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títulos de crédito eletrônico

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Introdução
No que concerne à atividade mercantil vimos ao passar dos anos a materialização do crédito como meio de tornar mais céleres e amplas as transações comerciais entre pessoas. Sendo o prazo e a confiança pressupostos essenciais para assegurar o próprio acordo verbal entre o credor e o devedor para o pagamento de quantia certa em data especificada. Neste caso, a função do crédito em assegurar a circulação de riquezas na economia possibilita novos investimentos por meio da ampliação do consumo e da demanda propriamente dita. Ora, modificando tanto o panorama social como e, principalmente, o econômico, o que de fato permite ampliar a produção e por ventura o aproveitamento dos capitais. 
Neste sentido, o crédito tanto permite o aceleramento das trocas com um poder produtivo maior, como também, a retirada da liquidez da economia sem impacto nos preços e no encarecimento da moeda. Deste modo, sua importância se consolidou ao passar do tempo como instrumento para desenvolvimento da humanidade sendo imprescindível a sua documentação, algo que efetivamente se deu a partir da Idade Média diante da própria necessidade de um novo incremento para trocas mercantis de modo que facilitasse a circulação de dinheiro de uma forma mais segura e com garantias, o que pendura até a atualidade. 
Podemos assim, então, encontrar diversas modalidades de títulos de crédito como a nota promissória, a letra de câmbio, a duplicata e o cheque tendo como princípios basilares para sua legitimação a cartularidade, pois só posso exercitar um direito em virtude de um documento; a literalidade que se trata da correspondência entre o direito representado no documento com o que está escrito no mesmo; e, por fim, a autonomia, uma vez que, cada direito e obrigação mencionado no título de crédito deverá ser autônomo, seja emitente ou endossado. 
	Diante desses pressupostos poderemos então, efetivamente entrar no cerne da questão deste trabalho que são os títulos de crédito eletrônicos muitos discutidos na atualidade, sendo objeto de polêmicas no judiciário. Isso porque, a sociedade possui necessidades ilimitadas que buscam diariamente novidades tecnológicas que satisfaçam seus anseios. Porém, para uma a corrente majoritária atual não existe a possibilidade de tornar tais títulos como típicos, uma vez que como salienta o próprio Código Civil em seu artigo 887, o título de crédito é um documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo, devendo-se preencher todos os requisitos para que este produza seus efeitos. Todavia, quem a de defender essa nova modalidade se volta predominante para as duplicatas, estas que são reguladas por lei especial contrária a tal disposição eletrônica. Iremos contextualizar posteriormente.
Desenvolvimento
No mundo virtual o comércio eletrônico tornou-se algo rotineiro nas relações negociais atingindo proporções inimagináveis como meio de circulação de riquezas e também de recursos financeiros. Sendo que esse aumento da demanda por bens e serviços via eletrônica nas relações econômicas produzidas pela economia de mercado necessitam para aqueles que fazem uso deste tipo de serviço segurança e garantia nas operações de crédito que estes realizam.
Neste sentido, os títulos de crédito de uma maneira geral vêm a facilitar a circulação dessas riquezas, pois juridicamente falando o próprio crédito possibilita de forma prática e segura o direito a uma prestação futura fundado essencialmente no prazo e na confiança, o que por sua vez, se legitima a partir do momento que se documenta, pois se trata de uma cartola assinada e datada. 
Por outro lado, essa discussão acerca de uma possível nova modalidade de crédito intitulado Títulos de Crédito Eletrônicos até como meio de acompanhamento desses processos evolutivos tecnológicos nas transações comerciais vem a contrariar segundo doutrinadores o próprio dispositivo do novo Código Civil no art. 887, uma vez que, este o trata como documento necessário que autentica um direito. Vejamos, por exemplo, o que Costa diz, 
Para ser título de crédito deve ser em primeiro lugar e certamente “título” e, sendo título, entre seus vários significados será “documento que autentica um direito”. No mesmo sentido a Academia Brasileira de Letras Jurídica cujo dicionário afirma que título é: “Documento que autentica ou formaliza um direito”. O título de crédito é, nos termos da lei vigente, documento necessário para o exercício do direito. Sendo então “documento”, entre várias acepções da palavra documento encontramos estas: “Qualquer base de conhecimento, fixada materialmente e disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo, prova”. Também: “Qualquer objeto de valor documental (fotografias, peças, papéis, filmes, construções, etc.) que elucide, instrua, prove ou comprove cientificamente algum fato, acontecimento, dito etc.” ou qualquer objeto, prova, testemunho etc. que sirva para conferir autenticidade a algum acontecimento histórico ou atestado, escrito etc. que sirva de prova ou testemunho. (2006, pp. 2).
Isso porque, a própria lei civil exige sua materialização até para entendimento dos termos citados anteriormente, sobretudo, frente aos princípios basilares que norteiam tal instituto. Assim, na prática esses pressupostos não ocorrem no caso dos títulos eletrônicos, ora, o que é eletrônico evidentemente não se materializa como documento nem muito menos como título que possa possibilitar a autenticação de um direito. Porquanto, o dispositivo legal que versa sobre os títulos típicos citados na introdução deste trabalho facilita, por exemplo, a cobrança em juízo ou a chamada constrição do devedor, isto é, aperto do devedor em honrar a obrigação contraída. Pois em razão disso, no primeiro dia após o pagamento em caso de atraso poderá se valer da ação de execução do devedor, uma vez que título de crédito é uma ordem de pagamento à vista e a sua cártula será propriamente dita à prova matricial desta ação. 
Embora, o novo código civil abra uma brecha para criação de novos títulos de crédito atípicos, estes que na prática não possuem força alguma como título e menos ainda como título de crédito, pois não podem ser protestados e nem muito menos cobrados de forma executória, como no caso dos títulos típicos, o que veta de fato essa possibilidade de se enquadrar os títulos de crédito eletrônicos como tal. Neste caso, a corrente que defende o uso desta nova modalidade de título se norteia pelo art. 889, §3º que versa sobre a possibilidade de sua emissão via caracteres criados em computador ou meio técnico equivalentes, dando de certo modo uma brecha para se questionar, “Emissão física ou emissão virtual”? Daí paira as controvérsias sobre tal instituto, porém como o próprio código civil salienta, só será possível a criação de títulos atípicos mediante lei especial, mas por sua natureza jurídica não há força executória o que novamente vai de encontro com quem defende os títulos de crédito eletrônicos, já que estes são comparados com os de ordem típicas. 
Por certo, literalmente falando esse dispositivo quando diz “poderá ser emitido” dar sentido efetivamente à possibilidade de criar, dar existência, materializando os dados no papel, com exceção da assinatura, uma vez que necessita ser feita a próprio punho do emitente, dando realidade e legitimando-a para o mundo jurídico. É a própria vontade expressa do emitente mediante ato formal. 
No Brasil, por exemplo, essa nova modalidade vem ganhando força pelas duplicadas que são encaminhadas a protesto por meio de indicação dos bancos aos cartórios do teor dos títulos seja por meio eletrônico ou por internet, não sendo necessária sua apresentação material. Valendo ressaltar que há requisitos exigidos e determinados pelo art. 2º, § 1º da Lei 5.474/68 (Lei das Duplicatas)fundamentando isto. O cerne da questão tá em torno das particularidades que os títulos de crédito típicos exigem, bem como a sua própria materialidade via princípios intrínsecos a estes, algo que na prática pode sentenciar a “morte” caso seja incorporado ao mundo jurídico os títulos de crédito eletrônicos. Veremos isso na próxima secção a partir de uma decisão de tribunal.
Julgados sobre título de crédito eletrônico
Como citado anteriormente, os títulos de crédito eletrônicos na prática não possuem força executória, uma vez que necessitaria de uma lei especial para fundamenta-los como um todo e não apenas se baseando em um caso especifico como no caso das duplicatas virtuais. Nesta situação podemos observar a aplicabilidade da possibilidade de desmaterialização dos títulos de crédito a partir de uma ação de execução de título extrajudicial em relação à duplicata virtual. 
Para este caso, o referido órgão julgador que é o Tribunal de Justiça do Distrito Federal faz inicialmente menção às características de título de crédito sendo caso de execução por seus atributos dotados da autonomia, literalidade e cartularidade, sendo em regra necessária a juntada aos autos dos originais, uma vez que se torna imprescindível para a comprovação da própria existência do crédito. 
No entanto, a doutrina tem admitido a mitigação do princípio da cartularidade para aqueles títulos existentes apenas em meio digital, como no caso da duplicata virtual. Neste sentido, a desmaterialização dos títulos de crédito permite ao credor a ação de execução de um determinado título de crédito sem a necessidade de apresentação do documento original. Para isso, as duplicatas virtuais devem ser protestadas por indicação do credor acompanhada do comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação de serviços, caso estas não tiverem o aceite justificadamente recusado pelo sacado. Deve-se ainda ser juntado aos autos o comprovante de entrega das mercadorias e cópia da nota fiscal eletrônica que originou o negócio em que consta o número dos boletos bancários, a respectiva data de vencimento e o valor, bem como a descrição do produto. 
	Sendo assim, no referido acordão cujo número do processo é “APC 20140110742265 DF 0017604-14.2014.8.07.001”, órgão julgador 5ª Turma Cível e relator Luciano Moreira Vasconcellos ficou reconhecido e provido por unanimidade. Deste modo, fica-se entendido que os princípios como no caso o da cartularidade dos títulos de crédito são mitigados dando a possibilidade da ação de execução contra o devedor para a duplicata virtual. Este é o entendimento doutrinário atual.
Conclusão
De certo, há a possibilidade de aceleramento das práticas comercias via títulos de crédito eletrônicos com a assinatura eletrônica é uma forma de sentenciar ao fim os títulos de créditos atuais e típicos. Pois, conforme a automatização das tecnologias e das relações econômicas, os títulos de créditos eletrônicos otimizam a praticidade de tais relações, de modo a melhorar o diagnóstico empresarial, podendo aumentar tanto o nível de confiança das informações divulgadas pelos agentes, como também corroboram para seu crescimento e consequentemente estabilidade econômica. 
No entanto, é algo passível de questionamento, uma vez que, não existe uma legislação especifica norteando tal instituto de uma forma geral, há especificidades em relação a títulos, como no caso da duplicata virtual que já possuí lei especial em vigor ou na nota promissória vinculada a contato. O STJ atualmente faz-se uso da interpretação hermenêutica constitucional para realizar a mitigação dos princípios básicos do direito cambiário para adequação aos casos concretos. Ou seja, é a própria adequação dos princípios cambiários a forma atual de negociação, mas que requer um cuidado maior já que não existe legislação específica tendo em vista que o próprio Estado Democrático de Direito brasileiro estabelece que as relações econômicas devam ser norteadas por segurança jurídica.
Bibliografia
BRASIL. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 1a edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2002. 
COSTA, W. D.�. Títulos de crédito eletrônico. Revista Virtu@l (Faculdades Milton Campos), v. 4, p. 1, 2006.
TJ-DF - APC: 20140110742265 DF 0017604-14.2014.8.07.0001, Relator: LUCIANO MOREIRA VASCONCELLOS, Data de Julgamento: 29/10/2014, 5ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 11/11/2014 . Pág.: 249. Disponível em: < https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/150944822/apelacao-civel-apc-20140110742265-df-0017604-1420148070001> Acesso em 21 de maio de 2018. 
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FACULDADE DE INTEGRAÇÃO DO SERTÃO – FIS
ANA CARLA CAMPOS TORRES
TRABALHO ACERCA DA TEMÁTICA: TÍTULOS DE CRÉDITO ELETRÔNICOS
Serra Talhada
2018
TRABALHO CIENTÍFICO ACERCA DE TÍTULOS DE CRÉDITO ELETRÔNICOS
ANA CARLA CAMPOS TORRES
Trabalho apresentado como requisito para pontuação parcial na disciplina Direito Empresarial I da Faculdade de Integração do Sertão. Curso: Bacharelado em Direito.
Prof. Luciano Leda 
Serra Talhada
2018

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