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LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS ESTUDOS DISCIPLINARES VII TRABALHO EM GRUPO - TG SAUDAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA JOÃO CARLOS SALES DE FREITAS - RA: 1628881 POLO ASA NORTE Brasília - DF 2017 � SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1 2. FORMALISMO E FUNCIONALISMO - Breves Considerações ................................ 1 3. QUESTÃO FORMULADA ..................................................................................... 1 3.1 Exemplos de Saudações .................................................................................................... 2 4. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 3 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 4 � VENDER É O QUE INTERESSA... O gerente de vendas recebeu o seguinte fax de um dos seus novos vendedores: "Seo Gomis, o criente de Belzonte pidiu mais cuatrucenta pessa. Faz favor toma as providenssa. Abrasso, Nirso". Aproximadamente uma hora depois recebeu outro: "Seo Gomis, os relatorio di venda vai xega atrazado proque to fexando umas venda. Temo que mandá treiz miu pessa. Amanhã to xegando. Abrasso, Nirso". No dia seguinte: "Seo Gomis, num xeguei pucausa de que vendi maiz deis miu em Beraba. To indo pra Brazilha. Abrasso, Nirso". No outro: "Seo Gomis, Brazilha fexo 20 miu. Vo pra Frolinoplis e de lá pra Sum Paulo no vinhão das cete hora. Abrasso, Nirso". E assim foi o mês inteiro. O gerente, muito preocupado com a imagem da empresa, levou ao presidente as mensagens que recebeu do vendedor. O presidente, um homem muito preocupado com o desenvolvimento da companhia e com a cultura dos funcionários, escutou atentamente o gerente e disse: - Deixa comigo que eu tomarei as providências necessárias. E tomou. Redigiu de próprio punho um aviso e afixou no mural da empresa, juntamente com as mensagens enviadas pelo vendedor: "A parti de oje nois tudo vamo fazê feito o Nirso. Si priocupá menos em iscrevê serto, mod vendê maiz. Acinado, o Prizidenti". Disponível em <http://www.palestrante.srv.br/index.php/fabulas/627-fabula-e-parabola>. Acesso em 07 ago. 2016. O gênero textual piada, comumente, reflete uma postura preconceituosa. O texto “Vender é o que interessa...”, de autoria desconhecida, provoca a reflexão sobre a imagem que se faz das pessoas a partir de como usam a língua. Por que a piada reflete uma visão linguística preconceituosa? � 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho visa refletir acerca do texto: "Vender é o que interessa..." Tal reflexão tem como pano de fundo o estudo da variedade e do preconceito linguístico bem presente nas línguas, especialmente no português falado em um país superpopuloso e de dimensões continentais como o Brasil. O texto utilizado pertence ao gênero anedota ou piada. Nele estão presentes elementos para análise que transcendem o riso e leva à reflexão sobre a variedade linguistica e o preconceito que sofre os falantes da classe de menor prestígio da sociedade. Para alcançar os objetivos propostos, foram realizadas breves reflexos sobre o gêneros anedota ou piada; a variedade linguística; e, finalmente, resposta ao questionamento proposto: Por que a piada reflete uma visão linguística preconceituosa?. 2. O GÊNERO ANEDOTA OU PIADA Os gêneros textuais surgiram da necessidade intrínseca ao ser humano de interagir e comunicar-se com o outro. São inúmeros os gêneros textuais, uma vez que variam muito e buscam adaptar-se às peculiaridades situacionais dos falantes. Dentre esses, é possível identificar o gênero anedota ou piada, como é o caso do texto "Vender é o que interessa...", objeto do presente trabalho. Os diversos gêneros possuem características próprias que possibilita sua identificação diante de outros gêneros. O gênero piada, por exemplo, se caracteriza por se apresentar em textos curtos com estrutura narrativa; num diálogo direto mostra situações do cotidiano em que, pelo deslocamento de sentido, inesperadamente, surpreende o interlocutor. Normalmente circular em ambientes informais e descontraídos. Denominada de anedota ou piada, esse é um tipo de texto que explora todas as áreas da atividade humana. Por isso, seus limites vão além do riso, pois, através do riso, a anedota leva a uma reflexão rápida sobre as diversas formas de comportamento e expressões da vida. É, assim, uma atividade discursiva do tipo narrativa oral, cujo clímax está na surpresa, na quebra da expectativa. É um gênero textual que agrada em muito às crianças e, por esse motivo, é incentivado seu uso pelo próprio MEC, o qual disponibiliza sugestões de aula para download em seu portal na internet (Espaço da Aula). Segundo o MEC, o trabalho com anedota em sala de aula traz descontração e divertimento possibilitando ao professor aproveitar esse interesse dos alunos e trabalhar tanto habilidades de leitura como o desenvolvimento da oralidade. No entanto, deve o professor tomar cuidado com a apresentação de piadas pouco adequadas para o contexto da sala de aula. Piadas de cunho preconceituoso, discriminatório e machista, dentre outros, são muito comuns e deve ser evitadas. Caso ocorra, cabe ao educador fazer as intervenções necessárias, visando sempre o objetivo pedagógico e educativo. 3. A VARIEDADE LINGUÍSTICA A etimologia do termo "comunicação" deriva do latim “communicare”, que significa partilhar, tornar comum. Assim, comunicação é o processo por meio do qual um indivíduo compartilha informações, pensamentos, histórias, sensações, ideias ou qualquer outra coisa. Para o estabelecimento dessa comunicação, o ser humano se vale da língua, o seu código mais utilizado. Os falantes de determinada língua possuem características peculiares de se expressar e que varia de acordo com o contexto histórico, geográfico e sociocultural a que pertençam. A esse fenômeno comum e natural de uma língua denomina-se variedade linguística. São inúmeras as variedades. Por exemplo, utilizando-se o critério geográfico, é possível distinguir a variedade linguística do gaucho, do baiano e do manauara; como critério social pode-se diferenciar a variedade dos falantes mais jovens, dos mais idosos; também pode-se utilizar outros critérios, como a ocupação/profissão (a variedade dos advogados, por exemplo) ou algum hábito que unifique os falantes. Importante destacar uma variedade específica, especialmente importante para o estudante de Letras e que os sociolinguistas se referem com muita frequência: a variedade culta. Essa variedade de uso da língua é ensinada na escola e largamente utilizada nos textos escritos. Segundo a professora Margarida Correa, é a variedade linguística que adquiriu maior prestígio social por ser a variante vigente no lugar ou na classe social mais prestigiosa do país. Na análise do professor Faraco, a norma culta, utilizada por essa classe privilegiada na estrutura econômica e social (que ironicamente denomina de "norma curta"), os leva a se representar como “mais cultos” e prossegue em sua crítica: (talvez porque, historicamente, tenham se apropriado da cultura escrita como bem exclusivo, transformando-a em efetivo instrumento de poder) e, por conseqüência, a considerar a sua norma lingüística — mesmo difusa em sua variabilidade de pronúncia, vocabulário e sintaxe e, na fala, pouco distinta, no caso do Brasil, da linguagem urbana comum — como a melhor em confronto com as muitas outras normas do espaço social. Isso, como sabemos, é fonte de vários pré* juízos e preconceitos lingüísticos que afetam o conjuntoda sociedade, mas, em especial, os falantes de normas que são particularmente estigmatizadas pelos falantes da norma culta. O próprio MEC reconhece e tenta combater essa visão discriminatória em seus Parâmetros Curriculares Nacionais para alunos da 5ª a 8ª séries, assim se manifesta: A discriminação de algumas variedades lingüísticas, tratadas de modo preconceituoso e anticientífico, expressa os próprios conflitos existentes no interior da sociedade. Por isso mesmo, o preconceito lingüístico, como qualquer outro preconceito, resulta de avaliações subjetivas dos grupos sociais e deve ser combatido com vigor e energia. É importante que o aluno, ao aprender novas formas lingüísticas, particularmente a escrita e o padrão de oralidade mais formal orientado pela tradição gramatical, entenda que todas as variedades lingüísticas são legítimas e próprias da história e da cultura humana. Para isso, o estudo da variação cumpre papel fundamental na formação da consciência lingüística e no desenvolvimento da competência discursiva do aluno, devendo estar sistematicamente presente nas atividades de Língua Portuguesa. 4. POR QUE A PIADA REFLETE UMA VISÃO LINGUÍSTICA PRECONCEITUOSA? Conforme vimos, a variação linguística utilzada por Seu Nirso não compromete o bom funcionamento do sistema linguístico e é eficaz para o efeito comunicativo a que se destina. Isto é, a venda de peças. Longe de comprometer o mútuo entendimento entre Seu Nirso e os clientes, sua fala é particularmente ricas em significado social, angariando a identificação e simpatia dos seus clientes, uma vez que tem tudo a ver com o contexto em que se situa. Tal fato, certamente, resultou no aumento das vendas de "Seu Nirso". A piada reflete uma visão discriminatória do gerente da empresa, muito comum na sociedade, especialmente presente na classe social considerada mais prestigiosa. Nas palavras do linguista Marcos Bagno: "O preconceito lingüístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação lingüística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito lingüístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não c raro a gente ouvir que “isso não é português”. É imperioso combater a cultura do preconceito e admitir que não existe uma variedade "certa" e outra "errada". A situação de comunicação é que determina a variedade própria, que pode ser "certa" ou "errada" naquela situação. No entanto, seu Nirso provou estar certo em utilização a variedade coloquial para alcançar com sucesso seus própsitos. O que foi bem entendido por seu patrão, cujo interesse financeiro também foi atingido, afinal: Vender é o que interessa... Para deixar clara sua relevância, bastaria lembrar aqui os efeitos deletérios dos preconceitos lingüísticos e da violência simbólica que se pratica em nome da língua nas nossas relações sociais e, em particular, na educação lingüística que oferecemos a nossas crianças e jovens. 5. CONCLUSÃO Conforme visto, existe uma infinidade de gêneros textuais, os quais surgiram da necessidade de comunicação entre os seres humanos. O gênero piada ou anedota é um deles. A piada, conforme visto no texto analisado, se caracteriza por se apresentar em textos curtos, retratando fatos do cotidiano e que provoca riso do interlocutor. Além da variedade de gênero, tem-se a variedade linguística. Nesse sentido, a fala peculiar utilzada por Seu Nirso também trata-se de mais uma dentre tantas variedades existentes, motivadas por critério geográfico, social, de idade, ocupação profissional, dentre outros. Quanto ao Seu Nirso, verifica-se que, apesar de seu modo de falar não comprometer sua comunicação com os clientes - pelo contrário, é o melhor vendedor da empresa, a variedade linguística utilizada, acentuadamente regional, provocou incômodo e preconceito por parte do gerente, devidamente rechaçada pelo presidente da empresa, afinal o funcionário estava utilizando a linguagem adequada aos seus propósitos: a venda de peças. E isso é o que interessa. "O preconceito lingüístico se baseia na crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos dicionários. Qualquer manifestação lingüística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito lingüístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não c raro a gente ouvir que “isso não é português”. É imperioso combater a cultura do preconceito e admitir que não existe uma variedade "certa" e outra "errada". A situação de comunicação é que determina a variedade própria, que pode ser "certa" ou "errada" naquela situação. No entanto, seu Nirso provou estar certo em utilização a variedade coloquial para alcançar com sucesso seus própsitos. O que foi bem entendido por seu patrão, cujo interesse financeiro também foi atingido, afinal: Vender é o que interessa... Para deixar clara sua relevância, bastaria lembrar aqui os efeitos deletérios dos preconceitos lingüísticos e da violência simbólica que se pratica em nome da língua nas nossas relações sociais e, em particular, na educação lingüística que oferecemos a nossas crianças e jovens. � REFERÊNCIAS Textuais BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola, 2007. BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico - o que é, como se faz. 49. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. MEC/SEF, Brasília, 1998 http://www.brasilescola.com/gramatica/variacoes-linguisticas.html. COELHO, Izete Lehmkuhl. et al. Para conhecer sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2015. FARACO, Carios Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. PACHECO, Siomara Ferrite Pereira. Linguística. Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, São Paulo, 2012. PERINI, Mario Alberto. Gramática Descritiva do Português. 4. ed. São Paulo: Ática, 2005. Sites http://www.lpeu.com.br/q/1fh62. http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=9572. http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/funcoes-linguagem-1.htm. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf. http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2001-mcorreia-escola_e_norma.pdf.
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