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1 Disciplina: HIGIENE ZOOTÉCNICA Prof. Paulo Francisco Domingues Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública FMVZ-UNESP-Botucatu A HIGIENE NO PROCESSO PRODUTIVO INTRODUÇÃO A saúde animal, o melhoramento genético e a alimentação adequada constituem a base, que serve de apoio ao desenvolvimento de qualquer sistema de produção animal. É importante que estes três fatores sejam fortalecidos progressiva e harmoniosamente, havendo a necessidade de se manter um equilíbrio entre eles, que representam o tripé da cadeia da produtividade animal. A genética confere ao indivíduo potencial intrínseco que é o ponto de partida para o desempenho de toda e qualquer função, ressaltando-se a produção. A higiene e o manejo zoosanitário fornecem, ao lado da genética, as condições de higidez necessárias à criação animal, tornando a produção economicamente viável, pois caso contrário, o animal reduz o seu rendimento, deixa de produzir economicamente ou simplesmente não produz, mesmo sob condições ambientais favoráveis, e adequada tecnologia zootécnica. Portanto, a saúde constitui a base para qualquer programa de produção animal, e para se obtê-la são necessárias uma série de observações e medidas, que passaremos a discutir detalhadamente. CONCEITO DE HIGIENE Trata-se de uma ciência que estuda os meios para preservar o homem e os animais das enfermidades, bem como as regras para a manutenção de um estado de perfeita saúde. A palavra higiene se origina da deusa “Hygia”, da mitologia grega, filha de Esculápio e irmã de Panacéia. Segundo a mitologia, Panacéia se 2 dedicava ajudando o pai na colheita de ervas medicinais e tratamento das enfermidades, enquanto Hygia preocupava-se em ensinar o povo os meios de conservar a saúde, evitando-se a utilização de medicamentos, e priorizando a adoção de medidas preventivas, para melhorar a qualidade de vida. IMPORTÂNCIA DA HIGIENE Na pecuária, de uma forma muito ampla, para as diferentes espécies animais de interesse zootécnico, a prática da higiene usada adequadamente, deve resultar em três índices importantes na produção animal: Melhor índice de conversão alimentar Maior taxa de crescimento Menor taxa de mortalidade Estes se traduzem por maior produtividade, rentabilidade e competitividade, que são expressões comuns e levam, obrigatoriamente a se trabalhar melhor. Os resultados de pesquisas mostram claramente, a contribuição de um programa de limpeza e desinfecção, quanto à capacidade dos animais expressarem plenamente o seu potencial genético, refletindo diretamente nos níveis de produção e performance animal, principalmente nas criações modernas e com aplicação de tecnologias disponíveis. Na Tabela 1, pode-se verificar os valores referentes à taxa de mortalidade e eficiência alimentar, com a utilização de limpeza e desinfecção adequada, das instalações e equipamentos, após a retirada de cada lote de suínos. Tabela 1 – Resultados obtidos com um programa de limpeza e desinfecção em 700 criações de suínos para abate. Variável Limpeza e desinfecção regular após cada lote Limpeza irregular Sem limpeza Ganho de peso diário (g) 628 610 535 Conversão alimentar 3,19 3,28 3,36 Mortalidade (%) 2,08 2,61 3,50 Índice econômico + 21,0 + 0,1 - 20,0 Fonte: Male, 1979 (citado por Sobestiansky, 1987). 3 A criação de bovinos é uma importante atividade agropecuária no Brasil, entretanto, os índices de produção e produtividade do rebanho brasileiro ainda são baixos, quando comparado com os de outros países. OBJETIVOS DA HIGIENE O objetivo principal é a manutenção da produção e da saúde animal, no nível mais eficiente, capaz de propiciar retorno econômico máximo ao criador. Atua nos indivíduos sadios do rebanho prevenindo doenças, embora em algumas situações específicas pode e deve aplicar medidas de controle sobre o indivíduo enfermo, no sentido de se evitar ou minimizar os riscos de contaminação para os outros animais e, desta forma, para o homem. Pode-se citar como objetivos principais: - Estabelecer criações saudáveis, e zootecnicamente econômicas. - Higienizar o meio ambiente de produção do animal, reduzindo o número de agentes patogênicos potenciais. - Minimizar a poluição ambiental, por produtos de excreção animal. - Evitar problemas ambientais e de manejo, capazes de afetar a performance produtiva e reprodutiva, de crescimento, e de favorecer a incidência de doenças na criação. - Manutenção da harmonia entre a criação e o ambiente. - Prevenção de doenças dos animais, transmissíveis ao homem, que são as zoonoses. - Manutenção da saúde dos animais e do homem. Para que estes objetivos sejam atingidos é necessário que as estratégias adotadas dentro do planejamento ou programa de saúde animal sejam: - Abrangentes e de utilização contínua. - Adaptado para ajustar-se às necessidades individuais, às instalações ou meio, e atividades fins da propriedade. 4 - As pessoas envolvidas no programa a ser instituído na propriedade devem receber instruções e orientações quanto às tarefas a serem desenvolvidas. Assim, elas estarão sensibilizadas para a importância do programa a ser desenvolvido, e que são parte importante do mesmo, e que o êxito depende da ação conjunta de todos os envolvidos. A higiene não deve ser entendida como um capítulo à parte, mas sim uma área que tem como reflexos positivos na cadeia produtiva, redundando em melhor qualidade de vida para os animais, com melhores índices relacionados à produtividade, e indiscutivelmente melhor qualidade dos alimentos (segurança alimentar) produzidos, como a carne, leite e ovos, oferecendo à população produtos livres de agentes causadores de doenças. Dentro deste contexto a higiene se relaciona com outras áreas como: 1. Fisiologia − a higiene pretende que a vida dos animais se mantenha dentro dos limites de saúde, portanto, é necessário que se conheça os fenômenos fisiológicos das espécies animais envolvidas na criação. 2. Agricultura – as relações entre animais e vegetais indicam dependência existente entre a agricultura e a higiene. Os produtos vegetais constituem a base da alimentação do homem e dos animais domésticos. É importante conhecer a quantidade e qualidade dos alimentos a ser fornecida aos animais, as modificações pelas quais estes passam em função das condições do solo, métodos de cultivo e armazenamento, para que não prejudiquem os índices de produção pretendidos. BIBLIOGRAFIA ANDRIGUETTO, J.M., PERLY, L., MINARDI, I., GEMAEL, A., FLEMMING, J.S., SOUZA, G.A. de, BONA FILHO, A. Nutrição animal, vol. 1, São Paulo: Nobel, 1982. 395p. ARAUJO, M.J.B. Higiene e profilaxia. São Paulo: Bezerra de Araujo, 1982. 172p. 5 FONSECA, L.F.L. Análise de conjuntura da pecuária leiteira nacional. Rev. CRM- São Paulo, out/dez, p. 2-5, 1997. KLOETZEL, K. Higiene física e do ambiente. São Paulo: EDART/USP, 1974. 190p. PEREIRA, A.S. Higiene e sanidade animal. Portugal: Publicações Europa- América, 1992. 233p. RADOSTITS, O.M., BLOOD, D.C. Manual de controle da saúde e produção dos animais. São Paulo: Manole, 1986. 530p. RADOSTITS, D.O. LESLIE, K.E., FETROW, J. Herd health – Food animal production medicine. 2.ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1994. 631p. SOBESTIANSKY, J., WENTZ, I., SILVEIRA, P.R.S. da, LIGNON, G.B., BARCELLOS, D.E.S.N., PIFFER, I.A. Manejo em suinocultura: aspectos sanitários, reprodutivos e de meio ambiente. Concórdia: EMBRAPA-CNPSA, Circular Técnica n.7, 1985. 184p. IMPORTÂNCIA DA SAÚDE ANIMALNo processo produtivo, e neste caso específico, a produção animal, estão inseridos um conjunto de indicadores para se aferir a produtividade, que são: taxa de natalidade, taxa de mortalidade, idade ao primeiro parto, e idade ao abate, de machos para carne. A saúde dos animais não deve ser vista apenas como o contrário de enfermidade, já que considera em seu universo o resultado não só de ações destinadas à proteção dos animais, contra enfermidades, mas inclui também, os efeitos das atividades de fomento à saúde na produção animal. O conceito de enfermidade para os animais deve ser entendido como a ação de todo evento, que perturba ou prejudica o estado de higidez, e a capacidade produtiva e reprodutiva destes. O aparecimento, a manutenção e propagação, de qualquer enfermidade dos animais, pode-se considerar como resultado, muitas vezes, inesperado das atividades transformadoras do homem, 6 visando aumentar a produção, a produtividade pecuária e conseqüentemente a rentabilidade. ENFERMIDADES DA PRODUÇÃO A maioria dos países da América Latina apresenta características comuns, quanto aos problemas que afetam a saúde dos animais. As enfermidades infecto- contagiosas, parasitárias, metabólicas e carenciais, são de grande importância, e interferem diretamente nos indicadores, apresentados anteriormente. Estas enfermidades estão associadas principalmente à desnutrição animal, ao escasso desenvolvimento dos procedimentos de manejo adequado dos animais, à falta de higiene das instalações, à falta de recursos, e de informação dos proprietários. As enfermidades da produção, que não são transmissíveis, que estão relacionadas com problemas funcionais e metabólicos, têm adquirido importância crescente para a saúde animal, pois não se originam de agente biológico específico, mas sim, devido a múltiplos fatores ambientais, ou de manejo dos animais. Para serem resolvidos os problemas de saúde das populações animais, é necessário compreender sua realidade como um todo, tanto no âmbito regional, ou mais amplo, como em todo o país. IMPACTOS DOS PROBLEMAS DE SAÚDE ANIMAL A estreita relação existente entre os perfis de saúde animal e a organização sócio-econômica da produção pecuária, simultaneamente com a estrutura econômica, e social da comunidade, faz com que os problemas de saúde animal sejam quantificados pelos seus efeitos desfavoráveis, sobre diversos aspectos do setor pecuário, bem como sobre outros setores da sociedade. Como áreas de impacto, levando-se em consideração os problemas inerentes à saúde animal, pode-se relacionar: a produção e produtividade pecuária; os investimentos na pecuária; o comércio pecuário seja de animais ou de produtos, a nível nacional e internacional e a saúde pública. 7 PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE ANIMAL Os prejuízos à produção e à produtividade animal são do tipo físico, com conseqüências econômicas. Estes afetam tanto o produto pecuário propriamente dito, como o capital pecuário. Resumidamente a perda de produto pecuário leva a uma diminuição do volume de produção, perda na produtividade, e eliminação de produtos. Os prejuízos à saúde animal podem ser diretos, de efeito imediato, e de curto prazo, ou indiretos, de efeito em médio prazo. Os prejuízos diretos e, portanto, imediatos, estão relacionados com a diminuição, perdas de produção por restrições sanitárias, e com o aumento da mortalidade. Os danos indiretos ou em médio prazo referem-se à perda de capacidade produtiva, deficiência de desenvolvimento bioeconômico bem como com a diminuição da capacidade reprodutiva. INVESTIMENTOS NA PECUÁRIA Os investimentos aplicados à atividade pecuária sofrem impactos desfavoráveis, provocados pelos problemas de saúde animal. Esses efeitos podem atuar tanto sobre os investimentos aplicados pelos pecuaristas, quanto àqueles realizados pelo Estado, no caso de programas oficiais. Quanto ao setor produtivo tem-se uma diminuição de retorno de dinheiro investido, aumento no custo de reposição com conseqüente diminuição da rentabilidade. Considerando os programas sanitários oficiais verifica-se um aumento na dotação de recursos. COMÉRCIO DE ANIMAIS, DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL, E DE PRODUTOS AGRÍCOLAS Como vários países latino-americanos, tem-se na pecuária um dos setores mais importantes de suas economias, entre os prejuízos provocados pelos 8 problemas de saúde animal que se inserem, destaca-se os que afetam o comércio de animais ou de produtos de origem animal, refletindo negativamente nas relações comerciais entre os vários países. Como exemplo pode-se citar as restrições impostas ao Brasil quanto à exportação de animais ou de seus subprodutos, levando-se em consideração a ocorrência da Febre Aftosa em nosso país. A nova condição sanitária alcançada por alguns países da América do Sul que já a erradicaram e algumas regiões do Brasil, onde esta enfermidade está sob controle, tem permitido um incremento em suas relações comerciais. Adicionalmente, os produtos hortifrutigranjeiros, e cereais são discriminados internacionalmente, segundo o tipo de problema sanitário animal, prevalente na região ou país. Referindo-se então aos prejuízos relacionados ao comércio pecuário, tem-se no mercado interno, transtornos ao abastecimento e quanto ao mercado externo, perda de mercados e deterioração de preços. SAÚDE PÚBLICA Quanto aos efeitos socialmente desfavoráveis que produzem os problemas de saúde animal, merece especial consideração os que afetam a saúde pública. Um desses efeitos é a menor disponibilidade de alimentos de origem animal, especialmente leite, carne e ovos. A fome que afeta a população humana da América Latina tem como uma de suas múltiplas causas, um sistema de produção de baixa produtividade, que é influenciada, pela situação sanitária precária da população animal. Uma das conseqüências mais dramáticas da fome é a desnutrição. Aos profissionais das Ciências Agrárias cabem então a responsabilidade da produção de alimentos de qualidade. Assim, em suas mãos repousam esta nobre missão e é inquestionável a relevância destes profissionais na cadeia produtiva alimentar, quando se medita sobre a “Geografia da Fome” de Josué de Castro ou sobre o tratado de Malthus, segundo o qual o destino do homem sobre a terra era padecer de fome, uma vez que os recursos alimentares crescem em progressão aritmética enquanto que a população terrestre o faz em progressão geométrica. É 9 nesta realidade que nos inserimos profissionalmente e, portanto, devemos cumprir conscientemente o nosso papel profissional na busca de soluções para os problemas inerentes à pecuária nacional, melhorando a produtividade animal, e indiretamente a saúde pública. Outros problemas de saúde animal que afetam a saúde pública são as zoonoses (doenças comuns aos animais e ao homem), uma vez que representam importante ameaça para a saúde e bem-estar das populações humanas. Entre estas se destacam a brucelose e tuberculose por poderem ser transmitidas por alimentos. O homem infectado por essas ou outras doenças provoca diminuição horas/homem de trabalho, aumento dos custos com saúde e ainda a possibilidade de invalidez e mortes. BIBLIOGRAFIA ASTUDILLO, V., ROSENBERG, F.J., ZOTTELE, A. OLASCOAGA, R.C. Considerações sobre a saúde animal na América Latina. A Hora Veterinária, n.54, p.37-43, 1990. BECK, A.A.H. Problemas sanitários que afetam as produções de carne e leite. Balde Branco, n.242, p.18-22, 1984. DORA, J.F.P. Erradicação da Febre Aftosa: contribuição da Medicina Veterinária paranossa economia. A Hora Veterinária, n.105, p.17-22, 1998. MODA, G., DABORN, C.G., GRANEE, J.M., COSINI,O. The zoonotic importance of Mycobacterium bovis. Tuber. Lung. Dis., v.77, p.103-8, 1996. ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE. Boletim Epidemiológico, v.19, n.2, 1998. PANETA, J.C. O clone e a fome. Editorial. Revista Higiene Alimentar, v.11, n.48, 1997. TWEDDLE, N.E., LIVINGSTONE, P. Bovine tuberculosis control and erradication programs in Australia and New Zealand. Veterinary Microbiology, v.40, p.23- 39, 1994. 10 SANEAMENTO E PRODUÇÃO ANIMAL Entre as atividades relacionadas à saúde animal e saúde pública, o saneamento é um dos mais importantes meios de prevenção de doenças. É definido pela Organização Mundial da Saúde, como: “o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeito deletério sobre o seu bem-estar físico, mental ou social”. Como definição clássica pode-se dizer que o saneamento é o conjunto de medidas que visam a preservação ou modificação das condições ambientais, objetivando a prevenção de doenças, e conseqüentemente a promoção da saúde. Acredita-se que o processo de saneamento tenha significado desde 500 anos a.C., quando já existia o conceito de que a água fervida era importante na prevenção de doenças. Até que a teoria dos microrganismos de Louis Pasteur, se estabelecesse, acreditava-se que as doenças eram transmitidas por odores. A desinfecção da água e do esgoto surgiu em épocas mais remotas, com a idéia de se controlar estes odores, para se evitar a ocorrência de doenças. São muitas as doenças que podem evoluir pela carência de medidas de saneamento. A não disponibilidade de água de boa qualidade, para dessedentação dos animais, a má disposição dos dejetos, e o inadequado destino do lixo, são alguns exemplos de fatores, que contribuem para uma maior ocorrência de doenças. ZIEGLER et al. (1994), desenvolveram estudo sobre saneamento rural em propriedades no município de Londrina/PR, com ênfase às condições de potabilidade da água, o destino de excretas e do lixo, e a problemática dos roedores. Os resultados obtidos foram os seguintes: a) 76,6% das propriedades apresentaram amostras de água contaminada por coliformes fecais, representando risco para a saúde da população; b) 46,7% da água consumida pela população tem como procedência os poços rasos, 30% provém de minas (fontes) e 23,3% de poços artesianos; c) 92,8% dos poços rasos, 57,1% dos poços artesianos e 77,7% das minas apresentavam-se impróprias para o consumo; d) em 90,0% das propriedades a água era consumida “in natura”; e) em 11 6,7% das propriedades, o destino de excretas humanas era realizado a céu aberto e apenas 6,6% das propriedades apresentavam estrumeiras para as excretas animais; f) em 80,0% das propriedades os roedores causavam prejuízos, embora em 70,0% das mesmas era realizado o seu controle; g) em relação ao lixo, 46,7% era queimados, 33,3% depositado a céu aberto e 20,0% enterrado. Os autores recomendam que se realizem programas de educação sanitária enfocando o saneamento rural para a população envolvida. O saneamento tem sua área de atuação ampla, que tende a aumentar, principalmente, devido à necessidade de controlar a ação do homem sobre o ambiente, cada vez mais intensa. As principais atividades relacionadas ao saneamento são: abastecimento de água, manejo de dejetos, coleta e destino adequado do lixo, controle dos alimentos, controle de insetos e roedores. Outras atividades são incorporadas, como o controle da poluição ambiental, em suas diversas modalidades: do solo, ar, instalações, entre outras. Os problemas ambientais, decorrentes do crescimento populacional e do desenvolvimento industrial, exigem soluções técnicas de saneamento cada vez mais aperfeiçoadas e eficazes. Assim, além das soluções básicas consagradas, novos estudos e pesquisas são desenvolvidos para encontrar meios de garantir ao homem e aos animais, um ambiente de vida saudável. Entre esses problemas vem se destacando o da destinação de resíduos orgânicos e agroindustriais provenientes de setores produtivos, tanto da agricultura como da pecuária. Grandes quantidades de esterco, produzidas por animais em regime de confinamento, como bovinos, suínos e aves, por exemplo, trouxe vários inconvenientes, como mau cheiro, infestação de moscas, produção de chorume, este último podendo contaminar os lençóis freáticos, além de ser potencialmente focos para a manutenção de insetos transmissores de doenças, e poder poluir rios e córregos, quando ali despejados. O destino adequado de resíduos das agroindústrias continua sendo um problema no meio rural. Alguns desses resíduos, como o vinhoto, que é o produto do processamento da cana nas destilarias de álcool, sendo altamente poluentes quando despejados em quantidades excessivas nos locais que os recebem. 12 Efeito também poluidor tem os agrotóxicos e outros produtos bioquímicos, como os fertilizantes, quando carreados para rios e córregos por força das enxurradas. Segundo dados da Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, de 134 casos de mortandade de peixes registrados entre 1985-1987 no Estado de São Paulo, 37 foram provenientes da contaminação por agrotóxicos, revelando a importância desse fator dentro do problema de poluição de fontes de água. Deve-se evitar que os animais tenham acesso a lugares sujeito ao acúmulo de água estagnada, ou alagadiços. A drenagem do terreno consiste na remoção do excesso de água existente nas camadas superiores, objetivando a recuperação do solo para a agricultura, consolidação do terreno e saneamento. Um efeito direto desta ação é o controle de insetos, especialmente moscas e mosquitos, evitando- se a disseminação de focos destes, que são vetores potencialmente transmissores de doenças aos animais e ao homem. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE Educação sanitária é o processo pelo qual pessoas ou grupos de pessoas aprendem a promover, manter ou restaurar a saúde. Para lograr este objetivo é necessário que nos métodos e técnicas empregados se tomem em consideração as maneiras pelas quais elas moldam sua conduta, os fatores que as induzem a conservar ou modificar os hábitos adquiridos, e os modos pelos quais elas adquirem e utilizam seus conhecimentos. Assim, a educação sanitária deve inicialmente considerá-las tais como são, com o interesse que possam ter em melhorar suas condições de vida. Seu objetivo é desenvolver nas mesmas um sentido de responsabilidade para com a saúde, como indivíduos e como membros de uma família e de uma comunidade. No controle das doenças transmissíveis, a educação sanitária compreende a avaliação dos conhecimentos que a população tem de uma doença, o estudo dos hábitos e atitudes desta no que se refere à sua disseminação e frequência, e a divulgação de meios específicos para remediar as deficiências observadas. 13 A educação sanitária como meio principal de promover a saúde é, juntamente com os modos e meios de proteção específica da mesma, o alicerce da ação primária, segundo os níveis de prevenção e aplicação das ações de saúde. O papel dos técnicos envolvidos nas atividades de produção animal, que estarão cada vez mais exercendo a medicina veterinária preventiva na fazenda, inclui o aconselhamento quanto à administração e manejo, com o propósito de manter e melhorar a saúde e o bem-estar dos animais, a higiene de seus produtos, visando sua melhor qualidade, bem como a produtividade, e ainda o rendimento econômico da empresa rural. Estas medidas não se referem somente ao animal, mas sim com uma ação diretasobre o meio ambiente como a orientação quanto ao lixo doméstico , que deverá ser depositado em recipiente com tampa, e, também, colocado em local distante de produtos alimentícios, e que as lixeiras deverão ser esvaziadas freqüentemente. Associada ainda a presença de lixo, deverá ser investigada a existência de rastros ou sinais que indiquem a presença de roedores na propriedade, e qual o melhor método para combatê-los. Finalizando, relacionamos ainda, entre tantas outras ações que devem ser enfatizadas em um programa de educação para saúde em nível de propriedade rural, a importância do controle de resíduos sólidos, enfatizando que o esterco gerado em atividades agropecuárias e em animais domésticos deverá ser corretamente armazenado e poderá ser utilizado como adubo, e ainda, que os animais mortos e seus restos deverão ser eliminados por enterramento, cremação ou aproveitamento industrial, evitando-se com esta medida, o risco das zoonoses, a poluição do meio, a proliferação de insetos, e de outros animais nocivos. 14 BIBLIOGRAFIA BARRETO, G.B. Suinocultura: Saneamento Rural. 2.ed. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1973. 328p. BENENSON, A.S. Controle das enfermidades transmissíveis no homem. 13.ed. Washington: Publicação Científica – Organização Mundial da Saude, n.442, 1983. 420p. LAUBUSH, E.J. Clorination and other desinfection processes. In: Water quality and treatment: a handbook of public watersuplies. New York, Mac Graw – Hill Book Company, p. 158-224, 1971. MEYER, S.T. O uso de cloro nas desinfecções de água na formação de trihalometenos e os riscos potenciais à saúde pública. Cadernos de Saúde Pública, v.10, n.1, p.99-110, 1994. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Programa marco de atenção ao meio ambiente. OPAS/BRA/HEP/009/97, 1998. 260p. RADOSTITS, O.M., BLOOD, D.C. Manual de controle da saúde e produção dos animais. São Paulo: Manole, 1986. 530p. RADOSTITS, O.M., BLOOD, D.C., GAY, C.C. Veterinary Medicine. 8.ed. London: Bailliere Tindall, 1994. 1763p. RENTERO, N. Saneamento: Surge uma nova preocupação no meio rural. Rev. Balde Branco, n.272, p.10-3, 1987. ROUQUAYROL, M.Z. Epidemiologia e Saúde. 3.ed. Rio de Janeiro: MEDSI, cap.12, p.343-64, 1994. 492p. ZIEGLER, J.C.S., LERMEN, C., BEZERRA DOS SANTOS, L. Estudo sobre saneamento rural em propriedades da Colônia Coroados, em 1993, Londrina, Paraná. In: Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, XXIII, Olinda, PE, 1994. Anais ... Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, Olinda, 1994. p.275.
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