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Fato Jurídico em Sentido Amplo

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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO 
 
 
 
 
 
 
 
DISCIPLINA: DIREITO CIVIL I 
DOCENTE: J. A. THENQUINI 
DISCENTES: 
JOÃO GUILHERME DOMINGOS 
JORGE LUIS 
JOSE FABRICIO DA SILVA NASCIMENTO 
NATEL LAUDO DA SILVA 
PAMELA PORFIRIO 
 
2 
 
Introdução 
 De início, pode-se sintetizar que “fato” é qualquer acontecimento. Porém, nem todos os 
acontecimentos têm relevância para o direito, pois não criam, extinguem ou modificam situações 
jurídicas. Apenas os fatos que produzem efeitos na seara do direito são chamados fatos jurídicos. 
 E no âmbito do estudo do direito, não há como menosprezar a apreciação do fato jurídico. 
 Para Stolze & Pamplona1, indiscutivelmente, fato jurídico é um conceito basilar, “verdadeira 
causa genética das relações jurídicas, e, bem assim, dos direitos e obrigações aí compreendidos”. 
Segundo os autores, “fora da noção de fato jurídico, pouca coisa existe ou importa para o direito. 
 A partir da definição de que fato jurídico é todo acontecimento de origem natural ou humana 
que gere consequências jurídicas, e segundo a Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale, ao 
lado da norma e do valor, o fato é elemento constitutivo do próprio direito. 
 Em uma definição mais ampla, e à luz da mais recorrente doutrina, pode-se conceituar fato 
jurídico como sendo todo o acontecimento, natural ou humano, capaz de criar, conservar, modificar, 
ou extinguir relações ou situações jurídicas. 
 Tão importante quanto o estudo conceitual do fato jurídico e sua classificação, é a percepção 
de que se faz necessária a noção dos efeitos que do fato decorrem: criar, modificar, conservar ou 
extinguir relações jurídicas. Assim, o conceito, a classificação e o estudo dos efeitos decorrentes do 
fato jurídico perfazem a abordagem pretendida neste trabalho. 
 
1. Conceito do fato jurídico em sentido amplo 
 O fato jurídico em sentido amplo pode ser entendido como todo fato que gere como 
consequência, uma relação jurídica. Ou seja, todo acontecimento que possa demandar o nascimento 
de um direito ou uma obrigação pode ser chamado de fato jurídico. 
 Segundo conceituação de Stolze & Pamplona, “Todo acontecimento, natural ou humano, que 
determine a ocorrência de efeitos constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos e obrigações, 
na órbita do direito, denomina-se fato juridico”2. 
 Acredita-se ter sido Friedrich Karl von Savigny quem primeiro empregou e definiu a 
expressão “fato jurídico”. A esse respeito, Caio Mário, a partir da concepção de Savigny, enuncia 
que “fatos jurídicos são os acontecimentos em virtude dos quais começam, se modificam ou se 
 
1 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil, volume 1: parte geral. 16ª ed. 
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 345. 
2 Idem. p. 345. 
3 
 
extinguem as relações jurídicas”3. 
 Stolze & Pamplona dão ainda mais especificidade à conceituação dizendo que “fato Jurídico 
em sentido amplo, seria todo acontecimento natural ou humano capaz de criar, modificar, conservar, 
ou extinguir relações jurídicas”4. 
 Maria Helena Diniz5 discorre sobre o tema de forma bastante semelhante, afirmando que 
"Fatos jurídicos seriam os acontecimentos, previstos em norma de direito, em razão dos quais 
nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações jurídicas". Para a autora, “O fato 
jurídico lato sensu é o elemento que dá origem aos direitos subjetivos, impulsionando a criação da 
relação jurídica". 
 Estabelecida a conceituação para fato jurídico, apresenta-se a seguir sua classificação, 
baseada na mais plausível doutrina. 
 
2. Classificação dos fatos jurídicos em sentido amplo 
 Conforme relatam Stolze & Pamplona6, a classificação dos fatos jurídicos em sentido amplo 
sofre muitas controvérsias pelos doutrinadores que se debruçam sobre esse tema. Basicamente 
podemos entender que o fato jurídico pode ser natural ou humano; conceituação genérica que será 
um pouco mais esmiuçada a seguir. 
Os fatos jurídicos nada mais são do que fatos sociais dos mais diversos, porém são somados 
ou atrelados à uma norma jurídica, ou seja, fato jurídico é um fato social regulado pelo direito. O 
conceito de fato jurídico em sentido amplo abarca todos os fatos sociais previstos e conhecidos pelo 
ordenamento jurídico brasileiro, porém é fundamental que saibamos classificá-los de acordo com as 
condições previstas na doutrina. O Código Civil de 2002 (CC-02) contém em seu livro III toda a 
previsão normativa dos fatos jurídicos em sentido amplo. 
Os fatos sociais que são interessantes ao direito podem ser: Naturais – aqueles provindos de 
fenômenos da natureza, ou como diz Diniz7, “advém de fenômeno natural, sem intervenção da 
vontade humana”; Humanos – aqueles acontecimentos ocorridos em função de ações humanas. 
Antes mesmo de relacionar as classificações dos fatos jurídicos é importante salientar que 
 
3 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. 1. Introdução ao Direito Civil: Teoria geral do 
Direito Civil. 23ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 392. 
4 Ob. cit. p. 346. 
5 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, volume 1: teoria geral do direito civil. 29ª ed. São Paulo: 
Saraiva, 2012. 
6 Ob. cit. p. 346. 
7 Ob. cit. 
4 
 
Stolze & Pamplona, na obra citada, afirmam que, em virtude do chamado “atecnia do CC-16”, 
ocorre uma discrepância muito grande nos critérios de classificação dos fatos jurídicos, além de um 
fato jurídico que acabou sendo omitido pelo CC-02, o qual demostra-se a seguir. 
Segundo Stolze & Pamplona8, por mais que não seja perfeita a disciplina empreendida pelo 
Novo Código Civil, uma vez que se omite, por exemplo, em institutos como ato-fato jurídico ou a 
enunciação expressa dos elementos de existência do negócio jurídico, o fato é que houve 
considerável e louvável inovação na legislação atual, trocando-se a expressão genérica ato jurídico 
pela designação mais especifica negócio jurídico. 
Feitas essas ponderações iniciais, apresenta-se a seguir a forma como estão classificados os 
fatos jurídicos em sentido amplo, pelos doutrinadores do Direito Civil no Brasil, haja visto que 
apesar de não haver consenso entre os mesmos, no que diz respeito aos critérios de classificação, 
existe uma certa congruência sobre como tipificá-los nos livros de doutrina. 
Antes, oportuno afirmar que Fato Jurídico em Sentido Amplo é um fato social tutelado pelo 
Direito, ou seja, é um fato que se faz presente nas relações sociais, porém, que interessa ao Direito 
tutelá-lo através de uma norma jurídica. Esses fatos podem ser de origem natural ou da natureza ou 
de origem humana, e para serem interessantes ao Direito, eles devem obrigatoriamente ser capazes 
de criar, modificar, conservar ou extinguir relações jurídicas9. 
Todos os itens propostos a seguir são subitens da amplitude do fato jurídico. 
 
2.1. Fatos de origem natural 
Segundo Diniz10, Fato Jurídico em Sentido Estrito compreende fatos naturais importantes ao 
direito, também chamados de fatos jurídicos Stricto Sensu. Para a autora, o fato jurídico stricto 
sensu traduz o acontecimento independente da vontade humana que produz efeitos jurídicos, 
criando, modificando ou extinguindo direitos. 
Esses fatos jurídicos podem ser subdivididos em ordinários e extraordinários. Como 
exemplo de fatos Stricto Sensu ordinários cita-se a morte, o nascimento, o decurso do tempo, etc). 
Para os fatos extraordinários tem-se ainda mais uma subclassificação: Caso Fortuito e Força Maior. 
Segundo Diniz11, para melhor fixação dos conceitos deve-se considerar que “No caso fortuito e naforça maior há sempre um acidente que produz prejuízo”. Exemplos de fatos extraordinários: Caso 
 
8 Ob. cit. p. 346. 
9 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil, volume 1: parte geral. 16ª ed. 
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 346. 
10 Ob. cit. p. 428. 
11 Ob. cit. 
5 
 
Fortuito – explosão de caldeira de usina que provoca morte; Força Maior – Raio que provoca 
incêndio. 
 
2.2. Fatos de origem humana 
Como visto, o fato jurídico em sentido amplo tem origem na natureza ou origem humana. 
Descritos os fatos naturais, propõe-se uma definição e classificação para os fatos humanos. 
Todos os fatos jurídicos que tem origem através de ação humana são denominados Atos 
Jurídicos em Sentido Amplo. Os fatos humanos ou jurídicos em sentido amplo são subdivididos em: 
atos jurídicos lícitos e atos ilícitos, cabendo salientar que os atos ilícitos não são denominados como 
jurídicos pela maioria dos doutrinadores, uma vez que a ação decorrente estaria contrariando 
alguma norma jurídica, e dessa forma não pode ser nominado de tal forma. 
A subdivisão dos atos jurídicos lícitos está proposta seguir. 
Ato Jurídico em Sentido Estrito compreende atos humanos, em todos os efeitos estão 
previstos em norma jurídica, ou como citado por Stolze & Pamplona, ocorrem nas situações em que 
se destaca juridicamente a ação da pessoa, seja com consequências jurídicas impostas pela lei e não 
escolhidas pelas partes, também chamado de ato jurídico meramente licito. Exemplo: 
reconhecimento de paternidade. 
No Negócio Jurídico, os efeitos também são escolhidos por ato voluntário, e haja posto tal 
ato voluntário, os demais efeitos serão regulados pela norma jurídica. Exemplo: compra e venda de 
veículo. 
Como mencionado anteriormente, existe uma terceira classificação de fato jurídico em 
sentido amplo, que existia no CC-16 e que fora suprimida na normatização do Novo Código Civil 
de 2002, que seria o Ato-Fato Jurídico. Tal supressão gera discordância por parte dos autores Stolze 
& Pamplona. 
Como será demonstrado em exemplo de jurisprudência, ver-se-á que, realmente, apesar de 
suprimida pelo novo CC-02, esta classificação ainda serve de base para argumentações de juristas, 
pelo fato de estar contida no conteúdo de doutrinas jurídicas contemporâneas. 
Na definição, Ato-Fato Jurídico é o ato jurídico que embora a atuação do homem seja da 
substância do fato jurídico, não importa para a norma se houve, ou não, manifestação de vontade 
em praticá-lo. 
Em decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, percebe-se que o encaminhamento 
6 
 
foi justamente fundamentada na diferenciação entre Ato-Fato Jurídico e Negócio Jurídico, pois tal 
percepção e embasamento acabou por direcionar o votos dos desembargadores. In verbis: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANO AMBIENTAL. 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. POSSIBILIDADE EM RELAÇÕES 
JURÍDICAS VINCULADAS A INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS OU 
INDIVIDUAIS E REFERENTES A DANOSIDADES AMBIENTAIS. 
O impacto ambiental é ato/fato jurídico - ausente o negócio jurídico propriamente tal em 
termos de conceituação jurídica - que, pela própria afetação do meio ambiente, bem 
constitucionalmente protegido (art. 225, da Constituição Federal), impõe ao Poder 
Judiciário um proceder cuidadoso e cautelar vinculado ao bem/interesse público 
subjacente. 
A inversão do ônus da prova é mecanismo que não só pode como deve ser utilizado pelo 
juiz não só em face de disposições infraconstitucionais, mas também as disposições 
constitucionais em relevo, devendo ser consideradas a natureza do direito protegido e 
eventualmente violado e as consequências disso caso não comprovado este e o 
respectivo dano – jurídico e social – consequente, mormente em se tratando de dano 
ambiental. 
Inteligência sempre atual de brocardo latino que bem se adequou à espécie: “actori 
incumbit et réus in excipiendo fit actor”. 
Precedentes. 
RECURSO PROVIDO. 
(Processo 70051611168 RS. TJ-RS. Agravo de Instrumento).12 
 
Por fim, propõe-se, em ilustração, uma classificação em sequência hierárquica dos fatos 
jurídicos em sentido amplo: 
 
 
3. Efeitos aquisitivos, modificativos, conservativos e extintivos do fato jurídico 
 Conforme a doutrina, a compreensão do conceito de fatos jurídicos é basilar para orientar as 
relações jurídicas, bem como os direitos e obrigações delas decorrente, afinal, como asseveram 
 
12 Disponível em http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/112886953/agravo-de-instrumento-ai-70051611168-
rs/inteiro-teor-112886963. Acesso em 18/08/2014. 
7 
 
Stolze & Pamplona13, “Fora da noção de fatos jurídicos, pouca coisa existe ou importa para o 
direito”. 
 Como consequência dessas relações, os fatos jurídicos acarretam os seguintes efeitos: 
aquisitivos de direitos, modificativos, conservativos e extintivos de direitos. 
 
3.1. Aquisição de direitos 
 Em razão dos fatos jurídicos, direitos podem ser originados de uma relação jurídica. A 
aquisição ocorre quando um sujeito passa a ser o titular, o detentor de determinado direito, e nesse 
sentido disciplina Venosa14 que “aquisição de um direito é a adjunção, encontro, união, conjunção 
com uma pessoa, eu titular”. 
 Doutrinariamente, essa aquisição pode ser originária ou derivada; gratuita ou onerosa; a 
título universal ou singular; simples ou complexa. 
 No caso da originária, a aquisição se completa sem qualquer relacionamento com o titular 
anterior. O que é possível seja por res nullius, que pode ser traduzido como coisa de ninguém, ou 
ainda res derelicta, que é a coisa abandonada. 
 No primeiro caso (res nullius), se não pertencem a ninguém, adquire sua propriedade o 
primeiro que delas se apossar, como é descrita a ocupação no art. 1263 do Código Civil vigente. 
Ainda como modalidade de aquisição originária, a res derelicta, para assim se configurar, 
necessariamente precisa ser a coisa abandonada voluntariamente por seu titular, conforme se 
expressa o julgador no seguinte exemplo: 
Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO SIMPLES - ABSOLVIÇÃO -
RESDERELICTA- INADMISSIBILIDADE. 
As provas amealhadas ao longo da instrução são mais do que suficientes para ensejar a 
condenação, ainda mais quando a negativa de autoria apresenta-se destituída de álibi 
comprobatório e verossimilhança. Para caracterização da resderelicta é indispensável a 
evidente vontade do proprietário de se despojar do que lhe pertence, o que, contudo, 
como demonstrado ao longo da instrução criminal, não ocorreu in casu, não se podendo, 
como quer a defesa, presumir o abandono, portanto, necessária a manutenção do decreto 
condenatório. 
(Processo: APR 10713070695109001-MG. Relator: Walter Luiz de Melo. Julgamento: 
30/04/2013. Órgão Julgador: TJ/MG - Câmaras Criminais / 1ª CÂMARA CRIMINAL. 
Publicação: 13/05/2013).15 
 
 Contrapondo os tipos de aquisição originária, há a derivada que, como nos casos de compra 
e venda, o atual titular do direito estabelece uma relação com o antigo possuidor. 
 
13 Ob. cit. p. 345. 
14 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Volume 1: parte geral. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 321 
15 Disponível em http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Res+derelicta. Acesso em 19/08/2014. 
8 
 
 Outro aspecto da aquisição de direitos é se ela ocorre de maneira onerosa, mediante uma 
contraprestação que gera o enriquecimento do patrimônio de uma ou ambas as partes (compra e 
venda); ou gratuita, como na sucessão hereditária. 
 Ela ainda pode ser a título universal, quando a transmissão do patrimônio ocorrer por inteiro 
ou de sua quota-parte determinada, neste caso, quem leva o direito, também adquire as obrigações. 
 Nas sucessõeshereditárias universais, herda-se as propriedades e as dívidas. Ou a título 
singular, se o sucessor do direito substitui o sucedido apenas em algumas coisas determinadas, ou 
em um ou mais alguns direitos. Diferentemente da aquisição universal, no presente caso, a herança 
é recebida como um legado, pois o sucessor não herda as dívidas do sucedido16. 
 Quanto ao seu processo formativo, a aquisição pode-se dar de forma simples, através de um 
único ato, ou complexa, através da sucessividade de atos necessários. A exemplo de aquisição 
complexa, cita-se o usucapião, o qual requer cumulativamente a posse prolongada, lapso temporal, 
inércia do titular, justo título e boa fé. 
 Didaticamente, a doutrina também classifica a aquisição conforme o tempo, como os 
direitos atuais e futuros. Embora a legislação vigente tenha suprimido certos conceitos em relação 
ao Código Civil de 1916, a doutrina consagrou alguns preceitos equivalentes. Observe-se o art. 74 
do Código Civil de 1916: 
Art. 74. Na aquisição de direitos se observarão estas regras: 
(...) 
III – Dizem-se atuais os direitos completamente adquiridos, e futuros os cuja aquisição 
não se acabou de operar. 
 
 É interessante distinguir, entre os direitos futuros, a relação entre a expectativa do direito, o 
direito eventual e o condicional. 
 A expectativa de direito, nada mais é que tão somente a mera possibilidade de vislumbrar a 
sua aquisição. Não se fala em direito adquirido, uma vez que ele ainda não foi incorporado ao 
patrimônio jurídico daquela pessoa. Para exemplificar, podemos utilizar a lista de candidatos 
classificados além do número de vagas em concurso público. Existe alguma possibilidade destes 
serem nomeados para ocupar o cargo pretendido, porém não se pode requerer um direito adquirido, 
uma vez que tais candidatos se classificaram após o limite das vagas previstas no edital. 
 O direito eventual está presente em situações em que o interesse do titular ainda está 
incompleto, necessitando de algum fato de índole interna para que os requisitos de aquisição do 
 
16 Disponível em http://pt.slideshare.net/FbioPeres/direito-civil-ii-2-semestre-s-mackenzie-2012. Acesso em 
23/08/2014. 
9 
 
referido direito se complete. Stolze & Pamplona17 exemplifica o direito eventual com o direito a 
sucessão legítima, em que, “embora protegido pelo ordenamento jurídico, só se legitima com a 
morte do autor da herança”. 
 Por fim, o direito futuro condicional está definido no Código Civil em vigor: 
Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente a vontade 
das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. 
 
 Sobre o assunto, Venosa18 afirma que “Nos direitos condicionais o direito já se perfez. 
Apenas agregou um elemento externo, uma condição, para ser exercido, uma vez que a existência 
jurídica depende desse elemento condicional”. 
 
3.2. Modificação de direitos 
 Mesmo sem alteração em sua essência, a partir de fatos jurídicos podem ocorrer 
modificações de direitos. Tais mudanças podem ser de caráter objetivo ou subjetivo. 
 Em suma, as modificações objetivas procedem tanto da quantidade ou volume do direito, 
como na qualidade, ou seja, em seu conteúdo. Enquanto que as subjetivas, como o próprio nome 
sugere, é a alteração da titularidade do direito. 
 Doutrinariamente, os direitos personalíssimos são tratados como uma exceção, uma vez que 
não admitem, via de regra, a modificação subjetiva. Como exemplo cita-se a investigação de 
paternidade, que é um direito personalíssimo, uma vez que, de acordo com o disposto no art. 1.606 
do código civil, a ação de prova de filiação compete ao filho. 
 Mas, conforme alegam Stolze & Pamplona19, em relação à paternidade, há julgados que têm 
admitido a possibilidade de investigação de ancestralidade, como é o caso da ação investigatória de 
relação avoenga, na “hipótese de falecimento do indivíduo que não teve a paternidade reconhecida, 
mas que seus herdeiros pretendem vê-la declarada, seja para efeitos sociais, seja para petição de 
herança”. 
 Nesse sentido, segue decisão judiciária em que se constata o reconhecimento à legitimidade 
para propor ação investigativa com base em relação avoenga: 
APELAÇÃO CÍVEL. INVESTIGAÇÃO DE PARENTALIDADE AVOENGA. 
LEGITIMIDADE ATIVA DO NETO RECONHECIDA. PRECEDENTES DESTA 
CORTE E DO STJ. 
O neto detém legitimidade ativa para propor a demanda investigativa contra o seu 
 
17 Ob. cit. p. 349. 
18 Ob. cit. p. 325. 
19 Ob. cit. p. 350. 
10 
 
suposto avô, porquanto busca a afirmação de um direito próprio, personalíssimo, de 
saber de qual estrutura familiar provém. APELAÇÃO PROVIDA. 
(Apelação Cível Nº 70052599396, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, 
Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 21/03/2013).20 
3.3. Conservação de direitos 
 Não faria muito sentido o atributo da aquisição do direito sem meios para tutelá-lo. 
Pensando nisso, o legislador prevê mecanismos de defesa, resguardo ou conservação do direito. 
 Conforme o art. 5°, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, “A lei não excluirá da 
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça ao direito”. 
 Assim, os atos jurídicos podem também ser praticados para o resguardo (defesa) de direitos, 
que estejam ameaçados por quem quer que seja. 
 Para garantir essa proteção, Stolze & Pamplona21 sugerem que as respectivas medidas 
podem ser sistematizadas como (i) atos de conservação, (ii) de defesa do direito lesado, (iii) de 
defesa preventiva ou (iv) a autotutela. 
 Os atos de conservação preveem a manutenção de um direito já existente. Como exemplo, 
citam-se as medidas cautelares, que corresponde ao provimento jurisdicional de uma atuação futura 
em defesa do direito. Outro exemplo é a caução, que garante o pagamento de uma dívida mediante a 
entrega de um bem como garantia.22 
 De diferente modo, os atos de defesa do direito lesado estão vigentes para reparar o direito 
que já foi lesado. É o que se pode constatar, poe exemplo, na garantia constitucional prevista no 
inciso XXXV do art. 5º da Constituição de 88: “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário 
lesão ou ameaça ao direito”. 
 Os atos de defesa preventiva ocorrem antes mesmo da violação, mas diante de uma evidente 
ameaça, como é o caso do interdito proibitório, previsto no art. 1.210 do Código Civil. Como caso 
prático tem-se a iminente invasão, em que a autoridade judicial determina, a pedido de fulano, que 
beltrano não se aproxime da propriedade do reclamante (fulano de tal), sob pena de 
responsabilidade civil e descumprimento de ordem judicial.23 
 Por fim, a autotutela é o mecanismo que admite, excepcionalmente, a defesa dos direitos por 
 
20 Disponível em http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/112594328/apelacao-civel-ac-70052599396-rs/inteiro-
teor-112594340. Acesso em 20/08/2014. 
21 Ob. cit. 351. 
22 Disponível em http://pt.slideshare.net/FbioPeres/direito-civil-ii-2-semestre-s-mackenzie-2012. Acesso em 
23/08/2014. 
23 Disponível em http://pt.slideshare.net/FbioPeres/direito-civil-ii-2-semestre-s-mackenzie-2012. Acesso em 
23/08/2014. 
11 
 
meios próprios de seu titular, como a greve. 
 
3.4. Extinção de direitos 
 Como a própria vida, os direitos podem se extinguir. “Como tudo que existe na realidade 
que nos cerca, os direitos nascem, têm existência mais ou menos longa, com ou sem modificações, e 
se extinguem, morrem”, conforme expõe Venosa24. 
 A extinção pode ocorrer por uma série de fatores, que, segundo Stolze & Pamplona25, são 
meramente ilustrativos, “não havendo limites para a criatividade humana ou para as forças da 
natureza na estipulação de novas hipóteses”. 
 Como exemplosde modo de extinção de direitos, podemos citar a perda do direito, extinção, 
perecimento do objeto, alienação, desapropriação, renúncia, prescrição ou decadência, abandono, 
falecimento do titular, confusão, implemento da condição resolutiva e outros. 
 
4. Fato jurídico em sentido estrito 
 De modo geral, a doutrina considera como fato jurídico em sentido estrito como sendo todo 
acontecimento proveniente da natureza ou de fenômenos naturais, sem intervenção da vontade 
humana e que produza efeitos jurídicos. Evidencia-se, portanto, que não é qualquer acontecimento 
ou evento da natureza que pode ser classificado como fato jurídico em sentido estrito, pois a 
produção de efeitos jurídicos é condição obrigatória para tal. Nessa conceituação, por exemplo, a 
queda de um raio em uma área desabitada, será simplesmente um fato da natureza, enquanto que se 
esse mesmo fenômeno ocorrer sobre uma área industrial e gerar danos em bens cobertos por um 
seguro, passará a ser considerado um fato jurídico. 
 Os fatos jurídicos em sentido estrito podem ser subdivididos de acordo com a sua 
ocorrência. Stolze & Pamplona26 propõem a seguinte divisão: 
 a) Fatos jurídicos em sentido estrito ordinários: São os eventos naturais de ocorrência 
corriqueira, comum, tais como o nascimento, o falecimento, a decadência, a prescrição e outros 
efeitos do decurso de tempo, etc. 
 b) Fatos jurídicos em sentido estrito extraordinários: Caracterizam-se pelo seu caráter 
excepcional, com ocorrência inesperada ou imprevisível, tais como inundações, terremotos, o caso 
fortuito e a força maior. 
 
24 Ob. cit. p. 333. 
25 Ob. cit. p. 351. 
26 Ob cit. p. 352. 
12 
 
 A conceituação de caso fortuito e força maior não está totalmente pacificada na doutrina, 
entretanto observa-se entre os diversos autores que a força maior possui como principal 
característica a inevitabilidade, enquanto que no caso fortuito essa característica seria a 
imprevisibilidade. 
 Stolze & Pamplona27 advertem que o caso fortuito também pode ser causado por um ato 
humano. 
 Diniz28, ao comparar a força maior com o caso fortuito afirma que na força maior a causa do 
dano é sempre conhecida uma vez que decorre de um fato da natureza, enquanto que no caso 
fortuito o acidente é decorrente de uma causa desconhecida ou de algum comportamento de terceiro 
que, sendo absoluto, acarreta a extinção das obrigações, salvo se as partes convencionaram o 
pagamento de alguma indenização ou se a lei estabelecer esse dever, nos casos de responsabilidade 
objetiva. 
 Sob a ótica do Código Civil Brasileiro, verifica-se que os legisladores não expressaram 
maior preocupação com a distinção dos conceitos de caso fortuito e força maior, o que pode ser 
evidenciado em dispositivos específicos, onde os dois institutos são empregados de forma 
igualitária: 
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força 
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. 
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos 
efeitos não era possível evitar ou impedir. 
Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa 
impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o 
atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a 
obrigação fosse oportunamente desempenhada. 
 
 Entretanto, nos seus artigos 737 e 936, o Código Civil cita expressamente apenas um dos 
institutos, no caso a força maior, demonstrando previsões específicas: 
Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de 
responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior. 
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não 
provar culpa da vítima ou força maior. 
 
 No âmbito jurisprudencial, as cortes já possuem alguns entendimentos pacificados, como 
por exemplo, o caso de roubo de carga mediante ameaça de uso de arma de fogo, conforme pode ser 
verificado a seguir: 
 
27 Ob. cit. p. 352. 
28 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2006. 
13 
 
AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO REGRESSIVA. SEGURO. ROUBO DE CARGA. 
MOTIVO DE FORÇA MAIOR. RESPONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA. 
EXCLUSÃO. 
1. Pacífico nesta Corte o entendimento de que o roubo de carga, com uso de arma de 
fogo, configura força maior a elidir a responsabilidade da transportadora perante a 
seguradora do proprietário da mercadoria transportada, o que acarreta a improcedência 
da ação regressiva de ressarcimento de danos. 2. Agravo Regimental improvido. 
(Processo STJ - AgRg no AREsp 408398 SP 2013/0335635-9. Relator(a): Ministro 
SIDNEI BENETI. Julgamento: 22/10/2013. Órgão Julgador :T3 - TERCEIRA TURMA 
Publicação: DJe (07/11/2013)29. 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. 
RESPONSABILIDADE CIVIL. ESTACIONAMENTO DE LANCHONETE. ROUBO 
DE VEICULO. FORÇA MAIOR. PRECEDENTES. SÚMULA Nº 7/STJ. 
1. "A força maior deve ser entendida, atualmente, como espécie do gênero fortuito 
externo, do qual faz parte também a culpa exclusiva de terceiros, os quais se 
contrapõem ao chamado fortuito interno. O roubo, mediante uso de arma de fogo, em 
regra é fato de terceiro equiparável a força maior, que deve excluir o dever de indenizar, 
mesmo no sistema de responsabilidade civil objetiva" (REsp 976.564/SP, Rel. Min. Luis 
Felipe Salomão, DJe 23/10/2012). 2. A desconstituição das conclusões a que chegou o 
Colegiado a quo em relação à ausência de responsabilidade da lanchonete pelo roubo 
ocorrido em seu estacionamento, como pretendido pelo recorrente, ensejaria incursão no 
acervo fático da causa, o que, como consabido, é vedado nesta instância especial, nos 
termos da Súmula nº 7 desta Corte Superior. 3. Agravo regimental não provido. 
(Processo STJ - AgRg no REsp: 1218620 SC 2010/0196714-7. Relator: Ministro 
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA. Data de Julgamento: 15/08/2013, T3 - 
TERCEIRA TURMA. Data de Publicação: DJe 22/08/2013)30. 
 
 Há que considerar, ainda, a diferenciação entre caso fortuito interno e externo. Pablo 
Stolzecomenta que a diferença entre caso fortuito interno e externo é especialmente aplicável nas 
relações de consumo. Nesse contexto, o caso fortuito interno ocorreria na fase de produção do 
produto ou da execução do serviço, não excluindo a responsabilidade civil do fornecedor. O caso 
fortuito externo seria alheio ou estranho ao processo de elaboração do produto ou execução do 
serviço, excluindo a responsabilidade civil31. 
 
5. Ato-fato jurídico 
 Trata-se de uma categoria especial, relativamente nova, ignorada em muitos manuais de 
 
29 Disponível em http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24659595/agravo-regimental-no-agravo-em-recurso-
especial-agrg-no-aresp-408398-sp-2013-0335635-9-stj. Acesso em 10/08/2014. 
30 Disponível em http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Responsabilidade+do+Estacionamento. 
Acesso em 10/08/2014. 
31 Rede de ensino Luiz Flávio Gomes. Qual a diferença entre caso fortuito externo e interno? Disponível em 
http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/158317/qual-a-diferenca-entre-caso-fortuito-externo-e-interno. Acesso em 
10/08/2014. 
14 
 
Teoria Geral de Direito Civil, mas reconhecida por Stolze & Pamplona32, tomando como base as 
obras fundamentais de Pontes de Miranda e Marcos Bernardes de Mello. 
 Pode-se afirmar que essa categoria fica entre as categorias do fato jurídico e do ato jurídico, 
e tem como base a doutrina alemã. Devido a seu pouco tempo de estudo, é uma categoria ainda não 
expressamente regulada no Código Civil, e descreve um comportamento em que, apesar de derivardo homem, é irrelevante a vontade expressada na realização ou projeção do resultado jurídico 
alcançado, dando mais importância ao resultado fático decorrente da conduta humana do que a ela 
mesma. 
 Na breve definição proposta por Marcos Bernardes Mello33, o ato-fato jurídico é 
essencialmente um ato humano, contudo “A norma jurídica abstrai desse ato qualquer elemento 
volitivo como relevante. O ato é da substância do fato jurídico, mas não importa para a norma se 
houve ou não vontade de praticá-lo. Ressalta-se, na verdade, a conseqüência do ato, ou seja, o fato 
resultante, sem se dar maior significância à vontade de praticá-lo”. 
 Assim, o que importa para o direito é a consequência do ato, não interessando se houve 
vontade de produzi-la ou não, não sendo da essência do ato-fato jurídico o elemento volitivo, ou 
seja, a vontade do indivíduo. 
 Para Stolze & Pamplona, “o ato-fato jurídico nada mais é do que um FATO JURÍDICO 
qualificado pela atuação humana”. Segundo os autores, “No ato-fato jurídico, o ato humano é 
realmente da substância desse fato jurídico, mas não importa para a norma se houve, ou não, 
intenção se praticá-lo”. 
 Stolze & Pamplona34 propõem classificação dos atos-fatos jurídicos em três espécies 
distintas: (i) Atos-fatos reais, (ii) Atos-fatos jurídicos indenizativos e (iii) Atos-fatos jurídicos 
caducificantes. 
 Segundo Stolze & Pamplona35, nos atos-fatos reais “enquandram-se os atos humanos de 
que resultam circunstancias fáticas, geralmente irremovíveis ”. 
 Ato-fato real é o fato resultante que importa para configuração do ato-fato, não o ato 
humano. Um exemplo dessa espécie é se um louco pinta um quadro e adquire sua propriedade 
(pouco importa se sabia ou não o que estava pintando), e caso um absolutamente incapaz achar um 
 
32 Ob. cit. p. 353. 
33 ??? 
34 Ob. cit. p. 354. Classificação proposta com base em ensinamentos de Marcos Bernardes de Mello (Teoria do Fato 
Jurídico – Plano da Existência, 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000). 
35 Ob. cit. p. 354. 
15 
 
tesouro enterrado no fundo do quintal de imóvel que lhe pertence, tornando proprietário do bem 
(pouco importa se queria ou não ter descoberto). 
 No âmbito da legislação, o Código Civil estabelece especificamente esse último exemplo, 
nos seguintes termos: 
Art. 1.264. O depósito de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória, será 
dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro casualmente. 
 Ou seja, independentemente de um incapaz absoluto ter achado o tesouro, ele será dono de 
parte dele. 
 Por sua vez, para Stolze & Pamplona36, os atos-fatos jurídicos indenizativos são “as 
situações em que de um ato humano lícito (ou seja, não contrário ao Direito) decorre prejuízo a 
terceiro com dever de indenizar”. Um exemplo dessa classificação é a deteriorização ou destruição 
de coisa alheia, ou a lesão pessoal a fim de remover perigo iminente, ou seja, um ato que foi 
praticado no exercício regular do direito ou em estado de necessidade que cause dano a terceiro, 
gerando o dever de indenizar. 
 Na última classificação, atos-fatos jurídicos caducificantes, estão as situações que dependem 
de atos humanos, “cujos efeitos constem na extinção de determinado direito e, por conseqüência, da 
pretensão, da ação e da exceção dele decorrentes”37. É o que ocorre, por exemplo, quando um 
titular de um direito se mantém inerte em certo lapso de tempo independente de seu querer ou de 
sua culpa, gerando a perda de seu direito. 
 
6. Ato jurídico em sentido estrito 
 Tendo como referência a doutrina civilista vigente, pode-se afirmar que os efeitos jurídicos 
(criação, conservação, modificação ou extinção de direitos) produzidos pelo ato jurídico em sentido 
estrito (stricto sensu) estão previamente definidos em lei, não existindo autonomia da vontade como 
em um negócio jurídico. O que ocorre nesse tipo de ato jurídico é um simples comportamento 
humano, que aciona regras legais, mas não há uma declaração de vontade com o intuito de obter, 
com base na autonomia privada, efeitos jurídicos pretendidos pelo agente, como acontece em um 
negócio jurídico. 
 No âmbito da legislação, o Novo Código Civil estabelece especificamente esse tipo de ato 
jurídico, nos seguintes termos: 
Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no 
 
36 Ob. cit. p. 354. 
37 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Ob. cit. p. 354. 
16 
 
que couber, as disposições do Título anterior. 
 Assim, pela norma civil fica clara a classificação dos atos jurídicos lícitos não negociais, ou 
em sentido estrito. 
 Na breve conceituação proposta por Stolze & Pamplona, “O ato jurídico em sentido estrito, 
reconhecido por inúmeros doutrinadores de escol, constitui simples manifestação de vontade, sem 
conteúdo negocial, que determina a produção de efeitos legalmente previstos”38. Em um 
enquadramento classificatório proposto pelos autores39, o ato jurídico em sentido estrito (não 
negocial) é um tipo de ato jurídico lícito, decorrente da atividade humana, que é uma das categorias 
classificatórias dos fato jurídico em sentido amplo. 
 Como forma de dar prática a tal conceito, os autores, para demonstrarem que o ato jurídico 
stricto sensu apenas concretiza um pressuposto fático contido em uma norma jurídica, não havendo 
emissão de declaração de vontade, apresenta o instituto do domicílio. Assim, a pessoa ao 
estabelecer residência em um certo local, com intenção de ficar, acaba fixando seu domicílio, 
mesmo não tendo a pretensão de que esse instituto surgisse, havendo previsão legal para tal. 
 Percebe-se, então, que nessa categoria de ato jurídico o agente não tem livre escolha dos 
efeitos de seus atos, posto que tais efeitos são previamente estabelecidos por lei. Nesse mesmo 
sentido, Macena40 adverte que “(...) não é dado ao agente o poder de escolher livremente os efeitos 
do ato: eles estão prescritos em lei. Tem-se, assim, o seguinte processo: o ser humano, por desejar 
certos efeitos fixados em lei, adota o comportamento nela descrito”. 
 Outro exemplo que pode configurar esse tipo de ato jurídico, proposto por Amaral41, e que 
ilustra bem a ausência de autonomia do agente, é o reconhecimento de filho. De acordo com o 
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/199042), em seu artigo 26, permite-se que o filho 
seja reconhecido de vários modos: no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante 
escritura, etc. Nesse caso, o agente não possui a autonomia de modificar os efeitos do 
reconhecimento da paternidade, excluindo o filho reconhecido da herança legal, por exemplo. Dessa 
forma, não existirá autonomia privada dependendo da intenção da vontade do agente, visto que do 
ato jurídico em sentido estrito surgem efeitos jurídicos já previstos na lei e que não podem ser 
 
38 Ob. cit. p. 355. 
39 Ob. cit. p. 347. 
40 LIMA, Taisa Maria Macena de. Apud: Fato jurídico: plano da existência. Disponível em 
http://jus.com.br/artigos/22426/fato-juridico-plano-da-existencia. Acesso em 08/08/2014. 
41 AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 4ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 333. Apud: Ato jurídico. 
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ato_jur%C3%ADdico. Acesso em 08/08/2014. 
42 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. 
Acesso em 08/08/2014. 
17 
 
afastados ou modificados, bem como nenhum outro efeito pode ser acrescentado. 
 Outros exemplos caracterizados como ato jurídico em sentido estrito podem ser percebidos 
no perdão, na confissão, na quitação, etc. 
 Ao caracterizar essa categoria de ato jurídico, Oliveira43 ressalva que: 
(…) o que caracterizao ato jurídico em sentido estrito é o fato de o agente não possuir 
liberdade de escolha quanto aos efeitos de seus atos. Embora parta de sua vontade, o ato 
só produz efeitos legalmente prescritos. Não poderia, por exemplo, um homem 
reconhecer a paternidade de uma criança e pretender se eximir de suas obrigações de 
pai, que são consequências legais de seu ato. 
 
 A partir desses exemplos práticos, buscando generalizar um possível conceito, e com a 
compreensão de Stolze & Pamplona, nessa categoria de ato jurídico, “o agente não goza de ampla 
liberdade de escolha na determinação dos efeitos resultantes de seu comportamento, como se dá no 
negócio jurídico (contrato, por exemplo)”. 
 Stolze & Pamplona, buscando um ponto relevante que diferencie os atos jurídicos stricto 
sensu (ato jurídico não negocial) do negócio jurídico, define que para os atos jurídicos em sentido 
estrito “não há como falar de termo, condição ou encargo (…), uma vez que não há conjunção de 
vontades, nem possibilidade de escolha ou limitação dos efeitos legalmente previstos”44. 
 À luz da doutrina, e sob a ótica didática, os atos jurídicos em sentido estrito podem ser 
classificados em atos materiais (reais) e participações. 
 Em suma, nos atos materiais, mesmo ocorrendo a vontade consciente na atuação do sujeito, 
esta não é destinada ao efeito jurídico decorrente da norma. É o caso da percepção de frutos, da 
fixação de domicílio e da confissão, situações em que não importa a indagação de certos 
pressupostos de validade do ato jurídico (a exemplo da capacidade do agente), porém a idoneidade 
da manifestação da vontade é imprescindível para validade do ato jurídico. 
 Já, as participações, espécie de ato jurídico não negocial ou stricto sensu, segundo Stolze & 
Pamplona45, “são atos de mera comunicação, dirigidos a determinado destinatário, e sem conteúdo 
negocial”. Exemplos dessa espécie de ato jurídico são: a intimação, a notificação, a oposição, o 
aviso, a confissão, etc. 
 Diferenciando atos materiais de participações, pode-se afirmar que nos atos materiais ou 
reais, o agente tem vontade consciente de produzir efeitos que estão elencados em lei, mas essa 
 
43 OLIVEIRA, Aluisio Santos de. Fato jurídico: plano da existência. Artigo disponível em 
http://jus.com.br/artigos/22426/fato-juridico-plano-da-existencia. Acesso em 08/08/2014. 
44 Ob. cit. p. 357. 
45 Ob cit. p. 357. 
18 
 
vontade não é orientada à consecução desse efeitos, que por sua vez se produzem 
independentemente do querer do agente. Por sua vez, nas participações há um ato intencional que se 
consuma por meio da declaração consistente na vontade de dar ciência a terceiros quanto a 
determinado intuito ou determinado fato. 
 No âmbito jurisprudencial, é possível identificar casos concretos em que se constata a 
aplicação do conceito de ato jurídico em sentido estrito. 
 Veja-se, por exemplo, caso que configura a intenção de anulação de reconhecimento de 
paternidade, negada pelo Judiciário ao agente solicitante, uma vez que este não tem autonomia para 
extinguir tal ato jurídico em sentido estrito: 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE RECONHECIMENTO DE 
PATERNIDADE. PEDIDO DE RETIFICAÇÃO DO REGISTRO. AUSÊNCIA DE 
PROVA DO ALEGADO VÍCIO DE CONSENTIMENTO. PATERNIDADE 
SOCIOAFETIVA CONFIGURADA. PRECEDENTES. 
1. Inexistindo demonstração do vício de consentimento quando do reconhecimento da 
paternidade por meio de registro do nascimento dos filhos, não há que se falar em 
anulação, tampouco retificação registral. (…) 
(Processo AC 70043071695-RS. Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl. Julgamento: 
29/09/2011. Órgão julgador: Oitava Câmara Cível. Publicação: Diário da Justiça de 
04/10/2011)46. 
 
Considerações Finais (Por: Natel Laudo da Silva) 
 
 
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Obras 
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Código 4 em 1 Saraiva: Civil, Comercial, Processo Civil e Constituição Federal / obra coletiva de 
autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana 
Nicoletti. 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, volume 1: teoria geral do direito civil. 29ª 
ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
46 Disponível em http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20635387/apelacao-civel-ac-70043071695-rs-tjrs. Acesso 
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FERRAZ JUNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito : técnica, decisão, dominação 
– 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2013. 
GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Novo curso de direito civil, volume 1: 
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Legislação 
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e 
dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. 
BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. 
BRASIL. Lei 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. 
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm. 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. 
Sites 
http://pt.slideshare.net 
 HYPERLINK "http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24659595/agravo-regimental-no-agravo-

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