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Box conceitos sobre Responsabilidade Internacional dos Estados

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ANEXO VIII - BOX DE CONCEITOS JURÍDICOS 
 
I – Dever de cooperação acerca de atividades que possam causar impactos transfronteiriços ao 
meio ambiente: 
 
BOX 1.1: Disposições gerais acerca do dever de cooperação: 
O dever de cooperação é consagrado em diversos instrumentos internacionais e pela 
doutrina. Conforme dispõe o princípio 5, da declaração do Rio, o dever de cooperação 
incumbe a todos os Estados e indivíduos, « como requisito indispensável para o 
desenvolvimento sustentável ». Compreende uma simples obrigação de negociar para 
concluir acordos. Na espécie, os Estados dotados de rios transfronteiriços devem examinar, 
previamente, os projetos de obras tendentes a incidir sobre os rios internacionais. A 
comunidade de direitos e de interesses entre tais países impõe a obrigação de negociar, 
considerada uma necessidade absoluta pelo Plano de Ação de Mar Del Plata1. A obrigação 
de negociar resulta de uma prática reiterada, figurando no texto de diversas convenções e 
compreende, principalmente, uma troca de informações. Assim, um Estado, ao ter em vista a 
realização de obras no rio internacional, suscetíveis de produzir efeitos negativos 
significativos em outros Estados, deve notificar as “informações disponíveis” 2, assim como 
“todos os dados técnicos necessários”, que possam esclarecer eventuais questionamentos 
dos Estados transfronteiriços. O referido dever de informação vem descrito no artigo 19, da 
Declaração do Rio: “Os Estados devem prover oportunamente, a Estados que possam ser 
afetados, notificação prévia e informações relevantes sobre atividades potencialmente 
causadoras de considerável impacto transfronteiriço negativo sobre o meio ambiente, e 
devem consultar-se com estes tão logo quanto possível e de boa-fé”3. 
 
 
 
 
 
 
1 O.N.U., Rapport de la Conférence des Nations Unies sur l’eau Mar del Plata, 14-25 mars 1977, 
E/CONF.70/29, Rec., p. 103. 
2 Art. 12, Convenção de Nova Iorque sobre a utilização de cursos d’água internacionais para fins distintos da 
navegação, aberta a assinatura em 21 de maio de 1997. 
3 Princípio 19, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992. 
 
BOX 1.2: Dever de cooperação - obrigação de negociar: 
Se, por um lado, a obrigação de cooperação subentende uma simples obrigação de negociar, 
que faz parte do direito internacional em geral ou, no mínimo, de trocar informações sobre 
projetos que possam acarretar efeitos negativos ao meio ambiente, ela supõe, por outro lado, 
que os Estados, ao negociar em nome do princípio de cooperação, mantenham sua 
soberania, possuindo liberdade para negar a instalação de qualquer projeto que tenha como 
efeito a limitação de sua soberania, no caso específico dos rios transfronteiriços. Com efeito, 
toda « restriction essentielle à la souveraineté (…) ne saurait être admise qu’en présence 
d’une démonstration certaine »4. Isso significa que a obrigação de cooperação não denota 
que a Argentina, no caso concreto, seria obrigada a aceitar o projeto da construção das 
fábricas de celulose. Muito ao contrário, a Argentina poderia negar sua aceitação ao referido 
projeto, desde que sua conduta encontrasse alicerces nas normas gerais do direito 
internacional. 
 
BOX 1.3: Dever de cooperação: obrigação de examinar: 
Como todo Estado deve respeitar a obrigação costumeira de negociar, não basta, para efeito 
de cumprimento da mencionada obrigação, que o Estado autor do projeto apenas conheça as 
eventuais objeções de seus vizinhos5, mas sim que o Estado vizinho interessado examine, 
efetivamente, tais projetos. Ora, « Si […] l’Etat d’aval soumet des projets à [l’Etat 
d’amont], celui-ci doit les examiner »6. No caso concreto, a Argentina teria a obrigação de 
examinar os projetos submetidos pelo Uruguai, que pudessem influir no uso do rio Uruguai. 
A atitude Argentina de bloquear as pontes de acesso ao Uruguai, em protesto pela 
construção das fábricas de celulose no país vizinho, já demonstraria uma ruptura das 
negociações, prejudicando o direito uruguaio de se desenvolver economicamente. A 
Argentina, portanto, ao tomar as referidas medidas unilaterais, teria descumprido sua 
obrigação de negociar. 
 
 
4 S.A., Lac Lanoux, op.cit., p. 305 ; C.P.J.I., Lotus (France c. Turquie), 7 septembre 1927, Rec., Série A, n° 10, p. 
19. 
5 C.I.J., Plateau continental de la mer du Nord, op. cit., p. 47. 
6 S.A., Lac Lanoux, (Espagne c. France), op. cit., p. 285. 
 
II – Dever de avaliar as incidências de atividades sensíveis no meio ambiente: princípio da 
prevenção: 
 
BOX 2.1: Disposições gerais: 
O princípio da prevenção, que figura nas declarações de Estocolmo7 e do Rio8, adquiriu um 
valor costumeiro, sendo reconhecido pela C.I.J. ao dispor que « le caractère souvent 
irréparable des dommages causés à l’environnement impose d’en prévenir la survenance »9. 
Em sua concepção ampla, o referido princípio impõe o dever de avaliar as incidências de 
qualquer atividade que possa provocar efeitos sensíveis no meio ambiente. Na mesma linha 
segue a decisão arbitral no caso “Reno de Ferro”, ao dispor que a idéia de prevenção reflete 
a obrigação geral de proteger o meio ambiente internacional, por meio da avaliação das 
atividades previstas – estudo de impacto ambiental – e vigilância contínua do meio ambiente 
– monitoring. 
A obrigação de proceder a estudos de impacto ambiental decorre do direito positivo, sendo 
inelutável na prática. A Convenção de Espoo10 e a Declaração do Rio11 dispõem que o 
estudo de impacto é um instrumento nacional, a ser realizado pelo Estado cujo território as 
obras serão efetivadas, devendo este último comunicar os resultados do mencionado estudo. 
Já em sua concepção restritiva, a prevenção implica a reunião de três condições: o risco 
deverá ser certo, o dano causado deverá ser grave ou irreversível e a medida tomada para 
evitar o eventual dano deverá ser proporcional. 
 
 
7 Princípio 21, Declaração de Estocolmo sobre o meio ambiente, adotada em 16 de junho de 1972. 
8 Princípio 2, Declaração do Rio sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, adotada em 14 de 
julho de 1992. 
9 C.I.J., Projet Gabcikovo-Nagymaros, op. cit., p. 38, § 56. 
10 Art. 1º, vi, vii, Convenção de Espoo sobre a avaliação de impacto ambiental em um contexto 
transfronteiriço, aberta a assinatura em 25 de fevereiro de 1991. 
11 Princípio 17, Declaração do Rio sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, adotada em 14 de 
julho de 1992. 
 
III – Direito soberano do Estado de exercer, em seu território, atividades que acarretem 
benefício econômico: 
 
BOX 3.1.: Disposições gerais acerca do direito ao desenvolvimento 
A declaração de Direitos Humanos, adotada em 10 de dezembro de 1948, traz em seu bojo 
duas categorias de direitos, quais sejam, os direitos civis e políticos; e os direitos 
econômicos, sociais e culturais. Tais direitos, inerentes à pessoa humana, foram 
classificados em gerações, figurando nos direitos de terceira geração, dentre outros, o 
“direito ao desenvolvimento”. Com a adoção do Pacto de Direitos Civis e Políticos e do 
Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 1966, o processo de 
jurisdicionalização dos direitos humanos iniciou-se. O Pacto dos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais preceitua deveres aos Estados, que devem adotar medidas econômicas e 
técnicas com o objetivo de alcançar a realização dos direitos previstos no Pacto. O Pacto 
traz à tona o direito à autodeterminação dos povos e o direito à liberdade para a promoção 
de seu desenvolvimento econômico, social e cultural. Entretanto, o desenvolvimento, como 
um dever de cooperação estatal somente adquiriu seus contornos iniciais com o surgimento 
dasorganizações internacionais. Quando se falava em direito ao desenvolvimento, pensava-
se numa ótica prioritariamente econômica, englobando o direito à autoderterminação 
econômica, à soberania permanente sobre a riqueza e recursos naturais, o tratamento não-
recíproco e preferencial aos países em desenvolvimento, etc. 
Após a década de 1970, foram adotadas diversas resoluções no âmbito da ONU visando 
promover o direito ao desenvolvimento e dotá-lo de uma maior efetividade e amplitude. Em 
4 de dezembro de 1986, foi adotada a Declaração da Assembléia Geral das Nações Unidas 
sobre o Direito ao Desenvolvimento, cujo preâmbulo reconhece “que o desenvolvimento é 
um processo econômico, social, cultural e político abrangente, que visa ao constante 
incremento do bem-estar de toda a população e de todos os indivíduos com base em sua 
participação ativa, livre e significativa no desenvolvimento e na distribuição justa dos 
benefícios daí resultantes ». O artigo 1º da Declaração afirma que o direito ao 
desenvolvimento é um « direito humano inalienável », estando todos os povos habilitados a 
participar, contribuir e desfrutar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político. 
A Declaração eleva, portanto, o direito ao desenvolvimento ao status de direito humano, 
abrangendo o direito dos povos à autodeterminação e o exercício do direito inalienável de 
soberania plena sobre todas as suas riquezas e recursos naturais. Os Estados em 
desenvolvimento comprometem-se a formular as políticas internacionais de 
desenvolvimento buscando facilitar a plena e rápida realização deste direito. 
 
 
BOX 3.2: Soberania plena do Estado sobre seus próprios recursos naturais 
Nos termos do princípio 2, da Declaração do Rio, adotada por ocasião da Conferência das 
Nações Unidas sobre o Meio ambiente e Desenvolvimento, ocorrida em 1992, no Rio de 
Janeiro, é um direito soberano dos Estados a exploração de seus próprios recursos, de 
acordo com suas próprias políticas de meio ambiente e desenvolvimento e desde que as 
atividades realizadas em seu território não causem danos ao meio ambiente de outros 
Estados. Considerando-se, portanto, que o conceito do direito ao desenvolvimento 
pressupõe o exercício do direito inalienável de soberania plena sobre todas as suas riquezas 
e recursos naturais, o Uruguai teria soberania territorial para adotar políticas públicas que 
favoreçam a promoção do desenvolvimento e o pleno atendimento das necessidades de sua 
população. Com efeito, o termo soberania permanente significa que “cada Estado decide 
(...) acerca do destino dos recursos naturais que se encontram em seu território e das 
atividades econômicas que lá se exercem” 12, aplicando-se a todas a todas as riquezas 
existentes no território do Estado. Tal princípio foi admitido nas resoluções da Assembléia 
Geral das Nações Unidas, como a resolução 1803, de valor costumeiro, figurando, ainda, em 
numerosos textos internacionais. Assim, a soberania permanente constitui “um direito [..] de 
caráter imperativo” 13, corolário do direito à autodeterminação, este último qualificado de 
norma de jus cogens. Ora, conseqüentemente, possui a soberania permanente um status 
similar, podendo ser considerada uma norma de jus cogens, aplicando-se, sobretudo, aos 
países em desenvolvimento, como é o caso do Uruguai. Este último estaria autorizado a 
atuar em seu território, sob o fundamento de sua soberania permanente. 
 
 
12 Tradução do original : « chaque Etat décide […] du sort des ressources naturelles qui se trouvent sur son 
territoire et des activités économiques qui s’y exercent », SALMON (J.), (dir.), Dictionnaire de droit international 
public, éd. Bruylant, Bruxelles, 2001, p. 1046. 
13 British Petroleum c. Gouvernement libyen, S.A., 10 octobre 1973, I.L.R., vol. LIII, p. 1979 ; Texaco-Calasiatic c. 
Gouvernement libyen, S.A., 19 janvier 1977, J.D.I., 1977, p. 350 ; Liamco c. Gouvernement libyen, S.A., 12 avril 1977, 
Revue de l’arbitrage, 1980, p. 134 ; BENNOUNA (M.), « Droit international relatif aux matières premières », 
R.C.A.D.I., 1982-IV, vol. 177, p. 134. 
 
IV – Limitações decorrentes do princípio da utilização não prejudicial do território nacional: 
 
BOX 4.1.: Disposições gerais: 
O conceito de soberania territorial do Estado para exercer competências plenas e exclusivas 
não é total. Segundo o princípio enunciado pela C.J.J., no caso do Estreito de Corfou, em 
1949, todo Estado possui “a obrigação (...) de não permitir a utilização de seu território 
para fins contrários aos direitos de outros Estados”14. No mesmo sentido, dispõe a decisão 
arbitral de 16 de novembro de 1957, no caso relativo ao Lago Lanoux15. No que concerne ao 
meio ambiente, o princípio da soberania territorial deu nascimento a um princípio 
específico, qual seja, o da “utilização não prejudicial do território”. A definição do 
mencionado princípio pode ser encontrada nos trabalhos da Comissão de Direito 
Internacional (C.D.I.)16, que apesar de não ter sido utilizada no projeto de artigos sobre a 
Prevenção dos Danos Transfronteiriços Resultantes das Atividades Perigosas, expressa os 
limites impostos à plena realização da competência territorial do Estado. Nesse sentido, 
dispõe a C.D.I. que a liberdade dos Estados de exercer ou de permitir que sejam exercidas 
atividades em seu território ou em outros locais sob sua jurisdição ou controle não é 
ilimitada, estando submetida à obrigação geral de prevenir ou de reduzir, o máximo 
possível, o risco de causar um dano transfronteiriço significativo. 
O caráter absoluto da soberania permanente dos Estados sobre seus recursos naturais foi 
atenuado pela Declaração do Rio, cujo princípio 2 prescreve que os Estados “têm o direito 
soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio 
ambiente e desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua 
jurisdição ou controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas 
além dos limites da jurisdição nacional”. A obrigatoriedade do princípio da utilização não 
prejudicial do território nacional foi confirmada pela C.I.J., na opinião consultiva fornecida 
no caso relativo à Licitude da ameaça ou uso de armas nucleares, de 1996, declarando-se 
que a obrigação geral dos Estados de velar para que as atividades exercidas nos limites de 
sua jurisdição ou controle respeitem o meio ambiente de outros Estados faz parte, 
atualmente, do conjunto de regras do direito internacional do meio ambiente17. Tal 
entendimento é ratificado no acórdão da C.I.J., de 25 de setembro de 1997, referente ao caso 
do Projeto Gabcíkovo-Nagymaros18. 
Conclui-se, portanto, que o meio ambiente é tido como um valor comum à humanidade, cuja 
preservação é de responsabilidade da comunidade internacional em seu conjunto. 
 
14 Estreito de Corfou (Reino Unido c. Albânia), acórdão de 9 de abril de 1949, Rec., p. 22. 
15 Lago Lanoux (Espanha c. França), S.A., 16 de novembro de 1957, R.S.A., vol. XII, p. 285. 
16 Relatório da C.D.I., 48ª sessão, 1996, doc. A/51/10, p. 292. 
17 C.I.J., Licitude da ameaça ou uso de armas nucleares, opinião consultiva de 08 de julho de 1996, Rec., p. 242. 
18 C.I.J, Projeto Gabcikovo-Nagymaros (Hungria c. Eslováquia), acórdão de 25 de setembro de 1997, Rec., par. 53, 
p. 38. 
 
V – Dever de utilização ótima e razoável dos rios internacionais: 
 
 BOX 5.1: Disposições gerais 
O rio internacional, constitui um recurso natural partilhado, que deve ser gerido pelos dois 
países em causa, em nome do princípio da comunidade de direitos e de interesses19. 
Decorre, portanto, a obrigação, pelos referidos Estados, de respeitar o uso ótimo e razoável 
do rio, o que impõe uma cooperação « entre os diferentes Estados interessados na utilização 
de um mesmo curso d’águainternacional ». 
A obrigação da utilização ótima e razoável das águas de um rio internacional consolidou-se 
como um costume internacional20, aplicando-se, em espécie, ao Rio Uruguai. A Convenção 
sobre o direito relativo às utilizações de cursos d’água internacionais a fins distintos da 
navegação, de Nova York, 1997, estabelece, em seu artigo 5, alínea 1º, o princípio 
fundamental de que “les États du cours d’eau utilisent sur leurs territoires respectifs le 
cours d’eau international de manière équitable et raisonnable » (…) « en vue de parvenir à 
l’utilisation et aux avantages optimaux et durables – compte tenu des intérêts des Etats du 
cours d’eau concernés – compatibles avec les exigences d’une protection adéquate du cours 
d’eau ». Considera-se, no caso concreto, que a utilização razoável e ótima do Rio Uruguai é 
um princípio de base do tratado e um objetivo de seu Estatuto21. 
 
 
19 C.P.J.I., Juridiction territoriale de la Commission internationale de l’Oder (Allemagne et associés c. Pologne), 
10 septembre 1929, Rec., Série A, n° 23, p. 27. 
20 C.P.J.I., Commission internationale de l'Oder, op. cit., p. 27 ; C.P.J.I., Prises d’eau à la Meuse, op. cit., p. 236 ; C.I.J., 
Détroit de Corfou, op. cit., p. 4 ; Fonderie de Trail, op. cit., p. 907 ; Lac Lanoux, op. cit., p. 285 ; C.I.J, Projet Gabcikovo-
Nagymaros, op. cit., p. 38. 
21
 Opinion dissidente de M. le juge ad hoc Torres Bernárdez, p. 11, disponível no site da C.I.J. na parte 
relativa ao caso das Usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay (Argentine c. Uruguay) : http://www.icj-cij.org. 
VI – O desenvolvimento sustentável como a necessidade de conciliar desenvolvimento 
econômico e proteção do meio ambiente: 
 
BOX 6.1: Disposições gerais 
O desenvolvimento sustentável, qualificado de “matriz conceitual”, preconiza a necessidade 
de conciliar desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente para o bem estar das 
gerações futuras22. Exige-se, portanto, que as medidas ambientais apropriadas sejam 
integradas nos objetivos e na implementação de atividades de desenvolvimento econômico. 
O referido princípio já se encontrava na declaração de Estocolmo de 16 de junho de 1972, 
sendo formalmente adotado por ocasião da declaração do Rio, cujo princípio 4 reza o 
seguinte: “para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve 
constituir parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada 
isoladamente deste”. O inverso também é verdadeiro, ou seja, “a realização efetiva do 
direito de viver num meio ambiente são deve ser integrada nos objetivos do 
desenvolvimento sustentável”23. O preâmbulo do acordo que institui a Organização Mundial 
do Comércio, em sua primeira alínea, dispõe, ainda, que seu objetivo seria permitir “ao 
mesmo tempo a utilização ótima dos recursos mundiais em conformidade com o objetivo de 
um desenvolvimento sustentável e buscando proteger e preservar o meio ambiente e 
incrementar os meios para fazê-lo, de maneira compatível com suas respectivas 
necessidades e interesses segundo os diferentes níveis de desenvolvimento econômico.” 
Conforme se pode verificar, o princípio do desenvolvimento sustentável encontra-se 
previsto em diversos instrumentos jurídicos internacionais, tendo adquirido um valor 
costumeiro indispensável, traduzindo o reconhecimento de responsabilidades comuns e ao 
mesmo tempo diferenciadas dos Estados em matéria de proteção do ecossistema mundial. 
Tais responsabilidades não devem objetivar apenas as necessidades imediatas das gerações 
presentes, mas não podem comprometer, outrossim, o bem-estar das gerações futuras. Em 
virtude do mencionado princípio, presente na declaração de Estocolmo24 e na declaração do 
Rio “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido, de modo a permitir que sejam 
atendidas eqüitativamente as necessidades de desenvolvimento e ambientais de gerações 
presentes e futuras”25. 
 
22 C.I.J., acórdão de 25 de setembro de 1997, Projet Gabcikovo-Nagymaros, p. 77, § 140. 
23 Tradução da autora. Art. 3º da resolução de Estrasburgo do ID.I. sobre “O meio-ambiente” de 4 de 
setembro de 1997. 
24 Princípios 1, 2, 5, 8, 13, Declaração de Estocolmo sobre meio ambiente, adotada em 16 de junho de 1972. 
25 Tradução não oficial, conforme publicada como anexo, apud Ministério das Relações Exteriores, Divisão 
do Meio Ambiente, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Relatório da 
Delegação Brasileira, 1992, Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão, FUNAG, Instituto de Pesquisa de 
Relações Internacionais, IPRI. Coleção Relações Internacionais nº 16. Declaração do Rio sobre o meio-
ambiente e o desenvolvimento sustentável, adotada em 14 de junho de 1992 ; KISS (A.-C.), DOUMBE-
BILLE (S.), « La conférence des Nations Unies sur l’environnement et le développement », A.F.D.I., 1992, 
pp. 823-843 ; DAILLIER (P.), PELLET (A.), op. cit., p. 1306.

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