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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE GEOLOGIA CRISTIANE MACIEL DE LIMA OCORRÊNCIA DE BARITA NO GRUPO BARREIRAS - LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA Salvador 2008 CRISTIANE MACIEL DE LIMA OCORRÊNCIA DE BARITA NO GRUPO BARREIRAS - LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA Monografia apresentada ao Curso de Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia. Orientador: Prof. Dr. JOSÉ HAROLDO DA SILVA SÁ SALVADOR 2008 TERMO DE APROVAÇÃO CRISTIANE MACIEL DE LIMA OCORRÊNCIA DE BARITA NO GRUPO BARREIRAS - LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora: BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. José Haroldo da Silva Sá Prof. Dr. Aroldo Misi Prof. Dr. Sérgio Augusto de Morais Nascimento Salvador, Dezembro de 2008 Dedico esta monografia aos meus pais, que sempre me apoiaram. AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar àquele que sempre foi e sempre será o primeiro, ao meu Pai Celestial, Jesus Cristo, o qual é a minha rocha principal, bendito seja o meu rochedo, Ele que sempre me amou, mesmo antes de o conhecer e ainda se fez como um de nós para que um dia tivéssemos acesso ao seu trono para lhe dar honra e graça, pois só Ele é merecedor! À minha família, na pessoa do meu pai Timoteo Maciel de Lima (in memoriam), que sempre me amou e ensinou muito do que sou hoje, à minha mãe Hilda Carlota de Almeida Lima, pela paciência e amor, aos meus irmãos: Stella(Teta), Ana Sueli(Su), Mary Grace(Gal) e João Paulo(Jhow), que sempre estiveram do meu lado, de uma forma ou de outra, aos sobrinhos: Lorena, Álvaro, Ana Paula, Felipe e Raul, que sempre trazem alegria e ingenuidade. Aos meus irmãos em Cristo, pessoas que me ajudam a caminhar perseverando na fé, sempre com muito amor, companheirismo e orações. À Universidade Federal da Bahia, conquista alcançada através de uma longa caminhada no ensino público, desde a infância. Ao Prof° José Haroldo da Silva Sá, pela paciência e dedicação em me orientar. Aos professores, Osmário Resende, Iracema Reimão, Flávio Sampaio, Antônio Marcos, Maria José Rego, Cícero Paixão, Vilton Fernandes, Ernandes, Sergio Nascimento, Joana Luz, Olivar Lima, Telésforo Marques, Aroldo Misi, José Castro, Simone Cruz, Johildo Barbosa, Abílio Bittencourt e Ângela Beatriz, pelos incentivos sempre prestados. Aos funcionário Joceane Cristina, Aldaci, Mércia, Alcilene, Deraldo, Claudionor, Edgar, Nea, Sales e Mônica, pela dedicação e paciência em servir. A CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral), pelo apoio nas análises químicas, na confecção das lâminas delgadas e impressão desta monografia. As minhas amigas “Lúcias”, Uyara Cabral Machado, Leila Tatiane, Ramille Daniele, Patrícia Campinho, Ana Maria, Joilma Santos, Ana Carolina, Andressa Tessari, Sâmia Silva e Rosenilda Paixão, descontração e aprendizado na medida certa. Aos amigos, Carlos Emanuel, André, Jofre e todos os colegas que de uma forma ou de outra colaboraram na construção deste trabalho. Que o Senhor Jesus Cristo abençoe a todos. RESUMO A ocorrência da Barita de Conde aflora num corte de estrada ao longo da BA-099 (Linha Verde), no km 142, no sentido Salvador Aracaju e esta inserida em uma lente de argilito do grupo Barreiras. Esta ocorrência de barita no grupo Barreiras é um fato inédito na metalogênese do Estado da Bahia, uma vez que nesta unidade geológica, até então, não se conhecia a presença de barita, o que trouxe questionamentos quanto às condições ambientas para a gênese desta ocorrência. O grupo Barreiras que já foi estudado por diversos autores, que ao descreverem a estratigrafia das suas unidades litológicas em diversos locais na costa do Brasil, observaram que seus ambientes de sedimentação podem variar desde continental, fluvial e lacustrino até o ambiente marinho. Além de acrescentar uma novidade à metalogênese do período Terciário no Estado da Bahia, os resultados deste trabalho também contribuem para a caracterização e evolução de parte dos ambientes geológicos durante a deposição do grupo Barreiras. PALAVRAS-CHAVE: Barita; Grupo Barreiras; Ambiente de Sedimentação e Argilominerais. ABSTRACT The occurance of barita of Conde occurs in a road section, on the BA-099 (Linha Verde), in the km 142, in the direction Salvador Aracaju and it is inserted in lens of “argilito” in the Barreiras group. These barite’s occurance in the Barreiras group it is a new fact on the metallogeny in the Bahia state, once in this geological unit, which has brought questions about the environmental conditions to this barite genesis. The Barreiras group, what has already been studied by a number of authors, who describes the stratigraph of their litological units in a lot of places in the Brazil cost, they observed that it’s sedimentation environment could vary from continental, river and lake united to marine environment. Besides to adding a new about the metallogeny of the Tertiary period in the State of Bahia, the results of this study also contribute to the characterization and evolution of geological environments during the deposition of the part of Barrieras group. KEY WORDS: Barite; Barreiras group; Sedimentation environment and Clay Minerals LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Mapa de situação e localização da área estudada 16 Figura 2 - Modelo Digital do Terreno. Fonte: Squivel (2006) 17 Figura 3 - Mapa da Tipologia climática do Estado da Bahia 20 Figura 4 - Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo. Fonte: Caixeta et. al. 1994)29 Figura 5 - Mapa Geológico entre a foz do Rio Itariri e a foz do Rio Itapicuru. Fonte: Vilas Boas et. al. (2005) 32 Figura 6 - Esquema de evolução do grupo Barreiras lato sensu na costa do Norte do Brasil. Arai. M. (2006) 42 Figura 7 – Desenho esquemático do afloramento do grupo Barreiras no local da ocorrência da barita, mostrando a posição relativa das camadas 53 Figura 8 - Difratograma da amostra CCH 1 normal 55 Figura 9 - Difratograma da amostra CCH 1 glicolada 55 Figura 10 - Difratograma da amostra CH 1 aquecida 55 Figura 11 - Difratograma da amostra CH 5 normal 55 Figura 8 - Difratograma da amostra CH 5 glicolada 55 Figura9 - Difratograma da amostra CH 5 aquecida 55 Figura 10 - Difratograma da amostra CH 6 normal 56 Figura 11 - Difratograma da amostra CH 6 glicolada 56 Figura 12 - Difratograma da amostra CH 6 aquecida 56 Figura 13 - Difratograma da amostra CH 8 normal 56 Figura 14 - Difratograma da amostra CH 8 glicolada 56 Figura 15 - Difratograma da amostra CH 8 aquecida 56 Figura 20 - Difratograma da amostra CH 2 normal 56 Figura 21 - Difratograma da amostra CH 4 normal 56 Figura 16 – Esboço de um modelo genético para a barita de Conde 58 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Estratigrafia e origem do Grupo Barreiras em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mabesoone et. al. (1972) 40 Tabela 2 - Resultado da análise química dos sedimentos do grupo Barreiras, na área da ocorrência da barita. As amostras grifadas de cinza são da encaixante da barita 57 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 15 1.1 HISTÓRICO 15 1.2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 15 1.2.1 Localização 15 1.2.2 Geomorfologia 16 1.2.2.1 Geomorfologia Regional 16 1.2.2.2 Geomorfologia Local 17 1.2.3 Clima 19 1.2.4 Vegetação 20 1.2.5 Hidrografia 23 1.2.6 Potencial Hidrogeológico 23 1.3 OBJETIVOS 24 1.4 METODOLOGIA 24 1.5 TRABALHOS ANTERIORES 25 2 GEOLOGIA DA ÁREA 27 2.1 GEOLOGIA REGIONAL 27 2.1.1 Cinturão Salvador-Esplanada 27 2.1.2 Bacia Sedimentar da Recôncavo – Tucano 28 2.1.3 Sedimentos Terciários 29 2.1.4 Sedimentos Quaternários 30 2.2 GEOLOGIA LOCAL 32 2.2.1 Grupo Barreiras 32 2.2.2 Leques Aluviais Coalescentes 33 2.2.3 Aluviões 33 2.2.4 Sedimentos de Praia 34 2.2.5 Dunas 34 2.2.6 Terraços Marinhos Holocênicos 34 2.2.7 Arenitos de Praia 34 2.3 GEOLOGIA ESTRUTURAL 35 3 O GRUPO BARREIRAS 36 4 AMBIENTES DE FORMAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE BARITA 44 4.1 INTRODUÇÃO 44 4.2 GEOLOGIA DA BARITA 45 4.3 AMBIENTES DE FORMAÇÃO DA BARITA NO BRASIL 46 4.3.1 Ambientes de depósitos hidrotermais associados com o magmatismo alcalino-carbonático 46 4.3.2 Ambientes de depósitos vulcano-sedimentares 46 4.3.3 Ambientes de depósitos sedimentares exalativos 47 4.3.4 Ambientes de depósitos hidrotermais filoneanos 47 4.3.5 Ambientes de depósitos associados à circulação de fluidos conatos 47 4.3.6 Ambientes de depósitos residuais 48 5 UMA PROPOSTA PARA O MODELO GENÉTICA O DA BARITA DE CONDE 49 5.1 CARACTERIZAÇÃO DA BARITA DE CONDE 49 5.2 CARACTERIZAÇÃO DA ROCHA ENCAIXANTE 52 5.2.1 Características Mineralógicas e Químicas 53 5.3 ESBOÇO DE UM MODELO GENÉTICO PARA A BARITA DE CONDE 57 6 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES 60 LISTA DE FOTOS FOTO 1 - Barita botroidal 50 FOTO 2 - Barita estalactitica 50 FOTO 3 – Barita placóide 50 FOTO 4 - Todos os tipos de amostras 50 FOTO 5 - Barita placóide (in situ), onde pode-se observar o crescimento dentro de pequenas fendas no argilito. 50 FOTO 6 - Barita estalactitica (in situ), mostrando crescimento vertical, também dentro de pequenas fendas no argilito50 FOTO 7 - Barita placóide (in situ), vista lateralmente, preenchendo uma fenda no argilito 51 FOTO 8 - Barita estalactitica (in situ), onde pode-se observar o crescimento Vertical 51 FOTO 9 - Barita botroidal (in situ) associada com hidróxido de ferro 51 FOTO 10 - Afloramento do argilito com a barita na parte Inferior da foto, as setas indicam a posição de algumas concreções de barita 51 LISTA DE FOTOMICROGRAFIAS FOTO 11 - Amostra CH 53 52 FOTO 12 - Amostra CH 53 52 FOTO 13 - Amostra CH 52 52 FOTO 14 - Amostra CH 55 52 FOTO 15 - Afloramento do grupo Barreiras no local da ocorrência da barita, mostrando a posição relativa das camadas 53 15 Capítulo I - Introdução 1.1 – Histórico Este trabalho é fruto da curiosidade gerada durante a disciplina Geologia de Campo II, no semestre 2006.1, quando, ao fazer a descrição geológica do Grupo Barreiras num corte de estrada da BA 099 (Linha Verde), nos deparamos com formas exóticas de cristais numa fácies argilosa desta formação e, depois de diversos questionamentos durante o semestre e algumas discussões e análises, concluiu-se que se tratava de uma ocorrência singular de barita no Grupo Barreiras, o que estimulou a busca por respostas aquele fato observado em campo. 1.2 – Caracterização da Área 1.2.1 – Localização A área pesquisada está localizada no Litoral Norte do Estado da Bahia, no município de Conde, a cerca de 150 km de Salvador, tendo seu ponto médio as coordenadas x = 645555 e y = 8682122. O principal acesso é pela BA 099 (Linha 16 Verde), partindo de Salvador até Conde; outro acesso é por Alagoinhas pela BR 101 até Esplanada e depois até Conde pela BA 233. (Figura 1) Ocorrência da Barita Figura 1 - Mapa de situação e localização da área estudada 1.2.2 – Geomorfologia 1.2.2.1 - Geomorfologia Regional Segundo Bittencourt et al (1979), as características fisiográficas e geomorfológicas do Litoral da Bahia foram divididas em 6 setores, sendo a região de Itapoan até Conde denominada de setor I, que é caracterizada por uma planície litorânea descontinua, representada pelo Grupo Barreiras. Nas zonas escavadas desta unidade encontram-se os depósitos quaternários. Neste setor ocorre também uma linha de arenitos de praia, praticamente continuo. Quanto ao retrabalhamento é possível reconhecer dois modelados distintos, um de dissecação e outro de acumulação. As altitudes variam desde o nível do mar até 154,9m, porem na área da ocorrência a altitude é de aproximadamente 85m, como mostra o mapa abaixo (Figura 2) 17 Figura 2 – Modelo Digital do Terreno. Fonte: SQUIVEL (2006) 1.2.2.2 - Geomorfologia Local Na região estão definidas as seguintes unidades geomorfológicas Lima et. al. (2006): 1-Praias; 2- Dunas; 3-Terraços marinhos holocênicos; 4-Leques aluviais; 5- grupo Barreiras, descritas a seguir: Unidades Geomorfológicas Praia Esta unidade esta relacionada com os processos morfogenéticos de origem marinha, o modelado é o de acumulação em toda a extensão mapeada, exceto na foz do rio Itariri, onde o modelado é o de dissecação sujeito a erosão moderada a 18 forte. O relevo é aplainado, porem com declividade de aproximadamente 4º. E subdividi-se em três zonas morfológicas distintas que são: • Antepraia, localizada na parte submersa no nível da maré baixa e se estende até o limite da plataforma continental. O relevo predominante é plano com uma declividade muito pequena. • Praia, zona que está localizada na porção intermaré, o relevo apresenta uma declividade maior que a anterior, mas esta zona ainda se configura como uma região plana. • Pós-praia, zona que se localiza a partir da maré alta até o cordão de dunas I, tendo esta a maior declividade que é de aproximadamente 4º. Dunas Ocorrem por toda a extensão da área estudada, margeando as praias, são separadas em dois cordões, um atual, que esta sofrendo retrabalhamento eólico das areias vindas da praia, e um outro cordão de dunas já imóveis (paleodunas). Este esta sofrendo dissecação e apresenta um relevo ondulado. Terraços Marinhos Holocênicos Nesta unidade, observa-se uma baixa altitude, em torno de 5 m, no máximo. É composta por sedimentos inconsolidados, com presença de matéria orgânica, possui um alto grau de infiltração devido a sua porosidade. É proveniente da acumulação marinha, nos locais onde afloram o nível estático tem-se a presença de lagoas. Leques Aluviais Pleistocênicos Unidade onde ocorre o modelado de dissecação homogênea, apresenta topos convexos, com vertentes convexas, essas formas dos topos decorrem do processo de denudação intenso responsável pelo rebaixamento da área e pela formação de morros caracterizados por pequenas elevações. Com cotas em torno de 50m. É uma área que esta sujeita a antropização. Grupo Barreiras Composto basicamente de sedimentos areno-argilosos e arenosos, dissecado homogeneamente pelos brejos e drenagens principais que formam a 19 bacia do rio Itariri, formando vales em ‘U’, com vertentes convexas e topos também convexos. Nesta unidade ocorrem alguns indicadores de erosão, como sulcos e ravinas, localizados ao longo da Linha Verde. Estão associados a forte antropização com a retirada quase que total da vegetação natural, o que diminui a sustentabilidade dos solos e sedimentos. Como sinais da ação antrópica, foram observados: cortes e aterros ao longo da Linha Verde, e nas estradas secundárias. O modelado é uma resposta aos processos de escoamento laminar difuso, este vinculado às zonas de baixa e média declividade, com vegetação natural ainda preservada, e as zonas sujeitas a erosão fraca á moderada; e escoamento laminar severo, em vertentes de alta declividade. 1.2.3 – Clima A região apresenta, segundo PROJETO RADAMBRASIL (1983), um clima tropical megatérmico, fato este reforçado pelas baixas altitudes do seu relevo, que poucas vezes ultrapassam 100m na área de estudo. A ação reguladora do Oceano Atlântico é exercida sobre a extensa área costeira, que se estende de Salvador ao Conde, e se manifesta não apenas nos índices térmicos, mas, sobretudo, na intensidade das chuvas e no regime pluvial, sendo marítimos os ventos que trazem os sistemas meteorológicos portadores de chuvas. O clima predominante na região é o tropical chuvoso, com seca na primavera- verão. Sua estrutura pluvial modela-se de sul para norte e de leste para oeste. A intensidade das chuvas decresce de Salvador (2.099mm anuais) para Conde(1.450mm anuais). O grau decrescente de pluviosidade na direção sul-norte não altera o regime das chuvas, que é o mesmo em toda a área, sendo o outono-inverno o período mais chuvoso, isto nos mês de maio e a primavera-verão o mais seco, isto nos meses de setembro e janeiro. Habitualmente, a região é dominada pelos ventos alísios de SE, que assumem também a direção E ou NE, no verão, estes são ventos reguladores e constantes (brisas), com velocidade fraca. As variações térmicas não são relevantes e as isotermas anuais de 25ºC e 24ºC se distribuem por toda a região. Pelas suas relações com a temperatura, às variações dos elementos umidade relativa, nebulosidade, evaporação e insolação são pouco relevantes (Figura 3). 20 Figura 3 - Mapa da Tipologia climática do Estado da Bahia 1.2.4 – Vegetação Na área de estudo foram encontrados IV domínios fitoecológicos: I Floresta Ombrófila e Mata Ciliar, II Restingas, III Áreas Antropizadas, IV Vegetação de água Doce e Salobra, descritos detalhadamente a seguir : Domínio I – Floresta Ombrófila e Mata Ciliar Florestas Ombrófilas Na área está localizada, segundo Lima A. C. S. (2005), numa faixa de Mata Atlântica que passou a fazer parte da Reserva da Biosfera pela Unesco, desde 1993, através do programa MaB13 UNESCO, que a incluiu nesse patamar internacional deveras importante em termos de conservação ambiental, ocupam pequenas áreas, associadas aos sedimentos areno-argilosos do grupo Barreiras. Esta Vegetação funciona como importante fornecedor de nutrientes que alimentam os cursos de água. Funciona também como um importante estabilizador de nível de erosão, protegendo a qualidade hídrica e biota. Caracterizada por uma fisionomia arbórea fechada, formada por várias espécies com altura media de 120 a 20 metros. Mata Ciliar 21 Representa uma pequena parte da vegetação natural da área, representando as mesmas características e variedades de espécie encontrados na Floresta Ombrófila, sendo diferenciada apenas em termos de localização e função, já que esta localizada apenas nas margens do rio Itariri e seus afluentes. Atua como área de proteção contra a erosão, funcionando como corredores de fauna entre áreas entre a montante e a jusante da bacia. As raízes das árvores que compõe esta mata ajudam a fixar o solo evitando o assoreamento e fazendo com que os mananciais hídricos subterrâneos sejam constantemente realimentados pela infiltração das águas pluviais, contribuindo diretamente com o volume de água e da alteração da temperatura do ecossistema aquático. A mata serve como habitat de várias espécies da fauna, Domínio II – Restingas Restinga em Duna Esta unidade representa um compartimento próprio por sua distribuição territorial restrita, estando associadas aos cordões de dunas I e II. Essas áreas são de difícil sobrevivência para os vegetais por uma série de fatores tais como, falta de água, devido a excessiva porosidade, escassez de nutrientes das areias quartzosas, alta salinidade, temperatura e forte ações dos ventos marinhos. Apresentam uma mistura de tipologia herbácea e arbustiva. Predominando arbustos de ramos retorcidos formando moitas intercaladas com espaços abertos ou em aglomerados contínuos com plantas de até 3 metros de altura, poucas plantas epífitas, representadas por liquens, samambaias, bromélias e orquídeas. Trepadeiras ocorrem com mais abundância e diversidade e o estrato herbáceo também é freqüente. Restinga de Praia Esta unidade de vegetação vai desde o nível de maré mais alta e o continente, até o limite com o terraço marinho holocênico abrangendo não só essas faixas arenosas, como também o pós-praia, representado pelos cordões dunas. A vegetação possui um porte herbáceo, de caules longos e prostados que funcionam como barreira à movimentação da areia. A unidade é constituída por 22 plantas herbáceas altamente adaptadas a salinidade, ainda apresenta uma distribuição esparsa ou recobrindo totalmente a areia. Domínio III - Áreas Antropizadas Coqueiral Predominam nas áreas mais próximas à praia já que a cultura de coco se adapta especialmente bem aos solos baixos, arenosos e pouco férteis dos terraços marinhos, associados aos sedimentos do quaternário costeiro, apresenta uma distribuição espacial bastante definida e nítida. O impacto dessa atividade esta relacionado apenas na total eliminação da cobertura vegetal de restinga, os coqueirais representam elemento típico da costa do litoral norte, historicamente integrados à paisagem e à economia regional. Área ocupada por pastagem Abrange uma área extensa, que foi desmatada para construção de pastos e plantação em pequena escala de agricultura de subsistência. Os impactos ambientais dessa atividade esta associada ao aumento do nível de erosão produzindo progressivo assoreamento dos cursos de água, principalmente quando desenvolvidas em vertentes com alta declividade e onde ocorre a remoção das matas ciliares originais. Capoeira A vegetação local encontra-se em diversos estágios de recuperação, desde a fase final até a avançada. No campo foi observado áreas de vegetação natural queimadas para serem transformadas em pastagens ou cultivos agrícolas. As queimadas provocam um aumento na acidez do solo, ocasionada pela queima de matéria orgânica e destruição dos organismos, ocasionando uma modificação drástica na paisagem. Domínio IV - Vegetação de água Doce e Salobra Este domínio é formado por áreas cobertas temporariamente por água doce e salobra, formadas a partir da exudação de águas subterrâneas associadas a 23 aqüíferos formados nos sedimentos Tércio-Quaternários arenosos e fluxo das marés, onde sobrevivem espécies vegetais bastantes características desses ambientes. Neste domínio foram encontradas as seguintes unidades: Brejos Representam áreas potencialmente inundáveis dos cursos de água ao longo da área, cortando o Tabuleiro Costeiro e a Planície litorânea. Apresentam vegetação hidrófila com fisionomia herbácea e com pequena altura podendo chegar até 2 metros no caso. Manguezais O manguezal da área esta compreendido desde a foz do rio Itariri até o limite maxímo de atuação da água do mar. Um número pequeno de espécies forma associações muito densas, apresentando forma arbustiva e arbórea, de raízes aéreas, com árvores de cerca de 4 m de altura. 1.2.5 – Hidrografia A área estudada esta inserida na sub-bacia do Rio Itariri, que esta contida na bacia hidrográfica do Rio Inhambupe. Os limites desta bacia hidrográfica encontram- se nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs), ou seja, APA do Litoral Norte e de Mangue Seco A área de drenagem do Rio Inhambupe corresponde a um total de aproximadamente 36.440 km2. Já a sub-bacia do Rio Itariri possui uma área de 367 km2, é estreita e não possui afluentes expressivos. O índice pluviométrico é de 1.6000 mm/ano. Tem como rio principal o Rio Itariri e como principal afluente o rio Mucambo com 22,2 km de extensão. Com sua foz no Povoado de Barra do Itariri. 1.2.6 - Potencial Hidrogeológico A bacia do rio Inhambupe apresenta condições bastante privilegiadas no que diz respeito à ocorrência de água subterrânea, considerando que se encontra num ambiente geológico extremamente favorável. Esta bacia mostra um potencial 24 hidrogeológico que se caracteriza com um dos melhores do Estado da Bahia, tanto em quantidade como em qualidade. Na área de estudo predominaos sedimentos do grupo Barreiras sobre o embasamento cristalino conferindo localmente a esse sistema melhores condições de alimentação, qualidade da água e vazão. Tal aspecto o classifica como um aqüífero misto Granular/Fissural. Neste domínio a ocorrência de água subterrânea está associada aos sedimentos do grupo Barreiras e os depósitos aluvionares, que funcionam como alimentadores para o aqüífero fissural cristalino. 1.3 – Objetivos Esta monografia tem como objetivo geral descrever e investigar as condições de formação da ocorrência de barita e propor o modelo genético da barita no grupo Barreiras no Litoral Norte do Estado da Bahia. 1.4 – Metodologia Durante a pesquisa houve o desenvolvimento das seguintes fases: → Levantamento bibliográfico, sobre o tema e formulação da proposta de trabalho, onde foram consultados artigos científicos, textos e alguns livros que abordam assuntos sobre as formas de ocorrência da barita no Brasil, formação Barreiras e dados relativos à área, como: fotografias aéreas, mapas, poços (CERB, 1973). A partir de então a pesquisa tomou diversos enfoques, em diferentes escalas de observação, apoiadas principalmente, nas características e propriedades geológicas, mineralógicas e geoquímicas da ocorrência da barita. → Trabalhos de campo: • Para o reconhecimento das unidades do grupo Barreiras; • Coleta de amostras. → Trabalhos de laboratório: • Identificação das argilas, com o uso da técnica de Difração de Raios-X, mais indicadas para a determinação de argilominerais, pois como alguns cristais tem os 25 átomos ordenados em planos cristalinos separados entre si por distâncias da mesma ordem de grandeza dos comprimentos de onda dos raios X; • Como também análise químicas ICP para “trinta elementos”, nos sedimentos, para a determinação das concentrações dos elementos químicos; • Estudos petrográficos em lâminas delgadas de amostras de agregados de barita. → Trabalhos de escritório: • Análise, interpretação e integração dos dados e informações obtidas no campo e laboratório; • Elaboração do texto (em forma de monografia). 1.5 – Trabalhos Anteriores A primeira referência conhecida ao termo Barreiras data de 1500, na carta de Pero Vaz de Caminha, “... traz ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas... “. Segundo Chignone (1979). Quanto à primeira descrição litológica do grupo Barreiras, foi feita por Branner (1902, apud Lima. C. C. U. 2002), utilizando a terminologia Barreiras, para nomear as camadas sedimentares expostas nos tabuleiros da costa atlântica do nordeste brasileiro. Inicialmente, essa denominação tinha apenas um caráter morfológico, pois foi denominado Barreiras os tabuleiros formados por sedimentos inconsolidados ou pouco consolidados que ocorrem ao longo do litoral. Que sugestivamente se apresentam como falésias (Barreiras), formadas pelo trabalho erosivo do mar. Bigarella e Andrade (1964) propõem à denominação de Grupo Barreiras em substituição a nomenclatura antiga de “série” ou “Formação Barreiras” por concluírem um conjunto de formações pós-Formação Cabo e de uma superfície de discordância erosiva, observando que toda seqüência poderia ser subdividida em duas formações, a inferior de Formação Guararapes e a superior de Formação Riacho Morno. Constituídas dos materiais clásticos fornecidos pelos aplainamentos e pedimentos cenozóicos. Mabesoone et al. (1972) propuseram a divisão do grupo Barreiras em três unidades estratigráficas distintas, que são: a formação Macaíba; a formação Guararapes e a formação Serra dos Martins, cada uma caracterizada por uma capa de intemperismo típico. 26 Vilas Boas et. al. (2005) observaram que o Grupo Barreiras é uma cobertura sedimentar terrígena, de idade Miocênica a Pleistocênica Inferior, que tem grande ocorrência ao longo do litoral brasileiro, e que apresentam características sedimentológicas indicativas de uma deposição por sistemas fluviais. Arai M. (2006) concluiu que o Sistema Pirabas/ Barreiras Inferior foi depositado durante a subida eustática ocorrida no intervalo Aquitaniano – Serravalliano (Eomioceno a Mesomioceno). Segundo este autor a unidade Barreiras Superior foi depositada no Plioceno, existindo, entre esta e a unidade Barreiras Inferior, a Discordância Tortoniana, ou seja, durante a evolução da deposição dos sedimentos conhecidos como Grupo Barreiras houve uma transgressão marinha, que deixou algumas evidências ao longo da costa do Brasil. Squivel (2006) relata que a morfologia da “Formação” Barreiras corresponde às áreas de tabuleiros costeiros ou relevos de topos tabulares, encostas retilíneas e declivosas e vales alargados em forma de “U” e quando aflorante em sua base o embasamento apresentam-se como formações colinosas de topo convexo com vertentes do tipo convexas, convexo-côncavas e retilíneas, bastante dissecadas por vales em forma de “V” em diversos graus de aprofundamento que se destacam topograficamente das unidades integrantes da planície costeira (Squivel apud Nunes et al. 1981). Domingues et. al. (2008) também propõem uma origem marinha para parte do grupo Barreiras, pois segundo estes autores, uma origem marinha para a “Formação Barreiras” é muito mais consistente que uma origem puramente fluvial uma vez que consegue explicar e conciliar várias observações a respeito desta unidade. 27 Capítulo II – Geologia da Área 2.1 – Geologia Regional A geologia regional do Litoral Norte da Bahia está representada, pelas rochas Paleoproterozóicas do Cinturão Salvador-Esplanada, pela Bacia Sedimentar do Recôncavo-Tucano, pelos sedimentos do Terciário e pelos sedimentos do Quaternário. 2.1.1 - Cinturão Salvador-Esplanada No Cinturão Salvador-Esplanada, Segundo Barbosa (1996), ocorrem rochas granodioríticas, graniticas, gnaisses e anfibolitos, que foram afetadas por uma sucessão de cisalhamentos dúcteis, transcorrentes, com as foliações variando de N45°E a N65°E, com mergulhos subverticais, alinhado na direção principal N45°E, onde as cidades de Salvador e Esplanada, estão inclusas. Segundo Barbosa (1996) apud Oliveira Júnior (1990), toda a região foi submetida ao metamorfismo da fácies anfibolíto alto a granulito, com posterior retrometamorfismo à fácies anfibolito médio a baixo (epidoto-anfibolíto), nas partes medianamente deformadas. A idade das rochas nas imediações de Esplanada foi determinada pelas isócronas Rb-Sr Barbosa, op. cit, como do Proterozóico Inferior. 28 2.1.2 - Bacia Sedimentar do Recôncavo-Tucano Esta Unidade litoestratigrafica, segundo Ghignone (1979), faz parte da Bacia Recôncavo-Tucano, que contém unidades de espesso pacote sedimentar pertencente ao Supergrupo Bahia, os quais na geologia regional incluem os sedimentos permo-triássicos/jurássicos do grupo Brotas, que é constituído pelas formações Aliança e Sergi. A formação Aliança é composta de folhelhos, calcários, evaporitos e conglomerados no membro Afligidos e arenitos vermelhos, pintalgados de branco no membro Boipeba, e a formação Sergi, que situa-se estratigraficamente acima da formação Aliança, é constituída de arenitos finos, médios e grosseiros, de coloração variada entre branco e amarelo. De idade cretácica inferior têm-se os grupos Santo Amaro, Ilhas e a formação São Sebastião. O grupo Santo Amaro é composto, da base para o topo, pelas formações Itaparica e Água Grande que é representado por arenito cinza esbranquiçadoa cinza-esverdeados, quartzosos às vezes feldspatico, fino a médio, raramente grosso a conglomerática, localmente com estratificações cruzadas. Formação Candeias é composta por folhelhos e siltitos, contendo intercalações finas de calcarias, dolomitos e espessos corpos de arenitos maciços. O grupo Ilhas é constituído, de baixo para cima, pelas formações Marfim, Taquipe e Pojuca. A formação Marfim constitui-se predominantemente de arenitos finos a silticos, raramente grossos, cinza-claro a esverdeado, com matriz argilosa, fragmento de carvão e de folhelhos, distribuídos por folhelhos cinza com estratificação paralela localmente piritoso, contendo níveis de marga castanha, mole. A formação Pojuca consiste em arenitos, folhelhos, siltitos e calcários intercalados. Por fim a Formação São Sebastião que é constituída de arenitos grassos a finos, amarelos-avermelhados, friáveis, feldspático, intercalados com argilas silticas, variegadas. De idade Albiano-Aptiano há a formação Marizal composta de arenitos, conglomerados, folhelhos e calcários. Os conglomerados, que ocupam a base da formação são médios a grossos apresentam-se maciços ou estratificados, possuem matriz dominantemente arenosa e podem conter seixos e calhaus de gnaisse, arenito, calcário, quartzo, sílex, siltitos, lamito, quartzito e rochas ígneas básicas. 29 Muitas vezes, os clastos apresentam-se imbricados, a seguir esta a carta estratigráfica da bacia do Recôncavo, (Figura 4). Figura 4 – Carta Estratigráfica da Bacia do Recôncavo. Caixeta et. al. (1994) 2.1.3 - Sedimentos Terciários Fazendo parte dos sedimentos terciários tem-se a formação Sabiá e o grupo Barreiras. A formação Sabiá apesar de apresentar poucos afloramentos é identificada por ocupar terrenos baixos e planos, com vegetação de gramínea e é composta, segundo Bittencourt (1996) apud Viana at al. (1971) por folhelhos cinza- esverdeados e amarelados, às vezes siltícos ricos em foraminíferos com 30 intercalação de arenitos finos a sílticos, de coloração amarela-clara, muito micáceos e finas lentes de calcários amarelos-alanrajados, argilosos muito fossilíferos. O grupo Barreiras é composto de areias finas a grossas, argilas com coloração de alterações vermelhas, roxa, amarelada e branca. Arenitos finos com níveis conglomeráticos, de matriz cauliníca, pouco consolidados, pobremente selecionados. As areias e argilas apresentam estratificações cruzadas planar, laminações plano-paralela, tendo na base um conglomerado maciço, e os arenitos com níveis conglomeraticos apresentam-se maciço. Ainda á observado uma discordância predominantemente erosiva entre as unidades de areia e argila e a do arenito maciço. 2.1.4 - Sedimentos Quaternários Os sedimentos que fazem parte desta unidade são os terraços marinhos, os leques aluviais coalescentes, as dunas, os depósitos fluviolagunares e os arenitos de praia. Os terraços marinhos se dividem em pleistocenicos e holocênicos, Os Pleistocênicos são encontrados na planície costeira e foram formados pela progradação da linha de costa que ocorreu no período de regressão marinha, após o máximo da Penúltima Transgressão Squivel (2008) apud Bittencourt et al. (1979), a cerca de 120 mil anos atrás. Estes depósitos sedimentares apresentam-se sob a forma de terraços arenosos com altimetria máxima em torno de 7 a 10 metros acima do nível do mar atual, é constituído por areias quartzozas de coloração branca e textura variando de areia fina a média. Os terraços marinhos holocênicos são depósitos de areias litorâneas regressivas que constituem um terraço arenoso desenvolvido a partir do máximo da última transgressão, a cerca de 5.100 anos atrás Squivel (2008) apud Bittencourt et al. (1978). Estes depósitos são constituídos por areias quartzozas bem selecionadas, de coloração ocre-amarelada, contendo biodetritos e estão separados dos terraços marinhos pleistocênicos por uma área baixa ocupada por zonas úmidas. 31 Leques aluviais coalescentes são encontrados em diferentes locais da costa, normalmente encostados no sopé de elevações, e com topos situados de 15 a 20 m acima do nível atual do mar. Constituem depósitos de areias brancas mal selecionadas, e contendo seixos arredondados a angulosos. Tendo em visto a sua extensão, características sedimentológicas, posição aos pés das encostas e, em alguns casos, a forma em leque dos depósitos, esses sedimentos foram considerados por Vilas Boas et al. (1979,1985) como continentais, do tipo depósitos de leques aluviais coalescentes, o que implica, para a sua formação, condições climáticas totalmente diferentes das atuais, clima do tipo semi-árido com chuvas esparsas e violentas. As dunas foram identificadas baseando-se nas características macroscópica de suas areias, bem como as relações de contato com outros depósitos quaternários que ocorrem na região, foram observadas três gerações de dunas; as dunas internas, as dunas externas e os cordões de dunas. De uma maneira geral são constituídas de areias finas, bem selecionadas, predominantemente quartzosas, e com graus de arredondamento dependendo da área-fonte que, pode ter sido tanto os depósitos de leques aluviais anteriores à penúltima transgressão, quanto aos sedimentos dos terraços relacionados com a mesma ou, ainda, as praias atuais. Os depósitos fluviolagunares sãs compostos de sedimentos lagunares tipicamente argilo-siltosos, de cor cinza a preta, ricos em matéria orgânica e contendo conchas marinhas e lagunares. Esses sedimentos foram depositados em antigas lagunas formadas durante a parte terminal da última transgressão que, tendo cortadas suas comunicações com o mar na regressão subseqüente, foram colmatadas e evoluíram para os pântanos. Quanto aos terraços fluviais, são siltico- argilosos, constituídos basicamente de sedimentos de diques marginais, barra de meandro e de canal abandonado. Os arenitos de praia localizam-se desde a zona de antepraia até dezenas de metros mar adentro, estando sempre alinhados paralelamente sub-paralelamente à linha de costa. Ocorrem formando corpos rochosos tabulares estratificados constituídos predominantemente por areias quartzosas e fragmentos de conchas por cimento carbonático apresentam fraturas ortogonais. 32 2.2 – Geologia Local Na área de estudo, é possível observar três unidades litológicas: As rochas do embasamento cristalino, representada pelo Cinturão Salvador-Esplanada; Os sedimentos terciários aqui representados pelo grupo Barreiras, foco principal desta pesquisa, que será detalhado a seguir e os sedimentos quaternários, abaixo observa-se o mapa geológico da área (Figura 5). N OCORRÊNCIA DA BARITA Figura 5 – Mapa Geológico entre a foz do Rio Itariri e a foz do Rio Itapicuru. Fonte: Vilas Boas (2005) 2.2.1 - Grupo Barreiras É importante ressaltar, que neste trabalho se usa a denominação de grupo, ao sedimentos do Barreiras, apesar de que no Litoral Norte do Estado da Bahia não foi observado o perfil típico, estudado pelos autores, que se encontram no capítulo III. Foi observado em campo, que os sedimentos do Grupo Barreiras se apresentam da base para o topo composto de conglomerado, com pouca matriz de composição arenosa, sendo que os seixos apresentam forma sub-arredondados e, subindo na estratigrafia este conglomerado vai intercalando com camadas deargila ferruginosa. 33 Outra unidade é representada por um arenito de coloração branca a creme, e arenitos cascalhosos, os grãos são arredondados a sub-arredondados, com estratificação sub-horizontal e em alguns locais apresentam estratificação cruzada. Fazendo um limite gradual e lateral com o arenito ocorre uma fácies argilosa de coloração cinza esverdeada que não apresenta estratificação visível, suas dimensões são de no máximo 10m de espessura por 100m aproximadamente de comprimento, imediatamente acima há outra fácies argilosa, porém de coloração ferruginosa e estrutura planar sub-horizontal, todo este pacote esta sendo cortado por um superfície erosiva, onde na parte superior foi depositado um arenito conglomerático de coloração amarelada e grãos sub-arredondados a arredondados. 2.2.2 - Leques Aluviais Coalescentes Sobrepostos aos arenitos conglomeráticos, que estão no topo do Barreiras encontra-se em diferentes locais da costa, normalmente encostados no sopé de elevações, cujos topos estão situados de 15 a 20 m acima do nível atual do mar, os leques aluviais coalescentes. Constituem depósitos de areias brancas mal selecionadas, que contem seixos arredondados a angulosos. Tendo em visto a sua extensão, características sedimentologicas e posição aos pés das encostas e, em alguns casos, a forma em leque dos depósitos, esses sedimentos foram considerados por Vilas Boas et al. (1979,1985) como continentais, do tipo depósitos de leques aluviais coalescentes, o que implica, para a sua formação, condições climáticas totalmente diferentes das atuais, clima do tipo semi-árido com chuvas esparsas e violentas. 2.2.3 – Aluviões São sedimentos quaternários que ocorrem associados ao rio Itariri e seus afluentes. São mais desenvolvidos no delta do rio Itariri e regiões de restinga. Iniciam o seu desenvolvimento nos médios cursos, crescendo à medida que se aproximam dos baixos cursos e na embocadura do rio, alcançam larguras consideráveis nos vales e próximo à orla. Esses aluviões são representados por areias finas a grosseiras, de cores variadas, incluindo cascalheiras, argilas e matéria orgânica em decomposição. 34 2.2.4 - Sedimentos de Praia A praia é subdividida em três feições morfológicas: Ante-praia, praia e pós- praia, que geral apresentam areia de granulometria média composta por quartzo, minerais opacos e carbonáticos, de coloração amarelado, branco, e preto dando um aspecto geral com tonalidade bege, os grãos são arredondados a sub- arredondados, sendo que nos sedimentos do pós-praia há presença de organismos. 2.2.5 – Dunas As dunas estão divididas em: Cordão de Dunas I que esta situado logo após a pós-praia adentrando para o continente, apresenta uma altitude média de dois metros e suas características são de areia com granulometria média, composto de quartzo, minerais opacos e carbonáticos, de coloração amarelado, branco e preto dando um aspecto geral com tonalidade bege, os grãos são arredondados a subarredondados; Cordão de Dunas II, que encontra-se logo após os terraços marinhos holocênicos, no sentido oeste, sua altitude é de aproximadamente oito metros e seus sedimentos arenosos de granulometria fina e de coloração superficial esbranquiçada que possui composição do Cordão de Dunas I, além de matéria orgânica provinda da vegetação de restinga típica dessa área. 2.2.6 - Terraços Marinhos Holocênicos Está localizado após o cordão de dunas I, apresenta uma área topograficamente baixa e plana, onde inclusive se observa formações de lagoas, resultantes de afloramentos do nível estático, a granulometria dos sedimentos arenosos varia de média a fina, com coloração superficial branca, é essencialmente composta de quartzo, minerais opacos e carbonáticos, além de matéria orgânica. 2.2.7 - Arenitos de Praia Localizam-se numa estreita área no encontro do mar com o rio Itariri, estando sempre alinhados paralelamente sub-paralelamente à linha de costa. Ocorrem formando corpos rochosos tabulares estratificados constituídos predominantemente 35 por areias quartzosas e fragmentos de conchas, litificadas por cimento carbonático, apresentam fraturas ortogonais. 2.3 - Geologia Estrutural Evidencias de neotectonismo foram observadas, segundo Santos et. al. (2006) apud Silva & Tricart (1980) nos sedimentos da Formação Barreiras, no litoral sul da Bahia. A primeira dela seria basculamento suave para sudeste que, segundo esses autores se prolongaria por toda a plataforma ocidental. Também foram observados vários alinhamentos de vales e áreas deprimidas que estão direcionados segundo as orientações dos afloramentos do embasamento pré-cambriano, o que representa uma reativação recente dessas linhas de fraqueza. Santos ap. cit. apud Lima & Vilas Boas (1999), estudando as falésias do grupo Barreiras no litoral sul da Bahia, citando algumas evidencias de neotectonismo associadas a esse complexo sedimentar, observou que o sistema de alinhamento dessa região, possui um paralelismo com a linha de costa, indicando provavelmente um controle estrutural na deposição de sedimentos como possível reativação de falhas pertencentes a esses alinhamentos. Do ponto de vista geotectônico, essas feições provam que apesar da estabilidade relativa do território brasileiro, existiu atividade tectônica na zona costeira, durante o Quaternário. Do ponto de vista geomorfológico fica evidente que o tectonismo atual é um dos principais mecanismos controladores dos processos de modelamento do terreno. Na área de estudo foram observados nos arenitos de praia, sistemas de fraturas ortogonais e perpendiculares à atual linha de praia. No grupo Barreiras, ao longo da Linha Verde, foram observados falhamentos escalonados e fraturas bem definidas, com direção predominante NNE, Santos et. al. (2006). 36 Capítulo III – O Grupo Barreiras Este capítulo específico sobre o Grupo Barreiras fez-se necessário pois a ocorrência de barita aqui estudada, teria, em princípio, incompatibilidade com o ambiente geológico que normalmente se considera, na maioria da literatura anterior, para a formação desta unidade geológica. Os depósitos sedimentares reunidos no chamado grupo Barreiras vem sendo objeto de estudo desde o início do século passado, corresponde aos sedimentos siliciclásticos que afloram na costa do Brasil, de uma forma quase continua do Amapá até o Rio de Janeiro e apresenta uma grande variação litológica, que foi observada por Matoso e Robertson (1959). Admite-se ao Barreiras idade Pliocênica, porém é possível que haja segundo os autores (op. cit.) depósitos mais antigos e mais novos, num intervalo de tempo que vá desde o Cretáceo Superior até o Quaternário. Pelo fato destes sedimentos ocorrerem numa faixa muito extensa do território brasileiro e sua variedade litológica, os ambientes de deposição podem variar desde continental, fluvial e lacustrino até o ambiente marinho, Matoso e Robertson (op. cit.). 37 Bigarella e Andrade (1964) numa tentativa de subdividir as seqüências sedimentares do “Barreiras” por entenderem como impróprias as denominações de “Série” ou “Formação” realizaram uma pesquisa baseada na metodologia da estratigráfica moderna, aplicando conceitos geomorfológicos, morfoclimáticos, estruturais e texturais. Propuseram então a denominação de grupo Barreiras, por interpretarem duas formações distintas, na cidade de Recife, a saber: Formação Guararapes como sendo a porção basaldo grupo Barreiras, é uma seqüência de sedimentos de granulação fina a grosseira, pouco consolidada e variam desde sedimentos argilo-sílticos a arenosos, que são quase sempre mal selecionados e apresentam seixos de quartzo e feldspato. A deposição da formação Guararapes segundo Bigarella e Andrade (op. cit) ocorreu através de processos de deslocamento de fluido, com corridas de lama, alternando com corridas de areia, o que originou a falta de seleção. A origem desta formação esta relacionada a uma grande flexura regional na zona costeira, fazendo com que a juzante houvesse uma deposição dos sedimentos que foram erodidos anteriormente. Na sua porção superior há a formação Riacho Morno, que foi depositado em discordância erosiva sobre a formação Gaurarapes. Na secção tipo, duas litologias fundamentais ocorrem: i) – sedimento siltico-argiloso, até arenoso, de espessura muito variável lateralmente, com coloração cinza esbranquiçada e mosqueada, sem estratificação e com presença de grânulos esparsos; ii) – sedimentos arenosos mal selecionados, com linhas de seixos, sem estratificação, revelando acabamento incipiente só representando corridas de areia. Segundo Mabesoone (1966) o nordeste brasileiro é caracterizado por um relevo de vários pediplanos e os seus depósitos correlativos. Na região costeira o autor distinguiu pelo menos quatro formações diferentes, cobertas por vários depósitos de idade relativamente recente. Em seu trabalho em 1972 Mabesoone publicou um artigo intitulado “Estratigrafia e origem do Grupo Barreiras em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte” com o intuito de oferecer uma contribuição local ao conhecimento sobre os sedimentos Barreiras e que servisse de base para interpretações futuras. Tendo como base os trabalhos feitos por Bigarella e Andrade (1964), como já foi citado, que designou ao Barreiras a nomenclatura de Grupo e o subdividiu em duas Formações, Guararapes e Riacho Morno, Mabesoone colocou em dúvida esta subdivisão, pois sedimentologicamente as duas formações não podem ser distinguidas, indicando assim um mesmo ambiente de deposição 38 apud Mabesoone (1966, 1967) e, no lugar do afloramento, a formação Guararapes é caracterizada por uma estratificação horizontal ou lenticular que coincide com a coloração das camadas. A formação Riacho Morno não mostra tal estratificação, possuindo manchas vermelhas em forma de infiltrações de óxidos de ferro. A superfície inferior dessa unidade parece ser uma discordância de erosão. Além disso, há numerosas dessas discordâncias através de ambas as formações, o que corresponde bem ao ambiente de deposição continental. O estudo pormenorizado das extensas falésias, entre Cabo Branco e Barra do Gramame, na Paraíba, mostrou que a unidade Riacho Morno acompanha a superfície, parecendo assim simplesmente uma capa de intemperismo intenso, até 6 m, da formação Guararapes. “Assim, as duas “Formações”, Guararapes e Riacho Morno, no sentido de Bigarella e Andrade (1964), não podem ser mantidas como formações autônomas e unidades estratigráficas, “A formação” Riacho Morno difere da “Formação” Guararapes somente por caracteres secundários, levando à conclusão de que a “formação” Riacho Morno é uma capa de intemperismo da subjacente “formação” Guararapes”. Mabosoone então propõem a seguinte subdivisão: - A unidade inferior, é constituída por uma seqüência arenosa até arenítica. Nas suas ocorrências nas chapadas do interior da Paraíba e do Rio Grande do Norte, possui, na base, uma seqüência arenosa, friável, bastante caulínica, às vezes dificilmente distinguível da capa de intemperismo caulínico do cristalino subjacente, de coloração branca com algumas camadas mais escuras, geralmente de cores roxas e amarelas; para cima, essas areias caulínicas tornam-se arenitos, localmente silicificados até quartzitos sedimentares; na parte superior, há uma seqüência arenosa até conglomerática, com cimento ferruginoso e bastante dura. Encerra a seqüência total um capa laterítica, de arenitos ferruginosos, seja em blocos soltos, seja ainda em forma de crosta. Na direção da costa: Serra de Mossoró, hosts de Tibau, host de Mamanguape, os sedimentos tornam-se melhor selecionados e menos duros; na subsuperficie, na região de Natal, existe uma seqüência essencialmente arenítica, que se torna em baixo quartzítica. Nessas regiões costeiras, a seqüência superior ferruginosa geralmente falta, talvez devido à erosão posterior. As cores são também claras. Na unidade média, que é composta por uma seqüência variegada, de sedimentos arenosos até argilosos, em camadas horizontais ou em lentes, com pequenas discordâncias de erosão local, marcadas por leitos de seixos. Assim, 39 corresponde à descrição inicial das "Barreiras", caracterizada por uma seqüência muito heterogênea, de maneira tal que não há, nem mesmo em localidades vizinhas, dois perfis iguais. No campo, os depósitos chamam a atenção pelas suas cores vivas e pela sua estratificação irregular. Essa irregularidade transforma-se, em alguns afloramentos, numa laminação perturbada. No topo, existe uma capa de intemperismo, que destruiu a estratificação original pela infiltração de óxidos de ferro. Esses óxidos de ferro apresentam-se em manchas ou colunas verticais, às vezes cimentando os arenitos ferruginosos. Essa capa segue mais ou menos a superfície atual, porém é truncada nos vales mais profundos. A unidade encontra-se ao longo da costa, constituindo as barreiras dos rios, inclusive do baixo Jaguaribe, e as falésias das praias, desde Recife até Aracati (CE). Na capa ocorre ainda uma unidade superior, constituída por uma seqüência essencialmente arenosa até argilosa, de coloração clara, com bastante caulim, tendo na base um horizonte de espessura variável de seixos de quartzo e rochas cristalinas. A granulação é bastante irregular e a estratificação muito indistinta. Toda a seqüência parece, assim, ser muito homogênea. Raramente ocorrem concentrações de óxidos de ferro, em forma de pequenas manchas alaranjadas até avermelhadas. A formação está separada da unidade subjacente por uma evidente discordância erosiva. Ela se encontra ao sul do Recife nos montes Guararapes, entre João Pessoa (Cabo Branco) e os topos dos tabuleiros do vale do baixo rio Jaguaribe, com sua melhor aparência na região de Natal e Macaíba, não constituindo, porém, uma ocorrência contínua. Capeia-a uma série de intemperismo, pouco espessa, de areias até siltes avermelhados. Esse capeamento pode estender- se também sobre o intemperismo da unidade média, truncando-a. A unidade inferior foi denominada então como formação Serra dos Martins, para a unidade média foi mantido o nome de formação Guararapes e a unidade superior ficou com o nome de formação Macaíba, estas três formações formam o Grupo Barreiras, segundo Mabesoone et. al. (1972). Quanto a sua idade, Mabesoone (op. cit.), data o único indício certo de uma datação estratigráfica o fato de que as camadas do equivalente da formação Guararapes na região de Belém do Pará repousam sobre a formação Pirabas, cujo registro fossilífero é típico do Mioceno Inferior. No Rio Grande do Norte, os depósitos da mesma formação são mais recentes do que o vulcanismo basáltico do Cabugi, que, conforme datações geocronológicas, também é de idade miocênica. Dessa 40 maneira, pode-se supor que a formação Guararapes seja de idade miocênica superior ou pliocênica, O intemperismo Riacho Morno seria do Plioceno superior, formado num período relativamente longo, considerando-se a profundidade de 5-6 m da capa intemperizada, a (Tabela 1), resume as litologias e idades relativas do grupo Barreiras, segundoMabesoone et. al. (1972). Tabela 1 - Estratigrafia e origem do grupo Barreiras em Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mabesoone et. al. (1972). A formação Serra do Martins cobre os topos das chapadas e serras em altitudes correspondentes ao pediplano superior da região (Pd2, de Bigarella e Ab'Sáber 1964 = superfície Sul-americana, de King, 1956) apud Mabesoone (1972). Dessa maneira, pode ser um depósito correlativo dessa pediplanização ou de um período um pouco posterior, como sedimento sobre uma planície já formada. O referido pediplano foi abaulado depois da sua formação. Segundo dados recentes, apresentados por Mabesoone (1972) apud Almeida (1969), esse movimento epirogenético aconteceu no Oligoceno Superior até o Mioceno Inferior, acompanhado pelo vulcanismo basáltico do Rio Grande do Norte (Cabugi). Isso significaria, para a formação Serra do Martins, uma provável idade oligocênica ou um pouco mais antiga. De qualquer maneira, sua ocorrência na faixa costeira em posição discordante sobre os calcários maestrichtianos do Grupo Apodi indica uma idade cenozóica. Para a determinação dos prováveis ambientes de deposição Mabesoone et. al. (1972) trabalhou com a composição granulométrica e o caráter morfoscópico e morfométrico dos grãos de areia. Das amostras cimentadas fizeram-se lâminas petrográficas, estudadas ao microscópio, concluindo então ambiente fluvial com períodos de corrida de lama. Na região Sul do Estado da Bahia o grupo Barreiras foi estudado por Lima (2002), que o interpreta como sendo um ambiente de deposição em sua maior parte 41 de origem fluvial, com predominância de rios entrelaçados, havendo ainda depósitos de planície de maré que são os ritmitos encontrados ao sul da Ponta de Corumbau Lima (2002) apud Domingues et al. (2000), ritmitos esses que se encontram sobre carbonatos de provável origem marinha, o que pode implicar numa incursão marinha para aquela região, o que segundo os autores reforça a idéia de que o mar influenciou a deposição dos sedimentos Barreiras, interpretando então a gênese dos ritmitos resultante de depósitos em ambiente lacustrino. Vilas Boas et. al. (2005) observaram que o grupo Barreiras é uma cobertura sedimentar terrígena, de idade miocênica a pleistocênica inferior, que tem grande ocorrência ao longo do litoral brasileiro, e que apresentam características sedimentológicas indicativas de uma deposição por sistemas fluviais. Arai M. (2006) concluiu que o Sistema Pirabas/ Barreiras Inferior foi depositado durante a subida eustática ocorrida no intervalo Aquitaniano – Serravalliano (Eomioceno a Mesomioceno). A unidade Barreiras Superior foi depositada no Plioceno, existindo, entre esta e a unidade Barreiras Inferior, a discordância Tortoniana, ou seja, durante a evolução da deposição dos sedimentos conhecidos como grupo Barreiras houve uma transgressão marinha, que deixou algumas evidências ao longo da costa do Brasil. Este ultimo autor conclui, então, que antes do evento erosivo do Tortoniano, o cenário na margem continental brasileira foi dominado pela grande transgressão no intervalo Aquitaniano –Serravalliano (Eomioceno – Mesomioceno) que foi responsável pela acumulação de uma grande quantidade de sedimentos nas áreas hoje emersas do continente. E cita que se conhecem vários relictos de depósitos transgressivos e de mar alto (highstand tract) que se manifestam em forma de unidades litoestratigráficas quase contínuas como o grupo Barreiras, ou em forma mais ou menos isolada como as formações Sabiá, aqui no Estado da Bahia, entre outras. Estes depósitos foram formados em áreas extensas – sobretudo na faixa costeira que vai atualmente da Foz do Amazonas ao Estado do Rio de Janeiro –, onde a ausência de topografia elevada teria propiciado o avanço do onlap para continente adentro, mas, devido à erosão sofrida no Tortoniano, sua ocorrência atual é restrita. No Zancleano (Plioceno), ocorreu uma nova transgressão, e muitas das áreas erodidas receberam uma nova cobertura que viria a constituir o Barreiras superior. Mas para o interior – Alto Amazonas, Alto Xingu e Planalto de Borborema – o horizonte que representaria a Discordância Tortoniana se encontra exumado, ou 42 se encontra ampliado em forma de hiato entre o Pré-Tortoniano e o Quaternário, pois estas áreas não foram atingidas pela transgressão do Zancleano. Arai (op. cit.) propôs então um modelo de evolução para o Grupo Barreiras, para a costa norte do Brasil, conforme ilustrado na (Figura 6). Figura 6 – Esquema de evolução do grupo Barreiras lato sensu na costa do Norte do Brasil. Arai M. (2006). 43 Squivel (2006) observou que na zona costeira do município de Conde o grupo Barreiras é encontrado na sua porção mais interna, ocupando uma área expressiva, cerca de 630 km2, o que representa 66% da área do município de Conde. Nesta área, encontram-se principalmente, depósitos de seixos, areias e areias argilosas pouco consolidadas. Morfologicamente esta unidade apresenta um relevo bastante dissecado e fortemente ondulado, com colinas de topo convexo a tabular com altitudes que variam de cerca de 50 metros, nas porções mais litorâneas, a cerca de 120 metros nas porções mais interioranas do município. Domingues et. al. (2008) observam que as altitudes médias do grupo Barreiras raramente ultrapassam os 100m, embora nas áreas mais interiorizadas possam alcançar até 400m, o que pode ser atribuído principalmente aos seus depósitos crono-correlatos, como a formação Sabiá. Estas altitudes médias são compatíveis com as estimativas do nível do mar eustático no Mioceno Médio-Inferior que alcançou um máximo entre 25 e 100 acima do nível atual Domingues (op. cit.) apud Miller et al. 2005, Haq et al.1988. Os autores concluíram ainda, que uma origem marinha para uma parte da “formação Barreiras” é muito mais consistente que uma origem puramente fluvial uma vez que consegue explicar e conciliar várias observações a respeito desta unidade: (i) sua morfologia em onlap sobre as unidades mais antigas, (ii) sua distribuição espacial e altitude média, estando ausente justamente naqueles trechos onde originalmente não havia espaço de acomodação para a sua deposição (p.ex. Serra do Mar), (iii) altitudes compatíveis com o nivel eustático do mar durante o Mioceno Médio-Inferior (ignorando-se movimentos verticais posteriores), (iv) o grau de incisão experimentado pelas drenagens que dissecam esta formação em decorrência da continuada descida do nível eustático desde o Mioceno Médio, acentuando-se no Quaternário, (iv) as ocorrências de sedimentos marinhos/transicionais com distribuição desde o Pará até pelo menos o sul da Bahia. 44 Capítulo IV - Ambientes de formação dos depósitos de barita 4.1 - Introdução A barita é um mineral composto de sulfato de bário (BaSo4), onde teoricamente 65,7% é de monóxido de bário (BaO) e 34,3% de trióxido de enxofre (SO3). O termo vem do grego “barys”, que significa pesado, por conta da sua alta densidade, que varia de 4,3 a 4,6. Cristaliza-se no sistema ortorrômbico, classe bipiramidal-rômbica, apresentando clivagem perfeita 001 e menos perfeita 210, apresenta um brilho vítreo e uma dureza de 2,5 a 3,5 na escala de Mohs. O mineral foi descoberto, na Itália, no Século XVII Luz A. B. et.al. (2005) apud Velho et al., (1998). Um dos primeiros usos ocorreu, no século XIX, na indústria de tinta branca, como carga. A seguir, passou a ser usada na produção de um pigmento branco denominado de lithopone, constituído por uma mistura de sulfato de bário, sulfato de zinco e óxido de zinco. Depois surgiu a indústria química dos sais de bário e, por último, já no século XX, foi descoberto o uso da barita como 45 controlador de densidade de fluido de perfuração Luz A. B. et. al. (2005) apud Haines (1979). Atualmente, a barita é explotada em 66 países, sendo a China (3,5 Mt), a Índia (0,9 Mt) e os EUA (0,4 Mt) os maiores produtores e, também, os detentores das maiores reservas Luz A. B. et. al. (2005) apud Searls, (2004). Em termos mundiais, cerca de 90% da barita produzida destina-se ao uso na perfuração de poços de petróleo e parte significativa dos 10% restantes destina-se à manufatura de carbonato de bário para a fabricação de vidros de TV, Luz A. B.(op. cit) apud Griffiths, (1995), Harben, (2002). No Brasil o perfil típico de consumo da barita tem a seguinte distribuição: indústria química 50%; indústria petrolífera 35%; outros (tinta, papéis, borracha, vidros, abrasivos etc.) 15%segundo o mesmo autor. 4.2 – Geologia da barita A barita ocorre em várias regiões do mundo, podendo ser encontrada em rochas ígneas, metamórficas ou sedimentares. Os depósitos de valor comercial são classificados, geologicamente, em três tipos: camada, veios e depósitos residuais. Os depósitos em camadas ocorrem em rochas sedimentares e são considerados os de maior importância em termos comerciais, sendo normalmente constituídos de lentes ou níveis de barita, agrupados. O teor de BaSO4 é maior no centro das lentes, diminuindo em direção às extremidades. Nos depósitos do tipo veio, comumente, a barita ocorre em rochas carbonáticas, associada a sulfetos de chumbo e zinco. Esse tipo de ocorrência costuma apresentar volumes menores de minério se comparados com os do tipo camada. Os veios têm origem hidrotermal, sendo formados a partir da precipitação de sulfato de bário. Por último, têm-se os depósitos residuais encontrados em materiais não consolidados e que são formados pelo intemperismo de materiais preexistentes. Os depósitos residuais, normalmente, apresentam minério de baixo teor (6 a 10% BaSO4) e têm sido aproveitada como barita de grau químico Luz A. B. et. al. (2005) apud Coffman e Kligore, (1986); Brobst, (1994). Segundo Luz A. B. et. al. (2005) uma importante característica da barita é a de permanecer praticamente insolúvel em água e ácido, o que lhe confere a propriedade de inércia química. Na maioria dos depósitos comerciais ocorre como 46 concreções, massas e nódulos irregulares e como camadas laminadas e massivas de cristalinidade fina. Betekhtin, (1967) observou que em zonas de intemperismo, influenciados pelo clima árido, formam-se pequenos cristais de barita, provavelmente por grande evaporação de água e saturação de (BaSo4), com posterior precipitação de barita, frequentemente com habitus colunar, associados com gipsita e hidróxidos de ferro. 4.3 - Ambientes de formação da barita no Brasil Segundo Dardene (1997) são conhecidos no Brasil seis tipos de ambientes geológicos para a formação da barita, estes ambientes foram separados em função da associação mineral como o magmatismo alcalino-carbonático, vulcanismo, exalações sedimetares, filões hidrotermais, circulação de fluidos conatos e de alteração supergênica. 4.3.1 - Ambientes de depósitos hidrotermais associados com o magmatismo alcalino-carbonático No Brasil são conhecidos diversas ocorrências de barita neste ambiente que estão associadas á chaminés alcalino-carbonática, uma das ocorrências mais conhecidas é a de Araxá no Estado de Minas Gerais, que é constituído de piroxenitos, glimeritos e carbonatitos. Os carbonatitos do tipo beforsitos (dolomita predominante) ocupam a parte central do Complexo e é onde ocorre o foscorito, constituído por flogopita, apatita, magnetita, carbonatitos e pirocloro. A barita de Araxá esta associada à apatita e à magnetita em veios recortados por carbonatitos ou próximos de corpos de silexito na cobertura laterítica ou ainda nas encaixantes. 4.3.2 - Ambientes de depósitos vulcano-sedimentares A barita de origem vulcano-sedimentar esta normalmente associada aos depósitos de sulfetos maciços de Cu-Pb-Zn. A formação se dá a partir de exalações sobre ou perto do fundo oceânico, que são produtos de células geotermais convectivas alimentadas pela água do mar, neste contexto a barita ocorre na forma de um horizonte externo, associada normalmente a óxidos de ferro e chert. No Brasil 47 um dos poucos exemplos são nos depósitos auríferos vulcano-sedimentar de Mara Rosa (GO), onde a barita aparece como um horizonte bem definido de origem exalativa, em associação com níveis de chert e de sulfetos. 4.3.3 - Ambientes de depósitos sedimentares exalativos São depósitos extratiformes de chumbo-zinco, prata e subordinadamente cobre e barita, tectônicamente ocorrem em bacias intrecratônicas geralmente limitadas por falhas profundas com feições de meio-grabens, as mineralizações que ocorrem próximo as falhas são consideradas exalativas submerina. Dardene (op. cit) apud Large (1983) observou que esta descargas corresponde a soluções hidrotermais mineralizantes no fundo da bacia com precipitação de sulfetos e de barita . No Brasil o maior exemplo é da jazida de barita de Água Clara no Estado do Paraná. 4.3.4 - Ambientes de depósitos hidrotermais filoneanos A mineralização de origem hidrotermal ocorre preenchendo fraturas de extensão, na maioria das vezes relacionadas a processos de rifteamento, são soluções constituídas de barita e quartzo por vezes associada à fluorita, sulfetos e óxidos de ferro na forma de hematita/magnetita. A origem dos fluidos se da através da infiltração de água meteórica ou marinha nas falhas, onde há o aquecimento, então os fluidos hidrotermais promovem uma lixiviação nas rochas encaixantes e precipitação das mineralizações, que apois a subida das falhas ficam próximo à superfície. No Brasil uma das ocorrências mais conhecida é em Santa Catarina, onde a barita ocorre associada nos filões de fluorita. 4.3.5 - Ambientes de depósitos associados à circulação de fluidos conatos São formados quando os fluidos diagenéticos hidrotermais de baixa temperatura em soterramento de bacias, migram lateralmente e verticalmente em direção aos altos paleogeográficos, dissolvendo e substituindo rochas sedimentares. Este tipo de depósito é semelhante ao modelo MVT (Mississippi Valley Type) 48 quando há mineralizações de chumbo e zinco nas rochas carbonáticas e ao modelo Red Beds/Kupferschiefr quando há mineralizações de Cu-Pb-Zn em rochas clásticas. No Brasil os maiores exemplos estão na Bahia, na bacia de Camamu e na Bacia de Tucano, onde a barita ocorre em arenitos da Formação Marizal. 4.3.6 - Ambientes de depósitos residuais As ocorrências de barita relacionada aos depósitos residuais são resultantes da alteração superficial de depósitos preexistentes, pois como a barita possui pouca solubilidade ela é encontrada como resistato em relação aos outros componentes do minério original que são lixiviados, Dardene (op. cit.) apud Brobst (1983). A barita de Araxá e de Camamu, que foram citadas acima, são bons exemplos pois nos seus depósitos há alteração residual, o que provocou, apesar da sua baixa solubilidade a formação de concreções supergênicas Dardene (op. cit.) apud Issa Filho et. al. (1984).
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