Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO WP CURSO DE ESPECIALIZAÇAO EM PSICOTERAPIA COGTIVO-COMPORTAMENTAL DANIELA ROLAND FERREIRA GRADUADA EM PSICOLOGIA O LUTO E A TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL PROF.ª: ILANA FERMAN ORIENTADORA INSTITUTO WP CURSO DE ESPECIALIZAÇAO EM PSICOTERAPIA COGTIVO-COMPORTAMENTAL O LUTO E A TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL DANIELA ROLAND FERREIRA Monografia apresentada ao Programa de Pós-graduação do Cognitivo/..............................como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Psicologia Clínica. PROF.ª: ILANA FERMANN ORIENTADORA RESUMO: Luto complicado é caracterizado pela procura persistente pelo falecido, tristeza e dor emocional intensos em resposta à morte de ente querido. Luto complicado é frequentemente pouco reconhecido e subtratado. Os objetivos do artigo são apresentar o passo a passo para o atendimento de pacientes enlutados e comprovar a eficácia do protocolo escolhido. PALAVRAS-CHAVE: Tratamento para luto; Terapia cognitivo-comportamental; Luto. ABSTRACT: Complicated mourning is characterized by the persistent pursuit of the deceased, intense sadness and emotional pain in response to the death of loved one. Complicated grief is often little recognized and subtracted. The objectives of the article are to present step by step for the care of bereaved patients and to prove the efficacy of the chosen protocol. KEY WORDS: Treatment for mourning; Cognitive behavioral therapy; Mourning. 1. Luto - a Introdução A perda de um ente querido, ou a privação deste, principalmente por morte, é consistentemente descrita como um dos eventos de vida mais estressantes afetando muito o bem-estar físico, social e psicológico (Stroebe e Stroebe, 1993). Para Freud (em seu trabalho Luto e Melancolia, escrito em 1914, e publicado em 1917), o luto de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém (p. 275). Perda significa, literalmente, ser privado de alguém pela morte, e está relacionada a um estado de luto. Além daquele vinculado a uma pessoa amada, o luto pode ocorrer como resultado da perda do status, da amputação de partes do próprio corpo, ou, entre outras, da perda de um animal de estimação. O luto sem complicações é visto como uma resposta normal em vista da previsibilidade de seus sintomas e de seu curso. De início, o luto frequentemente se manifesta por um estado de choque, podendo ser expresso como um sentimento de torpor e de completo atordoamento. Esta aparente incapacidade de compreender o que aconteceu pode ter curta duração; é seguida por expressões de sofrimento e desespero, como suspiros e choros, embora na cultura ocidental seja uma caracterização de tristeza menos comum entre os homens do que entre as mulheres. Outras expressões físicas de dor podem ser sentimentos de fraqueza, diminuição do apetite, perda de peso, e dificuldade para concentrar-se, respirar e falar. As perturbações no sono podem incluir dificuldades para adormecer, despertar durante a noite, ou de madrugada. Frequentemente ocorrem sonhos com a pessoa falecida, e a pessoa que sonhou desperta com a sensação de desapontamento ao descobrir que a experiência 'do encontro' não passava de um sonho (Kaplan et al., 1997). Num luto profundo pela perda de alguém que se ama, os traços mentais são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo à medida que este não evoca aquele alguém, a perda da capacidade de amar (perda da capacidade de adotar um novo objeto de amor, o que significa substituir a pessoa perdida), a inibição de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre ele (Freud, 1974). As auto recriminações ocorrem com relativa frequência, embora sejam menos comuns e menos intensas no luto normal do que no luto complicado. Geralmente, estes pensamentos centralizam-se em torno de alguma pequena omissão ou ato cometido contra o falecido. O fenômeno conhecido como culpa do sobrevivente ocorre em pessoas que se sentem aliviadas porque outra pessoa morreu, e não elas próprias. O sobrevivente pensa, com frequência, que deveria ter sido a pessoa a morrer. As formas de negação ocorrem ao longo de todo o período de luto: frequentemente, a pessoa enlutada pensa ou age, inadvertidamente, como se a perda não tivesse ocorrido. Os esforços para perpetuar o relacionamento perdido são evidenciados por investimento a objetos queridos do falecido, ou que lembrem à pessoa enlutada aquele que partiu (objetos de ligação). O sentimento da presença do falecido pode ser intenso a ponto de se constituir em uma ilusão ou alucinação. No luto normal, entretanto, a pessoa reconhece a impropriedade desta percepção. Como parte daquilo que foi rotulado como fenômenos de identificação com o morto, o enlutado pode assimilar as qualidades, maneirismos ou características do falecido, como que para perpertuá-las de algum modo concreto. Tal manobra pode alcançar uma expressão potencialmente patológica, com o desenvolvimento de sintomas físicos similares àqueles experimentados pela pessoa morta, ou sugestivos da doença pela qual a pessoa querida morreu (Kaplan et al., 1997). O traço mais característico do luto não é a depressão profunda, mas episódios agudos de sofrimento, com muita ansiedade e dor psíquica. Os episódios de dor começam algumas horas ou dias após a perda, e geralmente chegam a um ápice no intervalo de 5 a 14 dias. De início, são muito frequentes e parecem ocorrer espontaneamente, mas à medida que o tempo passa tornam-se menos frequentes, ou ocorrem somente quando evocados por algum estímulo que traz à mente essa perda. As situações de dor trazem um desejo persistente pela pessoa que morreu, além de preocupação com pensamentos obsessivos que somente causam mais dor. Essa dor é o componente subjetivo e emocional da urgência em procurar o objeto perdido. Essa 'procura' é apresentada por muitas espécies de animais sociais. O valor desse comportamento para a sobrevivência tanto do indivíduo quanto da espécie é óbvio, pois chorar e procurar fazem com que seja mais provável que aquele que se foi seja recuperado (Parkers, 1998). No período de luto estão aumentados os riscos para episódios de depressão maior (Lund, Dimond e Caserta 1985; Brown, Harris, 1989; Bruce at al., 1990; Clayton, 1990; Zisook e Shucter, 1993) episódios de ansiedade (Bornstein et al., 1973; Parkes, 1998;) diminuição da resposta imunológica (Irwin, Daniels e Weiner, 1987), aumento das consultas médicas (Mor, McHorney e Sherwood, 1986), piora na saúde física em geral (Helsing e Szklo, 1981), aumento do uso de álcool e cigarro (Clayton, 1990; Parkes, 1993;), suicídio (Smith, 1980; Luoma e Pearson, 2002) e aumento da mortalidade por causas não restritas apenas ao suicídio (Kraus e Lilienfeld, 1959; Jones, 1987). De acordo com o consenso diagnóstico, luto complicado ou prolongado não pode ser diagnosticado até os seis primeiros meses após a perda. No entanto, identificar pessoas com risco de desenvolver luto complicado cedo e com precisão seria vantajoso para promover suportes e tratamentos apropriados nos níveis de atenção primária e cuidados paliativos (Main, 2000 e Forte et al., 2004). O maior desafio para clínicos consiste em identificar corretamente os indivíduos susceptíveis a desenvolver luto complicado entre os enlutados. Assim, é necessária uma ferramenta clínica quepossa avaliar esse risco (Guldin et al., 2011). 1.1 Contribuições ao conhecimento sobre luto Segundo Granek (2010), no século XVII dor, pesar e tristeza eram vistos como potencialmente fatais, podendo levar à morte prematuramente. Benjamin Rush (1745- 1813), médico americano, incluiu tristeza pela morte de alguém, no seu livro The Diseases of the Mind e descreveu uma lista de sintomas característicos dessas pessoas: afasia, febre, suspiro, perda de memória e desenvolvimento de cabelos brancos e ofereceu tratamento com ópio, choro e, em casos graves, sangrias e expurgos. No século XIX, luto era uma condição do espírito (alma) humano. Ele, às vezes, era visto como uma causa de insanidade, mas não era considerado em si uma doença mental (Walter, 2005-2006. p. 73 apud Granek, 2010). No século XVIII Darwin (1809 – 1882) em 1872 escreve sobre o luto, sofrimento, depressão, aspectos mecânicos do choro e suas expressões faciais. Classifica o luto em duas formas de apresentação. O luto ativo (agitado) e passivo (depressivo) e documenta a presença do comportamento e reações de luto em macacos e gorilas. O surgimento do luto como um tópico de valor para a psicologia se deu no começo do século XX quando Freud (1917/1953) publicou seu famoso trabalho Luto e Melancolia em 1917, abordando o luto como uma reação à perda do objeto libidinal. Constituiu-se no primeiro passo no estudo sob um ponto de vista psicológico, referencial principal sobre o qual todas as teorias subsequentes foram construídas. Ele introduziu o conceito de trabalho de luto como se segue. ... a realidade informa que o objeto amado não existe mais, passando a exigir que toda a libido seja retirada de suas ligações com aquele objeto. Essa exigência provoca uma oposição compreensível – é fato notório que as pessoas nunca abandonam de bom grado uma posição libidinal, nem mesmo, na realidade, quando um substituto já lhe acena. Essa oposição pode ser tão intensa, que dá lugar a um desvio da realidade e a um apego ao objeto por intermédio de uma psicose alucinatória carregada de desejo (recriando e salvando o objeto perdido incansavelmente). Normalmente prevalece o respeito pela realidade, ainda que suas ordens não possam ser obedecidas de imediato. São executadas pouco a pouco, com grande dispêndio de tempo e de energia catexial, prolongando-se psiquicamente, nesse meio tempo, a existência do objeto perdido. Cada uma das lembranças e expectativas isoladas, através das quais a libido está vinculada ao objeto, é evocada e hipercatexizada, (defronta- se com a realidade de que o objeto amado não mais existe) e o desligamento da libido se realiza em cada uma delas (p.276- 277). E em outra passagem: O ego identificado com o morto, confrontado com a questão de saber se partilhará desse destino, é persuadido, pela soma das satisfações narcisistas que deriva de estar vivo, a romper sua ligação com o objeto agora ausente (ambivalência). Talvez possamos supor que esse trabalho de rompimento seja tão lento e gradual, que, na ocasião em que tiver sido concluído o dispêndio de energia necessária a ele também se tenha dissipado (p. 288). Por essa transigência, pela qual o domínio da realidade se faz fragmentariamente, deve ser tão extraordinariamente penosa, que de forma alguma é coisa fácil de explicar em termos de economia. É notável que esse penoso desprazer seja aceito por nós como algo natural. Contudo, fato é que quando o trabalho de luto se conclui, o ego fica outra vez livre e desinibido (p.277). Ele fez a diferenciação entre luto e melancolia e apontou que alguns casos de luto evoluíam para a melancolia. Enquanto no luto seria necessariamente uma reação à perda por morte, na melancolia o objeto perdido poderia não ter morrido de fato, mas tinha sido perdido enquanto objeto de amor. Teria ocorrido uma separação na qual se sabe quem ele perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém. A melancolia estaria relacionada a uma perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, na qual nada existe de inconsciente a respeito da perda. No luto, a inibição e a perda de interesse são explicados pelo trabalho de luto no qual o ego é absorvido. Na melancolia, a perda desconhecida resultará num trabalho interno semelhante, e será a responsável pela inibição. Acrescenta que o melancólico exibe ainda outra coisa que está ausente no luto – uma diminuição extraordinária de sua autoestima, um empobrecimento, do seu ego em grande escala a ponto de encontrar expressão em auto recriminação e auto depreciação, culminando numa expectativa delirante de punição. No luto, é o mundo que se torna vazio; na melancolia, é o próprio ego (p. 278). Essas autor recriminações seriam recriminações (de raiva e ódio) feitas ao objeto amado, que foram deslocadas desse objeto para o ego do próprio paciente. A teoria do apego explica a necessidade urgente de chorar e procurar por alguém que foi perdido. Bowby (1973a) apud Parkes (2009) afirmava que a função do apego é garantir a segurança imanente da experiência de ter uma figura parental que sabidamente é disponível e responsiva, quando necessário. Essa função, afirma Parkes (2009), permanece ao longo da infância e é ampliada pelo crescente número de pessoas com quem a criança se vincula. Essa rede de vínculos é outro fator que facilita aos pais deixar que seus filhos cresçam e, por fim, deixem a casa da família. Na vida adulta, os apegos recíprocos com família e amigos continuam a dar segurança e as pessoas, com uma expectativa de que os outros são confiáveis, terão maior probabilidade de pedir ajuda quando se perceberem em situações de risco. Os modelos de enfrentamento mais influentes e atraentes na área de luto durante a última parte do século 20 foram o modelo de fases ou estágios, o que foi fundamental para a teoria do apego, e o modelo de tarefas proposto por Worden em 1998, que se tornou proeminente no planejamento de programas de aconselhamento e terapia para as pessoas enlutadas. Worden (1998) não apresentou um conceito sobre o processo de luto. Frisou que o luto não é um processo linear e exige uma aprendizagem de si e do mundo novo ao redor que, agora, não inclui aquele que morreu. Abordou luto como um processo de reaprendizagem cognitiva após uma perda significativa e identificou quatro tarefas a superar. 1) Aceitar a realidade da perda, 2) vivenciar/elaborar a dor da perda, 3) ajustar-se ao meio ambiente onde está faltando a pessoa que morreu e 4) reposicionar a energia emocional e reinvestir em outro relacionamento. Achava que essas tarefas nem sempre eram vivenciadas na ordem acima descrita e, ainda, que nem todos os enlutados iriam conseguir alcançar todas. A teoria da transposição psicossocial vem explicar a necessidade de pensar e replanejar a vida diante de uma mudança importante. Tendo como principal parâmetro a teoria do estresse cognitivo, Stroebe e Schut em 1999 publicaram o Modelo do Processo Dual de Luto, no qual postulam que as pessoas enlutadas tendem a oscilar entre aquilo que denominaram 'orientação para a perda' e orientação para a restauração'. A primeira refere-se à busca dolorosa pela pessoa perdida e, a segunda, é a luta para se reorientar em um mundo que parece ter perdido seu significado. Esse modelo define dois tipos de fatores desencadeantes de estresse, os direcionados para a perda, e os direcionados para a restauração. Os direcionados para a perda em si e os direcionados para a restauração, secundários e decorrentes à adaptação ao mundo externo. O principal enfoque deste modelo é de que não há estágios fixos para o enlutamento. Ao contrário, o enlutado enfrenta uma oscilação dual e dinâmica entre os dois estressores, e que o resultadonormal desse processo de oscilação é que, finalmente, a pessoa enlutada descobre que muito do passado do relacionamento continua a ter importância no planejamento do futuro (Stroebe, 2010). 2 A Terapia Cognitiva-Comportamental e a superação do Luto Cognições sobre a morte Partindo da postulação da Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), da ideia de que ao longo de nossas vidas são construídas e adquiridas cognições sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o futuro, não raro as pessoas tendem a fazer interpretações errôneas acerca das situações. Através desses erros de pensamento, acaba-se proporcionando sofrimentos emocionais, físicos e psicológicos e, de acordo com os autores Dattilio e Freeman (2004), dentre os eventos ameaçadores e críticos, situações de crise e situações da perda de um ente querido podem ser situações ativadoras dessas crenças disfuncionais. De acordo com o exposto, as crenças a respeito da perda de um ente querido, serão ativadas e processadas pelo entendimento que o indivíduo tem em relação à morte, ou seja, a reação dependerá do estilo de enfrentamento e dos padrões anteriormente aprendidos e internalizados, interferindo e refle- tindo, principalmente, na alteração emocional e comportamental, devido aos erros do pensamento (Remor, 1999). No estudo realizado por Bretâs, Oliveira e Yamaguti (2006) com estudantes de enfermagem, desvenda-se crenças sobre a morte; na maior parte delas, revelou-se a aceitação da morte e do processo de morrer. Em outra pesquisa realizada, as autoras encontraram falas que representam o sofrimento, a angústia, a raiva, principalmente quando a morte se deu devido a um acidente automobilístico, além de crenças da continuação da vida após a morte, acometidos pela perda do ente querido (Basso & Marin, 2010). Estas são algumas falas que podem ser encontradas em estudos, as quais nos revelam algumas crenças sobre a morte para os participantes das pesquisas, para alguns, trazendo certo conforto e alívio ao acreditarem e se apegarem aos credos e princípios de cada religião, buscando subsídios e influenciando na maneira de pensar e aceitar a morte (Gutierres & Ciampone, 2007). Concomitantemente a isso, numa pesquisa realizada por Lückemeyer (2008), com uma mãe que perdeu seu filho num acidente automobilístico, pôde-se verificar sentimentos de fracasso, de incapacidade, por não conseguir prevenir a morte do filho. Além disso, sentimentos de culpa, imensa ansiedade e apatia também foram relatados por ela. Isso é encontrado na literatura quando Kovács (1992) salienta que a morte ocorrida de maneira brusca e repentina tem uma potencialidade de paralisação, desorganização, impotência, desesperança e desamparo, como descrito pela participante do estudo anteriormente citado. Dentre as reações mencionadas, é visível que as implicações frente à morte são inúmeras e, na maioria das vezes, afetam os enlutados, tornando-os incapacitados na reorganização de suas vidas, tanto no contexto familiar como no social. Questões relacionadas à religião, mais especificamente sobre reencarnação, são, muitas vezes, lembradas e referidas nas pesquisas, pois acredita-se que essa crença de vida após a morte fornece um certo alívio nas pessoas enlutadas (Giacóia, 2005). Num estudo feito por Peruzzo, Jung, Soares e Scarparo (2007), os participantes da amostra relataram acreditar que a pessoa morta está num lugar bonito, bem e feliz, que pode ouvir e ver o que acontece depois da morte. Os sentimentos de incapacidade, de vulnerabilidade são os preditores das dificuldades intrínsecas da perda; aliás, são os grandes geradores da desorganização que atinge as pessoas que perderam um ente querido. Dentre as dificuldades citadas, é importante apontar o quão difícil se torna a aceitação, a fase de readaptação em preencher o vazio que a pessoa querida deixou. A elaboração de outras perdas anteriores e as crenças relativas à morte também podem ser fatores que interferem no luto. Para a efetivação do luto, Elizabeth Kübler-Ross, referência no assunto, propôs cinco estágios: a negação e o isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. Como intervir dentro de uma perspectiva breve Cognitivo-Comportamental Dentre as circunstâncias que são beneficiadas de uma psicoterapia breve, destacam-se situações de crise e mudanças drásticas provocadas por perdas repentinas, pois o enlutado possui uma necessidade de readaptação rápida e complexa para a obtenção do alívio de sintomas e a restauração no funcionamento do indivíduo. Logo abaixo, acerca-se de alguns aspectos indispensáveis no auxilio terapêutico a um paciente enlutado. Um ponto essencial é que se possa transmitir confiança e apoio, que ele será acolhido e não estará sozinho. Antes de qualquer coisa, esta terapia tem como objetivo ajudar o paciente na resolução de conflitos existentes à separação, facilitando a superação das etapas do luto para elaborar a perda; para isso, no entanto, é importante levar em conta outras perdas vividas pelo paciente. em termos de objetivos terapêuticos O objetivo terapêutico na Terapia Cognitivo-Comportamental perante uma situação de luto por perda repentina tem como base, identificar recursos disponíveis e avaliar quais são as principais preocupações do paciente. Num primeiro momento, recomenda-se defini-las; por seguinte, priorizá-las; e, por fim, abordá-las, levando em consideração e avaliando a rede de apoio social e auxiliando na tomada de decisões, pois possivelmente o enlutado encontra-se em estados psicológico e emocional prejudicados (Remor, 1999). Além disso, é recomendável que possam diminuir as alterações emocionais, pois o enlutado encontra-se num estado frágil, vulnerável e desorganizado, tanto em níveis cognitivos como fisiológicos, motores e comportamentais. As alterações são fatores que podem dificultar o bom andamento do trata- mento, prejudicando o funcionamento da terapia e sua meta principal, que é servir como uma facilitadora no processo de readaptação do indivíduo. Sugestiona-se ao terapeuta expressar empatia, respeitar e adequar-se ao o ritmo do paciente, principalmente no decorrer do uso das estratégias e técnicas terapêuticas. Adequar-se ao funcionamento do paciente e não confrontar diretamente com ele, pois há grandes chances de ele desenvolver resistência ao tratamento. Outro ponto importante é não fornecer informações nem desnecessárias nem insuficientes, não negar dados que lhe são solicitados, para que se evitem maiores distorções cognitivas. Sempre que possível, indica-se estimular a auto eficácia do enlutado, para que ele tenha conhecimento das suas capacidades estratégicas e condições para lidar com esse momento difícil (Miller & Rollnick, 2001). CONSIDERAÇÕES FINAIS Frente à revisão teórica exposta neste artigo, a respeito da morte repentina e das repercussões desse evento estressor na vida de uma pessoa, conclui-se que, sem dúvida nenhuma, é um evento provedor de sofrimento e de grandes alterações psicológicas, fisiológicas, comportamentais, bem como alterações no contexto social em que o enlutado está inserido. No entanto, as dificuldades que irão surgir poderão incapacitar e desorganizar a vida das pessoas enlutadas a tal ponto de não conseguirem suprir sentimentos desagradáveis. Neste momento, recorrem a um auxílio de um profissional da saúde, e, quando solicitada à ajuda de um psicólogo, este tende a priorizar o acolhimento e a escuta ao paciente enlutado. Para este auxílio psicológico, foram sugeridos alguns pontos essenciais da Terapia Cognitivo-Comportamental, pois acredita-se que, por ela ser breve, estruturada, focal, tende a ter uma importantecontribuição para o alívio dos sintomas gerados pela perda repentina. De acordo com os teóricos embasadores da TCC, os comportamentos são regidos pelos pensamentos, que na maioria das vezes apresentam-se disfuncionais, desadaptativos, causam sofrimento aos indivíduos, inabilitando e incapacitando na reorganização de suas vidas, em grau maior se influenciados por um evento estressor que é a perda repentina de um ente querido. Portanto, podem ser utilizados alguns instrumentos como estratégias e técnicas psicoterapêuticas que colaboram para o alívio de sintomas e a melhora do paciente. A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem terapêutica adequada para tratamento de pacientes enlutados (FlEMiNG et al., 2001), refletindo em emoções mais positivas e redução do sofrimento, resultados também confirmados por Malkinson (2010). A reestruturação cognitiva, é apontada como etapa essencial do tratamento do luto, assim como a exposição do paciente à nova realidade, para que ele possa desenvolver estratégias de enfrentamento adequadas e funcionais ( WAGNER et al., 2006). Viu-se que as estratégias e técnicas anteriormente listadas não possuem uma ordem regrada e um roteiro a ser seguido, como também foi destacado que os estágios de reação à perda e as fases do luto podem sofrer alterações na ordem e intensidade. Perante essas considerações, indica-se que o terapeuta respeite e adapte-se ao funcionamento do paciente enlutado e, como já referido, utilize aspectos positivos como a expressão da empatia e a não confrontação para concretizar a obtenção do êxito. O objetivo deste artigo foi enriquecer e proporcionar ao leitor alguns aspectos relativos a um auxílio terapêutico diante de um evento estressor, que é a perda repentina de um ente querido, baseando-se no manejo da Terapia Cognitivo-Comportamental. Como não há muitos estudos brasileiros que abordem o luto gerado por uma perda repentina, neste referencial teórico proposto, salienta-se que novas pesquisas possam ser realizadas, colocando à disposição dos profissionais interessados materiais atualizados, relacionados a este tema. Referências Araújo, P. V. R., & Vieira, M. J (2001). As atitudes do homem frente à morte e o morrer. Revista Texto e Contexto Enfermagem, 10(3),101-117. Ariès, P. (1990). O Homem diante da morte. Rio de Janeiro: Francisco Alves. Barbosa, P. C. (2006). A Evolução nos Rituais de morte e sua importância na consciencialização deste fenômeno. Lusíada. Psicologia, 1(3-4),323-334. Basso, L. A., & Marin, A. H. (2010). Comportamento de apego em adultos e a experiência da perda de um ente querido. Alethéia, 32(2),92-103. Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F., & Emery, G. (1979). Cognitive therapy of depression: a treatment manual. New York: Guilford Press. Beck, J. (1997). Terapia Cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artes Médicas. (Original publicado em 1995). Bowlby, J. (1990). Apego e perda. A natureza do vínculo (Álvaro Cabral, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Original publicado em 1969). Brêtas, J. R. S., Oliveira, J. R., & Yamaguti, L. (2006). Reflexões de estudantes de enfermagem sobre morte e o morrer. Revista Escola de Enfermagem, 40(4)477-483. Caballo, V. E. (2003). Manual de Avaliação e Treinamento das Habilidades Sociais. São Paulo: Santos. Combinato, D. S., & Queiroz, M. de S. (2006). Morte: Uma Visão Psicossocial. Estudos de Psicologia, 11(2),209-216. Crepaldi, M. A., & Lisboa, M. L. (2003). Ritual de despedida em familiares de pacientes com prognóstico reservado. Paidéia, 13,97-109 Dattilio, F. M., & Freeman, A. (2004). Estratégias cognitivo comportamentais de intervenção em situações de crise (M. A. V. Veronese, Trad.). Porto Alegre: Artmed. (Original publicado em 2000). D’Zurilla, T. J., & Goldfried, M. R. (1971). Problem solving and behavior modification. Journal of Abnormal Psychology, 78,107-126. Flavell, J. (1979). Metacognition and cognitive monitoring. American Psychologist, 34,906-911. Folkman, S., & Lazarus, R. S. (1980). An analysis of coping in a middle- -aged community sample. Journal of Health and Social Behavior, 21,219-239. Frade, L. P., & Barragán, C. M. (2005). O manejo do luto em crianças e adolescentes sob o enfoque cognitivo-comportamental. Em: V. E. Caballo & M. A. Simón (Orgs.), Manual de Psicologia Clínica Infantil e do Adolescente – Transtornos Gerais (p. 187-209). São Paulo: Santos. Garner, D. (1997). Psychoeducational principles in treatment. In: D. Garner & P. Garfinkel (Eds.), Handbook of treatment for eating disorders (p. 145-177). New York: The Guilford Press. Giacoia, O. J. (2005). A visão da morte ao longo do tempo. Medicina Ribeirão Preto, 38(1),13-19. Gutierrez, B. A. O. , & Ciampone, M. H. T. (2007). O processo de morrer e a morte no enfoque dos profissionais de enfermgem em UTIs. Revista Escola de Enfermagem, 41(4),660-667. Kovács, M. J. (1992). Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo. Kübler-Ross, E. (2005). Sobre a morte e o morrer (Paulo Menezes, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. Lisboa, C., Koller, S. H., Ribas, F. F., Bitencourt, K., Oliveira, L., Porciun- cula, L. P., et al. (2002). Estratégias de coping de crianças vítimas e não vítimas de violência doméstica. Psicologia: Reflexão e Crítica, 15(2),345-362. Lückemeyer, R. M. B. (2008). Aonde está você agora além de aqui dentro de mim? Um estudo de caso acerca do luto materno decorrente de morte trágica. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Psicologia, Universidade do Sul de Santa Catarina. Palhoça - SC. Miller, W., & Rollnick, S. (2001). A Entrevista Motivacional. Porto Alegre: Artes Médicas. Moura, C. M. (2006). Uma avaliação da vivência do luto conforme o modo de morte. Dissertação de Mestrado. Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília. Brasília- Distrito Federal. Nezu, A. M., & Nezu, C. M. (1999). Treinamento em solução de problemas. Em V. E. Caballo (Org.). Manual de técnicas de terapia comportamental e modificação de comportamento (p. 471-493). São Paulo: Santos. Parkes, C. M. (1998). Luto: estudos sobre a perda na vida adulta (Maria Helena Franco Bromberg, Trad.). São Paulo: Summus. Peruzzo, A. S., Jung, B. M. G., Soares, T., & Scarparo, H. B. K. (2007). A expressão e a elaboração do luto por adolescentes e adultos jovens através da internet. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 7(3),449-461. Rabelo, M. K. O. (2006). Um olhar fenomenológico sobre a morte na sociedade ocidental: Testemunho histórico-antropológico. Outras Palavras: Revista científica da ESPAM, 3(1),71-84. Remor, E. A. (1999). Abordagem psicológica da Aids através do enfoque cognitivo comportamental. Psicologia: Reflexão e Crítica, 12(1),89-106. Young, J., Klosko, J., & Weishaar, M. (2008) Terapia do esquema. Guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed.
Compartilhar