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Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 1 NOTAS DE AULA QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO Maria Eugenia Ortiz Escobar1 INTRODUÇÃO O sistema solo está constantemente em atividade química, onde inúmeras reações se processam ao mesmo tempo dentro de cada uma de suas fases (sólida, líquida e gasosa), entre elas e delas com o ambiente. O solo, como sistema trifásico, com diferentes constituintes na fase sólida, apresenta um grande número de propriedades químicas próprias, sendo aqui tratadas as mais importantes. Assim, este trabalho pretende servir de guia para o estudante de agronomia/zootecnia no estudo das propriedades do solo da disciplina Química e Fertilidade. Aqui serão relatadas, as propriedades mais importantes visando uma melhor compreensão das propriedades químicas com fins agrícolas. Primeiro, será apresentada uma revisão sobre o surgimento da agricultura e como ela tem evoluído. Igualmente são apresentados alguns conceitos básicos de fertilidade do solo, tudo com o intuito de demonstrar a importância da química do solo na agricultura e como ela serve para fazer uma avaliação dos solos para fins agrícolas. Com relação à parte de aulas práticas, são dadas as bases para realizar a avaliação da fertilidade do solo, apresentando metodologias para a determinação de alguns elementos e a forma de interpretação de resultados. Histórico: O período de desenvolvimento da espécie humana, durante o qual o homem iniciou o cultivo de plantas, marca o nascimento da agricultura. A época exata não é conhecida, mas certamente foi há milhares de anos antes de Cristo. Até então, o homem tinha hábitos nômades e vivia quase que exclusivamente da caça e colheita para obtenção de seus alimentos. Com o passar do tempo, fica mais dependente da terra em que vivia, desenvolvendo a habilidade de produzir, ou seja: SURGE A AGRICULTURA. A agricultura, junto com a fabricação de ferramentas, é uma das atividades antropogênicas que permitiram que o homem se convertesse em uma espécie dominante. Antes que a humanidade tivesse capacidade de satisfazer suas necessidades alimentícias de uma maneira mais fácil, utilizava a maior parte do tempo buscando o sustento diário, o que impedia o avanço da civilização na forma de arte, ciência, tecnologia e desenvolvimento de sistemas políticos e sociais. 1 Eng. Agr., Dra., Professora Adjunta do Departamento Ciências do Solo/CCA/UFC. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 2 Evolução histórica da ciência agronômica É considerada por muito tempo como: • Uma prática milenar. Suas mudanças se deram no início através da observação da natureza. • Filósofos gregos e romanos compilaram resultados de longos anos de experiência agrícola prática (papel do adubo, rotação de cultura e plantas de cobertura, pousio, plantas melhoradas do solo), assim: Lucius Columella: Desenvolveu método empírico de observação do estado e estrutura do solo (este deveria colar ligeiramente nos dedos quando pressionado e não espedaçar-se). Método de encher um buraco com solo (terra gorda enche logo). Aristóteles: É quem fala pela primeira vez sobre nutrição vegetal. Para isso, propõe que a natureza era composta por 4 elementos fundamentais (água, ar, fogo e terra - “Teoria dos Quatro Elementos de Empédocles”) dos quais, através de combinações e transmutações derivariam as demais substâncias. Segundo ele, os elementos que formam cada substância são partículas da mesma substância que se unem formando um todo (“Teoria de Anaxágoras”). Assim, Aristóteles supunha que a “matéria orgânica das plantas resultava da soma destas partículas infinitamente pequenas e pré-formadas que, uma vez absorvidas pelas raízes, se depositariam, sem se modificar, nos tecidos e órgãos da planta.”. Philippus Paracelsus - Século XIV: Para ele o mundo material era uma mistura de 3 princípios ou elementos: o enxofre (combustão), o mercúrio (fluidez), e o sal (solubilidade). Foi quem aperfeiçoou a teoria aristotélica da nutrição animal e vegetal (ambos necessitavam alimentos orgânicos ou combustíveis (S), água (Mg) e minerais (sal). Os vegetais os receberiam do solo e da chuva em proporções que deveriam ser equilibradas. Antecipação rudimentar da lei do ‘mínimo’, enunciada 3 séculos mais tarde. Albrecht D. Thaer -Século XVIII: Enuncia a teoria do húmus, indicando que tem poder fertilizante pelos benefícios da matéria orgânica (MO - restos vegetais e animais). É considerada uma filosofia vitalista:“O húmus é produto da vida e também uma condição de vida”, e vê os fenômenos vitais para além de fenômenos físico-químicos. A doutrina de Aristóteles predominou durante dois mil anos e foi “aperfeiçoada” com a teoria do húmus. A partir do século XVI, começa a ser questionada. No século XIX – Surge uma polêmica entre Mulder e Liebig. O primeiro ressalta os efeitos da MO na fertilidade do solo. Ele considerava as práticas agrícolas tradicionais buscando explicar cientificamente os fenômenos observados pelos camponeses. Já Liebig nega os benefícios da MO para as culturas, desprezando os conhecimentos empíricos tradicionais. É ele quem propõe a Lei do mínimo, considerava que os Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 3 fertilizantes orgânicos eram irrelevantes, e que o rendimento das culturas dependia do aumento ou diminuição das substâncias minerais (nutrientes) em maior ou menor proporção, que bastaria repor os nutrientes exportados através das colheitas para manter a fertilidade do solo. Essa teoria trouxe várias implicações, pois possibilitou o abandono do pousio, da rotação de culturas e do seu consórcio com animais. Surge o interesse da indústria de fertilizantes no final do século XIX, considerando que a química (fertilizantes) seria a solução aos problemas encontrados no solo, sendo uma visão muito simplista, pois não considera a ação dos múltiplos elementos que interagem no solo. É no século XIX que se falam das propriedades físicas do solo, e entre 1860 e 1870 que se fala da biologia e microbiologia do solo, identificando-se em definitivo a ação das bactérias em vários fenômenos (principalmente na decomposição da MO, liberação de nutrientes). Pasteur: No final do século XIX descobre alguns métodos de conservação de alimentos, descrevendo a fermentação e demonstrando que o solo não é algo inerte mas apresenta vida microbacteriana intensa; e que o processo de nitrificação é um processo bacteriológico. Winogradsky (1891): Explica definitivamente o processo de nitrificação. A partir daí, muda-se o conceito de solo (substrato vivo) e de fertilidade (condição do solo em relação à interação entre as partículas componentes, ao volume e estado da MO, à população de microorganismos - solução do solo). Considera-se agora que tanto na agricultura e no solo atuam simultaneamente fenômenos físicos, químicos e biológicos em equilíbrio dinâmico. É no início do século XIX que surgem uma série de trabalhos sobre a nutrição de plantas, dando origem à ciência da agronomia. Historicamente, a química foi uma das áreas mais ligadas à ciência agronômica. Agora a agronomia nasce como a ciência que estuda o controle tecnológico dos fatores de produção na agricultura. Seu objeto são as relações solo-plantas-clima-grupos humanos (agroecossistemas). No século XX, são apresentados inúmeros progressos tecnológicos nos processos de produção agrícola: – as técnicas de atrelagem e nutrição animal evoluem (aumenta a produtividade do trabalho), – o surgimento da moto-mecanização (aumenta a potência de trabalho), – da seleção e manipulação genética das espécies, – técnicas de irrigação por bombeamento, – pesticidas e fertilizantes químicos, Notas de Aula Química eFertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 4 – permitiram e tornaram necessário um estudo mais detalhado sobre os mecanismos que determinam o rendimento das culturas. Esse desenvolvimento de fatores de produção foi lento até a II Guerra Mundial. A partir daí os “avanços” tecnológicos da guerra (principalmente na química e mecânica) passam a ser aplicados na agricultura como alternativa para reconstrução das nações destruídas e de combate à fome generalizada que se instaurara na Europa (plano Marshall), surgindo assim o que é conhecido como Agricultura moderna. Agricultura moderna: Surge nos séculos XVIII e XIX na Europa, em duas etapas de revolução: – Primeira revolução agrícola: Intensifica-se a adoção de sistemas de rotação de culturas com plantas forrageiras (leguminosas) e se associa a atividade agrícola com a pecuária. – Segunda revolução agrícola: Introdução de uma série de descobertas científicas e tecnológicas como os fertilizantes químicos, a manipulação genética de plantas e os motores de combustão interna. Possibilitaram o abandono dos sistemas rotacionais e a separação da produção animal e vegetal. – Consolidação do padrão produtivo (após a II Guerra Mundial): baseado em monocultivos em larga escala viabilizados por tecnologias de base química, moto- mecânica e genética. – Auge: nas décadas de 1960 e 1970: “Pacotes tecnológicos”; “Revolução Verde”. – Consequências: Aumento do volume de produção e da produtividade agrícola; destruição das florestas e da biodiversidade (patrimônio genético); erosão e contaminação dos recursos naturais não - renováveis e dos alimentos; concentração de terras e renda; êxodo rural, etc... • Década de 1960 – surgem as primeiras críticas ao modelo agroquímico (silent spring – primavera silenciosa - Raquel Carson. • Década de 1980: houve contestações ao padrão produtivo da agricultura moderna, surgem as primeiras manifestações de uma agricultura alternativa. • Década de 1990: busca por novo modo de produzir: agricultura sustentável. São várias as definições de agricultura sustentável encontradas na literatura, mas a maioria incorpora os seguintes itens: – Manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola; – Mínimo de impactos adversos ao ambiente; – Retornos adequados aos produtores; Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 5 – Otimização da produção das culturas com o mínimo de inputs químicos; – Satisfação das necessidades humanas de alimentos e rendas; – Atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais. “Agricultura sustentável não constitui algum conjunto de práticas especiais, mas sim um objetivo - alcançar um sistema produtivo de alimentos e fibras que: a) Aumente a produtividade dos recursos e dos sistemas agrícolas, permitindo que os produtores respondam aos níveis de demanda engendrados pelo crescimento populacional e pelo desenvolvimento econômico; b) Produza alimentos sadios, integrais e nutritivos que permitam o bem-estar humano; c) Garanta uma renda líquida suficiente para que os agricultores tenham um nível de vida aceitável e possam investir no aumento da produtividade do solo, da água e de outros recursos; d) Corresponda as normas e experiências da comunidade (NRC, 1991). Com isso, deve-se conhecer a definição de sustentabilidade. SUSTENTABILIDADE: refere-se à habilidade de um agroecossistema em manter a produção através do tempo, face a distúrbios ecológicos e pressões sócio- econômicos de longo prazo. (ALTIERI,1989). A agricultura atual mundial: Existe uma necessidade de sistemas sustentáveis para produção de alimentos, pois a agricultura convencional embora tenha garantido a demanda crescente de alimentos durante a última metade do século XX através do aumento de rendimento de grãos, diminuição dos preços de alimentos, aumento de produção excedendo à taxa de crescimento populacional e diminuição da fome crônica. Só que muito desse sucesso foi devido a avanços científicos, inovações tecnológicas (novas variedades de plantas, uso de fertilizantes e agrotóxicos, irrigação) a um custo muito alto: Foram retirados e degradados excessivamente os recursos naturais dos qual a agricultura depende: (Solo, reservas de água, diversidade genética natural), foram criadas dependências de combustíveis fósseis não renováveis, demonstrando que a agricultura moderna é insustentável. Problemas agrícolas Na América Latina e no Caribe, o crescimento agrícola gerou muitos benefícios, mas tal crescimento também causou iniqüidades na distribuição de terras e recursos. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 6 Nessa região, o setor agrícola é caracterizado pelos seus altos custos ambientais e pela degradação de recursos naturais, incluindo a erosão do solo e a perda de fertilidade, a degradação dos pastos, o mau uso dos pesticidas e a perda de diversidade genética. Figura 1: Atividades humanas responsáveis pela degradação do solo na América Latina e no Caribe Manejo da fertilidade do solo no contexto atual e futuro da agricultura brasileira: Causas da baixa fertilidade: A presença de nutrientes é um dos aspectos fundamentais que garantem a boa qualidade dos solos e o seu bom uso e manejo, principalmente no caso de agroecossitemas. Em ecossistemas nativos, a ciclagem natural de nutrientes é a grande responsável pela manutenção do bom funcionamento do solo e do ecossistema como um todo. Essa ciclagem é fundamental para manter o estoque de nutrientes nos ecossistemas naturais, evitando a perda da fertilidade natural do solo. Os agroecossistemas cobrem mais de um quarto da área global da terra e quase três quartos desses agroecossistemas apresentam baixa fertilidade do solo, o que aliado a condições de relevo íngreme, pode afetar de sobremaneira a produção agrícola. Para um melhor entendimento, é necessário saber a definição de solo fértil. Será que todo solo fértil é necessariamente produtivo? Quais são as causas da baixa fertilidade dos solos? Um solo produtivo é um solo fértil, ou seja, que contem os nutrientes essenciais em quantidades adequadas e balanceadas para o normal crescimento e desenvolvimento das plantas cultivadas e que apresenta ainda boas características físicas e biológicas, livre de elementos tóxicos e se encontra em local com fatores climáticos favoráveis. Solo fértil: solo que tem a capacidade de suprir às plantas os nutrientes essenciais nas quantidades e proporções adequadas para o seu desenvolvimento, visando altas produtividades de grãos, fibras, frutos, tubérculos ou raízes. Ou seja, um solo pode ser fértil sem necessariamente ser produtivo, e a fertilidade pode ser natural ou criada pela adição de nutrientes ao solo. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 7 Outro aspecto é que solos naturalmente férteis, sob manejo inadequado podem ser transformados em solos de baixa fertilidade. Baixa fertilidade: Natural ou não? Pode ser tanto natural quanto antrópicas. Natural� gênese do solo e o intemperismo, particularmente em grande parte das regiões tropicais e subtropicais, onde a remoção de nutrientes do solo é mais acelerada. Antrópicas� provocadas pelo manejo inadequado do solo, sendo a retirada de nutrientes sem reposição uma das maiores responsáveis. PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DO SOLO As propriedades físicas, químicas e físico-químicas dos solos variam em pequenas distâncias verticais e horizontais. Dessa maneira, partes diferentes do sistema radicular estão localizadas em ambientes diferentes quanto ao pH, temperatura, potencial redox e pressão osmótica, sendo o crescimento das plantas uma resposta à soma dessas condições diferentes. • Do Ponto de Vista Físico Doponto de vista físico, o solo é um sistema heterogêneo e trifásico. � Fase sólida - é considerada descontinua e relativamente estável; � Fase líquida - pode ser considerada contínua, no sentido de ser possível a movimentação de um ponto a outro do solo, sem deixar essa fase; � Fase gasosa - descontinua e ocupa de forma complementar o espaço poroso. Fase sólida: A fase sólida do solo é composta basicamente de duas frações: � orgânica (matéria orgânica do solo) e � inorgânica A fração orgânica é transformada em húmus pela ação dos microorganismos existentes no solo, liberando neste processo os minerais que, juntamente com a fração inorgânica, quando dissolvidos em água, formam a solução do solo, constituindo assim a fonte de nutrientes minerais para as plantas. A fase sólida é constituída de agregados que se apresentam individualizados. Os agregados são formados de partículas unitárias, cimentadas entre si por matéria orgânica, óxidos e hidróxidos de Fe e Al, sílica, etc. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 8 A composição da solução do solo sofre pouca alteração porque o solo apresenta uma capacidade continua de reposição dos nutrientes a partir dos processos de mineralização e decomposição dos componentes inorgânicos e orgânicos, respectivamente. Fases Líquida e Gasosa: De modo geral, o solo não é compacto, apresenta poros, similar a uma esponja, que podem ser ocupados por água ou ar, dependendo de suas condições de umidade. A existência de espaços vazios ou poros entre as partículas acontece por causa da mistura de partículas sólidas, favorecendo a formação de agregados e consequentemente a estruturação do solo. Formação dos agregados Um solo bem estruturado permite: a) Poros adequados para a entrada de ar e água no solo; b) Porosidade adequada para que a água se movimente através do solo sendo disponível para as culturas, assim como permita uma boa drenagem do solo; c) Porosidade adequada para o crescimento das culturas após a germinação das sementes, permitindo que as raízes explorem um maior volume de solo em busca de ar, umidade e nutrientes. Assim, são encontrados dois tipos de poros nos solos; os macroporos e os microporos. • Macroporos: - maior diâmetro, através dos quais a água é drenada e o ar se move livremente; Aglomerados de partículas de argila interagindo com óxidos de Fe ou Al e polímeros orgânicos na menor escala Submicroagregado constituído por partículas de silte cobertas com matéria orgânica e pequenos pedaços de plantas e microorganismos, cobertos com arranjamentos menores de argila, húmus e óxidos de Fe ou Al Microagregados consistindo principalmente de partículas de areia fina e pequenos aglomerados de silte, argila e substâncias orgânicas unidas por pêlos radiculares, hifas de fungos e substâncias produzidas por Macroagregado composto por muitos microagregados, unidos principalmente por uma rede de fungos e raízes Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 9 • Microporos: responsável por retenção de água por capilaridade. Para manter o solo em condições de alta produtividade, é importante conservá-lo bem estruturado. A estruturação permite uma porosidade adequada onde podem alojar-se água ou ar. A água é importante não somente pelo fornecimento de nitrogênio e oxigênio às plantas, mas, também, pela formação da solução do solo, de onde as plantas absorvem os nutrientes essenciais ao seu crescimento e desenvolvimento. O ar é essencial para que as plantas respirem, gerando, assim, energia para a absorção dos nutrientes. Do Ponto de Vista Químico: As plantas são compostas de 70 a 90% de água, sendo o restante de matéria seca. Na matéria seca, observa-se que 90% ou mais é formada somente por três elementos: o carbono (C), o hidrogênio (H) e o oxigênio (O). O C vem do ar, o O vem do ar e da água e o H vem da água. Dessa maneira, observa- se que, na natureza, o solo é responsável por apenas 1% da composição da planta, mas isso não significa que ele é menos importante. C-O-H são adquiridos a partir do CO2 atmosférico e da água presente no solo, sendo incorporados às plantas pelo processo de fotossíntese. Como conseqüência desse processo, esses três nutrientes fazem parte de praticamente todas as moléculas orgânicas dos vegetais e são responsáveis por cerca de 94-97% do peso seco de uma planta. Os demais nutrientes (6-3 % restantes) fazem parte dos minerais presentes no solo. Por derivarem dos minerais, esses elementos são denominados nutrientes minerais e o processo pelo qual as plantas os adquirem é denominado nutrição mineral. Os elementos minerais são classificados em dois grupos: • macronutrientes e • micronutrientes. � Macronutrientes ou nutrientes necessários em grandes quantidades (N, P, K, Ca, Mg, S) Os macronutrientes podem ser subdivididos em primários, o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K); e em secundários o cálcio (Ca), o magnésio (Mg) e o enxofre (S). � Micronutrientes ou aqueles necessários em pequenas quantidades (Fe, Mn, Zn, Cu, B, Cl, Mo, Ni). Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 10 Uma explicação para os macronutrientes serem requeridos em quantidades elevadas é o fato deles fazem parte de moléculas essenciais para o vegetal, ou seja, possuem um papel estrutural. Por outro lado, os micronutrientes estão mais relacionados à ativação de certas enzimas, sendo esse um papel regulatório. Critérios de essencialidade dos nutrientes: a) a deficiência ou falta de um elemento impossibilita a planta de completar seu ciclo biológico; b) a deficiência é especifica para o elemento em questão; c) o elemento deve estar envolvido diretamente na nutrição da planta, seja constituindo um metabólito essencial, seja sendo requerido para a ação de um sistema enzimático. Existem outros elementos que não são essenciais, mas que, também têm sidos considerados benéficos para as plantas. São eles: � Sódio (Na): para plantas que sobrevivem em solos em condições de deserto, como, por exemplo, os cactos. � Silício (Si): para algumas gramíneas, como o capim, a cana-de-açúcar e o milho. � Cobalto (Co): para plantas leguminosas, como o feijão, soja e ervilha. Os micronutrientes cobre, ferro, manganês e zinco também ocorrem na solução do solo na forma de compostos orgânicos, principalmente na forma de quelatos. Quelato é um composto químico formado por um íon metálico ligado por várias ligações covalentes a uma estrutura heterocíclica de compostos orgânicos como aminoácidos, peptídeos ou polissacarídeos. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 11 Do ponto de Vista Físico-Químico • Somas de Bases (SB) É o resultado da soma dos teores de Ca2+, Mg2+, K+ e Na+. SB = Ca2+, Mg2+, K+ e Na+ Esse cálculo somente pode ser feito se todos os nutrientes estiverem na mesma unidade, que pode ser cmolc.dm -3 ou mmolc.dm -3. Não pode ser feita essa soma se o K e o Na, estiverem expressos em mg.dm-3. • Saturação de Base (V%) A saturação de base fornece uma idéia do estado de ocupação das cargas da CTC total, ou melhor, do total de cargas negativas existente no solo, qual a está ocupada pelos cátions Ca2+, Mg2+, K+ e Na+. Das condições gerais da fertilidade do solo, a saturação por bases é um excelente indicativo, sendo utilizada até como complemento na nomenclatura dos solos. De acordo com a saturação por base (V) e por alumínio (m), os solos podem ser divididos em três grupos: Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 12 • Solos Eutróficos (férteis): V% ≥ 50%; • Solos Distróficos (poucoférteis): V% < 50%. Em alguns casos, estes solos podem ser muito pobres em Ca2+, Mg2+ e K+ e apresentar teor de Al trocável muito elevado. • Solos álicos (muito pobres); Al3+ trocável ≥ 0,3 cmolc.dm -3 e m% > 50%. Pode-se dizer que todo solo álico é distrófico, embora nem todo solo distrófico seja álico. • Saturação por Al (m): Onde: t = CTC efetiva. • Capacidade de Troca de Cátions (CTC): Os colóides apresentam cargas elétricas negativas e/ou positivas. Sendo que as diferenças entre estas cargas induzem a adsorção de cátions ou ânions. Este fenômeno chama-se adsorção iônica, que pode ser dividida em: � catiônica (Al3+, Ca2+, Mg2+, K+, Na+, NH4 +, etc.) � aniônica (NO3 -, H2PO4 -, HCO3 -, SO4 -, etc.). Em temos práticos, dizer que os cátions adsorvidos nos colóides do solo são tocáveis significa dizer que eles podem ser substituídos por outros cátions, ou seja, o cálcio pode ser trocado por hidrogênio e/ou potássio, ou vice-versa. O numero total de cátions trocáveis que o solo pode reter é chamado de capacidade de trocas de cátions (CTC). Quanto maior a CTC do solo, maior o número de cátions que este solo pode reter. A CTC é uma característica físico-química fundamental ao manejo adequado da fertilidade do solo. A CTC total (T) é o resultado da soma dos teores de: Ca2+, Mg2+, K+, Na+, H+ + Al3+ trocáveis no solo. CTC total (T) = Ca2+, Mg2+, K+, Na+, H+ + Al3+ Ao conjunto dos cátions que estão ocupando a CTC do solo, saturando-a juntamente com as cargas negativas dos colóides denomina-se complexo sortivo (ou de troca) do solo. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 13 Visão esquemática do CTC total do solo Fonte: LOPES (1998). • Algumas implicações práticas do conhecimento da CTC do Solo: � Solo com CTC de 6 a 25 cmolcdm -3 - Alta porcentagem de argila; - maior quantidade de calcário é necessário para aumentar o pH; - maior capacidade de retenção de nutrientes a uma certa profundidade; - maior capacidade de retenção de umidade. � Solo com CTC de 1 a 5 cmolcdm -3 - Alta porcentagem de areias; - nitrogênio e potássio lixiviam; - menor quantidade de calcário é necessário para aumentar o pH; - menor capacidade de retenção de umidade. Acontece, também, de solos, com alta porcentagem de argila, comportar-se de modo semelhante a solos arenosos pelo fato destas argilas serem, predominante, de baixa atividade, como: caulinita, óxidos de ferro e alumino etc. Exemplo disto são os Latossolos sob “cerrado”. Em regiões onde ocorrem argilas do grupo 2:1, menos intemperizadas, e os níveis de matéria orgânica são mais altos, valores da CTC podem ser, por natureza, bastantes elevados. Os solos argilosos, com argilas de alta atividade, podem reter grandes quantidades de cátions. E os solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica e baixa CTC, retêm somente pequenas quantidades de cátions, sendo mais susceptíveis a perdas de nutrientes por lixiviação. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 14 • CTC a pH 7,0 ou Total (T) Pode ser determinada diretamente, mas nos laboratórios brasileiros é obtida somando-se todos os cátions (Ca + Mg + K + Na + H + Al), desde que estejam na mesma unidade. T = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ + H+ + Al3+ ou T = SB + (H + Al) • CTC efetiva (t) Corresponde às cargas do solo que estão disponíveis para os processos de troca, ou seja, ocupada pelos cátions trocáveis, que são Ca, Mg, K e Al. CTC efetiva (t) = Ca2+ + Mg2+ + K+ + (Na+) + Al3+ CTC efetiva (t) = SB + Al • Fatores que afetam a CTC do Solo: A CTC reflete o poder de adsorção de cátions que o solo tem. Em consequência, os fatores que o alteram, também alteram a CTC. Fatores que afetam a CTC do solo: a) Espécie e Quantidade de Argila e Matéria Orgânica Normalmente, minerais de argila apresentam valores de CTC de 10 a 150 cmolcdm -3. Os óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, muito comuns na fração argila de grande número de solos brasileiros, apresentam CTC entre 2 a 5 cmolc.dm-3. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 15 Estes dados mostram a importância de um manejo adequado da matéria orgânica quando se tem por meta um balanço eficiente de cátions no solo. Também para melhor definição da época de aplicação e doses de fertilizantes em um programa de adubação. O que o solo não conseguir reter será lixiviado e perdido, reduzindo a eficiência dos fertilizantes. b) Superfície específica Define-se superfície específica de um solo ou de um de seus componentes (como a argila, por exemplo), como sendo a área por unidade de peso, expressa em metros quadrados por grama (m2/g). A ASE de uma massa de partículas aumenta proporcionalmente com a diminuição do diâmetro dela, conforme ilustrado na Figura. Com a diminuição do diâmetro das partículas do solo (pelo intemperismo), a área da superfície resultante do grau de divisão aumenta consideravelmente. Quanto mais subdividido for o material, maior será superfície especifica, e maior a CTC do solo. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 16 O termo superfície específica total refere-se à soma das superfícies interna e externa de certos minerais de argila. A superfície externa é comum a todos os minerais de argila e a superfície interna ocorre unicamente nos minerais de argila expansivos. Exemplo: um cubo de 1 m de aresta = 6 lados x 1 m2 = área de 6 m2 Aresta (m) No. de cubos Superfície dos cubos (m2) 1 1 6 0,1 1.000 60 0,01 1.000.000 600 0,001 1.000.000.000 6.000 A ASE, embora sendo uma característica física, afeta diretamente as propriedades químicas do solo, pois, de maneira geral, quanto maior a ASE, maior será a reatividade das partículas de solo devido à sua maior área de contato com a fase líquida do solo (local onde ocorrem os principais fenômenos físico-químicos). c) pH Será maior a influência do pH do meio, quanto maior for a presença de espécies de minerais de argila com dominância de cargas dependentes de pH e/ou matéria orgânica. Os solos podem apresentar cargas negativas cuja expressão na CTC é constante e independente do pH, mas há cargas negativas que se manifestam quando o pH se eleva: neste caso, diz-se que a CTC é dependente de pH. Interpretação dos valores de SB, T e V em solos SB (cmolc/kg) V (%) T (cmolc/kg) alto médio baixo mais de 6 4 a 6 menos de 4 mais de 60%; 35 a 60%; menos de 35%; mais de 10 6 a 10 menos de 6 Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 17 REAÇÃO DO SOLO A reação do solo é uma propriedade relacionada com as concentrações de íons H+ e OH- livres na solução e é definida e representada pela medida do pH (atividade ou potencial hidrogeniônico da solução). A natureza, em todos os seus segmentos, tem sempre a presença marcante da água e a sua dissociação controla os níveis dos íons H+ e OH- e, por tanto, do pH. O pH exerce influencia direta sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, afetando diretamente o crescimento e produção das plantas. Origem da acidez do solo São variadas as origens da acidez de um solo. Entre elas, pela maior importância, destacam-se: 1. Remoção das bases (intemperismo químico e chuvas intensas são responsáveis pela lixiviação de íons como Ca2+, Mg2+, K+, Na+, os quais são substituídos por H+ e subsequentemente por Al3+ � hidrólise do Al); Devido a esta reação ser praticamente instantânea quando o alumínio está na solução do solo, embora não seja um ácido, por gerar H+ rapidamente ele é considerado como tal.Por isso, convencionou-se dizer que a acidez do solo é composta por H+ + Al3+. 2. Uso de adubos comerciais contendo o NH4+ em sua composição produzem H+ através da nitrificação; os adubos que solubilizam o alumínio produzem efeitos sobre a acidez do solo; 3. Pobreza do material de origem (baixos teores de bases nas rochas ou nos materiais transportados que originaram o solo); 4. Decomposição de resíduos orgânicos (produção de H+); 5. Remoção de cátions pelos cultivos (remoção das bases nos produtos agrícolas exportados, as raízes liberam H+ para a rizosfera em troca pelos cátions absorvidos). Com relação ao processo de acidificação do solo, as seguintes reações químicas são importantes e estão relacionadas com o intemperismo, com a mineralização da matéria orgânica e com a aplicação dos adubos, principalmente os adubos nitrogenados amoniacais: a. A reação natural: CO2 + H2O � H + + HCO3 - b. A reação de nitrificação: 2NH4 + + 3O2 � 2NO2 - + 4H+ + H2O (nitritação) 2NO2 - + O2 � 2NO3 - (nitratação) Al3+ + 3H2O → Al(OH)3 + 3H + Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 18 No solo, reações de nitrificação são responsabilidade principalmente das bactérias Nitrosomonas e Nitrobacter, respectivamente. Note-se que a produção de íons H+ via nitrificação causará a acidificação do solo. O íon NH4 + (amônio) é produzido durante a mineralização da matéria orgânica e/ou pela adição de fertilizantes nitrogenados, como uréia e sulfato de amônio. Em condições de acidez, o alumínio é liberado dos minerais, portanto pode-se afirmar que o Al trocável é conseqüência da acidez do solo: Al(OH)3 + 3H + � Al3+ + 3H2O No entanto, logo que liberado da superfície dos colóides, o Al3+ se submete a uma intensa e complexa polimerização ao nível da solução do solo, no que resulta na seguinte reação simplificada: Al3+ + 3H2O � Al(OH)3 + 3H + • Acidez do solo: caracteriza-se pelo seu valor de pH e seu caráter ácido aumenta à medida que o pH do solo diminui. � Ácido: substância capaz de liberar H+ � Acidez: Capacidade de uma substância liberar H+ � Solução ácida: Solução com pH menor que 7 � pH = -log(H+) ou log 1/(H+) � Quanto menor o valor de pH, maior a atividade de íons H+ e maior é o caráter ácido da substância. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 19 Figura: Faixas de acidez alcalinidade encontradas na maioria dos solos agrícolas. Fonte: Lopes, 1989. • Significado da Acidez do Solo � Apresenta efeito direto sobre a atividade de íons H+ � Apresenta efeito indireto, por exemplo com relação a disponibilidade de nutrientes � CTC (cargas pH dependente) Figura: Amplitude de pH e sua relação com a disponibilidade de nutrientes e alumínio (Fonte: Malavolta, 1979). � mineralização da MOS Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 20 � Adsorção de P e Mo - atividade de elementos tóxicos (Al, Mn) Tipos de Acidez � Acidez ativa: medida da atividade dos íons H+ em solução � Acidez potencial: (Al3+ + H+) - Liberam íons H+ para a solução do solo - Causando acidificação do meio - tamponando variações de pH Acidez potencial é uma medida da capacidade do solo liberar H (presença de substâncias no solo que funcionam como ácidos fracos). Al+3 (principalmente) e o H+ adsorvidos às cargas negativas dos argilominerais e da matéria orgânica; Grupos funcionais carboxílicos (-COOH) e hidroxilas (-OH) na matéria orgânica; Os grupos hidroxilas (-OH) ligados ao Al e Fe das superfícies de óxidos e argilominerais. A acidez e a alcalinidade do solo, segundo o manual “Recomendações de adubação e calagem para o Estado do Ceará” (Ed. UFC, 1953, p. 35), pode ser classificado como: Acidez: alta: pH<5,0; média: pH 5,1-5,9; baixa: pH 6,0 – 6,9 Alcalinidade: baixa: pH 7,1-7,4; média: pH 7,5-7,9; alta: pH>7,9 Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 21 Tabela. Faixas de pH mais adequadas para algumas culturas Cultura pH Aboboreira 5,5-6,5 Aipo 6,0-7,0 Alface 6,0-7,0 Alfafa 6,5-7,5 Algodoeiro 5,5-6,5 Arroz 5,0-6,5 Aspargo 6,0-7,0 Aveia 5,5-7,0 Batatinha 5,0-5,5 Batata doce 5,0-5,7 Berinjela 5,5-6,0 Beterraba 6,0-7,0 Cafeeiro 6,0-7,0 Cana de açúcar 5,5-6,5 Capins 5,5-7,0 Cebola 6,0-6,5 Cenoura 5,7-7,0 Centeio 5,5-7,0 Cevada 5,5-7,0 Cítricos 5,0-7,0 Couve 5,7-7,0 Couve-flor 6,0-7,0 Caupi 5,5-7,0 Ervilha 6,0-7,0 Espinafre 6,0-7,0 Feijoeiro 5,5-6,7 Fumo 5,2-5,7 Macieira 5,7-7,5 Melancia 5,0-5,5 Milho 5,5-6,5 Morangueiro 5,2-6,5 Mostarda 5,5-6,5 Nabo 5,5-6,5 Pepineiro 5,5-6,7 Pimentão 5,5-6,5 Quiabeiro 6,0-6,5 Repolho 5,7-7,0 Soja 5,5-7,0 Sorgo 5,5-7,0 Tomateiro 5,5-7,0 Trevos 5,5-6,7 Trigo 6,0-7,0 Videira 6,5-7,5 Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 22 Alguns fatores podem afetar a medição do pH. Entre eles podem ser citados: a. Efeito diluição: Quanto mais diluída a suspensão, maior será o pH. Esse efeito é explicado pela descompressão da dupla camada iônica em virtude da diluição; b. Efeito dos sais solúveis neutros. A presença de sais solúveis neutros reduz o pH. Esse efeito é explicado pela compressão da dupla camada iônica causada pela presença dos sais e por algum deslocamento de H+ do complexo de troca. Assim se explica porque o pH medido em solução de KCl é mais baixo do que medido em água; c. Efeito da agitação da suspensão. Sob agitação o pH se reduz. Esse efeito é explicado pelo contato do eletrodo com as regiões da dupla camada iônica onde existe H+, cessada a agitação as partículas decantam e o pH refletirá somente o H+ da solução de equilíbrio; d. Efeito da pressão do CO2. Maior a pressão do CO2, menor o pH; e. Efeitos da época e do local. Esses efeitos são explicados pelas diluições causadas pelas chuvas, pelas mudanças na composição da solução do solo em virtude da mineralização da matéria orgânica e/ou pelas aplicações de adubos; f. Efeito do potencial de junção líquida. As cargas negativas do solo atraem o K+ do KCl do eletrodo; o fluxo mais rápido do K+ em relação ao Cl- causa uma diferença de potencial denominada de potencial de junção líquida. Esse potencial pode causar erro na medida do pH. Componentes da acidez do solo Humus COO AlO H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + Humus COO AlO H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial +COO AlO H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + AlO H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + AlO H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + AlO H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + AlO H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + H+ Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -AlFeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + Argila Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + Fase líquidaFase sólida O -H COO -H -Al FeO AlO -H -H -H -Al -Ca Óxidos CTC Al3+ Ca2+ H+ Acidez ativa Acidez trocável Acidez não trocável Acidez potencial + Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 23 • Tipos de Acidez Potencial e Suas Estimativas a) Acidez trocável: Corresponde ao H+ e o Al+3 que estão adsorvidos eletrostaticamente às cargas negativas dos argilominerais e da matéria orgânica. Método: extração com sal neutro (KCl 1 mol L-1) b) Acidez não trocável: Corresponde aos H+ ionizáveis ligados covalentemente aos ácidos existentes no solo e que não são facilmente deslocados para a solução por outros cátions, portanto, não são trocáveis. Acidez não trocável = acidez potencial – acidez trocável � Acidez potencial estimada pelo método SMP: - SHOEMAKER, McLEN & PRATT (1961) - Avaliação indireta Um dos principais fatores no problema da acidez do solo, é a presença de Al3+ na solução do solo (pH < 5,0), devido à HIDRÓLISE DO ALUMINIO A hidrólise se define como a separação de uma molécula de água ou perda de protons numa reação. É responsável pelo baixo valor de pH nas soluções que contém íons de Al. Al(H2O)6 3+ + H2O = Al(OH)(H2O)5 +2 + H3O + Al(OH)(H2O)5 +2 + H2O = Al(OH)2(H2O)4 + + H3O + Al(OH)2(H2O)4 + + H2O = Al(OH)3(H2O)3 0 + H3O + Al(OH)3(H2O)3 0 + H2O = Al(OH)4(H2O)2 - + H3O + Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 24 Todas essas reações diminuem o pH da solução Efeitos da acidez � A toxicidade de Al representa uma combinação de efeitos � desordem funcional do metabolismo. � Afeita o crescimento da raíz � diminuição na absorção de P, Ca, K, Mn, Fe, Na e B. � Decrescimento geral na permeabilidade do protoplasma das células das raízes. O principal efeito � distúrbio na assimilação de fósforo. Toxicidade Al Deficiência P • Em nível celular afeta a estrutura e funcionamento da membrana, interfere na síntese do ADN, no processo da mitosis, na elongação das células, afeta a nutrição mineral e o metabolismo das plantas. • Correção da acidez em solos ácidos � Cerca de 40% do total das terras agrícolas no mundo apresentam problemas de acidez � No Brasil >70% dos solos apresentam problemas de acidez Prática da calagem é o método agrícola que, de forma artificial, procura mudar o pH do solo, através da adição de calcário finamente moído, melhorando sua condição agrícola. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 25 COLÓIDES DO SOLO E TROCA DE ÍONS Colóide: são sistemas nos qual um ou mais componentes apresentam pelo menos uma de suas dimensões dentro do intervalo de 1nm a 1µm. O estado coloidal abrange um sistema de duas fases, em que um ou mais materiais, num estado de divisão muito refinada, se acham dispersos em outra substância. As parcelas mais ativas do solo são aquelas em estado coloidal e existem dois tipos distintos de matéria coloidal: orgânico e inorgânico, misturados entre si. O tipo orgânico está representado sob a forma de humus e o inorgânico acha-se presente quase que exclusivamente sob a forma de minerais argilosos das diversas formas. É no sistema coloidal (< 0,002mm) que ocorrem as reações químicas, físico-químicas e microbiológicas da maior importância no estudo dos solos. Colóides inorgânicos: • De forma geral, são reconhecidos dois grupos de argilas: a) argilas silicatadas (esmectitas e caolinitas), característica de regiões temperadas. b) argilas não silicatadas de ferro e de alumínio (gibsitas e goetitas), que são mais proeminentes em solos intemperizados das regiões tropicais e semitropicais. Argilas silicatadas: Unidades estruturais básicas: � Tetraedro de silício � 1Si : 4º � Octaedro de alumínio � 1Al (Mg) : 6º Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 26 As partículas de argila, por serem de tamanho reduzido, expõem abundantes áreas externas. A área de exposição externa de 1 g de argila coloidal corresponde, pelo menos, a 1.000 vezes a de 1 g de areia grossa. Em algumas argilas há também extensas áreas de exposição internas. As minúsculas partículas coloidais das argilas silicatadas, possuem, em geral, carga negativa. Por conseguinte, centenas de milhares de íons com carga positiva, são atraídos para cada cristal do colóide (H+, Al3+, Ca2+ e Mg2+), o que ocasiona aquilo que é conhecido como dupla camada iônica. Principais grupos de argilas silicatadas: A - Caulinita (1:1) B - Montmorilonita (2:1) � substituição isomórfica do Al3+ por Mg2+ Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 27 C - Ilita (2:1) D - Vermiculita (2:1) � substituição isomórfica do Si4+ por Al3+ E - Clorita (2:1) ou (2:1:1) � Mg2+ dominando nas camadas de octaedros Argilas não Silicatadas: • Óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínio: São argilas que contém óxidos ou hidróxidos de ferro e de alumínio, e merecem atenção, por duas razões: (a) ocorrem em regiões temperadas, juntamente com argilas silicatadas (b) predominam em geral, nos solos tropicais e semitropicais submetidos a intenso intemperismo. Em solos ácidos alguns óxidos de Fe e Al podem estar carregados positivamente, desse modo irão contrabalançar a eletronegatividade das argilas silicatadas, reduzindo assim a capacidade de adsorção de cátions. Exemplos de óxidos e Hidróxidos de Fe e Al: - Gibbsita (Al2O3 . 3H2O) - Goethita (FeO3 . 3H2O) - Hematita (Fe2O3) • Alofânio e outros minerais amorfos Encontrado como constituinte de muitos solos originários de cinzas vulcânicas. Possui capacidade elevada de adsorção de cátions e também alta capacidade de adsorção de ânions. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 28 • Colóide orgânico do solo – húmus O humus poderá ser considerado como possuindo uma estrutura coloidal semelhante à da argila. Geralmente não é considerado cristalino e o tamanho das partículas específicas, embora extremamente variável, poderá ser tão pequeno quanto os das partículas das argilas silicatadas. O humus não é estável como a argila, é de certo modo, mais dinâmico, porque é formado e destruído com rapidez muito maior que a argila. • Cátions adsorvidos pelos colóides: Todos os cátions podem ser adsorvidos pelos colóides do solo. Nas regiões úmidas � os cátions de cálcio, alumínio e hidrogênio são, por grande diferença, os mais numerosos. Em solos de regiões áridas � predominam os de cálcio, magnésio, potássio e sódio. • Estrutura das camadas das argilas silicatadas: Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 29 a) Lâminas de sílica tetraédrica e octaédrica As mais importantes argilas silicatadas são conhecidas como filossilicatos (Grego phullon, folha), admitindo-se uma estrutura em forma de folha ou de plaqueta. São caracterizadas por lâminas alternadas, compostas de placas de cátions minerais circundados e ligados entre si por placas de ânions oxigênio e hidroxila. Um tipo de lâmina é dominado por sílica tetraédrica, o outro por octaédro de alumínio e ou de magnésio. • Substituiçãoisomórfica A arrumação estrutural tetraédrica ou octaédrica descrita admite uma correlação muito simples entre os elementos que compõem as argilas silicatadas. No entanto, na natureza é mais complexo como conseqüencia do intemperismo, de uma grande variedades de rochas, de minerais e de outros cátions, além de silício, alumínio e magnésio que entram na argila. O silício na lâmina tetraédrica, o alumínio e o magnésio na lâmina octaédrica estão sujeitos à substituição por outros íons de tamanho semelhante. O alumínio é apenas ligeiramente maior do que o silício; por conseguinte o alumínio pode se ajustar ao centro do tetraedro no lugar do silício, o que acontece em algumas argilas. À medida que se formam alguns silicatos, parte do silício na lâmina é deslocada pelo alumínio, sem modificar a estrutura básica do cristal. Esse processo, denominado substituição isomórfica. A substituição isomórfica também ocorre na lâmina octaédrica. Os íons Fe e Si possuem tamanhos semelhantes do Al e Mg. Portanto, tais íons poderão ajustar-se nas posições do Al e do Mg, como íon central da lâmina octaédrica. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 30 Classificação mineralógica das argilas silicatadas: As argilas silicatadas são classificadas em três diferentes grupos: a) minerais do tipo 1:1 uma lâmina tetraédrica (Si) para uma outra octaédrica (Al); b) minerais do tipo 2:1, constituídas de duas 2 lâminas tetraédricas e uma octaédrica; c) minerais do tipo 2:1:1. Representação de argilas 1:1 (T-O) e 2:1 (T-O-T) Representação de argilas 2:1 Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 31 • Origem das cargas negativas das argilas a) Substituição isomórfica O fenômeno da substituição isomórfica, que ocorre nos tetraédros e octaédros, é o mecanismo pelo qual esta substituição resulta numa fonte de carga negativa, em saldo, no cristal de argila. Quando um íon magnésio substitui um dos íons alumínio, mediante substituição isomórfica, ocorre um desequilíbrio. O íon magnésio, por possuir apenas duas cargas positivas, não pode satisfazer as três cargas negativas associadas com as hidroxilas e com os oxigênios circunvolventes. Substituição isomórfica Entrada do Al3+ no lugar do Si4+ nos tetraedros Entrada de Mg2+ no lugar de Al3+ nos octaedros Nos argilominerais 2:1 o excesso de carga negativa é compensado pela carga positiva de cátions, lâminas hidróxido ou polímeros de hidróxi-Al situado entre camadas, as quais mantém as camadas unidas. Por conseguinte, a camada octaédrica acumula uma carga negativa para cada substituição de alumínio por magnésio. Esta carga negativa deverá ser balanceada por um cátion de carga positiva, como Na+ ou K+, que é adsorvido pela superfície da argila. • Origem das cargas positivas dos colóides do solo As cargas positivas normalmente ocorrem em menor quantidade que as cargas negativas, mas prestam importante função, de vez que são responsáveis pela adsorção de ânions (muitos dos quais são nutrientes). São sempre dependentes do pH, aumentando à medida em que este diminui. Tem as seguintes origens: Alumínio 3+ Silício 4+ Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 32 a) Superfície de óxidos de Fe e Al, conforme o esquema já visto anteriormente. b) Ionização de grupos Al-OH, nas arestas quebradas de argilominerais ou seja, nas extremidades da camada octaédrica, a baixo pH. c) Matéria orgânica - a matéria orgânica apresenta grupos amínicos (NH2) que, a baixo pH, podem se ionizar originando cargas positivas. A troca de cátions (CTC) Quantidade total de cátions que um solo, ou algum de seus constituintes, pode adsorver e trocar a um pH específico, em geral pH 7,0. No solo, a CTC é devida à superfície específica e às cargas inerentes ou acidentais de colóides eletronegativos, como os minerais de argila, a sílica coloidal e o húmus. PARTÍCULA DO SOLO CTC (cmolc.kg -1) Argila 1:1 3 - 15 Argila 2:1 100 - 150 Silte Menor que 1 Areia 0 • Como a CTC está na fração argila: solos argilosos possuem maior CTC que arenosos; • Solos com mais matéria orgânica possuem maior CTC; • Solos com minerais do tipo 2:1 possuem mais CTC que solos com minerais do tipo 1:1 (aproximadamente = quantidade de argila). Os cátions adsorvidos pelos colóides do solo ficam sujeitos a reposição por outros, mediante processo denominado troca de cátions. Por exemplo, íons hidrogênio gerados à medida que se decompõe a matéria orgânica, poderão deslocar cálcio e outros cátions metálicos no complexo coloidal. Os íons na forma trocável estão disponíveis às plantas e a sua troca favorece a nutrição das plantas. Tipos de CTC: variável, porque o número de cargas elétricas pode aumentar ou diminuir em função do pH do solo. É a que predomina nos solos tropicais e existe fração orgânica do solo. permanente, porque NÃO varia com o pH. Ela ocorre nos solos menos desenvolvidos; predominando nas regiões temperadas. Troca de cátions e a disponibilidade de nutrientes Os cátions trocáveis são considerados verdadeiros “depósitos” de íons. São, em geral, assimiláveis, quer por vegetais superiores; quer por microrganismos. Mediante a troca catiônica, os íons hidrogênio dos pelos radiculares e dos microrganismos do solo substituem os cátions nutrientes do complexo de troca. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 33 São forçados a penetrar na solução do solo, onde podem ser assimilados pelas superfícies adsortivas das raízes e pelos organismos do solo, ou podem também ser removidos pelas águas de drenagem. Troca iônica (de cátions ou ânions) é reversível entre um sólido e um líquido. • A reação de troca iônica é: rápida; - reversível; controlada por difusão; estequiométrica e seletiva. Fatores que afetam a adsorção e troca de cátions: � Quanto maior a valência mais fortemente o cátion é adsorvido: Al+3 > Ca+2 > Mg+2 > K+ > Na+ ; o H+ comporta-se como trivalente. � Quanto maior a hidratação do íon menos ele é adsorvido: Li+ > Na+ > K+ > NH4 + > Mg+2 > Ca+2 portanto o Li+ é o menos adsorvido, porque tem maior hidratação. � Concentração: Cátions em maior concentração são mais adsorvidos e deslocam os demais para a solução do solo. � Tamanho do cátion: quanto maior o cátion, mais fortemente o mesmo será adsorvido. • Seletividade do colóide: � Ilita: Al+3 > K+ > Ca+2 > Mg+2 > Na+ � Caulinita: Ca+2 > Mg+2 > K+ > Al+3 > Na+ � Montmorilonita: Ca+2 > Mg+2 > H+ > K+ > Na+ � Matéria orgânica: Mn > Ba > Ca+2 > Mg+2 > H+ > K+ > Na+ Dupla Camada Difusa É um modelo de distribuição dos íons na solução do solo, a partir da superfície de um colóide. A carga da superfície é neutralizada por contraíons de sinais opostos localizados a distâncias crescentes da superfície da argila. Os íons têm tamanho finito e vão se aproximando até poucos nanômetros da superfície do colóide. A distância da superfície equivale ao raio do íon. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 34 Capacidade de Troca Aniônica (CTA) A adsorção de ânions macronutrientes como enxofre, fósforo e nitrogênio é de muita importância e depende das cargas negativas dos colóides do solo. As cargas positivas associadas com os hidróxidos de ferro e de alumínio, de algumas argilas tipo 1:1 e de materiais amorfos, tais como alofânio, dão lugar à adsorção de ânions. Esses ânions ficam sujeitos a substituição por outros, da mesma forma que cátions substituem, uns aos outros. A ocorrência da permuta de ânions, embora não se aproxime da troca de cátions, sob o aspecto quantitativo, é extremamente importante, como meio para proporcionar aos vegetais superiores, osânions nutrientes prontamente assimiláveis. MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO A MOS é essencialmente constituída por Carbono (C), Oxigênio (O), e Hidrogênio (H). O C vem do CO2 do ar do atmosférico, enquanto o Oxigênio e Hidrogênio são extraídos da água. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 35 A matéria orgânica do solo (MOS) é o produto da acumulação de resíduos de plantas e animais parcialmente decompostos e parcialmente ressintetizados. Esses materiais estão em estado ativo de decomposição, sendo submetidos ao ataque contínuo de microrganismos. Assim, grande parte tem caráter transitório e são continuamente renovados pela adição de resíduos animais e vegetais. As raízes das plantas por seu turno, são capazes de absorverem os elementos minerais simples oriundos da decomposição de todos esses resíduos, completando um fenômeno conhecido como ciclagem de nutrientes. Assim, entender os ciclos da MOS e dos seres vivos, especialmente quando estes ocorrem no ambiente solo, é importante para entender como as suas interações e os seus efeitos agem sobre a fertilidade do solo. Os efeitos da MOA sobre as propriedades do solo, cujo conjunto define a fertilidade do solo, podem afetar diretamente a produção da planta. Constituição da Matéria Orgânica do Solo A matéria orgânica é composta por C, O e H, sendo complementada por outros elementos como: N, P e S, sendo os dois primeiros (C e N) os elementos de maior destaque, principalmente pela produção de energia devido a quebra de ligações dos compostos de carbono (C---H) e a síntese protéica. A fonte primária de matéria orgânica é a fotossíntese, através da equação básica: energia luminosa 6 CO2 + 6H2 6C(H2O) + 6O2 plantas verdes (clorofila a) compostos orgânicos Os compostos orgânicos produzidos pela fotossíntese podem retornar diretamente ao solo na forma de resíduos culturais ou por animais e seus excrementos, após passarem pela cadeia alimentar dos seres heterotróficos em seus diversos estágios. Para que C, N, S, e P destes resíduos sejam incorporados ao solo, precisam ser decompostos através de reações que dependem, essencialmente, da atividade biológica do solo. Carbono Orgânico Total e Ciclo do C O carbono orgânico total dos solos é a soma do carbono orgânico e inorgânico. O C orgânico é originário da fração da matéria orgânica do solo e o inorgânico é o que se encontra presente em minerais, como a dolomita e calcita. A maior parte do carbono orgânico que está no solo é proveniente dos resíduos de plantas (parte aérea + raízes). Os tecidos das plantas apresentam, em média, 58% de C com base no peso seco. Estas proporções levam a utilização do fator (1,721) para a transformação dos teores de carbono orgânico em matéria orgânica. Como o carbono é o maior componente da matéria orgânica é muito comum referir-se a um ou ao outro sem muita diferenciação (Ver figura Ciclo do Carbono). Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 36 Há uma variação muito grande dos teores de matéria orgânica entre os diversos tipos de solos: de < 0,1%, nos solos desérticos, até 100% nos solos orgânicos. CICLO DO CARBONO Importância da Matéria Orgânica do Solo A importância da matéria orgânica do solo pode ser estabelecida a partir da distribuição das quantidades de carbono nos diferentes reservatórios. Quadro. Quantidade de carbono em diferentes reservatórios da superfície terrestre Reservatório Quantidade de C (x 1014 kg) Superfície da terra CO2 atmosférico 7,0 Biomassa 4,8 H2O (rios, lagos...) 2,5 Mar 5,8 Matéria orgânica do solo 30 – 50 Profundidade de 16 km Detritos orgânicos marinhos 30 Carvão e petróleo 100 Carbono solúvel no fundo do mar 345 CO Fotossintes Respiração Residuo Carboidrato Animais Animais mortos Liberação de Atividade microbiana Humus Decomposiçã Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 37 Sedimentos 200.000 As pesquisas relativas à matéria orgânica, na sua grande maioria, referem-se a utilização de diferentes fontes, incorporação de adubos verdes e alguns de seus efeitos no solo, na grande maioria, a partir da avaliação do conteúdo total de carbono no solo. A perda da matéria orgânica do solo é uma medida de degradação do ecossistema, podendo ser utilizada como critério para avaliação da sustentabilidade. Cálculo da porcentagem da MOS A análise da MOS em laboratório resume-se em determinar o carbono do material amostrado. Os métodos mais usados são: a. Via úmida: utiliza-se o permanganato de potássio para oxidar todo o C orgânico em CO2; b. Via seca: a MOS é incinerada em forno especial e o C é determinado. Os cálculos são os seguintes: %MO = %C x 1,74 (considerando-se a MO contendo 58% de C) %MO = %C x 1,923 (considerando-se a MO contendo 52% de C) %MO = %N x 20 (considerando-se a MO contendo 5% de N) %N x 6,25 = % proteína (considerando-se a proteína contendo 5% de N) Com relação às diferentes regiões do país, verifica-se que existem divergências na interpretação dos níveis críticos da MOS. Para o Estado do Ceará, no que concerne a avaliação da fertilidade do solo, os seguintes níveis são considerados (extraído do manual “Recomendações de Adubo e calagem para o Estado do Ceará): Nível baixo: <1,5 % de MOS Nível médio: 1,6-3,0 % de MOS Nível alto: >3,0 % de MOS O Processo de Decomposição A decomposição é o processo de transformação dos resíduos vegetais e animais, via atividade biológica (meso e micro fauna e flora), em compostos mais refinados com pouca ou nenhuma semelhança com os materiais que lhes deram origem. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 38 Os resíduos orgânicos, tão logo adicionados ao solo, são desintegrados por meios físicos e mecânicos pela ação dos componentes da macro e mesofauna e, a seguir, a microfauna completa este trabalho. Ocorrendo condições adequadas de pH, umidade e temperatura, os microrganismos iniciam o processo de decomposição, com rápida perda de substâncias prontamente disponíveis. Os resíduos orgânicos fornecem grandes quantidades de C e energia para os microrganismo, aumentando a atividade biológica e melhorando a ecologia do solo. A decomposição de resíduos de plantas e animais no solo constitui o processo biológico básico no qual o C é reciclado para a atmosfera como CO2, o N torna-se disponível como NH4 + e o NO3 - e outros elementos associados, como o P, S e vários micronutrientes aparecem em formas assimiláveis pelas as plantas superiores. Nesse processo, parte do C é incorporada ao tecido microbiano e parte é convertida em húmus estável. Ao mesmo tempo parte do húmus nativo é mineralizada. O conteúdo total de matéria orgânica do solo, em conseqüência, é mantido em estado de equilíbrio, característico do solo e do sistema de manejo aplicado. Grande parte dos constituintes dos resíduos vegetais pertence à categoria dos carboidratos, alguns com função estrutural e outros de reserva. As plantas contêm aproximadamente: • Celulose: 15 a 60% do peso seco; • Hemicelulose: 10 a 30% do peso seco; • Lignina: 5 a 30% do peso seco; • Proteína: 2 a 15% do peso seco;e • Substâncias solúveis (açúcares, aminoaçúcares, ácidos orgânicos e aminoácidos): 10% do peso seco. Os materiais solúveis são rapidamente removidos dos resíduos e facilmente utilizados pelos organismos do solo. No seguinte quadro estão os principais grupos de componentes de resíduos de plantas, os grupos de enzimas envolvidos em suas transformações e osprincipais organismos que atuam no processo de decomposição. Quadro. Constituintes dos resíduos e seus agentes de degradação Constituintes Enzima Microrganismo (agentes de composição) Carboidratos Amido Amilases Inúmeras bactérias e fungos. Celulose Celulase Bactérias (Pseudomonas, Chromobacterium, Baci-llus,Clostridium, Streptomyces, Cytophaga); fungos (Trichoderma, Chaetomium e Penicillium Hemicelulose Pectinases Fungos e actinomicetos. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 39 Lignina ________ Fungos do mofo branco, mofo marrom, actnomicetos e algumas bactérias. Compostos nitrogenados Enzimas proteolíticas Inúmeras bactérias (Streptomyces) e fungos (Penicillium). Parede celular Quitinase e glucanases Streptomyces, Pseudomonas, Bacillus e Clostridium Fonte: Adaptado de Paul & Clark (1989), citado por Silva & Resck (1997). Resistência à decomposição Açúcares, amidos e proteínas simples < proteínas complexas < hemicelulose < celulose < lignina < gorduras, ceras e resinas Fungos e bactérias do solo consomem ativamente proteínas, amido e celulose, produzindo NH3, H2O, CO2, ácidos orgânicos e outras substâncias parcialmente oxidadas. Em seguida, produtos orgânicos intermediários e tecidos de biomassa recém- formados são atacados por grande variedade de microrganismo, produzindo nova biomassa e mais perda de C como o CO2. O estágio final do processo é caracterizado por uma decomposição gradual das partes mais resistentes das plantas, tais como lignina, em que os mais importantes microrganismos são os actinomicetos e os fungos. A decomposição de plantas e animais, após a morte, não ocorre por completo até os produtos finais de mineralização, mas é acompanhada por nova formação de substâncias orgânicas, em muitos casos de natureza complexa (turfas, carvão mineral, óleo e substâncias húmicas do solo), possuindo maior resistência à decomposição do que a das substâncias originais. Figura. Curvas de decomposição de constituintes orgânicos dos vegetais (adaptado de Minderman (15)). Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 40 O Húmus do Solo O húmus é um complexo coloidal amorfo de cor marrom a negra que se encontra em equilíbrio dinâmico no solo. O húmus é o=insolúvel em água, contudo solúvel em soluções alcalinas diluídas. O húmus adsorve água em apreciáveis quantidades (pode chegar a adsorver 3 a 4 vezes seu próprio peso em água). A composição química do húmus é complexa, sendo constituído principalmente pelos ácidos húmicos, ácidos fúlvicos e humina. Esta separação é simplesmente operacional e não há um limite entre estas frações em termos de propriedades físico-químicas. Algumas propriedades podem ser avaliadas quanto a sua tendência. Por exemplo, a fração ácidos fúlvicos tem tamanho molecular menor que a fração ácidos húmicos, o que lhes permite maior mobilidade. O atributo mais importante na diferenciação das propriedades químicas da matéria orgânica é o conteúdo de grupos carboxílicos. A relação entre os conteúdos percentuais de oxigênio e carbono (O/C) é maior na fração ácidos fúlvicos do que na fração ácidos húmicos, sendo, portanto, os primeiros mais oxidados que os segundos. As substancias húmicas são consideradas as representantes da fração mais estável da matéria orgânica do solo. Esta estabilidade é atribuída a heterogeneidade de sua estrutura química, bem como, à sua inacessibilidade dentro do agregado dos solos e às interações com cátions metálicos e minerais de argila. Em muitos solos tropicais, os ácidos fúlvicos parecem ser o principal componente das substâncias húmicas e, por isso, deve exercer um papel importante na ciclagem de nutrientes, agregação do solo e pedogênese. As substâncias húmicas são os constituintes orgânicos mais bem distribuídos na Terra. Ocorrem não somente no solo, mas nas águas naturais, no esgoto, nas pilhas de compostos, sedimentos marinhos e lacustres, turfas, depósitos de carvão e outros. No solo estas substâncias são eletroquimicamente importantes devido as suas propriedades como trocadores de íons. A geração de carga na superfície dos colóides orgânicos é função exclusiva do pH do meio onde se encontram esses materiais, ou seja, toda a carga da matéria orgânica é dependente de pH. Muitos estudos indicam que grande parte da matéria orgânica adicionada ao solo pode mineralizar-se ao longo do ano e menos de 20 a 30% transformam-se em substâncias húmicas. De 10 a 20% dos resíduos da parte aérea e 20 a 50% dos resíduos radiculares podem ser convertidos em húmus, sendo o restante transformado em CO2. Os processos de decomposição e formação de húmus são complexos, compreendendo a participação de grande e diversificado grupo de microorganismos. De modo geral, esses processos são controlados pela biodiversidade das moléculas orgânicas sujeitas à catálise por enzimas, principalmente de origem microbiana. Fatores climáticos e edáficos atuam como controles imediatos sobre esses processos. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 41 Outra propriedade importante das substâncias húmicas é a sua capacidade de tamponamento em larga faixa de pH, o que é considerável importância prática, uma vez que as plantas cresçam melhor dentro de faixas estreitas de pH. A quantidade e o tipo de grupos funcionais da matéria orgânica do solo, bem como a interação entre eles determina o poder tampão do solo, ou seja, a sua capacidade de resistência a alterações de pH pela adição de ácido ou base. Dois processos fundamentais atuam na decomposição e formação da matéria orgânica do solo e sua transformação em húmus, sendo estes: Mineralização: conversão de um elemento das formas orgânicas para a inorgânica: Celulose, hemicelulose e proteínas são bastante susceptíveis à decomposição microbiológica, sendo rapidamente utilizadas pela população microbiana. Uma parte é decomposta em CO2, H2O e NH3, etc. e a outra é incorporada à massa microbiana para formar o protoplasma e produtos metabólicos, alguns de estrutura altamente aromática (este é o caminho para formação do húmus). A mineralização bruta pode ser entendida como a transformação total obtida, e a mineralização líquida é a diferença entre a mineralização bruta e a quantidade incorporada na biomassa dos microrganismos. Imobilização: é a conversão de um elemento de formas inorgânicas em orgânicas, via absorção pelos microrganismos e plantas, seguida da incorporação na biomassa. Em algumas situações o processo de decomposição dentro do solo pode inibir o crescimento de plantas devido à alta relação C/N dos materiais, o que requererá a imobilização do N do solo, causando a redução de sua disponibilidade para as plantas. Neste caso, recomenda-se a aplicação de fertilizante mineral nitrogenado para ajustar a relação C/N. A decomposição da matéria orgânica do solo parece ser função de muitos fatores envolvendo sua quantidade no solo e o nível de atividade microbiano. Ambos podem ser afetados por fatores edáficos: textura, estrutura, capacidade de retenção e armazenamento de água, relação C/N/P/S, pH, potencial redox e nível de saturação por bases; climáticos: precipitação, temperatura do ar e do solo, umidade relativa, insolação e ventos; e antrópicos: manejo do solo, sistemas de cultivo e outros. A relação C/N do Solo A relação C/N do solo está representada pela média das relações C/N dor resíduos não decompostos totalmente e do próprio húmus. Essa relação é mais estreita nas seguintes situações: a. no subsolo (devido à lixiviação de NO3 -) b. nas regiões áridas ou quentes (devido à maior velocidade de decomposição da MOS devido às altas temperaturas) Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 42 c. na MO já decomposta(devido grande parte do C ter sido liberado como CO2 durante a decomposição) d. nos solos com pH em torno de 7,0 (as bactérias são mais ativas em pH neutro) A relação C/N dos resíduos de plantas pode apresentar valores distintos: Leguminosas jovens: relação C/N= 10/1 Palhas de cereais: relação C/N = 100/1 Os estercos e os materiais compostados com estercos apresentam em geral, relações C/N entre 15/1 e 25/1. A MOS com C/N > 30 se decompõe mais lentamente A MOS com C/N < 30 se decompões mais rapidamente. Conteúdo de matéria orgânica, nitrogênio e relação C/N de alguns materiais. MATERIAL MATÉRIA ORGÂNICA % N % C/N Bagaço de cana 58,50 1,49 22 Capim gordura 92,38 0,63 81 Casca de arroz 54,55 0,78 39 Crotalaria juncea 91,42 1,95 26 Esterco de gado 62,11 1,92 18 Esterco de galinha 54,00 3,04 10 Feijão guandu 95,90 1,81 29 Mucuna preta 90,68 2,24 22 Palha de milho 96,75 0,48 112 Samambaia 95,90 0,49 109 Serragem de madeira 93,45 0,06 865 Torta de mamona 92,20 5,44 10 Torta de u. Açúcar 78,78 2,19 20 Turfa 39,89 0,39 57 Além da relação C/N, a liberação de nutrientes depende também da sua função na planta e de fatores climáticos (temperatura e umidade) que controlam a taxa de decomposição. Nutrientes que não fazem parte de compostos estruturais (por ex. o K) são prontamente liberados pelo processo de decomposição da biomassa, enquanto aquelas que fazem parte de estruturas têm liberação mais lenta (Ca, Mg, C, P, S e N). De modo geral, os nutrientes catiônicos são liberados com maior rapidez. A acumulação e perda da MOS Os seguintes fatores influenciam os níveis da MOS: a. Relação C/N: Como explicado anteriormente b. Fatores ligados ao solo: Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 43 • Textura do solo: A textura afeta diretamente a aeração do solo e esta afeta a velocidade de decomposição da MOS • Umidade e temperatura do solo: As reações biológicas aumentam 2 a 3 vezes para cada aumento de 10°C. O conteúdo de MOS aumenta das regiões mais úmidas para as mais áridas; das mais quentes para as mais frias. Acúmulo e/ou perda da MOS estão diretamente relacionados ao regime hídrico do solo. • Erosão: A perda da MOS da camada superficial do solo pode ser considerável em áreas onde não são adotadas práticas conservacionistas. • Fertilidade do solo: A fertilidade do solo afeta diretamente as atividades dos microrganismos e o crescimento das plantas; quanto maior a fertilidade, maior o retorno ou deposição da MOS sobre o solo. • Topografia: Influencia diretamente a umidade, a erosão e a temperatura do solo; partes baixas dos terrenos acumulam mais umidade e partículas arrastadas pela erosão, com isso mais crescimento de plantas e mais deposição de resíduos orgânicos. c. Influencia do cultivo do solo: O desmatamento seguido do cultivo causa em geral, diminuição nos teores de MOS. Contudo, técnicas adequadas de uso do solo como proteção contra a erosão, fertilização química e retorno dos restos de culturas, podem ajudar na conservação da MOS. Em resumo, são 3 os fatores decisivos para a manutenção da MOS: evitar erosão, adicionar fertilizantes minerais (para compensar a remoção de nutrientes) e retornar todos os resíduos de plantas ao solo. Efeitos da Matéria Orgânica Sobre Propriedades do Solo Propriedades químicas: 1. Disponibilidade de nutrientes: A mineralização da MOS resulta na liberação de todos os nutrientes essenciais à planta: N, P, K, Ca, Mg, e micronutrientes. A MOS é a fonte principal de N, P, e S e micronutrientes. Os minerais que compõem a crosta terrestre não contêm N. A decomposição da matéria orgânica produz CO2, NH4 +,NO3, PO4 -3 e SO4 -2, tornando-se fonte de nutrientes para o crescimento das plantas. 2. Capacidade de troca de cátions (CTC): A matéria orgânica apresenta uma alta CTC variando de 100 a 300 cmol (+).Kg-1, podendo aumentar a CTC do solo. Entre mais MOS no solo maior CTC e maior poder tamõa. Uma das principais contribuições da matéria orgânica para os solos tropicais refere-se a CTC. Pesquisam apontam que a maior porção da CTC dos solos das regiões tropicais, incluindo solos de cerrados, é proveniente da contribuição da matéria orgânica (como apresentado no seguinte quadro). Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 44 Quadro. Capacidade de troca catiônica (CTC) de alguns minerais de argila e da matéria orgânica Material CTC(cmol(c).kg -1) Caulinita 1-10 Mica 20-40 Vermiculita 120-150 Montmorilonita 80-120 Clorita 20-40 Matéria orgânica 100-300 Fonte: Bohn et al. (1979), citado por Silva & Resck (1997). A contribuição para CTC do solo pela matéria orgânica tem como origem a ionização de grupos carboxílicos, enólicos e fenólicos, a partir do aumento do pH do meio. A associação entre CTC e matéria orgânica pode ser responsável por até 75% da CTC dos solos no horizonte A, enquanto que no horizonte B está contribuição passa a ser de 35%. A perda da matéria orgânica pode chegar a 70% do conteúdo inicial em solos de textura arenosa, como observado em solos do oeste baiano. 3. pH do solo: A MOS é fornecedora de prótons (H+). A acidez causada pela MOS atinge mais a acidez potencial do que a acidez ativa desde que o H+ não seja facilmente dissociado dos colóides. Os solos ricos em MOS em virtude do maior poder tampão, requerem maior quantidade do calcário para mudar o pH do aqueles solos pobres em MOS. A aplicação da MOS humificada aos solos tem sido recomendada como uma maneira de controlar a toxidez causada por certos elementos encontrados em quantidades acima do normal. O Fé, Al e Mn, têm sido apontados como os elementos tóxicos mais comuns nos solos brasileiros. O controle da toxidez é geralmente feito com a aplicação de fertilizantes orgânicos devido à propriedade do húmus em fixar, complexar ou quelar elementos tóxicos. 4. Quelação: A matéria orgânica forma complexos estáveis com Cu+2, Mn+2 e outros cátions polivalentes o que irá melhorar a disponibilidade de micronutrientes para as plantas. 5. Ação tampão: A matéria orgânica exibe ação tamponante em faixas levemente ácidas, neutras e alcalinas, o que irá ajudar a manter uma reação uniforme no solo. 6. Combinação com moléculas orgânicas: A matéria orgânica, combinada com moléculas orgânicas, afeta a bioatividade, a persistência e a biodegradabilidade dos pesticidas, modificando as taxas de aplicação dos pesticidas para um controle efetivo. Notas de Aula Química e Fertilidade do Solo Profa. Maria Eugenia Ortiz Escobar 45 Propriedades físicas: 1. Estrutura e aeração: Para haver a formação de agregados no solo são necessárias duas condições principais: a) uma força mecânica qualquer para provocar a aproximação das partículas do solo. Esse movimento pode ser provocado pelo crescimento das raízes, por organismos do solo, pela expansão/contração do solo ou pela floculação dos colóides e; b) que após o contato das partículas haja um agente cimentante para consolidar essa união, gerando o agregado. A MOS já humificada juntamente com os minerais de argila, são dois agentes cimentantes que mais contribuem para a agregação do solo. 2. Agregação: A matéria orgânica atua como agente cimentante pela liberação de “gomas” pelos microorganismos durante a decomposição, com isso, se liga a minerais de argila e cimenta as partículas do solo em unidades estruturais denominadas agregados, o que irá permitir a troca de gases, estabilizando a estrutura e aumentando o armazenamento e permeabilidade de água no solo. 3. Densidade do solo: A MOS reduz a densidade dos solos. Os solos orgânicos ou turfosos tem densidades em torno de 0,6 a 0,8 Mg m-3. As raízes não conseguem penetrar em solos com textura com densidades acima de 1,9 Mg m-3, e para corrigir esse problema, se adiciona MO. 4. Retenção de água: Entre
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