precipitações pluviais apresentam tendência a maior acidificação do 
solo pela remoção dos cátions básicos através da lixiviação, permanecendo no complexo de 
troca, predominantemente, os cátions H
+
 e Al
3+
. Em solos originados de material de origem 
rico em bases, uma condição de precipitação mais intensa, ao longo dos anos, pode promover 
um empobrecimento progressivo de cátions básicos e a consequente acidificação do solo. 
Essa é a situação apresentada por muitos Latossolos originados de rochas básicas. 
 
Remoção de bases pelas culturas 
Além da remoção de cátions básicos pela lixiviação e erosão do solo, outro importante 
processo de remoção desses nutrientes do solo é a absorção de cátions básicos pelas culturas, 
uma vez que qualquer material vegetal é rico em bases (Tabela 5). Isso resulta no aumento de 
formas trocáveis de H
+
 e Al
3+
 no complexo sortivo, favorecendo maiores concentrações destes 
íons na solução do solo. Este, portanto, constitui o mais importante mecanismo de 
substituição das bases por ácidos no complexo de troca dos solos com utilização agrícola 
intensiva. 
 
Tabela 5. Estimativa das quantidades de Ca e Mg removidas pelas culturas 
Cultura Produção (t) Remoção (kg/ha) 
Ca Mg 
Alfafa 20 (feno) 224 45 
Milho 9 (grãos) 2 16 
 11 (colmo + folha + sabugo) 29 34 
Algodão 1,2 (fibra) 2 3 
 2,4 (ramos + folha) 31 20 
Soja 3,4 (grãos) 8 17 
 
 
 
 
Dissociação do ácido carbônico 
Suprimento contínuo de íons H
+
, originados principalmente da dissociação do ácido 
carbônico, formado pela dissolução do CO2 do ar e do solo (proveniente da respiração das 
plantas e microorganismos) conforme reação abaixo: 
 
CO2 + H2O ↔ H2CO3 ↔ H
+
 + HCO3
-
 ↔ CO3
2-
 + 2H
+ 
 
Ou ainda, pela entrada de ácido carbônico pelas águas da chuva. Esta reação só é 
evidenciada em solos com pHs elevados, tornando-se menos importante à medida que os 
solos vão se acidificando e, provavelmente, torna-se inexpressiva em pH abaixo de 5,2. Por 
outro lado, há um empobrecimento progressivo de cátions básicos, uma vez que, aqueles que 
forem deslocados para a solução do solo, podem ser perdidos nas águas que percolam através 
do perfil. Logo, se não houver restituição das bases eliminadas, haverá acumulação 
progressiva de H
+
. 
 
Hidrólise do Al 
O Al, proveniente do intemperismo dos silicatos, é hidrolisado constituindo uma fonte 
de acidificação dos solos, a qual produz íons H
+
, conforme mostram as reações: 
 
Al
3+
 + H2O ↔ Al(OH)
2+
 + H
+
 
Al(OH)
2+
 + H2O ↔ Al(OH)2
+
 + H
+
 
Al(OH)2
+
 + H2O ↔ Al(OH)3 + H
+
 
 
Grupos ácidos da matéria orgânica 
A superfície da matéria orgânica do solo apresenta grupos funcionais (R). Esses grupos 
funcionais ao se ionizarem apresentam cargas negativas. A capacidade de liberar H
+
 para o 
meio depende do grupo R (molécula orgânica presente), como mostra o esquema abaixo: 
 
Grupos carboxílicos: R - COOH + OH
-
 =======R - COO
-
 + H
2
O 
Grupos fenólicos: R - OH + OH
-
======= R - O
-
 + H
2
O 
Grupos alcoólicos: R - CH
2
OH + OH
-
======= R - CH
2
O
- 
+ H
2
O 
 
 
 
 
 
De modo geral, os grupos carboxílicos são mais fortes que os fenólicos. 
 
Decomposição da matéria orgânica 
A decomposição da matéria orgânica gera acidez de diversas formas, através de reações 
de nitrificação, oxidação e geração de CO2. A mineralização de compostos orgânicos libera 
compostos de N e S que, ao sofrerem oxidação, podem liberar prótons na solução do solo, de 
acordo com as reações: 
 
NH4
+
 + 2 O2 + H2O ↔ NO3
-
 + 2H3O
+ 
( H2O + H
+
)
 
S + 3/2 O2 + 3H2O ↔ SO4
2-
 + 2H3O
+
 (H2O + H
+
)
 
 
A oxidação biológica de compostos orgânicos produz CO2, o qual reage com água para 
formar ácido carbônico, que se dissocia e acidifica o solo. 
 
Fertilizantes de reação ácida 
Os fertilizantes aplicados ao solo, após reação dos mesmos, produzem significativa 
alteração no pH do solo (Tabela 6). A maior alteração do pH do solo é promovida pelos 
fertilizantes nitrogenadosamoniacais, ou por aqueles que resultam na formação de amônio no 
solo, como é o caso da uréia. O H
+
 pode ser gerado em um dos passos da nitrificação, ou 
ainda, quando pela aplicação de sais, produzindo na presença de água, algum ácido inorgânico 
solúvel. 
O NH4
+
 pode, também, deslocar o Al
3+
 adsorvido, gerando acidez no solo: 
 
Argila] Al
3+
 + 3NH4
+
 ↔ Argila] (NH4
+
)3 + Al
3+ 
Al
3+
 + 6H2O ↔ Al(OH)3 + 3H3O
+
 (3H2O) + 3H
+ 
 
Tabela 6. Caráter acidificante dos fertilizantes e quantidade de carbonato de Ca necessária 
para neutralizar a acidez destes fertilizantes 
 
Fertilizante (1000 kg) CaCO3 (kg) 
Amônia anidra 1480 
Sulfato de amônio 1100 
Fosfato diamônico 880 
Uréia 840 
 
 
 
 
Sulfonitrato de amônia 840 
Fosfato monoamônico 600 
Nitrato de amönio 600 
NitroCa 280 
Superfosfatos simples ou triplo 0 
Cloreto de K 0 
Sulfato de K 0 
Sulfato de K e Mg 0 
 
Argilomineraissilicatados e não silicatados 
Os minerais de argila silicatada apresentam grupos estruturais (Si-OH e Al-OH) 
expostos na sua superfície, assim como oxihidróxidos de Fe e Al que apresentam os grupos 
Al-OH e Fe-OH que, contribuem para a acidez do solo: 
 
Si ] OH + H2O ↔ Si ] O
-
 + H3O
+
 ( H2O + H
+
) 
Al ] OH + H2O ↔ Al ] O
-
 + H3O
+ 
( H2O + H
+
)
 
 
Absorção de nutrientes pelas plantas 
No processo de absorção de nutrientes a planta pode alterar o pH do solo através da 
liberação de H
+
 ou OH
-
, em função do balanço entre a absorção de cátions e ânions, dado a 
necessidade do balanço eletroquímico tanto no citoplasma das células da raiz quanto na 
solução do solo. A maior influência na relação de absorção entre cátions e ânions é exercida 
pelo N, que é muito absorvido pelas plantas e é o único nutriente que pode ser absorvido na 
forma catiônica ou aniônica. Uma maior absorção da forma nítrica causa uma elevação do pH 
da solução, enquanto que a maior absorção da forma amoniacal resulta no abaixamento do 
pH. Esse efeito das raízes tende a ser mais importante ao redor das mesmas, tendendo a criar 
um microambiente de pH na área de influência das raízes (rizosfera), o qual pode diferir em 
muito do pH do solo adjacente. 
 
Chuva ácida 
A emissão de óxidos de S e de N por refinarias de petróleo, termoelétricas, siderurgias e 
outras fontes poluidoras da atmosfera resulta na chuva ácida, representando mais um processo 
 
 
 
 
de acidificação dos solos. Esses óxidos carreados para o solo pela chuva sofrem oxidação 
formando ácidos fortes. 
 
Erosão do solo 
Manejo inadequado do solo favorecendo a erosão, expondo camadas subsuperficiais 
mais ácidas, principalmente em cultivos conduzidos em encostas de morro. 
 
2.4. Efeitos prejudiciais da acidez do solo 
Em valores extremos de acidez as plantas morrem ou apresentam acentuada diminuição 
do crescimento. 
A concentração de H
+ 
na solução do solo (acidez ativa), mesmo com valor de pH igual a 
4,0, não é capaz de limitar diretamente o crescimento e desenvolvimento das plantas. 
Entretanto, em condições ácidas, podem ocorrer íons, como o Al
3+
 e Mn
2+
 ou Mn
4+
 em 
quantidades tóxicas para as plantas, constituindo uma das principais limitações agrícolas em 
solos ácidos. A acidez do solo pode ainda interferir na disponibilidade de alguns nutrientes e 
na atividade dos microrganismos. 
Assim, para o estudo dos prejuízos causados pela acidez dos solos devem-se considerar 
os efeitos diretos e indiretos da acidez. Como efeito direto pode-se citar: 
▪ Baixos teores de Ca e Mg do solo; 
▪ Presença de elementos em quantidades tóxicas, como o Al e Mn (maior solubilidade); 
▪ Baixo aproveitamento dos nutrientes pelas plantas; 
▪ Menor atividade dos microrganismos decompositores da matéria orgânica 
(amonificação e nitrificação); 
▪ Redução da fixação simbiótica de N pelas leguminosas; 
▪ Maior adsorção e precipitação (fixação) de P; 
 
Como efeito indireto da acidez está a quantidade de H
+
 alterando a solubilidade dos 
demais nutrientes no solo, principalmente a dos micronutrientes que em pHs muito baixos 
tornam-se bastante solúveis e em quantidades tóxicas às plantas. Outrossim, em pHs elevados 
ficam indisponíveis às plantas. A disponibilidade dos nutrientes de acordo com o pH do solo é 
mostrada na Figura 5. 
 
 
 
 
 
Figura 5. Disponibilidade de nutrientes em função do pH do solo. 
 
A disponibilidade do N, S e B aumenta com o aumento do pH devido ao efeito 
favorável à mineralização da matéria orgânica. A disponibilidade de P aumenta com o 
aumento do pH devido à redução da acidez e aumento de OH
-
 na solução do solo. A 
disponibilidade do K, Ca e Mg não é afetada diretamente pelo pH. O efeito é indireto porque 
o aumento da CTC dependente do pH faz com que a lixiviação destes cátions diminua. 
A disponibilidade dos micronutrientes catiônicos (Fe, Mn, Cu e Zn) diminui com a 
elevação do pH do solo, pois os mesmos precipitam ao reagir com OH
-
. Enquanto a 
disponibilidade dos micronutrientes aniônicos (Mo e Cl) diminui com a acidez. O MoO4
2- 
é 
adsorvido pelos oxihidróxidos de Fe e de Al, à semelhança do que ocorre com o P, e é 
deslocado pelo OH
-
 com a elevação do pH. A mesma tendência é observada para Cl
-
, embora 
este seja fracamente adsorvido no solo. 
A disponibilidade do Al cresce em valores de pH abaixo de 5,5. Este é um dos motivos 
pelos quais a correção de solos ácidos é feita para se atingir um pH de, pelo menos, 5,5. A 
toxidez causada por elevadas quantidades de Al
3+
 depende não só desta quantidade, mas 
também deste em relação à CTC efetiva do solo, que é a saturação por Al
3+
 (m). 
 
 
 
 
 
 
 
Assim, em solos com o mesmo teor de Al
3+
, a toxidez para as plantas poderá ser maior 
para solos com menores teores de Ca
2+ 
e Mg
2+
. 
Concentrações elevadas de Al
3+
 no solo ocasionam efeitos pronunciados nas raízes das 
plantas, como o engrossamento das raízes e diminuição nas suas ramificações, prejudicando a 
absorção de nutrientes e água (Figura 6). O Al
3+
 em concentração elevada no solo também 
pode interferir na disponibilidade de outros nutrientes. O P na forma de fosfato, por exemplo, 
tende a reagir com o Al solúvel, formando fosfatos de Al de baixa solubilidade em solos 
ácidos. 
No Brasil, em geral, considera-se que a faixa ideal para a maioria de nossas culturas está 
entre 5,5 e 6,0. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6. Sintoma de toxidez de alumínio em raízes de cana-de-açúcar. 
 
 
 
2.5. Correção da acidez do solo 
 
Calagem 
A incorporação de calcário ao solo é prática agrícola denominada de CALAGEM que tem os 
seguintes objetivos: 
 
 
 
 
 
❖ Corrigir a acidez do solo, pela neutralização do H+: 
 
CaCO3 + H2O Ca
2+
 + HCO3
-
 + OH
-
 
 
HCO3
-
 + H
+ 
 H2CO3 CO2 + H2O 
 
OH
- 
+ H
+ 
H2O 
 
❖ Corrigir a toxidez do Al e do Mn por reações de precipitação desses elementos, na forma 
de oxihidróxidos [Al(OH)3 e Mn(OH)2]: 
 
5CaCO3 + 5H2O 5Ca
2+
 + 5HCO3
-
 + 5OH
-
 
 
Al
3+
 + 3OH
-
 Al(OH)3 
 
Mn
2+
 + 2OH
-
 Mn(OH)2 
 
É oportuno lembrar que essa precipitação poderá ocorrer com o Cu
2+
, Fe
2+
, Fe
3+
, Zn
2+
, 
diminuindo a disponibilidade desses nutrientes, principalmente em elevadas doses de calcário. 
 
❖ Fornecer Ca e Mg às plantas: 
 
CaCO3 + H2O Ca
2+
 + HCO3
-
 + OH-
 
 
MgCO3 + H2O Mg
2+
 + HCO3
-
 + OH
- 
 
❖ Aumentar a CTCefetiva pela geração de cargas negativas no solo, aumentando, 
consequentemente, a retenção de cátions, como Ca, Mg e K. 
 
❖ Em solos de Cerrado, neutralizar os sítios de cargas positivas dos oxihidróxidos de Fe e 
Al, minimizando, a adsorção de P. 
 
 
 
 
 
❖ Aumentar a atividade biológica do solo, principalmente à fixação biológica de N e a 
contribuição do Mo neste processo, além de promover a mineralização da matéria 
orgânica. 
 
❖ Melhorar a eficiência de utilização de nutrientes e água, pela melhores condições de 
desenvolvimento do sistema radicular. 
 
Necessidade de Calagem (NC) 
No Brasil, há grande diversidade de regiões com características específicas de solo, 
clima e desenvolvimento sócio-econômico. Assim, tecnologias geradas em determinada 
região nem sempre poderão ser utilizadas em outras sem sofrer modificações para adaptá-las 
às condições locais. 
Vários métodos para estimar a necessidade de calagem (NC) são utilizados no País. 
No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, foi adaptado o SMP, enquanto em São Paulo e 
parte do Paraná, foi adaptado o da saturação por bases. Nas outras regiões, principalmente na 
dos cerrados, o método mais empregado é baseado no teor de Al
 
trocável e de Ca e Mg
 
trocáveis. Em Minas Gerais, considera-se a tolerância da cultura ao Al
 
trocável. No Nordeste, 
os critérios para neutralização do Al
 
trocável e elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis do 
solo são utilizados em forma excludente, sendo o maior valor obtido utilizado na 
recomendação da quantidade de calcário a aplicar, uma vez que, ao se neutralizar o Al 
trocável
 
fornece-se Ca
 
e Mg trocáveis e vice-versa. 
 Assim, a calagem é fundamental para a agricultura em solos ácidos. No entanto, não 
existe uma definição clara sobre o melhor método para determinar a NC, ou seja, a quantidade 
de corretivo a ser aplicada ao solo. 
 
✤ Método da curva de incubação 
 Esse método consiste da incubação de amostras de solo com quantidades crescentes de 
CaCO3 p.a. até estabilização do pH, que pode variar entre 30 e 90 dias, dependendo do poder 
tampão da acidez do solo. Por ser demorado, trabalhoso e de baixa viabilidade econômica não 
é, rotineiramente, adotado como método para estimar a NC. No entanto, em atividades de 
pesquisa, principalmente, em ambientes controlados, é largamente utilizado, além de ser 
padrão para a calibração de outros métodos. 
 Os métodos mais utilizados para estimar a NC são basicamente três: 
 
 
 
 
✤ Método da saturação por bases 
Neste método, o cálculo da NC é dado pela expressão: 
NC = CTCpH 7,0 (Ve – Va) / 100 
Em que NC é a necessidade de calagem (t ha
-1
); CTCpH 7,0 é a Capacidade de Troca de Cátions 
a pH 7,0 (cmolc dm
-3
); Va é a saturação por bases atual, dada pela análise do solo (%); Ve é a 
saturação por bases desejada ou esperada. 
 
Esse método além de estar sendo largamente utilizado no Sudeste e Centro Oeste tem 
sido utilizado, também, no Nordeste, principalmente em solos com valores de CTCpH 7,0 entre 
4 e 12 cmolc dm
-3
. Recomendações de NC em solos que apresentam CTCpH 7,0 abaixo de 4 
cmolc dm
-3
 ou acima de 12 cmolc dm
-3
 podem sub ou super estimar a calagem, 
respectivamente. 
 
✤ Método da neutralização do alumínio trocável e elevação dos teores de Ca e Mg trocáveis 
 A NC é assim calculada: 
NC = Y [Al
3+
 - (mt x CTCefetiva/100)] + [X - (Ca
2+
 + Mg
2+
)] 
Em que NC é a necessidade de calagem (t ha
-1
); Y é um índice da capacidade tampão da 
acidez do solo que pode ser estimado pelo teor de argila ou pelo valor do P-rem; Al
3+
 é a 
acidez trocável dada pela análise do solo (cmolc dm
-3
); mt representa a máxima saturação por 
alumínio tolerada pela cultura; CTCefetiva é a Capacidade de Troca de Cátions efetiva 
(cmolc dm
-3
); X é a correção da deficiência de Ca e de Mg, assegurando um teor mínimo 
destes nutrientes que, normalmente é em torno de 2,0 cmolc dm
-3
; Ca
2+
 e Mg
2+
 são os teores 
trocáveis destes nutrientes dados pela análise de solo (cmolc dm
-3
). 
O valor do índice da capacidade tampão da acidez (Y) quando função do teor de argila 
do solo pode ser estimado pelo modelo: 
= 0,0302 + 0,06532 X – 0,000257 X2 ; (R2 = 0,999) 
Em que é o índice da capacidade tampão da acidez do solo; X é o teor de argila (%). 
 
Ainda, o valor de (Y) pode ser estimado, também, em função do P-rem, conforme 
modelo: 
= 4,002 – 0,125901 X + 0,001205 X2 – 0,00000362 X3; (R2 = 0,999) 
 
 
 
 
Em que é o índice da capacidade tampão da acidez do solo; X é o valor do P-rem (mg L
-1
). 
 
Originalmente esse método apresentava restrições ao uso por não considerar o poder 
tampão da acidez dos solos e as exigências em Ca e Mg das culturas. No entanto, muitas 
contribuições posteriores ao melhor desempenho do método, o tornaram bom estimador da 
NC dos solos, principalmente, pelo modelo contínuo para estimar a capacidade tampão da 
acidez e a tolerância das culturas ao Al
3+
. Quando para algumas plantas, a capacidade de 
tolerar saturações por Al for relativamente elevada, o método possibilita contabilizar teores 
consideráveis de Al
3+
 no solo, influenciando na maior permeabilidade de água e nutrientes, 
principalmente em solos argilosos, contribuindo para maximizar a eficiência hídrica e 
nutricional da cultura. 
 
✤ Método da neutralização do alumínio trocável ou da elevação dos teores de Ca e Mg 
trocáveis 
Este é o método mais difundido no Nordeste, cujo princípio básico é a separação da 
NC para neutralizar os teores de Al trocável ou para elevar os teores de Ca e Mg trocáveis. O 
maior valor encontrado representa a recomendação de calagem. 
O cálculo da necessidade de calagem é dado pelas expressões: 
NC = f x Al
3+
 ou NC = f x [X – (Ca2+ + Mg2+)] 
Em que NC é necessidade de calagem (t ha
-1
); f é o fator de calagem que pode ser 1,5, 2,0 ou 
2,5 para solos com teores de argila < 15, 15 a 35 e > 35 %, respectivamente; Al
3+
 é a acidez 
trocável dada pela análise do solo (cmolc dm
-3
); X é a correção da deficiência de Ca e de Mg, 
assegurando um teor mínimo destes nutrientes que, normalmente é em torno de 
2,0 cmolc dm
-3
; Ca
2+
 e Mg
2+
 são os teores trocáveis destes nutrientes dados pela análise de 
solo (cmolc dm
-3
). 
 
 Esse método, apesar de considerar o poder tampão da acidez, sua inclusão no cálculo 
se dar por faixa dos teores de argila, o que pode, nos extremos da faixa, sub ou super estimar a 
NC dos solos. Por outro lado, é excludente, ou seja, se a NC para corrigir a acidez for superior 
a NC nutricional, esse deve ser o valor recomendado. No entanto, quando a NC para corrigir a 
acidez não satisfizer as exigências nutricionais, mais calcário deve ser adicionado para 
atender o nível crítico de Ca
2+
 + Mg
2+
 da cultura. Assim, opta-se pelo maior valor de NC 
 
 
 
 
calculado pelas duas expressões. No Nordeste, a soma das expressões pode significar 
supercalagem. 
 
✤ Método da solução-tampão SMP 
 Esse método baseia-se na medida do decréscimo do pH de uma solução-tampão SMP 
em contato com uma amostra de solo na relação solo:água:tampão de 10:10:5. A calibração é 
feita correlacionando o pHSMP de uma série de solos com a NC para elevar o pH a 5,5, 6,0 ou 
6,5, sendo essa NC determinada por incubação com CaCO3. De posse do valor do pHSMP do 
solo e definido o pH que se deseja alcançar, utilizando uma tabela, determina-se a NC. 
 Este método é oficialmente utilizado no Rio Grande do Sul eSanta Catarina, porém 
saliente-se que para ser empregado em determinada região, é necessário calibrar o método 
para as condições específicas da região, evitando sub ou super estimativas da NC. 
 Assim, para solos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e estima-se a NC de acordo 
com o pHSMP (Tabela 7). Em São Paulo também se utiliza esse método. 
É oportuno que, qualquer que seja o método utilizado para estimar a NC em uma 
determinada propriedade agrícola, esse seja validado pelo método da curva de incubação, 
principalmente para monitoramento do pH, visando a maximização da disponibilidade de 
nutrientes. 
 
Tabela 7. Necessidade de calagem para solos de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa 
Catarina de acordo com pHSMP (relação 10:10:5, solo, água, solução-tampão) para atingir pH 
5,5, 6,0 e 6,5 
pHSMP 
Necessidade de Calagem para atingir pH 
São Paulo Rio Grande do Sul/Santa Catarina 
5,5 6,0 6,5 5,5 6,0 6,5 
 
_______________________________________________
t ha
-1_______________________________________________
 
6,9 - - 0,4 - - - 
6,8 - - 0,8 - - - 
6,7 - 0,3 1,2 - - - 
6,6 - 0,5 1,5 - - - 
6,5 0,1 0,7 2,0 - 0,2 0,7 
6,4 0,2 0,9 2,3 - 0,6 1,5 
6,3 0,3 1,1 2,8 0,2 1,2 2,1 
6,2 0,5 1,4 3,3 0,6 1,7 2,7 
 
 
 
 
6,1 0,7 1,8 3,8 1,0 2,2 3,4 
6,0 0,9 2,2 4,5 1,4 2,8 4,1 
5,9 1,1 2,7 5,2 1,9 3,3 4,8 
5,8 1,4 3,2 6,1 2,3 3,9 5,5 
5,7 1,7 3,8 6,9 2,8 4,5 6,2 
5,6 2,0 4,4 7,9 3,3 5,1 7,0 
5,5 2,4 5,1 8,9 3,8 5,8 7,9 
5,4 2,8 5,8 10,1 4,4 6,5 8,7 
5,3 3,2 6,7 11,2 4,9 7,2 9,6 
5,2 3,7 7,6 12,5 5,5 8,0 10,6 
5,1 4,4 8,5 13,8 6,2 8,8 11,7 
5,0 5,0 9,5 15,3 6,9 9,7 12,9 
4,9 5,5 10,5 16,7 7,7 10,7 14,2 
4,8 6,1 11,6 18,3 8,5 11,9 15,7 
 
Necessidade de Calagem (NC) versus Quantidade de Corretivo (QC) 
 A NC indicada pelos diferentes métodos utilizados no Brasil refere-se a dose de 
CaCO3 a ser aplicada na camada superficial (0 - 20 cm) num hectare, portanto, segue três 
premissas fundamentais: 
 
❖ O Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT) do corretivo é de 100 %; 
❖ O corretivo é incorporado até 20 cm de profundidade; 
❖ O corretivo é aplicado a lanço em área total, ou seja, em 100 % da área de cultivo. 
 
Dessa forma, entende-se que a NC corresponde a uma dose de corretivo teórica. Os 
corretivos comerciais apresentam PRNT inferiores a 100%, inclusive a legislação brasileira 
estabelece como valor mínimo 45%. Adicionalmente, em alguns tipos de manejo, o corretivo 
é aplicado localizadamente, dentro do sulco de plantio. 
Assim, a quantidade de corretivo (QC) pode ser calculada de acordo com a seguinte 
expressão: 
QC = NC (sc/100) x (pr/20) x (100/PRNT) 
Em que QC é a quantidade de corretivo (t ha
-1
); NC é a necessidade de calagem (t ha
-1
); sc é a 
superfície de cobertura em que o corretivo será aplicado (%); pr é a profundidade de 
 
 
 
 
incorporação do corretivo (cm); PRNT é Poder Relativo de Neutralização Total do corretivo 
(%). 
 
Corretivos da acidez 
 A acidez do solo pode ser neutralizada, utilizando-se vários compostos que podem 
liberar OH
-
 e, ou, HCO3
-
. Dentre estes compostos utiliza-se basicamente os óxidos, 
hidróxidos, silicatos e carbonatos. Como padrão de correção, os compostos mais largamente 
utilizados são os carbonatos, representados pelos calcários. Estes, dependendo dos teores de 
Mg, podem ser classificados em: 
 
❖ Calcíticos, com menos de 5% de MgO; 
❖ Mgnesianos, que apresentam entre 5 e 12% de MgO; 
❖ Dolomíticos, com mais de 12% de MgO. 
 
Os calcários dolomíticos têm sido largamente utilizados por apresentarem teores 
médios de Mg e representar uma excelente oportunidade de se adicionar Mg, aliado a custo 
relativamente acessível. No entanto, é necessário atenção para monitoramento da relação 
Ca/Mg, que com o uso prolongado de calcário dolomítico pode se estreitar demasiadamente, 
provocando perda de produtividade por desbalanço iônico. É recomendável, manter-se uma 
relação Ca/Mg nunca inferior a 3 ou 4:1. 
 
Valor e poder neutralizante dos corretivos 
 Aos carbonatos, especificamente, ao CaCO3, é atribuído o valor neutralizante (VN) de 
100%. Assim, o VN de outros corretivos é uma equivalência ao CaCO3 (Tabela 8). 
 
Tabela 8. Corretivos da acidez e seus correspondentes valores neutralizantes (VN) 
Corretivo Fórmula 
VN (%) 
(Equivalente em CaCO3) 
Carbonato de Ca CaCO3 100 
Carbonato de Mg MgCO3 119 
Carbonato de Ca e Mg CaCO3.MgCO3 109 
Hidróxido de Ca Ca(OH)2 135 
 
 
 
 
Hidróxido de Mg Mg(OH)2 172 
Óxido de Ca CaO 179 
Óxido de Mg MgO 248 
Silicato de Ca CaSiO3 86 
Silicato de Mg MgSiO3 100 
 
 Para calcular o VN de um corretivo, utiliza-se a seguinte expressão: 
VN = (1,79 x TCaO) + (2,48 x TMgO) 
Em que VN é o valor neutralizante (%); 1,79 é a relação ente o VN do CaO e do CaCO3; TCaO 
é o teor de CaO do corretivo (%); 2,48 é a relação entre o VN do MgO e o CaCO3; TMgO é o 
teor de MgO do corretivo (%). 
 
 O VN é um valor que considera que todos os compostos de Ca e Mg do corretivo irão 
neutralizar a acidez. No entanto, parte destes compostos não participam ativamente da 
correção do solo. Assim, determina-se o poder neutralizante (PN) do corretivo, por meio do 
poder de neutralização direta de ácido clorídrico que, comercialmente vem informado na 
embalagem do produto, juntamente com a informação dos teores presentes de CaO e MgO. 
Normalmente, o PN é inferior ao VN, expressa-se em %, considerando o CaCO3 como padrão 
igual a 100%. A legislação brasileira estabelece como 67% o valor mínimo para o PN. 
 A qualidade dos corretivos, além de estar relacionada diretamente com o PN, 
relaciona-se, também, com a granulometria do material, que permite estimar a eficiência 
relativa (ER) do corretivo (Tabela 9). 
 
Tabela 9. Eficiência relativa dos corretivos de acordo com sua granulometria 
Fração granulométrica Tamisamento ER 
 
mm Peneira ABNT % 
 
> 2,00 retida N
o
 10 0 
 0,84 – 2,00 passa No10, retida No 20 20 
 
 
 
 
 0,30 – 0,84 passa No 20, retida No 50 60 
≤ 0,30 passa No 50 100 
 
 Para calcular a ER utiliza-se a média ponderada da ER das classes de partículas 
(Tabela 9) com a granulometria da amostra do corretivo. Para o estabelecimento dessa ER, 
considera-se como tempo de reatividade do corretivo 42 a 48 meses. 
 
Reatividade 
 O PN e a ER permitem calcular o PRNT de um corretivo, de acordo com a seguinte 
expressão: 
PRNT = (PN x ER) / 100 
Em que PRNT é o poder relativo de neutralização total (%); PN poder neutralizante (%); ER é 
a eficiência relativa (%). 
 
 O PRNT é um índice de valor prático, que caracteriza o poder neutralizante efetivo 
dos corretivos da acidez. Assim, esses corretivos podem ser classificados em grupos: 
 
❖ Grupo A, com PRNT entre 45 e 60 %; 
❖ Grupo B, com PRNT entre 60,1 e 75 %; 
❖ Grupo C, com PRNT entre 75,1 e 90 %; 
❖ Grupo D, com PRNT acima de 90 %. 
 
Os corretivos da acidez, principalmente, os calcários são de custo relativamente baixo. 
No entanto, as componentes econômicas mais significativas na composição do custo são o 
transporte para entrega do calcário (frete) e a distribuição do material no campo (mão de 
obra). Assim, quando há uma variedade grande de produtos com preço e PRNT diferentes, é 
recomendável, a aquisição do calcário mais barato por tonelada efetiva do corretivo. 
Pode-se calcular o preço da tonelada efetiva do corretivo pela seguinte expressão: 
 
Preço por tonelada efetiva = 100 x preço por tonelada na propriedade / PRNT 
 
 
 
 
 
Assim, pode-se tomar uma decisãomais criteriosa do material que esta sendo adquirido, 
tendo no PRNT uma variável significativa nessa tomada de decisão. 
 
Gessagem como corretivo da acidez troçável (Al
3+
) em subsuperfície 
O teor elevado de Al reduz o crescimento radicular, especialmente o ápice das raízes 
que, inicialmente, tornam-se alongadas e, posteriormente, engrossam e não se ramificam 
normalmente, dificultando o acesso a reservas de água e nutrientes em camadas mais 
profundas do solo. 
O Ca, por outro lado, é um nutriente decisivo no desenvolvimento radicular das 
plantas. Quando a saturação por Ca no complexo de troca é inferior a 20%, há forte restrição 
ao crescimento de raízes no solo, para a maioria das espécies cultivadas. Como a absorção de 
Ca ocorre nas partes mais novas da raiz, é preciso que haja uma distribuição adequada do 
nutriente no solo para que a absorção seja contínua. 
 A calagem é a prática mais eficiente para elevar o pH, os teores de Ca
2+
 e a saturação 
por bases, além de reduzir o Al
3+
 e sua saturação nos solos. No entanto, a reação do calcário 
restringi-se ao local de aplicação, não atendendo a correção da acidez no subsolo, que por sua 
vez, depende da percolação de sais. Gesso tem sido a mais promissora das alternativas para a 
redução da acidez trocável no subsolo, por sua maior mobilidade no perfil, atingindo 
profundidades além da camada arável. 
 
Objetivos da gessagem 
Assim, a incorporação de gesso ao solo é prática agrícola denominada de 
GESSAGEM que tem os seguintes objetivos: 
 
❖ Corrigir a acidez trocável em subsuperfície, pela neutralização do Al trocável: 
 
 H2O 
4CaSO4.2H2O 4Ca
2+
 + 4SO4
2-
 + 8H2O 
 
 K Ca 
 Al + 4Ca
2+
 Ca + Al
3+
, Ca
2+
, Mg
2+
, 2K
+
 
 
 Mg K Ca 
Complexo 
de troca 
Complexo 
de troca 
 
 
 
 
4SO4
2-
 + Al
3+
, Ca
2+
, Mg
2+
, 2K
+
 AlSO4
+
 + CaSO4
0
 + MgSO4
0
 + K2SO4
0
 
 
O complexo AlSO4
+
 é menos tóxico as plantas devido ao efeito do SO4
2-
 reduzir as 
cargas das espécies iônicas do Al, atenuando, assim, sua atividade fitotóxica. No entanto, a 
neutralização da toxidez pode se dar ainda a partir das seguintes reações: 
 
1. Precipitação na forma de Al(OH)3, decorrente da adsorção de SO4
2-
 que libera OH
-
; 
2. formação do par iônico AlFx (x = 1-6), decorrente da presença de F
 
quando se utiliza 
gesso agrícola, como fonte de gesso; 
3. Precipitação de minerais de Al2(SO4)3, como alunita e basaluminita, decorrente do 
aumento da concentração de SO4
2-
; 
4. Aumento da força iônica da solução do solo, causando diminuição da atividade tóxica 
de Al. 
 
Paralelamente, ao deslocamento do Al
3+
 do complexo de troca do solo, outros cátions 
são deslocados, como K
+
 e Mg
2+
, que podem, por sua vez, reagir com o SO4
2-
, formando os 
pares iônicos neutros: K2SO4
0
 e MgSO4
0
, além do CaSO4
0
. Em função da sua neutralidade, os 
pares iônicos apresentam grande mobilidade ao longo do perfil, ocasionando uma descida de 
cátions para as camadas mais profundas do solo. 
Dentre os cátions que mais se movimentam de forma associada ao SO4
2-
 destacam-se o 
K
+
 e o Mg
2+
. De maneira geral, pode-se dizer que diferentes fatores condicionam maior ou 
menor movimentação dos cátions de caráter básico pelo perfil do solo, entre eles destacam-se: 
 
1. Quantidade de gesso aplicado; 
2. Capacidade de troca catiônica do solo (CTC); 
3. Condutividade elétrica da solução do solo; 
4. Capacidade de adsorção de SO4
2-
; 
5. Textura do solo; 
6. Volume de água que se aporta ao solo. 
 
Em solos arenosos de baixa CTC, quando a quantidade de gesso recomendada for 
elevada, é recomendável, quando possível, dividir a aplicação de gesso, evitando lixiviações 
significativas de K e Mg trocáveis. 
 
 
 
 
A lixiviação de K
+
 e Mg
2+
 tem sido resposta freqüente nos estudos com aplicação de 
gesso em solos, principalmente a lixiviação de Mg
2+
. Por isso é recomendável que quando a 
aplicação de gesso for realizada em doses elevadas no solo, devem ser desenvolvidas 
estratégias para minimizar as perdas de Mg
2+
. 
Nesse aspecto, a aplicação conjunta de calcário dolomítico e gesso num mesmo 
momento pode intensificar as perdas de Mg do calcário, além do deslocamento do próprio Ca 
da camada superficial do solo. É recomendável retardar a aplicação de gesso, mesmo que ela 
ocorra após o plantio, considerando a maior solubilidade do gesso e a coincidência com um 
período de maior aporte hídrico. 
 
❖ Fornecer Ca e S 
Efeitos positivos da aplicação de gesso como fonte de S foram obtidos em várias 
culturas. 
 
Fontes de gesso 
A maior parte das pesquisas realizadas com o uso do gesso na agricultura no Brasil 
trata de resultados obtidos com a gipsita secundária ou química, gerada como subproduto da 
fabricação de ácido fosfórico, que recebe o nome de fosfogesso (“phosphogypsum”) ou, 
simplesmente, gesso agrícola. Somente no Brasil, cerca de 4,5 milhões de toneladas de gesso 
agrícola são produzidas anualmente. 
Por outro lado, o gesso mineral, termo adaptado do nome mais conhecido 
internacionalmente, “mined gypsum”, pertence à classe dos sulfatos e é obtido a partir das 
rochas gipsíferas, que ocorrem associadas a quantidades menores de anidrita, calcita, 
dolomita, halita, S, quartzo e minerais de argila. Tais rochas são designadas de minérios de 
gipsita sempre que os teores de sulfato ou de gipsita atentem as exigências do mercado 
consumidor. Usualmente, ocorre na forma dihidratada (CaSO4.2H2O), embora os sulfatos 
naturais possam ser encontrados e utilizados em formas menos hidratadas, como a bassanita 
(CaSO4.0,5H2O) ou gesso argamassa e, ainda, na forma anidra (CaSO4), a anidrita. 
 Tanto o gesso mineral quanto o gesso agrícola têm, predominantemente, CaSO4.2H2O 
em sua composição e são comumente chamados apenas de gesso. Morfologicamente, o gesso 
mineral é mais amorfo que o gesso agrícola, característica que lhe proporciona uma maior 
superfície específica, consequentemente, maior contato com o solo, intensificando sua 
reatividade. 
 
 
 
 
Já se confrontaram a atuação do gesso mineral e do gesso de resíduos, constatando a 
semelhança dos seus efeitos no solo. Ambientalmente, há um aproveitamento direto dos 
resíduos que se acumulam nas indústrias, além de considerar-se, ainda, a relação entre o custo 
e a disponibilidade do gesso mineral, como ocorre em alguns países. Da mesma forma que é 
salutar para o ambiente, a reciclagem de resíduos acumulados nas indústrias, o uso das formas 
resíduas de gesso, possibilitam a liberação de elementos nocivos a esse mesmo ambiente, 
como U e Cd. 
 
Métodos de recomendação da Necessidade de Gesso 
 A recomendação da Necessidade de Gesso (NG) é basicamente realizada para 
correção de acidez trocável em camadas subsuperficiais e, ou, elevação dos teores de Ca em 
profundidade. Se a partir de 30 cm de profundidade, a saturação por Al for > 30 % e, ou, o 
teor de Ca for ≤ 0,4 cmolc dm
-3
 e, ou, o teor de Al for > 0,5 cmolc dm
-3
, há grande 
probabilidade de resposta à aplicação de gesso. 
 Apesar de boa parte dos mecanismos que envolvem a atuação do gesso no solo ser 
conhecida, existem, ainda, dúvidas quanto aos critérios a serem utilizados para sua 
recomendação e para se chegarà quantidade do produto a ser recomendada. Na literatura 
podem ser encontrados diferentes critérios, alguns mais empíricos que outros, mas, que de 
certa forma, apresentam boas propostas de recomendação. 
 Assim, os principais métodos para calcular a NG são: 
 
1. Baseado no teor de matéria orgânica do solo 
Teor de matéria orgânica NG 
 
% kg ha
-1
 ano
-1
 
 
< 1,72 300 - 450 
1,72 – 3,5 255 - 300 
> 3,5 75 - 150 
 
 
 
 
 
 
 Esse método baseia-se na relação entre a matéria orgânica e o Al. De fato, essa é uma 
relação importante na diminuição da toxidez do Al, porém é mais intensa na camada 
superficial. Como o gesso atua mais em subsuperfície esse método tem pouco uso como 
estimador da NG. 
 
2. Fórmulas empíricas, baseadas na participação do Ca2+ e do Al3+ na CTCefetiva 
NG = (40/100 x CTCefetiva - Ca
2+
) x 2,5 
ou 
NG = (Al
3+
 - 20/100 x CTCefetiva) x 2,5 
Em que NG é a necessidade de gesso (t ha
-1
); CTCefetiva é a capacidade de troca de cátions 
efetiva (cmolc dm
-3
); Ca
2+
 teor de Ca trocável dado pela análise de solo (cmolc dm
-3
); Al
3+
 é o 
teor de Al trocável dado pela análise do solo (cmolc dm
-3
); 40/100 é a percentagem desejável 
de Ca
2+
 na CTCefetiva; 20/100 é a percentagem máxima permitida de Al
3+
 na CTCefetiva; 
2,5 é quantidade de gesso necessária para elevar o teor de Ca
2+
 ou diminuir o teor de Al
3+
 em 
1,0 cmolc dm
-3
. 
 
Esse método relaciona-se com a presença de teores desejáveis de Ca
2+
 ou limites 
máximos permitidos de Al
3+
 na CTCefetiva, estabelecendo-se que pelo menos haja elevação ou 
redução de 1,0 cmolc dm
-3
 de Ca
2+
 ou Al
3+
, respectivamente, na camada de 20 a 40 cm de 
profundidade. O cálculo é realizado pelas duas fórmulas, recomendando-se o maior valor 
calculado. Posteriormente, foi sugerido para a cultura do café uma participação de Ca
2+
 na 
CTCefetiva de 60% e a fórmula passa ser descrita da seguinte forma: 
NG = (60/100 x CTCefetiva - Ca
2+
) x 2,5 
Em que 60/100 é a percentagem desejável de Ca
2+
 na CTCefetiva. 
 
3. Baseado na textura do solo 
NG = 0,00034 – 0,002445 X0,5 + 0,0338886 X – 0,00176366 X1,5; (R2 = 0,999) 
Em que NG é a necessidade de gesso (t ha
-1
); X é o teor de argila (%). 
 
Essa recomendação pode também ser baseada no valor do P-rem: 
NG = 1,681 – 0,1361 X0,5 – 0,03045 X + 0,002588 X1,5; (R2 = 0,999) 
Em que NG é a necessidade de gesso (t ha
-1
); X é o valor do P-rem (mg L
-1
). 
 
 
 
 
 
Para solos de Cerrado, se indicam doses de gesso com base na classe textural do solo e na 
característica do cultivo: 
 NG = f x argila 
Em que NG é a necessidade de gesso (t ha
-1
); argila é o teor de argila (%); f é um fator igual a 
0,050 para culturas anuais e 0,075 para culturas perenes. 
 
4. Baseado na necessidade de calagem (NC) 
NG = 25/100 NC 
Em que NG é a necessidade de gesso (t ha
-1
); 25/100 é a percentagem de correção da 
necessidade de calagem da camada subsuperficial que se deseja corrigir; NC é a necessidade 
de calagem da camada subsuperficial que se deseja corrigir (t ha
-1
). 
 
 Esse método relaciona a NG com a NC. Para não cometer equívocos, é preciso 
entender que a NC desse método é da camada que se pretende corrigir e não da camada 
superficial. Como visto anteriormente, existe mais de um método para calcular a NC. Nesse 
caso, recomenda-se utilizar o método mais adequado para região, ou seja, o mesmo utilizado 
para a NC da camada superficial. 
 Para a escolha do método da NG a ser utilizado, algumas considerações devem ser 
ponderadas. De maneira geral, dependendo das características do solo, as duas primeiras 
estimativas tendem a recomendar NG superiores a 2,0 t ha
-1
, o que, dada as características do 
produto e as considerações aqui discutidas, pode acarretar problemas de perdas excessivas de 
cátions do solo. Neste sentido, critérios que levam em consideração as características físicas e 
químicas que normalmente encontram-se associadas à textura do solo e que podem 
condicionar a movimentação de bases, tais como CTC e capacidade máxima de adsorção de 
sulfato. Por outro lado, como as quantidades a serem aplicadas não são muito grandes, para 
que ocorra uma completa correção da camada, possivelmente deva-se considerar um 
programa de correção com aplicações anuais. 
Seja qual for o critério utilizado para a NG, amostragens periódicas das camadas 
subsuperficiais devem ser realizadas com a finalidade de acompanhar a movimentação de 
bases no perfil, procurando evitar que ocorra uma drástica remoção destas no volume de solo 
explorado pelo sistema radicular das plantas. 
Para solos onde existe um bom manejo de resíduos orgânicos e sem a presença de 
camadas subsuperficiais com elevado teor de Al
3+
 e, ou, baixo teor de Ca
2+
, o potencial de 
resposta a utilização de gesso será muito pequeno, inviabilizando seu uso economicamente. 
 
 
 
 
Efeitos do gesso no sistema radicular 
 As respostas ao gesso como melhorador ou condicionador químico do ambiente 
radicular em profundidade têm sido observadas em muitas culturas agrícolas. Essas respostas 
são atribuídas à melhor distribuição das raízes das culturas em profundidade, que propicia às 
plantas o aproveitamento de maior volume de água, fundamental em ciclos curtos de estresse 
hídrico, como nos Cerrados do Centro Oeste e Tabuleiros Costeiros do Nordeste. Além disso, 
a eficiência nutricional é incrementada, como a do N, que por ter maior mobilidade, pode se 
deslocar para camadas mais profundas do perfil do solo e, mesmo assim, ser absorvido. Por 
outro lado, mesmo considerando a baixa mobilidade do P, o maior volume de raízes de 
plantas tratadas com gesso proporcionará maior acesso ao nutriente, influenciando sua 
absorção. 
 
2.5. Alcalinidade do solo 
Em solos de regiões áridas e semi-áridas é comum a presença de solos com altos teores 
de bases trocáveis, oriundos do material de origem, ou ainda, da presença de solos 
halomórficos de reação neutra a alcalina, devido à grande concentração de sais na superfície, 
resultante do processo de ascensão capilar. 
 
Caracterização de solos afetados por sais 
Alguns critérios são utilizados para a classificação de solos afetados por sais: 
 
✤ Condutividade elétrica do extrato de saturação (CE a 25 °C) – Correlaciona-se com os 
teores de sais dissolvidos na solução do solo. É medida no extrato da pasta de 
saturação do solo, por meio de condutivímetro com correção para a temperatura de 
25 °C. 
✤ Percentagem de sódio trocável (PST) - Corresponde à proporção do Na+ em relação 
aos demais cátions trocáveis do solo, expressa pela relação: 
 
em que Na
+ 
trocável é dado em cmolc kg
-1
 e CTC é a capacidade de troca de cátions a 
pH 7,0, em cmolc kg
-1
. 
✤ Relação de adsorção de Na do extrato de saturação (RAS) – Na avaliação da 
sodicidade da solução do solo ou da água de irrigação, relaciona-se a concentração 
de Na
+
 com as de Ca
2+
 e Mg
2+
, obtendo-se a relação de adsorção de Na
+
 (RAS): 
 
 
 
 
 
em que [ Na ] e [ Ca + Mg] indica a concentração do cátion no extrato da pasta de saturação 
ou na água de irrigação, em mmolc L
-1
. 
✤ pH do solo – Medido na suspensão solo: solução 1:2,5 e no extrato da pasta de 
saturação do solo. 
 
Com base nestes critérios, podem-se classificar os solos como salinos, quando 
têm elevadas concentrações de sais na solução do solo; sódicos, quando têm o Na
+
 
trocável em concentrações suficientes para restringir o crescimento de plantas cultivadas e 
parapromover a dispersão e a migração de coloídes ao longo do perfil, obstruindo poros 
e dificultando a movimentação de ar e água no solo, e salino-sódicos, quando têm os 
dois fatores associados, a salinidade e a sodicidade (Tabela 10). 
 
Tabela 10. Sistema de classificação de solos afetados por sais 
Classificação CE PST RAS pH 
 ds m
-1
 % 
Salino ≥ 4 <15 <13 <8,5 
Sódico < 4 ≥15 ≥ 13 ≥8,5 
Salino-sódico ≥ 4 ≥15 ≥13 ≥8,5 
 
Para distinção dessas categorias, tomou-se como base que, a uma condutividade 
elétrica do extrato da pasta de saturação do solo (CE) de 4 dS m
-1
, ocorre 50% de 
redução na produção da maioria das culturas agrícolas, sendo este valor crítico 
proposto para distinguir solos salinos de não-salinos. Da mesma forma, com uma PST 
no solo igual ou superior a 15%, suas propriedades físicas, especialmente a 
condutividade hidráulica, são afetadas, tomando-se este valor como limite para 
diferenciar solos sódicos dos não-sódicos. Os solos salino-sódicos têm, simultaneamente, 
elevadas concentrações de sais solúveis e de Na
+
 trocável. 
 
Correção da salinidade e da sodicidade 
 Quando o controle da salinidade e sodicidade não é efetivo, a degradação deverá 
ser revertida por meio da r e t i r a d a d o s sais solúveis em excesso, em particular 
 
 
 
 
do Na
+
 trocável. Esta correção, geralmente, é bastante onerosa e nem sempre atinge os 
objetivos almejados, pelas dificuldades de incorporação dos corretivos em solos, 
geralmente, com problemas físicos. 
 Técnicas de recuperação de solos com sais em excesso são de grande 
importância, à medida que possibilitam o seu retorno ao processo de produção. Contudo, 
para que a questão seja realmente solucionada, é preciso que os sais sejam removidos 
do solo e subsolo para uma profundidade bem abaixo da zona de penetração das raízes 
das culturas e haja uma prevenção ao retorno dos sais à camada de solo cultivada. 
 A correção e o manejo de solos afetados por sais vão depender do tipo de 
problema ao qual estão associados, em termos de sais solúveis e Na
+
 trocável. Quando 
o solo é apenas salino, a correção limita-se à lixiviação dos sais associada a um sistema 
de drenagem adequada que propicie a retirada dos sais em excesso do perfil do solo, 
ou seja, uma redução nos teores de sais na solução do solo. 
 Para manter os níveis de sais solúveis do solo em uma faixa tolerável, ou 
mesmo para retirar seu excesso, é utilizada uma lâmina adicional de água, além do uso 
consultivo da cultura, para promover a retirada destes sais do perfil do solo, a chamada 
lâmina de lixiviação. Entretanto, para que esta prática obtenha sucesso, faz-se 
necessária a existência de um sistema de drenagem eficiente, natural ou artificial. Como 
essa remoção de sais é efetivada por lixiviação, a drenagem interna do solo torna-se 
extremamente importante para a dessalinização e para o controle da salinidade. 
 No cálculo da lâmina de irrigação sobre uma área salina por corrigir, devem ser 
observados os teores de sais na água de irrigação, os teores tolerados pela cultura e o 
consumo de água pela planta. 
 Para equacionar o problema de solos salinos, é necessário quantificar o volume 
de água suficiente e o tempo de lixiviação da água no solo. Existem várias equações 
empíricas e semi-empíricas para determinar a lâmina de água necessária à lixiviação dos 
sais da zona das raízes. A necessidade de lixiviação é definida como a fração de água de 
irrigação infiltrada que deve lixiviar através da zona das raízes para manter a 
salinidade do solo em determinado nível. A necessidade de lixiviação para controle da 
salinidade, baseada no modelo de balanço de sais, é dada pela equação de Rhoades: 
 
 
 
 
 
em que NL - necessidade de lixiviação (mm); CEai - condutividade elétrica da água de 
irrigação (dS m
-1
); CEes - média da condutividade elétrica do extrato de saturação do 
solo (dS m
-1
) para a cultura de interesse e que proporciona a redução de 10% no seu 
rendimento. 
Já no caso dos teores de Na
+
 trocável estarem elevados (solos sódicos), faz-se 
necessária a substituição deste por outro cátion, sendo o Ca
+2
 o mais utilizado. A correção 
baseia-se no fornecimento de um sal de Ca ao solo para que este possibilite a saída do 
Na
+
 do complexo de troca, que será lixiviado com uma lâmina de irrigação excedente. 
Assim, é necessário o uso de um corretivo químico associado a uma lâmina de lixiviação 
e de um sistema de drenagem para a retirada do Na
+
 do perfil do solo. 
Por isso, a correção de solos sódicos é, geralmente, mais difícil do que a de 
solos salinos. Vários corretivos têm sido testados para reduzir o teor de Na
+
 trocável em 
solos sódicos e sua escolha vai depender das características do solo a ser corrigido, bem 
como da disponibilidade e do custo dos materiai 
O gesso é o corretivo mais utilizado pelo seu baixo custo. Contudo, pela reduzida 
solubilidade, requer mais tempo e quantidade de água do que outros corretivos. A 
aplicação do gesso é efetiva na substituição de Na
+
 por Ca
+2
, sendo caracterizada por 
dois tipos de reações químicas: (1) íons Ca
+2
 substituem o Na
+
 trocável, convertendo 
argila-Na em argila-Ca, e (2) o sulfato tende a reagir com o Na2CO3 originando CaCO3 e 
Na2SO4 que será lixiviado, obtendo-se assim, a diminuição dos teores de Na do solo. 
Podem ser utilizados também o S, ácido sulfúrico, sulfato de Fe ou cloreto de Ca. A 
efetividade do S depende de sua oxidação e da presença de compostos de Ca no solo, 
para que haja a substituição do Na trocável pelo Ca. Caso não ocorra a presença deste, 
o Na poderá ser substituído porH
+
. As principais reações químicas dos solos durante o 
processo de correção podem ser resumidas da seguinte maneira: 
 
Gesso 
 
 
Deve ser considerado não só o Na ligado às partículas (trocável), como também 
aquele na forma solúvel ou de sais no solo, pois ambos estão em equilíbrio dinâmico e 
podem ser substituídos mutuamente. 
 
 
S ou Ácido Sulfúrico 
2S + 3O2 ⇔ 2SO3 
SO3 + H2O ⇔ H2SO4 
H2SO4 + CaCO3 ⇔ CaSO4 + H2CO3 
H2CO3⇔H2O+CO2
Para que o S atue na correção destes solos, é preciso, inicialmente, que haja sua 
oxidação, realizada por bactérias no solo. Depois, tanto para o S quanto para o ácido 
sulfúrico, é essencial que o solo contenha carbonatos de Ca, que possibilitem a 
formação do sulfato de Ca, cátion necessário na substituição do Na. 
 
Sulfato Feso 
FeSO4 + H2O ⇔ FeO + H2SO4 
Da mesma forma, o ácido sulfúrico formado pelo sulfato de Fe no solo vai 
combinar- se ao carbonato de Ca, originando o sulfato de Ca, que atuará sobre o Na 
do solo. 
 
Cloreto de Ca 
 
O cloreto de Ca é um sal de elevada solubilidade e bastante efetivo na 
recuperação de solos com problemas de Ca, mas o alto custo envolvido impossibilita 
seu uso na prática de campo. 
As determinações de Na trocável e capacidade de troca de cátions servem como 
guia para estimar as quantidades de corretivos químicos necessários para reduzir as 
percentagens de Na trocável de solos sódicos a níveis desejados. Os cálculos são 
feitos em termos de molc de Ca capazes de substituir os molc de Na a corrigir no solo, à 
profundidade desejada. 
A necessidade de gesso pode ser calculada pela seguinte expressão: 
NG = [(PSTi – PSTf) × CTC × 86 × h × d]/100 
em que NG – necessidade de gesso (kg ha-1); (PSTi – PSTf) – diferença entre a percentagem 
de saturação por Na inicial do solo, e a final desejada; CTC - capacidade de troca de 
 
 
cátions (cmolc kg
-1
); h - profundidade (espessura da camada) do solo que se deseja 
recuperar (cm); d - densidade do solo (kg dm-3
). 
 
 Condicionadores orgânicos (esterco de curral, casca de arroz e vinhaça) também 
podem contribuir na redução da PST, possivelmente em virtude da liberação de CO2 e 
ácidos orgânicos, durante a decomposição da matéria orgânica, quando submetida às 
condições de lixiviação, além de atuarem como fontes de Ca e Mg, em detrimento do Na. 
 
3. MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO 
 
3.1. Constituição, origem e conteúdo 
A matéria orgânica do solo (MOS) é definida pela fração orgânica do solo constituída 
basicamente, de duas frações distintas: uma os restos vegetais e animais em diferentes estados 
de decomposição e outra, o húmus, que é o produto resultante desses restos após 
decomposição biológica. 
Os principais constituintes da matéria orgânica são o carbono (58%), oxigênio (33%), 
hidrogênio (6%), enquanto o N, P e o S contribuem com cerca de 3%, individualmente. 
Devido à grande participação do carbono (C) na constituição dos materiais orgânicos, a 
dinâmica da MOS está diretamente relacionada ao ciclo do C, de forma que os estudos sobre 
caracterização, dinâmica e funções da MOS são realizados, principalmente, por meio do C. 
A rápida degradação do solo sob uso agrícola no mundo, especialmente nos países 
tropicais em desenvolvimento, despertou nas últimas décadas, a preocupação com a qualidade 
do solo e a sustentabilidade agrícola, onde o termo qualidade do solo refere-se à capacidade 
que o solo possui em manter a produtividade biológica, a qualidade ambiental e a vida vegetal 
e animal saudável na face da terra. 
Para monitoramento da qualidade do solo, de forma que possam ser sugeridas 
modificações nos sistemas de manejo a tempo de evitar a sua degradação, é necessário definir 
os atributos do solo e do ambiente sensíveis ao manejo e de fácil determinação. Portanto, o 
carbono orgânico total (COT) ou a MOS encontram-se entre as variáveis indicadoras da 
qualidade solo. 
O consenso em relação a esse fator como indicador da qualidade do solo se devem a 
dois fatores principais. Primeiro, a MOS é muito sensível em relação às práticas de manejo, 
principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, onde, nos primeiros anos de cultivo, 
ocorre perda da MO acumulada por diversos processos, entre esses, a decomposição 
 
 
microbiana e a erosão. A MO tem estreita relação com a maioria dos atributos do solo e do 
ambiente relacionados às funções básicas do solo. 
Na natureza, a matéria orgânica (MO) é produzida principalmente pelas plantas, através 
da conversão do CO2 atmosférico em compostos que contêm C, durante o processo de 
fotossíntese. Além da origem vegetal, pode ser de origem animal, (principalmente estercos); 
agroindústrial (vinhaça, torta de filtro e bagaços) e resíduos urbanos (lodo de esgoto e lixo 
urbano), etc. 
Na maioria dos solos, os conteúdos de matéria orgânica variam de 0,5 a 5% nos 
horizontes minerais superficiais, podendo apresentar valores mais elevados em solos 
orgânicos. Apesar de apresentar menos que 5% na maioria dos solos, esta apresenta alta 
capacidade de interagir com outros componentes, alterando assim, as propriedades físicas, 
químicas e biológicas do solo as quais afetam o crescimento e desenvolvimento das plantas. 
Em solos orgânicos, o teor de matéria orgânica varia de 20% a 30%, no mínimo, de acordo 
com a percentagem maior ou menor de argila, a 90-95% nos solos turfosos. De modo geral, os 
solos argilosos, são mais ricos em matéria orgânica que os solos arenosos. 
 
3.2. Estoque global de Carbono 
A MOS tem importância primária na manutenção do equilíbrio dos estoques de C nos 
ecossistemas terrestres e nas suas relações com as demais esferas fundamentais (atmosfera, 
hidrosfera e litosfera). Mudanças nos estoques de C do solo podem levar a alterações 
significativas nos teores de C-CO2 na atmosfera, que está, também, intimamente relacionada 
com os processos que ocorrem na biosfera e na hidrosfera. 
Para entender a importância da MOS, exige-se conhecimento dos diferentes 
compartimentos do C em termos globais. O C está armazenado nos seguintes 
compartimentos: oceânico (38.000 Pg); geológico (5.000 Pg); biosfera, que corresponde ao 
solo (2.500 Pg), biota terrestre (620 Pg) e atmosférico (760 Pg), sendo Pg (Peta grama) 
corresponde 10
15 
g. Esses valores expressam a importância da MOS para os ecossistemas 
terrestres. 
O solo é o maior reservatório de C do ecossistema terrestre. Estimativas mais recentes 
indicam que cerca de 1.500 Pg de C estejam armazenados na MOS até um metro de 
profundidade. 
 
 
 
 
 
3.3. Distribuição no perfil do solo 
A distribuição da matéria orgânica no perfil do solo depende principalmente do modo 
pelo qual se adiciona a matéria orgânica. Em solos de florestas, por exemplo, a maior 
quantidade de matéria orgânica encontra-se na superfície porque a contribuição da 
serrapilheira é maior que a das raízes; além disso, uma proporção razoável destas se localiza 
superficialmente. Neste caso, o teor de matéria orgânica decresce bruscamente da camada 
superficial para a que está imediatamente abaixo. Contrariamente, em solos que suportam 
gramíneas a contribuição das raízes é grande e muitas dessas têm sistema radicular profundo. 
E, como elas apresentam ciclo relativamente curto, há uma contínua adição de restos 
orgânicos ao solo devido à morte das raízes e, conseqüentemente, o teor de matéria orgânica 
decresce menos bruscamente com a profundidade. 
 
3.4. Compartimentos da matéria orgânica do solo 
A MOS pode ser dividido em componente vivo e morto. A matéria orgânica viva 
compreende ao material orgânico associado às células de organismos vivos que se encontra 
temporariamente imobilizado (dreno), mas que apresenta potencial de mineralização (fonte). 
O componente vivo, raramente ultrapassa 4% do COT do solo, e está subdividido em três 
compartimentos: raízes, macrorganismos ou fauna do solo e microrganismos (Figura 7). 
Apesar de representar baixo percentual da matéria orgânica, essa fração é muito importante no 
processo de transformação dos compostos orgânicos do solo. 
 Apesar das raízes compreenderem o menor reservatório, sua ocorrência e distribuição 
no solo têm grande influência no processo de formação do solo. Elas atuam diretamente como 
fonte de C orgânico, uma vez que diferentes espécies vegetais imobilizam temporariamente C 
em biomassa radicular, retornando ao solo por ocasião da sua senescência. Indiretamente, as 
raízes contribuem com a exsudação de uma série de compostos orgânicos, os quais 
imediatamente vão constituir, em parte, o compartimento da MOS morta (substâncias não-
húmicas). 
 Os microrganismos do solo podem ser classificados quanto uso seu tamanho, 
classificados em: microfauna (<0,2 mm), mesofauna (0,2-10 mm) e macrofauna (>10 mm). 
Em geral, os organismos de menor tamanho encontram-se em maior quantidade no solo. Os 
microrganismos são representados principalmente pelas bactérias, fungos, actinomicedos e 
algas. As funções de destaque da fauna do solo na transformação dos compostos orgânicos 
são: redução do tamanho do material orgânico (resíduo); separação dos componentes do 
material orgânico; mistura dos componentes orgânicos e inorgânicos; formação e manutenção 
 
 
dos poros do solo; regulação e dispersão da microflora do solo. A ação de misturar e deslocar 
o material orgânico e mineral do solo da superfície e do subsolo pela fauna é fundamental na 
dispersão de nutrientes ao longo do perfil do solo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7. Esquema da distribuição da matéria orgânica no solo. 
 
 A redução do tamanho do material orgânico leva ao aumento da superfície

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