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Gramsci - A teoria do Estado ampliado e porque se difere dos clássicos marxistas

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2) Aborde a teoria do Estado Ampliado. Porque a concepção de Gramsci sobre o Estado se difere dos clássicos do marxismo?
Partindo do que foi escrito por Norberto Bobbio, e realçado por Carlos Nelson Coutinho em sua obra Fontes do pensamento político - Gramsci, antes de se construir uma análise a respeito do pensamento político de Gramsci é preciso tomar como ponto de partida o conceito de sociedade civil e de que forma esse conceito se difere do conceito em Marx. Como analisa Coutinho, Gramsci não recusa e muito menos nega o método histórico dialético de Marx, mas enriquece-o em suas determinações e o amplia, num movimento de aceitação plena do método. Isso se explica pois se em Marx a sociedade civil tinha base material com infraestrutura econômica, em Gramsci o conceito se refere a problemática do Estado uma vez que, é a partir do conceito de sociedade civil que o autor supera e enriquece com novas determinações a teoria marxista do Estado. Intrinsecamente, há uma ligação dialética entre a base econômica e a superestrutura, da qual serve como base, e isso vem confirmar a aceitação de Gramsci a respeito do princípio básico do materialismo histórico sob o qual a produção e reprodução da vida material incidem também na produção e reprodução das relações sociais globais tendo, portanto, um caráter de prioridade ontológica. 
Coutinho explica que a forma como Gramsci amplia o conceito de sociedade civil se desencadeia diretamente na teoria do Estado ampliado e na forma com que suas implicações se diferem dos clássicos do marxismo. Nesse sentido, os clássicos (lê-se Marx, Engels e Lênin) contribuíram para o identificação e entendimento do caráter de classe do Estado, para a sua função e para sua estrutura. Com o caráter de classe identificado como sua marca em cada fenômeno estatal é que se tornou possível a dessacralização do Estado e ao mesmo tempo evidenciou que sua gênese se dá graças à divisão da sociedade em classes, tornando sua existência exclusivamente ligada à essa divisão. Quanto ao papel do Estado, está localizado em assegurar que os interesses de uma classe sejam assegurados e se decretem como interesse da maioria e sua função está respaldada na violência e da coerção de que se faz valer para garantir sua natureza de classe. 
Os apontamentos dos clássicos muito têm a ver com o momento histórico político da sociedade em que viviam e com a percepção do aspecto repressivo que se instalava naqueles períodos. Eram tempos de dificuldade de participação política] onde o proletariado conseguia se organizar de forma clandestina, e a repressão do Estado logo recebia destaque na visão dos clássicos. Já Gramsci trabalha num tempo histórico onde as organizações proletariado saíram da clandestinidade através da formação de partidos de massa, de sindicatos e houve a conquista do sufrágio universal. Surgia então uma nova esfera social que continha leis e funções detentoras de certa autonomia e especificidades, tanto no que diz respeito à economia quanto aos aparelhos repressivos do Estado. 
Marx então, por viver um tempo histórico diferente do vivido por Gramsci, não pôde perceber e entender plenamente as formas com que se estabelecem as relações de poder numa sociedade capitalista desenvolvida, inclusive Gramsci tratará como aparelhos privados de hegemonia, ou sociedade civil, os organismos de participação política voluntários e que não utilizam da repressão. 
Analogamente, ainda conforme Coutinho, a teoria ampliada do Estado se baseia na descoberta desses tais “aparelhos privados de hegemonia” que culminam na distinção feita por Gramsci entre as duas esferas essenciais no interior da superestrutura. Em palavras de Gramsci, 
“Eu amplio muito – diz ele – a noção de intelectual e não me limito à noção corrente, que se refere os grandes- intelectuais. Esse estudo leva também a certas determinações do conceito de Estado, que habitualmente é entendido como sociedade política (ou ditadura, ou aparelho coercitiva para adequar a massa popular a um tipo de produção e à economia de um dado momento); e não como equilíbrio entre política e sociedade civil (ou hegemonia de um grupo social sobre a inteira sociedade nacional exercida através de organizações ditas privadas, como a Igreja, os sindicatos, as escolas, etc.)” (Coutinho apud Gramsci, p 91)
Em suma, o Estado ampliado se fundamenta em duas esferas principais que são: O Estado-coerção, que é formado pelo conjunto de aparatos sob poder da classe dominante, que essa utiliza para fazer valer a sua vontade através da repressão e da violência, dentre os quais estão os aparelhos de coerção controlados pela polícia e pelas burocracias executivas e a sociedade-civil, formada por organizações desenvolvedoras e difusoras das ideologias, onde estão inseridas instituições como as escolas, as Igrejas, os sindicatos, os partidos políticos e as organizações de vertente cultural como revistas e jornais. 
Coutinho ainda ressalta que o autor trata essas duas esferas de forma quase autônoma, pelo fato de possuírem duas diferenças principais, a saber que a primeira delas é que é o Estado-coerção que recebeu a atenção dos clássicos, enquanto Gramsci tem suas principais descobertas evidenciadas na sociedade civil. E em segundo lugar, o fato de ambas esferas se distinguirem devido à sua materialidade social própria que possuem. Ou seja, enquanto a sociedade política tem ao seu favor os aparelhos repressivos do Estado, a sociedade civil, ou os “aparelhos privados de hegemonia” em termos gramscinianos, são organizações sociais coletivos comunitários e de certa autonomia perante a política da época, conforme Coutinho quando esclarece que
“A necessidade de conquistar o consenso ativo e organizado como base para dominação - uma necessidade gerada pela ampliação da socialização da política -, criou e/ou renovou determinadas objetivações sociais, que passam a funcionar como portadores materiais (com estrutura e legalidade próprias) das relações sociais de hegemonia. E é essa independência material – ao mesmo tempo base e resultado da autonomia relativa assumida agora pela figura social da hegemonia - que funda ontologicamente a sociedade civil como uma esfera própria, dotada de legalidade própria e que funciona como mediação necessária entre a estrutura econômica e o Estado-coerção.” (COUTINHO,1981, p. 92-93)
Ao passo que em Marx não há não há relações sociais sem a esfera da produção material da vida, em Gramsci não há direção política, ideológica e nem hegemonia se não existirem as organizações materiais que integram a sociedade civil enquanto parte complementar do ser social, pontua Coutinho. 
Referência Bibliográfica: COUTINHO, C.N. Fontes de Pensamento Político - Gramsci. (Texto-base usado na disciplina)

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