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O LUTO E A TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL

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INSTITUTO WP 
CURSO DE ESPECIALIZAÇAO EM 
PSICOTERAPIA COGTIVO-COMPORTAMENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
DANIELA ROLAND FERREIRA 
GRADUADA EM PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O LUTO E A TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROF.ª: ILANA FERMAN 
ORIENTADORA 
INSTITUTO WP 
CURSO DE ESPECIALIZAÇAO EM 
PSICOTERAPIA COGTIVO-COMPORTAMENTAL 
 
 
 
 
 
O LUTO E A TERAPIA COGNITIVA-COMPORTAMENTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DANIELA ROLAND FERREIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Programa de Pós-graduação do 
Cognitivo/..............................como requisito parcial para 
obtenção do grau de Especialista em Psicologia Clínica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROF.ª: ILANA FERMANN 
ORIENTADORA 
 
 
 
RESUMO: Luto complicado é caracterizado pela procura persistente pelo falecido, 
tristeza e dor emocional intensos em resposta à morte de ente querido. Luto complicado é 
frequentemente pouco reconhecido e subtratado. Os objetivos do artigo são apresentar o 
passo a passo para o atendimento de pacientes enlutados e comprovar a eficácia do 
protocolo escolhido. 
PALAVRAS-CHAVE: Tratamento para luto; Terapia cognitivo-comportamental; Luto. 
 
ABSTRACT: Complicated mourning is characterized by the persistent pursuit of the 
deceased, intense sadness and emotional pain in response to the death of loved one. 
Complicated grief is often little recognized and subtracted. The objectives of the article 
are to present step by step for the care of bereaved patients and to prove the efficacy of 
the chosen protocol. 
 
KEY WORDS: Treatment for mourning; Cognitive behavioral therapy; Mourning. 
 
 
1. Luto - a Introdução 
A perda de um ente querido, ou a privação deste, principalmente por morte, é 
consistentemente descrita como um dos eventos de vida mais estressantes afetando muito 
o bem-estar físico, social e psicológico (Stroebe e Stroebe, 1993). 
Para Freud (em seu trabalho Luto e Melancolia, escrito em 1914, e publicado em 
1917), o luto de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma 
abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de 
alguém (p. 275). 
Perda significa, literalmente, ser privado de alguém pela morte, e está relacionada a 
um estado de luto. Além daquele vinculado a uma pessoa amada, o luto pode ocorrer 
como resultado da perda do status, da amputação de partes do próprio corpo, ou, entre 
outras, da perda de um animal de estimação. O luto sem complicações é visto como uma 
resposta normal em vista da previsibilidade de seus sintomas e de seu curso. De início, o 
luto frequentemente se manifesta por um estado de choque, podendo ser expresso como 
um sentimento de torpor e de completo atordoamento. Esta aparente incapacidade de 
compreender o que aconteceu pode ter curta duração; é seguida por expressões de 
sofrimento e desespero, como suspiros e choros, embora na cultura ocidental seja uma 
caracterização de tristeza menos comum entre os homens do que entre as mulheres. 
Outras expressões físicas de dor podem ser sentimentos de fraqueza, diminuição do 
apetite, perda de peso, e dificuldade para concentrar-se, respirar e falar. As perturbações 
no sono podem incluir dificuldades para adormecer, despertar durante a noite, ou de 
madrugada. Frequentemente ocorrem sonhos com a pessoa falecida, e a pessoa que 
sonhou desperta com a sensação de desapontamento ao descobrir que a experiência 'do 
encontro' não passava de um sonho (Kaplan et al., 1997). 
Num luto profundo pela perda de alguém que se ama, os traços mentais são um 
desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo à medida 
que este não evoca aquele alguém, a perda da capacidade de amar (perda da capacidade 
de adotar um novo objeto de amor, o que significa substituir a pessoa perdida), a inibição 
de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre ele (Freud, 1974). 
As auto recriminações ocorrem com relativa frequência, embora sejam menos comuns e 
menos intensas no luto normal do que no luto complicado. Geralmente, estes 
pensamentos centralizam-se em torno de alguma pequena omissão ou ato cometido 
contra o falecido. O fenômeno conhecido como culpa do sobrevivente ocorre em pessoas 
que se sentem aliviadas porque outra pessoa morreu, e não elas próprias. O sobrevivente 
pensa, com frequência, que deveria ter sido a pessoa a morrer. As formas de negação 
ocorrem ao longo de todo o período de luto: frequentemente, a pessoa enlutada pensa ou 
age, inadvertidamente, como se a perda não tivesse ocorrido. Os esforços para perpetuar 
o relacionamento perdido são evidenciados por investimento a objetos queridos do 
falecido, ou que lembrem à pessoa enlutada aquele que partiu (objetos de ligação). O 
sentimento da presença do falecido pode ser intenso a ponto de se constituir em uma 
ilusão ou alucinação. No luto normal, entretanto, a pessoa reconhece a impropriedade 
desta percepção. Como parte daquilo que foi rotulado como fenômenos de identificação 
com o morto, o enlutado pode assimilar as qualidades, maneirismos ou características do 
falecido, como que para perpertuá-las de algum modo concreto. Tal manobra pode 
alcançar uma expressão potencialmente patológica, com o desenvolvimento de sintomas 
físicos similares àqueles experimentados pela pessoa morta, ou sugestivos da doença pela 
qual a pessoa querida morreu (Kaplan et al., 1997). 
O traço mais característico do luto não é a depressão profunda, mas episódios agudos 
de sofrimento, com muita ansiedade e dor psíquica. Os episódios de dor começam 
algumas horas ou dias após a perda, e geralmente chegam a um ápice no intervalo de 5 a 
14 dias. De início, são muito frequentes e parecem ocorrer espontaneamente, mas à 
medida que o tempo passa tornam-se menos frequentes, ou ocorrem somente quando 
evocados por algum estímulo que traz à mente essa perda. As situações de dor trazem um 
desejo persistente pela pessoa que morreu, além de preocupação com pensamentos 
obsessivos que somente causam mais dor. Essa dor é o componente subjetivo e 
emocional da urgência em procurar o objeto perdido. Essa 'procura' é apresentada por 
muitas espécies de animais sociais. O valor desse comportamento para a sobrevivência 
tanto do indivíduo quanto da espécie é óbvio, pois chorar e procurar fazem com que seja 
mais provável que aquele que se foi seja recuperado (Parkers, 1998). 
No período de luto estão aumentados os riscos para episódios de depressão maior 
(Lund, Dimond e Caserta 1985; Brown, Harris, 1989; Bruce at al., 1990; Clayton, 1990; 
Zisook e Shucter, 1993) episódios de ansiedade (Bornstein et al., 1973; Parkes, 1998;) 
diminuição da resposta imunológica (Irwin, Daniels e Weiner, 1987), aumento das 
consultas médicas (Mor, McHorney e Sherwood, 1986), piora na saúde física em geral 
(Helsing e Szklo, 1981), aumento do uso de álcool e cigarro (Clayton, 1990; Parkes, 
1993;), suicídio (Smith, 1980; Luoma e Pearson, 2002) e aumento da mortalidade por 
causas não restritas apenas ao suicídio (Kraus e Lilienfeld, 1959; Jones, 1987). 
De acordo com o consenso diagnóstico, luto complicado ou prolongado não pode ser 
diagnosticado até os seis primeiros meses após a perda. No entanto, identificar pessoas 
com risco de desenvolver luto complicado cedo e com precisão seria vantajoso para 
promover suportes e tratamentos apropriados nos níveis de atenção primária e cuidados 
paliativos (Main, 2000 e Forte et al., 2004). O maior desafio para clínicos consiste em 
identificar corretamente os indivíduos susceptíveis a desenvolver luto complicado entre 
os enlutados. Assim, é necessária uma ferramenta clínica quepossa avaliar esse risco 
(Guldin et al., 2011). 
1.1 Contribuições ao conhecimento sobre luto 
Segundo Granek (2010), no século XVII dor, pesar e tristeza eram vistos como 
potencialmente fatais, podendo levar à morte prematuramente. Benjamin Rush (1745-
1813), médico americano, incluiu tristeza pela morte de alguém, no seu livro The 
Diseases of the Mind e descreveu uma lista de sintomas característicos dessas pessoas: 
afasia, febre, suspiro, perda de memória e desenvolvimento de cabelos brancos e ofereceu 
tratamento com ópio, choro e, em casos graves, sangrias e expurgos. No século XIX, luto 
era uma condição do espírito (alma) humano. Ele, às vezes, era visto como uma causa de 
insanidade, mas não era considerado em si uma doença mental (Walter, 2005-2006. p. 73 
apud Granek, 2010). No século XVIII Darwin (1809 – 1882) em 1872 escreve sobre o 
luto, sofrimento, depressão, aspectos mecânicos do choro e suas expressões faciais. 
Classifica o luto em duas formas de apresentação. O luto ativo (agitado) e passivo 
(depressivo) e documenta a presença do comportamento e reações de luto em macacos e 
gorilas. O surgimento do luto como um tópico de valor para a psicologia se deu no 
começo do século XX quando Freud (1917/1953) publicou seu famoso trabalho Luto e 
Melancolia em 1917, abordando o luto como uma reação à perda do objeto libidinal. 
Constituiu-se no primeiro passo no estudo sob um ponto de vista psicológico, referencial 
principal sobre o qual todas as teorias subsequentes foram construídas. Ele introduziu o 
conceito de trabalho de luto como se segue. 
 
... a realidade informa que o objeto amado não existe mais, 
passando a exigir que toda a libido seja retirada de suas 
ligações com aquele objeto. Essa exigência provoca uma 
oposição compreensível – é fato notório que as pessoas nunca 
abandonam de bom grado uma posição libidinal, nem mesmo, 
na realidade, quando um substituto já lhe acena. Essa oposição 
pode ser tão intensa, que dá lugar a um desvio da realidade e a 
um apego ao objeto por intermédio de uma psicose alucinatória 
carregada de desejo (recriando e salvando o objeto perdido 
incansavelmente). Normalmente prevalece o respeito pela 
realidade, ainda que suas ordens não possam ser obedecidas de 
imediato. São executadas pouco a pouco, com grande dispêndio 
de tempo e de energia catexial, prolongando-se psiquicamente, 
nesse meio tempo, a existência do objeto perdido. Cada uma das 
lembranças e expectativas isoladas, através das quais a libido 
está vinculada ao objeto, é evocada e hipercatexizada, (defronta-
se com a realidade de que o objeto amado não mais existe) e o 
desligamento da libido se realiza em cada uma delas (p.276-
277). E em outra passagem: O ego identificado com o morto, 
confrontado com a questão de saber se partilhará desse destino, 
é persuadido, pela soma das satisfações narcisistas que deriva 
de estar vivo, a romper sua ligação com o objeto agora ausente 
(ambivalência). Talvez possamos supor que esse trabalho de 
rompimento seja tão lento e gradual, que, na ocasião em que 
tiver sido concluído o dispêndio de energia necessária a ele 
também se tenha dissipado (p. 288). Por essa transigência, pela 
qual o domínio da realidade se faz fragmentariamente, deve ser 
tão extraordinariamente penosa, que de forma alguma é coisa 
fácil de explicar em termos de economia. É notável que esse 
penoso desprazer seja aceito por nós como algo natural. 
Contudo, fato é que quando o trabalho de luto se conclui, o ego 
fica outra vez livre e desinibido (p.277). 
 
Ele fez a diferenciação entre luto e melancolia e apontou que alguns casos de luto 
evoluíam para a melancolia. Enquanto no luto seria necessariamente uma reação à perda 
por morte, na melancolia o objeto perdido poderia não ter morrido de fato, mas tinha sido 
perdido enquanto objeto de amor. Teria ocorrido uma separação na qual se sabe quem ele 
perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém. A melancolia estaria relacionada a uma 
perda objetal retirada da consciência, em contraposição ao luto, na qual nada existe de 
inconsciente a respeito da perda. No luto, a inibição e a perda de interesse são explicados 
pelo trabalho de luto no qual o ego é absorvido. Na melancolia, a perda desconhecida 
resultará num trabalho interno semelhante, e será a responsável pela inibição. Acrescenta 
que o melancólico exibe ainda outra coisa que está ausente no luto – uma diminuição 
extraordinária de sua autoestima, um empobrecimento, do seu ego em grande escala a 
ponto de encontrar expressão em auto recriminação e auto depreciação, culminando numa 
expectativa delirante de punição. No luto, é o mundo que se torna vazio; na melancolia, é 
o próprio ego (p. 278). Essas autor recriminações seriam recriminações (de raiva e ódio) 
feitas ao objeto amado, que foram deslocadas desse objeto para o ego do próprio 
paciente. 
A teoria do apego explica a necessidade urgente de chorar e procurar por alguém 
que foi perdido. Bowby (1973a) apud Parkes (2009) afirmava que a função do apego é 
garantir a segurança imanente da experiência de ter uma figura parental que sabidamente 
é disponível e responsiva, quando necessário. Essa função, afirma Parkes (2009), 
permanece ao longo da infância e é ampliada pelo crescente número de pessoas com 
quem a criança se vincula. Essa rede de vínculos é outro fator que facilita aos pais deixar 
que seus filhos cresçam e, por fim, deixem a casa da família. Na vida adulta, os apegos 
recíprocos com família e amigos continuam a dar segurança e as pessoas, com uma 
expectativa de que os outros são confiáveis, terão maior probabilidade de pedir ajuda 
quando se perceberem em situações de risco. 
Os modelos de enfrentamento mais influentes e atraentes na área de luto durante a 
última parte do século 20 foram o modelo de fases ou estágios, o que foi fundamental 
para a teoria do apego, e o modelo de tarefas proposto por Worden em 1998, que se 
tornou proeminente no planejamento de programas de aconselhamento e terapia para as 
pessoas enlutadas. Worden (1998) não apresentou um conceito sobre o processo de luto. 
Frisou que o luto não é um processo linear e exige uma aprendizagem de si e do mundo 
novo ao redor que, agora, não inclui aquele que morreu. Abordou luto como um processo 
de reaprendizagem cognitiva após uma perda significativa e identificou quatro tarefas a 
superar. 1) Aceitar a realidade da perda, 2) vivenciar/elaborar a dor da perda, 3) ajustar-se 
ao meio ambiente onde está faltando a pessoa que morreu e 4) reposicionar a energia 
emocional e reinvestir em outro relacionamento. Achava que essas tarefas nem sempre 
eram vivenciadas na ordem acima descrita e, ainda, que nem todos os enlutados iriam 
conseguir alcançar todas. 
A teoria da transposição psicossocial vem explicar a necessidade de pensar e 
replanejar a vida diante de uma mudança importante. Tendo como principal parâmetro a 
teoria do estresse cognitivo, Stroebe e Schut em 1999 publicaram o Modelo do Processo 
Dual de Luto, no qual postulam que as pessoas enlutadas tendem a oscilar entre aquilo 
que denominaram 'orientação para a perda' e orientação para a restauração'. A primeira 
refere-se à busca dolorosa pela pessoa perdida e, a segunda, é a luta para se reorientar em 
um mundo que parece ter perdido seu significado. Esse modelo define dois tipos de 
fatores desencadeantes de estresse, os direcionados para a perda, e os direcionados para a 
restauração. Os direcionados para a perda em si e os direcionados para a restauração, 
secundários e decorrentes à adaptação ao mundo externo. O principal enfoque deste 
modelo é de que não há estágios fixos para o enlutamento. Ao contrário, o enlutado 
enfrenta uma oscilação dual e dinâmica entre os dois estressores, e que o resultadonormal desse processo de oscilação é que, finalmente, a pessoa enlutada descobre que 
muito do passado do relacionamento continua a ter importância no planejamento do 
futuro (Stroebe, 2010). 
2 A Terapia Cognitiva-Comportamental e a superação do Luto 
Cognições sobre a morte 
Partindo da postulação da Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), da ideia de 
que ao longo de nossas vidas são construídas e adquiridas cognições sobre si mesmo, 
sobre o mundo e sobre o futuro, não raro as pessoas tendem a fazer interpretações 
errôneas acerca das situações. Através desses erros de pensamento, acaba-se 
proporcionando sofrimentos emocionais, físicos e psicológicos e, de acordo com os 
autores Dattilio e Freeman (2004), dentre os eventos ameaçadores e críticos, situações de 
crise e situações da perda de um ente querido podem ser situações ativadoras dessas 
crenças disfuncionais. 
De acordo com o exposto, as crenças a respeito da perda de um ente querido, 
serão ativadas e processadas pelo entendimento que o indivíduo tem em relação à morte, 
ou seja, a reação dependerá do estilo de enfrentamento e dos padrões anteriormente 
aprendidos e internalizados, interferindo e refle- tindo, principalmente, na alteração 
emocional e comportamental, devido aos erros do pensamento (Remor, 1999). 
No estudo realizado por Bretâs, Oliveira e Yamaguti (2006) com estudantes de 
enfermagem, desvenda-se crenças sobre a morte; na maior parte delas, revelou-se a 
aceitação da morte e do processo de morrer. Em outra pesquisa realizada, as autoras 
encontraram falas que representam o sofrimento, a angústia, a raiva, principalmente 
quando a morte se deu devido a um acidente automobilístico, além de crenças da 
continuação da vida após a morte, acometidos pela perda do ente querido (Basso & 
Marin, 2010). Estas são algumas falas que podem ser encontradas em estudos, as quais 
nos revelam algumas crenças sobre a morte para os participantes das pesquisas, para 
alguns, trazendo certo conforto e alívio ao acreditarem e se apegarem aos credos e 
princípios de cada religião, buscando subsídios e influenciando na maneira de pensar e 
aceitar a morte (Gutierres & Ciampone, 2007). 
Concomitantemente a isso, numa pesquisa realizada por Lückemeyer (2008), com 
uma mãe que perdeu seu filho num acidente automobilístico, pôde-se verificar 
sentimentos de fracasso, de incapacidade, por não conseguir prevenir a morte do filho. 
Além disso, sentimentos de culpa, imensa ansiedade e apatia também foram relatados por 
ela. Isso é encontrado na literatura quando Kovács (1992) salienta que a morte ocorrida 
de maneira brusca e repentina tem uma potencialidade de paralisação, desorganização, 
impotência, desesperança e desamparo, como descrito pela participante do estudo 
anteriormente citado. 
Dentre as reações mencionadas, é visível que as implicações frente à morte são 
inúmeras e, na maioria das vezes, afetam os enlutados, tornando-os incapacitados na 
reorganização de suas vidas, tanto no contexto familiar como no social. Questões 
relacionadas à religião, mais especificamente sobre reencarnação, são, muitas vezes, 
lembradas e referidas nas pesquisas, pois acredita-se que essa crença de vida após a morte 
fornece um certo alívio nas pessoas enlutadas (Giacóia, 2005). Num estudo feito por 
Peruzzo, Jung, Soares e Scarparo (2007), os participantes da amostra relataram acreditar 
que a pessoa morta está num lugar bonito, bem e feliz, que pode ouvir e ver o que 
acontece depois da morte. 
Os sentimentos de incapacidade, de vulnerabilidade são os preditores das 
dificuldades intrínsecas da perda; aliás, são os grandes geradores da desorganização que 
atinge as pessoas que perderam um ente querido. Dentre as dificuldades citadas, é 
importante apontar o quão difícil se torna a aceitação, a fase de readaptação em preencher 
o vazio que a pessoa querida deixou. A elaboração de outras perdas anteriores e as 
crenças relativas à morte também podem ser fatores que interferem no luto. Para a 
efetivação do luto, Elizabeth Kübler-Ross, referência no assunto, propôs cinco estágios: a 
negação e o isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. 
Como intervir dentro de uma perspectiva breve Cognitivo-Comportamental 
Dentre as circunstâncias que são beneficiadas de uma psicoterapia breve, 
destacam-se situações de crise e mudanças drásticas provocadas por perdas repentinas, 
pois o enlutado possui uma necessidade de readaptação rápida e complexa para a 
obtenção do alívio de sintomas e a restauração no funcionamento do indivíduo. 
Logo abaixo, acerca-se de alguns aspectos indispensáveis no auxilio terapêutico a 
um paciente enlutado. Um ponto essencial é que se possa transmitir confiança e apoio, 
que ele será acolhido e não estará sozinho. Antes de qualquer coisa, esta terapia tem 
como objetivo ajudar o paciente na resolução de conflitos existentes à separação, 
facilitando a superação das etapas do luto para elaborar a perda; para isso, no entanto, é 
importante levar em conta outras perdas vividas pelo paciente. em termos de objetivos 
terapêuticos 
O objetivo terapêutico na Terapia Cognitivo-Comportamental perante uma 
situação de luto por perda repentina tem como base, identificar recursos disponíveis e 
avaliar quais são as principais preocupações do paciente. Num primeiro momento, 
recomenda-se defini-las; por seguinte, priorizá-las; e, por fim, abordá-las, levando em 
consideração e avaliando a rede de apoio social e auxiliando na tomada de decisões, pois 
possivelmente o enlutado encontra-se em estados psicológico e emocional prejudicados 
(Remor, 1999). 
Além disso, é recomendável que possam diminuir as alterações emocionais, pois 
o enlutado encontra-se num estado frágil, vulnerável e desorganizado, tanto em níveis 
cognitivos como fisiológicos, motores e comportamentais. As alterações são fatores que 
podem dificultar o bom andamento do trata- mento, prejudicando o funcionamento da 
terapia e sua meta principal, que é servir como uma facilitadora no processo de 
readaptação do indivíduo. 
Sugestiona-se ao terapeuta expressar empatia, respeitar e adequar-se ao o ritmo do 
paciente, principalmente no decorrer do uso das estratégias e técnicas terapêuticas. 
Adequar-se ao funcionamento do paciente e não confrontar diretamente com ele, pois há 
grandes chances de ele desenvolver resistência ao tratamento. Outro ponto importante é 
não fornecer informações nem desnecessárias nem insuficientes, não negar dados que lhe 
são solicitados, para que se evitem maiores distorções cognitivas. Sempre que possível, 
indica-se estimular a auto eficácia do enlutado, para que ele tenha conhecimento das suas 
capacidades estratégicas e condições para lidar com esse momento difícil (Miller & 
Rollnick, 2001). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Frente à revisão teórica exposta neste artigo, a respeito da morte repentina e das 
repercussões desse evento estressor na vida de uma pessoa, conclui-se que, sem dúvida 
nenhuma, é um evento provedor de sofrimento e de grandes alterações psicológicas, 
fisiológicas, comportamentais, bem como alterações no contexto social em que o 
enlutado está inserido. No entanto, as dificuldades que irão surgir poderão incapacitar e 
desorganizar a vida das pessoas enlutadas a tal ponto de não conseguirem suprir 
sentimentos desagradáveis. Neste momento, recorrem a um auxílio de um profissional da 
saúde, e, quando solicitada à ajuda de um psicólogo, este tende a priorizar o acolhimento 
e a escuta ao paciente enlutado. 
Para este auxílio psicológico, foram sugeridos alguns pontos essenciais da Terapia 
Cognitivo-Comportamental, pois acredita-se que, por ela ser breve, estruturada, focal, 
tende a ter uma importantecontribuição para o alívio dos sintomas gerados pela perda 
repentina. De acordo com os teóricos embasadores da TCC, os comportamentos são 
regidos pelos pensamentos, que na maioria das vezes apresentam-se disfuncionais, 
desadaptativos, causam sofrimento aos indivíduos, inabilitando e incapacitando na 
reorganização de suas vidas, em grau maior se influenciados por um evento estressor que 
é a perda repentina de um ente querido. Portanto, podem ser utilizados alguns 
instrumentos como estratégias e técnicas psicoterapêuticas que colaboram para o alívio 
de sintomas e a melhora do paciente. 
A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem terapêutica adequada para 
tratamento de pacientes enlutados (FlEMiNG et al., 2001), refletindo em emoções mais 
positivas e redução do sofrimento, resultados também confirmados por Malkinson 
(2010). A reestruturação cognitiva, é apontada como etapa essencial do tratamento do 
luto, assim como a exposição do paciente à nova realidade, para que ele possa 
desenvolver estratégias de enfrentamento adequadas e funcionais ( WAGNER et al., 
2006). 
Viu-se que as estratégias e técnicas anteriormente listadas não possuem uma 
ordem regrada e um roteiro a ser seguido, como também foi destacado que os estágios de 
reação à perda e as fases do luto podem sofrer alterações na ordem e intensidade. Perante 
essas considerações, indica-se que o terapeuta respeite e adapte-se ao funcionamento do 
paciente enlutado e, como já referido, utilize aspectos positivos como a expressão da 
empatia e a não confrontação para concretizar a obtenção do êxito. 
O objetivo deste artigo foi enriquecer e proporcionar ao leitor alguns aspectos 
relativos a um auxílio terapêutico diante de um evento estressor, que é a perda repentina 
de um ente querido, baseando-se no manejo da Terapia Cognitivo-Comportamental. 
Como não há muitos estudos brasileiros que abordem o luto gerado por uma perda 
repentina, neste referencial teórico proposto, salienta-se que novas pesquisas possam ser 
realizadas, colocando à disposição dos profissionais interessados materiais atualizados, 
relacionados a este tema. 
 
Referências 
Araújo, P. V. R., & Vieira, M. J (2001). As atitudes do homem frente à morte e o 
morrer. Revista Texto e Contexto Enfermagem, 10(3),101-117. 
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Barbosa, P. C. (2006). A Evolução nos Rituais de morte e sua importância na 
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Basso, L. A., & Marin, A. H. (2010). Comportamento de apego em adultos e a 
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Beck, A. T., Rush, A. J., Shaw, B. F., & Emery, G. (1979). Cognitive therapy of 
depression: a treatment manual. New York: Guilford Press. 
Beck, J. (1997). Terapia Cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artes Médicas. 
(Original publicado em 1995). 
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Brêtas, J. R. S., Oliveira, J. R., & Yamaguti, L. (2006). Reflexões de estudantes de 
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