Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA (TEXTO ELABORADO A PARTIR DE PARTES DE DISSERTAÇOES E TESES DO LABSOL) PROMEC 1. EFEITO FOTOVOLTAICO Efeito fotovoltaico é o nome dado a transformação direta da luz em energia elétrica. O dispositivo utilizando para este fim são as células fotovoltaicas ou também chamadas células solares. Neste processo, são utilizados materiais semicondutores como o silício, o arseneto de gálio, telureto de cádmio, disseleneto de cobre e índio entre outros. Não é nosso objetivo aqui estudar com profundidade os fenômenos físicos que regem o funcionamento das células solares, matéria que exigiria uma certa familiaridade com a física do estado sólido e de componentes eletrônicos. Uma explicação simplificada e qualitativa é, entretanto, fundamental para a aceitação do fenômeno e compreensão dos efeitos provocados por modificações externas. A seguir será apresentada uma tentativa de expor o efeito fotovoltaico que ocorre nas células da forma mais simples possível, limitando os exemplos ao silício monocristalino (por ser o material mais usado para fabricação de células), mas lembrando que com outros semicondutores ocorrem situações semelhantes. O silício (Si) é um material com uma densidade atômica de 5 x 1028 átomos por metro cúbico. Cada átomo de Si possui quatro elétrons na camada eletrônica mais externa (material tetravalente, portanto). Na forma cristalina, o Si preenche até o número "ideal" de oito elétrons nesta camada, compartilhando cada um de seus quatro elétrons de valência com outros quatro átomos de Si, como pode ser observado na Figura 1.1. Figura 1.1 – Representação esquemática das ligações covalentes em um cristal de silício. Cada um destes átomos, por sua vez, compartilha um de seus elétrons com o primeiro átomo, formando assim uma rede tridimensional de átomos onde todos os elétrons estão ligados. Isto indica que uma rede ideal deste material seria um isolante elétrico, dada a ausência de elétrons livres para a condução elétrica. O silício, no entanto, é classificado como um semicondutor porque, à temperatura ambiente, uma pequena fração de seus elétrons escapa das ligações interatômicas e passa a integrar um grupo de elétrons com energia maior que os elétrons de ligação e que se distribuem pelo cristal com movimentos aleatórios em todas as direções, os elétrons livres. A cada elétron que se libera de suas funções de ligação, corresponde uma ligação incompleta, uma região em que um átomo se vê cercado por apenas sete elétrons, havendo assim uma "lacuna" ou posição de ligação não preenchida por um elétron. A fração de elétrons livres no silício à temperatura ambiente é de 7 x 10-14 . Havendo 5x1028 átomos por metro cúbico e quatro elétrons de valência por átomo, haverá 1,4x1016 elétrons livres e igual número de lacunas por metro cúbico. Quando um campo elétrico é aplicado ao cristal, circulará neste uma corrente causada parcialmente pela aceleração dos elétrons livres na direção do campo e parcialmente pelo deslocamento dos elétrons de ligação, que saem dos átomos com a camada de valência completa para as lacunas existentes, deixando assim novas lacunas para que um processo sucessivo de transferências eletrônicas se desenvolva. O deslocamento de elétrons de ligação entre átomos vizinhos pode ser descrito, da mesma forma, por um "movimento" das lacunas no sentido contrário. Diz-se assim que o processo de condução elétrica em um semicondutor se dá por uma corrente de elétrons e uma "corrente de lacunas", atribuindo-se uma carga positiva às lacunas que se deslocam no sentido contrário aos elétrons. Se uma pequena fração, por exemplo, uma parte por milhão, de átomos com cinco elétrons de valência (pentavalentes) for introduzida na rede cristalina do Si, substituindo átomos deste na mesma proporção, então haverá, depois de estabelecidas as ligações com seus quatro vizinhos, um quinto elétron não ligado. Este elétron tenderia a orbitar em torno da região do átomo pentavalente, porém estaria tão fracamente ligado nesta órbita que a própria energia térmica à temperatura ambiente lhe daria condições de se libertar desta ligação e integrar o grupo dos elétrons livres. Se for considerada uma dopagem de 5x1022 átomos de fósforo (P) por metro cúbico num cristal de Si, uma densidade igual de elétrons passaria a integrar o grupo dos elétrons livres. Note-se que uma dopagem em uma fração da ordem de um milionésimo de átomos pentavalentes implica em um aumento do número de elétrons livres na ordem de um milhão de vezes, com a conseqüente alteração drástica na condutividade do semicondutor. Se, por outro lado, uma fração similar de átomos trivalentes como os de Boro (B) for introduzida num cristal de silício, haverá um aumento da ordem de um milhão de vezes na densidade de lacunas do cristal, sendo então a condutividade por lacunas predominante. Os cristais dopados com átomos pentavalentes (também chamados de doadores de elétrons) são chamados de semicondutores do tipo N e os dopados com átomos trivalentes (também chamados aceitadores de elétrons) são denominados semicondutores do tipo P. O efeito de profundas modificações no comportamento eletrônico dos cristais com pequenas dopagens de impurezas demonstra que nos processos de fabricação de dispositivos eletrônicos é necessário utilizar semicondutores previamente purificados a um alto grau. Figura 1.2 – Diagrama esquemático de uma estrutura cristalina de silício dopado a fim de produzir semicondutores do tipo N e do tipo P. Um mesmo cristal pode abrigar uma região dopada do tipo P em contato com uma região dopada do tipo N. Na interface das duas regiões haveria uma difusão de elétrons da região N para a região P e uma difusão de lacunas da região P para a região N, devido aos fortes gradientes de concentração. Em conseqüência desta difusão, a região N próxima à interface ficaria com deficiência de elétrons, isto é, ficaria com cargas positivas, e a região P próxima à interface ficaria com cargas negativas. Esta polarização de cargas elétricas gera um campo elétrico interno no material, o qual origina uma força elétrica que se opõe à força de difusão original. No equilíbrio, a corrente devida ao campo formado compensa a corrente devida à difusão que flui no sentido oposto, tornando nula a corrente através da interface. O campo elétrico formado existe apenas na região das junções e seu alcance define a "zona de depleção", cuja largura depende das dopagens do lado N e do lado P. Figura 1.3 – Representação esquemática de um junção PN O dispositivo eletrônico de junções mais simples e mais conhecido é o diodo retificador. Ele opera deixando fluir a corrente em um sentido e impedindo-a no sentido inverso. Quando uma fonte externa é ligada com seu terminal positivo no lado P e seu terminal negativo no lado N, o campo elétrico externo diminui o efeito do campo elétrico local da junção, retirando a mesma do equilíbrio, pois as forças de difusão ultrapassam as forças do campo local, e os elétrons fluem com facilidade da região N para a região P. Se os terminais da fonte externa forem ligados da forma contrária, o campo elétrico externo contribui com o campo da junção tendendo a impulsionar elétrons da região P para a região N. Os elétrons da região P, entretanto, são escassos e geram apenas uma corrente mínima conhecida como "corrente de saturação reversa". A característica tensão x corrente é descrita pela equação: I = Io [ exp { eV /(mkT)}-1 ] (1) cuja demonstração pode ser obtida em qualquer livro sobre dispositivos eletrônicos. Io é acorrente de saturação reversa, V a tensão aplicada, k a constante de Stefan-Boltzmann, T a temperatura do cristal e m um fator com valor entre 1 e 2 (2 para tensões muito baixas e tendendo a 1 para tensões acima do "joelho" da curva). A Figura 1.4 representa a Equação 1 e é chamada "característica no escuro" de um diodo semicondutor. Figura 1.4 – Curva característica de um diodo. Observa-se que quando uma junção P-N é iluminada, a curva característica se desloca como indicado na Figura 1.5. Figura 1.5 – Curva característica I-V de um fotodiodo de Si sob iluminação O fato de aparecer uma tensão nos terminais do diodo iluminado foi denominado efeito fotovoltaico, e a explicação do fenômeno é possível com considerações da mecânica quântica. A luz é constituída de fótons, que podem ser absorvidos por elétrons que estejam participando das ligações (elétrons de valência) entre os átomos de silício. Quando um elétron absorve um fóton, passa a um estado de energia igual à que tinha anteriormente mais a energia do fóton, o que implica na sua liberação, criando assim um elétron livre e uma lacuna onde havia antes uma simples ligação entre átomos. Denomina-se este fato de geração de um par elétron-lacuna a partir de um fóton. Os elétrons gerados na região P serão acelerados pelo campo elétrico localizado na região da junção para o lado N. As lacunas geradas na região N tendem a cruzar a junção para o lado P, como pode ser observado na Figura 1.6. Figura 1.6 - Geração de fotocorrente Ocorre assim um desequilíbrio nas correntes da junção que transferem uma diferença de potencial para os terminais do dispositivo. Se o circuito externo é fechado por um fio, uma fotocorrente passa a circular e se mantém enquanto incidir luz sobre a junção. Quando a polarização do diodo é reversa (positivo do lado N), é fácil entender a corrente que circula no sentido reverso se for lembrado que, no escuro, esta corrente é pequena por escassez de elétrons no lado P e que, em condições de iluminação, os elétrons no lado P são gerados por fótons incidentes. Também é fácil prever uma proporcionalidade entre a corrente reversa e a intensidade de luz, já que a última determina o número de fótons incidentes e o número de pares elétrons-lacuna gerados (e, portanto, a corrente) depende deste fato. 2. CÉLULAS FOTOVOLTAICAS As células fotovoltaicas são os dispositivos conversores de energia radiante em energia elétrica que funcionam segundo o efeito fotovoltaico. Na sua grande maioria, as células usadas em aplicações comerciais podem ser encaradas como diodos de junção PN de grande área. As células fotovoltaicas podem ser divididas quanto à estrutura de ligação dos átomos dos quais são constituídas. Desta forma a estrutura atômica pode ser do tipo cristalina ou do tipo amorfa. A estrutura cristalina pode ser ainda monocristalina ou multicristalina. Quanto ao material utilizado para a fabricação das células, este pode ser composto por ligas, como sulfeto de cádmio e arsenieto de gálio entre outros ou por apenas um elemento como o silício, germânio ou selênio. Na parte frontal das células é acrescentada uma camada de um material, geralmente TiO2 ou SiO2, a fim de minimizar as perdas por reflexão. A Figura 2.1 apresenta uma representação de uma célula de silício típica. Normalmente a camada de Silício tipo N tem uma espessura compreendida entre valores da ordem de 0,3 µm até 1 µm enquanto a camada de silício tipo P apresenta uma espessura de aproximadamente 300 µm. Figura 2.1 - Representação de uma célula fotovoltaica de silício (adapatado de CRESESB, 2006). A eficiência da conversão da energia solar em energia elétrica através do efeito fotovoltaico em uma célula está limitada por uma série de fatores e este limite é da ordem de 25% para células de Si sem concentração da radiação solar (com concentração pode atingir 32%). Os principais fatores que geram esta limitação são os seguintes: 1. Perdas por reflexão na superfície (que podem ser reduzidas pelo uso de camadas anti-reflexivas); 2. Perdas por seletividade - apenas parte dos fótons disponíveis pode ser aproveitada; 3. Perdas pela utilização parcial da energia dos fótons na criação dos pares elétron-lacuna; 4. Perdas pelo não aproveitamento de todos os pares elétron-lacuna e pela recuperação somente parcial da energia destes portadores; 5. Perdas pelos efeitos de resistência série e paralela, contatos, etc. O segundo fator, as perdas por seletividade, tem origem em dois efeitos: os fótons com energia menor que a necessária para liberar elétrons de valência da sua ligação entre átomos de silício não são aproveitados e os fótons com energia maior que a necessária são absorvidos ao longo da profundidade do cristal e podem atravessá-lo sem ser absorvidos. Como conseqüência destes efeitos e outros fatores de funcionamento, as células de Si são insensíveis à luz fora da banda visível e infravermelho próximo. A resposta espectral de uma célula convencional de Si pode ser vista na Figura 2.2. A não coincidência dos máximos das duas curvas infelizmente reduz a quantidade de energia aproveitável. Existe a alternativa de outros materiais que podem alcançar eficiências mais altas, porém sua tecnologia não tem ainda a estabilidade obtida pelas células de silício. 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 Comprimento de Onda (µm) 0 200 400 600 800 1000 1200 Irr ad iâ nc ia E sp ec tra l S ol ar G lo ba l ( W . m -2 . µm ) 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 R es po st a R el at iv aCurva 1 - Resposta espectral da célula Curva 2 - Espectro solar (AM 1,5 G) Figura 2.2 – Resposta espectral de uma célula de silício A radiação solar provoca a separação dos portadores de carga, como descrito anteriormente, e o surgimento de uma corrente caso exista um aparelho de consumo ligado. As perdas ocasionadas pela recombinação, pela reflexão e pelo sombreamento entre os contatos frontais, ocorrem na célula solar. Além disso, uma grande proporção da energia de radiações de onda longa e curta não pode ser aproveitada. Uma outra parte da energia não aproveitada é absorvida e transformada em calor. As perdas individuais de uma célula solar de silício cristalino, são dadas no seguinte balanço energético: 100% energia solar irradiada - 3,0% reflexão e sombreamento dos contactos frontais - 23,0% relativo a insuficiente energia do fóton na radiação de onda longa - 32,0% relativo ao excedente de energia do fóton na radiação de onda curta - 8,5% devido a recombinação - 20,0% gradiente elétrico numa célula, especialmente na região da barreira de potencial - 0,5% resistência em série (perdas térmicas da condução elétrica) = 13,0% energia elétrica utilizável O material mais utilizado para a fabricação de células fotovoltaicas é o silício. Ele não é encontrado na natureza como um elemento químico puro, mas um composto química em forma de dióxido de silício. Para a obtenção do silício, em primeiro lugar é necessário separar o oxigênio não desejado do dióxido de silício. Para conseguir isto, a areia de sílica é aquecida e fundida num cadinho, junto com pó de carvão. Durante este processo é criado o silício metalúrgico, com uma pureza de 98 %. No entanto, 2 % de impurezas no silício é demasiado para aplicações eletrônicas. É apenas admissível um bilionésimo por cento. Por este motivo, o silício em estado bruto é ainda purificado através de um processo químico. É cuidadosamente depositado num forno com ácido clorídrico. Como resultado,são produzidos as substâncias hidrogênio e triclorosilano. Este último é destilado em várias e sucessivas etapas, durante as quais é reduzida a percentagem de impurezas em cada estágio da destilação. Quando se consegue a percentagem de pureza necessária, o triclorosilano é reduzido a silício com a ajuda do hidrogênio a 1.000 ºC. Este silício de elevada qualidade pode agora ser processado de diferentes modos, como por exemplo para produzir células monocristalinas ou células policristalinas. 2.1 Células de silício monocristalino O processo de Czochralski (processo de extração de cadinho), foi estabelecido para produzir silício monocristalino para aplicações terrestres. Durante este processo, o núcleo do cristal, que é uma semente de silício cristalino com uma orientação definida, é imerso num banho de silício fundido (ponto de fusão de 1.420ºC) e retirado do banho enquanto roda lentamente. Deste modo, podem ser produzidos cristais únicos redondos com um diâmetro de trinta centímetros e vários metros de comprimento. Os monocristais cilindricos podem ser estriados em barras semiquadradas e depois cortados em lâminas de 0,3 mm (wafer). Durante o processo de estriagem dos monocristais e de corte das pastilhas, perde-se uma grande parte do silício em forma de pó de serragem. A partir das pastilhas já com impurezas positivas, a fina camada com impurezas negativas é produzida com difusão de fósforo, a temperaturas de 800-1.200 ºC. Depois de unir a camada de contato posterior, as pastilhas são equipadas com contatos elétricos e com uma camada de anti-reflexão na parte frontal. O processo de zona flutuante consiste noutro processo de produção de silício monocristalino, sendo utilizado para a produção de células solares de maior pureza e de maior eficiência. Eficiência: 15 – 18 % (silício de Czochralski) Forma: São produzidas células redondas, semi-quadradas ou quadradas, dependendo da quantidade que é estriada do cristal único. As células redondas são mais baratas do que as semi- quadradas ou as quadradas, uma vez que se perde menos material durante a sua produção. No entanto, raramente são utilizadas em módulos padrão devido ao menor aproveitamente do espaço no módulo fotovoltaico. Para módulos especiais, utilizados em sistemas de integração em edifícios, para os quais é desejável algum grau de transparência, ou para sistemas solares domésticos, as células redondas poderão constituir uma boa alternativa. Tamanho: Majoritariamente 10x10 cm ou 12,5x12,5 cm, diâmetro 10, 12,5 ou 15 cm. Espessura: 0,3 mm. Estrutura: Homogênea. Cor: Gama de azul-escuro para preto (com Anti-reflexão), cinza (sem Anti-Reflexão). Fabricantes de Células: Astro Power, BP Solar, CellSiCo, Eurosolare, GPV, Helios, Isofoton, RWE Solar, Sharp, Shell Solar, Solartec, Telekom-STV. Figura 2.3 - Célula quadrada, semi-quadrada e redonda de silício monocristalino 2.2 Célula de silício policristalino O processo de produção mais comum para o silício policristalino é o de fundição de lingotes. O silício em estado bruto é aquecido no vácuo até uma temperatura de 1.500 ºC e depois arrefecido na direção da base do cadinho, a uma temperatura aproximada de 800 ºC. São assim criados os blocos de silício de 40x40 cm com uma altura de 30 cm. Os blocos são primeiro serrados em barras e depois em pastilhas com uma espessura de 0,3 mm. Durante o corte, perdem-se partes do silício na forma de pó de serragem. Depois da introdução de impurezas de fósforo, a camada posterior de contato é unida à pastilha. Por último, os contactos elétricos são fixados no lado frontal juntamente com uma camada de anti-reflexão (AR) Eficiência: 13-15 % (com AR). Forma: Quadrada. Tamanho: 10x10 cm, 12,5x12,5 cm e 15x15 cm. Espessura: 0,3 mm. Estrutura: Durante a fundição do bloco, formam-se cristais com várias orientações. Os cristais individuais podem ser facilmente vistos na superfície (padrão estrutural semelhante a cristais de gelo), devido ao efeito criado pela diferente reflexão da luz. Cor: azul (com AR), cinza prateada (sem AR). Fabricantes de células: BP Solar, Eurosolare, ErSol, GPV, Kyocera, Photowatt, Q-Cells, RWE Solar,Sharp, Shell Solar, Sunways. (a) (b) (c) Figura 2.4 - Células de Silício policristalino- (a) sem camada AR. (b) com camada AR. (c) com AR e contatos elétricos 3. MÓDULOS FOTOVOLTAICOS Em um sistema fotovoltaico os módulos são os elementos responsáveis pela conversão da radiação solar em eletricidade. A ABNT (NBR10899/TB-328) define o módulo fotovoltaico como sendo o “menor conjunto ambientalmente protegido de células solares interligadas, com o objetivo de gerar energia elétrica em corrente contínua”. O conjunto de células conectadas é encapsulado, de modo a oferecer proteção contra a intempérie (principalmente umidade) ao mesmo tempo em que possibilita um caminho ótico para a luz que chega até as mesmas. A maioria dos módulos conta ainda com uma moldura metálica que proporciona a necessária rigidez mecânica ao conjunto e facilita a fixação do módulo. Módulos com tensão nominal de 12 VDC são constituídos por 30 a 36 células em série. Embora não tão comuns, também são encontrados módulos com tensões nominais de 6, 24 e 48 VDC e outras. Na Figura 3.1 é apresentado o corte de um módulo fotovoltaico, mostrando seus principais componentes: • Cobertura frontal: usualmente um vidro de com baixo teor de ferro, para reduzir as perdas por absorção. Um acabamento texturado opcional contribui para minimizar as perdas por reflexão. • Encapsulante: polímero termoplástico transparente, eletricamente isolante e resistente à umidade, à fadiga mecânica e à ação da radiação solar (principalmente raios ultravioleta). O material mais utilizado é o EVA (etil vinil acetato). • Células fotovoltaicas, interconexões elétricas e caixa de bornes: conjunto elétrico do módulo. • Cobertura posterior: o material mais comumente empregado é o PVF (fluoreto de polivinil), comercialmente conhecido por Tedlar, embora existam módulos que utilizem um segundo vidro. • Moldura metálica: usualmente de alumínio anodizado, confere rigidez mecânica ao módulo e facilita sua fixação. Figura 3.1- Corte de um módulo fotovoltaico O espaço entre a moldura e o conjunto laminado é preenchido por um perfil de borracha de silicone, a qual também é empregada na fixação da caixa de bornes à cobertura posterior. O tempo previsto de vida útil dos módulos fotovoltaicos de silício monocristalino é de pelo menos 20 anos. 4. CIRCUITO EQUIVALENTE DO GERADOR FOTOVOLTAICO Como existe, para alguns profissionais da área de eletrônica, facilidade de raciocinar sobre circuitos equivalentes e muito maior familiaridade com as curvas de diodos no escuro, é de interesse representar a célula como um circuito equivalente. A Figura 4.1 mostra o circuito equivalente simplificado de uma célula fotovoltaica. A fonte de corrente representa a corrente fotogerada IL, enquanto que ID é a corrente que circula através do diodo. I IDIL V + – Figura 4.1- Circuito equivalente simplificado de uma célula fotovoltaica. Do circuito da Figura 4.1 tem-se que: DL III −= (4.1) A corrente que flui através de um diodo, em função da tensão, pode ser descrita pela equação (4.2), a qual pode ser encontrada em diversas bibliografias de física do estado sólido, tais como Shalimova, 1975. − = 1exp0 cel D Tkm VeII (4.2) onde I0 é a corrente de saturação reversa do diodo no escuro, V é a tensão aplicada aos terminais do diodo, e é a carga do elétron,m é o fator de idealidade do diodo (entre 1 e 2 para o silício monocristalino), k é a constante de Boltzmann e Tcel é a temperatura absoluta da célula fotovoltaica. Assim tem-se que a corrente da célula fotovoltaica, em função da tensão, pode ser expressa por: − −= 1exp0 cel L Tkm VeIII (4.3) A partir da equação (4.3), verifica-se que na condição de curto-circuito (V = 0) a corrente do dispositivo é a própria corrente fotogerada e que, se a célula for colocada em circuito aberto (I = 0), ela se autopolarizará com uma tensão tal que a corrente de polarização equilibre a fotocorrente. Esta é a chamada tensão de circuito aberto. Em uma célula real existem outros efeitos que resultam na alteração do circuito equivalente da figura anterior para o circuito da Figura 4.2, onde é incluída uma resistência série RS, representando a resistência efetiva da célula, e uma resistência paralela RP, associada às correntes de fuga. Este circuito equivalente também é válido para módulos fotovoltaicos, como será visto posteriormente. I RS RP ID IPI L V + – Figura 4.2- Circuito equivalente uma célula fotovoltaica Deste modo tem-se a seguinte equação: O termo IP representa as correntes de fuga, principalmente pelas bordas da célula e decorrentes de microfissuras e imperfeições do material. Assim, a equação 4.4, depois de efetuadas as devidas substituições, pode ser escrita como: onde RS é a resistência série e RP é a resistência paralela. A resistência série RS é devida à própria resistência do semicondutor dopado, à resistência da grade metalizada da face frontal e à resistência dos contatos, necessários para circular a PDL IIII −−= (4.4) ( ) P S cel S L R RIV Tkm RIVeIII +− − +−= 1exp0 (4.5) corrente da célula. A resistência paralela Rp tem sua origem nas imperfeições da união P-N ou no material que constitui a célula, ou ainda nas bordas da mesma, e é responsável pela existência de fuga de corrente. Nesta equação existem cinco parâmetros (RS, Rp, I0, IL e m) a serem determinados para uma célula, a partir dos quais se obtém a curva I-V completa. No caso de um módulo fotovoltaico com apenas células conectadas em série, à equação (4.5) é acrescentado um termo que representa o número de células conectadas em série, resultando na equação 4.6. Aqui RS e RP representam as resistências série e paralela totais do módulo. onde NS é o número de células associadas em série. Para a resolução da equação 4.5 deve-se determinar os valores de IL, I0, Rs, Rp e m a partir de valores de fácil quantificação, como os dados especificados nos catálogos fornecidos pelos fabricantes de módulos, os que geralmente são : tensão de circuito aberto (Voc), corrente de curto circuito (Isc), tensão no ponto de máxima potência (Vmp), corrente no ponto de máxima potência (Imp). Estes dados podem ser dados para condições padrão de operação, definindo-se estas para irradiância e temperatura os valores de 1000 W/m² e 25 ºC respectivamente e uma massa de ar 1.5 (NBR12137/MB3478), ou para temperatura das células em condições de operação nominal (NOCT) correspondentes a irradiância de 800 W/m², temperatura ambiente de 20 ºC e velocidade do vento de 1 m/s. Na condição de curto circuito, a tensão nos terminais do módulo é nula, e considerando que IL >> I0. − 1exp t S V IR e que a relação p S R R é muito pequena, pode-se demonstrar a que a equação (4.6) ficará: onde ISC é a corrente de curto-circuito do módulo. Esta aproximação é aceita pela maioria dos autores e foi demonstrada sua validade (Rauschenbach, 1980). No caso em que o módulo fotovoltaico não está conectado a carga alguma, a corrente nos seus terminais é nula. Se o módulo permanece em circuito aberto, este se polariza em uma tensão chamada de tensão de circuito aberto (VOC), na qual a corrente fotogerada é compensada quase ( ) P S celS S L R RIV TkmN RIVeIII +− − +−= 1exp0 (4.6) ISC = IL (4.7) em sua totalidade pela corrente de polarização do diodo. Assim, levando em conta que pR Voc é muito menor que IL , e I0 exp t OC V V , a equação para a tensão de circuito aberto terá a forma: Os módulos fotovoltaicos podem estar polarizados entre o ponto de curto-circuito e circuito aberto, em um ponto que vai depender do valor da carga elétrica conectada nos seus terminais. Se para essa carga, o módulo está fornecendo a sua máxima potência, se diz que está operando no seu ponto de máxima potência, obtendo-se assim valores de tensão e correntes tais que seu produto seja máximo. Estes valores são denominados respectivamente, tensão de máxima potência (Vmp) e corrente de máxima potência (Imp). Neste ponto, demonstra-se que (Krenzinger, 1993): A equação 4.9 fornece o valor de Rp em função de Rs, e pode ser substituída na equação 4.5 considerando os valores de tensão e corrente como se fossem os do ponto de máxima potência. Assim será possível isolar Rs , resultando que: Esta equação pode ser resolvida pelo método de Newton-Raphson e, transladando o resultado à formula de Rp , obtém-se este valor no ponto de máxima potência. Os valores de Rs e += 1ln 0I IVtVoc L (4.8) ( ) mp t smpmp mpsmp Smpmp P I V RIV VRI Vt I RIV R + +− −= exp0 (4.9) ( )0 0 exp exp 1 mp S mp S mp mp S mp S mp t t mp mp S mp L mp t mp V R I R V I RI I R I V V V I R V I I I V I − = + ⋅ ⋅ ⋅ + + ⋅ − − ⋅ − − (4.10) Rp são então considerados como constantes para qualquer ponto da curva característica I-V e para qualquer valor de irradiância e temperatura. Até aqui foi visto como determinar os valores de IL, I0, Rs e Rp a partir dos valores de ISC, Imp, VOC e Vmp em condições standard de medida. Falta determinar o valor do fator de idealidade do diodo (m), que, pela teoria dos semicondutores cristalinos, tem valores entre 1 e 2. Para escolher o parâmetro m poderia ser utilizada uma expressão empírica apresentada por Krenzinger (1993) que relaciona m com o fator de forma da curva I-V. Para condições diferentes da standard, calcula-se Isc e Voc, mantendo constante m, Rs e Rp, segundo: onde α é o coeficiente de variação relativa de Isc com a temperatura e β é o coeficiente de variação de Voc com a temperatura para uma célula. Os coeficientes de temperatura dependem principalmente do material e não tanto do método de fabricação, resultando em pequena variação entre distintos módulos. ocsc mpmp VI VI m 3.28.2 −= (4.11) ( )[ ]KT mW GII c s scSC 29811000 2 −+= − α (4.12) ( ) +++= −21000ln298 mW GVKTNVV tcs s ococ β (4.13) 5. CURVA CARACTERÍSTICA I-V A ABNT (NBR10899/TB-328) define a curva característica tensão versus corrente como a “representação dos valores da corrente de saída de um conversor fotovoltaico, em função da tensão, para condições preestabelecidas de temperatura e radiação”. A análise da curva I-V é de fundamental importância na caracterização de um gerador fotovoltaico, pois a partir dela é possível obter os principais parâmetros que determinam sua qualidade e desempenho. A curva I-V de uma célula solar é a resultante da superposição da corrente fotogerada com a curva do diodo no escuro. Aluz tem o efeito de deslocar a curva I-V para o quarto quadrante (quadrante de geração). A Figura 5.1 representa as curvas de uma célula fotovoltaica sob diversas condições de iluminação, sendo que a curva (d) mostra a curva I-V sob a forma mais comumente encontrada, rebatida sobre o eixo das tensões. Uma boa célula de silício cristalino apresenta, partindo do curto-circuito, uma corrente quase constante, decrescendo levemente com o aumento da tensão até chegar a um joelho, a partir do qual assume um comportamento de rápida diminuição, até cortar quase verticalmente o eixo das tensões. A potência fotogerada, obtida multiplicando-se a corrente pela tensão ponto a ponto, apresenta um máximo nitidamente localizado próximo ao joelho da curva I-V. A Figura 5.2 apresenta a curva de uma célula fotovoltaica, identificando três pontos notáveis: • Corrente de curto-circuito ISC: corrente que circula por uma célula iluminada quando a tensão em seus terminais é nula. • Tensão de circuito aberto VOC: tensão entre os terminais uma célula iluminada quando a corrente que circula por ela é nula. • Ponto de máxima potência PM: ponto da curva I-V para o qual o produto tensão x corrente é máximo. Figura 5.1 - Uma célula fotovoltaica sob diversas condições de iluminação: (a) no escuro a célula tem as mesmas características elétricas de um diodo. (b) quando a célula é iluminada, sua curva I-V se desloca para o 4º quadrante. (c) quanto maior a intensidade da radiação, maior é o deslocamento da curva. (d) a curva é, por convenção rebatida sobre o eixo das tensões, tornando o 1º quadrante o quadrante de geração (adaptado de Honsberg e Bowden, 1999) A tensão de circuito aberto VOC e a corrente de curto-circuito ISC são, respectivamente, as máximas tensão e corrente possíveis de serem obtidas de uma célula fotovoltaica. Entretanto, em ambos os pontos, a potência de saída é zero. O fator de forma (em inglês fill factor= fator de preenchimento) é um parâmetro que, juntamente com VOC e ISC, determina a máxima potência do módulo fotovoltaico. Matematicamente é definido como a razão entre a potência máxima e o produto da corrente de curto-circuito e a tensão de circuito aberto. Graficamente, o fator de forma pode ser definido pela relação entre as áreas A e B da Figura 5.2. 5.1. Efeito da intensidade da radiação solar incidente A Figura 5.3 representa as curvas características de uma célula mantida a temperatura constante sob diferentes condições de iluminação. O que se observa é um aumento na corrente de curto-circuito proporcional à intensidade de radiação solar incidente. A tensão de circuito aberto varia pouco exceto quando os valores da irradiância são muito pequenos, e VOC decresce rapidamente até zero nas condições de escuridão. Figura 5.3 - Curva característica da célula sob diferentes intensidades de radiação Figura 5.2 - Curvas da corrente (em vermelho) e potência (em azul) de uma célula fotovoltaica em função da tensão. Na figura também são destacados os pontos de corrente de curto-circuito ISC, tensão de circuito aberto VOC e máxima potência PM (VMP, IMP) 5.2. Influência da Temperatura na Curva I-V A temperatura é um fator de importante influência na curva característica de um dispositivo fotovoltaico. A corrente elétrica de curto-circuito aumenta ligeiramente com a temperatura, para módulos de silício cristalino, segundo um coeficiente (α) que apresenta valores típicos para o silício de 0,06%°C-1 ou 0,03 mA°C-1 cm-2. O coeficiente da variação da corrente de curto-circuito com a temperatura é definido pela Equação (5.1). Este aumento de corrente é devido a uma diminuição da energia do gap do material, expressa pela Equação (5.2): onde Eg(T) é a energia do gap do material a uma dada temperatura, Eg(0) é uma energia de referência e a e b são constantes do material. A Tabela 5.1 apresenta os valores das constantes a e b e as energias o gap para dois materiais, silício e arsenieto de gálio. Tabela 5.1- Energia do gap para Si e GaAs com os valores das constantes a e b da Equação (5.2) (Lasnier, 1990). Material Eg(0)(eV) a (10-4eV K-1) b (K) Si 1,16 7 1100 GaAs 1,52 5,8 300 A tensão, por sua vez, apresenta uma variação linear com a temperatura. Tipicamente, para módulos de silício monocristalino, a tensão decai de acordo com um coeficiente (β) que apresenta valores da ordem de -2,3 mV/ °C por célula. O coeficiente da variação da tensão de circuito aberto com a temperatura pode ser definido pela Equação (5.3). Esta diminuição da tensão é devida principalmente ao incremento exponencial da corrente de saturação reversa. Essa corrente é fruto dos portadores de carga minoritários criados T I SC ∂ ∂=α (5.1) ( ) ( ) bT aTETE gg +−= 2 0 (5.2) T VOC ∂ ∂=β (5.3) por excitação térmica. A Figura 5.4 apresenta curvas I-V relativas à mesma irradiância, mas em diferentes temperaturas . Figura 5.4- Curvas características de uma célula para diversas temperaturas Figura 5.5 - Variação de ISC e de VOC com a temperatura 5.3. Efeitos da resistência série e paralela Como foi visto na representação da célula por seu circuito equivalente, devem ser incluídos elementos resistivos em série e em paralelo. A resistência em paralelo é originada por fugas na superfície das bordas da célula, microdefeitos do cristal que possam ocasionar curto- circuitos, etc. O ideal seria que RP tivesse um valor muito elevado, tendendo a infinito. As boas células de Si monocristalino permitem, com a atual tecnologia de fabricação, que se possa desprezar este efeito. A resistência em série é devida à resistência do próprio semicondutor dopado, mais a resistência da grade metalizada e dos contatos necessários para que a corrente flua. O ideal seria que RS fosse igual a zero, porém o aumento da área de metalização na superfície frontal de uma célula reduziria na mesma proporção a penetração de luz, sendo necessário um estudo de otimização no projeto destas grades. A Figura 5.6 exemplifica os efeitos que diferentes valores de RS e RP causam sobre as curvas. (a) (b) Figura 5.6 - Efeito de Rs (a) e Rp (b) sobre a curva característica 5.4. Condições padrão para ensaios de módulos fotovoltaicos A norma ASTM E-1036 Standard Methods of Testing Electrical Performance of Nonconcentrator Terrestrial Photovoltaic Modules and Arrays Using Reference Cells define como condições padrão de teste, para de irradiância e temperatura das células do módulo respectivamente, os valores de 1000 W/m2 e 25 °C. Quanto à distribuição espectral as normas ASTM E-891 e E-892 apresentam espectros de referência da irradiância solar terrestre direta normal e global, com massa de ar 1,5 para uma superfície com inclinação de 37 °. A massa de ar pode ser definida como a relação entre o comprimento da trajetória efetivamente percorrida pelos raios solares (radiação direta) na atmosfera até o observador e o comprimento da trajetória que estes percorreriam se o Sol estivesse no zênite, com o observador ao nível do mar. Uma aproximação para o valor da massa de ar, válida somente para ângulos menores que 70 °, pode ser dada pela secante do ângulo de zênite, ângulo compreendido entre as direções do zênite e dos raios solares. A norma IEC 1215 Crystalline Silicon Terrestrial Photovoltaic Modules - Design Qualification and Type Approval também considera os valores de 1000 W/m2 e 25 °C. Normas brasileiras, como NBR11876/EB2176 Módulos Fotovoltaicos e a NBR12137/MB3478 Módulos fotovoltaicos - Ensaios mecânicos e ambientais, adotam os mesmos valores. 6. ASSOCIAÇÃO DE CÉLULAS FOTOVOLTAICAS EM SÉRIEE EM PARALELO Células fotovoltaicas podem ser associadas em série, paralelo ou simultaneamente em série e paralelo. Em todos estes tipos de associações, problemas oriundos da não identicidade das células e do seu funcionamento em situações não desejadas, aparecem e podem ocasionar sérios danos aos componentes da associação. Para minimizar e até mesmo evitar estes danos, em associações que envolvam um grande número de células, faz-se necessário o uso de dispositivos de proteção tais como diodos bypass e de bloqueio, conectados em pontos estratégicos. A seguir, são apresentadas as principais características das diferentes associações de células fotovoltaicas e procedimentos utilizados para a sua proteção. O método utilizado para a associação de células pode ser estendido para associações de módulos fotovoltaicos. 6.1. Associação série de células fotovoltaicas Atualmente, a grande maioria dos módulos fotovoltaicos são montados para operarem com tensão nominal de 12 V. Dependendo do tipo de células que os constituem, apresentam mais ou menos células associadas em série. Entre os tipos de células mais utilizados estão a de silício monocristalino (módulos com 30 a 36 células), silício policristalino (geralmente módulos com 36 células) e silício amorfo (módulos de 27 ou 28 células). Em sistemas fotovoltaicos é freqüente utilizar-se componentes elétricos de consumo que apresentam tensões nominais de 12, 24 ou 48 V. As tensões de 24 V e 48 V são obtidas associando-se em série um maior número de células fotovoltaicas. A Figura 6.1 apresenta o circuito elétrico de N células associadas em série. R Figura 6.1- Associação de células em série Como principais características de uma associação série, tem-se que a corrente que circula por uma célula é a mesma que circula pelas demais células associadas e a tensão, nos extremos da associação, é dada pela soma das tensões de cada célula. 6.2. Associação série de células fotovoltaicas idênticas Sempre que se deseja associar células fotovoltaicas em série, é conveniente que as mesmas apresentem curvas características I-V o mais semelhantes possível. Processos de seleção de células permitem que se tenha lotes com células muito parecidas, as quais podem ser consideradas como idênticas. Supondo que as N células mostradas na Figura 6.1sejam idênticas, tem-se que a tensão de circuito aberto da associação VOCA é igual a N vezes a tensão de circuito aberto VOCCN de uma célula qualquer, visto que todas elas apresentam uma mesma tensão de circuito aberto. Logo, OCCNOCC2OCC1OCA V.....VVV +++= onde VOCA é a tensão de circuito aberto da associação e VOCCN é a tensão de circuito aberto da célula N e sendo V V ...... VOCC1 OCC2 OCCN= = = tem-se que OCCNOCC2SOCC1SOCA VN......VNVNV S ⋅==⋅=⋅= onde Ns é o número de células fotovoltaicas associadas em série. Quando os extremos da associação são conectados entre si, através de um condutor com resistência elétrica nula, tem-se uma situação de curto-circuito, no qual a tensão da associação é nula e a corrente que circula pelas células é denominada de corrente de curto-circuito da associação ISCA. Como as células são idênticas, apresentam mesma corrente de curto-circuito e, portanto, pode-se dizer que I I I ...... ISCA SCC1 SCC2 SCCN= = = = onde ISCA é a corrente de curto-circuito da associação e ISCCN é a corrente de curto-circuito da célula N. Para qualquer outro ponto de operação da associação, diferente dos pontos de circuito aberto e curto-circuito, a tensão da associação, para um determinado valor de corrente, é dada como sendo a soma das tensões de cada célula. Para esta corrente da associação IA, tem-se que V V V ......VA C1 C2 CN= + + onde VA é a tensão da associação e VCN é a tensão da célula N. Na Figura 6.2 são mostradas as curvas características I-V de uma das células fotovoltaicas associadas e a curva da associação das N células idênticas. Figura 6.2 - Curva característica I-V de N células fotovoltaicas idênticas associadas em série. Observa-se que, para qualquer carga que seja conectada nos extremos da associação, todas as células comportam-se como geradores de energia elétrica. O ponto P2 indica o ponto de máxima potência da associação no qual se tem que mpCNmpC2mpC1mpA V......VVV +++= onde VmpA é a tensão do ponto de máxima potência da associação e VmpCN é a tensão do ponto de máxima potência da célula N e sendo mpCNmpC2mpC1 V......VV === tem-se portanto que mpCNSmpC2SmpC1SmpCA VN......VNVNV ⋅==⋅=⋅= e mpCNmpC2mpC1mpA I......III ==== onde ImpA é a corrente do ponto de máxima potência da associação e ImpCN é a corrente do ponto de máxima potência da célula N. 6.3. Associação série de células fotovoltaicas não idênticas Células fotovoltaicas que apresentam curvas características I-V não idênticas, quando associadas em série, podem funcionar em pontos de operação que prejudicam o desempenho de toda a associação. Situações não desejadas, como a de sombreamento de células e curto-circuito da associação podem danificar células e, em determinadas situações, até tirar de funcionamento o sistema de geração de energia elétrica. Considerem-se, para efeito de análise do comportamento de células fotovoltaicas não idênticas associadas em série, duas células idênticas e uma terceira com menor eficiência. Na Figura 6.3 são mostradas as curvas características I-V da célula menos eficiente (1), da curva resultante da associação das duas células idênticas (2) e da associação (3). Figura 6.3 – Curva Característica I-V de células fotovoltaicas não idênticas associadas em série Observa-se que no ponto P1, a associação encontra-se em circuito aberto (IA = 0) com uma tensão VOCA igual a soma das tensões de circuito aberto de cada célula, de tal modo que OCC3OCC2OCC1OCA VVVV ++= À medida que a carga ligada nos extremos da associação aumenta (R tendendo a zero), o seu ponto de operação começa a deslocar-se em direção ao ponto P4. Enquanto a corrente da associação é menor que a corrente de curto-circuito de cada célula associada (região entre os pontos P1 e P3), todas as células comportam-se como geradores de energia elétrica. No ponto P3, a célula de menor eficiência encontra-se em curto-circuito, apresentando tensão nula nos seus terminais e, portanto, não funcionando nem como gerador, nem como carga. Neste ponto, a tensão da associação é dada apenas pela soma das tensões das células idênticas e mais eficientes, que continuam comportando-se como geradores. Quando pela associação circula uma corrente maior que a corrente de curto-circuito da célula menos eficiente (região entre os pontos P3 e P4), esta comporta-se como uma carga para as demais células que ainda apresentam corrente de curto-circuito maior que a corrente da associação. Finalmente, quando a associação opera em curto-circuito (ponto P4), sua tensão é nula e a soma das tensões das duas células mais eficientes é igual, em módulo, a tensão sobre a célula menos eficiente. Para VA = 0 V 0 V V VA C1 C2 C3= = + + tem-se que V V VC2 C3 C1+ = − Isto equivale a dizer que toda a potência gerada pelas células mais eficientes é dissipada na célula menos eficiente. Caso tenha-se uma associação com N células conectadas em série, a potência gerada por (N-1) células pode estar sendo dissipada em uma única célula menos eficiente, sombreada ou danificada, a qual se encontra reversamente polarizada. Tal situação faz com que estas células operem em pontos de temperaturas mais elevadas que as demais células, podendo ocorrer danosparciais ou até mesmo irreversíveis à célula e, conseqüentemente, à associação. 6.4. Associação paralelo de células fotovoltaicas Sistemas fotovoltaicos são projetados para atender às necessidades de tensão e corrente elétricas de uma determinada carga. À medida que esta carga vai aumentando, é exigida do sistema uma corrente elétrica de maior intensidade. Para suprir esta necessidade de corrente, muitas vezes torna-se necessário associarem-se módulos fotovoltaicos em paralelo, visto que a corrente que cada módulo individualmente pode fornecer ao sistema é da ordem de poucos Ampères. A Figura 6.4 apresenta o circuito elétrico de N células fotovoltaicas, associadas em paralelo, fornecendo energia elétrica para um resistor de resistência elétrica variável. Figura 6.4 - Associação em paralelo de N células fotovoltaicas Entre as principais características de uma associação em paralelo de células fotovoltaicas, tem-se que a corrente da associação é igual à soma das correntes que circulam por cada uma das células associadas e a tensão é a mesma sobre todas as células. 6.5. Associação paralelo de células fotovoltaicas idênticas Suponha-se que as células fotovoltaicas, apresentadas no circuito da Figura 6.4, tenham sido escolhidas dentro de um grande lote de células e que apresentem curvas características I-V muito semelhantes, podendo serem consideradas idênticas. Neste tipo de associação, a corrente de curto-circuito da associação ISCA é igual a N vezes a corrente de curto-circuito de uma qualquer das células, visto que todas células apresentam uma mesma corrente de curto-circuito. Logo, I I I ...... ISCA SCC1 SCC2 SCCN= + + + e sendo I I ...... ISCC1 SCC2 SCCN= = = tem-se que SCCNPSCC2PSCC1PSCA IN......ININI ⋅==⋅=⋅= onde NP é o número de células fotovoltaicas associadas em paralelo. Quando nos extremos da associação não é ligada nenhuma carga (R tendendo ao infinito), situação de circuito aberto, a corrente da associação é nula e a tensão é igual à tensão de circuito aberto de uma célula qualquer. Portanto, para IA = 0 e, sendo V V ...... VOCC1 OCC2 OCCN= = = tem-se que OCCNOCC2OCC1OCA V.....VVV ==== Para qualquer outro ponto de operação da associação, diferente dos pontos das situações de circuito aberto e curto-circuito, a corrente fornecida pela associação a uma carga qualquer, submetida a uma tensão VA, é dada como sendo a soma das correntes de cada célula. Para VA, tem-se que I I I ...... IA C1 C2 CN= + + + onde IA é a corrente elétrica da associação e ICN á a corrente elétrica da célula N. Na Figura 6.5 são mostradas as curvas características de uma das células fotovoltaicas associadas e a curva da associação das N células idênticas. Figura 6.5 Curva característica I-V de N células fotovoltaicas idênticas associadas em paralelo. Observando a Figura 6.5, verifica-se que, para qualquer carga que seja conectada nos terminais da associação, todas as células comportam-se como geradores de energia elétrica. O ponto P2 da Figura 6.5 indica o ponto de máxima potência da associação no qual tem-se que mpCNmpC2mpC1mpA I......III +++= e sendo mpCNmpC2mpC1 I......II === tem-se portanto que mpCNPmpC2PmpC1PmpA IN......ININI ⋅==⋅=⋅= e mpCNmpC2mpC1mpA V......VVV ==== 6.6. Associação paralelo de células fotovoltaicas não idênticas Células fotovoltaicas não idênticas, associadas em paralelo, prejudicam a eficiência do sistema fotovoltaico, principalmente quando o mesmo funciona em situações tais como a de circuito aberto ou sombreamento de células. Considere-se, para efeito de análise do comportamento de células fotovoltaicas não idênticas associadas em paralelo, duas células idênticas e uma terceira com menor eficiência associadas. Na Figura 6.6 são mostradas as curvas características I-V da célula menos eficiente (1), da curva da associação paralelo das duas células idênticas (2) e a da associação paralela de todas as células (3). P1( 3 ) ( 2 ) ( 1 ) P2 P3 P4 I V R Figura 6.6 - Curva característica I-V de células fotovoltaicas não idênticas associadas em paralelo Observa-se que no ponto P1, a associação e as células encontram-se em curto-circuito (VA=0). A corrente de curto-circuito da associação é igual à soma das correntes de curto-circuito de cada célula, de tal modo que I I I ISCA SCC1 SCC2 SCC3= + + À medida que a carga ligada nos extremos da associação vai diminuindo (R tendendo a infinito), o seu ponto de operação começa a deslocar-se em direção ao ponto P4. Enquanto a tensão da associação é menor que a tensão de circuito aberto de cada célula associada (região entre os pontos P1 e P3), todas as células comportam-se como geradores de energia elétrica. No ponto P3, a célula de menor eficiência encontra-se em circuito aberto, não circulando por ela nenhuma corrente e, portanto, não funcionando nem como gerador, nem como carga. Neste ponto, a corrente da associação é dada apenas pela soma das correntes das células idênticas e mais eficientes, que continuam comportando-se como geradores. Quando a tensão da associação for maior que a tensão de circuito aberto da célula menos eficiente (região entre os pontos P3 e P4), esta comporta-se como carga para as demais células que ainda possuem tensão de circuito aberto maior que a tensão da associação. Finalmente, quando a associação opera em circuito aberto (ponto P4), sua corrente é nula e a soma das correntes das duas células mais eficientes é igual, em módulo, à corrente que circula pela célula menos eficiente. Logo, para IA = 0, tem-se que I 0 I I IA C1 C2 C3= = + + Portanto I I IC2 C3 C1+ = − Isto equivale a dizer que toda a potência gerada pelas células mais eficientes é dissipada na célula menos eficiente. Os mesmos problemas de aquecimento e, conseqüentes danos as células, observados em associações série, acontecem também em associações paralelo de células fotovoltaicas. Caso tenha-se uma associação com N células conectadas em paralelo, a potência gerada por (N-1) células pode ser dissipada em uma única célula menos eficiente, sombreada ou danificada. 7. PROTEÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS COM DIODOS Quando se trabalha com sistemas fotovoltaicos de potências elevadas, faz-se necessário associar módulos em série e em paralelo a fim de se conseguir valores de tensão e corrente apropriados para a aplicação que se deseja. As diferenças entre as características elétricas e possíveis sombreamentos de módulos podem ocasionar danos ao sistema devido ao aquecimento indevido de células. Para evitar os problemas advindos destas situações indesejadas mas que ocorrem ao longo da vida útil do sistema, deve-se acrescentar ao sistema dispositivos de proteção, geralmente diodos, que são colocados em pontos estratégicos com o objetivo de evitar o aparecimento de pontos quentes nos módulos com conseqüente perdas de potência. Diodos de bloqueio são utilizados para este fim podendo, em determinados casos, serem substituídos por fusíveis, conforme sugerido por Wiles e King, 1997. 7.1. Diodo de bypass Em associações série de células fotovoltaicas (módulos), as mesmas estão sujeitas a funcionarem como carga para as demais células. Neste caso, corre-se o risco de se ter uma tensão negativa aplicada nos seus extremos que seja maior que a sua tensão de ruptura (breakdown), ocasionando uma dissipação de potência exagerada sobre ela e, por conseqüência, provocando um aquecimento que pode causar danos à célula. Esta situação ocorre devido à não identicidade ou por sombreamentode células. Conectando-se em anti-paralelo com os extremos das células um diodo conhecido como diodo de bypass, nestas situações, o mesmo encontra-se diretamente polarizado e, portanto, permitindo que por ele circule corrente. Assim sendo, a célula em questão não gera energia elétrica, mas também não se comporta como carga para as demais células. Se a célula for idêntica às demais e não estiver sombreada, o diodo bypass encontra-se reversamente polarizado, não permitindo que por ele circule corrente. Este diodo bypass deve ser capaz de conduzir toda a corrente gerada pela associação série e sua tensão limiar de condução deve ser a menor possível. Na prática, não se colocam diodos bypass em paralelo com cada célula associada, mas sim com grupos delas. A Figura 7.1 mostra como são ligados os diodos bypass em módulos fotovoltaicos (associações de N células em série) disponíveis no mercado. Figura 7.1- Ligações de diodos bypass em módulos fotovoltaicos Em módulos fotovoltaicos com diodos bypass ligados de forma entrelaçada, se tem disponível apenas um valor de tensão nominal para o módulo, por exemplo 12 V, e nos outros módulos dois valores de tensão (6 V e 12 V). 7.2. Diodo de bloqueio Sistemas fotovoltaicos constituídos por vários ramos em paralelo, ramos estes constituídos por N módulos associados em série, podem ser protegidos contra correntes reversas dos outros ramos através de diodos de bloqueio conectados em série em cada um dos ramos. Essa corrente reversa é causada pela diferença de tensão dos ramos devido às situações indesejadas já citadas anteriormente. O ramo que apresenta uma menor tensão fica sujeito a funcionar como carga para os demais ramos. Desta forma, parte ou toda a corrente gerada pelos ramos que apresentam maior tensão fluirá pelo ramo de menor tensão, ocasionando um aquecimento neste último ramo e perda de potência do sistema. O uso de diodos de bloqueio ligados em série com os módulos de cada ramo, conforme é mostrado na Figura 7.2, evita o aparecimento de correntes reversas. Figura 7.2 - Associação em paralelo de módulos fotovoltaicos com diodos de bloqueio Os diodos de bloqueio ocasionam uma queda de tensão menor que 1 V (valor este que depende do tipo de diodo utilizado), o que pode ser importante em sistemas de menor porte. Para reduzir significativamente esta queda de tensão, pode-se substituir o diodo de bloqueio por fusíveis. Com o fusível, as células do módulo do ramo de menor tensão não correm o risco de serem danificadas mas não se evita a perda de potência do sistema visto que por este ramo circulará uma corrente reversa. Quando a energia elétrica do sistema fotovoltaico é armazenada em baterias, pode-se utilizar um diodo de bloqueio com o seu cátodo ligado no terminal positivo do banco de baterias, com o objetivo de não permitir a sua descarga em períodos de escuridão ou de baixa radiação solar (células fotovoltaicas comportando-se como diodos polarizados diretamente). O inconveniente desta solução é que se tem, nos períodos em que o sistema está gerando energia elétrica, uma perda de potência que é dissipada no próprio diodo de bloqueio. Além disto, a aplicação do diodo também é questionada, pois a queda de tensão que ele provoca durante o dia proporciona uma perda de energia que pode ser, em determinados casos, maior que a perda de energia durante a noite sem a sua presença. Com o objetivo de minimizar estas perdas, podem-se utilizar diodos do tipo Schottky, os quais apresentam uma queda de tensão, quando polarizados diretamente, na ordem de 0,2 V. Em sistemas que operam com tensões superiores a 24 V, torna-se necessário utilizar diodos de junção P-N que suportam tensões reversas maiores, embora provoquem uma perda de potência maior, pois a queda de tensão quando em polarização direta é na ordem de 0,7 V (diodos de silício). 7.3. Ligação de diodos de proteção em sistemas fotovoltaicos A proteção de módulos fotovoltaicos que compõem um sistema faz-se preferencialmente com o uso de diodos de bypass e de bloqueio, evitando assim o aparecimento de pontos excessivamente quentes nos módulos, o que poderia vir a prejudicar o funcionamento do sistema. Quando se tem módulos associados em série, a proteção é feita colocando-se em anti- paralelo com cada módulo um diodo de bypass. Para módulos (ou fileiras de módulos) associados em paralelo, liga-se em série com cada módulo (ou fileira) um diodo de bloqueio. Em sistemas que utilizam um número maior de módulos, tendo-se associações em série e em paralelo, a proteção dos módulos é conseguida utilizando-se, simultaneamente, os diodos de bypass e de bloqueio. A Figura 7.3 mostra como devem ser ligados os diodos de proteção em um sistema composto por módulos ligados em série-paralelo. Figura 7.3 – Associação em série-paralelo de módulos fotovoltaicos com diodos de proteção. 8. BATERIAS OU ACUMULADORES A função destes elementos nos sistemas fotovoltaicos é armazenar a energia produzida pelo gerador fotovoltaico e entregá-la à carga quando a geração seja nula como à noite, ou insuficiente como em períodos de baixa irradiância. As baterias podem estar formadas por uma única célula ou vaso, ou por um grupo delas, conectados em série ou em paralelo, constituindo assim um sistema de armazenamento eletroquímico completo. 8.1. Classificação das Baterias Segundo o tipo de célula que compõe uma bateria, esta pode ser classificada como recarregável ou não recarregável. As baterias não-recarregáveis podem ser usadas uma única vez. Estão compostas de células denominadas primárias que uma vez descarregadas ficam inutilizadas. Usam-se comumente como fontes de energia de baixa potência, para relógios, calculadoras, etc. As baterias recarregáveis, compostas por células conhecidas como secundárias, podem ser carregadas e reutilizadas várias vezes, e servem para aplicações de longos períodos de tempo. Nos sistemas fotovoltaicos, as baterias de acumulação funcionam continuamente em ciclos de carga e descarga como resultado da superposição do efeito produzido pela energia diária fornecida pelo gerador fotovoltaico e a requerida pelo consumo. Segundo sua aplicação, estas baterias podem classificar se como: • Automotivas ou “de partida”: são baterias desenhadas para descargas velozes, com altas taxas de correntes e baixas profundidades de descarga, condições comuns para partida de motores de automóveis. • Tração: indicadas para o funcionamento de aparelhos móveis elétricos, são projetadas para operar em regime de ciclos diários profundos com taxa de descarga moderada. • Estacionárias: projetadas para ocasiões em que se trabalha com ciclos lentos de carga / descarga. Por exemplo, sistemas de backup. • Fotovoltaicas: são aquelas pensadas para ciclos diários com taxas de descarga reduzidas e que devem suportar descargas profundas esporádicas devido a uma possível falta de geração (condições climáticas). Segundo sua forma de confinamento do eletrólito, podem ser: • Abertas, precisam de uma verificação periódica do nível do eletrólito. O eletrólito é liquido e não está encerrado no separador, motivo pelo qual devem ficar em posição vertical. • Seladas, nas quais o eletrólito está confinado no separador ou tem consistência de gel. Chamam-se também de “sem manutenção”, porque não precisam da adição de água. As formas de avaliação das baterias recarregáveis são: densidade de energia, volumétrica ou por peso; eficiência, vida cíclica, taxa de autodescarga, reciclabilidade dos materiais e custo, termos que serão tratados adiante. A seguir, é dado um enfoque específico aos acumuladores eletroquímicos de chumbo-ácido(Pb-ácido), por serem estes os mais usualmente utilizados em sistemas fotovoltaicos autônomos devido a seu baixo custo e disponibilidade no mercado. 8.2. Processos eletroquímicos nos acumuladores Os acumuladores são compostos por um ou mais elementos denominados células eletroquímicas. A célula ou vaso é a unidade básica de uma bateria (Figura 8.1), a qual é formada por um recipiente onde se encontram dois eletrodos imersos numa solução eletrolítica, conhecidos como materiais ativos, os que se encarregam da transformação da energia química em elétrica ou ao inverso segundo estejam em estado de carga ou descarga, produzindo-se reações químicas reversíveis. Um dos eletrodos é o pólo positivo (ânodo) que é formado de dióxido de chumbo e o outro é de chumbo poroso puro sendo o pólo negativo (cátodo). Ambos estão imersos numa solução de ácido sulfúrico dissolvido em água a 37% (eletrólito), a qual permite a condução dos elétrons. No processo de descarga, as reações químicas entre o material dos eletrodos e do eletrólito geram eletricidade, enquanto que no processo de carga, a reação se dá consumindo energia. As reações químicas que ocorrem no interior deste tipo de acumuladores são as seguintes: no ânodo no cátodo resultando como reação global Durante o processo de carga, uma corrente elétrica entra na bateria pelo ânodo, formando óxido de chumbo (PbO2) no ânodo e chumbo puro (Pb) no cátodo. Neste processo, ácido sulfúrico (H2SO4) é liberado na solução aquosa (eletrólito), aumentando sua densidade. Já na descarga, a corrente elétrica sai pelo ânodo, formando sulfato de chumbo (PbSO4) nos dois eletrodos absorvendo o ácido sulfúrico do eletrólito, com uma correspondente diminuição da densidade deste último. Assim, é possível determinar o estado da carga de uma bateria de forma bastante simples, medindo a densidade do eletrólito, ou a tensão em seus pólos. Na prática, para as baterias carregadas, a densidade do eletrólito varia entre 1,20 e 1,28 g/cm3, os quais correspondem respectivamente a valores, em estado de repouso, entre 2,04 e 2,12 V por célula. Figura 8.1 - Corte de uma bateria automotiva (EPSEA, 2004) 8.3. Características dos Acumuladores Com respeito às baterias em geral, existe uma série de termos a conhecer que fornecem a informação de suas principais características. Autodescarga: define o processo no qual as baterias descarregam gradual e espontaneamente, quando não estão em uso. As baterias de chumbo-ácido têm uma alta taxa de autodescarga mensal, de 5 a 30% de sua capacidade, dependendo da temperatura e composição da célula, e assim deve-se evitar que as baterias fiquem em repouso por tempos prolongados. Recipiente Figura 8.2 - Autodescarga das baterias (Pb-ácido) em função do tempo inoperante (Araújo et ali, 1985). A palavra capacidade define a quantidade de energia que a bateria pode entregar durante uma descarga completa, em Ampères-hora. A capacidade é influenciada pela velocidade de carga e descarga e pela temperatura de operação da bateria. Quanto maior a intensidade de corrente de descarga, menor é o valor da capacidade da bateria e com menores intensidades de descarga aumenta a capacidade. Temperaturas baixas reduzem a capacidade e o aumento da temperatura traz um incremento da capacidade, mas com este incremento de temperatura vem associada uma perda de água e diminuição da vida útil. Figura 8.3 - Variação da capacidade da bateria com a corrente de descarga , e com variação de temperatura, (Oliveira, 1997). A capacidade Nominal é o valor da capacidade em Ah, dado pelo fabricante em condições de operação especificadas. O Estado de Carga (EC) é definido como a capacidade disponível de carga na bateria, sendo apresentado como uma porcentagem da capacidade nominal. O regime de carga / descarga (Cn) representa a corrente fornecida à bateria para restabelecer a capacidade máxima em um determinado tempo, ou extraída da mesma a partir da plena carga para esgotar a capacidade em um determinado tempo. É um valor normalizado para a capacidade da bateria, e sua expressão é dada pela relação entre a Capacidade Nominal e o Tempo de Descarga. Este regime poderia ser expresso em ampères, mas o mais normal é expressar o regime em forma normalizada com a capacidade, ou seja, para n horas de descarga se representara como Cn. Por exemplo, se uma descarga completa de uma bateria de 100 Ah, com uma corrente de 20 A, dura 5 horas, então indica um regime de C5. Descarga é o processo de extrair a corrente de uma bateria através da conversão de energia eletroquímica em energia elétrica. O processo de descarga a corrente constante pode dividir-se em 3 zonas das curvas da Figura 8.4, uma queda brusca da tensão inicialmente, logo se estabilizando e diminuindo quase linearmente com o tempo e finalmente uma fase em que a tensão cai rapidamente até um valor que indique que a descarga finalmente chegou ao fim. Para sistemas fotovoltaicos, geralmente trabalha-se com regimes baixos de corrente, que correspondem a descargas por mais de 100 horas (C 100). Figura 8.4 - Curvas de descarga e carga para uma bateria de 12 Volts a 25ºC (Couto, 1996). A taxa de descarga/carga é o valor de corrente durante o processo de descarga/carga da bateria. Por Carga entende-se a conversão de energia elétrica em potencial eletroquímico na célula. Os métodos de carga para aplicações fotovoltaicas são de difícil controle devido à variação de irradiância solar, mas geralmente os métodos utilizados em laboratório são a corrente constante , variando o valor da tensão, ou a tensão constante, variando a corrente. No processo de carga a corrente constante pode ser dividida em 3 partes fácies de perceber nas curvas da Figura 8.4 um aumento brusco da tensão inicialmente, logo se estabilizado e aumentando quase linearmente com o tempo e por último uma fase em que a tensão aumenta rapidamente até um valor constante. Esta última fase se conhece com o nome de sobrecarga aonde se produz una gaseificação devido a que parte da corrente é empregada para a decomposição e liberação de gases (Oxigeno e Hidrogênio) e, por conseguinte, ocorre perda de água e elevação de temperatura. A Profundidade de descarga indica a porcentagem da capacidade nominal da bateria que foi retirada a partir do estado de plena carga. É o valor que complementa o estado de carga. A Tensão de corte corresponde ao valor de tensão no qual a descarga da bateria é interrompida. Pode ser função do regime de operação, ou pode ter um valor determinado pelos fabricantes como tensão de final de descarga, que indica o momento em que danos irreversíveis podem ser causados à bateria. Na Figura 8.4 se verifica que o critério de escolha da tensão de corte corresponde ao “joelho” da curva tensão-tempo e quanto mais rápida a descarga, menor a tensão de corte. Para sistemas fotovoltaicos dotados de acumuladores de Pb-ácido, costuma-se utilizar para a tensão de corte o valor de 1,9 Volts/elemento. Chama-se Ciclo à seqüência de carga-descarga de uma bateria até uma determinada profundidade. Figura 8.5. Números de ciclos de uma bateria para diferentes profundidades de descarga (Lounineau, 1994). A Vida útil é o período de tempo no qual uma bateria opera normalmente sob determinadas condições, mantendo a capacidade e o rendimento. Nas baterias de chumbo-ácido, costuma-se assumir o fim da vida como o momento em que, estando totalmente carregada, pode fornecer somente 80% de sua capacidade nominal (Oliveira, 1997). A perda da capacidade tem a ver com a idade (o envelhecimento se relaciona com a temperatura de operaçãoe com a temperatura e a forma de armazenamento) e com a ciclagem da bateria. A Eficiência pode ser expressa de duas maneiras diferentes, a eficiência faradaica ou eficiência energética. A primeira é a relação entre a quantidade de Ah retirada de uma bateria durante a descarga e quantidade necessária de Ah para restaurar o estado de carga inicial. Calcula-se como a razão entre a integral da corrente ao longo do tempo de descarga e carga. O valor é da ordem de 90 – 95 %. Por eficiência energética entende-se a relação entre a energia retirada da bateria durante o processo de descarga e a energia necessária para restaurar o estado de carga inicial. O valor é da ordem de 75 – 80 % (Linden, D., 1995). 8.4. Modelagem das baterias A modelagem das baterias envolve diferentes parâmetros como a capacidade, evolução de estado de carga e tensão nos terminais em função do regime de corrente e temperatura, etc. O texto abordado a seguir se refere exclusivamente a baterias de chumbo-ácido. Encontram-se modelos matemáticos baseados no comportamento interno das baterias, estudando a composição dos materiais ativos e sua microestrutura, os quais resultam em modelos muito complexos. Outros tipos de modelos podem ser chamados de "externos" ou "de simulação" que além de serem mais simples, seus métodos são de fácil implementação em computadores. Tais modelos apresentam parâmetros gerais comuns a diferentes baterias, particularizando-se o comportamento de uma determinada bateria a partir do valor da capacidade nominal. O modelo elétrico da bateria utilizado nesta dissertação está composto por uma fonte de tensão ideal (Vi) e uma resistência interna. A resistência interna (Ri) que possui a bateria tem um comportamento dinâmico ao longo dos processos de carga e descarga, assim a tensão de trabalho medida nos bornes da bateria tem um comportamento influenciado pelo sentido da corrente da bateria. Figura 8.6. Circuito elétrico equivalente de uma bateria Quando a bateria se encontra em repouso, isto é, em circuito aberto, ela tem uma tensão diferente à de carga ou de descarga. Vários autores fizeram diferentes ensaios mostrando que, durante interrupções da carga e da descarga a tensão do circuito aberto (VCA) tem uma variação linear com o estado de carga, sendo que se pode relacionar o valor do estado de carga com a tensão de repouso como se mostra na Figura 8.7 (Wagner, 1991). 11.00 11.25 11.50 11.75 12.00 12.25 12.50 12.75 13.00 13.25 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Estado de Carga (%) T en sã o de C ir cu ito A be rt o (V ) Figura 8.7. Relação entre o valor do estado de carga e a tensão de circuito aberto para uma bateria de 12 volts (Wagner, 1991). A tensão de trabalho da bateria tem um comportamento diferente, dependendo se ela está em regime de carga ou de descarga e da taxa de corrente. Durante a carga tem-se: Vi aciCAmed IRVV arg+= (8.1) sendo a corrente de carga da bateria consgeradaac III −=arg (8.2) Para a descarga adesciCAmed IRVV arg−= (8.3) sendo a corrente de descarga da bateria geradaconsadesc III −=arg (8.4) Analisando as equações anteriores pode-se obter uma equação para o processo de carga e descarga, onde a tensão segue a seguinte expressão: ( )med CA i gerada consV V R I I= + ⋅ − (8.5) Dado que Ri não é concentrada nem constante ao longo do tempo, a equação (8.5) não é representativa do que em realidade acontece em uma bateria e, sendo assim, tem apenas um valor didático. Para a obtenção da tensão de trabalho das baterias aplicou-se o modelo proposto por Macomber (conforme citado em Wagner, 1991) que desenvolveu duas expressões que consideram a variação da resistência interna de um elemento de bateria com o estado de carga. Nos processos de descarga a expressão proposta é: +−= iVadescCAmed RECNC I VV % 9,18arg (8.6) A constante 18,9 considera o aumento da resistência interna devido à formação de sulfato de chumbo em ambas as placas. C é a capacidade total da bateria e %EC (varia entre 0 e 100) representa o estado de carga. Ri é a resistência interna dada por: ( ))25(02,0115,0 −−= TNR Vi (8.7) sendo T a temperatura do lugar onde se encontra a bateria, e NV o número de vasos da bateria. Durante a carga a expressão proposta é a seguinte: +−+= iV ac CAmed REC N C I VV %2.114 9,18arg (8.8) Macomber propõe um valor constante de VCA, mas e mais conveniente fazer este valor variar em função do estado de carga, como se apresentou na Figura 8.7. Para baterias de diferentes tensões o valor de VCA se pode tomar como base os valores da Figura 8.7 para 6 vasos, e fazer a relação para um número de vasos diferentes. Substituindo os valores de Idescarga e Icarga das equações (8.2) e (8.4) nas equações (8.6) e (8.8), obtem-se que para carga: +− −+= iVconsumidageradaCAmed RECNC II VV %2.114 9,18 (8.9) e para descarga +−−= iVgeradaconsumidaCAmed RECNC II VV % 9,18 (8.10) Para o caso em que a bateria não esteja alimentando nenhuma carga, ou seja que esteja em circuito aberto, a tensão de trabalho será igual a de repouso. CAmed VV = (8.11) Este modelo é linear e assim não reflete o que acontece no começo da carga ou descarga da bateria, o que para um modelo em base horária não tem um efeito considerável, tendo em vista que a variação acentuada, nestes eventos, acontece em tempos bem menores que uma hora. Também não se leva em conta o estado de sobrecarga. Dados obtidos da aplicação deste modelo, para uma simulação anual que não apresenta falhas, são apresentados na Figura 8.8, com as correspondentes energias consumidas , geradas e cortes pelo uso de controlador de carga. 10 10.5 11 11.5 12 12.5 13 13.5 14 14.5 15 1 48 95 142 189 236 283 330 377 424 471 518 565 612 659 706 Horas Te ns ão (V ) -10 10 30 50 70 90 110 130 150 170 190 210 230 250 Po te nc ia (W e W /m ²) Tensão da bateria Consumo Energia dos panéis Figura 8.8. Tensão obtida pelo modelo de Macomber nos terminais da bateria para o mês de junho na cidade de Porto Alegre, para uma carga diária constante de 775 Wh/dia. Este modelo possui sua fácil implementação computacional e bom comportamento no acompanhamento da curva de carga e descarga da bateria. Outro modelo utilizado para simular o comportamento das baterias de chumbo-ácido é o modelo apresentado por Copetti et ali (1993), que reúne simplicidade e exatidão suficientes para representar o comportamento de baterias estacionárias com carga e descarga em regimes constantes. Moura (1996), tomando como base o trabalho de Copetti, desenvolveu um modelo com novos parâmetros para baterias automotivas, mas ainda comprovado apenas em regimes de carga e descarga constantes. Uma comparação do comportamento destes modelos é mostrada na Figura 8.9. Figura 8.9 Curvas de descarga (a) e carga (b) com ajuste de modelos para carga normalizada a 25ºC. (Moura, 1996) É importante ter em conta a correção (FC) da capacidade em função da taxa de descarga e temperatura. Na legislação brasileira para baterias automotivas, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, NBR 5376) estipula como capacidade real a capacidade em um regime de descarga de 20 horas (C20) Tendo em conta a o tempo de descarga e a capacidade da bateria dada pelo fabricante para condições diferentes às estipuladas pela norma, pode-se determinar a taxa de descarga (Ii). )( )( hrgadescadeTempo AhCapacidadeI
Compartilhar