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O Plano Real

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Fis-Faculdade de Integração do Sertão Professor(a):Ana Cristina Cadeira Acadêmica: Economia Turma:01º Período Direito/Noite Aluno:Ítalo Albino de Siqueira Santos
O Plano Real: algumas considerações
O principal acontecimento afetando a economia brasileira a partir dos anos 1990 foi, com certeza, a implantação do Plano Real em julho de 1994. O elemento central do Plano Real foi a criação da âncora cambial, como já havia ocorrido em outros países da América Latina, em processos de estabilização, na busca do combate a processos inflacionários crônicos.
De fato, no caso brasileiro a paridade máxima entre o real e o dólar foi anunciada,
oficialmente, no momento da implantação do Plano Real, como equivalente
a R$1 = US$1. O limite inferior não foi num primeiro momento oficialmente fixado.
Entre julho e setembro de 1994 não houve qualquer intervenção no mercado
de câmbio e a taxa de câmbio sofreu, de fato, uma apreciação, caindo para algo
em torno de R$.85/US$1. Tendo em vista que as consequências da apreciação da
moeda afetaram a balança de transações correntes, em setembro o Banco Central
realizou sua primeira intervenção no mercado de câmbio e anunciou, em outubro,
informalmente, que estaria disposto a comprar dólares a uma taxa mínima de R$.82/
US$1, e vender a uma taxa máxima de R$.86/US$1. Estava assim caracterizado um
sistema ‘informal’ de bandas cambias tendo apenas um limite superior oficialmente
determinado, mas um limite inferior implicitamente assumido, haja visto o comportamento
da autoridade monetária. A institucionalização do regime de bandas,
com a determinação oficial de limites inferiores e superiores só ocorreu, de fato, a
partir do final do primeiro trimestre de 1995, como examinaremos na seção seguinte.
No período 1995-1997 houve seguidos leilões de spread com o objetivo de desvalorizar
gradualmente a moeda nacional, mantendo, contudo, a taxa de câmbio dentro dos limites de uma intrabanda.
Bandas cambiais: aspectos teóricos5
As bandas cambiais caracterizam-se pelo estabelecimento de limites superiores
e inferiores para variações do câmbio, pressupondo-se que dentro desses limites
a taxa de câmbio flutua, livremente, em torno de uma taxa de referência (FEER
— Fundamental Equilibrium Exchange Rate), subentendida como a taxa que asseguraria
os equilíbrios interno e externo da economia. Compromete-se a autoridade
monetária a intervir no mercado cambial toda vez que a taxa de câmbio se aproximar
dos limites da banda, sinalizando para os agentes econômicos que a política
cambial está sob controle e deverá ser honrada.
A Figura 1 dá uma ideia, embora superficial, de como o sistema teoricamente
funciona. Atribuiu-se à taxa de câmbio o símbolo (s), sendo s’(x) o limite superior,
e s’(x) o limite inferior. O x representa um conjunto de variáveis consideradas como
os ‘fundamentos’ macroeconômicos da economia.
A imposição de bandas cambiais tem sido apontada (Frenkell & Goldstein,
1986) como conveniente por funcionar como âncora para expectativas de taxas de
câmbio de médio prazo, exercendo um papel estabilizador e evitando a volatilidade
que caracterizou o movimento das taxas cambiais quando foram deixadas a flutuar
livremente após a derrocada, no início dos anos 1970, do sistema estabelecido em
Bretton Woods (1944). Além disso, elas teoricamente permitiriam estabelecer disciplina
e coordenação das políticas macroeconômicas, evitando desalinhamentos de
moedas e permitindo processos de crescimento sustentados.
Inúmeras são as críticas feitas ao regime de bandas cambiais. Mesmo os economistas
‘ortodoxos’ manifestam dúvidas com relação à credibilidade das bandas.
Os críticos ortodoxos duvidam que elas sejam mais críveis do que o anúncio de uma
regra de emissão monetária rígida, ou uma meta inflacionária, por exemplo. Argumentam
que a necessidade de modificar os limites da banda para adaptá-los a mudanças
em variáveis econômicas acabam por abalar-lhe a credibilidade.
Funcionamento do regime de bandas cambiais no Brasil e suas
principais repercussões
Foi apenas em 6 de março de 1995 que o Banco Central formalmente adotou
o sistema de bandas cambiais, estabelecendo os limites de flutuação entre R$.86/
US$1 e R$.90/US$1. Ainda no mês de março os limites da banda foram corrigidos
e fixados entre R$.88/US$1 e R$.93/US$1 e daí por diante o sistema de câmbio
modificou-se passando a prevalecer um sistema de bandas móveis que na realidades e assemelha ao antigo sistema de minidesvalorizações freqüentes. Além disso, metas
monetárias foram estabelecidas para os primeiros trimestres que se seguiram à lei e
eram submetidas pelo Banco Central ao Conselho de Política Monetária e, posteriormente,
à aprovação do Senado Federal. Essas metas eram consistentes com uma
política cambial que buscava — até janeiro de 1999 quando o câmbio passa a flutuar
— manter a taxa de câmbio real constante, embora sobrevalorizada. 
Os efeitos e processos observados no Brasil, conforme destacados em Mollo
& Silva (1999), podem ser assim resumidos: a sobrevalorização inicial da moeda
nacional ocasionada pela elevada inflação interna, responsável pelo resíduo inflacionário,
permaneceu quando o câmbio foi fixado. Uma vez sobrevalorizado o câmbio,
a taxa de juros alta garantiu rentabilidade à entrada de capitais estrangeiros.
Caso contrário, a mera perspectiva de desvalorização da moeda interna desestimularia
sua entrada. Observe-se, porém, que o aumento da taxa de juros, ou do diferencial
de juros para atrair capital externo, torna-se, nesses programas, uma exigência
permanente porque a entrada de capitais externos aumenta a base monetária
que, uma vez esterilizada (para evitar efeitos vistos como inflacionários), propicia
a manutenção ou o aumento da própria sobrevalorização da moeda nacional,
pela entrada intermitente de capitais externos atraídos pelas altas taxas de juros.
Foi o que ocorreu no Brasil. Assim, se por um lado a entrada de capitais sobrevalorizando
o câmbio era útil para baixar a inflação, por outro exigia taxas de juros
enormes, tolhendo ao longo do tempo o crescimento. A queda do crescimento
no Brasil foi responsável pela elevação da taxa de desemprego aberto ao longo dos
últimos anos.8 Além disso, o impacto das altas taxas de juros se fez sentir na expansão
do déficit nominal do governo e no aumento da dívida pública interna líquida, que de um cifra de menos de 23,7% do PIB em 1994 atingiu mais de 35%
em 1998, acabando por fragilizar financeiramente o governo tornando o
refém da armadilha dos juros elevados.
Assim, entre as lições que aprendemos com os programas de estabilização com
ancoragem cambial implementados na América Latina nos anos 1990, podemos
salientar, como sugere Damil, no contexto da adoção do sistema de caixa
de conversão pela economia Argentina, os problemas derivados da vulnerabilidade
do setor externo e de situações de vulnerabilidade financeira interna, que se somam
à dinâmica do endividamento público. Assim, a dinâmica da dívida interna passa a
ser subordinada aos objetivos da política de estabilização e ao equilíbrio de curto
prazo.
O cenário acima descrito possui todos os ingredientes necessários para provocar
o colapso dos programas de estabilização baseados em ancoragem cambial em
geral, e o brasileiro, em particular, na medida em que pode precipitar as chamadas
crises cambiais.
COLAPSO DO REGIME CAMBIAL NO PLANO REAL
Crises cambiais em economias emergentes não mais podem ser consideradas
como fenômenos episódicos e restritos a alguns países. O fenômeno assumiu no final
de século proporções mundiais.
O Brasil, contudo, passou a ser, no final dos anos 1998, o mais provável candidato
a enfrentar um ataque especulativo. Todos os ingredientes, pelo que descrevemos
acima, pareciam estar presentes. Os modelos teóricos apresentados anteriormentepodem ser classificados em modelos que destacam os fundamentos e modelos
que destacam o lado dos ativos financeiros. Em ambos os casos os cenários
interpretados a partir dos fundamentos macroeconômicos bem como da composição
dos estoques dos ativos financeiros são entendidos como pré-condições para o
desencadeamento das crises cambiais, quer dentro da visão ortodoxa, quer dentro
da visão heterodoxa. Um resumo desses desequilíbrios é apresentado a seguir:
• Desequilíbrio dos Fundamentos:
A economia brasileira já apresentava no final de 1997 um déficit em conta
corrente elevado e crescente (4% a 5% do PIB); uma moeda sobrevalorizada; um
déficit público nominal também crescente — em torno de 6% do PIB; e elevados
juros. Além disso, esbarrava nas restrições impostas pela proximidade da eleição
presidencial que, em qualquer situação, ata as mãos das autoridades com relação à
adoção de políticas corretivas e reformas consideradas impopulares.
• Desequilíbrio dos Estoques:
O crescente estoque de títulos, relativamente aos meios de pagamento, resultante
de uma forte política de esterilização, de um lado, e do financiamento do déficit
público, de outro, pode ser interpretado como uma pré-condição para um ataque
especulativo liderado por ativos financeiros. Para se ter uma idéia, a relação entre
o agregado monetário M2 e o agregado monetário M1, que havia atingido 3.1 em
dezembro de 1994, dobra para 6.48 em outubro de 1996. Durante 1997 e 1998, a
razão M2/M1 oscila em torno de 5.0, voltando a crescer a partir de dezembro de
1998. Mais problemático era, contudo, o crescente descolamento do agregado monetário
M2 relativamente ao montante de reservas internacionais.
A proporção crescente de títulos públicos expressos em dólares e o
montante de endividamento externo do setor bancário brasileiro (Figura 9) são
indicadores adicionais da vulnerabilidade do país já em 1997 e da eminência do
ataque especulativo que a economia viria a sofrer em janeiro de 1999, levando à
adoção do regime de taxas de câmbio flutuantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil, em janeiro de 1999, modificou sua política cambial para um regime
de câmbio flutuante (flutuação suja), premido a isso pelos ataques especulativos que,
nos últimos meses, reduziram suas reservas cambiais de US$ 74 bilhões, em abril
de 1998, para cerca de US$ 30 bilhões, quando da liberação do câmbio em 15 de
janeiro de 1999 (Figura 7). A desvalorização da moeda atingiu algo em torno de
70%, surpreendendo os analistas mais pessimistas (Figura 2). A perda dramática
de reservas e os problemas enfrentados pelo Plano Real não foram surpresas. Foram
decorrência da vulnerabilidade a que se sujeitou o país com a liberalização da
economia e a adoção de um programa de estabilização de combate à inflação atrelado
aos fluxos de capitais externos. Esta vulnerabilidade foi inúmeras vezes anunciada
e criticada por teóricos de tendências diversas. O aspecto interessante a ser
destacado dessas críticas é que a identificação da insustentabilidade de um programa
de estabilização atrelado a uma âncora cambial, ou da vulnerabilidade das economias
que os adotam, quer sob a ótica dos analistas heterodoxos, quer sob a ótica
de analistas ortodoxos, apoiam-se, conforme salientamos ao longo do artigo, em
argumentos tantas vezes enfatizados pela heterodoxia.
Conceito de inflação 
 A inflação pode ser conceituada como um aumento contínuo e 
generalizado no nível geral de preços. Ou seja, os movimentos inflacionários 
representam elevações em todos os bens produzidos pela economia e não 
meramente o aumento de um determinado preço. Outro aspecto fundamental 
refere-se ao fato de que o fenômeno inflacionário exige a elevação contínua dos 
preços durante um período de tempo, e não meramente uma elevação 
esporádica dos preços. 
Dado que a inflação representa uma elevação dos preços monetários, ela 
significa que o valor real da moeda é depreciado pelo processo inflacionário. 
Assim, por definição, a inflação é um fenômeno monetário. Entretanto, como 
veremos adiante, isto não significa que a sua solução passe simplesmente por 
um controle do estoque de moeda. 
De início, podemos dizer que a inflação representa um conflito 
distributivo existente na economia, mal administrada. Em outras palavras, a 
disputa dos diversos agentes econômicos pela distribuição da renda representa 
a questão básica no fenômeno inflacionário. Dada a diversidade de agentes 
econômicos existentes, o processo inflacionário pode estar acoplado a 
inúmeras facetas. 
O exemplo mais típico, tradicionalmente enfatizado pelos monetaristas, 
refere-se ao desequilíbrio financeiro do setor público, que induz a uma elevação 
do estoque de moeda em taxas acima do crescimento do produto. No âmbito do 
conflito distributivo, poderíamos representar esse tipo de inflação como 
decorrente de um conflito entre o setor privado e o setor público pela disputa do 
produto. Nesta hipótese, caso o setor público reduza seus gastos e assim 
consiga evitar o acréscimo de moeda, o problema inflacionário pode ser 
resolvido.
As distorções provocadas por altas taxas de inflação 
O processo inflacionário, especialmente aquele caracterizado por 
elevadas taxas e particularmente por taxas que oscilam, tem sua previsibilidade 
dificultada por parte dos agentes econômicos, e promove profundas distorções 
na estrutura produtiva, inclusive provocando um equilíbrio abaixo do nível de 
pleno emprego. Diante de tais questões, os principais efeitos provocados por 
esse fenômeno são apontados a seguir. 
Efeito sobre a distribuição de renda 
 Talvez a distorção mais séria provocada pela inflação diga respeito à 
redução relativa do poder aquisitivo das classes que dependem de rendimentos 
fixos, que possuem prazos legais de reajuste. Neste caso, estão os assalariados 
que, corri o passar do tempo, vão ficando com seus orçamentos cada vez mais 
reduzidos, até a chegada de um novo reajuste. Os proprietários que auferem 
renda de aluguel também têm uma perda de rendimento real, ao longo do 
processo inflacionário, mas estes são compensados pela valorização de seus 
imóveis, que costuma caminhar à frente das taxas de inflação. Nesta categoria 
também estão os capitalistas, que têm mais condições de repassar os aumentos 
de custos provocados pela inflação, procurando garantir a manutenção de seus 
lucros.
Efeito sobre o mercado de capitais 
 Tendo em vista o fato de que, num processo inflacionário intenso, o valor 
da moeda deteriora-se rapidamente, ocorre um desestímulo à aplicação de 
recursos no mercado de capitais financeiro. As aplicações em poupança e 
títulos devem sofrer uma retração. Por outro lado, a inflação estimula a 
aplicação de recursos em bens de raiz, como terras e imóveis, que costumam 
valorizar-se. 
No Brasil, essa distorção foi bastante minimizada pela instituição do 
mecanismo da correção monetária, pelo qual alguns papéis, como os títulos 
públicos, bem como as cadernetas de poupança e títulos privados, passaram a 
ser reajustados (ou indexados) por índices que refletem aproximadamente o 
crescimento da inflação. Em épocas de aceleração da inflação, isso tem 
contribuído para um verdadeiro desvio de recursos de investimentos no setor 
produtivo, para aplicação no mercado financeiro.
Efeito sobre o balanço de pagamentos 
 Elevadas taxas de inflação, em níveis superiores ao aumento de preços 
internacionais, encarecem o produto nacional relativamente ao produzido 
externamente.
Assim, devem provocar um estímulo às importações e um desestímulo às 
exportações, diminuindo o saldo do balanço comercial (exportações menos 
importações). Esse fato costuma, inclusive, provocar um verdadeiro círculo 
vicioso, se o país estiver enfrentando um déficit cambial. Nessas condições, as 
autoridades, na tentativa de minimizar o déficit, são obrigadas a lançar mão de 
desvalorizações cambiais, as quais, depreciando a moeda nacional, podem 
estimulara colocação de nossos produtos no exterior, desestimulando as 
importações103. Entretanto, as importações essenciais, das quais muitos países 
não podem prescindir, como petróleo, fertilizantes, equipamentos sem similar 
nacional, tornar-se-ão inevitavelmente mais caras, pressionando os custos de 
produção dos setores que se utilizam mais largamente de produtos importados. 
O círculo se fecha com uma nova elevação de preços, provocada pelo repasse 
do aumento de custos aos preços dos produtos. 
Efeito sobre os pagamentos de empréstimos e impostos
Nas etapas iniciais do processo inflacionário, todos aqueles que
contraíram dívidas líquidas ganham com a inflação, justamente porque não
incorporam nenhuma expectativa inflacionária. Neste caso, o credor é quem
perde, recebendo a quantia emprestada reduzida pela inflação e, por isso
mesmo, perdendo não só as taxas normais, mas também a renda que teria se
tivesse aplicado seu dinheiro em outras alternativas mais rentáveis de
investimento.
Quanto aos impostos, era uma prática comum no Brasil o atraso do
pagamento desses débitos, pois os juros da mora eram irrisórios, e o atraso
significava, em termos trais, uma diminuição do valor do imposto. Após a
Reforma Tributária de 1967, essa vantagem deixou de existir, uma vez que são
cobrados juros da mora, acrescidos de multas e de correção monetária.
Agora, embora alguns possam ganhar com a inflação a curto prazo, podese
dizer que, a longo prazo, poucos ou quase ninguém ganha com ela, porque
seu processo, funcionando como um rolo compressor, desarticula todo o
sistema econômico.
Uma vez discutidas as distorções; provocadas por elevadas taxas de
inflação, cabe analisar mais detidamente os fatores que a provocam.
O processo inflacionário brasileiro
Pode-se afirmar, sem muita margem de erro, que a maior parte das fontes
de inflação discutidas nos itens anteriores está ou esteve presente em alguma
época no Brasil. Efetivamente, a inflação é um problema bastante característico
da economia brasileira, em particular a partir da década de 50. Isso pode ser
ilustrado pela tabela a seguir, onde observamos as taxas de inflação no Brasil,
desde 1948.
Na década de 5o, e início dos anos 6o, apontava-se como principal fonte
de inflação o déficit do Tesouro. Basicamente, três fatores explicaram o elevado
déficit público. Primeiro, a necessidade de o governo suprir a infraestrutura
adequada de transportes, energia, saneamento etc., para fazer face ao
desenvolvimento econômico acelerado a partir da segunda metade da década de
50. Em segundo lugar, o déficit era explicado pela baixa produtividade dos
serviços do governo e a conseqüente ineficiência na aplicação de seus
recursos. Finalmente, pelo lado da receita, constatava-se a impossibilidade do
governo aumentar a carga tributária, que já era considerada excessiva, tendo-se
em conta o já baixo nível de renda per capita.
Como não podia elevar os impostos, o governo optou pelas emissões de
dinheiro. Esta foi uma típica inflação de demanda: quanto mais dinheiro corria
na economia, maiores eram as compras, num momento em que a economia
ainda não estava preparada para produzir um volume correspondente ao do
aumento de procura.
Alguns estudos apontaram também, para a época, a existência de tensões
de custo, provocadas; basicamente por reajustes salariais acima dos índices de
produtividade, e pelas desvalorizações cambiais. Mas a causa principal era
originada por pressões de demanda, provocadas; basicamente pelos elevados
déficits públicos.
Adicionalmente, as negociações salariais e o processo de formação de
preços tendem a transcorrer num clima que impede a estabilidade. De um lado,
os trabalhadores buscam recuperar os salários reais através de políticas
salariais que simplesmente acabam ditando regras de reajuste de salários
nominais. Por outro, as empresas, especialmente aquelas inseridas em
mercados oligopolizados, têm a capacidade de repassar os acréscimos de
salários aos preços, impedindo a recuperação dos ganhos reais dos
trabalhadores.
O segundo fator importante na questão inflacionária refere-se ao déficit
do setor público. Atual mente, em face da desconfiança que os agentes
econômicos possuem na retenção de ativos financeiros, especialmente títulos
públicos, a questão fundamental não é tanto a magnitude do déficit mas sim seu
financiamento. Torna-se necessário aprofundar as reformas que efetivamente
possibilitem uma recuperação da saúde financeira do setor público.
A racionalização dos gastos públicos exige entre outras medidas a
redução dos gastos ligados ao pagamento do pessoal. Entretanto, aqui existem
barreiras legais que impedem a dispensa dos funcionários públicos devido à sua
estabilidade no emprego. Adicionalmente, uma outra fonte de gastos reside na
questão do pagamento de benefícios e pensões. Os esquemas de aposentadoria
por tempo de serviço têm permitido que inúmeras pessoas se aposentem com
idade inferior a 50 anos. Aqui reside uma distorção também muito importante,
pois, com a elevação da idade média de vida, isto representa um encargo
oneroso para as contas públicas. A racionalização desses gastos está acima dos
limites de competência dos responsáveis pela condução da política econômica,
e depende fundamentalmente de aprovação de emendas constitucionais.
Dessa maneira, o saneamento das contas públicas, peça essencial para a
execução de uma política fiscal e monetária compatível com a estabilização,
exige um apoio político no sentido de que se aprovem as emendas
constitucionais.
Finalmente, em face do crônico processo inflacionário desenvolveu-se na
economia brasileira uma série de mecanismos de indexação que, em última
análise, representam a reação dos agentes econômicos buscando preservar
suas remunerações reais.
A indexação pode ser decomposta em dois grandes grupos: a indexação
entre preços e salários e a existente no mercado financeiro.
A indexação entre preços e salários tem sido tradicionalmente atacada
nos diversos planos de estabilização, pois ela faz com que os tradicionais
mecanismos de estabilização percam muito sua eficiência. Entretanto, o que se
tem notado na economia brasileira é uma resistência muito forte dos agentes
econômicos em abandonar os esquemas de indexação. Ainda que, a nível
agregado, a indexação salarial não preserve os salários reais, cada sindicato
luta por essa regra, pois se apenas ele consegue essa cláusula, seus
trabalhadores são protegidos de perdas reais.
A indexação no mercado financeiro também frutificou, diante do processo
inflacionário. O Plano Collor II, instalado em nossa economia no início de 1991,
procurou eliminar esse tipo de indexação (no sentido de reajustes pela inflação
passada), e introduziu a chamada Taxa Referencial de Juros (TR), que
representa um esquema de prefixação das taxas de juros.
Efetivamente, o fenômeno da inflação representa um desafio constante
para a sociedade brasileira. A adoção de uma certa estratégia pode trazer
resultados satisfatórios em determinadas situações, mas completamente
ineficazes em outras. Tais fatos revelam a complexidade da questão
inflacionária, particularmente no Brasil, em que não só os fatores econômicos,
mas também os políticos, contribuem para a dificuldade de estancar o processo
de elevação de preços.
Fonte de pesquisas:
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas - FIPE
www.fipe.org.br/‎
O Instituto de Pesquisas EconômicasSociais - UCS
www.ucs.br/site/o-instituto-de-pesquisas-economicas-sociais

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