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DIREITO PENAL - PONTO 10

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DIREITO PENAL – PONTO 10
Direito Penal Econômico. Bem jurídico supra-individual. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas. Crimes contra o meio ambiente (Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998). Crimes contra a economia popular (Lei n. 1.521, de 26, de dezembro de 1951). Crimes contra as relações de consumo no Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990). Crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo (Lei n. 8.137, de 27 de dezembro de 1990). Crimes contra a ordem econômica e o Sistema de Estoques de Combustíveis (Lei n. 8.176, de 8 de fevereiro de 1991).
Ponto eleborado com base nos resumos do TRF5 (IX concurso) e TRF2 (XII)
Atualizado por Mauro César Garcia Patini em agosto 2012; não se encontram todos os tópicos na ordem, mas estão abordados. Ainda, a parte sobre crimes ambientais foram retiradas da aula do Sílvio Maciel, que tem obra sobre o tema.
	Direito Penal Econômico. Bem jurídico Supra-individual.
O direito econômico tem sua origem na direção e planificação estatal da economia. É o conjunto de regras que visam à regulamentação do fatos de proteção de bens e serviços, bem como a intervenção do Estado na propriedade. Na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, surgiram algumas disposições legais isoladas. Logo, se adotou um verdadeiro arsenal de medidas econômico-jurídico-administrativas, nas quais a sanção penal não se limitava aos casos mais graves. 
A consolidação do direito penal econômico como objeto de estudo sistemático somente adveio com os problemas de escassez e racionamento de mercadorias, após a eclosão da Segunda Grande Guerra. 
Ressalte-se que essa necessidade logo recaiu sob os mantos da tutela penal, sem prévio recurso a meios não-penais de controle das práticas consideradas ética e socialmente reprováveis, o que se explica, de certa maneira, pela reduzida eficiência que poderiam apresentar, em períodos de exceção, formas meramente administrativas de controle.
A retomada de seu estudo e de sua importância sobreveio com os anos 70, marcada por duas graves crises petrolíferas (1973 e 1979). 
A partir daí, pôde-se observar uma aceleração brutal do denominado fenômeno de globalização, a representar para o mundo jurídico um incremento das trocas comerciais, com o fortalecimento das grandes empresas, em paralelo ao crescimento da criminalidade organizada no mundo inteiro.
O Brasil não teve guerras travadas em seu território, mas enfrentou diversas crises econômicas, que, sem dúvida, impulsionaram a produção legislativa, referente ao direito econômico e aos crimes econômicos.
As sucessivas leis sobre a matéria, ao contrário de outros países, não mereceram por parte do legislador brasileiro uma perspectiva sistêmica e harmônica, inexistindo um núcleo claro, com tratamento adequado e diferenciado, de delitos econômicos, nem fora do Código Penal brasileiro, nem em seu interior.
De tradição liberal, não por acaso a expressão ordem econômica empregada na legislação penal brasileira limitou-se a abarcar a proteção de normas sobre preços, ou sobre a concorrência desleal.
A primeira lei nacional a aferir tratamento sistematizado a crimes econômicos foi a Lei 1.521/1951, que dispõe, na expressão da própria lei, sobre “crimes contra a economia popular”, e cujos dispositivos, em grande parte, ainda se encontram em vigor. 
É possível vislumbrar sob a ótica da composição típica dos crimes econômicos a inevitável interdependência do Direito Econômico e do Direito Penal. Costuma-se dizer que o Direito Penal Econômico é um “Direito de superposição”, porque há uma extensa e intrincada regulamentação da economia cujas metas se quer proteger. 
Além disso, o resultado que produz é, de um modo geral, incerto e, habitualmente, é anônima ou indeterminada a pessoa ofendida. Por fim, o terceiro elemento de configuração seria o elemento subjetivo, consistente no propósito, por parte do autor, de obter um lucro adicional ou uma utilidade complementar no giro normal dos negócios; mediante a execução das manobras constitutivas do delito, este afã de lucro busca materializar-se em uma ganância desorbitada. 
Elementos de identificação do direito penal econômico: “direito de superposição”, que visa à regulamentação econômica; indeterminação do sujeito passivo (coletividade); elemento subjetivo do lucro e atividade econômica.
Essa modalidade relativamente nova de intervenção do Estado na economia pode ser compreendida tanto como reação a um liberalismo exacerbado como simples exercício de um poder diretivo que lhe é próprio, mormente se considerarmos a tradição brasileira, que remonta aos primórdios da República, em coibir o abuso do poder econômico. 
As Constituições contemporâneas, dentre as quais a CF/88, incorporam princípios do Estado Liberal, bem como do Estado Social, o que se reflete na própria conformação do direito penal hodierno. Com efeito, ao lado de princípios liberais que resguardam interesses individuais e fixam limites ao poder punitivo estatal, há de se notar preceitos que ampliam a intervenção jurídico-penal, ao alargarem o campo dos bens objeto de sua proteção, nele incluindo os de natureza supraindividual. 
Diante das considerações anteriormente explicitadas, pode-se concluir que o Direito Penal Econômico encontra-se legitimado, ao menos na perspectiva do objeto de tutela, visto que se destina à proteção de um bem jurídico fundamental, constitucionalmente assegurado, qual seja, a ordem econômica. Ordem Econômica essa que encontra fundamento constitucional nos artigos 1º IV (IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa), bem como os artigos 170 e seguintes da CF.
Prevalece como fundamento do Direito Penal Econômico a corrente dualista. A despeito das coerentes ponderações que respaldam principalmente o posicionamento monista-pessoal (de que sujeitos passivos seriam indivíduos ou a soma de interesses individuais), acolhe-se, uma concepção dualista, a qual concebe tanto bens jurídicos individuais quanto coletivos, ambos legítimos e admissíveis, lembrando que nem sempre é possível referir um bem jurídico difuso a interesses individuais concretos. Aliás, um bem jurídico supraindividual não corresponde à mera soma de diversos bens jurídicos individuais, hipótese em que se teria tão somente um pseudo bem jurídico coletivo. Caracteriza-se, em verdade, pela não distributividade, ou seja, é usufruído por todos em sua totalidade. 
A questão da existência e necessidade do Direito Penal Econômico nos conduz necessariamente a uma outra indagação. Qual o bem ou interesse jurídico a ser protegido pela lei penal econômica?
Assim sendo, os bens jurídicos a serem selecionados pela lei penal não se limitam mais aos “naturais” e ao patrimônio individual. A inserção social do homem é muito mais ampla, abrangendo todas as facetas da vida econômica. Daí um novo bem jurídico: a ordem econômica, que possui caráter supra-individual e se destina a garantir a política econômica do Estado, além de um justo equilíbrio na produção, circulação e distribuição da riqueza entre os grupos sociais. Esse bem jurídico, entretanto, não é arbitrário, pois decorre do tipo de Estado definido nas Constituições. Na lição de Marinucci, a política criminal consubstanciada na lei penal econômica, para se legitimar, deve ter como ponto de apoio a Constituição. 
Costuma-se definir o direito penal econômico sob uma perspectiva ampla e outra restrita. 
- Na ampla, diz respeito às infrações que afetam a regulamentação jurídica da produção, distribuição ou consumo de bens e serviços. 
- No sentido estrito, abarca as infrações jurídico-penais que lesionam ou põem em perigo a ordem econômica, entendida como regulação jurídica do intervencionismo estatal na economia de um país. 
Vê-se que a definição em sentido amplo busca abarcar não apenas os delitos contra a “planificação estatal da economia”, mas aqueles relacionados com a atividade econômica, bem como os direcionados contraas normas estatais que organizam e protegem a vida econômica, tendo sido unanimemente aceita por ocasião do XIII Congresso Internacional da Associação Internacional de Direito Penal. 
Em outra direção, também é possível definir o direito penal econômico como a disciplina especial do direito penal que, em último grau, protege bens jurídico-penais (econômicos), com alcance meta ou supraindividual, de condutas que os lesionem ou que sejam capazes de lesioná-los, perturbando, ou desestabilizando, a ordem econômica desse Estado,
Renato de Mello Jorge Silveira entende que a proteção da ordem econômica abarca a tutela do sistema financeiro nacional, da ordem tributária, do adequado funcionamento das empresas e do mercado, podendo ainda englobar, por determinação constitucional, as relações de consumo e o meio ambiente, mencionados, respectivamente, no art. 170, V e VI, da CF/1988. Luciano Anderson de Souza, por sua vez, identifica que, sob a rubrica do direito penal econômico, comumente se encontram as infrações penais contra a ordem econômica, tributária, financeira, previdenciária e relações de consumo. 
Uma primeira particularidade dos crimes econômicos se observa quanto ao modus operandi mais elaborado, mais sutil, mascarando, no mais das vezes, por trás de aparências perfeitamente lícitas, complexos e intrincados esquemas, o que torna os bens jurídico-econômicos alvos especialmente suscetíveis de dano ou de serem expostos a perigo. Esta distinção se baseia, em parte, na especificidade social do agente, que, via de regra, pertence a elevados e esclarecidos estratos sociais, o que deu margem à categoria criminológica do “colarinho branco”. Tais características, segundo a doutrina, justificaram a criação de tipos criminais de perigo abstrato, ou o abuso de normas penais em branco, e mesmo o abrandamento de garantias processuais-penais.
Ainda, a enorme danosidade social, ou a magnitude da lesão ao bem jurídico, (aliada às evidentes dificuldades de quantificação do montante dos danos) é um traço distintivo dos crimes econômicos, o que traz à tona o debate sobre a inclusão de crimes patrimoniais tradicionais entre os crimes econômicos, quando atingirem grandes proporções. 
Contudo, a distinção mais marcante entre os novos bens jurídicos, dentre os quais os bens jurídico-econômicos, e os bens jurídicos tradicionais reside, sem dúvida, em seu caráter supraindividual e permanente, o que remete tanto à impossibilidade de identificação de uma vítima individualizável quanto à impossibilidade de precisar o momento da consumação dos ilícitos (para não tornar a mencionar suas dimensões). 
Durante algum tempo, a dogmática jurídico-penal hesitou na aceitação desta categoria de bem jurídico, em razão da vocação do direito penal - herdada de suas tradições liberais - para a tutela exclusiva dos bens jurídicos atinentes à pessoa humana, relacionados com “o livre desenvolvimento da personalidade de cada homem como tal, formando o corpo daquilo que com razão se designará por 'direito penal clássico ou de justiça'”. Contudo, segue a ensinar Figueiredo Dias, a história trouxe o reconhecimento de outra categoria de bens jurídicos “que, sendo concretizações dos valores constitucionais ligados aos direitos sociais e à organização económica, se relacionam com a actuação da personalidade do homem como fenómeno social, em comunidade e em dependência recíproca dela; ainda estes pertencem ao direito penal, em regra de caráter secundário, especial, extravagante ou económico-social”. 
Quanto aos bens jurídicos em espécie tutelados pelo direito penal econômico, Ricardo Antunes Andreucci cita os ilícitos fiscais e ressalta que “os impostos são precisamente um destes instrumentos utilizados, e com eficácia, para concretizar o intervencionismo, influindo no processo econômico”. Do mesmo modo, é de ser recordado que os bens jurídico-econômicos nem sempre o são de forma pura, eis que muitas vezes são tutelados por tipos legais de crime, em conjunto com bens jurídicos de natureza distinta. É o caso dos delitos de moeda falsa, que o Código Penal brasileiro insere no título dos crimes contra a fé pública (Título X, Capítulo I, arts. 289 a 292). Facilmente perceptível que, a depender da quantidade de moedas falsificadas, ou dos crimes de moeda falsa (e, por que não lembrar, da qualidade das falsificações), há sempre presente o risco de se levar a uma alteração do meio circulante, com possíveis reflexos sobre a economia, o que faz congruente considerá-los, também dessa sorte de delitos, como por natureza econômicos.
 CONCLUSÕES
I - Da convicção de que a economia necessita ser organizada, de modo a manter sua estabilidade, é que se originou o direito penal econômico. Seu desenvolvimento faz perceber que o conteúdo do direito penal econômico depende em grande parte do modelo político-econômico do Estado.
II - No Brasil, a ordem econômica supõe a busca de justiça social.
III - Apesar de as origens do direito penal econômico se confundirem com o desenvolvimento do direito econômico, trata-se de disciplinas autônomas, sendo o direito penal econômico disciplina do direito penal geral.
IV - O direito penal econômico é a disciplina do direito penal geral que protege bens jurídico-penais (econômicos), com alcance meta ou supraindividual, de condutas que os lesionem ou que sejam capazes de lesioná-los, perturbando, ou desestabilizando, a ordem econômica desse Estado. Devem ser incluídas as esferas da produção e circulação de bens e serviços, da ordem tributária e financeira, do direito consumerista, do meio ambiente, dentre outros!
V - Ordem econômica deve ser compreendida como a confluência dos elementos da economia nacional, a apresentar uma dada organização, cabendo ao Estado intervir sobre essa realidade com o fim de preservar sua estabilidade e o bem-estar social. A ordem econômica comporta bens jurídicos econômicos.
VI - Os bens jurídico-econômicos possuem diversas especificidades com relação aos bens jurídicos tradicionais, inserindo-se no campo da criminalidade moderna.
VII - É impossível identificar todos os bens jurídicos que podem ser protegidos mediante o direito penal econômico. O que os reúne nessa disciplina são os efeitos - potenciais ou lesivos, em qualquer grau - à ordem econômica nacional.
VIII - O direito penal econômico possui um locus próprio de atuação, com relação ao direito administrativo sancionador, a partir da obediência ao princípio da subsidiariedade e fragmentariedade da atuação do direito penal.
2. Crimes Ambientais
1 FORMULAÇÃO DO TIPO AMBIENTAL 
Pela natureza jurídica do bem tutelado será protegido o meio ambiente, não somente os recursos naturais, mas também a relação do ser humano com esse meio. 
Em decorrência da natureza jurídica do meio ambiente como bem juridicamente tutelado, optou-se pela criação do tipo penal de perigo abstrato, que visa a EVITAR a realização do dano ambiental. Isso porque, devido à fragilidade de alguns ecossistemas, após a devida degradação dificilmente poderá haver retorno ao estado ambiental anterior, o que poderá acarretar perda de espécies e de patrimônio genético relevante. Por isso essa preocupação preventiva, com uso largo dos tipos penais em abstrato.
Assim, verifica-se, pelo exame da Lei 9.605/98, que o legislador abusou dos tipos penais de perigo abstrato.
	CRIMES DE DANO
	São os que se consumam com a produção de um resultado, que é a manifestação do mundo externo causada pela conduta (p.ex., homicídio, lesão corporal, furto ou estelionato). Há EFETIVA LESÃO AO BEM JURÍDICO TUTELADO, que é elementar do tipo penal incriminador.
	CRIMES DE PERIGO
Há uma distinção entre DOLO DE PERIGO (vontade de vivenciar uma situação de risco intolerável pelo Estado) e DOLO DE DANO (vontade de causar lesão ao bem jurídico). 
	São os que se consumam com a ocorrência da probabilidade do resultado naturalístico (ex. perigo de contágio venéreo). PROBABILIDADE DE DANO AO BEM JURÍDICO TUTELADO. Há no CP, a divisão entre os crimesde perigo:
CRIMES DE PERIGO INDIVIDUAL
CRIMES DE PERIGO COLETIVO
Fora do Código Penal é preciso observar os tipos penais para verificar se se trata de crimes de perigo, são idealizados para EVITAR A LESÃO. Ex. tráfego de entorpecentes e porte ilegal de armas. São delitos obstáculos (blindagens aos crimes de dano).
Os crimes de perigo podem ainda ser:
	CRIMES DE PERIGO ABSTRATO
	CRIMES DE PERIGO CONCRETO
	CRIMES DE PERIGO ABSTRATO-CONCRETO
CRIMES DE INIDONEIDADE
CRIMES DE PERIGO IDÔNEO
CRIMES DE PERIGO HIPOTÉTICO
	O risco de lesão ao bem jurídico não é integrante do tipo penal, mas tão somente presumido pelo legislador e com análise “ex ante”. 
A conduta contém periculosidade geral a um bem jurídico tutelado anteriormente (presunção iure et iure: absoluta).
Não é necessário demonstrar o perigo de dano ao bem jurídico.
São os crimes cujo perigo é definido pela própria lei. Se classificado aqui, favorece a acusação. 
Ex. Tráfico e porte de arma; não precisa explicar na denúncia o perigo dos tóxicos e das armas
	A exigência do risco efetivo ao bem jurídico integra o tipo penal.
São os crimes cuja situação de perigo de dano deve ser evidenciada e provada diante do juiz. 
Se classificado aqui, favorece a defesa. 
Ex. perigo de vida, p. ex., tem que provar que a faca que foi atirada representou o perigo de vida.
	São aqueles em que a conduta analisada ex ante pelo legislador é considerada perigosa ao bem jurídico segundo um juízo de probabilidade do dano.
Não exige demonstração de risco ao bem. Também não coloca como elementar no tipo incriminador.
Não coloca no tipo incriminador a exigência de perigo.
Não se diferencia muito cabalmente dos crimes de perigo abstrato. Nos dois há ponto comum: periculosidade geral.
Diferença: nos CPAC essa periculosidade geral é estabelecida pela probabilidade de dano. Nos outros, o legislador não faz esse juízo de probabilidade.
Na verdade, são crimes de perigo abstrato, somente têm um pouquinho mais de probabilidade, são irmãos gêmeos: CPA e CPAC (perigo idôneo).
O legislador brasileiro optou por tipificar os crimes ambientais em crimes de perigo abstrato. Então surge a pergunta: os crimes de perigo abstrato são constitucionais ou não?
Para responder a essa pergunta é preciso tratar do PRINCÍPIO DA LESIVIDADE ou PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE, em latim é o princípio do NULLUM CRIMEN SINE INIURIA, ou seja, não há crime sem lesão ou ofensa ao bem jurídico. Não há crime sem lesão e não há crime sem PERIGO DE LESÃO, dentro do princípio da está inserido o denominado crime de perigo. A que tipo de perigo alude o princípio? Perigo concreto ou perigo abstrato? 
PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE – ZAFFARONI fala em PRINCÍPIO DA LESIVIDADE. Luiz Flávio Gomes entende que a ofensividade é melhor do que lesividade. Isso é novo, extremamente novo, estando relacionado com a constitucionalização do direito penal, imputação objetiva (tipicidade conglobante; imputação objetiva nos crimes de direito ambiental). O princípio significa que NÃO há crime sem ofensa ao bem jurídico. Ofensa é o gênero, que tem como espécies: LESÃO ou PERIGO CONCRETO DE LESÃO AO BEM JURÍDICO. Não basta somente a tipicidade formal, há fatos formalmente típicos, que NÃO são materialmente típicos por falta de ofensa ao bem jurídico. 
EXEMPLO 01: fato insignificante é formalmente típico, mas não materialmente típico porque falta a lesividade ao bem jurídico. Esse princípio tem uma dupla exigência: 
ofensa precisa ser juridicamente relevante, quando a ofensa é insignificante aplica-se o princípio da insignificância, ficando fora do Direito Penal e 
Somente é punível ofensa ao bem jurídico de terceiros (é denominado de PRINCÍPIO DA ALTERALIDADE, que vem de altero, ou seja, do outro), a ofensa a bens jurídicos pessoais não é crime, não é delito, 
EXEMPLO 01: tentativa de suicídio. 
EXEMPLO 02: falsidade grosseira é fato formalmente típico, mas materialmente atípico.
Luiz Flávio Gomes: O direito contemporâneo, inspirado no Iluminismo, prestigiou o sistema penal de cunho personalista, o que significa afirmar o surgimento do princípio da ofensividade – só o fato verdadeiramente ofensivo (lesivo ou concretamente perigoso a um bem juridicamente importante deve ser punido) – como elemento integrante do tipo. Este novo Direito Penal, mais do que a retribuição, busca eficácia e prevenção eficaz, fato que levou Romano a apontar a impossibilidade do Juízo de tipicidade se limitar única e exclusivamente na imputação puramente formalista ou literal; leia-se, adequação gramatical da conduta à letra fria da lei!
Daí, voltam novamente as perguntas: a que tipo de perigo alude o princípio? Perigo concreto ou perigo abstrato? 
É preciso analisar o PRINCÍPIO DO ESTADO DE INOCÊNCIA ou PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE NÃO-CULPABILIDADE (artigo 5o, LVII), que é um princípio que se aplica ao DPP (precipuamente é um princípio processual, mas também com aplicação penal). Assim, por esse princípio, o legislador estaria impedido de PRESUMIR CULPA no tipo incriminador. Então essa presunção absoluta dos crimes de PERIGO ABSTRATO (princípio infra-constitucional) seria conflitante com a presunção constitucional de não-culpabilidade. Desta forma, é óbvio que esses crimes são inconstitucionais. Com esse entendimento a maioria dos crimes ambientais são inconstitucionais.
Os crimes do meio ambiente podem ser também interpretados como crimes de lesão, em que pese tratar-se de crimes de perigo abstrato. Porque tais delitos lesionam a APROVEITABILIDADE DO MEIO AMBIENTE. No seu entender, a aproveitabilidade não pode ter a sua certeza perturbada, assim como ocorre com o instrumento cirúrgico que é contaminado. Em relação ao meio ambiente são impostas regras para a sua utilização porque, por meio de estudos científicos, chegou-se à conclusão de que a melhor maneira para garantir a certeza de aproveitabilidade do meio ambiente é o cumprimento das regras. Assim, quando alguém descumpre as normas resultantes desses estudos, naquele momento, pode não estar demonstrando nenhum dano ou perigo concreto, mas a atuação perturba a confiança na certeza da aproveitabilidade do meio ambiente para essa ou futura geração.
EXEMPLO: artigo 55 da Lei 9.605/98, exploração sem autorização do DNPM, mesmo que não seja demonstrada a efetiva lesão ou perigo concreto de lesão no momento da prática da conduta, não se está protegendo o bem jurídico MEIO AMBIENTE, mas o bem jurídico tutelado é a APROVEITABILIDADE DO MEIO AMBIENTE.
Diante de tudo o que foi dito acima, os crimes contra o meio ambiente passariam a ser crimes de perigo concreto e não abstrato (ressalte-se que esta é uma questão controvertida tanto em doutrina quanto em jurisprudência. O TRF da 4ª Região tem precedentes afirmando que os crimes ambientais seriam crimes de perigo abstrato). 
Embora a posição do LFG, há decisões recentes do TRF1 no sentido de manutenção da técnica de crimes ambientais de perigo abstrato:
PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 40 DA LEI Nº 9.605/98. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. APA DO RIO SÃO BARTOLOMEU. DISTRITO FEDERAL. CAUTELA NA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. DANO NÃO PROVOCADO PELO RÉU. 1. O art. 40 da Lei n° 9.605/98, consistente em "causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação", trata de crime material, que depende da ocorrência de resultado naturalístico para se caracterizar, ou seja, da efetiva causação de dano, direto ou indireto, à unidade de conservação. É delito de perigo abstrato, pois o prejuízo ao meio ambiente é presumido caso a conduta seja praticada. Decisão de 16/07/2012, sem disponibilizar número do RESE.
ACR - APELAÇÃO CRIMINAL – 200932000017720;
Data da Decisão 20/03/2012
PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO. CRIME AMBIENTAL. ART. 34, DA LEI Nº 9.605/98. CRIME FORMAL. AUSÊNCIA DE PESCADO EM PODER DO DENUNCIADO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. SENTENÇA MANTIDA. APELAÇÃO DESPROVIDA.1. No caso, tem-se que o delito do art. 34, da Lei nº 9.605/1998 caracteriza crime formal, de perigo abstrato, que não exige o resultado danoso para sua configuração, na hipótese, o dano ao meio ambiente, (omitido).
2 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
O direito brasileiro é de tradição de tronco romano-germânico, como direito escrito. Sempre vigorou o PRINCÍPIO SOCIETAS DELINQUERE NON POTEST, ou seja, a sociedade nunca pode delinqüir.
Já na tradição do direito anglo-saxão há responsabilidade penal da pessoa jurídica (EUA e INGLATERRA), vigendo o PRINCÍPIO SOCIETAS DELINQUERE POTEST.
No direito francês, há uma certa penetração do pragmatismo da common law, aceitando-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica. 
No Brasil, o constituinte de 1988 rompeu com a tradição secular do PRINCÍPIO SOCIETAS DELINQUERE NON POTEST, permitindo a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais e contra a ordem financeira (artigo 173, § 5o, da Constituição da República). 
Mas esse último dispositivo NÃO foi regulamentado, assim, não se pode dizer que existe a responsabilidade penal da pessoa jurídica no campo dos delitos contra ordem econômica ou financeira. Porém, o artigo 3o da Lei 9.605/98, regulamenta a responsabilidade penal das pessoas jurídicas no campo dos delitos ambientais.
Teorias sobre a pessoa jurídica:
TEORIAS NEGATIVISTAS – a pessoa jurídica não existe, é um simples patrimônio coletivo, condomínio ou grupo de pessoas físicas..
TEORIAS AFIRMATIVISTAS – a pessoa jurídica tem existência como sujeito de direito. Embora afirmem a existência, apresentavam divergência entre si:
TEORIA DA FICÇÃO (Savigny) – A pessoa não existe realmente, ela é uma mera ficção, não era possível visualizar o corpo. Kelsen é adepto dessa teoria. Ou seja, a pessoa é mera ficção legal, o que predominou até o século XVIII. 
TEORIA DA REALIDADE OBJETIVA ou ORGANICISTA ou TEORIA DA VONTADE REAL – existência social. CLÓVIS BEVILÁQUA DISCÍPULO DE AUGUSTO COMTE. Sustentava que a pessoa jurídica não seria mera abstração ou criação da lei, tendo existência própria, real, social, como os indivíduos (SCHÄFFLE, LILIENFELD, BLUNTSCHLI, OTTO GIERKE, GIORGI, FADDA e BENSA, LACERDA DE ALMEIDA, CUNHA GONÇALVES e o próprio CLÓVIS BEVILÁQUA). Tratava-se de uma teoria sociológica, organicista.
TEORIA DA REALIDADE TÉCNICA – é um meio termo em relação às duas teorias acima. Para ela, a pessoa jurídica existe sim, uma existência diferente da existência da pessoa física; ela existe porque tem uma vontade própria distinta da vontade de seus sócios; também tem patrimônio próprio distinto do de seus membros. O artigo 20 do CC/1916 incorporou essa teoria, mas o CC/2002 não trouxe expressamente o dispositivo, mas por exceção (desconsideração da personalidade jurídica) confirmou a teoria, ou seja, não trata da regra, mas somente da exceção (artigo 50). Continua vigendo essa teoria. A pessoa jurídica teria existência real, não obstante a sua personalidade ser conferida pelo direito (SALEILLES, GENY, MICHOUD, FERRARA).
No Brasil, é adotada a TEORIA DA REALIDADE TÉCNICA (apesar de existir controvérsia), conforme se pode observar da análise do artigo 45, CC/02. Porque: a pessoa jurídica mesmo sem existência física ou tangível, há uma realidade social, somente com o registro a pessoa jurídica passa a ter existência legal.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.
A teoria da ficção fundamentou o entendimento de que NÃO há possibilidade de as pessoas jurídicas serem autoras de crime, porque não têm vontade.
As teorias organicista e realidade técnica fundamentam a teoria da responsabilidade penal das pessoas jurídicas. No direito francês é adotada essa posição, bem como o sistema da DUPLA IMPUTAÇÃO. 
A pessoa jurídica deve responder pelos crimes ambientais porque o meio ambiente (direito de 3a. dimensão) precisa ser protegido, porque somente a sanção penal pode ser capaz de evitar que a conduta lesiva seja praticada, mas não se pode deixar de punir a pessoa humana que esteja por trás da pessoa jurídica, esse é o SISTEMA DA DUPLA IMPUTAÇÃO, já que se deve punir a pessoa jurídica, sem prejuízo da pessoa humana que realiza a conduta em nome da pessoa jurídica.
A outra âncora é a TEORIA DA RESPONSABILIDADE POR RICOCHETE ou POR EMPRÉSTIMO, ou seja, a pessoa humana realiza a conduta e tudo o que se referir à conduta da pessoa humana é tomada por empréstimo para a pessoa jurídica. Assim o que a pessoa humana realiza é tomado para responsabilizar a pessoa jurídica.
São as duas âncoras sobre as quais se baseiam a responsabilidade penal da pessoa jurídica, no direito francês:
DUPLA IMPUTAÇÃO e
TEORIA DA RESPONSABILIDADE POR RICOCHETE OU POR EMPRÉSTIMO.
No artigo 3o da Lei 9.605, contempla esse dois aspectos. Na doutrina, há duas correntes, apesar do disposto na lei e na CF.
Lei 9605/98, Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da entidade.
Os que fundamentam o descabimento, o fazem porque o sistema penal brasileiro não admite a responsabilidade da pessoa jurídica (LUZ RÉGIS PRADO, CÉZAR ROBERTO BITENCOURT e outros): 
	Falta de capacidade de ação
	Elemento volitivo e cognitivo.
	Falta de capacidade de culpabilidade
	na culpabilidade pura do normalismo irá exigir: imputabilidade (condição humana); potencial consciência da ilicitude (humana) e inexigibilidade de conduta diversa (também característica humana)
	Falta de capacidade para ser sujeito passivo de pena
	Se não se aplica a pena precipuamente prisional haveria a coincidência entre a sanção penal e a administrativa ou civil
	
	A pena também tem a função preventiva de coação psicológica (FOUBERT), essa função não atinge a pessoa jurídica, que não tem elemento cognitivo e não estaria intimidada pela coação
	
	Não é também passível de pena, porque não atinge a pessoalidade da pena vai atingir sócios não culpados e trabalhadores da pessoa jurídica
Para garantia da imputação penal da pessoa jurídica é necessária a criação de um sistema de responsabilização penal próprio da pessoa jurídica.
Os que defendem a responsabilização penal da pessoa jurídica afirmam que se trata de uma opção política do constituinte tendo sido regulamentada pela legislação infraconstitucional e isso deve ser respeitado.
	NÃO CABE RESPONSABILIDADE
	CABE RESPONSABILIDADE
	Pessoa jurídica não tem vontade dolosa ou culposa. Falta vontade final e consciência intelectiva. Decorrência a teoria da ficção de Savigny.
	Pessoa jurídica tem uma vontade dolosa ou culposa, o que ocorre é que ela é difícil de ser detectada, porque o seu processo de formação é mais complexo que a formação da vontade humana. A formação da vontade da pessoa jurídica é resultante do conjunto de vontades humanas que estejam respondendo pela pessoa jurídica,ou seja, a sua vontade pode ser dolosa ou culposa. Na Europa, há ajuizamento de ação penal contra outro país: a Bósnia entrou com uma ação por prática de genocídio contra a Sérvia
	Se não tem vontade própria dolosa ou culposa, puni-la significa aplicação de responsabilidade penal objetiva, que fere o princípio da culpabilidade.
A crítica à extensão da responsabilidade penal às pessoas jurídicas está centrada na idéia de que a teoria do crime no Direito Penal brasileiro está voltada para a idéia de CULPA e VONTADE; por outro lado, não há no Direito Civil teoria que seja capaz de justificar e demonstrar a existência de vontade nas expressões de pessoa jurídica. Qualquer teoria do direito civil para explicar a vontade da pessoa jurídica não serve para fundamentar a sua responsabilidade penal.
	A título de argumentação, ainda que não tenha vontade, ela será punida pela responsabilidade penal objetiva, consistente em uma exceção ao princípio da culpabilidade. 
NUCCI: há casos de responsabilidade penal objetiva até para pessoa física, no ordenamento pátrio, p. ex., a punição por embriaguez absoluta, o indivíduo não tem vontade, e mesmo assim, é responsabilizado
	Punir a pessoa jurídica representa, em última análise, uma punição para os sócios, porque são penas pecuniárias, já que ela não pode ir para a cadeia. Então a pena está passando do delinqüente, ferindo o princípio da responsabilidade pessoal.
A Lei 9605/98 prevê a possibilidade de punição do sócio e da pessoa jurídica, em flagrante BIS IN IDEM.
	Toda pessoa penalmente punida pode causar danos a terceiros, se esse argumento fosse ser levado em consideração, não se poderia aplicar qualquer pena contra ninguém.
	O que caracteriza o Direito Penal, que o transforma em singular, a sua particularidade em relação aos outros ramos do Direito, é exatamente a aplicação da pena de prisão. Assim, se a pessoa jurídica não pode se submeter à pena privativa de liberdade, não precisa socorrer-se ao Direito Penal, deve-se deixar o tratamento aos outros ramos do Direito.
	O Direito Penal moderno não se baseia somente em prisão, atualmente, tem caminhado para o não encarceramento até mesmo da pessoa humana. A principal pecha é o título de CRIMINOSO.
	O artigo 225, § 3o. CF/88 permite uma interpretação de que para as pessoas jurídicas caberia somente a responsabilidade administrativa. Faltou: “RESPECTIVAMENTE”
	O artigo 225, § 3o. CF/88 é claro.
	Outrossim, até mesmo o Estado pode praticar delito contra o meio ambiente, sendo assim, a aplicação de pena contra si tornar-se-iam inócuas, vejamos:
Pena de extinção: não pode ser-lhe aplicada.
Pena de multa: o pagamento resulta em benefício do próprio Estado.
Pena de suspensão de atividade: não pode ser-lhe aplicada por violação ao princípio da continuidade do serviço público.
	
 
Os que defendem a responsabilidade penal da pessoa jurídica se dividem em dois grupos:
ADAPTAÇÃO DO DIREITO PENAL CLÁSSICO: deve-se adaptar a teoria clássica ao modelo de responsabilização da pessoa jurídica.
CRIAÇÃO DE UM SUBSISTEMA DOUTRINÁRIO (FERNANDO NOGUEIRA, ÉDIS MILARÉ): a responsabilidade penal da pessoa jurídica deve ser efetivada, mas criando-se um subsistema doutrinário para ela. Essa responsabilidade penal é objetiva e decorre do que se chama de FATO DE OUTREM, ou seja, a pessoa humana realiza a conduta (violação ao meio ambiente) em nome, benefício e proveito da pessoa jurídica (FERNANDO GALVÃO). A pessoa jurídica somente pratica atividades e não condutas. Nos tipos incriminados na lei penal são condutas que somente podem ser praticadas por pessoas humanas. Assim, as pessoas jurídicas NÃO realizam os crimes ambientais, somente respondem pela prática das pessoas humanas.
A idéia de responsabilidade penal objetiva é muito repelida no direito penal (até pela própria CF e no artigo 19, CP). Assim, a tese do autor encontra rejeição na CF e no CP. Mas FERNANDO GALVÃO afirma que se trata de uma regra específica dos crimes ambientais. A responsabilização é por fato de outrem e tem que ser objetiva.
	
	ADAPTAÇÃO DO DIREITO PENAL CLÁSSICO
	CRIAÇÃO DE SUBSISTEMA
	Falta de capacidade de ação
	Aplicação da teoria da realidade real. Somente se exigindo o elemento volitivo e não o cognitivo.
	Responsabilidade penal objetiva por fato de outrem.
A pessoa jurídica NÃO pratica conduta e sim atividades, as condutas são praticadas pelas pessoas humanas em nome da pessoa jurídica.
	Falta de capacidade de culpabilidade
	Tem capacidade de culpabilidade com base na teoria normativa, com o conceito de culpabilidade:
Juízo de censura incidente sobre a finalidade ou papel social exigido da pessoa jurídica.
Elementos: finalidades legais (jamais se pode falar de erro de proibição imputável a pessoa jurídica) e exigibilidade de conduta diversa (deve agir de acordo com os seus fins, que devem ser de acordo com o direito).
	
	Falta de capacidade para ser sujeito passivo de pena
	A pessoa jurídica responde conforme as penas adequadas a sua natureza, se não cabe pena prisional não se aplica. A pena prisional não é mais a pena por excelência do direito penal, que está se encaminhando cada vez mais para outros tipos de penas.
	
	
	A pena cumpre o seu caráter preventivo, em que pese não ter consciência psiciológica, mas por meio do seu órgão diretivo por ser coagido a não praticar mais a conduta. É uma coação objetiva sobre a pessoa jurídica.
	
	
	Não há ofensa ao princípio da personalidade, porque não passa da pessoa jurídica, não alcançando outros que não a pessoa jurídica.
A mesma tese poderia ser aplicada no crime de homicídio em relação à família do condenado, que fica preso durante muito tempo prejudicando o sustento familiar e a convivência familiar e as repercussões morais.
Os sócios e trabalhadores vão sofrer conseqüências nefastas da pena, mas não a própria pena.
	
JURISPRUDÊNCIA do STJ:
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. DENÚNCIA. INÉPCIA. SISTEMA OU TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO. NULIDADE DA CITAÇÃO. PLEITO PREJUDICADO.
I - Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que "não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio" cf. Resp nº 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJ de 13/06/2005 (Precedentes).
II - No caso em tela, o delito foi imputado tão-somente à pessoa jurídica, não descrevendo a denúncia a participação de pessoa física que teria atuado em seu nome ou proveito, inviabilizando, assim, a instauração da persecutio criminis in iudicio (Precedentes).
III - Com o trancamento da ação penal, em razão da inépcia da denúncia, resta prejudicado o pedido referente à nulidade da citação.
Recurso provido. �
CRIMINAL. RESP. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO-AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADAPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE COLETIVO. ACUSAÇÃO ISOLADA DO ENTE COLETIVO. IMPOSSIBILIDADE. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. DEMONSTRAÇÃO NECESSÁRIA. DENÚNCIA INEPTA. RECURSO DESPROVIDO.
I. A Lei ambiental, regulamentando preceito constitucional, passou a prever, de forma inequívoca, a possibilidade de penalização criminal das pessoas jurídicas por danos ao meio-ambiente.
III. A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas de punição das condutas lesivas ao meio-ambiente,mas como forma mesmo de prevenção geral e especial.
IV. A imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na suposta incapacidade de praticarem uma ação de relevância penal, de serem culpáveis e de sofrerem penalidades.
V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico e pratica atos no meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível de responsabilização penal.
VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade social, e a culpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à vontade do seu administrador ao agir em seu nome e proveito.
VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.
VIII. "De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante legal ou contratual ou de seu órgão colegiado.".
IX. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multas, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza jurídica.
X. Não há ofensa ao princípio constitucional de que "nenhuma pena passará da pessoa do condenado...", pois é incontroversa a existência de duas pessoas distintas: uma física - que de qualquer forma contribui para a prática do delito - e uma jurídica, cada qual recebendo a punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva.
XI. Há legitimidade da pessoa jurídica para figurar no pólo passivo da relação processual-penal.
XII. Hipótese em que pessoa jurídica de direito privado foi denunciada isoladamente por crime ambiental porque, em decorrência de lançamento de elementos residuais nos mananciais dos Rios do Carmo e Mossoró, foram constatadas, em extensão aproximada de 5 quilômetros, a salinização de suas águas, bem como a degradação das respectivas faunas e floras aquáticas e silvestres.
XIII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.
XIV. A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa jurídica é a própria vontade da empresa.
XV. A ausência de identificação das pessoa físicas que, atuando em nome e proveito da pessoa jurídica, participaram do evento delituoso, inviabiliza o recebimento da exordial acusatória.
XVI. Recurso desprovido. �
OBSERVAÇÃO: encontrei uma decisão recente do TRF1, no sentido de admissão da condenação da PJ independentemente da pessoa física: PENAL. PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL. PESSOA JURÍDICA. ISOLADAMENTE. POSSIBILIDADE. ART. 225, § 3º, DA CF. ART. 3º DA LEI 9.605/98. MANDADO DE SEGURANÇA DENEGADO. 1. O legislador constituinte admitiu a responsabilização penal das pessoas jurídicas, objetivando proteger o meio ambiente da degradação, posto que considerado essencial à sadia qualidade de vida e merece ser preservado para as presentes e futuras gerações. 2. A dicção do art. 225, § 3º, da CF/88 permite concluir que a responsabilização penal da pessoa jurídica independe da responsabilização da pessoa natural. Pode, assim, a denúncia ser dirigida apenas contra o ente coletivo, caso não se descubra autoria ou participação de pessoas físicas; ou, se dirigida contra ambas, física e jurídica, ser recebida apenas quanto a esta, uma vez configuradas hipóteses de rejeição contra aquela. 3. A lei ambiental não condicionou a responsabilidade penal da pessoa jurídica à da pessoa física, apenas ressalvou que as duas formas de imputação não se excluem, como se extrai do disposto no art. 3º, parágrafo único, da Lei 9.605/98. 4. Recente decisão do STF, no julgamento do AgR no RE n. 628.582/RS, consignou ser possível a condenação da pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvida a física. Decisão de 21/03/2012, sem disponibilizar número do MS.
TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL CONTRA PESSOA JURÍDICA: utilização do HC para pessoas físicas, mas do mandado de segurança para os casos de pessoas jurídicas, uma vez não envolver liberdade de locomoção.
3 PENAS
Dos artigos 7o. a 13 há a disciplina penal das penas aplicáveis às pessoas físicas:
Artigo 7o.: PRD não consta o requisito de reincidência específica. É norma especial, não podendo ser aplicada a regra do artigo 44, CP, assim o réu em reincidente doloso nos crimes ambientais pode ter direito à substituição.
Artigo 16: SURSIS (pena até 03 anos) (período de prova de 02 a 04 anos). O CP traz hipóteses: SURSIS COMUM (máximo de pena: 02 anos) (período de prova de 02 a 04 anos), SURSIS ETÁRIO (maior que dois anos 04 anos) e SURSIS HUMANITÁRIO (maior que dois anos e até 04 anos); período de prova dos dois últimos de 04 a 06 anos. Podem ser aplicados os SURSIS ETÁRIO e o SURSIS HUMANITÁRIO os crimes ambientais, já que normas gerais do CP aplicam-se a normas especiais (artigo 12, CP), com as seguintes modificações de prazo de pena: até 03 anos e de 03 anos a 04 anos).
Artigo 13: RECOLHIMENTO DOMICILIAR que é distinto da prisão domiciliar (forma de aplicação de pena). No artigo 13, trata-se de PRD. 
Artigo 12: PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA é aplicável às pessoas físicas (vítima ou entidade pública) (valor pago será deduzido, os beneficiários podem não coincidir). Pode ser comparado com o artigo 45, § 1o., CP (vítima, dependentes ou entidade pública) (valor pago será deduzido se coincidente os beneficiários).
Artigos 21 a 24: penas aplicáveis às pessoas jurídicas.
Artigo 21: são penas principais, não sendo substitutivas .
Artigo 22, § 3o.: há imposição de limite máximo. Em todas as demais penas não há previsão de limites mínimos e máximos, se não estivessem presentes as penas são inconstitucionais por ofensa ao princípio da legalidade.
TRF2: não há ilegalidade em face do artigo 79 da Lei 9605, com a aplicação subsidiária das regras do CP e do CPP (outro processo da PETROBRÁS, MS, advogado NILO BATISTA). No CP (artigo 55), há a previsão de mesma duração da PRD das PPL. Assim as penas previstas no artigo 21 terão seus limites mínimos e máximos calculados com referência nas condutas incriminadas na lei ambiental, aplicando-se os parâmetros dos tipos penais, EXEMPLO: artigo 29, Lei 9.605. No artigo 46, CP, a penas de prestação de serviços à comunidade somente pode ser aplicada às PPL superiores a 6 meses. 
4 ASPECTOS PROCESSUAIS
NILO BATISTA: não há devido processo legal para regular o processo contra a pessoa jurídica, a lei não previu. 
TRF2: a ausência de norma disciplinadora não determinar que a pessoa jurídica possa ser processada criminalmente, porque o artigo 79 prevê a aplicação subsidiária do CPP.
TRF5: A citação da pessoa jurídica deve ser feita na pessoa do seu representante legal, nulidade da citação feita a preposto sem poderes para recebê-la.
TRF4: O interrogatório da pessoa jurídica será realizado por aquele que estava no centro de decisão dos fatos. Obviamente, que se houver colidência de interesses não será ouvido em nome da pessoa jurídica. Preposto não pode falar em nome da pessoa jurídica. A pessoa jurídica não pode mandar qualquer preposto para ser interrogado, porque o interrogatório é meio de defesa e de prova, dada a natureza jurídica do interrogatório não é possível ser interrogado quem nada conhece dos fatos (isso é inaceitável). Deverá ser interrogado quem conhecer os fatos, o representante legal ou de quem estiver no centro da decisão, se órgão colegiado aqueles que compuserem o órgão. ATENÇÃO: se houver colidência de defesas, o que não é admissível no DPP, o diretor será interrogado como pessoa física que tenha praticado o crime. se houver outro diretor (que não tenha colidência) pode ser interrogado. Mas se não houver ninguém, a pessoa jurídica ficará SEM ser interrogada naquele processo específico.
Competência: antesda lei 9.605, estava em vigor o Código de proteção à fauna que dizia que fauna silvestre pertencia à União. O STJ entendendo que era bem da União (artigo 109, IV, CF) editou a súmula 91. Com a lei a súmula foi cancelada.
Súmula: 91 do STJ – Compete A Justiça Federal Processar E Julgar Os Crimes Praticados Contra A Fauna. (Na sessão de 08/11/2000, a Terceira Seção deliberou pelo CANCELAMENTO da Súmula n. 91) 
Julgados sobre o assunto:
PROCESSO PENAL. "HABEAS CORPUS". CRIME AMBIENTAL. PESCADO DESACOMPANHADO DA DOCUMENTAÇÃO DE ORIGEM. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. DENÚNCIA. FALTA DE JUSTA CAUSA. INÉPCIA. NÃO OCORRÊNCIA. AÇÃO PENAL. TRANCAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. 1. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, proteger o meio ambiente, combater a poluição em qualquer de suas formas, preservar as florestas, a fauna e a flora (CF, artigo 23, incisos VI e VII). 2. A competência para o processo e julgamento dos crimes contra o meio ambiente, após a edição da Lei n. 9.605/1998, somente será da Justiça Federal se houver lesão a bens, serviços ou interesses da União. 3. Cuidando-se de delito praticado em Rio Federal (Rio Amazonas), resta configurada, em princípio, a existência de lesão a bens, serviços ou interesses da União e, por conseqüência, a competência da Justiça Federal. Preliminar de incompetência rejeitada. Decisão de 09/04/2012, sem dizer número do HC.
PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL (LEI Nº 9.605/98). UNIDADE DE CONSERVAÇÃO FEDERAL. UTILIZAÇÃO DE MOTOSSERRA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO. UNIÃO FEDERAL. BENS, SERVIÇOS E INTERESSES. LESÃO. COMPROVAÇÃO. JUSTIÇA FEDERAL. COMPETÊNCIA. 1. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas e bem assim preservar as florestas, a fauna e a flora (art. 23, IV e VII, CF/88). 2. A competência para o processo e julgamento dos crimes contra o meio ambiente, após a edição da Lei nº 9.605/98, somente será da Justiça Federal se houver lesão a bens, serviços ou interesses da União, ou seja, por exemplo, praticados no interior de Unidades de Conservação criadas e administradas pelo Poder Público Federal (Reservas Biológicas, Reservas Ecológicas, Estações Ecológicas, Parques Nacionais, Florestas Nacionais, Áreas de Proteção Ambiental, Áreas de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas). 3. É competente a Justiça Federal para processar e julgar ação penal pela prática de delito ambiental consistente em dano direto causado pela utilização de motosserra em Unidade de Conservação Federal (Estação Ecológica de Anavilhanas). 4. Recurso provido. Decisão de 11/01/2011, sem dizer número processo.
PENAL. PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. CRIME AMBIENTAL. ARTIGOS 46, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 9.605/98. FALSIFICAÇÃO IDEOLÓGIA. ART. 299 DO CÓDIGO PENAL. CONEXÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. A Constituição Federal dispôs, expressamente, ser competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios "proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas" e "preservar as florestas, a fauna e a flora" (art. 23, incisos VI e VII), bem como terem a União, os Estados e o Distrito Federal competência legislativa concorrente no que se refere a "florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição" (art. 24, inciso VI). 2. O eg. Supremo Tribunal Federal já se pronunciou a respeito da matéria atinente à competência para processar e julgar os chamados crimes ambientais, tendo decidido que a Justiça Federal somente terá competência para processar e julgar crimes ambientais em que o interesse da União for direto e específico. 3. In casu, noticia-se, além do crime ambiental, a possível prática do delito previsto no art. 299 do Código Penal, conexo àquele, ante a suposta inserção de declaração falsa em documento emitido por autarquia federal. 4. Trata-se de imputação não apenas de suposto comércio e transporte de madeira sem a devida autorização do IBAMA, como também do uso de ATPF falsificadas, motivo pelo qual se vislumbra interesse direto e específico da União, o que, nos termos de precedente jurisprudencial do eg. Superior Tribunal de Justiça, atrai a competência da Justiça Federal para o processamento e julgamento do processo que originou o presente recurso em sentido estrito. 5. A aplicação do princípio da consunção pressupõe a existência de um delito como fase de preparação ou execução de outro mais grave, impondo sua absorção. Desse modo, não se pode admitir que o crime de falsidade ideológica, cuja pena abstrata varia de 1 (um) a 5 (cinco) anos de reclusão (documento público), seja absorvido pelo crime ambiental do art. 46, parágrafo único, da Lei 9.605/98, cuja pena varia de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção. No caso, os acusados, além de comercializarem madeira sem licença válida para todo o tempo de viagem, inseriram declarações diversas das que deviam constar na Autorização de Transporte de Produto Florestal (ATPF), em prejuízo da atividade fiscalizatória do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, praticando, assim, crimes autônomos, pois um não constitui fase normal de preparação ou execução de outro, bem como tutelam bens jurídicos diversos, de um lado a fé pública e de outro a proteção ao meio ambiente. 6. Decisum reformado. 7. Recurso criminal provido. RSE 126820094013804; Data da Decisão 08/06/2010.
PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME AMBIENTAL. PROPRIEDADE PARTICULAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. I - É a Justiça Estadual competente para processar e julgar os crimes ambientais, salvo aqueles casos em que haja interesse direto e específico da União. Precedentes. II - Recurso desprovido com a remessa dos autos ao Juízo competente. (TRF1. RSE 200930000037871. Des. Cândido Ribeiro. Julgado em 13.4.2010)
PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESERVA INDÍGENA. INSTALAÇÃO DE MATADOUROS CLANDESTINOS. JUSTIÇA FEDERAL. COMPETÊNCIA. I - É a Justiça Federal competente para processar e julgar os crimes ambientais nos casos em que haja interesse direto e específico da União. II - Crime ambiental (instalação de matadouros clandestinos) ocorrido no interior de reserva indígena, causa lesão a bens, serviços e interesses da União, nos termos do art. 20, XI, da CF/88, justificando-se a competência da Justiça Federal. III - Recurso provido. (TRF1. RCCR 20064200001699. Des. Cândido Ribeiro. Julgado em 17.10.2006)
Assim, a competência da justiça federal somente será quando haja lesão a bens da União suas autarquias ou empresas públicas.
Crimes contra o meio ambiente (art. 225, § 3º, da CF; Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998).
I. Meio ambiente (conceito).
Conceito de “meio ambiente” : “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” (art. 3º, da Lei nº 6.938/81).
	José Afonso da Silva afirma que o conceito pode ser visto sob três aspectos (3: 1998) : 
1) meio ambiente artificial : espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (ruas, praças etc.); 
2) meio ambiente cultural : integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial, em regra, como obra do ser humano, difere do anterior, pelo sentido de valor especial que adquiriu; 
3) meio ambiente natural ou físico : constituído pelo solo, a água, o ar, a flora, isto é, pela interação dos seres vivos e seu meio.
II. Tipos penais ambientais.
	Os tipos penais ambientais dispõem de algumas “peculiaridades” (Freitas et al., 35-38 : 2001) :
1) necessidade da adoção de normas penais em branco com certa freqüência, tendo em conta a impossibilidade de descrever detalhadamente as condutas;
2) utilização com freqüência de tipos com ação múltipla (“matar, perseguir,caçar, apanhar, utilizar” etc.); 
3) emprego também freqüente de “tipos penais abertos” (“não aparece expressa, por completo, a norma que o agente transgride com seu comportamento”);
	4) adoção em vários dispositivos de elementos normativos do tipo (“sem licença”, “sem permissão”, “em desacordo com a determinação legal obtida”).
CRIMES AMBIENTAIS E IMPUTAÇÃO OBJETIVA: o ordenamento jurídico é feito para ser harmônico, com inexistência de normas conflitantes. Nos crimes ambientais, como existem muitas aberturas nos tipos penas incriminadores (leis penais em branco e elementos normativos do tipo), caso o agente pratique condutas nos termos da lei (desmatamento com autorização do IBAMA), não se trata de exclusão de ilicitude, mas sim de exclusão do próprio tipo penal incriminador.
	
III. Bem jurídico protegido.
	Nos crimes ambientais o “bem jurídico protegido é o meio ambiente em toda sua amplitude, na abrangência do conjunto.” (Freitas et al., 39 : 2001).
IV. Crimes de dano e de perigo.
	Há necessidade de prevenir o dano, porque muitas vezes o meio ambiente não será recuperável (princípio da prevenção). Assim, em virtude das peculiaridades do “tipo penal ambiental”, justifica-se a adoção de dispositivos nos quais a punição não pressupõe o dano efetivo, bastando o simples perigo (Freitas et al., 40 : 2001).
	Por outros termos, em diversas hipóteses prescinde-se do dano efetivo para se considerar caracterizado o delito.
	
V. Excludentes da antijuridicidade.
	O art. 37, da Lei nº 9.605/98 detalha algumas causas específicas de excludentes da antijuridicidade, ou seja, “não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III – (Vetado) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.”
VI. Sujeitos ativo e passivo dos delitos ambientais.
1) Sujeito ativo : pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica. No entanto, existem hipóteses de crimes próprios ou especiais, de mão própria ou de atuação especial, como nas hipóteses de crimes contra a administração ambiental, os quais são praticados por funcionário público (Freitas et al., 45 : 2001). 
2) Sujeito passivo : “O detentor do bem jurídico que a conduta lesou ou ameaçou”, isto é, “em princípio, a coletividade” (Freitas et al., 45 : 2001); porém, o delito pode ter dois ou mais sujeitos passivos, como, por exemplo, quando o autor “ingressa em um parque nacional, derruba e subtrai árvores – serão sujeitos passivos a coletividade e a União” (idem).
VII. Concurso de agentes.
1) Admite-se, por evidente, o concurso de agentes, mesmo em se tratando de crime próprio (p.ex. funcionário público), pois se transmite a circunstância elementar (Freitas et al., 48 : 2001);
2) A lei veicula disposição específica (art. 2º), com explicitação de todos os possíveis participantes do concurso envolvendo pessoa jurídica : “o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica”. Assim, o concurso poderá envolver qualquer componente ou integrante da pessoa jurídica, o qual, sabedor da conduta ilícita de outrem, não impede a prática, podendo ou devendo evitá-la;
3) A disposição do art. 2º, 2ª parte, conteria uma impropriedade, porque prevê espécie de delito omissivo impróprio, sem o correspondente tipo penal (Milaré et al. 40: 2002). 
VIII.	Responsabilidade penal e pessoa jurídica.
1) Constitucionalidade da norma que prevê a responsabilidade penal da pessoa jurídica: 
a) inconstitucional, porque não haveria responsabilidade objetiva (não há como aferir culpabilidade, se a vontade decorre dos órgãos, e não da pessoa moral); 
b) deve-se compreender que a responsabilidade é social, e não se funda no critério tradicional de culpabilidade subjetiva, de sorte que não há inconstitucionalidade (Neste sentido : Milaré et al. 21-23 : 2002); 
c) a Constituição admite a responsabilidade, expressamente, no art.225, § 3º, da CF (Freitas et al., 66-67 : 2001; José Geraldo da Silva et al. 52-53: 2002);
2) Pressupostos para a constituição da responsabilidade : 
a) pessoa jurídica de direito privado, e não de direito público (pessoas políticas) CF (Freitas et al., 67-69 : 2001); há intensa discussão se pessoas políticas poderiam cometer crimes ambientais, com divisão doutrinária mas ainda sem manifestação do STJ e STF;
b) que o ato tenha sido praticado por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado (art. 3º);
c) que o delito tenha sido praticado “no interesse ou benefício” da entidade (art. 3º).
3) Medida Provisória nº 1.710/98 : na edição original e nas edições subseqüentes estabelece prazo para as pessoas jurídicas “realinharem suas condutas”. Pode implicar em anistia, causa de extinção da punibilidade (art. 107, inc. III, Cód. Penal).
4) Penas aplicáveis às pessoas jurídicas (arts. 21 a 24, da Lei nº 9.605/98): 
a) multa : fixada na forma do Código Penal; 
b) restritivas de direitos (duração máxima: a mesma duração da pena privativa de liberdade : art. 55, do CP) : suspensão parcial ou total de atividades, interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade e proibição de contratar com o Poder Público; 
c) prestação de serviços à comunidade: custeio de programas e de projetos ambientais, execução de obras de recuperação, manutenção de espaços públicos e contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
IX. Dos crimes contra o meio ambiente (Capítulo V).
1) Crimes contra a fauna (Seção I).
a) Fauna silvestre (conceito): § 3º, do art. 29, da Lei nº 9.605/98. Incluídos no conceito: invertebrados, mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e insetos (Freitas et al., 75 : 2001); porém, para fins do art. 29 (caça etc.) a lei não tutela os animais exóticos, i. é, aqueles completamente estranhos à fauna brasileira (Freitas et al., 76: 2001), embora os preserve de abusos, maus-tratos, ferimentos ou mutilações (art. 32).
b) Condutas típicas (exemplos) : 1) a caça de animais sem autorização ou licença (art.29); 2) a venda, compra ou exportação de animais silvestres (art. 29, § 1º, inc. III); 3) a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis (art. 30); 4) a introdução de espécie animal no País, sem autorização (art.31); 5) abuso, maus-tratos ou mutilação de animais silvestres, domésticos ou exóticos (art.32); 6) a pesca em período proibido ou lugares interditados (art.34), ou mediante explosivos e substâncias tóxicas (art. 35) etc..
2) Crimes e contravenções contra a flora (Seção II).
a) Flora (conceito) : “conjunto de plantas de uma determinada região ou período listadas por espécies e consideradas como um todo” (Glossário de ecologia apud Freitas et al., 114: 2001). Portanto : i. a flora refere-se “a plantas e floresta, à extensão de árvores” (idem); ii. incluem-se no conceito : fungos, bactérias do solo, musgos, bromeliáceas etc. (ibidem); 
b) Floresta (conceito) : “formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais ou menos extensa” (Anexo I da Portaria nº 486-P/86, item 18, apud Milaré et al. 103: 2002); 
c) A proteção atinge situações intermediárias (e não apenas formações arbóreas de grande porte), bem como as florestas de preservação permanente ou as que se encontram em formação (arts. 2º e 3º, do Cód. Florestal), além das florestas que integram o patrimônio indígena (art. 3º, § 2º, idem) e as florestas artificiais de preservação permanente (arts. 12 e 18, ibidem) (Milaré et al. 104-105: 2002; Freitas et al., 116: 2001).
d) Condutas típicas (exemplos) : 1) destruir ou danificar floresta (art. 38); destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio deregeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção (tipo penal acrescentado pela Lei 11.428/2007); 2) provocar incêndio em mata ou floresta (art. 41); 3) fabricar, vender ou soltar balões (art. 42); 4) cortar ou transformar madeira de lei em carvão (art. 45); 5) receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença (art. 46); desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente (art. 50-A, tipo penal acrescentado pela Lei 11.284/2006. Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família. Se a área explorada for superior a mil hectares, a pena será aumentada de 1 ano por milhar de hectare) etc..
e) Com o advento da Lei nº 9.605/98 várias condutas relativas à tutela da flora foram tipificadas como crime, embora anteriormente constassem como contravenções penais; todavia, por razões de política criminal, quatro tipos contravencionais foram mantidos, a saber, aqueles previstos nas alíneas “e”, “j”, “l” e “m”, do art.26, da Lei nº 4.771/65. Essa é a posição da maioria da doutrina (LFG e Sílvio Maciel). Contudo, como o novo Código Florestal (lei 12651) revogou a lei 4771, o que acabou com discussão sobre manutenção das contravenções penais em nível de direito penal ambiental.
3) Da poluição e dos outros crimes ambientais (seção III).
a) Poluição (conceito) : art. 3º, inc. III, da Lei Federal nº 6.938/81.
b) Condutas típicas (exemplos) : 1) causar poluição de qualquer natureza (art. 54); 2) executar pesquisa ou extração de recursos minerais sem autorização, licença etc. (art. 55); 3) produzir, processar, embalar, importar, etc., produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente (art.56); 4) construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores (art. 60); 5) disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas (art.61) etc..
4) Dos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (seção IV).
a) Cuida da tutela àquelas outras categorias contidas no conceito de “meio ambiente” (artificial e cultural);
b) Disciplina normativa: arts.5º , inc. LXXII, e 216, da Constituição Federal (patrimônio cultural brasileiro); Decreto Legislativo nº 74, de 30.6.1977, e Decreto nº 80.978, de 12.12.1977 (Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural );
c) Condutas típicas (exemplos): 1) destruir, inutilizar ou deteriorar bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, ou arquivo, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial (art. 62); 2) alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão do valor paisagístico, ecológico, turístico etc. (art. 63); 3) promover construção em solo não edificável ou seu entorno, em razão do valor paisagístico, ecológico, turístico etc. (art. 64); 4) Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano (art. 65).
5) Dos crimes contra a administração ambiental (seção V).
a) Dispõe sobre os crimes cometidos por “funcionário público” (arts. 66 e 67), bem como pelo particular (arts. 68 e 69) contra a “administração pública ambiental” (art. 69-A, acrescentado pela Lei 11.284/2006: é crime elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão. Há previsão de modalidade culposa e também aumento de pena, se há dano significativo para o meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa);
b) Funcionário público (conceito) : art.327, do Código Penal.
c) A competência poderá ser atribuída à Justiça Federal, caso o órgão ambiental pertença à União (IBAMA);
d) Condutas típicas (exemplos): 1) fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade ou sonegar informações em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental (art. 66); 2) conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais (art. 67); 3) deixar de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental, quando tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo (art. 68); 4) obstar ou dificultar a ação fiscalizadora no trato de questões ambientais (art. 69).
X. Aplicação das penas.
1) Fixação: o art. 6º, da Lei nº 9.605/98, deve ser conjugado com o art. 59, do Cód. Penal, quanto à fixação da pena nos crimes ambientais (Milaré et al. 45: 2002);
2) Suspensão condicional da pena : pode ser aplicada nos casos de condenação não superior a três (03) anos (art. 16), ou seja, admite-se em limite superior àquele disposto no Cód. Penal (art.77);
3) Penas restritivas de direitos (art, 7º) : 
a) admitidas, em substituição às penas privativas de liberdade, em hipóteses similares àquelas previstas no art. 44, do Código Penal; 
b) espécies (art. 8º) : i) prestação de serviços à comunidade (art. 9º); ii) interdição temporária de direitos (10º) ; iii) suspensão parcial ou total de atividade (art.11); iv) prestação pecuniária (art. 12); v) recolhimento domiciliar (art.13);
4) Circunstâncias agravantes e atenuantes : 
a) a Lei nº 9.605/98 contém disposições específicas sobre as circunstâncias agravantes e atenuantes nos crimes ambientais (arts. 14 e 15) ; 
b) além das agravantes genéricas, a Lei nº 9.605/98 estabelece causas especiais de aumento de pena em algumas hipóteses (arts. 29, § § 4º e 5º, e 58);
XI. Aspectos processuais.
1) Competência: Conforme a regra geral, a competência da Justiça Federal, na forma do art. 109, IV, da Constituição Federal, restringe-se às hipóteses em que os crimes ambientais são perpetrados em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas autarquias ou empresas públicas.
A competência para o julgamento dos crimes ambientais, em princípio, é adjudicada à Justiça Estadual, salvo se houver interesse direto e específico da União, ou de suas autarquias ou empresas públicas. 
Por outro lado, em algumas hipóteses, a competência da Justiça Federal pode decorrer de tratado, como se verifica no caso do delito previsto no art.31, da nº 9.605/98 (Freitas et al., 94 : 2001).
São interessantes os seguintes precedentes jurisprudenciais no que diz respeito à competência para o julgamento dos crimes ambientais: 
Competência. Crime previsto no artigo 46, parágrafo único, da Lei n.º 9.605/98. Depósito de madeira nativa proveniente da Mata Atlântica. Artigo 225, § 4º, da Constituição Federal.
– Não é a Mata Atlântica, que integra o patrimônio nacional a que alude o artigo 225, § 4°, da Constituição Federal, bem da União.
– Por outro lado, o interesse da União para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no artigo 109, IV, da Carta Magna tem de ser direto e específico, e não, como ocorre no caso, interesse genérico da coletividade, embora aí também incluído genericamente o interesse da União.
– Conseqüentemente, a competência, no caso, é da Justiça Comum estadual.
Recurso extraordinário não conhecido (RE 300244/SC, 1ª Turma, Rel. Min. MOREIRA ALVES, julgado em 20/11/2001, DJ 19-12-2001 PP-00027).
EMENTA: (1) Habeas Corpus. Crime previsto no art. 46, parágrafo único, da Lei nº 9.605, de 1998 (Lei de Crimes Ambientais). Competência da Justiça Comum (2) Denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal perante a Justiça Federal com base em auto de infração expedido pelo IBAMA. (3) A atividade de fiscalização ambiental exercida pelo IBAMA, ainda querelativa ao cumprimento do art. 46 da Lei de Crimes Ambientais, configura interesse genérico, mediato ou indireto da União , para os fins do art. 109, IV, da Constituição. (4) A presença de interesse direto e específico da União, de suas entidades autárquicas e empresas públicas - o que não se verifica, no caso -, constitui pressuposto para que ocorra a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IV, da Constituição. (5) Habeas Corpus conhecido e provido. �
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIMES CONTRA A FAUNA. SÚMULA 91/STJ. INAPLICABILIDADE APÓS O ADVENTO DA LEI 9.605/98. CRIME DE PESCA MEDIANTE UTILIZAÇÃO DE PETRECHOS NÃO PERMITIDOS. RIO INTERESTADUAL (ARTIGO 20, INCISO III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). BEM DA UNIÃO. EXISTÊNCIA DE LESÃO A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
1. Em sendo a proteção ao meio ambiente matéria de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e inexistindo, quanto aos crimes ambientais, dispositivo constitucional ou legal expresso sobre qual a Justiça competente para o seu julgamento, tem-se que, em regra, o processo e julgamento dos crimes ambientais é de competência da Justiça Comum Estadual.
2. Inaplicabilidade da Súmula nº 91/STJ, após o advento da Lei nº 9.605, de fevereiro de 1998. Cancelamento da Súmula na Sessão de 8 de novembro de 2000.
3. "São bens da União: os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;" (artigo 20, inciso III, da Constituição da República).
4. Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de pesca mediante a utilização de petrechos não permitidos (artigo 34, parágrafo único, inciso III, da Lei nº 9.605/98) praticado em rio interestadual. Incidência do artigo 109, inciso IV, da Constituição da República.
5. Conflito conhecido para que seja declarada a competência do Juízo Federal da 1ª Vara de Araraquara - SJ/SP, o suscitante. �
OBS: Contudo, a competência será da Justiça Federal quando o crime cometido contra a fauna ou a flora for cometido em bens de propriedade da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas federais, tais como unidade de conservação � ou no mar territorial �. 
2) Outras questões processuais : 
a) ação penal: será sempre pública e incondicionada (art. 26); 
b) procedimentos, transação e suspensão: i) aplicabilidade das Leis nºs 9.099/95 e 10.259/01 (Juizados Especiais Criminais) aos casos em que a lei comine pena máxima não superior a um ano; ii) em princípio, todos os crimes ambientais admitem transação ou suspensão do processo, tendo em conta as quantidades máximas das penas cominadas; 
c) perícia: i) a perícia de “constatação” do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa (art. 19, caput); ii) a perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, desde que observado o contraditório (art. 19, par. ún.); 
d) sentença: tanto que possível, a sentença condenatória fixará o valor mínimo para reparação dos danos resultantes do crime (art.20), sem prejuízo de liquidação do valor efetivo do prejuízo (art.20, par. ún.).
	
Crimes ambientais X Princípio da insignificância.
A jurisprudência do TRF da Primeira Região é no sentido de não se aplicar o princípio da insignificância em relação aos crimes ambientais, ou então sua aplicação com muita parcimônia, em razão da indisponibilidade do bem jurídico protegido e da necessidade de dissuasão da prática dos delitos atentatórios ao meio ambiente. Além disso, em muitos julgados pude perceber que a possibilidade de ser o dano irreversível também fundamenta a não aplicação do princípio. Tentei pegar decisões de formas mais variadas!
PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 40 DA LEI Nº 9.605/98. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. APA DO RIO SÃO BARTOLOMEU. DISTRITO FEDERAL. CAUTELA NA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. DANO NÃO PROVOCADO PELO RÉU. 1. O art. 40 da Lei n° 9.605/98, consistente em "causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação", trata de crime material, que depende da ocorrência de resultado naturalístico para se caracterizar, ou seja, da efetiva causação de dano, direto ou indireto, à unidade de conservação. É delito de perigo abstrato, pois o prejuízo ao meio ambiente é presumido caso a conduta seja praticada. 2. Nos delitos ambientais, o princípio da insignificância deve ser apreciado com zelo e cautela diferenciados, eis que a prática de condutas contra o meio ambiente, a qual poderia, isoladamente, ser considerada de menor potencial ofensivo, e, por isso mesmo, menos lesiva, quando considerada em conjunto, afeta o interesse público, pois, somada com outras, reclamam real extensão do dano provocado ao equilíbrio ambiental por pequenas ações. 3. É que a biota, conjunto de seres animais e vegetais de uma região, pode se revelar extremamente diversificada, ainda que em nível local. Em pequenas áreas podem existir espécimes só ali encontradas, de forma que determinadas condutas, inicialmente insignificantes, podem conter potencialidade suficiente para causar danos irreparáveis ao meio ambiente. 4. Verificada a falta de justa causa para a ação penal, quando não há provas de ter sido o dano ambiental causado pelo réu. Decisão de 16/07/2012, RESE sem número.
PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. ART. 55 DA LEI 9.605/98. CRIME DE USURPAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO. ART. 2º DA LEI 8.176/91. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO LEGAL. CONFLITO APARENTE DE NORMAS. INEXISTÊNCIA. ART. 55 DA LEI 9.605/98. PRESCRIÇÃO EM ABSTRATO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. ERRO DE PROIBIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. ART. 2º DA LEI 8.176/91. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. 1. Há concurso formal de delitos, e não conflito aparente de normas entre os crimes previstos no art. 2º da Lei 8.176/91 (explorar matéria-prima pertencente à União Federal sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizador) e no art. 55, caput, da Lei 9.605 (lavra clandestina de minério), consoante entendimento do Supremo Tribunal Federal (HC 89878/SP). (...). 3. O princípio da insignificância não se aplica aos crimes ambientais, em razão da indisponibilidade do bem jurídico protegido. Precedentes do TRF/1ª Região. (...). ACR 200841000023331; 16/07/2012.
PENAL. PROCESSO PENAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE EM RELAÇÃO A UM DOS RÉUS. ARTIGO 107, I, DO CÓDIGO PENAL. CRIME AMBIENTAL. PESCA EM LOCAL PROIBIDO (ARTIGO 34, CAPUT, DA LEI N. 9.605/98). PESCA DE ESPÉCIME DE TAMANHO INFERIOR AO PERMITIDO PELA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL (ARTIGO, 34, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO I, DA LEI 9.605/98). INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. POSSIBILIDADE. 2. A tese da insignificância em crimes ambientais deve ser aplicada com cautela. Hipótese, contudo, que comporta tal excepcionalidade, pois o acusado foi flagrado pescando para consumo próprio, com apetrechos de pesca amadora, embora em local proibido. Estava na posse de apenas 3,5 Kg (1 dourado e 4 tucunarés), o que, sequer, representa risco potencial ao equilíbrio ecológico, ainda mais por se tratarem de espécies que não estão ameaçadas de extinção. 3. Do mesmo modo, deve ser reconhecida a atipicidade material do delito do artigo 34, parágrafo único, I, da Lei n. 9.605/98, pois, embora o acusado tenha sido flagrado com espécime de tamanho inferior ao permitido pela legislação ambiental (com 05 centímetros abaixo do permitido), trata-se apenas de um pescado (1 dourado), o que não configura lesão considerável ao bem jurídico tutelado. ACR 201038020006217; 29/05/2012.
PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO. EXPLORAÇÃO DE ARGILA. ARTIGO 2º, LEI N. 8.176/1991. ARTIGO 55, LEI N. 9.605/1998. CONCURSO FORMAL. MATERIALIDADE

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