Buscar

Estudo Dirigido sobre Direitos Humanos e documentário do Ônibus 174

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR
CURSO DE PSICOLOGIA
RAQUEL CARVALHO LISBOA RA: 00169442
ESTUDO DIRIGIDO
UMUARAMA – PR
2018
	Para abordar o tema Direitos Humanos é fundamental compreender quem são os sujeitos de direitos, o que são direitos e quem são os humanos. Segundo Pequeno (2007), a noção de sujeito advém dos estudos da filosofia moderna, principalmente com os conceituais teóricos esboçados por René Descartes, uma vez que o sujeito intelectual é contemplado por razão e consciência (de si mesmo e do mundo exterior). Além disso, foi-lhe sendo atribuídos “percepções, sentimentos e emoções” (PEQUENO, 2007, p. 188), onde o eu direciona a forma de perceber, sentir, intuir, decidir, escolher e imaginar tudo o que atravessa sua existência.
Entretanto, a medida que o eu existe há uma correlação com o outro, que também existe no mundo. Com isso, ressignifica-se a noção do eu, agora com obrigações e responsabilidades diante do outro, ou seja, “a idéia de sujeito passa a também revelar uma realidade psicológica, existencial, moral e política” (PEQUENO, 2007, p. 190), constituindo uma civilização. Dessa forma, entre características individuais e convivência social, emerge-se a concepção de que todos os sujeitos têm condições de se beneficiarem de direitos, os quais podem ser “direitos inalienáveis (a liberdade, a propriedade, a segurança)” ou “estar ligada à teoria do Estado ou da política (o direito enquanto ordenamento jurídico)” (PEQUENO, 2007, p. 191).
Para o autor supracitado, os positivistas defendem a ideia de que somente através da leis e normas instituídas que os sujeitos podem garantir seus direitos, sendo estes efetivados pelo Estado. Embora o direito pretenda resguardar os sujeitos em condições de vulnerabilidade em detrimento dos que detém o poder, o simples fato do ser humano ter direitos lhe confere uma soberania sobre os outros seres existentes no mundo. Contudo, mesmo com tais discrepâncias, o emergir do ser de direitos confere um importante passo da modernidade (PEQUENO, 2007).
Ainda, os direitos com “este valor incondicional, incomensurável e inalienável, torna os homens idênticos em suas diferenças contingentes e iguais em suas desigualdades circunstanciais” (PEQUENO, 2007, p. 194). Assim, pensa-se nos humanos como seres iguais, não somente em espécie, mas também iguais na preservação de sua dignidade humana. Tal ideia alinhava o conceito de autonomia do sujeito moral, tornando-o capaz de dirigir a si mesmo, sem desviar-se das leis que constituem o mundo compartilhado por outros. 
Além disso, o mundo moral não seria constituído sem a emoção, haja visto que:
Os indivíduos muitas vezes se definem moralmente em função do modo como enfrentam ou fogem das situações emocionais. Assim, não é difícil entender porque as emoções - ou a ausência delas - condicionam nosso modo de ser-no-mundo-moral (PEQUENO, 2007, p. 198).
	
Portanto, as emoções direcionam ações e reações humanas diante do cenário que vivem e compartilham sua existência com os outros. Isso significa que emocionar-se é uma forma de dar valor aos atravessamentos experienciados no mundo, tendo a “capacidade de conhecer (cognitiva), julgar (avaliativa) e decidir (desiderativa)” (PEQUENO, 2007, p. 198), configurando uma intensa rede de interações humanas.
De acordo com Carbonari (2007, p. 169) a ideia de ser sujeito esboçada pela filosofia moderna, está mergulhada em um período de crise. Isso porque direciona para “a possibilidade de construção de uma nova subjetividade.” Violar os direitos humanos significa produzir vítimas, visto que nega sua humanidade e consequentemente sua dignidade enquanto humano. Tais violações deflagram os mais diversos fatores que permeiam a existência do sujeito, inclusive suas identidades sociais, culturais e políticas. Dessa forma, evidencia-se um indivíduo passivo diante das violências que lhe são aferidas.
Atualmente, o sujeito tem sido construído a partir das individualidades, tornando as vidas independentes e cada vez mais distantes das interações e atravessamentos sociais, compartilhadas com as demais subjetividades. O indivíduo se vê cada vez mais responsável por si mesmo e pelas suas próprias ações, negligenciando o outro, vivendo apenas para si. Ainda, é notório que a ciência fundamenta os princípios racionais, adquirindo um caráter de única verdade aceita no mundo, tendo como base “o solipsimo metódico – herança moderna da filosofia da consciência, centrada na subjetividade como componente metódico fundamental para o estabelecimento do conhecimento” (CARBONARI, 2007, p. 171).
A evidência de uma era moderna, individual, egoísta, tecnológica, efêmera e racional, aponta para uma fragmentação do sujeito de direitos humanos que se encontra em situações de vulnerabilidade, sentindo na pele a pobreza de afetos, proteção e garantia de vida (CARBONARI, 2007). Relacionando as elucidações supracitadas com o documentário do Ônibus 174 assistido em sala de aula, nota-se que os direitos de Sandro foram violentados durante toda sua vida. Sua história foi concebida nos alicerces da dor e do sofrimento. Seus olhos viram a morte da mãe, seu corpo vivenciou a infância nos espaços da rua e grande parte da vida em prisões, nas quais, há um desprezo total da humanidade. Passou por lugares sujos, frios, estreitos, desumanos. Onde estavam seus direitos? Onde estavam seus sentimentos diante de todas as nuances da vida? Onde estavam seus sonhos, desejos, possibilidades de ser e fazer diferente? Estavam pairando sobre a invisibilidade.
Não e difícil encontrar os inúmeros fatores que levam alguns sujeitos a se tornarem invisíveis. Sabe-se muito sobre a contemporaneidade que habitamos, com sua força midiática; com sua falta de estrutura e investimento em escolas, hospitais e moradias; com sua individualidade narcísica; com sua fome pelo capital; com profissionais insensíveis, que evidenciam uma calosidade laboral nos mais diversos espaços de atendimento ao outro; entre muitas outras causas que não são possíveis esgotar neste trabalho. Sandro era invisível, assim como seus direitos também se tornaram invisíveis. Sua entrada naquele ônibus foi a única forma possível de ser visto. Foi um grito de socorro. Foi um apelo para a necessidade de possibilitar vidas em um país. Assim como uma das vítimas do assalto ressaltou: a maior vítima era o Sandro. Ainda existem muitos Sandros.
Ao invés de pensar em construir cadeias, deve-se pensar em construir escolas. Ao invés de julgar os invisíveis, deve-se torná-los visíveis e garantir seus direitos desde a sua concepção, fornecendo subsídios para construir uma vida saudável, ativa e com a possibilidade de realização de sonhos. Carbonari (2007, p. 177, grifo do autor), aponta que deve-se incomodar com essa realidade miserável que vivemos, praticando a alteridade e levando em conta que o sujeito “é uma construção relacional; é intersubjetividade que se constrói na presença do outro e tendo a alteridade como presença.” É imprescindível que haja comprometimento com o outro e com o mundo, visto que os direitos são constituídos nas relações. 
Deste modo, pensa-se no sujeito transcendente ao Direito, mas no sujeito humano com sua liberdade, autonomia, emancipação e cultura que está inserido. Isso porque, de acordo com o autor supracitado, o sujeito é constituído por singularidade, particularidade e universalidade. Ser singular é ser único, ímpar; sua particularidade refere-se à história de vida e às identidades sociais, culturais, políticas, econômicas e culturais; sua universalidade pode ser definida como “o sujeito de direitos é universal na medida em que se reconhece como e reconhece a humanidade que se constrói historicamente alimentando a e alimentando-se da utopia” (CARBONARI, 2007, p. 181, grifo do autor). 
Portanto, a idiossincrasia e a pluridimensionalidade do sujeito devem ser respeitadas e humanizadas em qualquer contexto que se apresente. Sandro foi vítima de um cenário cruel que ainda contempla os dias atuais. Infelizmente existemmuitos Sandros que passam despercebidos cotidianamente. Ou muitos Sandros que são evidenciados pela mídia através de julgamentos e acusações que não transfiguram. A mudança realizada pelo profissional psi deve ser feita gradualmente, nas práxis que atravessam as fissuras e não se rendem aos discursos reiterativos do senso comum, mas que problematizam, provocam, reflitam, desconstruam, resinifiquem, proporcionando ética, respeito e garantia dos direitos a todos os humanos, porque todos, sem exceções, têm direitos aos seus direitos.
REFERÊNCIAS
PEQUENO, M. Sujeito, autonomia e moral. In: SILVEIRA, R. M. G., et al. Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa: Editora Universitária, 2007.
CARBONARI, P. C. Sujeito de Direitos Humanos: questões abertas e em construção. In: SILVEIRA, R. M. G., et al. Educação em Direitos Humanos: fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa: Editora Universitária, 2007.

Continue navegando