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Apostila ECA

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DIREITOS FUNDAMENTAIS
O Direito da Criança e do Adolescente demarcou um campo especial no ordenamento brasileiro. A partir de 1988 crianças e adolescentes são reconhecidos na condição de sujeitos de direitos e não meros objetos de intervenção no mundo adulto.
A proteção integral às crianças e adolescentes está consagrada nos direitos fundamentais inscritos no artigo 227 da Constituição Federal de 1988 e nos artigos 3 e 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990). A promulgação destes direitos fundamentais tem amparo no status de prioridade absoluta dado à criança e ao adolescente, uma vez que estão em peculiar condição de pessoas humanas em desenvolvimento.
Os direitos fundamentais sugerem a ideia de limitação e controle dos abusos do próprio Estado e de suas autoridades constituídas, valendo, por outro lado, como prestações positivas a fim de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana. Esta compreensão incide, igualmente, sobre os direitos fundamentais de criança e adolescente, os quais sustentam um especial sistema de garantias de direitos, sendo a efetivação desta proteção dever da família, da sociedade e do Estado.
Neste viés, torna-se relevante desenvolver um estudo acerca dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, buscando esclarecer em que condutas e iniciativas de proteção está sustentada a cidadania que emana dos direitos fundamentais especiais próprios destas pessoas em desenvolvimento, uma vez que, até para reivindicar direitos é necessário conhecê-los.
A estrutura do trabalho inicia pela proteção à infância e à adolescência prevista na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, descrevendo os principais elementos da Doutrina da Proteção Integral, tendo nos direitos fundamentais especiais a garantia da proteção integral. Na sequência, traça considerações a respeito dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes positivados no artigo 227 da Constituição Federal de 1988, buscando compreender o sentido e a abrangência de cada um destes direitos, evitando que sejam reduzidos a meras disposições.
A metodologia utilizada para a realização do presente estudo foi a pesquisa do tipo teórica, utilizando-se do método dedutivo e da técnica de pesquisa bibliográfica.
2. A Doutrina da Proteção Integral no cenário da infância e adolescência brasileira
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi inovadora ao adotar a Doutrina da Proteção Integral na questão da infância e adolescência no Brasil. A referida doutrina teve seu crescimento primeiramente em âmbito internacional, em convenções e documentos na área da criança, dentre os quais se destaca a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança de 1989, aprovada por unanimidade pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Conforme Liberati (2003, p. 20), a Convenção “representou até agora, dentro do panorama legal internacional, o resumo e a conclusão de toda a legislação garantista de proteção à infância".
A Convenção definiu a base da Doutrina da Proteção Integral ao proclamar um conjunto de direitos de natureza individual, difusa, coletiva, econômica, social e cultural, reconhecendo que criança e adolescente são sujeitos de direitos e, considerando sua vulnerabilidade, necessitam de cuidados e proteção especiais. Exige a Convenção, com força de lei internacional, que os países signatários adaptem as legislações às suas disposições e os compromete a não violarem seus preceitos, instituindo, para isto, mecanismos de controle e fiscalização. (VERONESE; OLIVEIRA, 2008).
O Brasil, com base nas discussões sobre a Convenção, adota no texto constitucional de 1988 a Doutrina da Proteção Integral, consagrando-a em seu art. 227.
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Segundo Saraiva (2002), pela primeira vez na história brasileira, a questão da criança e do adolescente é abordada como prioridade absoluta e a sua proteção passa a ser dever da família, da sociedade e do Estado.
Contudo, a interferência prática desta opção constitucional coube à legislação especial, aprovada em 13 de julho de 1990, através da promulgação da Lei Federal Nº 8.069/90 – o Estatuto da Criança e do Adolescente.
“A gama de direitos elencados basicamente no art. 227 da Constituição Federal, os quais constituem direitos fundamentais, de extrema relevância, não só pelo seu conteúdo como pela sua titularidade, devem, obrigatoriamente, ser garantidos pelo Estatuto, e uma forma de tornar concreta essa garantia deu-se, justamente, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual tem a nobre e difícil tarefa de materializar o preceito constitucional.” (VERONESE, 1996, p. 94).
Deste modo, para Veronese (1996) o surgimento de uma legislação que tratasse crianças e adolescentes como sujeitos de direitos era imprescindível, evitando que os preceitos constitucionais fossem reduzidos a meras intenções. Sendo crianças e adolescentes titulares de direitos próprios e especiais, em razão de sua condição específica de pessoas em desenvolvimento, tornou-se necessária a existência de uma proteção especializada, diferenciada, integral.
Complementa Paula (2002) ser da própria essência do Direito da Criança e do Adolescente a presença da proteção integral:
“[...] me parece que a locução proteção integral seja autoexplicativa [...] Proteção Integral exprime finalidades básicas relacionadas às garantias do desenvolvimento saudável e da integridade, materializadas em normas subordinantes que propiciam a apropriação e manutenção dos bens da vida necessários para atingir destes objetivos.” (PAULA, 2002, p. 31).
A Doutrina da Proteção Integral veio contrapor a Doutrina da Situação Irregular então vigente instituída pelo Código de Menores de 1979, “[...] onde a criança era vista como problema social, um risco à estabilidade, às vezes até uma ameaça à ordem social [...] a infância era um mero objeto de intervenção do Estado regulador da propriedade [...]”. Assim, a doutrina da situação irregular não atingia a totalidade de crianças e adolescentes, mas somente destinava-se àqueles que representavam um obstáculo à ordem, considerados como tais, os abandonados, expostos, transviados, delinquentes, infratores, vadios, pobres, que recebiam todos do Estado a mesma resposta assistencialista, repressiva e institucionalizante. (CUSTÓDIO; VERONESE, 2009, p. 68).
Pela nova ordem estabelecida, criança e adolescente são sujeitos de direitos e não simplesmente objetos de intervenção no mundo adulto, portadores não só de uma proteção jurídica comum que é reconhecida para todas as pessoas, mas detém ainda uma “supraproteção ou proteção complementar de seus direitos”. (BRUNÕL, 2001, p.92). A proteção é dirigida ao conjunto de todas as crianças e adolescentes, não cabendo exceção.
O artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente esclarece a proteção complementar instaurada pela nova doutrina, ao afirmar que à criança e ao adolescente são garantidos todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, bem como são sujeitos a proteção integral.
“Art.3° A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.”
Fica evidenciado o princípio da igualdade de todas as crianças e adolescentes, estes compreendidos como todos os seres humanos que contam entre zero e 18 anos, ou seja, não há categorias distintas de crianças e adolescentes,apesar de estarem em situações sociais, econômicas e culturais diferenciadas.
Lembra Machado (2003) que sistema especial de proteção tem por base a vulnerabilidade peculiar de crianças e adolescentes, que por sua vez influencia na aparente quebra do princípio da igualdade, isto por que:
“a) distingue crianças e adolescentes de outros grupos de seres humanos simplesmente diversos da noção do homo médio; b) autoriza e opera a aparente quebra do princípio da igualdade – porque são portadores de uma desigualdade inerente, intrínseca, o ordenamento confere-lhes tratamento mais abrangente como forma de equilibrar a desigualdade de fato e atingir a igualdade jurídica material e não meramente formal.” (MACHADO, 2003, p. 123).
Assim, com base na supremacia que o valor da dignidade da pessoa humana recebeu na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, foi inaugurado um sistema especial de proteção à infância, expressamente referido no parágrafo 3º do artigo 227, também no artigo 228, artigo 226, caput §§ 3º, 4º, 5º e 8º e 229, primeira parte da CF/88. Ainda, XXX e XXXIII do artigo 7º, e § 3º do artigo 208.
Extrai-se do art. 227 da Constituição Federal e art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente que o dever de assegurar este sistema especial de proteção cabe à família, comunidade, sociedade em geral, poder público, que o farão com absoluta prioridade.
Liberati (2003) entende prioridade absoluta como estar a criança e o adolescente em primeiro lugar na escala de preocupações dos governantes, que em primeiro lugar devem ser atendidas as necessidades das crianças e adolescentes. Exemplifica:
“Por absoluta prioridade, entende-se que, na área administrativa, enquanto não existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes, dignas moradias e trabalho, não se deverão asfaltar ruas, construir praças, sambódromos, monumentos artísticos etc, porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são mais importantes que as obras de concreto, que ficam para demonstrar o poder do governante.” (LIBERATI, 2003. p. 47). 
A lei ordinária nº 8.069/90, no parágrafo único do artigo 4º, detalhou a garantia da prioridade absoluta como sendo: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
Outra base que sustenta a nova doutrina é a compreensão de que crianças e adolescentes estão em peculiar condição de pessoas humanas em desenvolvimento, encontram-se em situação especial e de maior vulnerabilidade, ainda não desenvolveram completamente sua personalidade, o que enseja um regime especial de salvaguarda, o que lhes permite construir suas potencialidades humanas em plenitude.
Neste sentido, afirma Machado (2003) que o direito peculiar de crianças e adolescentes desenvolver sua personalidade humana adulta integra os direitos da personalidade e é relevante tal noção por estar ligada estruturalmente a distinção que os direitos da crianças e adolescentes recebem do texto constitucional.
“[...] sustento, pode-se afirmar, ao menos sob uma ótica principiológica ou conceitual, que a possibilidade de formar a personalidade humana adulta – que é exatamente o que estão “fazendo” crianças e adolescentes pelo simples fato de crescerem até a condição adulta – há de ser reconhecida como direito fundamental do ser humano, porque sem ela nem poderiam ser os demais direitos da personalidade adulta, ou a própria personalidade adulta.” (MACHADO, 2003, p. 110).
Entretanto, frisa a autora, que a personalidade infanto-juvenil não é valorizada somente como meio de o ser humano atingir a personalidade adulta, isto seria um equívoco, uma vez que a vida humana tem dignidade em si mesma, em todos os momentos da vida, seja no mais frágil, como no momento em que o recém-nascido respira, seja no momento de ápice do potencial de criação intelectual de um ser humano. Assim, o que gera e justifica a positivação da proteção especial às crianças e adolescentes não é meramente a sua condição de seres diversos dos adultos, mas soma-se a isto a maior vulnerabilidade destes em relação aos seres humanos adultos, bem como a força potencial que a infância e juventude representam à sociedade. (MACHADO, 2003).
Ocorre que a efetivação dos direitos fundamentais de cidadania pressupõe a criação de um Sistema de Garantia de Direitos, que atue na perspectiva da promoção, da defesa e do controle. Este direito deve ser produzido na sociedade, onde se experimenta um intenso processo de correlações de forças, considerando a histórica postura de negligência e arbitrariedade com crianças e adolescentes no Brasil.
3. Crianças e adolescentes são sujeitos de direitos fundamentais especiais
A Doutrina da Proteção Integral instaurou um sistema especial de proteção, delineando direitos nos artigos 227 e 228 da Constituição brasileira, tornando crianças e adolescentes sujeitos dos direitos fundamentais atribuídos a todos os cidadãos e ainda titulares de direitos especiais, com base na sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento.
Machado (2003) afirma serem os direitos elencados no caput do artigo 227 e 228 da CF/88 também direitos fundamentais da pessoa humana, pois o direito à vida, à liberdade, à igualdade mencionados no caput do artigo 5º da CF referem-se a mesma vida, liberdade, igualdade descritas no artigo 227 e § 3º do artigo 228, ou seja, tratam-se de direitos da mesma natureza, sendo todos direitos fundamentais.
Porém, os direitos fundamentais de que trata o artigo 227 são direitos fundamentais de uma pessoa humana de condições especiais, qual seja pessoa humana em fase de desenvolvimento. Neste sentido, Bobbio (2002, p.35) aponta como sendo singular a proteção destinada às crianças e adolescentes:
“Se se diz que “criança, por causa de sua imaturidade física e intelectual, necessita de uma proteção particular e de cuidados especiais”, deixa-se assim claro que os direitos da criança são considerados como um ius singulare com relação a um ius commne; o destaque que se dá a essa especificidade do genérico, no qual se realiza o respeito à máxima suum cuique tribuere.” (grifo do autor).
Os direitos fundamentais de crianças e adolescentes são especiais e, de acordo com Machado (2003), eles podem ser diferenciados do direito dos adultos por dois aspectos, sendo um quantitativo, pois crianças e adolescentes são beneficiários de mais direitos do que os adultos, e ainda podem ser classificados pelo seu aspecto qualitativo ou estrutural, por estarem os titulares de tais direitos em peculiar condição de desenvolvimento.
Na sequência serão analisados os direitos fundamentais de crianças e adolescentes, apresentando certo detalhamento sobre cada um deles. Tendo em vista a extensa gama de direitos fundamentais, optou-se por realizada a abordagem dos direitos elencados no art. 227 da CF, quais sejam: “direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
3.1. Direito à Vida e à Saúde
O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 iniciam a exposição dos direitos fundamentais pelo direito à vida e à saúde. No artigo 7º do ECA, lê-se: “A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.
O próprio ECA preceitua várias medidas de caráter preventivo, além de políticas públicas que permitam o nascimento sadio, configurando-se, segundo Elias (2005) o direito de nascer.
Assegura-se à gestante o atendimento pré e perinatal, pelo Sistema Único de Saúde (art. 8). Às mães é assegurado o aleitamento materno, mesmo seestiverem submetidas a medida privativa de liberdade (art.9). Aos hospitais e demais estabelecimentos são impostas obrigações, tais como a manutenção de registros (prontuários) pelo período de 18 anos, identificação do recém-nascido, proceder a exames acerca de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, prestar orientação aos pais, fornecer declaração de nascimento onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato (art. 10).
Ainda, o Estatuto da Criança e do Adolescente garante o tratamento igualitário de todos os sujeitos, independentemente da condição social (art. 11). Os portadores de deficientes receberão tratamento especializado (§ 1º), incumbindo ao poder público o fornecimento gratuito de medicamentos, próteses e outros recursos quando necessários (§ 2º). No caso de internação da criança e do adolescente, os hospitais deverão propiciar condições para que um dos pais permaneça com o paciente (art.12). O Sistema Único de Saúde promoverá ainda programas de assistência médica, odontológica e campanhas de vacinação das crianças (art. 14).
Observa-se, desta forma, que o direito à vida, incutido no direito à saúde, é considerado o mais elementar e absoluto dos direitos fundamentais, pois é indispensável ao exercício de todos os outros direitos. Não pode ser confundido com sobrevivência, pois o direito à vida implica o reconhecimento do direito de viver com dignidade, direito de viver bem, desde o momento da formação do ser humano. (AMIN, 2007).
Neste sentido, Lenza (2007) afirma que o direito à vida abrange tanto o direito de não ser morto, privado da vida, portanto o direito de continuar vivo, como também o direito de ter uma vida digna, garantindo-se as necessidades vitais básicas do ser humano, e proibindo qualquer tratamento indigno, como a tortura, penas de caráter perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, entre outros.
Amim (2007) ilustra a efetivação do direito à vida e à saúde, apontando para a hipótese de adolescente que estando à beira da morte, deve ser assegurado a ele, minimamente, os recursos para tentar mantê-lo vivo, ou se for inevitável a sua morte precoce, que ao menos haja tratamento digno. Ainda, na hipótese de uma criança ou adolescente sem as duas pernas, seria indigno que se arrastasse no intuito de se locomover, neste caso caberia providenciar uma cadeira de rodas, eventual cirurgia para colocação de prótese, enfim todos os meios para assegurar dignidade na forma de viver.
3.2. Direito à Alimentação
O art. 227 da Constituição Federal inclui, logo após o direito à vida e à saúde, o direito à alimentação no rol dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes.
É um direito especial de crianças e adolescentes positivado, levando em consideração a maior vulnerabilidade por estarem em peculiar condição de pessoa em desenvolvimento. Este direito tem estreita ligação com o direito à vida e direito ao não-trabalho. Assim, a positivação deste direito criou para o Estado o dever de assegurar alimentação a todas as crianças e adolescentes que não tenham acesso a ela por meio dos pais ou responsáveis e, ainda, faz nascer o direito individual de exigir esta prestação. (MACHADO, 2003).
Conforme determina o art. 1.696 do Código Civil de 2002, “o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns na falta de outros”, assim na falta dos genitores poderá a criança e o adolescente pleitear os alimentos dos outros parentes, respeitando a ordem de sucessão. Define o art. 2° da Lei de Alimentos, n. 5.478/68, que o credor, ao postular pela concessão dos alimentos, exporá suas necessidades e provará apenas o parentesco ou a obrigação de alimentar do devedor.
3.3 Direito à Educação
A educação figura na Constituição Federal de 1988 como direito fundamental do ser humano, buscando conferir suporte ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Este direito está expresso nos art. 205 a 214 da Constituição Federal de 1988, na Lei 9.394/90 (Lei de Diretrizes da Educação) e na Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
A Lei de Diretrizes da Educação Nacional, conhecida como Lei Darcy Ribeiro, reafirma a obrigação solidária do Poder Público, da família e da comunidade na busca de garantir a educação.
“Art. 2º. A educação é direito de todos e dever da família e do Estado, terá como bases os princípios de liberdade e os ideais de solidariedade humana e, como fim, a formação integral da pessoa do educando, a sua preparação para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho.”
Conforme descrito no artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estado buscará a efetivação do Direito à educação, assegurando o ensino fundamental gratuito e universal a todos (inciso I), com acesso a “programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde” (inciso VII). Ainda, será oferecido atendimento especializado aos portadores de deficiências (inciso III), e educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças de zero a seis anos de idade (inciso IV). A não oferta do ensino obrigatório importa em responsabilização da autoridade competente (§ 2º).
Fazendo alusão ao § 3º do artigo 54 do ECA, Machado (2003) ressalta a prestação positiva imposta ao Estado em assegurar o direito à educação, não bastando a oferta de vagas, a Constituição exige do Estado o recenseamento de crianças e adolescentes em idade escolar, que proceda a chamada deles e que zele, junto com os pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
Contudo, alerta Meneses (2008, p. 28): 
“[...] o aluno fora da sala de aula afronta a juridicidade. Mas um aluno na sala de aula, sem espaço para o erro, e por causa dele, desautorizado a reconstruir concepções, afronta a proteção integral de pessoa em desenvolvimento. Ainda o aluno na sala de aula, porque assim determina a lei, que não respeita a convivência com o educador e com os outros alunos, liquida com a qualidade da relação [...].” (MENESES, 2008, p.28).
Veronese e Oliveira (2008, p. 67) esclarecem ser o direito de aprender, explícito no direito ao acesso à educação regular, um dos direitos humanos fundamentais. Isto se deve a relação existente entre educação e cidadania. Cidadania entendida como “[...] um exercício contínuo de reivindicação de direitos. Como reivindicar o que não se conhece? Daí decorre a necessidade de investimento em educação [...]”. Ainda, sendo crianças e adolescentes sujeitos de direitos em processo de desenvolvimento, a educação se tornou um direito indisponível, um requisito indispensável para garantir o crescimento sadio, nos aspectos físico, cognitivo, afetivo e emocional. 
3.4 Direito à Cultura, ao Esporte e ao Lazer
As crianças e adolescente necessitam de vários estímulos na sua formação: emocionais, sociais, culturais, educativos, motores, entre outros. Assim, a cultura estimula o pensamento de maneira diversa da educação formal. O esporte desenvolve habilidades motoras, socializa o indivíduo. O lazer envolve entretenimento, a diversão que são importantes para o desenvolvimento integral do indivíduo. (AMIN, 2007).
Cabe aos Municípios, com o apoio dos Estados e da União, estimular e destinar recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer, voltadas para a infância e a juventude, conforme art. 59 do ECA. 
Elias (2005) ressalta a importância da cultura, do esporte e lazer no processo de formação dos indivíduos, sob o ponto de vista físico e mental. Desta forma, a municipalização facilita o atendimento nestas áreas, contribuindo para afastar crianças e adolescentes dos perigos das drogas e de outros vícios que prejudicam o desenvolvimento de uma personalidade saudável, o que, no futuro, poderá levá-los a uma vida sem qualidade e à criminalidade.
Para Amin (2007) estes direitos devem ser assegurados pelo Estado através da construção de praças, instalação de teatros populares, promoção de shows abertos ao público, construção de complexosou simples ginásios poliesportivos. A família deve buscar proporcionar o acesso a estes direitos, e a escola tem papel importante na promoção destes, quando realiza passeios ou forma grupos de teatro com os próprios alunos.
Aponta Machado (2003) que um direito que se desprenderia do direito ao lazer, à convivência familiar e comunitária, do direito ao não-trabalho, seria o direito de brincar. A garantia deste direito auxiliaria no desenvolvimento cognitivo, psicológico e social da criança e do adolescente.
Assegurar o direito de brincar encontra seu significado quando inserido numa sociedade influenciada pela mídia que passou a exigir um comportamento adulto daqueles que ainda não o são. Assim, crianças e adolescentes assumem uma agenda de horários similar a dos adultos, a outros ainda é imposta a responsabilidade pelo cuidado de irmãos menores, correndo o risco de lhes faltar tempo para brincar, conversar, se divertir. (AMIN, 2007).
3.5 Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho
O direito ao trabalho “repousa basicamente na proteção do interesse individual de ter liberdade para exercer as potencialidades que todo trabalho humano comporta e na proteção o interesse individual de prover as próprias necessidades”. (MACHADO, 2003, p. 176).
Observa, contudo, Machado (2003) que, quando a criança ou o adolescente exercitam o trabalho não mais como impulso de experimentação das suas potencialidades, mas, sim, como necessidade de prover seu próprio sustento, o trabalho conflita com outros interesses necessários ao seu pleno desenvolvimento. O trabalho poderá retirar as forças imprescindíveis para o acompanhamento das aulas regulares, limitando a capacidade de aprendizado e prejudicando sua qualificação teórico-profissional. Ainda, o trabalho poderá representar um esforço superior ao seu estágio de crescimento, comprometendo a saúde e o seu desenvolvimento cognitivo.
Por estas razões, visando proteger crianças e adolescentes e, ao mesmo tempo, assegurar-lhes o direito fundamental à profissionalização, o ordenamento estabeleceu um regime especial de trabalho, com direitos e restrições.
A Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98 alterou o inciso XXXIII do art. 7º restringindo o trabalho adolescente a partir dos 16 anos, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos, conforme art. 403 da CLT e art. 60 da Lei 8.069/90.
Além da limitação etária, é proibido o trabalho noturno, entre às 22 e 5 horas, o trabalho perigoso, insalubre ou penoso, realizado em locais prejudiciais à formação e desenvolvimento físico, psíquico, moral e social do adolescente, bem como em horários que prejudiquem a sua frequência à escola (art. 67 do ECA e arts. 403, 404, 405 da CLT). Também lhe são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários (art. 65 do ECA).
O direito ao trabalho protegido, exercido por adolescente entre 14 a 18 anos, não pode ser confundido com o direito à profissionalização, existindo na essência antagonismos entre eles. De acordo com Machado (2003, p.188):
“[...] o direito à profissionalização objetiva proteger o interesse de crianças e adolescentes de se preparem adequadamente para o exercício do trabalho adulto, do trabalho no momento próprio; não visa o próprio sustento durante a juventude, que é necessidade individual concreta resultante das desigualdades sociais, que a Constituição visa reduzir.”
Diante do mundo contemporâneo que exige qualificação elevada, da qual a educação é requisito necessário, a qualificação profissional dos adolescentes é garantidora de um mínimo de igualdade entre os cidadãos quando da inserção no mercado de trabalho. Entretanto, quando o adolescente passa a exercer o trabalho regular precocemente, mais se limitam suas chances de desenvolver adequadamente sua profissionalização, para que possa, na idade adulta, competir no mercado de trabalho, mantendo, desta forma, sua desigualdade na inserção social, pois a aprendizagem é limitada e precária, basicamente laboral e não educativa, que se norteia pelos princípios da produtividade do trabalho e lucro do empregador. (MACHADO, 2003).
3.6 Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, por serem pessoas em desenvolvimento e sujeitos de direitos civis, humanos e sociais. (art. 15 da Lei 8.069/90).
O direito à liberdade é mais amplo do que o direito de ir e vir. O art. 16 do ECA compreende a liberdade também como liberdade de opinião, expressão, crença e culto religioso, liberdade de brincar, praticar esportes e divertir-se, participar da vida em família, na sociedade e vida política, assim como buscar refúgio, auxílio e proteção.
Porém, conforme verificado no inciso I, do art. 16 são impostas restrições legais ao direito à liberdade de crianças e adolescentes. Para Elias (2005), as limitações à liberdade são impostas devido a própria condição de pessoas em desenvolvimento, para o seu bem-estar. Neste sentido, Machado (2003) justifica que as restrições à liberdade da pessoa física em fase de desenvolvimento têm suas especificidades ligadas à questão da imaturidade de crianças e adolescentes, o que auxilia que estas se protejam contra agressões aos seus direitos.
Por seu turno, o direito ao respeito é descrito no art. 17 do ECA como a “inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
“[...] Toda criança nasce com o direito de ser. É um erro muito grave, que ofende o direito de ser, conceber a criança como apenas um projeto de pessoa, como alguma coisa que no futuro poderá adquirir a dignidade de um ser humano. É preciso reconhecer e não esquecer em momento algum, que, pelo simples fato de existir, a criança já é uma pessoa e por essa razão merecedora do respeito que é devido exatamente na mesma medida a todas as pessoas.” (DALLARI; KORCZACK, 1986, p. 21).
Reafirma o art. 18 do ECA, ser dever de todos zelar pela suprema dignidade de crianças e adolescentes, colocando-os a salvo de qualquer forma de tratamento desumano, aterrorizante, constrangedor, bem como qualquer espécie de violência, seja a violência física, a psicológica ou a violência moral.
3.7 Direito à Convivência Familiar e Comunitária
O art. 19 da Lei n. 8.069/90, assegura a toda criança e adolescente o direito de ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurando a convivência familiar e comunitária, zelando por um ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
Este direito tem por base a capacidade protetora da criança e do adolescente na relação parental. Conforme Gueiros e Oliveira (2005, p.118), o direito à convivência familiar deve ser garantido tanto aos filhos, como também aos pais:
“É fundamental defender o princípio de que o lugar da criança é na família, mas é necessário pensar que essa é uma via de mão dupla – direito dos filhos, mas também de seus pais- e, assim, sendo, deve ser assegurado à criança o direito de convivência familiar, preferencialmente na família na qual nasceu, e aos pais o direito de poder criar e educar os filhos que tiveram do casamento ou de vivências amorosas que não chegaram a se constituir como parcerias conjugais.”
Como fatores que dificultam a manutenção de crianças e adolescentes em suas famílias, são apontados as desigualdades sociais presentes na sociedade e a crescente exclusão social do mercado formal de trabalho que incidem diretamente sobre a situação econômica das famílias, inviabilizando o provimento de condições mínimas necessárias a sua sobrevivência, desta forma, vivem na negligência e abandono, tanto pais quanto filhos. No caso presente, faz-se urgente que as famílias contem com políticas públicas sociais que garantam o acesso a bens e serviços indispensáveis à cidadania. (GUEIROS; OLIVEIRA, 2008).
É bem verdade que a pobreza dos genitores não constitui fator deperda ou suspensão do poder familiar, podendo somente serem decretadas judicialmente (art. 23 e 24 da Lei 8.069/90). O Poder Familiar é conceituado por Maciel (2007, p. 72) como um “complexo de direitos e deveres pessoais e patrimoniais com relação ao filho menor, [...] que deve ser exercido no melhor interesse deste último [...]”.
A par disso, esclarece Ishida (2001), que nos procedimentos da infância e juventude, a preferência é sempre de mantença da criança e do adolescente junto aos genitores biológicos. Somente após acompanhamento técnico-jurídico que verifique a inexistência de condições dos genitores, havendo direitos fundamentais ameaçados ou violados, inicia-se a colocação em lar substituto.
Conforme art. 100 da Lei n. 8.069/90, a manutenção e o fortalecimento dos vínculos devem ser observados também na aplicação de medidas socioeducativas, preferindo aquelas medidas que favoreçam as relações afetivas que o adolescente já tem construído em sua família e comunidade.
APLICABILIDADE DA NORMA
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – criado pela Lei n. 8.069, de 13/07/1990, é o amparo legal à criança, ao adolescente e ao idoso em toda sua amplitude. Sua doutrina predominante é a da proteção integral, ou seja, o fornecimento de toda a assistência necessária ao pleno desenvolvimento da personalidade. Foi uma importante conquista para toda a sociedade.
Elias (2005, p. 4) coloca que a proteção integral é abrangente. Refere-se à vida, à saúde, à liberdade, ao respeito, à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, à profissionalização, ao lazer e ao esporte, sendo relevante considerar que todos os cidadãos são convocados a participar desta grande obra.
O mesmo autor evidencia que “a exploração, a violência, a crueldade e a opressão em relação ao menor podem tipificar uma conduta delituosa” (ELIAS, 2005, p.5).
Nessa área, é relevante atentar para o espírito da lei, pois “deve-se procurar a justiça, não na letra da lei, mas no seu espírito, sem relegar o seu objetivo – o bem moral” Elias (2005, apud Revista dos Tribunais, 1987).
A escola, desempenhando uma função para a qual não foi criada, deve ser uma continuação da educação a fim de aprimorá-la intelectualmente, ou seja, cada instituição com sua função. O acúmulo de funções por parte da escola tem levado a equívocos por parte, tanto dos pais, quanto dos próprios filhos/alunos e também da própria escola.
A educação é sumamente necessária ao desenvolvimento do ser humano. No caso, segundo Elias (2005), o termo ‘educação’ deve ser entendido como o trabalho sistematizado e orientado pelo qual nós ajustamos a vida de acordo com as necessidades ideais e propósitos dominantes, existindo um vínculo muito íntimo entre tal direito e a escola, pois é por esta que aquele se concretiza, não havendo dúvida de que o desenvolvimento adequado da personalidade prescinde, de forma insofismável, da passagem pela escola.
É oportuno observar que a Constituição Federal, no art. 205, segundo Elias (2005) preceitua que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Então, reconhece-se que o aluno tem o direito de ser respeitado pelo professor, o que implica uma educação produtiva, sem traumas, entretanto, isso não dá liberdade para o aluno fazer o que quiser na sala de aula, e no tocante aos deveres que lhe são impostos pelos professores, da mesma forma, estes devem ser respeitados. Desde sua criação, o ECA carrega em seu bojo, os desencontros provocados pela falta de conhecimento, somada à falta de vontade, ou ainda, ao receio de se lidar com a lei, por parte da direção da escola, da ignorância do corpo docente, pelos meandros a que se submete a lei perante a comunidade. A lei é um avanço na defesa dos direitos da criança e do adolescente, mas torná-la válida impõe desafios que esbarram nas dificuldades em mobilizar os gestores públicos para adotarem a medida em seus sistemas de ensino.
A interpretação equivocada da lei é um desafio que se apresenta, provocando uma sensibilização do profissional da educação, que vê o Estatuto como um instrumento criado para proteger adolescentes infratores. Os gestores devem promover a sensibilização dos professores, como o primeiro passo para fazer com que o ECA se torne mais presente na escola, incorporando ainda, como decorrência, a questão dos direitos no cotidiano escolar, afinal, como evidencia Beltrão (2009), capacitação é necessária para que o corpo docente conheça melhor o Estatuto e possa desenvolver formas de inseri-lo nos currículos”.
Nestes encontros e desencontros, a educação tornou-se refém da falta de limite proveniente da interpretação dos direitos conferidos à criança e ao adolescente, levando a uma crise profunda no ensino. Apesar disso, a função da educação não mudou. A sala de aula não é apenas o ambiente onde se aprende a ler e a contar, mas acima de tudo, é o lugar da educação em toda a sua dimensão, inclusive a moral.
CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS
Esse artigo coloca em discussão, não a existência do ECA, uma vez que o estatuto foi um avanço e uma conquista para um segmento da população, até então desprotegido. A discussão está na interpretação, ou até mesmo no desconhecimento do mesmo, por parte da própria escola, dos pais e dos alunos.
O próprio momento histórico de sua criação demonstra o ponto nevrálgico, ou seja, logo nos primeiros anos que sucederam o fim da ditadura militar, período histórico esse, caracterizado pelo “NÃO”. Com o fim do regime militar houve uma apoteose de teorias permissivas em todos os setores, como por exemplo, administrativos, psicológicos, sociológicos, filosóficos, educacionais.
Proibido dizer não. Esse lema tornou-se o alicerce para as novas teorias que surgiam e o ECA foi o coroamento da democracia e da cidadania. A partir dele as crianças, os adolescentes e os idosos ganhavam presença na sociedade, mas obscurecia-se a essência. Divulgava-se uma liberdade em todos os âmbitos para a qual o Brasil não estava preparado.
A educação tornou-se refém da falta de limite proveniente da interpretação dos direitos conferidos à criança e ao adolescente, levando a uma crise profunda no ensino. Apesar disso, a função da educação não mudou. A sala de aula não é apenas o ambiente onde se aprende a ler e a contar, mas acima de tudo, é o lugar da educação em toda a sua dimensão, inclusive a moral.
A RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO X FAMÍLIA X POLÍTICA: PARCERIAS DE SUCESSO
A frequente agressividade, as demonstrações de violência e de comportamento antissocial apresentado pela maioria dos alunos, tanto de escolas das redes pública, quanto pelas escolas da rede particular de ensino, demonstram a importância de que se reveste o professor e suas ações, no entanto, não se deve menosprezar o fato de que as dificuldades do aluno não são o único fator gerador de problemas.
Segundo Fernandes e Souza (2009), as consequências geradas pelo enfraquecimento da relação aluno/educador, as falhas no processo educativo, perda do referencial de autoridade no ambiente escolar e o inquestionável agravamento das barreiras encontradas por todos os envolvidos neste processo são problemas que se traduzem em sérios reflexos sociais.
A manifestação agressiva por parte do aluno, muitas vezes não se encontra na razão direta para com o professor, mas sim nas barreiras encontradas por este aluno em seu desenvolvimento emocional, que por sua vez, comprometem o desenvolvimento cognitivo e social. Fernandes e Souza (2009) demonstram essa concepção na ideia apresentada abaixo:
Ajudar o aluno a potencializar seus recursos internos, valorizar qualquer possibilidade de esforço ou conquista, promover o diálogo e buscar ajuda externa, quando a situação demonstra sinais de agravamento, são algumas ferramentas que o educador dispõe.
Ações conjuntas levam à compreensão por parte de todos os sujeitos envolvidos, de que a educação deve ser o carro-chefe que levará o país à transformação social, entendida aqui não como um jargão cujo uso desgasta o significado, mas como mudança necessáriaque tornará o homem a pessoa mais importante do mundo, a quem se deve respeitar enquanto cidadão. Tais concepções podem ser evidenciadas na fala abaixo:
A escola detém uma importante parcela na construção desse processo, pois oferece ao aluno a oportunidade de vivenciar situações tanto de “conforto” social como de desafio, colocando à prova suas habilidades sociais. A socialização e o processo de aprendizagem caminham juntos. Quando uma desta comprometida, a outra tende a sofrer prejuízos, pois a motivação, atenção e memória são pré-requisitos para ambas (FERNANDA; SOUZA, 2009).
O processo educacional é um grande desafio que envolve os profissionais da educação, as famílias dos alunos e a comunidade em toda sua amplitude, enquanto colaboradora na compreensão e aplicação do código ético que rege as vidas dos seres humanos.
CONSELHO TUTELAR: COMPREENDENDO POR DENTRO
Segundo o art. 131 do ECA, “o Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta lei”, portanto, é um órgão subordinado ao ECA, ou melhor, é o seu braço direto na ligação com a comunidade que confia em sua atuação, desde que seja para o bem comum.
1. A ESTRUTURA LEGAL DO CONSELHO TUTELAR E A RESPONSABILIDADE DA FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Inicia-se este item com a definição legal de Conselho Tutelar, bem como uma explicação a respeito de seu funcionamento, ressaltando-se o seu campo de atuação, seus limites, ou seja, suas diretrizes legais. Segundo o art. 131 do ECA, “o Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta lei”, portanto, é um órgão subordinado ao ECA, ou melhor, é o seu braço direto na ligação com a comunidade que confia em sua atuação, desde que seja para o bem comum. 
Não depende da autorização de ninguém, prefeito, juiz, para o exercício das atribuições legais que lhe foram conferidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme os artigos 95, 101 (I a VII), 129 (I a VII) e 136. Tais artigos estão expostos na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Para melhor compreensão, transcrevemos abaixo o teor dos artigos em referência:
Art. 95: A entidades governamentais e não governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as medidas: encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade [...]
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsáveis: [...] III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação; VI-obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a tratamento especializado; VII - advertência.
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: - [...] II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129 [...]; VI – providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional [...]
Em matéria técnica de sua competência, o Conselho Tutelar delibera e age, aplicando as medidas práticas pertinentes, sem interferência externa. Exerce suas funções com independência, inclusive para denunciar e corrigir distorções existentes na própria administração municipal relativas ao atendimento de crianças e adolescentes. Suas decisões só podem ser revistas pelo Juiz da Infância e da Juventude, a partir de requerimento daquele que se sentir prejudicado.
Não integra o Poder Judiciário, não podendo exercer o papel e as funções deste Poder, na apreciação e julgamento dos conflitos de interesse. Exerce funções de caráter administrativo, vinculando-se ao Poder Executivo Municipal, mas não tendo poder para fazer cumprir determinações legais ou punir quem as infrinja.
Segundo o art. 101 do ECA, uma das medidas de proteção cabíveis ao Conselho Tutelar é o encaminhamento aos pais ou responsável, mediante um termo de responsabilidade, a criança ou adolescente que cometeu infração, bem como notificar pais ou responsável que deixam de cumprir os deveres de assistir, criar e educar suas crianças e adolescentes.
No entanto, a educação se depara hoje, com um problema que se entrelaça com essa medida. Os pais, a fim de atender as necessidades familiares, saem para trabalhar e seus filhos, desde tenra idade, ficam sob a responsabilidade de terceiros.
Devido a essas injunções, estão, inconscientemente, transferindo para a escola, o dever de cuidar da educação de suas crianças. 
Em contrapartida, o entendimento da criança ou adolescente perante essa forçosa situação torna-se também equivocado, tornando-os investidos de uma independência precoce que faz com que comecem a tomar suas próprias decisões, dando a elas caráter de autoridade.
Essa situação deixa assim, questionamentos diversos, que envolvem os pais que precisam trabalhar para sustentar a família, a escola, que tem o dever de cuidar da educação da criança e a sociedade, que se coloca em posição de juiz quanto às medidas tomadas por qualquer um dos sujeitos envolvidos na relação.
MEDIDAS CORRECIONAIS NA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL
Além dos órgãos institucionais presentes no universo da educação, ainda se conta com os órgãos efetivamente repressivos, como a patrulha escolar. É mais um ponto sob o qual buscamos analisar. A visão que se apresenta da situação da educação hoje, demonstra sua semelhança ao modelo prisional.
Claramente a educação transformou-se em um caso de polícia, onde ocorrem normalmente, rondas e abordagens aos alunos considerados suspeitos, a fim de manter a proteção de todas as crianças que se encontram dentro do espaço escolar.
Há uma grande confusão entre o aluno e o bandido. 
Tais semelhanças devem-se a que? Torna-se claro que o problema não está dentro da escola, mas no interior da própria sociedade, camuflado na falta de emprego, na corrupção, no salário indigno do empregado, nos altos salários de algumas pessoas, que contraditoriamente devem cuidar do bem-estar social.
É dessa sociedade que se fala no presente artigo. Assim como, no início apresentou-se um panorama da sociedade, a fim de explicar a situação da educação hoje, apresenta-se, neste momento, uma análise, um olhar que busca refletir sobre os descaminhos trilhados pela sociedade e pela educação no Brasil, no mundo contemporâneo.
GARANTIAS PROCESSUAIS
Quando o adolescente for autor de ato infracional, estará sujeito a uma ação socioeducativa que tem por finalidade a aplicação de uma medida socioeducativa. Acontece que a medida socioeducativa será aplicada não no interesse do adolescente e sim no interesse da coletividade. A coletividade tem por intuito inibir a reincidência.
O adolescente, verdadeiro sujeito de direitos, pode opor-se a essa pretensão da coletividade. A isso se dá o nome de GARANTISMO, que implica uma série de garantias processuais previstas em favor do adolescente e que devem ser observadas na aplicação da medida socioeducativa. Esses direitos são os mesmos que os adultos possuem e mais alguns, em razão de sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento. As garantias são previstas expressamente nos artigos 110 e 111 do ECA:
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:
I – pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;
II – igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III – defesa técnica por advogado;
IV – assistência judiciária gratuitae integral aos necessitados, na forma da lei;
V – direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI – direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento.
Os mesmos direitos que tem os adultos de ter um devido processo legal (processo justo, que garanta o contraditório e a ampla defesa), os adolescentes que forem autores de atos infracionais também os tem. Em razão do devido processo legal, temos a necessidade de oposição efetiva da pretensão ministerial em aplicar uma medida socioeducativa, ou seja, se de um lado o MP propõe a aplicação de uma medida socioeducativa, de outro lado temos que ter a efetiva oposição através da defesa técnica do adolescente ou de seus responsáveis, (RE 285.571 de 13/02/2001 – relator Min. Sepúlveda Pertence).
A doutrina da proteção integral das nações unidas é formada por 03 documentos:
– Diretrizes de RIAD;
– as regras de Beijing;
– as regras de Tóquio;
– Convenção sobre os direitos da criança (ONU).
A Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU), em seu art. 40, resumidamente, observa dentre outros o princípio da reserva legal, o princípio da presunção de inocência etc. Em razão de vários habeas corpus, de vários recursos que estão subindo aos Tribunais Superiores, são no sentido do reconhecimento do devido processo aos adolescentes, ex: Súmula 342 do STJ. Essa súmula é a aplicação direita do devido processo legal para o adolescente. Na aplicação da medida socioeducativa, deve ser observado o devido processo legal.
No art. 110, do ECA, temos as garantias gerais. No art. 111, do ECA, verificamos as garantias específicas. Assim, mesmo que o artigo 111, não existisse, as garantias nele previstas existiriam mesmo assim, pois todas são garantias do devido processo penal. O rol do art. 111, do ECA, é meramente exemplificativo. Vamos analisar cada um dos incisos do art. 111 do ECA:
• INCISO I – a atribuição de ato infracional ocorre na peça processual chamada de representação, que é a peça inicial da ação socioeducativa. É elaborada pelo Promotor de Justiça (MP). É atribuição exclusiva do promotor de justiça, não podendo ser proposta pelo procurador da República, por exemplo, assim como o julgamento será feito pelo Juiz da Infância e da Juventude. Essa representação pode ser escrita (regra), ou apresentada de forma geral (exceção), em sessão diária instalada perante a vara da infância e da juventude. No art. 182, § 1º e 2º, do ECA, estão descritos os requisitos da representação, e de acordo com eles, não há necessidade de prova pré-constituída da autoria e da materialidade do fato, pois esta prova será produzida no decorrer da ação socioeducativa. A representação poderá ter, se necessário, o rol de testemunhas. Se a representação não observar os requisitos do art. 182, ela poderá ser indeferida pelo juiz, seja pela inépcia ou por outro motivo, aplicando o CPC subsidiariamente nesses casos.
• INCISO II – igualdade na relação processual. Os adolescentes têm os mesmos direitos que os adultos, inclusive na ação socioeducativas. É a igualdade de armas, se foi produzida provas de um lado, deve dar a oportunidade para a outra parte ter conhecimento dessa prova e de produzir também as provas que achar necessário. Tem o direito de se confrontar com vítimas e testemunhas. Igualdade entre acusação e defesa. Adolescente é sujeito de direito, não é objeto de proteção, pois quando era objeto de proteção no Antigo Código de Menores, todas as medidas tomadas eram para protegê-lo, ele não tinha garantias processuais? Era a antiga doutrina da situação irregular do menor. Hoje, adolescente é sujeito de direitos, tendo garantia ao devido processo legal, direito à liberdade, ou seja, há uma igualdade de armas? Doutrina da proteção integral.
• INCISO III – direito a defesa técnica por advogado. A participação do advogado é imprescindível à administração da justiça, já está previsto na CF/88. No ECA, também há essa mesma previsão no art. 207.
Art. 207, do ECA:
Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado sem defensor.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária.
Esse artigo 207, do ECA, tem uma aparente incompatibilidade com o art. 186, § 2º, do mesmo Estatuto, que se lido de forma rápida, dá a entender que a participação do advogado só será na audiência em continuação. Na verdade, ocorre inicialmente a audiência de apresentação, que é a oitiva do adolescente, tal qual o interrogatório; além dessa, existe a audiência em continuação, na qual há a oitiva de testemunhas, ou seja, é destinada à colheita de provas. A participação do advogado é imprescindível tanto na audiência de apresentação quanto na audiência em continuação.
Se em uma dessas audiências houver a ausência do advogado constituído, o juiz não vai remarcar outra audiência, e sim vai nomear um advogado para a ocasião. Se o adolescente não tiver condições de arcar com o pagamento de um advogado, a defesa técnica ficará a cargo da Defensoria Pública que tem uma atuação muito forte nessa área da infância e da juventude.
Será que antes da audiência de apresentação é necessária a presença de advogado? NÃO, pois a medida socioeducativa se divide em duas fases: uma administrativa e outra judicial. Na fase administrativa (da apreensão até a apresentação ao promotor de justiça) o promotor ouve o adolescente (oitiva informal), tomando conhecimento dos fatos, podendo inclusive ouvir testemunhas e vítimas, e com isso terá subsídios para tomar o passo seguinte, que pode ser: arquivar o procedimento, ou oferecer a representação, ou ainda conceder a remissão. Sendo assim, a presença do advogado nessa fase não é obrigatória. A doutrina mais garantista traz a ideia de que se acaso for concedida remissão cumulada com medida socioeducativa na fase administrava (que é aquela remissão como forma de exclusão do processo com medida socioeducativa), essa medida somente poderia ser exigida se houvesse a participação do advogado, tendo a concordância tanto dos pais ou responsáveis, e do adolescente.
A participação do Advogado deve ser efetiva, buscando todos os meios necessários para declarar a improcedência da medida e/ou para incidência de uma medida socioeducativa mais branda. O advogado jamais pode concordar com uma medida de internação do adolescente, porque trata-se de responsabilização, e o advogado tem o papel de defender o adolescente apresentando toda a oposição legal necessária, até para que ocorra o garantismo que é previsto no ECA e no art. 227, § 3º, IV, CF/88.
• INCISO IV – assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados na forma da lei – A Defensoria tem uma atuação muito importante nesses casos. Essa assistência deve ocorrer não só para a ação de conhecimento, mas também na execução de medida socioeducativa.
• INCISO V – direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente – o adolescente pode requerer sua oitiva pelo juiz, pelo promotor, delegado, o defensor, e até o diretor de uma unidade de internação. Imagine um adolescente que foi internado provisoriamente, como ele poderia passar informações ao seu defensor se ele não pudesse se entrevistar pessoalmente com ele? Seria impossível.
• INCISO VI – direito de solicitar a presença dos pais ou responsável em qualquer fase do procedimento – deve-se entender que essa referência diz respeito tanto à fase administrativa quanto à fase judicial. Na fase administrativa, porque pode ocorrer um caso em que o delegado entenda que não deve liberar esse adolescente a seus pais, esim mantê-lo internado até que ele possa ser apresentado ao promotor de justiça, o que deve ocorrer o mais rápido possível (se essa apresentação não puder ser imediata, o adolescente deverá ser conduzido a uma entidade de atendimento, e em caso de não possuí-la naquela localidade, deve permanecer na unidade policial devendo ser apresentado ao promotor de justiça no prazo de 24 horas), mesmo nesse momento ele pode requisitar a presença dos pais. Tutela-se aqui a liberdade.
Essas garantias são aplicadas tanto na ação de conhecimento quanto na ação de execução de medida socioeducativa. Uma vez aplicada uma medida socioeducativa, é expedida uma guia de execução da mesma, a qual é cadastrada e autuada em separado, inaugura-se o processo da execução da medida. Nesse momento, começa para o juiz o dever de acompanhar o cumprimento da medida socioeducativa, devendo observar também o devido processo legal, ouvindo o menor sobre qualquer alteração mais gravosa que possa ser-lhe imposta durante a execução. Nesse sentido temos a súmula 265 do STJ.
Súmula 265/STJ: “É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão da medida socioeducativa”.
Existem 03 diferentes tipos de internação:
Internação por prazo indeterminado (art. 122, I e II, do ECA);
Internação por prazo determinado (art. 122, III, do ECA) – internação sanção;
Internação provisória (art. 108, do ECA).
Não existe uma lei de execução das medidas socioeducativas. Aplica-se as regras do ECA e subsidiariamente as normas de execução em razão do art. 152. Temos algumas particularidades:
Participação do advogado na execução – pouquíssimas comarcas garantem isso;
O adolescente pode ser ouvido por qualquer dos interessados na ação – aplica-se a igualdade de armas, que para ocorrer deverá garantir a presença do advogado.
Além das garantias previstas no art. 110 e 111 do ECA, existem outras que estão na CF/88, citaremos algumas delas:
Presunção de inocência – presume-se que o adolescente é inocente até que se prove o contrário;
Necessidade de relaxamento de eventual internação integral – a restrição da liberdade do adolescente é uma medida excepcional, só podendo ser aplicada nas hipóteses legais, sendo interpretadas de forma restrita e não ampliativa. Daí o juiz que tem conhecimento de uma internação ilegal e que não libera esse adolescente, estará praticando um delito previsto no próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O relaxamento de internação ilegal constitui um dever tanto do juiz (na fase judicial) quanto da autoridade policial (na fase administrativa) quando souber que essa internação é arbitrária;
Deve ser comprovada a sua culpabilidade – se aplicam os mesmos direitos dos adultos aos adolescentes, ou seja, deve-se verificar se no determinado caso há inexigibilidade de conduta diversa, por exemplo, e o adolescente deve ter potencial consciência da ilicitude do fato;
Princípio da Reserva legal – somente será ato infracional aquela conduta prevista na lei como crime ou como contravenção penal. O ECA toma emprestado a previsão de crime e de contravenção penal da lei penal.
Além das garantias processuais expressas, podemos falar também em direitos individuais, os quais estão previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nos artigos 106 a art. 109:
* ARTIGO 106 – não existe apreensão de adolescente para averiguação, ele somente pode ser apreendido por 03 motivos: prática de ato infracional (em flagrante), por ordem da autoridade judiciária, ou se adolescente se evadir do cumprimento de medida socioeducativa;
* ARTIGO 106, parágrafo único – o adolescente tem o direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão e de ser informado dos seus direitos. Além desses direitos, no art. 173, do ECA, estão previstas diversas formalidades que devem ser tomadas pela autoridade responsável pela sua apreensão;
* ARTIGO 107 – a própria Constituição de 1988, fala que no caso de prisão de qualquer pessoa em flagrante, a qual deverá ser comunicada a autoridade judiciária. Se isso se aplica aos adultos, com muito mais razão se aplica aos adolescentes, de modo que se forem apreendidos, deve esse fato ser informado o mais rápido possível à autoridade judiciária competente para que tome as providências cabíveis, assim como deve a família do menor também ser avisada;
* ARTIGO 107, parágrafo único – A apreensão do adolescente em razão de flagrante ou por ordem de autoridade judiciária, só ocorrerá em casos excepcionais, se for extremamente necessária. Por isso, quando ela ocorrer, deve a autoridade verificar se desde logo é possível colocar o adolescente em liberdade novamente;
* ARTIGO 108 – internação provisória – é a internação antes da sentença, tem o prazo máximo de 45 dias e é decretada pela autoridade judiciária;
* ARTIGO 108, parágrafo único – a internação provisória vai ser necessária em casos que adolescente não pode continuar em liberdade para a sua própria segurança ou em casos de grande repercussão social deve-se aplicar as regras do art. 174, do ECA;
* ARTIGO 109 – o adolescente não será submetido à coleta de impressões digitais, salvo em caso de confrontação ou havendo dúvidas de sua identidade, pois é uma prática comum o adolescente ser internado e dar o nome de outro adolescente com a ficha limpa para fugir de uma medida socioeducativa mais enérgica (devido a uma possível reincidência), por exemplo.
ATOS INFRACIONAIS
A conduta da criança e do adolescente, quando coberta de ilicitude, reflete obrigatoriamente no contexto social em que vive. E, a despeito de sua maior incidência nos dias atuais, tal fato não constitui ocorrência apenas deste século, mas é nesta quadra da história da Humanidade que o mesmo assume proporções alarmantes, principalmente nos grandes centros urbanos, não só pelas dificuldades de sobrevivência como, também, pela ausência do Estado nas áreas da educação, da saúde, da habitação e, ainda, da assistência social (AMARANTE, 2002, p. 324).
Por outra parte, a falta de uma política séria em termos de ocupação racional dos espaços geográficos, a ensejar migração desordenada, produtora de favelas periféricas nas capitais dos Estados, ou até mesmo nas médias cidades, está permitindo e vai permitir, mais ainda, pela precariedade de vida de seus habitantes, o aumento, também, da delinquência infanto-juvenil (AMARANTE, 2002, p. 324).
O Ato infracional é “ação condenável, de desrespeito às leis, à ordem pública, aos direitos dos cidadãos ou ao patrimônio, cometido por crianças ou adolescentes”. Somente haverá o ato infracional se a conduta for correspondente a uma hipótese prevista em lei que determine sanções ao seu autor (AQUINO, 2012).
O Estatuto da Criança e do Adolescente conceitua em seu art. 103 o ato infracional: “Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”. Desta forma, considera-se ato infracional todo fato típico, descrito como crime ou contravenção penal (AQUINO, 2012).
Tal definição decorre do princípio constitucional da legalidade. É preciso por tanto para a caracterização do ato infracional que este seja típico, antijurídico e culpável garantindo ao adolescente por um lado, um sistema compatível com o seu grau de responsabilização e por outro a coerência com os requisitos normativos provenientes da seara criminal. Assim, João Batista Costa Saraiva esclarece: “Não pode o adolescente ser punido onde não o seria o adulto” (SARAIVA, 2002).
Ainda, João Batista Costa Saraiva explica:
O garantismo penal impregna a normativa relativa ao adolescente infrator como forma de proteção desta em face de ação do Estado. A ação do Estado autorizando-se a sancionar o adolescente e infligir lhe uma medida socioeducativa fica condicionada a apuração dentro do devido processo legal que este agir típico se faz antijurídico e reprovável - daí culpável (SARAIVA, 2002, p.66).
O Estatuto ao definir o ato infracional, adotou um conteúdo certo e determinado, abandonando as expressões como ato antissocial, desvio de conduta e outros, designificado jurídico impreciso, afastando-se qualquer subjetivismo do intérprete quando da análise da ação ou omissão (PAULA, 2002).
Crianças e adolescentes podem praticar ações ilícitas ao preceito legal e são nomeados atos infracionais, desta forma, recebem tratamento distintos, como o disposto no art. 105 do ECA, estes somente obedecerão às medidas exclusivas previstas no art. 101 do mesmo diploma. Toda criança e adolescente recebem tratamento individualizado e especial, mesmo quando praticam condutas que sejam tipificadas no Código Penal (RAMIDOFF, 2008, 74).
Para RAMIDOFF:
A prática de ato infracional não se constitui numa conduta delituosa, precisamente por inexistir nas ações/omissões infracionais um dos elementos constitutivos e estruturantes do fato punível, isto é, a culpabilidade – a qual, por sua vez, não se encontra regularmente composta, precisamente por lhe faltar a imputabilidade, isto é, um elemento seu constitutivo e que representa a capacidade psíquica para regular a válida prática da conduta dita delituosa, enquanto decorrência mesmo da opção política do Constituinte de 1987/1988. Esta consignou a idade de maioridade penal em 18 (dezoito) anos, alinhando-se, assim, à diretriz internacional dos Direitos Humanos, como alternativa válida e legítima que reflete a soberania popular e a autodeterminação do povo brasileiro (RAMIDOFF, 2008, p. 75).
NATUREZA JURÍDICA DO ATO INFRACIONAL
No ordenamento jurídico brasileiro, os crimes e as contravenções penais só podem ser atribuídas, para efeitos da respectiva pena, às pessoas imputáveis, que via de regra, são as com mais de 18 anos de idade. Se a conduta ilícita partir de uma criança e adolescente, não será crime ou contravenção e sim um ato infracional em face da ausência de culpabilidade e consequente punibilidade (ENGEL, 2006).
Segundo o Desembargador Napoleão X. do Amarante:
Significa dizer que o fato atribuído à criança ou ao adolescente, embora enquadrável como crime ou contravenção, só pela circunstância de sua idade, não constitui crime ou contravenção, mas, na linguagem do legislador, simples ato infracional. O desajuste existe, mas, na acepção técnico-jurídica, a conduta do seu agente não configura uma ou outra daquelas modalidades de infração, por se tratar simplesmente de uma realidade diversa. Não se cuida de uma ficção, mas de uma entidade jurídica a encerrar a ideia de que também o tratamento a ser deferido ao seu agente é próprio e específico.
Assim, quando a ação ou omissão venha a ter o perfil de um daqueles ilícitos, atribuível, entretanto, à criança ou ao adolescente (v. art. 2°), são estes autores de ato infracional com consequências para a sociedade, igual ao crime e à contravenção, mas, mesmo assim, com contornos diversos, diante do aspecto da inimputabilidade e das medidas a lhes serem aplicadas, por não se assemelharem estas com as várias espécies de reprimendas (AMARANTE, 2002, p. 325).
No mesmo contexto Vater Kenji Ishilda:
Pela definição finalista, crime é o fato típico e antijurídico. A criança e o adolescente podem vir a cometer crime, mas não preenchem o requisito da culpabilidade, pressuposto da aplicação da pena. Isso porque a imputabilidade penal inicia-se somente aos 18 (dezoito) anos, ficando de medida socioeducativa por meio de incidência. Dessa forma, a conduta delituosa da criança e do adolescente é denominada de ato infracional, abrangendo tanto o crime como a contravenção (ISHILDA, 2001, p.160).
Para Paulo Lucio Nogueira: “O estatuto considera o ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Assim não há diferença entre crime e ato infracional, pois ambos constituem condutas contrarias ao direito positivo, já que se situa na categoria ilícito penal” (NOGUEIRA, 1998, p. 149).
Assim, tem-se duas correntes, uma qual a conduta praticada pela criança ou adolescente esteja revestida dos elementos que caracterização crime ou contravenção, e outra que não vislumbra a diferença entre ato infracional crime e contravenção (ENGEL, 2006).
Ato infracional praticado por criança e/ou adolescente
Com relação às crianças, pessoas de até doze anos de idade incompletos e, adolescentes de até dezoito anos de idade, que cometem infrações penais, o ECA excluiu da aplicação de medidas socioeducativas, e deu a aplicação de medidas de proteção, podendo elas serem aplicadas de forma isolada ou cumulativa.
O Estatuto da Criança e do Adolescente não especificou o procedimento na apuração do ato infracional, somente esclareceu que caberá ao Conselho Tutelar e não ao Juízo da Vara da Infância e Juventude a aplicação das medidas de proteção dispostas no art. 136, I do referido diploma.
APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL
Por serem as crianças e adolescentes dotados de condição especial de desenvolvimento, e as soluções dos problemas devem ser rápidas, pois a demora no atendimento podem produzir danos irreparáveis. Eles possuem ritmo de vida mais acelerado e a sensação de impunidade pode acarretar uma sequência de atos infracionais que resultarão em sua interação (UNIPLAC, 2010).
Assim, de acordo com art. 106 do ECA, o adolescente poderá ser apreendido em flagrante delito, no sentido que “nenhum adolescente será privado de sua liberdade, senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente”.
Desta forma, no art. 107 do mesmo diploma, diz que a apreensão do adolescente feita em flagrante deve ser imediatamente comunicada a autoridade judiciária competente, aos pais ou responsáveis ou quem ele indicar.
A autoridade policial deverá desde logo verificar a possibilidade da liberação do adolescente, isto, sob pena de responsabilização. O adolescente assina um termo de compromisso onde os pais se comprometerão em apresentar o adolescente ao representante do Ministério Público em dia determinado.
Poderá também o Ministério Público de acordo com o art. 180 do ECA, a promoção do arquivamento dos autos, a concessão de remissão ou ainda a representação à autoridade judiciária para a aplicação das medidas socioeducativas.
De acordo com o Estatuto, quanto ao arquivamento dos autos, deve ser pedido fundamentado na inexistência do ato infracional, inexistência da prova de participação do adolescente no ato, deve estar presente a excludente de antijuridicidade ou culpabilidade e inexistência de prova suficiente para a condenação (ELIZEU, 2010).
O art. 184 do referido diploma, assim como o art. 41 do Código de Processo Penal, a representação é oferecida por petição, observando o princípio do contraditório e ampla defesa, assim que recebida pelo juiz, o processo será iniciado.
Assim, o juiz poderá solicitar a apresentação do adolescente, fazendo por citação, bem como de seus pais ou responsáveis para que compareçam em juízo acompanhado de advogado. Se caso o adolescente não for encontrado, o juiz expedira mandado de busca e apreensão e o processo ficará suspenso até que seja o adolescente apresentado.
Assim que o adolescente se apresentar em juízo, será marcada audiência, onde será feito o interrogatório. Após serão ouvidos os pais ou responsáveis quando apreciará a aplicação da remissão. Caso não haja remissão o processo terá continuidade com a apresentação de defesa previa e rol de testemunhas, podendo o juiz determinar diligencias, neste caso será designada nova audiência (ELIZEU, 2010).
Concluída a oitiva das testemunhas, é dada a palavra ao Ministério Púbico e em seguida ao defensor. Poderão os debates serem substituídos por acusação e defesa escrita, desde que na forma de memoriais, nos preceitos legais. Logo após, será proferida a decisão do juiz, que poderá determinar a aplicação de uma das medidas socioeducativas, relacionados no art. 112 do ECA.
DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
De acordo com De Plácido Silva, conceitua proteção como:
Do latim protectio, de protegere (cobrir, amparar, abrigar), entende-se toda espécie de assistência ou de auxílio, prestado às coisas ou às pessoas, a fim de que se resguardem contra os males que lhes possam advir.Em certas circunstâncias, a prostituição revela-se o favor ou o benefício, tomando, assim, o caráter de privilégio ou de regalia. Desta acepção é que se deriva o conceito de protecionismo, na linguagem econômica e tributária (SILVA, 1999, p. 1121).
Com base no conceito retro, pode-se dizer que as medidas de proteção que estão previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente são aplicadas pela autoridade competente, sejam juízes, promotores, conselheiros tutelares, às crianças e adolescentes que tiveram seus direitos fundamentais ameaçados ou violados (ZAINAGHI, 2002).
O art. 98 do ECA estabelece que:
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente serão aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos, nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I –por ação ou omissão da sociedade ou Estado;
II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis;
III – em razão de sua conduta (BRASIL. Lei n. 8.069/90).
Na aplicação das medidas de proteção será levado em conta de acordo com o art. 100 do ECA, as necessidades pedagógicas, preferindo as que visam o fortalecimento dos vínculos familiares e sociais.
As medidas de proteção a serem aplicadas estão dispostas no art. 101 do referido Estatuto:
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I – encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II – orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III – matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV – inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
V – requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI – inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII – acolhimento institucional;
VIII – inclusão em programa de acolhimento familiar (BRASIL. Lei n. 8.069/90).
Observa-se que no disposto artigo, o legislador teve a preocupação em tocar tanto na criança quando na família, pois quando uma criança/adolescente comete ato infracional, entende-se que a base familiar não está bem, não conseguindo sustentar a criança dentro da sociedade (CASSANDRE, 2008, 34).
DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
O Estatuto da Criança e do Adolescente elenca as medidas socioeducativas no artigo 112 e seguintes, como consequências da prática de ato infracional praticado por adolescente, são elas:
Art. 112. Verificada a pratica de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I – advertência;
II – obrigação de reparar o dano;
III – prestação de serviços à comunidade;
IV – liberdade assistida;
V – inserção em regime de semiliberdade;
VI – internação em estabelecimento educacional;
VII – qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§1º. A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.
§2º. Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
§3º. Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições (BRASIL. Lei n. 8.069/90).
É necessário distinguir medidas socioeducativas de medidas de proteção, para DUPRET:
Faz-se necessário distinguir as medidas protetivas das medidas socioeducativas. As medidas protetivas podem ser plicadas tanto a criança quanto ao adolescente que se encontre em situação de risco. Já as medidas socioeducativas se restringem a situação de risco prevista no artigo 98, III, quando é o adolescente que se coloca nessa condição em razão de sua própria conduta, pela prática de ato infracional (DUPRET, 2010. p. 171).
De forma diferente da criança, o adolescente infrator é sujeito a tratamento mais severo, sendo o rol de medidas expresso na legislação taxativo e sua limitação deriva do princípio da legalidade, sendo proibida a imposição de medidas diferentes das enunciadas na legislação (MAIOR NETO, 2006. p. 378).
Entretanto, o ECA, ao mencionar sobre o enfrentamento da delinquência infanto-juvenil, não se resume apenas nas medidas citadas. Ao ser empregada a doutrina do princípio da proteção integral, o legislador admitiu que a forma mais eficaz de prevenção da criminalidade está no objetivo de derrotar a situação de marginalidade experimentada pela maioria das crianças e adolescentes (MAIOR NETO, 2006. p. 378).
É sabido que a principal finalidade das medidas socioeducativas é buscar a reeducação e ressocialização do menor infrator, possuindo um elemento de punição, tendo como finalidade impedir futuras condutas ilícitas. Não se pode negar o caráter não punitivo, entretanto, as medidas possuem semelhança com as penas previstas no Código Penal, tendo um caráter penal especial, como forma de retribuição ou punição imposta ao menor infrator (DA SILVA, 2008. p. 23).
DAS ESPÉCIES DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
No artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente estão elencadas as medidas de caráter socioeducativo aplicáveis aos adolescentes autores de atos infracionais.
É um rol taxativo, e não exemplificativo, sendo vedada a estipulação de medidas diferentes daquelas dispostas no referido artigo.
São previstas no artigo 112 do ECA as seguintes medidas:
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV- liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI- internação em estabelecimento educacional;
VII- qualquer uma das previstas no art.101, I a VI (BRASIL. Lei n. 8.069/90).
A aplicação da medida socioeducativa tem como objetivo impedir a reincidência entre os menores infratores, e sua finalidade é pedagógico-educativa.
De mais a mais, as medidas, tem caráter impositivo, pois não é de cunho do infrator escolher ou acatar a medida determinada. Possui, ainda, finalidade sancionatória, uma vez que descumprida a regra de convivência por meio de ação ou omissão do menor, ele responderá por seus atos na proporção de sua atitude, sendo-lhe aplicada a medida cabível e necessária.
DA ADVERTÊNCIA
Dispõe o art. 115 do ECA, que “A advertência consistirá na admoestação verbal, que será reduzida a termo e assinada”. O termo advertência significa admoestação, observação, aviso, ato de advertir.
É a primeira das medidas aplicáveis ao menor que revela comportamento antissocial, mas de menor gravidade. O menor será entregue a seus responsáveis, mediante advertência verbal, reduzida a termo e assinada pela autoridade judicial.
De acordo com Nogueira “a advertência deve ser a medida mais usada, uma vez que toda medida aplicada ao menor visa à sua integração sócio familiar”. (NOGUEIRA apud CHAVES, 1997, 517)
O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a aplicação da referida medida às seguintes situações:
a) ao adolescente, no caso de prática de ato infracional (art. 112, I, c/c o art. 103);
b) aos pais ou responsáveis, guardiões de fato ou de direito, tutores, curadores etc. (art. 129, VII);
c) às entidades governamentais ou não governamentais que atuam no planejamento e na execução de programas de proteção e socioeducativas destinados a crianças e adolescentes (art. 97, I, “a”, e II, “a”) (BRASIL. Lei n. 8.069/90).
De acordo com o artigo 114, parágrafo único do Estatuto, para que seja feita a advertência é necessária prova da materialidade do fato e indícios suficientes de autoria.
Nos dizeres de Mayara Yamada Dias Fonseca:
Sendo a advertência a mais leve das medidas socioeducativas, sua imposição dispensa a sindicância ou o procedimento contraditório, já que deve ser imposta mediante o boletim de ocorrência elaborado pela autoridade policial ou informação do comissário (FONSECA, 2006. p.34).
Entretanto, Cury, Silva e Mendez, entendem

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