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Questões Dissertativas – OAB 2011.1 – Ficha 3 1. Celso, com vinte anos de idade, capaz, residia, durante o período de estudos na faculdade, no imóvel de seu tio Paulo, juntamente com este e com dois primos. Para pagar diversas dívidas contraídas em jogos de azar, consumo de bebidas alcoólicas e drogas, furtou ao tio um notebook avaliado em R$ 1.500,00. Ao ser descoberto e interpelado pelos primos, Celso, irritado com a situação, destruiu, de forma dolosa, um microscópio eletrônico de um dos primos, aparelho que, avaliado em R$ 900,00, foi lançado ao chão. Diante da situação apresentada pergunta-se: a)Como devem proceder o tio e os primos de Celso caso queiram que este seja responsabilizado penalmente ? Fundamente sua resposta. Espelho O tio de Celso deve proceder a uma representação, nos termos do Art. 182, III, do Código Penal, tendo em vista que o tio do Celso sofreu o crime de furto e como foi praticado por um sobrinho com quem a vítima coabita, a ação penal será pública condicionada a representação. Em relação aos primos de Celso como houve o crime de dano qualificado por motivo egoístico, deve haver o ingresso de queixa-crime, para que Celso possa ser responsabilizado, nos termos do Art. 167 do Código Penal. 2. Nélson foi flagrado na lagoa do Abaeté, área de proteção ambiental, portando apetrechos para pesca artesanal — duas varas de pescar, isca, caixa de isopor, faca de cozinha. Constatou-se, na ocasião, que Nélson pretendia pescar para alimentar a família, que passava grandes privações. O promotor de justiça denunciou o réu pelo o crime ambiental de penetração, com porte de instrumentos para pesca, em área de proteção ambiental, sem licença da autoridade competente, previsto no Art. 52, da Lei n. 9605/98, tendo o juiz recebido a denúncia e intimado o réu para apresentar defesa. Em face da situação apresentada pergunta-se: a) Qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte? b) Qual pedido deveria ser realizado? Fundamente sua resposta. Espelho a)O argumento que poderia ser deduzido em favor do constituinte é a alegação da ocorrência do estado de necessidade de terceiro, nos termos do Art. 23, I e 24 do Código Penal, uma vez que há um perigo atual, que é a privação de sua família, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, sacrificando direito alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Além disso, pode ser alegada uma tese subsidiária de erro de tipo, com fundamento no Art. 20 do Código Penal, tendo em vista que o sujeito ativo do crime não poderia imaginar que a conduta por ele praticada poderia se enquadrar em uma conduta tipificada em lei. Desta forma o sujeito equivocou-se quanto a elementares do tipo, estando amparado por um erro de tipo invencível, que exclui o dolo e a culpa. b)O pedido que deveria ser realizado seria a absolvição sumária nos termos do Art. 397, I, do Código de Processo Penal, tendo em vista existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato de estado de necessidade. Além disso, subsidiariamente poderia ser pedida a anulação do recebimento da anulação da peça acusatória sem apreciação do mérito, tendo em vista a ocorrência de uma excludente de ilicitude do fato. 3. Ao retirar seu veículo da garagem de casa, Suzana foi surpreendida com a ação de dois indivíduos que, mediante grave ameaça, obrigaram-na a passar para o banco de trás. Um dos indivíduos saiu dirigindo o automóvel, enquanto o outro manteve a vítima dominada, impedindo-a de manter contato com a família ou com autoridades policiais. Após 15 horas, Suzana foi solta em local de pouco movimento com a sua integridade física preservada, e os indivíduos fugiram, levando o carro da vítima para outra cidade. Dois dias depois, as autoridades policiais recuperaram o bem, que, porém, antes, foi utilizado em um roubo à agência da Caixa Econômica Federal no interior do estado. Diante da situação hipotética, pergunta-se: a) Qual foi o crime cometido contra Suzana ? b)De quem será a competência para julgar os crimes cometidos ? Fundamente sua resposta. Espelho a) O crime cometido por Suzana foi o de roubo majorado em virtude do concurso de duas pessoas e em virtude de manter a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade, nos termos do Art. 157, § 2º,II e V, do Código Penal. No caso houve subtração de coisa alheia móvel mediante grave ameaça por duas pessoas praticado e a restrição da liberdade da vítima foi realizada para facilitar a subtração do bem. b)O roubo praticado contra a agencia da Caixa Econômica Federal será da competência da justiça federal, segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial dos tribunais superiores, além disso, como houve conexão com o crime de roubo praticado contra Suzana, que isoladamente seria da alçada da justiça estadual, mas os dois crimes serão julgados pela justiça federal, tendo em vista a prevalência desta competência, conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritários. 4. Roberto, depois de descobrir que vinha sendo traído por sua namorada, Quitéria, aproveitando-se do momento em que ela dormia, deu várias pauladas com um taco de beisebol na cabeça da vítima até a sua morte e após, para não levantar suspeitas, ocultou o cadáver e limpou toda a cena do crime. O crime causou revolta em toda a população da comarca de Gameleira-PE, que passou a clamar por justiça e a exigir punição exemplar para Roberto. A denúncia foi recebida, a fase de prelibação transcorreu de forma regular e Roberto foi pronunciado. Durante o curso de toda a instrução preliminar, tanto a família de Roberto quanto o juiz presidente da vara do tribunal do júri foram, por diversas vezes, alertados, por intermédio de cartas, bilhetes e mensagens eletrônicas, de que os jurados que poderiam vir a compor o conselho de sentença não seriam isentos para julgar o caso, sob a alegação de que vários deles integravam o grupo de extermínio “Thunder Cats” que havia decidido dar cabo à vida de Roberto no dia designado para a realização do julgamento em plenário. Todas as mensagens foram devidamente anexadas aos autos, tendo sido os fatos amplamente divulgados pela imprensa local. Houve uma tentativa de linchamento de Roberto por populares, após a qual a imprensa veiculou imagens da delegacia de polícia local, oportunidade em que alguns jurados alistados foram identificados nas fotos. Considerando a situação hipotética apresentada, indique, com base nos dispositivos legais pertinentes: a) Qual é a providência jurídica a ser adotada para garantir a imparcialidade do julgamento ? b) Qual é a autoridade judiciária competente para apreciar o pedido a ser feito ? Espelho a)O advogado de Roberto deve requerer o desaforamento do julgamento para outra comarca, tendo em vista que houve dúvida sobre a imparcialidade do júri e a segurança pessoal do réu de acordo com o art. 427 do Código de Processo Penal. b) O desaforamento deve ser requerido ao Tribunal de Justiça de Pernambuco, pois a competência para avaliar a conveniência do desaforamento é sempre da instância superior e nunca do juiz que conduz o feito, como também elucida o art. 427 do Código de Processo Penal. 5. Mário e Fábio, empresários estabelecidos no município de Barcelona – RN, associaram-se eventualmente para fraudar o fisco estadual, mediante alteração de notas fiscais representativas de transações comerciais, causando, assim, prejuízos ao erário estadual. O promotor de justiça ofereceu denúncia imputando a Mário e Fábio o crime tipificado no art. 1.º, III, da Lei n.º 8.137/1990, tendo o juiz recebido a denúncia e intimado os réus para oferecer defesa. Considerando que Mário e Fábio durante a fase do inquérito policial confessaram espontaneamente à autoridade policial toda a tramadelituosa, bem como que o crédito tributário não tenha sido definitivamente apurado na esfera administrativa fiscal, pergunta-se: a) Qual(is) argumento(s) poderia(m) ser deduzidos em favor de seu constituinte? Fundamente sua resposta. Espelho a)Os argumentos que poderiam ser deduzidos em favor do constituinte seria o de que como não houve o exaurimento da via administrativa de apuração do débito tributário, bem como não houve o lançamento definitivo do tributo, não há como se tipificar o crime de sonegação fiscal do art. 1.º, III, da Lei n.º 8.137/1990. Além disso, como houve a confissão espontânea dos réus que praticaram a conduta em coautoria, eles terão sua pena reduzida de 1(um) a 2/3 (dois terços) Art. 16, parágrafo único da Lein.º 8.137/1990. 6. Maurício foi denunciado pela prática do delito de estelionato perante a 1.ª Vara Criminal de Justiça de Belo Horizonte – MG. Por entender que não havia justa causa para a ação penal, o advogado contratado pelo réu impetrou habeas corpus perante o TJ/MG, que, por maioria de votos, denegou a ordem. Nessa situação hipotética, em face da inexistência de ambiguidade, omissão, contradição, ou obscuridade no acórdão, pergunta-se: a)Qual será o recurso cabível para atacar a decisão ? b)Qual é o órgão competente para julgá-lo? Fundamente sua resposta. Espelho a)Será cabível o Recurso Ordinário Constitucional nos exatos termos do Art. 105, II, a) da Constituição Federal, tendo em vista que houve a denegação de habeas corpus decidido em última instancia por Tribunal de Justiça. b)O órgão competente para julgá-lo será o Superior Tribunal de Justiça, em virtude de expressa previsão constitucional do Art. 105, II, a) da Constituição Federal. 7. Márcio foi denunciado pelo crime de bigamia. O advogado de defesa peticionou ao juízo criminal requerendo a suspensão da ação penal, por entender que o primeiro casamento de Márcio padecia de nulidade, fato que gerou ação civil anulatória, em trâmite perante o juízo cível da mesma comarca. Diante da situação acima apresentada pergunta-se: a) Como deve proceder o juiz criminal ? Fundamente sua resposta. Espelho a) No caso em comento como existe uma questão prejudicial sobre o estado civil de pessoa que é elementar para a caracterização do crime de bigamia, devendo o juiz criminal suspender o processo penal até que seja solucionada a questão no juízo civil, remetendo o processo ao juízo civil , para somente após a decisão no juízo cível poder dar andamento a ação penal, nos termos do Art. 92 do Código de Processo Penal. 8. Petrúcio, médico de um hospital particular conveniado ao Sistema Único de Saúde, exigiu, de forma imperativa, a um paciente assistido pelo SUS, na emergência do hospital, valor de R$ 500,00 (quinhentos) reais para proceder ao atendimento necessário, alegando que a remuneração paga pelo procedimento que deveria ser realizado era muito baixa e que o paciente poderia ter sérias complicações de saúde caso não fosse realizado com a maior brevidade possível o referido procedimento médico. Diante da situação apresentada pergunta-se: a) Qual foi o crime cometido por Petrúcio ? fundamente sua resposta. Espelho a) O crime cometido por Petrúcio é o crime de concussão, nos termos do Art. 316 do Código Penal, tendo em vista que exigiu, diretamente, no exercício de suas funções, vantagem indevida, estando equiparado a funcionário público segundo a jurisprudência dos tribunais superiores e Art. 316 e 327 do Código Penal. 9. Em queixa-crime intentada por “A” contra “B”, pelo crime previsto no artigo 163, parágrafo único, IV do Código Penal, a audiência de instrução, debates e julgamento foi marcada. Foram regularmente intimados o querelante e seu patrono para comparecerem. No entanto, não compareceram e o Juiz, ao término da audiência de instrução, julgou a queixa procedente e condenou “B” à pena de seis meses de detenção, com direito à sursis. Na condição de advogado de “B”, responda: a) Qual o recurso cabível no caso concreto? b) Qual tese pode ser argüida na busca pela extinção da punibilidade do fato imputado a “B”? Espelho a) O recurso cabível será a apelação, nos termos do Art. 593, I do Código de Processo Penal, tendo em vista a ocorrência de uma decisão condenatória de mérito. b) A tese que será arguida na busca pela extinção da punibilidade será a perempção, nos termos do Art. 60, III do Código de Processo Penal e Art. 107, IV do Código Penal, uma vez que houve uma falta injustificada do querelante e do advogado deste a um ato processual que deveriam estar presente, razão pela qual resta configurada a perempção. 10. Bruno e Leônidas, policiais federais, no exercício de suas funções, desconfiaram que Fernando, conhecido traficante da região, tinha em sua residência grande quantidade de drogas. Em razão disso, os policias federais adentraram no domicílio do suspeito visando à apreensão da referida droga, tendo ali realizado intensa busca domiciliar, sem a autorização do morador. Finda a diligência policial, nada foi encontrado. Em face da situação apresentada, pergunta-se: a) Qual foi o crime cometido por Bruno e Leônidas ? b) De quem será a competência para julgar os crimes cometidos ? Espelho a)O crime cometido pelos policias federais é o de abuso de autoridade, nos termos do Art. 3º, b), da Lei 4898/65, uma vez que houve atentado contra a inviabilidade do domicílio. b) O crime de abuso de autoridade tem duplo sujeito passivo material, o primeiro é o morador da casa e o outro é o ente administrativo, neste caso como os agentes são policias federais e estão vinculados a União, há ofensa a interesse da União, nos termos do Art. 109, IV, da Constituição Federal. 11. Saulo, delegado de polícia civil, tomou conhecimento de que dois dos agentes civis de sua delegacia constrangeram Ulisses, mediante violência, causando-lhe sofrimento físico, com a finalidade de obter informação da vítima. Entretanto, Saulo simplesmente deixou de apurar tais condutas. Em face do caso concreto acima, pergunta-se: I. Qual foi o crime cometido por Saulo? Espelho I. O crime cometido por Saulo foi o de tortura por omissão, nos termos do Art. 1º, § 2º, da Lei de Tortura – Lei n. 9455/97.
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