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Documentário Visibilidade TRANS e Resolução 845 CFESS

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Universidade Federal de Ouro Preto 
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas 
Departamento de Ciências Sociais, Jornalismo e Serviço Social
Curso: Serviço Social 
Disciplina: Raça/Etnia, Gênero e Sexualidades
Docente: Ricardo W.
Discente: Izabela Fernandes Resende
Atividade
Dissertar sobre o documentário “Protagonismo Trans" e a Resolução 845 do CFESS.
O modo de produção capitalista tem estreitas relações com as bandeiras dos movimentos sociais como um todo e, com a questão de gênero em particular, não é diferente. Numa sociedade onde as relações de exploração, de uma classe em detrimento do enriquecimento de outra, não são reconhecidas, a naturalização desse processo de violência se auto afirma a partir das mais variadas formas, encontrando apoio principalmente no patriarcado, onde a complexificação se faz inerente. 
A dificuldade na construção das lutas dos movimentos sociais contra o patriarcado, expressa também na forma da questão de gênero, se acirra e, o mesmo tempo que consegue se manterem pauta e receber uma certa atenção do Estado e da sociedade civil, ela ainda encontra entraves significativos para atingir seu público alvo e promover melhoras na integração dos agentes sociais que representa, bem como a auto identificação desses sujeitos perante si mesmos e como construtores da luta. 
No que tange à questão de gênero, e ao processo transexualizador em específico, a Resolução do CFESS Nº 845, de 26 de fevereiro de 2018, retoma significativas considerações sobre a efetivação da garantia de cidadania de toda pessoa humana da sociedade brasileira, baseando-se na legislação brasileira, nos Direitos Humanos e nos Princípios de Yogyakarta de 2007, por exemplo, que têm grande parcela na defesa e no reconhecimento da liberdade dos gays, lésbicas, transsexuais e travestis, e buscam assegurar esses indivíduos de gozarem dos seus direitos enquanto cidadãos e a acessarem também a saúde.
Após sinalizar a participação do Assistente Social em equipes multidisciplinares no “processo transexualizador” regulamentado pela Portaria do Ministério da Saúde nº 2803/2013 e também a mobilização de caráter internacional que busca a quebra do estigma de doença para a transexualidade, tanto dentro da Organização Mundial da saúde quanto nas profissões da área da saúde, a Resolução 845 do CFESS estabelece diretrizes sobre a atuação do profissional, como por exemplo, portar-se de maneira crítica com respeito aos padrões de gênero produzidos e reproduzidos socialmente, acompanhar o usuário que estiver buscando transformações corporais em conformidade com sua identidade de gênero, seguir o Código de Ética e assim renegar qualquer tipo de julgamento de índole patologizante ou corretiva sobre a expressão ou identidade de gênero daquele usuário, considerar a integralidade da atenção à saúde daquele usuário (não enfocar procedimentos cirúrgicos nem hormonais), respeitar a auto designação do usuário quanto ao seu gênero e à sua identidade sexual e defender o uso do nome social dos (as) assistidos (as), dentre outros. O não cumprimento dessas atribuições implica na apuração dos fatos, segundo o Código de Ética, e se constatadas improbidades e violações, o profissional responderá por tais. 
O documentário “Protagonismo Trans" ultrapassa uma simples produção de mídia social, assumindo uma valorosa participação na construção de um real debate sobre a vida das trans, o olhar delas para si mesmas e os desafios diários que enfrentam. Com isso, articula-se uma possibilidade de visibilidade mínima desses agentes sociais, lhes possibilitando um lugar de fala, onde sintam-se ouvidas e representadas, diferente de quando não tinham nenhum tipo de visibilidade e eram discriminadas e marginalizadas, e impossibilitadas de acessarem lugares de debate e sua parcela na luta. 
Atua como ferramenta na ruptura com a romantização da questão trans que é sustentada pela mídia, principalmente através da televisão. Romantização no sentido de, mesmo reconhecendo a existência desses indivíduos e lhes fornecendo papeis em suas produções, acabam por distorcer de forma lúdica a representação a realidade desses cidadãos, tão marginalizados na vida real e sem grandes dilemas ou problemas na ficção, criando assim uma falsa ilusão de uma integração deles à sociedade, mesmo que de maneira tímida e restrita. Juntamente, notabiliza-se a real ineficiência do Estado no que diz respeito à elaboração e viabilização de políticas públicas nacionais direcionadas especialmente para a população trans, na mais diversas áreas (saúde, educação, mercado de trabalho) pois, na atual conjuntura esses cidadãos se veem acometidos por doenças, com ênfase nas transmissíveis sexualmente, legitimado pela prostituição que é a principal “profissão” que lhes permitem obter uma espécie de renda.
Quanto à questão dos indivíduos, que mesmo dentro do movimento trans, que se encontram em posição de privilégio perante outros indivíduos, faz-se necessário em um primeiro momento, o reconhecimento desse lugar de privilégio e o compartilhamento do respeito entre indivíduos, que mesmo portando suas especificidades, devem ter seu lugar de fala assegurado, por serem partes diferentes porém integrantes de um mesmo movimento. Esse caminho de reconhecimento e aceitação das diferenças é essencial tanto dentro dos movimentos sociais quanto na sociedade como um todo. Porém esse processo exige uma completa e complexa desconstrução de pré conceitos e conceitos, herdados e naturalizados acompanhando o desenvolvimento do modo de produção capitalista, e a conscientização de cada indivíduo quanto ao seu verdadeiro papel enquanto ser social, quanto ao seu lugar de fala e também no que diz respeito à garantia de sua cidadania e dos seus direitos independente de seu sexo, gênero, raça e etnia. 
Em linhas gerais, mesmo que na maioria das vezes seja o Estado o principal contratante dos Assistentes Sociais e espere deles como respostas um certo apaziguamento de conflitos e a manutenção do domínio sobre a classe trabalhadora dentro dessa sociabilidade, esse trabalhador livre e assalariado, justamente por ser um dos profissionais que atua diretamente com aquele indivíduo, violentado pela relação contraditória e desigual entre Capital versus Trabalho, tem expresso, de maneira bem evidente no Código de Ética que rege as suas responsabilidades enquanto profissional, a opção de classe em favor dos trabalhadores e da efetivação dos direitos desta classe. .
De forma análoga, estão inclusas a luta pela igualdade de gênero e a defesa de sua integridade, assim como a defesa de outras bandeiras sociais até porque, no fim, a luta dos movimentos sociais, que parece ser diversificada, nada mais é senão fragmentos que constituem a luta resultado do tensionamento recorrente do embate entre as duas classes fundamentais e antagônicas dentro do modo de produção capitalista, a saber, a burguesia e o proletariado.
Referências Bibliográficas: 
PROTAGONISMO Trans. In: Couro de Rato. Direção: Luis Carlos Alencar. Produção: Couro de Rato. Disponível em: <https://youtu.be/k4yJ3ZoxaAg> Acesso em 18 jun 2018
Resolução 845, 26 de fevereiro de 2018. Conselho Federal de Serviço Social. Disponível em: <http://www.cfess.org.br> Acesso em 18 jun 2018
PROJETO VIDAS: GÊNERO, DIVERSIDADE E SEXUALIDADES. Universidade Federal de Ouro Preto. Realização: 19 jun 18

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