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Realismo - Literatura

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Realismo
Para se compreender o Realismo, suas obras e suas características, é necessário entender o que acontecia na Europa, em especial na França, no decorrer do século XIX, pois as mudanças estruturais, principalmente sociais, que ocorreram no continente influenciaram as produções literárias brasileiras. Naquela época, a França era vista como modelo cultural e de costumes no Brasil, um território independente e cuja literatura bebia diretamente da fonte francesa.
As Respigadeiras (1857), de Jean-Françoise Millet  
 Contexto Histórico na Europa 
Over London Rail (1870), de Gustave Doré
O Realismo teve início na Europa, mais especificamente na França, como resposta ao artificialismo do Neoclassicismo e ao sentimentalismo exacerbado do Romantismo, em um momento conturbado da história do continente, repleto de revoltas sociais e de insatisfação política que foram traduzidas para a sua literatura.
A partir de 1830, após a abdicação do monarca Carlos X, as lutas em decorrência da insatisfação de setores da sociedade se tornaram intensas e foram fortemente influenciadas pelas teorias sociais, como o socialismo e o nacionalismo. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, trouxe suas consequências, acentuando a divisão de classes e promovendo a condição precária dos operários, ao passo que favorecia o enriquecimento da burguesia industrial. Aos poucos, as revoltas se espalharam por toda a Europa.
Em geral, os operários eram camponeses pobres e iletrados que foram para as cidades em busca de trabalho. Acabaram encontrando jornadas de trabalho exaustivas, condições de vida precárias e um salário miserável. No entanto, aos poucos, esses operários foram tomando consciência da situação e se organizando para lutar pelos seus direitos. 
Nesse contexto, diversos pensadores europeus começaram a refletir sobre os problemas e a elaborar teorias que tentassem resolver as injustiças sociais. Surgiu então uma doutrina social denominada socialismo, que influenciou profundamente os movimentos operários. Segundo os teóricos do socialismo, as terras e os meios de produção (máquinas, fábricas, etc.) deveriam ser de propriedade comum, organizados pelo governo, para que os redimentos fossem distribuídos por todos. 
A Ciência e as Teorias Sociais
 
Karl Marx, em fotografia de 1875
Com as mudanças trazidas pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial, o pensamento científico também estava transformando a Europa. A necessidade de conhecer mais sobre o mundo natural fez com que, progressivamente, as explicações religiosas fossem substituídas pelos estudos sistemáticos e objetivos. No entanto, esse modelo de estudo não ficou restrito ao mundo físico, sendo extendido também às chamadas “ciências sociais”, na tentativa de estudar as sociedades de modo científico. 
Com relação às mudanças no pensamento social, é fundamental entender quais são os quatro principais teóricos sociais, pois eles foram responsáveis por pensar sobre os acontecimentos do mundo moderno e oferecer ideias e soluções que mudariam significativamente os rumos do mundo ocidental moderno. Além disso, estabeleceram a sociologia como uma ciência. São eles:
Augusto Comte foi o primeiro teórico a utilizar a palavra “sociologia” em 1838. Ele acreditava que as sociedades deveriam ser analisadas pelo viés da razão e da ciência. Comte queria criar uma “ciência da sociedade”, da mesma maneira como a “ciência natural” explicava o mundo físico de maneira positiva, isto é, produzindo conhecimento com base em evidências empíricas por meio da observação, da comparação e da experimentação. 
Karl Marx foi um pensador alemão que, expulso de seu país de origem, morou na França e na Inglaterra, onde pôde acompanhar as mudanças da Revolução Industrial e a situação dos operários. Publicou, juntamente com Friedrich Engels, “O Manifesto Comunista” e “O Capital”, obras importantes sobre o socialismo. O socialismo visa à propriedade coletiva dos meios de produção e ao fim da propriedade privada, o que, no entendimento dos autores, eram os fatores responsáveis pelas desigualdades sociais, onde poucas pessoas enriqueciam às custas das camadas de operários. Com o socialismo, as sociedades gradativamente alcançariam a igualdade, atingindo o comunismo (embora socialismo e comunismo sejam utilizados frequentemente como sinônimos, eles têm conceitos diferentes). Marx também acreditava que a história e as mudanças sociais eram fruto das forças econômicas da sociedade, não do acaso ou simplesmente do “poder das ideias”. Esse modo de interpretação da história recebeu o nome de materialismo histórico e mudou alguns paradigmas de compreensão não apenas da história, mas também de disciplinas como economia e geografia.
Émile Durkheim - assim como Auguste Comte - defendia a importância da sociologia como ciência empírica. Além disso, a sociologia deveria se dedicar a estudar os fatos sociais, isto é, os aspectos da vida em sociedade que moldam as nossas ações e comportamentos como indivíduos. O teórico defendia que, mesmo as ações mais íntimas e pessoais dos indivíduos sofrem influência e são moldadas por aspectos da sociedade. Assim, Durkheim legitimaria a sociologia como uma disciplina, tendo os fatos sociais como seu objeto de estudo.
Max Weber, um dos fundadores da sociologia, foi responsável por promover estudos relacionando sociologia e religião. Em sua obra principal, “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber analisa como algumas características do protestantismo, no qual a ideia de gerar riqueza é positiva, levaram ao desenvolvimento do capitalismo e como as religiões influenciaram as sociedades, principalmente o protestantismo e o catolicismo. O teórico foi responsável por incorporar diversos conceitos aos estudos da sociologia, como a burocracia, a ética protestante, a racionalização, a ação ideal e o tipo ideal.
	Breve Cronologia dos Acontecimentos na Europa no Século XIX
Charles Louis Napoléon Bonaparte, o Napoleão III, imperador 
francês responsável pela Guerra Franco-Prussiana em 1870
Ano
Acontecimentos
1830
Na França, Carlos X (contrário às mudanças da Revolução Francesa, de 1789) abdica e ocorre a Revolução de Julho, colocando a burguesia no poder, representada por Luís Filipe de Orléans. A revolução é um dos eventos mais importantes da história moderna desde a Revolução Francesa. 
Início do movimento social cartista na Inglaterra, representado pela Associação Geral dos Operários de Londres. O movimento foi organizado por trabalhadores que, vendo a impossibilidade de terem seus direitos trabalhistas assegurados pela legislação, exigiam o sufrágio universal (isto é, o voto universal) para todos os homens, para que pudessem escolher legisladores que estivessem ao lado dos trabalhadores.
1836
Fundação do jornal La Presse, na França, que barateou seus custos com a publicação de anúncios. Muitos escritores começaram a publicar seus romances no La Presse em forma de folhetim. Em breve, o gênero estaria popularizado em toda a Europa e suas colônias.
1845
Ocorre uma grave crise agrícola e financeira na Europa que mata milhares de pessoas em decorrência da fome. Diversos grupos de oposição começam a se organizar e a protestar na França. Segundo Marx, as causas da fome estavam diretamente ligadas ao sistema capitalista, que focava na produção para gerar lucro para beneficiar uma parte pequena da população, enquanto as grandes massas passavam fome.
1848
A fome que assolava diversos países da Europa levou a diversas rebeliões populares. Na França, grupos insatisfeitos com a administração de Luís Filipe de Orléans organizaram barricadas em conflito com o governo. O rei abdica e tem início a Segunda República, provisória, também conhecida como República Social. 
Ano de publicação de “O Manifesto Comunista”, de Karl Marx e Friedrich Engels. 
1852
Segundo Império, implantado por Napoleão III (sobrinho de Napoleão Bonaparte) por meio de um golpe de estado. O imperadorfoi responsável por atritos com a Prússia que, em 1870, deram início à Guerra Franco-Prussiana (cujas consequências serviram como motivos para que ocorressem, na primeira metade do século XX, as duas grandes Guerras Mundiais).
1856
Publicação de “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert (em forma de folhetim). O romance é considerado o inaugurador do Realismo na literatura.
1857
Charles Darwin publica “A Origem das Espécies”, mudando paradigmas no pensamento científico.
1870
Com a derrota da França na Guerra Franco-Prussiana na batalha de Sedan, Napoleão III é preso e é inaugurada a Terceira República (que durou até 1940), com Louis Adolphe Thiers como presidente. Ocorre também a assinatura do Tratado de Frankfurt.
1871
Restabelecimento da Comuna de Paris, primeiro governo formado por operários, de caráter socialista, que durou apenas dois meses (de março a maio). Ocorreu em decorrência da insurreição popular de 18 de março e em meio à Guerra Franco-Prussiana.
 
 
	A Literatura
A câmara mortuária de Madame Bovary(1912), de Albert-Auguste Fourié
As produções do movimento realista enfocam determinados aspectos da sociedade por meio de uma linguagem objetiva e com precisão de detalhes. Como se os fatos cotidianos estivessem debaixo da lupa do escritor, que faz um estudo sistemático de seus personagens, desenvolvendo minuciosamente tanto suas características físicas quanto seu caráter. Há uma preocupação por parte dos autores em retratar as camadas mais baixas da sociedade, seus dramas e suas condições precárias, como forma de denúncia social. Com relação à burguesia e às camadas mais altas da sociedade, os escritores se preocuparam em criticar instituições como a Igreja, sistemas como a escravidão e a evidenciar os vícios, os jogos de poder e as traições dentro da família patriarcal.  
O romance realista também foi o responsável pela primazia da literatura em prosa. Pela primeira vez na história, a prosa era mais importante do que a poesia. 
Publicado em forma de folhetim em 1856, Madame Bovary, de Gustave Flaubert, é considerado o romance precursor do Realismo, inaugurando a narrativa realista moderna. 
Saiba mais:
Gustave Flaubert (1821-1880)
Madame Bovary conta a história de Emma Bovary, esposa do médico Charles Bovary, que se envolve em casos extraconjugais e arruína a fortuna do marido na tentativa de escapar do tédio que é a sua vida na província. Afundada em dívidas e desiludida pelo seu grande amor (um de seus amantes), Emma comete suicídio. A agonia dos últimos momentos de Emma é descrita com precisão e objetividade, diferentemente das descrições apaixonadas nos romances do Romantismo. Flaubert se considerava um perfeccionista e, influenciado pelo cientificismo e pelo positivismo, buscou sempre “le mot juste”, isto é, a palavra certa e precisa para descrever as cenas e dar vida aos seus personagens.
Apesar do preciosismo, da análise psicológica e da beleza de Madame Bovary, o livro chocou a sociedade francesa na época de sua publicação e foi considerado obsceno. Flaubert foi processado e acusado de imoralidade. Absolvido, em 1857, quando questionado sobre quem seria a pessoa por trás da personagem Emma, Flaubert respondeu apenas “Madame Bovary c’est moi”, isto é, “Madame Bovary sou eu”.
Além de “Madame Bovary”, Flaubert também escreveu “A Educação Sentimental” e “Salammbô”.
Além de Flaubert, outras obras e escritores se destacam no movimento: A Comédia Humana, de Balzac e O Vermelho e o Negro, de Stendhal, na França; Oliver Twist, de Charles Dickens e a peça de teatro Casa de Bonecas, do norueguês Henrik Ibsen, na Inglaterra; O Primo Basílio, de Eça de Queirós, em Portugal; Os Irmãos Karamazov, de Dostoiévski e Guerra e Paz, de Tolstói, na Rússia e, é claro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, no Brasil, inspirado, principalmente, pelos romances franceses e portugueses.
Saiba mais:
Honoré de Balzac (1799-1850)
Honoré de Balzac foi um prolífico escritor, considerado um divisor de águas do romance. A partir de Balzac, as histórias medievais extraordinárias e romanescas deram lugar à noção moderna de romance: fatos corriqueiros, cotidianos, dramas familiares. O escritor se dedicou profundamente à observação da sociedade e “A Comédia Humana”, como se chama o conjunto de toda a sua obra, é composta por 95 romances, novelas e contos. 
Conservador, retratou a sociedade urbana de sua época. Em seus romances, o amor e as paixões não são os elementos principais. Eles existem, mas se misturam aos dramas financeiros das famílias retratadas. Se no Romantismo os romances terminavam no casamento, os romances de Balzac iniciam no casamento, para criticar a hipocrisia daquela instituição na burguesia francesa. Agora, ambição e dinheiro são mais importantes, dando espaço para um mundo de proprietários, advogados, industriais, comerciantes e aristocratas decadentes. Além disso, seus personagens são considerados “tipos sociais”, representando categorias inteiras da sociedade. 
Um de seus romances mais populares é “A mulher de Trinta Anos”, em que conta a história de Julie d’Aiglemont e a sua vida de infelicidades. Por causa deste romance, a expressão “balzaquiana” é utilizada quando alguém se refere a uma mulher de 30 anos.
Charles Dickens (1812-1870)
Charles Dickens foi um dos escritores mais importantes da chamada era vitoriana, na Inglaterra do século XIX. Pertencente à classe média baixa, o autor se dedicou a retratar as condições dos trabalhadores e dos habitantes das classes mais baixas de Londres. Sua crítica social residia, principalmente, no fato de a sociedade vitoriana permitir as condições extremas de pobreza de sua população operária. 
Dickens foi um escritor popular que publicava seus romances em folhetim. Sua popularidade deu-se graças ao desenvolvimento dos personagens, que ganhavam a admiração dos leitores ingleses, aos diversos episódios humorísticos que formavam seus romances e às cenas em que descreve a cidade de Londres. Além disso, seus romances, apesar de realistas, têm um viés melodramático e Dickens valorizou a infância, já que, na Inglaterra, era muito comum que as crianças trabalhassem nas fábricas (e o próprio Dickens começou a trabalhar desde muito jovem na indústria).
Seus livros mais importantes são Oliver Twist, As Aventuras de Pickwick, Um Conto de Natal, Grandes Esperanças e David Copperfield(considerado uma autobiografia).
 
O Realismo no Brasil
No Brasil, as últimas produções da terceira geração romântica, na segunda metade do século XIX, já indicavam a mudança que estava por vir. Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto atentavam para a realidade social do país em suas obras. Na prosa, a obra de Manuel Antônio de Almeida também dava indícios de novas abordagens no romance.
O Violeiro (1899), de Almeida Junior
 
O Contexto Histórico Brasileiro
Proclamação da República (1893), de Benedito Calixto
 
O Brasil, na segunda metade do século XIX, assim como a Europa, vivia um momento bastante conturbado. O cientificismo, o positivismo e as teorias sociais vindas da Europa, juntamente com o abolicionismo, a Guerra do Paraguai, a assinatura da Lei Áurea, a substituição da mão de obra escrava pela assalariada(principalmente dos imigrantes que chegaram ao Brasil), o ideal republicano e a crise da monarquiacaracterizavam a segunda metade do século XIX. Esse período representou o declínio da sociedade aristocrático-escravista e uma gradual ascensão do capitalismo industrial. Em São Paulo, as máquinas e as indústrias começaram a surgir, e os cafeicultores, com a mão de obra assalariada, passaram de latifundiários a empresários agrícolas.  
O realismo no Brasil estreou em 1881 com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Principais Características
As características do movimento estão intimamente ligadas com o contexto histórico brasileiro e com as novas teorias vindas da Europa,principalmente no que diz respeito ao positivismo, ao socialismo e ao evolucionismo. Desenvolveu-se, assim, uma postura objetiva na maneira de tratar a ficção. No entanto, havia a busca pelos detalhes mais precisos e “realistas” possíveis, sem abrir mão da crítica social. Com isso, o subjetivismo e sentimentalismo do movimento romântico abriram espaço para o universalismo e o materialismo do momento presente.
Os escritores do período podem ser considerados antimonárquicos, pois criticam a monarquia e defendem o republicanismo; antiburgueses, pois denunciam a hipocrisia da família patriarcal burguesa como célula da sociedade, e anticlericais, pois defendem a separação entre Estado e religião.
Autores e Obras
Os principais autores realistas brasileiros são Machado de Assis e Raul Pompeia. Este último pode ser considerado um escritor de transição entre o Realismo e o Naturalismo, pois seu romance principal, O Ateneu, possui características de ambos os períodos. No entanto, consideraremos o romance de Pompeia como pertencente ao Realismo.
 
Autores
Machado de Assis (1839-1908)
	
	Machado de Assis nasceu em 1839 e faleceu em 1908 no Rio de Janeiro. É considerado nacional  e internacionalmente um dos maiores nomes das Letras brasileiras.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento (RJ). Era filho do brasileiro Francisco José de Assis, um pintor de paredes mulato, e da açoriana Maria Leopoldina Machado de Assis, uma lavadeira. Após a morte da mãe, seu pai casou-se com Maria Inês da Silva, com quem o escritor continuou morando após o falecimento do pai.
Machado de Assis estudou por pouco tempo em uma escola pública, onde aprendeu as primeiras letras. Começou sua vida literária bastante cedo e, aos 16 anos publicou o poema “Ela” no jornal Marmota Fluminense(de Francisco de Paula Brito). No ano seguinte, passou a trabalhar como tipógrafo na Imprensa Nacional, então sob a direção de Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um Sargento de Milícias. Em 1858 iniciou aulas de francês com o Padre Antônio José da Silveira Sarmento e, no mesmo ano, tornou-se revisor de provas tipográficas na livraria de Paula Brito. No ano seguinte trabalhou como crítico teatral, colaborando para inúmeros jornais.
Em 1863 Machado publicou suas primeiras peças de teatro: O Protocolo e O Caminho da Porta, além de publicar diversos contos no Jornal das Famílias. Seu primeiro livro publicado foi uma coletânea de versos intitulada Crisálidas. A partir de então, a produção literária de Machado de Assis tornou-se bastante prolífica e o autor escreveu críticas, crônicas, contos, poemas, ensaios e teve publicado seu primeiro romance, Ressurreição(que ainda continha resquícios da prosa romântica).
Carolina Augusta Xavier de Morais, o grande amor de Machado de Assis
Machado de Assis casou-se com Carolina Augusta Xavier de Morais, o grande amor da sua vida, sua companheira por quase 35 anos e a quem dedicara seu soneto mais famoso, A Carolina.
Em 1873 Machado foi nomeado para um cargo público como primeiro-oficial da Secretaria do Estado do Ministério da Agricultura, sendo mais adiante promovido a chefe da seção da Secretaria da Agricultura, o que lhe garantira estabilidade financeira. Dedicando-se cada vez mais à literatura, publicou os livros Histórias da Meia-Noite (1873), A Mão e a Luva (1874), Americanas (1875), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).
Inspirado no novo estilo de romance que estava se desenvolvendo na Europa e, principalmente, por Eça de Queirós (que havia publicado O Primo Basílio em 1878), Machado inicia, em 1879, a publicação seriada de Memórias Póstumas de Brás Cubas na Revista Brasileira e, no mesmo ano, inicia a publicação seriada de Quincas Borba na revista A Estação. Os dois romances foram publicados em forma de livro em 1881 e 1891, respectivamente. A partir de 1882, publicou os livros Papéis Avulsos, Histórias sem Data e Várias Histórias. 
Em 1896 dirigiu a primeira sessão preparatória da fundação da Academia Brasileira de Letras e, no ano seguinte, participou da sua inauguração, sendo eleito o primeiro presidente, cargo que assumiu por dez anos. Em 1899 publicou outro de seus romances mais importantes, Dom Casmurro. A partir de então, publica Páginas Recolhidas, Poesias Completas e Esaú e Jacó.
Carolina faleceu em 1904. Em 1908 Machado publicou o controverso Memorial de Aires. Faleceu no mesmo ano, no Rio de Janeiro, em decorrência de uma úlcera canceriosa. Assim como o personagem de seu romance mais famoso, Machado de Assis não deixou filhos para a posteridade.
 
	Principais Obras de Machado de Assis
As obras de Machado de Assis são divididas em duas fases: a fase romântica (ou de amadurecimento) e a fase realista (ou de maturidade). Na primeira fase, o escritor ainda apresenta características do período romântico; na segunda, considera-se dentro do novo movimento literário realista. 
Com relação à poesia, na primeira fase, seus poemas de temática amorosa não apresentam preocupações formais, mas uma linguagem bastante trabalhada. Há também a poesia de temática nacionalista, inspirada por Gonçalves Dias, principalmente as contidas no livro América. Na segunda fase, sua poesia é considerada parnasianista. A poesia produzida no período realista é enquadrada no Parnasianismo, isto é, há uma preocupação tanto com a forma quanto com a linguagem utilizada.
Com relação à prosa, Machado de Assis não apenas inaugura o Realismo no Brasil, mas também sua segunda fase literária com Memórias Póstumas de Brás Cubas. A partir de então, seus escritos são permeados por análises psicológicas dos personagens, análise da sociedade e crítica aos ideais românticos. Além disso, há uma mudança formal, com frases e capítulos curtos, e a utilização do recurso de diálogo com o leitor. Antes disso, seus trabalhos em prosa da primeira fase foram considerados (pelo próprio escritor) ingênuos e romanescos. 
Conheça, a seguir, um pouco mais sobre alguns de seus romances mais importantes:
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
Capa de Memórias Póstumas de Brás Cubas, com desenhos de Portinari
A grande inovação que este romance traz não apenas à literatura brasileira, mas à literatura universal reside no fato de que o seu narrador encontra-se morto. O defunto-narrador Brás Cubas narra sua autobiografia em primeira pessoa. O personagem é um filho da elite carioca do final do século XIX que, apesar de suas ambições, chega à conclusão de que não realizou nada digno de nota durante a sua vida. Outro ponto interessante do livro é que, em geral, os escritores dedicam suas obras a pessoas ou escrevem uma epígrafe para indicar o tom ou a temática do romance. No caso de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o narrador, ainda antes do romance, faz a sua dedicatória fúnebre: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas.”
O romance propriamente dito inicia com o velório de Brás Cubas, quando o narrador faz um relato do que aconteceu no momento em que faleceu de pneumonia e fala dos que estiveram presente em seu velório. É no capítulo IX, intitulado “Transição”, que iniciam os fatos: Brás Cubas relembra de sua vida desde a mais tenra idade e conta ao leitor sobre sua infância endiabrada e a paixão por Marcela, uma prostituta, na adolescência (fato que levou sua família a enviá-lo para estudar em Coimbra). Após seu retorno ao Rio de Janeiro, ocorre a morte do pai, a discussão de sua herança com a irmã e o cunhado, e o plano de casamento com uma moça chamada Virgília. No entanto, Virgília prefere casar-se com um aspirante a político. Mesmo assim, os dois tornam-se amantes, encontrando-se às escondidas na casa da costureira Dona Plácida. 
Na mesma época, Brás Cubas encontra, por acaso, pelas ruas do Rio de Janeiro, seu amigo de infância Quincas Borba. Borba afirma, em seu delírio, ser o criador de uma nova filosofia - o Humanitismo - que justificaria determinadosatos de guerra na busca pela sobrevivência de um dos lados. Quincas Borba, então, um mendigo, surrupia o relógio de Brás Cubas quando os dois se despedem. 
Virgília e o marido mudam-se para o norte e Sabrina, irmã de Brás, arranja uma noiva para ele. No entanto, a moça morre de febre amarela. Brás Cubas torna-se deputado e, ao se candidatar a ministro, acaba fracassando. Após diversos fracassos e tristezas, o personagem resolve fazer uma última tentativa de sucesso: criar um remédio, o “Emplastro Brás Cubas” que, segundo seu autor, curaria todas as doenças. Ironicamente, Cubas falece de uma pneumonia quando estava trabalhando no remédio.
Desolado, só resta ao defunto pensar sobre a sua vida e chegar à conclusão, negativa, de que pouco realizou. Uma das passagens mais famosas da nossa literatura é, justamente, a do final do romance, quando Brás Cubas informa que: 
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
 
 
Quincas Borba (1891)
Capa da primeira edição de Quincas Borba, publicada em 1891
 
O personagem que dá nome ao romance é o mesmo que aparece em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ao mesmo tempo em que se encontrava miserável no Rio de Janeiro, o filósofo era dono de uma imensa riqueza. No romance Quincas Borba, Rubião, um humilde professor do interior de Minas Gerais e enfermeiro de Quincas Borba, recebe a herança do tresloucado criador da filosofia chamada Humanitismo, com a condição de que cuidasse do cachorro do filósofo, também chamado Quincas Borba.
A mudança na vida de Rubião passou então a chamar a atenção da sociedade, que começou a visitá-lo, aproveitando-se da sua ingenuidade. Ao viajar para o Rio de Janeiro, Rubião conheceu um casal, Cristiano e Sofia, que, ao se verem frente a um provinciano ingênuo, armaram um plano para se aproveitar da fortuna de Rubião. Sofia se insinuou a Rubião, mas quando este declarou seu amor, ela o recusou. No entanto, o casal não cortou laços com o herdeiro de Quincas Borba por ainda nutrir interesse na sua herança. Por fim, em função do amor não correspondido por Sofia, Rubião acabou enlouquecendo. 
A trajetória de ascensão e derrocada de Rubião comprovam a tese do Humanitismo. Rubião não sabia como lidar contra aqueles que se esforçaram ao máximo para tirar-lhe “as batatas”, isto é, a riqueza que herdara do criador da filosofia do Humanitismo. Rubião morre louco pensando ser Napoleão III. Até nisso Rubião demonstrava sua mediocridade face à sociedade de sua época.
Dom Casmurro (1899)
Considerado o último romance da “trilogia realista” de Machado de Assis, Dom Casmurro conta a hitória de amor entre Bentinho e Capitu, dois vizinhos e amigos de infância, o casamento entre eles e a suspeita de traição (após Bentinho perceber que seu filho com Capitu é parecido com Escobar, um amigo do casal). As crises de ciúme de Bentinho levam à separação do casal e tanto Capitu quanto o filho Ezequiel acabam morrendo: a primeira, na Europa; o segundo, de tifoide em uma viagem ao Oriente Médio.
Muito já se discutiu e ainda se discute acerca do assunto. No romance, que é narrado em primeira pessoa, Bentinho tem certeza de que Capitu o traiu. No entanto, como temos apenas a visão (e a voz) do narrador-personagem, não sabemos se sua suposição estava correta.
Ao passo que Bentinho é, desde pequeno, um garoto mimado, teimoso e rabugento, que recebe o apelido de “Dom Casmurro”, Capitu é uma menina cheia de vida, aventureira, comunicativa e sedutora. 
Além do enredo original e das discussões levantadas, Machado, neste romance, faz um perfil psicológico dos personagens e uma análise comportamental dos indivíduos da sociedade de sua época.
Memorial de Aires (1908)
Último livro de Machado de Assis, não possui um enredo linear. É composto por uma série de entradas de diário, contando diferentes episódios do comendador (semelhante à forma de composição de Memórias Póstumas de Brás Cubas) entre os anos de 1888 e 1889. O narrador-personagem já havia aparecido no romance anterior Esaú e Jacó. Em Memorial de Aires, o romance gira em torno do casal de velhinhos Aguiar e Carmo, sua rotina e suas tristezas (como o fato de não terem tido filhos).  
Há quem diga ainda que o comendador é um alter ego de Machado de Assis e D. Carmo, de Carolina, sua esposa. O livro é objeto de controvérsia por ser pessimista com relação à velhice e ao mundo e por mostrar um narrador alheio à sociedade carioca da época, que fervilhava com a abolição da escravatura (1888) e com a Proclamação da República (1889), dois acontecimentos muito importantes da história do país.
A polêmica em torno do livro deve-se ao fato de que Machado, neste romance, demonstra indiferença com os ideais abolicionistas da época. O fato de o enredo acontecer em um ambiente doméstico da elite carioca ligada à monarquia foi entendido como descaso com os acontecimentos sociais tão importantes da sua sociedade, por meio de um narrador de visão limitada e parcial.
 
	Raul Pompeia (1863-1895)
Nasceu em Angra dos Reis (RJ) em 1863 e faleceu no Rio de Janeiro em 1895.
Raul Pompeia é outro escritor importante da segunda metade do século XIX. Sua obra transita entre o Realismo e o Naturalismo. No entanto, para fins didáticos, estudaremos sua obra como pertencente ao Realismo. Pompeia publicou quatro romances ao longo da vida, dos quais O Ateneu: crônica de saudades é o que recebe maior importância para o estudo da literatura brasileira. Além da discussão acerca do movimento ao qual Raul Pompeia pertenceria, alguns críticos consideram O Ateneu como um romance à parte na literatura brasileira, sendo o único representante do "impressionismo" no Brasil.
O Ateneu (1888)
Ilustração presente em O Ateneu, feita pelo próprio Raul Pompeia
Este romance, publicado em 1888, é um livro de memórias, narrado em primeira pessoa por Sérgio, que conta suas experiências no inernato Ateneu. O romance é autobiográfico, revelando aspectos e críticas da infância do autor no Colégio Abílio. A crítica do narrador está, justamente, na estrutura educacional da instituição: arrancados da proteção da família, os garotos são jogados à própria sorte nas mãos de Aristarco, um diretor rígido, egocêntrico e ganancioso. O colégio se torna um microcosmo cujas leis próprias colidem com as “leis da sobrevivência” daqueles meninos confinados sob o teto de uma educação rígida. O único consolo das crianças é sonhar com a bela D. Ema, esposa do Dr. Aristarco, que além de personificar a figura materna, é combustível para os pensamentos sexuais deles. Ao final do romance, um incêndio, causado pelo filho do diretor, põe fim ao colégio Ateneu.
O romance revela características naturalistas ao subjugar o personagem às regras “do meio” que frustra, intimida e coloca os internos em contato com a homossexualidade. Além disso, o colégio Ateneu pode ser entendido como uma alegoria à moral falida do sistema político e econômico da época: a monarquia decadente. O romance foi publicado às vésperas da Proclamação da República.
A Academia Brasileira de Letras (ABL)
Fachada do Petit Trianon, sede da Academia desde 1923
No final do século XIX, Afonso Celso Junior e Medeiros e Albuquerque - homens de letras - acreditavam que o Brasil deveria ter uma Academia de Letras, nos mesmos moldes da existente na França, com o intuito de cultivar e promover a língua e a literaturaportuguesa. Somada a alguns escritores de renome, a ideia surge como uma instituição privada e independente do Estado. 
As sessões preparatórias que precederam a fundação da Academia ocorreram na redação da Revista Brasileira, no Rio de Janeiro, contando com a presença de vários escritores, incluindo Machado de Assis, que aceitou a presidência desde o início. Junto dele, outros 39 escritores e homens de letras se juntaram naquela que foi a primeira formação da Academia Brasileira de Letras. A sessão inaugural ocorreu em 20 de julho de 1879.
Cada um dos 40 imortais escolheu um “patrono”, um escritor já falecido, para dar nome à cadeira. Esta poderá ser ocupada por qualquer cidadão brasileiro com obras publicadas e cujo valor literário será analisado e votado pelos membros da ABL. Uma vez agraciado com o título, o escritor passa a ser um imortal da ABL, significando que sua posição na Academia é vitalícia. 
 
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