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Títulos de Crédito - Esquematizado

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Sumário:	1.	Introdução	–	2.	Histórico	da	legislação	cambiária	–	3	Os	títulos	de	crédito	na	atualidade;	3.1.
Comércio	eletrônico	–	4.	Conceito,	 características	 e	 princípios	 dos	 títulos	 de	 crédito;	4.1.	 Princípio	 da
cartularidade;	4.2.	Princípio	da	 literalidade;	4.3.	Princípio	da	autonomia	–	5.	Classificação	dos	 títulos	de
crédito	–	5.1.	Quanto	à	forma	de	transferência	ou	circulação	–	5.2.	Quanto	ao	modelo	–	5.3.	Quanto	à
estrutura	–	5.4.	Quanto	às	hipóteses	de	emissão	–	6.	Títulos	de	crédito	em	espécie;	6.1.	Letra	de	câmbio;
6.2.	Nota	promissória;	6.3.	Cheque;	6.4.	Duplicata	 –	 7.	 Atos	 cambiários;	 7.1.	 Endosso;	 7.2.	 Aval;	 7.3.
Protesto	 –	 8.	 O	 Código	 Civil	 de	 2002	 e	 os	 títulos	 de	 crédito;	 8.1.	 A	 desmaterialização	 dos	 títulos	 de
crédito;	8.2.	O	endosso	e	seus	efeitos;	8.3.	A	disciplina	do	aval;	8.4.	A	cláusula	de	 juros	nos	 títulos	de
crédito;	8.5.	Os	títulos	ao	portador;	8.6.	Teoria	da	criação	versus	teoria	da	emissão	–	9.	Outros	títulos	de
crédito;	 9.1.	 Títulos	 de	 crédito	 comercial;	 9.2.	 Títulos	 de	 crédito	 industrial;	 9.3.	 Títulos	 de	 crédito	 à
exportação;	9.4.	Títulos	de	crédito	rural;	9.5.	Títulos	de	crédito	imobiliário;	9.6.	Títulos	de	crédito	bancário;
9.7.	Letra	de	Arrendamento	Mercantil	–	10.	Questões.
“Então	 o	 senhor	 acha	 que	 o	 dinheiro	 é	 a	 origem	 de	 todo	 o	 mal?	 O	 senhor	 já	 se
perguntou	qual	é	a	origem	do	dinheiro?	O	dinheiro	é	um	instrumento	de	troca,	que	só
pode	existir	quando	há	bens	produzidos	e	homens	capazes	de	produzi-los.	O	dinheiro
é	a	 forma	material	do	princípio	de	que	os	homens	que	querem	negociar	uns	com	os
outros	precisam	trocar	um	valor	por	outro.	O	dinheiro	não	é	o	instrumento	dos	pidões,
que	 pedem	 produtos	 por	 meio	 de	 lágrimas,	 nem	 dos	 saqueadores,	 que	 os	 levam	 à
força.	O	dinheiro	só	se	torna	possível	através	dos	homens	que	produzem.	É	isto	que	o
senhor	considera	mau?	Quem	aceita	dinheiro	como	pagamento	por	seu	esforço	só	o
faz	 por	 saber	 que	 ele	 será	 trocado	 pelo	 produto	 de	 esforço	 de	 outrem.	Não	 são	 os
pidões	 nem	 os	 saqueadores	 que	 dão	 ao	 dinheiro	 o	 seu	 valor.	 Nem	 um	 oceano	 de
lágrimas	nem	todas	as	armas	do	mundo	podem	transformar	aqueles	pedaços	de	papel
1.
no	seu	bolso	no	pão	de	que	você	precisa	para	sobreviver.	Aqueles	pedaços	de	papel,
que	deveriam	ser	ouro,	 são	penhores	de	honra;	por	meio	deles	você	 se	apropria	da
energia	 dos	 homens	 que	 produzem.	 A	 sua	 carteira	 afirma	 a	 esperança	 de	 que	 em
algum	 lugar	no	mundo	a	 seu	 redor	existem	homens	que	não	 traem	aquele	princípio
moral	 que	 é	 a	 origem	 da	 produção?	Olhe	 para	 um	 gerador	 de	 eletricidade	 e	 ouse
dizer	que	ele	foi	criado	pelo	esforço	muscular	de	criaturas	irracionais.	Tente	plantar
um	 grão	 de	 trigo	 sem	 os	 conhecimentos	 que	 lhe	 foram	 legados	 pelos	 homens	 que
foram	os	primeiros	a	plantar	trigo.	Tente	obter	alimentos	usando	apenas	movimentos
físicos,	e	descobrirá	que	a	mente	do	homem	é	a	origem	de	todos	os	produtos	e	de	toda
a	riqueza	que	já	houve	na	terra.
(...)
Enquanto	pessoas	como	o	senhor	não	descobrirem	que	o	dinheiro	é	a	origem	de	todo
bem,	estarão	caminhando	para	sua	própria	destruição.	Quando	o	dinheiro	deixa	de
ser	o	instrumento	por	meio	do	qual	os	homens	lidam	uns	com	os	outros,	os	homens	se
tornam	os	instrumentos	dos	homens.	Sangue,	açoites,	armas	–	ou	dólares.	Façam	sua
escolha	–	não	há	outra	opção	–	e	o	tempo	está	esgotando.”	(Ayn	Rand,	em	A	revolta
de	Atlas,	na	passagem	conhecida	como	“o	discurso	do	dinheiro”)
INTRODUÇÃO
Desde	 que	 o	 homem	 deixou	 de	 produzir	 bens	 apenas	 para	 a	 sua	 própria	 subsistência,	 podemos
verificar,	ao	 longo	da	história,	um	lento	e	gradual	processo	de	criação	de	 instrumentos	comerciais	que
tornaram	as	trocas	mais	rápidas	e	mais	seguras.	O	título	de	crédito	é	um	desses	instrumentos.
Nas	 sociedades	 mais	 primitivas,	 o	 comércio	 se	 limitava	 ao	 escambo,	 isto	 é,	 a	 troca	 direta	 de
mercadoria	por	mercadoria.	Com	o	passar	do	tempo	e	a	consequente	necessidade	de	dinamizar	as	trocas,
certos	bens	passaram	a	ser	usados	como	“moeda”,	ou	seja,	como	meios	de	troca	indireta	(inicialmente,	o
sal,	que	foi	sucedido	por	metais	preciosos,	sobretudo	prata	e	outro,	e	finalmente	a	moeda-fiduciária	ou
papel-moeda,	imposta	pelo	estado	como	meio	de	troca	universal).	Mais	adiante,	a	própria	moeda	já	não
conseguia	 atender	 à	 dinâmica	 e	 à	 complexidade	 do	 mercado,	 e	 foi	 para	 preencher	 esse	 vazio	 que
surgiram	 os	 títulos	 de	 crédito,	 os	 quais	 servem	 até	 hoje	 para	 tornar	 mais	 rápida	 e	 mais	 segura	 a
circulação	de	riqueza.
Chama-se	de	direito	cambiário	ou	direito	cambial	o	sub-ramo	do	direito	empresarial	que	disciplina
todo	o	 regime	 jurídico	 aplicável	 aos	 títulos	 de	 crédito.	Trata-se,	 conforme	 se	 verá	 adiante,	 de	 regime
jurídico	 recheado	 de	 regras,	 princípios	 e	 características	 especiais,	 criados	 especialmente	 para	 que	 os
títulos	 de	 crédito	 consigam	 desempenhar	 de	 forma	 eficiente	 e	 segura	 a	 sua	 principal	 função,	 que	 é	 a
circulação	de	riqueza.
Segundo	Tullio	Ascarelli,	o	desenvolvimento	dos	títulos	de	crédito	permitiu	que	o	mundo	moderno
mobilizasse	suas	próprias	riquezas,	vencendo	o	tempo	e	o	espaço.	Com	efeito,	o	crédito,	que	consiste,
basicamente,	 num	 direito	 a	 uma	 prestação	 futura	 que	 se	 baseia,	 fundamentalmente,	 na	 confiança
(elementos	boa-fé	e	prazo),	surgiu	da	constante	necessidade	de	viabilizar	uma	circulação	mais	rápida	de
riqueza	do	que	a	obtida	pela	moeda	manual.
O	crédito,	ao	conseguir	fazer	com	que	o	capital	circule,	torna-o	extremamente	mais	produtivo	e	útil.
Sendo	assim,	 resta	 clara	 a	 importância	dos	 títulos	de	 crédito	para	 a	história	da	 economia	mundial,	 na
qualidade	 de	 documento	 que	 instrumentaliza	 o	 crédito	 e	 permite	 a	 sua	 mobilização	 com	 rapidez	 e
segurança.	Assim,	os	títulos	de	crédito	são,	em	síntese,	instrumentos	de	circulação	de	riqueza.
A	 doutrina	 noticia	 que	 o	momento	 histórico	 em	 que	 os	 títulos	 de	 crédito	 se	 desenvolveram	 foi	 a
Idade	Média	–	não	por	mera	coincidência,	 foi	 justamente	o	período	histórico	em	que	surgiu	o	próprio
direito	comercial,	conforme	já	estudado	no	capítulo	1.
Costuma-se	dividir	o	direito	cambiário	em	quatro	períodos	históricos	distintos.	O	primeiro	deles	é	o
período	 italiano,	 que	 vai	 até	 o	 ano	 de	 1650.	 Nesse	 período	 inicial,	 possuem	 destaque	 as	 cidades
marítimas	italianas	onde	se	realizavam	as	feiras	medievais	que	atraíam	os	grandes	mercadores	da	época.
Outra	característica	importante	desse	período	é	o	desenvolvimento	das	operações	de	câmbio,	em	razão
da	 diversidade	 de	moedas	 entre	 as	 várias	 cidades	medievais.	 Surge	 o	 câmbio	 trajetício,	 pelo	 qual	 o
transporte	da	moeda	em	um	determinado	trajeto	ficava	por	conta	e	risco	de	um	banqueiro.	Esse	câmbio
trajetício	 se	 instrumentalizava	por	meio	de	dois	 documentos:	 a	cautio,	 apontada	 como	origem	da	 nota
promissória,	 por	 envolver	 uma	 promessa	 de	 pagamento	 (o	 banqueiro	 reconhecia	 a	 dívida	 e	 prometia
pagá-la	no	prazo,	lugar	e	moeda	convencionados),	e	a	littera	cambii,	apontada	como	origem	da	letra	de
câmbio,	 por	 se	 referir	 a	 uma	 ordem	 de	 pagamento	 (o	 banqueiro	 ordenava	 ao	 seu	 correspondente	 que
pagasse	a	quantia	nela	fixada).
O	segundo	período	histórico	da	evolução	do	direito	cambiário	é	o	período	francês,	que	vai	de	1650
a	1848.	Merece	destaque,	nessa	fase	do	direito	cambiário,	o	surgimento	da	cláusula	à	ordem,	na	França,
o	 que	 acarretou,	 consequentemente,	 a	 criação	 do	 instituto	 cambiário	 do	 endosso,	 que	 permitia	 ao
beneficiário	da	letra	de	câmbio	transferi-la	independentemente	de	autorização	do	sacador.
De	1848	a	1930,	o	direito	 cambiário	viveu	a	 terceira	 fase	de	 sua	 evolução	histórica.	Trata-se	do
período	alemão,	que	se	inicia	com	a	edição,	em	1848,	da	Ordenação	Geral	do	Direito	Cambiário,	uma
codificação	 que	 continha	 normas	 especiais	 sobre	 letras	 de	 câmbio,	 diferentes	 das	 normas	 do	 direito
comum.	 O	 período	 alemão	 é	 bastantedestacado	 pelos	 doutrinadores	 por	 ter	 consolidado	 a	 letra	 de
câmbio,	 especificamente	 –	 e	 os	 títulos	 de	 crédito,	 de	 uma	 forma	 geral	 –	 como	 instrumento	 de	 crédito
viabilizador	da	circulação	de	direitos.
Por	fim,	a	quarta	e	última	fase	da	evolução	histórica	do	direito	cambiário	corresponde	ao	chamado
período	uniforme,	que	se	iniciou	em	1930,	com	a	realização	da	Convenção	de	Genebra	sobre	títulos	de
crédito	e	a	consequente	aprovação,	no	mesmo	ano,	da	Lei	Uniforme	das	Cambiais,	aplicável	às	letras	de
câmbio	 e	 às	 notas	 promissórias.	 No	 ano	 seguinte,	 foi	 aprovada	 a	 Lei	 Uniforme	 do	 Cheque.	 Cabe
2.
ressaltar	que	as	leis	uniformes	genebrinas	receberam	forte	influência	da	já	mencionada	Ordenação	Geral
Alemã	de	1848.
Atualmente,	os	títulos	de	crédito	passam	por	um	importante	período	de	transição.	Letras	de	câmbio
já	não	são	vistas	no	mercado,	e	mesmo	títulos	como	o	cheque	e	a	nota	promissória	vão	caindo	em	desuso
e	 dando	 lugar	 às	 transações	 com	 os	 cartões	 de	 débito	 e	 crédito,	 os	 quais	 já	 admitem	 a	 assinatura
eletrônica.	Assim,	como	tem	alertado	a	doutrina	especializada,	vivemos	a	era	do	comércio	eletrônico.
HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO CAMBIÁRIA
Em	virtude	do	caráter	altamente	internacionalizado	do	direito	comercial,	já	destacamos	que	uma	de
suas	 principais	 características	 é	 o	 cosmopolitismo.	 Com	 efeito,	 o	 comércio	 internacional	 é
gradativamente	mais	intenso,	sobretudo	em	função	do	processo	que	se	tem	denominado	de	globalização,
mais	 latente,	 sobretudo,	 no	 âmbito	 das	 relações	 econômicas,	 haja	 vista	 o	 grande	 número	 de	 acordos
internacionais	de	comércio	firmados	entre	os	países	e	o	surgimento	de	expressivos	blocos	econômicos
como,	por	exemplo,	o	Mercosul.
Nesse	 sentido,	 ao	 longo	 da	 história	 os	 diversos	 países	 atentaram	 para	 a	 necessidade	 de
uniformização	da	legislação	aplicável	aos	títulos	de	crédito,	uma	vez	que	eles	constituem	os	principais
instrumentos	de	efetivação	das	negociações	mercantis	internacionais.
Foi	então	que,	em	consequência	do	esforço	constante	de	algumas	associações	internacionais,	como
as	Câmaras	de	Comércio	italianas	e	a
Association	 Internationalle	 pour	 le	 Progrès	 de	 Sciences	 Sociales,	 se	 organizaram	 congressos	 e
encontros	 para	 a	 discussão	 do	 assunto,	 os	 quais	 culminaram	 na	 realização	 das	 duas	Conferências	 de
Haia,	em	1910	e	1912.
Na	conferência	de	1912,	foi	aprovado	o	Regulamento	uniforme	relativo	à	letra	de	câmbio	e	à	nota
promissória,	 o	 qual,	 seguindo	 o	 sistema	 alemão	 da	 Ordenação	 Geral	 de	 1848,	 representou	 um
importantíssimo	passo	no	caminho	da	uniformização	internacional	do	direito	cambiário,	não	obstante	as
dificuldades	encontradas,	notadamente	a	resistência	de	países	como	a	Inglaterra	e	a	eclosão	da	1.ª	Guerra
Mundial.
Encerrada	a	grande	guerra,	a	Liga	das	Nações,	organismo	multilateral	que	ganhava	 importância	na
disciplina	 das	 relações	 entre	 os	 povos,	 organiza,	 em	 1930,	 a	Convenção	 de	Genebra,	 que	 aprovou	 a
chamada	Lei	 Uniforme	 das	 Cambiais,	 relativa	 às	 letras	 de	 câmbio	 e	 às	 notas	 promissórias.	 No	 ano
seguinte,	foi	realizada	nova	Convenção,	na	qual	foi	aprovada	a	Lei	Uniforme	do	Cheque.
O	Brasil	participou	das	Convenções	de	Genebra,	representado	pelo	professor	Deoclécio	de	Campos,
e	 aderiu,	 em	 1942,	 ao	 que	 nelas	 ficou	 decidido.	 As	 Convenções	 foram	 aprovadas	 pelo	 Congresso
Nacional,	 por	 sua	 vez,	 em	 08.09.1964,	 por	 meio	 do	 Decreto	 Legislativo	 54.	 Por	 fim,	 os	 Decretos
57.663/1966	e	57.595/1966	promulgaram	as	Leis	Uniformes	das	Cambiais	e	do	Cheque,	respectivamente,
3.
em	nosso	ordenamento	jurídico.
Observe-se	que	a	forma	de	o	Brasil	adotar	os	preceitos	das	Leis	Uniformes	foi,	por	assim	dizer,	um
tanto	 pitoresca.	 Isso	 porque	 o	 Brasil	 já	 possuía	 uma	 legislação	 muito	 bem	 elaborada	 sobre	 títulos	 e
crédito:	o	Decreto	2.044/1908.	Como	esse	decreto	possuía	status	de	lei	ordinária,	somente	por	outra	lei
poderia	ser	revogado.	Portanto,	esperava-se	que	a	incorporação	da	Lei	Uniforme	de	Genebra	em	nosso
ordenamento	 fosse	 instrumentalizada	 pelo	 envio	 de	 projeto	 de	 lei	 ao	 Congresso	 Nacional,	 que
reproduzisse	o	seu	texto	normativo.
Houve,	portanto,	grande	controvérsia	doutrinária	acerca	da	efetiva	adoção,	pelo	direito	cambiário
brasileiro,	 dos	 preceitos	 das	 Leis	 Uniformes	 genebrinas.	 No	 entanto,	 em	 julgamento	 datado	 de
04.08.1971,	 o	 Supremo	 Tribunal	 Federal,	 em	 sessão	 plenária,	 entendeu	 ter	 sido	 legítima	 a	 forma	 de
incorporação	 das	 Leis	 Uniformes	 ao	 nosso	 ordenamento	 jurídico	 e	 reconheceu	 a	 sua	 aplicabilidade
imediata,	inclusive	naquilo	em	que	modificar	a	legislação	interna:
Lei	 uniforme	 sobre	 o	 cheque,	 adotada	 pela	 Convenção	 de	Genebra.	 Aprovada	 essa
Convenção	pelo	Congresso	Nacional,	 e	 regularmente	 promulgada,	 suas	 normas	 têm
aplicação	 imediata,	 inclusive	 naquilo	 em	 que	 modificarem	 a	 legislação	 interna.
Recurso	extraordinário	conhecido	e	provido	(STF,	RE	71.154-PR,	Rel.	Min.	Oswaldo
Trigueiro,	DJ	27.08.1971,	RTJ	58/70).
A	 partir	 desse	 julgamento,	 a	 Corte	 Suprema	 consolidou	 seu	 entendimento,	 razão	 pela	 qual	 as
controvérsias	doutrinárias	e	jurisprudenciais	acerca	do	tema	se	dissiparam.
Cabe	ressaltar,	por	fim,	que	o	Código	Civil	de	2002	resolveu	tratar	sobre	títulos	de	crédito	na	sua
Parte	Especial,	Livro	 I,	Título	VIII,	Capítulos	 I	 a	 IV	 (arts.	 887	a	926).	O	próprio	Código,	no	 entanto,
ressalvou	em	seu	art.	903	que	para	os	títulos	de	crédito	próprios	suas	regras	só	se	aplicam	se	não	houver
disposição	diversa	na	legislação	específica.	A	questão	será	analisada	com	mais	detalhes	adiante.
OS TÍTULOS DE CRÉDITO NA ATUALIDADE
Nas	sociedades	mais	antigas	da	história	vivia-se	numa	economia	de	escambo,	isto	é,	o	“mercado”	se
limitava	às	 trocas	de	um	bem	por	outro.	Obviamente,	 com	o	passar	do	 tempo	e	o	desenvolvimento	do
sistema	de	 trocas,	 o	 escambo	praticado	nessas	 sociedades	 se	mostrou	 insustentável,	 em	 razão	 de	 suas
limitações.	Primeiro,	o	escambo	dificultava	a	troca	porque	ele	exigia	uma	coincidência	de	interesses	por
parte	dos	partícipes	da	relação:	a	troca	só	se	perfaz	se	cada	parte	quiser	exatamente	o	que	a	outra	tem	a
oferecer.	 Ademais,	 existe	 o	 problema	 da	 ausência	 de	 equivalência	 de	 valor	 entre	 os	 diversos	 bens.
Assim,	é	forçoso	reconhecer	que	o	escambo	supria	apenas	as	necessidades	de	uma	economia	num	estágio
muito	primitivo.
Para	 superar	 as	 dificuldades	 inerentes	 ao	 escambo,	 o	 próprio	mercado	 criou,	 então,	 um	meio	 de
3.1.
troca	muito	mais	eficiente:	a	moeda.	Com	isso,	um	produtor	de	 trigo	que	quisesse	adquirir	ferramentas
não	precisava	mais	procurar	um	fabricante	dessas	peças	que	estivesse	precisando	exatamente	de	 trigo:
ele	podia	vender	 seu	 trigo	por	um	determinado	preço,	 expresso	na	moeda	usualmente	 aceita,	 e	depois
comprar	as	ferramentas	de	que	necessitava,	pagando	por	elas	 também	o	respectivo	preço.	No	curso	da
história,	inúmeras	coisas	foram	usadas	como	moeda,	mas	sempre	houve	uma	preponderância	da	prata	e
do	ouro	exercendo	essa	função	de	meio	geral	de	troca.
No	entanto,	com	o	passar	do	tempo	a	economia	foi	se	tornando	cada	vez	mais	complexa,	e	até	mesmo
a	moeda	passou	a	ser	um	meio	de	troca	ineficiente	para	dar	efetividade	a	todas	as	transações	ocorridas	a
todo	momento	no	mercado.	Mais	uma	vez,	o	próprio	mercado	deu	a	sua	solução,	criando	os	 títulos	de
crédito,	que	rapidamente	foram	incorporados	à	praxe	mercantil,	conforme	mencionamos	acima.
Hodiernamente,	entretanto,	estamos	vivendo	um	novo	momento	histórico,	em	que	a	complexidade	das
relações	econômicas	 tem	demonstrado	que	nem	a	moeda	nem	os	 títulos	e	crédito	 tradicionais	 (letra	de
câmbio,	 nota	 promissória,	 cheque,	 duplicata	 etc.)	 conseguem,	 de	maneira	 eficiente,	 dar	 efetividade	 ao
incrível	número	de	transações	realizadas	no	mercado	globalizado	dos	dias	atuais.
A	 internet	 fez	o	mercado	 ignorar	a	distância	entre	as	partes	de	uma	determinada	 relação	 jurídica,sobretudo	as	relações	empresariais.	Hoje	em	dia	é	cada	vez	mais	fácil	comprar	bens	ou	serviços	de	um
empresário	que	se	situa	em	outro	estado	ou	em	outro	país,	o	qual	às	vezes	 fica	em	outro	continente.	E
essas	transações	ocorrem	numa	velocidade	espantosa,	inimaginável	até	bem	pouco	tempo	atrás.
Portanto,	é	preciso	repensar	os	títulos	de	crédito	e,	consequentemente,	o	estudo	desse	assunto,	à	luz
dessa	novel	realidade	do	comércio	eletrônico.	Assim,	neste	capítulo,	embora	mantenhamos	o	tratamento
tradicional	 da	 disciplina,	 expondo	 os	 conceitos	 fundamentais	 há	 tempos	 construídos	 pela	 doutrina	 e
comentando	 as	 principais	 regras	 legais	 existentes	 (sobretudo	 a	 Lei	Uniforme	 de	Genebra),	 tentaremos
abordar	 a	 questão	 da	 chamada	 “desmaterialização	 dos	 títulos	 de	 crédito”	 e	 outras	 relacionadas	 ao
momento	em	que	vivemos.
A	propósito,	uma	observação	final	precisa	ser	feita:	nesse	longo	e	gradual	processo	de	evolução	dos
meios	de	negociação,	o	surgimento	de	um	novo	meio	apenas	diminui	o	uso	dos	meios	anteriores,	mas	não
os	elimina.	Assim,	quando	surgiu	a	moeda,	o	escambo	não	desapareceu,	embora	tenha	passado	a	ocorrer
com	bem	menos	frequência.	Da	mesma	forma,	quando	os	títulos	de	crédito	tradicionais	(letra	de	câmbio,
nota	 promissória	 etc.)	 surgiram,	 o	 dinheiro	 teve	 seu	 uso	 diminuído,	 mas	 não	 deixou	 de	 ser	 usado
totalmente.	Assim,	 a	mesma	 situação	 está	 ocorrendo	 agora:	 já	 não	 se	 usam	mais	 os	 títulos	 de	 crédito
como	antes	(por	exemplo,	quem,	nos	dias	de	hoje,	ainda	anda	com	um	talão	de	cheques	na	carteira?),	mas
eles	não	desapareceram	nem	desaparecerão	na	praxe	comercial.
Comércio eletrônico
Não	é	novidade	que	o	comércio	foi,	é	e	sempre	será	um	fator	de	integração	entre	os	países,	sendo,
pois,	 o	melhor	mecanismo	de	manutenção	 da	 paz.	 Povos	 que	mantém	 relações	 comerciais	 uns	 com	os
outros	não	guerreiam	entre	si.	Como	dizia	Frédéric	Bastiat,	“quando	bens	e	serviços	param	de	cruzar	as
fronteiras,	exércitos	o	fazem”.
Num	 passado	 distante,	 essa	 integração	 provocada	 pelo	 livre	 comércio	 exigia	 esforços	 incríveis,
como	as	“grandes	navegações”.	Hoje	em	dia,	no	entanto,	o	avanço	tecnológico	venceu	todas	as	barreiras
geográficas	possíveis,	e	a	internet	nos	permite	negociar	com	pessoas	do	outro	lado	do	mundo	em	apenas
alguns	segundos,	sem	maiores	complicações.
As	negociações/contratações	eram,	tradicionalmente,	instrumentalizadas	em	meio	físico	(papel),	de
modo	que	o	 contato	pessoal	 entre	 as	 partes	 contratantes	 se	 fazia	 quase	 sempre	 imprescindível.	Com	a
internet,	entretanto,	permite-se	o	contato	e	a	manifestação	de	vontade	por	meio	virtual.	A	esse	 tipo	de
negociação/contratação	dá-se	o	nome	de	comércio	eletrônico.
Assim,	 caracteriza-se	 o	 comércio	 eletrônico	 sempre	 que	 a	 venda	 de	 produtos	 ou	 serviços	 é
instrumentalizada	por	meio	de	transmissão	eletrônica	de	dados,	o	que	ocorre	no	ambiente	virtual	da	rede
mundial	de	computadores	(internet).	Perceba-se	que	não	importa	se	o	objeto	do	negócio	é	virtual	(uma
música	 ou	 um	 vídeo)	 ou	 físico	 (um	 relógio,	 uma	 geladeira	 ou	 uma	 roupa),	mas	 se	 a	manifestação	 de
vontade	é	instrumentalizada	em	meio	virtual	ou	físico.	Neste	caso,	as	partes	costumam	assinar	de	próprio
punho	 os	 contratos	 (às	 vezes	 se	 exigindo	 o	 reconhecimento	 da	 assinatura	 por	 tabelião	 e	 até	mesmo	 a
assinatura	conjunta	de	testemunhas).	Naquele,	as	partes	se	utilizam	de	assinaturas	digitais.
Assim	como	ocorreu	com	 todas	as	demais	 formas	de	negociação/contratação	anteriores	 (escambo,
títulos	de	crédito	etc.),	o	comércio	eletrônico	surgiu	da	própria	dinâmica	da	atividade	empresarial,	sem
que	houvesse	uma	prévia	“regulamentação	estatal”.	Quando	o	Estado	decidiu	regulamentar	essa	prática,
ela	já	estava	em	grau	avançado	de	desenvolvimento.
Como	 a	maioria	 das	 negociações/contratações	 do	 comércio	 eletrônico	 se	 dá	 entre	 empresários	 e
consumidores,	a	norma	editada	a	pretexto	de	promover	a	sua	regulamentação	teve	por	foco	as	relações	de
consumo,	 e	 não	 as	 relações	 interempresariais	 (ver,	 no	 início	 do	 capítulo	 seguinte,	 a	 importância	 de
distinguir	os	contratos	de	consumo	dos	contratos	interempresariais).
Tal	norma	é	o	Decreto	7.962/2013,	e	suas	preocupações	básicas	 foram	assegurar:	 (i)	 informações
claras	a	respeito	do	produto,	serviço	e	do	fornecedor;	(ii)	atendimento	facilitado	ao	consumidor;	e	(iii)
respeito	ao	direito	de	arrependimento	(art.	1º).
A	fim	de	assegurar	informações	claras	a	respeito	do	produto,	do	serviço	e	do	fornecedor,	o	art.	2º
determina	que	“os	sítios	eletrônicos	ou	demais	meios	eletrônicos	utilizados	para	oferta	ou	conclusão	de
contrato	 de	 consumo	 devem	disponibilizar,	 em	 local	 de	 destaque	 e	 de	 fácil	 visualização,	 as	 seguintes
informações:	 I	 –	 nome	 empresarial	 e	 número	 de	 inscrição	 do	 fornecedor,	 quando	 houver,	 no	Cadastro
Nacional	de	Pessoas	Físicas	ou	no	Cadastro	Nacional	de	Pessoas	Jurídicas	do	Ministério	da	Fazenda;	II
–	 endereço	 físico	 e	 eletrônico,	 e	demais	 informações	necessárias	para	 sua	 localização	e	 contato;	 III	 –
características	 essenciais	 do	 produto	 ou	 do	 serviço,	 incluídos	 os	 riscos	 à	 saúde	 e	 à	 segurança	 dos
consumidores;	IV	–	discriminação,	no	preço,	de	quaisquer	despesas	adicionais	ou	acessórias,	tais	como
3.1.1.
as	 de	 entrega	 ou	 seguros;	 V	 –	 condições	 integrais	 da	 oferta,	 incluídas	 modalidades	 de	 pagamento,
disponibilidade,	forma	e	prazo	da	execução	do	serviço	ou	da	entrega	ou	disponibilização	do	produto;	e
VI	–	informações	claras	e	ostensivas	a	respeito	de	quaisquer	restrições	à	fruição	da	oferta”.
O	 art.	 4º,	 por	 sua	 vez,	 “para	 garantir	 o	 atendimento	 facilitado	 ao	 consumidor	 no	 comércio
eletrônico”,	determina	que	“o	fornecedor	deverá:	I	–	apresentar	sumário	do	contrato	antes	da	contratação,
com	as	informações	necessárias	ao	pleno	exercício	do	direito	de	escolha	do	consumidor,	enfatizadas	as
cláusulas	 que	 limitem	 direitos;	 II	 –	 fornecer	 ferramentas	 eficazes	 ao	 consumidor	 para	 identificação	 e
correção	imediata	de	erros	ocorridos	nas	etapas	anteriores	à	finalização	da	contratação;	III	–	confirmar
imediatamente	o	 recebimento	da	 aceitação	da	oferta;	 IV	–	disponibilizar	o	 contrato	 ao	consumidor	 em
meio	que	permita	sua	conservação	e	reprodução,	imediatamente	após	a	contratação;	V	–	manter	serviço
adequado	 e	 eficaz	 de	 atendimento	 em	meio	 eletrônico,	 que	 possibilite	 ao	 consumidor	 a	 resolução	 de
demandas	 referentes	 a	 informação,	 dúvida,	 reclamação,	 suspensão	 ou	 cancelamento	 do	 contrato;	 VI	 –
confirmar	 imediatamente	o	 recebimento	das	demandas	do	consumidor	 referidas	no	 inciso,	pelo	mesmo
meio	empregado	pelo	consumidor;	e	VII	–	utilizar	mecanismos	de	segurança	eficazes	para	pagamento	e
para	tratamento	de	dados	do	consumidor”.
No	tocante	ao	propósito	de	assegurar	o	respeito	ao	direito	de	arrependimento	do	consumidor,	o	art.
5º	dispõe	que	“o	fornecedor	deve	informar,	de	forma	clara	e	ostensiva,	os	meios	adequados	e	eficazes
para	 o	 exercício	 do	 direito	 de	 arrependimento	 pelo	 consumidor”.	 O	 consumidor	 poderá	 exercer	 seu
direito	de	 arrependimento	pela	mesma	 ferramenta	utilizada	para	 a	 contratação,	 sem	prejuízo	de	outros
meios	disponibilizados	(§	1o).	O	exercício	do	direito	de	arrependimento	implica	a	rescisão	dos	contratos
acessórios,	 sem	 qualquer	 ônus	 para	 o	 consumidor	 (§	 2º).	 Ademais,	 o	 exercício	 do	 direito	 de
arrependimento	 será	 comunicado	 imediatamente	 pelo	 fornecedor	 à	 instituição	 financeira	 ou	 à
administradora	do	cartão	de	crédito	ou	 similar,	para	que	 (i)	 a	 transação	não	seja	 lançada	na	 fatura	do
consumidor,	ou	(ii)	seja	efetivado	o	estorno	do	valor,	caso	o	lançamento	na	fatura	já	tenha	sido	realizado
(§	3º).
Vale	frisar,	novamente,	que	esse	decreto	se	aplica	essencialmente	às	relações	de	consumo,	como	seu
próprio	 art.	 1º	 denuncia:	 “Este	 Decreto	 regulamenta	 a	 Lei	 8.078/1990	 (CDC),	 para	 dispor	 sobre	 a
contratação	no	comércio	eletrônico	(...)”.Por	 conseguinte,	 quando	 o	 comércio	 eletrônico	 envolver	 uma	 relação	 interempresarial	 (contratos
entre	empresários	cujo	objeto	está	relacionado	à	atividade	econômica	deles;	vide	capítulo	seguinte),	as
regras	 do	 mencionado	 decreto	 não	 terão	 aplicabilidade.	 Não	 se	 exigirá,	 por	 exemplo,	 que	 o	 site
disponibilize	todas	aquelas	informações	do	art.	2º,	tampouco	se	assegurará,	ao	empresário	contratante,	o
direito	de	arrependimento	previsto	no	art.	5º.
A	economia	do	compartilhamento
É	fácil	perceber	que	o	comércio	eletrônico	tem	provocado	uma	verdadeira	revolução	no	mercado.
Em	primeiro	lugar,	o	comércio	eletrônico	tem	permitido	uma	maior	competição	empresarial,	já	que	a
prescindibilidade	do	contato	pessoal	entre	os	contratantes	permite	que	empresários	situados	em	locais	os
mais	 distantes	 concorram	 entre	 si	 pela	 preferência	 dos	 consumidores	 (se	 antes	 um	 músico	 de	 uma
pequena	cidade	tinha	que	optar	entre	duas	ou	três	lojas	físicas	perto	da	sua	casa	para	comprar	seu	violão,
pagando	em	dinheiro	ou	cheque,	por	exemplo,	hoje	ele	pode	optar	entre	n	 lojas	virtuais	do	mundo	todo
(!),	pagando	por	meio	de	cartões	de	crédito	ou	débito,	sem	sair	da	sua	residência).
Em	segundo	lugar,	o	comércio	eletrônico,	por	facilitar	o	contato	direto	entre	o	fornecedor	original	e
o	consumidor	final,	tem	eliminado	intermediários	e	criado	uma	nova	organização	mercadológica.	Assim,
alguns	 contratos	 de	 colaboração	 tradicionais,	 como	 a	 representação	 e	 a	 distribuição,	 tendem	 a
desaparecer	em	determinados	setores,	ao	passo	que	novos	modelos	de	colaboração	empresarial	surgirão.
No	entanto,	 a	maior	mudança	provocada	pelo	 comércio	 eletrônico,	 que	 ainda	não	 está	 sendo	bem
assimilada	pelas	pessoas,	 é	 a	 facilitação	da	negociação/contratação	P2P	 (pessoa	para	pessoa).	De	um
lado,	isso	faz	com	que	empresários	passem	a	sofrer	concorrência	não	apenas	de	outros	empresários,	mas
também	 de	 não	 empresários	 (como	 exemplo,	 basta	mencionar	 o	 crescimento	 vertiginoso	 dos	 sites	 de
compra	e	venda	virtual,	que	permitem	a	qualquer	pessoa	comprar	e	vender	bens	usados).	De	outro	lado,
isso	 tem	 permitido	 o	 desenvolvimento	 da	 chamada	 economia	 do	 compartilhamento	 (ou	 economia
colaborativa).
Nesse	novo	modelo	econômico,	a	facilidade	de	negociação/contratação	P2P	permite	que	as	pessoas
tenham	 acesso	 a	 inúmeros	 bens	 e	 serviços	 sem	 a	 necessidade	 de	 adquiri-los	 e,	 às	 vezes,	 sem	 a
necessidade	 sequer	 de	 realizar	 trocas	 monetárias	 para	 tanto.	 Se	 antes	 as	 negociações/contratações
centravam-se	 na	 compra	 e	 venda	 de	 bens	 ou	 serviços,	 agora	 elas	 tendem	 a	 privilegiar	 a	 troca,	 o
empréstimo,	a	doação,	o	compartilhamento.
Dois	fatores,	a	meu	ver,	tem	se	mostrado	determinantes	para	o	surgimento	e	o	desenvolvimento	dessa
nova	economia:	 (i)	o	aumento	constante	do	estoque	ocioso	de	bens,	decorrente	do	processo	normal	de
acumulação	de	riquezas	intrínseco	ao	capitalismo,	e	(ii)	o	avanço	tecnológico.
Quanto	ao	segundo	fator,	três	inovações	dele	decorrentes	são	decisivas	para	o	sucesso	da	economia
do	compartilhamento	(ou	consumo	colaborativo,	como	preferem	alguns):	(i)	a	universalização	do	acesso
aos	 aparelhos	móveis	 de	 telefonia	 celular	 com	acesso	 à	 internet	 e	mecanismos	 de	 geolocalização,	 os
chamados	smartphones,	 (ii)	 a	difusão	dos	 sistemas	de	pagamento	on-line	 (cartões	de	 crédito	 e	débito
com	chips	e	senhas	e	empresas	como	o	PayPal,	por	exemplo),	e	(iii)	a	proliferação	das	redes	sociais.
Algumas	 características	 interessantes	 desse	 novo	 modelo	 econômico,	 uma	 decorrente	 da	 outra,
merecem	ser	destacadas.
A	primeira	delas	é	a	eficiência	da	autorregulação	do	mercado.	Como	dito,	o	comércio	eletrônico,
nas	 suas	 mais	 variadas	 modalidades,	 surgiu	 e	 se	 desenvolveu	 a	 despeito	 da	 inexistência	 de	 uma
“regulação	 estatal”.	Trata-se,	 pois,	 de	 um	ambiente	 onde	 a	 autorregulação	 é	 intensa,	 descentralizada	 e
extremamente	 eficiente,	 pois	 a	 facilidade	 do	 fluxo	 de	 informações	 na	 internet	 força	 os	 agentes	 desse
3.1.2.
mercado	a	construir	e	manter	um	capital	reputacional	elevado.
A	 segunda	 característica,	 decorrente	 da	 primeira,	 é	 a	 desburocratização	 e	 a	 democratização	 do
empreendedorismo.	Enquanto	a	regulação	estatal	produz	entraves	burocráticos	insuperáveis	e	reservas	de
mercado	 corporativistas,	 a	 autorregulação	 facilita	 o	 empreendedorismo	 ao	 deixar	 nas	 mãos	 dos
consumidores,	e	não	de	funcionários	públicos,	a	decisão	sobre	quem	vai	ser	bem-sucedido	no	exercício
de	determinada	atividade	econômica.	Alvarás,	 licenças	e	diplomas	não	garantem	a	permanência	de	um
empreendedor	no	mercado,	mas	apenas	o	bom	atendimento	das	demandas	dos	seus	consumidores.
Finalmente,	 a	 terceira	 característica	 da	 economia	 do	 compartilhamento,	 decorrente	 das	 duas
anteriormente	mencionadas,	é	a	quebra	constante	de	privilégios	monopolísticos	concedidos	pelo	Estado,
o	que,	obviamente,	está	provocando	uma	reação	enfurecida	dos	respectivos	cartéis	(a	 título	 ilustrativo,
cite-se	 a	 guerra	 do	 cartel	 dos	 taxistas	 contra	 os	 aplicativos	 de	 transporte	 urbano).	 Os	 pedidos	 de
“regulamentação”	 dos	 cartéis	 desmantelados	 são	 absolutamente	 sem	 sentido,	 já	 que	 a	 economia	 do
compartilhamento	é	fortemente	regulamentada,	como	dito,	por	mecanismos	de	autorregulação	(as	pessoas
precisam	entender	que	regulamentação	não	significa,	necessariamente,	regulação	estatal).
Enfim,	para	que	a	economia	do	compartilhamento	continue	quebrando	monopólios,	democratizando	o
exercício	de	atividade	econômica	e	beneficiando	a	sociedade,	é	imperativo	que	o	governo	mantenha	bem
longe	as	suas	mãos	sujas.
As	criptomoedas	(o	fenômeno bitcoin)
De	 todos	os	monopólios	estatais	que	podem	–	e	devem	–	ser	quebrados	pelo	desenvolvimento	do
comércio	eletrônico,	o	monopólio	da	emissão	de	moeda	é	o	mais	importante	deles.
Como	visto,	o	dinheiro	não	é	uma	criação	estatal,	mas	do	próprio	mercado.	O	dinheiro	surgiu	quando
as	dificuldades	da	troca	direta	de	bens	(escambo)	fizeram	com	que	bens	mais	demandados	começassem	a
ser	 usados	 como	meio	 de	 troca	 indireta,	 isto	 é,	 começassem	 a	 ser	 usados	 como	 “moeda”.	Daí	 vem	o
“teorema	da	regressão”	de	Ludwig	von	Mises:	um	bem	só	pode	se	tornar	dinheiro	(moeda),	isto	é,	meio
de	troca	indireta,	se	antes	já	tinha	valor	como	mercadoria,	ou	seja,	como	meio	de	troca	direta.
As	 primeiras	 moedas,	 portanto,	 foram	 aqueles	 bens	 que,	 em	 virtude	 de	 certas	 características
(raridade,	durabilidade,	divisibilidade,	portabilidade,	testabilidade	etc.)	eram	mais	demandados	do	que
outros	 (ouro	 e	 prata,	 por	 exemplo).	 A	 maior	 demanda	 por	 um	 bem	 fazia	 dele	 uma	 mercadoria
comerciável:	pessoas	o	aceitavam	como	meio	de	 troca	mesmo	não	necessitando	diretamente	dele,	mas
porque	sabiam	que,	 futuramente,	conseguiriam	 trocá-lo	por	algo	desejado	com	mais	 facilidade.	Quanto
mais	 um	 bem	 era	 demandado,	maior	 era	 a	 sua	 comerciabilidade,	 e	 quanto	mais	 sua	 comerciabilidade
aumentava,	a	demanda	por	ele	também	crescia.	Entrava-se	num	ciclo	virtuoso	até	o	ponto	em	que	todos
aceitavam	facilmente	aquele	bem	como	meio	de	troca.	O	dinheiro	acabara	de	ser	criado.
A	 criação	 do	 dinheiro	 facilitou	 a	 especialização	 e	 a	 divisão	 do	 trabalho,	 fundamentais	 para	 o
desenvolvimento	 econômico	 e	 social.	 Antes,	 alguém	 que	 produzia	 lanças	 tinha	 que	 encontrar	 pessoas
interessadas	em	trocar	comida	por	lanças,	roupas	por	lanças	etc.	Agora,	ele	precisa	apenas	trocar	suas
lanças	por	dinheiro,	e	depois	usá-lo	para	adquirir	o	que	precisa.
A	 especialização	 e	 a	 divisão	 do	 trabalho,	 por	 sua	 vez,	 facilitaram	 a	 acumulação	 de	 riqueza	 e	 a
formação	de	poupança,	o	que	permitiu	o	 investimento	em	bens	de	capital,	melhorando	e	aumentando	a
produção,	 e	 propiciou	 a	 formalização	 de	 empréstimos	 e	 financiamentos	 a	 terceiros,	 dinamizando	 a
economia.
O	 dinheiro	 também	 fez	 com	 que	 os	 demais	 bens	 em	 circulação	 no	 mercado	 pudessem	 ser
precificadosde	forma	objetiva,	e	sabe-se	que	o	sistema	de	preços	é	o	que	permite	o	cálculo	econômico
racional:	analisando	os	preços,	o	empresário	sabe	se	está	tendo	lucros	ou	prejuízos	e	descobre	a	melhor
forma	de	alocar	seus	recursos.
Mas	se	o	dinheiro	surgiu	e	se	desenvolveu	livremente	no	mercado,	por	que	ele	hoje	é	controlado	de
forma	monopolística	pelo	Estado?	A	explicação	é	simples.
Numa	economia	em	que	se	usa	o	ouro,	por	exemplo,	como	moeda,	um	indivíduo	tem	duas	formas	de
adquirir	 dinheiro:	 (i)	 produzindo	 bens	 ou	 serviços	 que	 outras	 pessoas	 queiram	 pagar	 por	 eles	 ou	 (ii)
dedicando-se	à	mineração	(garimpo).
O	 Estado,	 por	 sua	 vez,	 adquire	 dinheiro,	 via	 de	 regra,	 pela	 tributação.	 Ocorre	 que	 esta	 é,
normalmente,	 impopular,	 podendo	 gerar	 revoltas	 que,	 como	 a	História	 nos	 ensina,	 derrubam	 qualquer
governo,	por	mais	poderoso	que	ele	seja.	Assim,	o	Estado	descobriu	que	controlar	a	moeda	lhe	permite
criar	dinheiro	do	nada	(sem	lastro),	sem	causar	o	impacto	e	a	revolta	que	a	tributação	causa.	A	criação	de
dinheiro	sem	lastro	é	chamada	de	inflação	(infla-se	a	base	monetária),	e	sua	consequência	inevitável	é	o
aumento	dos	preços,	dada	a	desvalorização	da	unidade	monetária.
Portanto,	o	controle	do	dinheiro	pelo	Estado,	exercido	através	dos	Bancos	Centrais,	 é	a	principal
causa	das	crises	econômicas	e	dos	surtos	de	inflação	seguidos	de	aumento	generalizado	dos	preços	que
temos	 visto	 nas	 últimas	 décadas,	 como	 há	 tempos	 já	 explicaram	 os	 economistas	 da	 Escola	 Austríaca
(Ludwig	von	Mises,	Friedrich	Hayek	e	Murray	Rothbard).
O	 comércio	 eletrônico	 (uso	 a	 expressão	 aqui	 em	 seu	 sentido	 lato,	 significando	 as
negociações/contratações	virtuais,	por	meio	da	internet),	porém,	pode	ajudar	a	quebrar	esse	monopólio
estatal	 sobre	 o	 dinheiro,	 com	 a	 criação	 e	 o	 desenvolvimento	 das	 criptomoedas,	 cujo	 exemplo	 mais
significativo	é	o	bitcoin.
Não	se	sabe	ao	certo	quem	criou	o	bitcoin,	já	que	sua	origem	é	um	artigo	publicado	num	fórum	de
criptografia	em	2008,	assinado	por	Satoshi	Nakamoto,	mas	acredita-se	que	se	trata	de	um	pseudônimo,	já
que	essa	pessoa	nunca	apareceu	em	público,	 tendo	desaparecido	dos	 fóruns	de	que	participava	alguns
anos	depois	da	divulgação	de	sua	revolucionária	ideia.
O	bitcoin	é	uma	criptomoeda	que	utiliza	uma	tecnologia	ponto	a	ponto	(peer-to-peer)	para	criar	um
sistema	 de	 pagamentos	 on-line	 que	 não	 depende	 de	 intermediários	 e	 não	 se	 submete	 a	 nenhuma
autoridade	 regulatória	 centralizadora.	 O	 código	 do	 bitcoin	 é	 aberto,	 seu	 design	 é	 público,	 não	 há
proprietários	 ou	 controladores	 centrais	 e	 qualquer	 pessoa	 pode	 participar	 do	 seu	 sistema	 de
gerenciamento	coletivo.	Enfim,	o	bitcoin	é	uma	inovação	revolucionária	porque	é	o	primeiro	sistema	de
pagamentos	totalmente	descentralizado.
O	comércio	eletrônico	tradicional	é	sempre	feito	através	de	intermediários	(uma	operadora	de	cartão
de	 crédito,	 uma	 instituição	 financeira	 ou	 uma	 empresa	 de	 pagamentos	 on-line,	 como	 o	 PayPal)	 e
lastreado	em	uma	moeda	oficial	 (dólar,	 real,	 euro	 etc.).	As	 transações	 com	bitcoins,	 por	 sua	vez,	 não
dependem	 de	 intermediários	 e	 não	 são	 lastreadas	 em	 uma	 moeda	 oficial,	 mas	 no	 próprio	 bitcoin.
Portanto,	não	se	trata	apenas	de	um	novo	sistema	de	pagamentos,	mas	de	uma	nova	moeda.
Dada	a	importância	e	a	singularidade	do	tema,	transcrevo	abaixo	as	explicações	de	Fernando	Ulrich,
em	seu	livro	Bitcoin:	o	dinheiro	na	era	digital,	a	primeira	obra	publicada	no	Brasil	sobre	o	assunto:
O	que	é	Bitcoin
Bitcoin	 é	 uma	moeda	 digital	 peer-to-peer	 (par	 a	 par	 ou,	 simplesmente,	 de	 ponto	 a
ponto),	de	código	aberto,	que	não	depende	de	uma	autoridade	central.	Entre	muitas
outras	coisas,	o	que	faz	o	Bitcoin	ser	único	é	o	fato	de	ele	ser	o	primeiro	sistema	de
pagamentos	 global	 totalmente	 descentralizado.	 Ainda	 que	 à	 primeira	 vista	 possa
parecer	complicado,	os	conceitos	fundamentais	não	são	difíceis	de	compreender.
Visão	geral
Até	 a	 invenção	 do	 Bitcoin,	 em	 2008,	 pelo	 programador	 não	 identificado	 conhecido
apenas	 pelo	 nome	 Satoshi	 Nakamoto,	 transações	 on-line	 sempre	 requereram	 um
terceiro	intermediário	de	confiança.	Por	exemplo,	se	Maria	quisesse	enviar	100	u.m.
ao	João	por	meio	da	 internet,	ela	 teria	que	depender	de	serviços	de	 terceiros	como
PayPal	ou	Mastercard.	Intermediários	como	o	PayPal	mantêm	um	registro	dos	saldos
em	 conta	 dos	 clientes.	 Quando	Maria	 envia	 100	 u.m.	 ao	 João,	 o	 PayPal	 debita	 a
quantia	de	sua	conta,	creditando-a	na	de	João.	Sem	tais	intermediários,	um	dinheiro
digital	 poderia	 ser	 gasto	 duas	 vezes.	 Imagine	 que	 não	 haja	 intermediários	 com
registros	 históricos,	 e	 que	 o	 dinheiro	 digital	 seja	 simplesmente	 um	 arquivo	 de
computador,	da	mesma	 forma	que	documentos	digitais	 são	arquivos	de	 computador.
Maria	poderia	enviar	ao	João	100	u.m.	simplesmente	anexando	o	arquivo	de	dinheiro
em	uma	mensagem.	Mas	assim	como	ocorre	com	um	e-mail,	enviar	um	arquivo	como
anexo	 não	 o	 remove	 do	 computador	 originador	 da	 mensagem	 eletrônica.	 Maria
reteria	a	cópia	do	arquivo	após	tê-lo	enviado	anexado	à	mensagem.	Dessa	forma,	ela
poderia	facilmente	enviar	as	mesmas	100	u.m.	ao	Marcos.	Em	ciência	da	computação,
isso	é	conhecido	como	o	problema	do	“gasto	duplo”,	e,	até	o	advento	do	Bitcoin,	essa
questão	 só	 poderia	 ser	 solucionada	 por	 meio	 de	 um	 terceiro	 de	 confiança	 que
empregasse	um	registro	histórico	de	transações.
A	 invenção	 do	 Bitcoin	 é	 revolucionária	 porque,	 pela	 primeira	 vez,	 o	 problema	 do
gasto	 duplo	 pode	 ser	 resolvido	 sem	 a	 necessidade	 de	 um	 terceiro;	 Bitcoin	 o	 faz
distribuindo	 o	 imprescindível	 registro	 histórico	 a	 todos	 os	 usuários	 do	 sistema	 via
uma	 rede	 peer-to-peer.	 Todas	 as	 transações	 que	 ocorrem	 na	 economia	 Bitcoin	 são
registradas	em	uma	espécie	de	livro-razão	público	e	distribuído	chamado	de	blockchain
(corrente	de	blocos,	ou	simplesmente	um	registro	público	de	transações),	o	que	nada
mais	é	do	que	um	grande	banco	de	dados	público,	contendo	o	histórico	de	 todas	as
transações	realizadas.	Novas	transações	são	verificadas	contra	o	blockchain	de	modo
a	assegurar	que	os	mesmos	bitcoins	não	tenham	sido	previamente	gastos,	eliminando
assim	o	problema	do	gasto	duplo.	A	rede	global	peer-to-peer,	composta	de	milhares	de
usuários,	torna-se	o	próprio	intermediário;	Maria	e	João	podem	transacionar	sem	o
PayPal.
É	 importante	 notar	 que	 as	 transações	 na	 rede	 Bitcoin	 não	 são	 denominadas	 em
dólares,	 euros	 ou	 reais,	 como	 são	 no	 PayPal	 ou	 Mastercard;	 em	 vez	 disso,	 são
denominadas	 em	 bitcoins.	 Isso	 torna	 o	 sistema	 Bitcoin	 não	 apenas	 uma	 rede	 de
pagamentos	descentralizada,	mas	também	uma	moeda	virtual.	O	valor	da	moeda	não
deriva	do	ouro	ou	de	algum	decreto	governamental,	mas	do	valor	que	as	pessoas	lhe
atribuem.	O	valor	em	reais	de	um	bitcoin	é	determinado	em	um	mercado	aberto,	da
mesma	 forma	 que	 são	 estabelecidas	 as	 taxas	 de	 câmbio	 entre	 diferentes	 moedas
mundiais.
Como	funciona
Até	aqui	discutimos	o	que	é	o	Bitcoin:	uma	rede	de	pagamentos	 peer-to-peer	e	 uma
moeda	 virtual	 que	 opera,	 essencialmente,	 como	 o	 dinheiro	 online.	 Vejamos	 agora
como	é	seu	funcionamento.
As	 transações	 são	 verificadas,	 e	 o	 gasto	 duplo	 é	 prevenido,	 por	 meio	 de	 um	 uso
inteligente	da	criptografia	de	chave	pública.	Tal	mecanismo	exige	que	a	cada	usuário
sejam	atribuídas	duas	“chaves”,	uma	privada,	que	é	mantida	em	segredo,	como	uma
senha,	 e	 outra	 pública,	 que	 pode	 ser	 compartilhada	 com	 todos.	 Quando	 a	 Maria
decide	transferir	bitcoins	ao	João,	ela	cria	uma	mensagem,	chamada	de	“transação”,
que	contém	a	chave	pública	do	João,	assinando	com	sua	chave	privada.	Olhando	a
chave	 pública	 da	 Maria,	 qualquer	 um	 pode	 verificar	 que	 a	 transação	 foi	 de	 fato
assinada	com	sua	chave	privada,	sendo,	assim,	uma	troca	autêntica,	e	que	João	é	o
novo	 proprietário	 dos	 fundos.	 A	 transação	 –	 e	 portanto	 umatransferência	 de
propriedade	dos	bitcoins	–	é	registrada,	carimbada	com	data	e	hora	e	exposta	em	um
“bloco”	do	blockchain	(o	grande	banco	de	dados,	ou	livro-razão	da	rede	Bitcoin).	A
criptografia	de	chave	pública	garante	que	todos	os	computadores	na	rede	tenham	um
registro	constantemente	atualizado	e	verificado	de	todas	as	transações	dentro	da	rede
Bitcoin,	o	que	impede	o	gasto	duplo	e	qualquer	tipo	de	fraude.
Mas	o	que	significa	dizermos	que	“a	rede”	verifica	as	transações	e	as	reconcilia	com
o	registro	público?	E	como	exatamente	são	criados	e	introduzidos	novos	bitcoins	na
oferta	monetária?	Como	vimos,	porque	o	Bitcoin	é	uma	rede	peer-to-peer,	não	há	uma
autoridade	central	encarregada	nem	de	criar	unidades	monetárias	nem	de	verificar
as	 transações.	Essa	 rede	depende	dos	usuários	que	proveem	a	 força	 computacional
para	 realizar	 os	 registros	 e	 as	 reconciliações	 das	 transações.	 Esses	 usuários	 são
chamados	 de	 “mineradores”,	 porque	 são	 recompensados	 pelo	 seu	 trabalho	 com
bitcoins	recém-criados.	Bitcoins	são	criados,	ou	“minerados”,	à	medida	que	milhares
de	computadores	dispersos	resolvem	problemas	matemáticos	complexos	que	verificam
as	transações	no	blockchain.	Como	um	analista	afirmou,
A	real	mineração	de	bitcoins	é	puramente	um	processo	matemático.	Uma	analogia	útil
é	a	procura	de	números	primos:	costumava	ser	relativamente	fácil	achar	os	menores
(Erastóstenes,	 na	Grécia	Antiga,	 produziu	 o	 primeiro	 algoritmo	para	 encontrá-los).
Mas	à	medida	que	eles	eram	encontrados,	 ficava	mais	difícil	encontrar	os	maiores.
Hoje	em	dia,	pesquisadores	usam	computadores	avançados	de	alto	desempenho	para
encontrá-los,	 e	 suas	 façanhas	 são	observadas	pela	 comunidade	da	matemática	 (por
exemplo,	a	Universidade	do	Tennessee	mantém	uma	lista	dos	5.000	maiores).
No	 caso	 do	 Bitcoin,	 a	 busca	 não	 é,	 na	 verdade,	 por	 números	 primos,	 mas	 por
encontrar	 a	 sequência	 de	 dados	 (chamada	 de	 “bloco”)	 que	 produz	 certo	 padrão
quando	o	algoritmo	“hash”	do	Bitcoin	é	aplicado	aos	dados.	Quando	uma	combinação
ocorre,	o	minerador	obtém	um	prêmio	de	bitcoins	(e	também	uma	taxa	de	serviço,	em
bitcoins,	no	caso	de	o	mesmo	bloco	ter	sido	usado	para	verificar	uma	transação).	O
tamanho	do	prêmio	é	reduzido	ao	passo	que	bitcoins	são	minerados.
A	dificuldade	da	busca	também	aumenta,	 fazendo	com	que	seja	computacionalmente
mais	 difícil	 encontrar	 uma	 combinação.	Esses	 dois	 efeitos	 combinados	 acabam	por
reduzir	ao	longo	do	tempo	a	taxa	com	que	bitcoins	são	produzidos,	imitando	a	taxa	de
produção	de	uma	commodity	como	o	ouro.	Em	um	momento	futuro,	novos	bitcoins	não
serão	produzidos,	e	o	único	incentivo	aos	mineradores	serão	as	taxas	de	serviços	pela
verificação	de	transações.
O	protocolo,	portanto,	foi	projetado	de	tal	forma	que	cada	minerador	contribui	com	a
força	de	processamento	de	 seu	computador	visando	à	 sustentação	da	 infraestrutura
necessária	 para	 manter	 e	 autenticar	 a	 rede	 da	 moeda	 digital.	 Mineradores	 são
premiados	 com	 bitcoins	 recém-criados	 por	 contribuir	 com	 força	 de	 processamento
para	manter	a	rede	e	por	verificar	as	transações	no	blockchain.	E	à	medida	que	mais
capacidade	 computacional	 é	 dedicada	 à	 mineração,	 o	 protocolo	 incrementa	 a
dificuldade	 do	 problema	 matemático,	 assegurando	 que	 bitcoins	 sejam	 sempre
minerados	a	uma	taxa	previsível	e	limitada.
4.
Esse	processo	de	mineração	de	bitcoins	não	continuará	indefinidamente.	O	Bitcoin	foi
projetado	de	modo	a	reproduzir	a	extração	de	ouro	ou	outro	metal	precioso	da	Terra	–
somente	 um	 número	 limitado	 e	 previamente	 conhecido	 de	 bitcoins	 poderá	 ser
minerado.	 A	 quantidade	 arbitrária	 escolhida	 como	 limite	 foi	 de	 21	 milhões	 de
bitcoins.	Estima-se	que	os	mineradores	colherão	o	último	“satoshi”,	ou	0,00000001
de	um	bitcoin,	no	ano	de	2140.	Se	a	potência	de	mineração	total	escalar	a	um	nível
bastante	elevado,	a	dificuldade	de	minerar	bitcoins	aumentará	tanto	que	encontrar	o
último	 “satoshi”	 será	 uma	 empreitada	 digital	 consideravelmente	 desafiadora.	Uma
vez	que	o	último	“satoshi”	tenha	sido	minerado,	os	mineradores	que	direcionarem	sua
potência	de	processamento	ao	ato	de	verificação	das	transações	serão	recompensados
com	 taxas	 de	 serviço,	 em	 vez	 de	 novos	 bitcoins	 minerados.	 Isso	 garante	 que	 os
mineradores	ainda	tenham	um	incentivo	de	manter	a	rede	operando	após	a	extração
do	último	bitcoin.
O	 futuro	 do	bitcoin,	 por	 enquanto,	 ainda	 é	 incerto.	 É	 provável	 que	 os	 governos	 de	 vários	 países
usem	toda	a	sua	força	contra	essa	criptomoeda,	já	que	ela	representa	uma	real	possibilidade	de	quebra	do
monopólio	estatal	 sobre	o	dinheiro,	o	que	seria	um	grande	avanço	no	caminho	de	uma	sociedade	mais
livre	e	próspera.
CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS
DE CRÉDITO
O	conceito	de	título	de	crédito	unanimemente	aceito	pelos	doutrinadores	é	o	que	foi	dado	por	Cesare
Vivante.	O	grande	jurista	italiano	definiu	título	de	crédito	como	o	documento	necessário	ao	exercício	do
direito,	literal	e	autônomo,	nele	mencionado.	Tal	conceito	foi	adotado	pelo	Código	Civil,	que	em	seu
art.	887	dispõe	que	“o	título	de	crédito,	documento	necessário	ao	exercício	do	direito	literal	e	autônomo
nele	contido,	somente	produz	efeito	quando	preencha	os	requisitos	da	lei”.
O	 conceito	 de	Vivante	 é	 o	 ideal	 porque	 nos	 remete,	 por	 intermédio	 das	 expressões	 “necessário”,
“literal”	e	“autônomo”,	aos	três	princípios	informadores	do	regime	jurídico	cambial:	a)	cartularidade;
b)	 literalidade;	 c)	 autonomia.	 Alguns	 autores	 ainda	 apontam	 outros	 princípios,	 como	 a
independência/substantividade	 e	 a	 legalidade/tipicidade.	 Independentes	 seriam	 os	 títulos
autossuficientes,	ou	seja,	que	não	dependem	de	nenhum	outro	documento	para	completá-los	(por	exemplo:
letra	 de	 câmbio,	 nota	 promissória,	 cheque	 e	 duplicata).	 Já	 o	 princípio	 da	 legalidade	 significa	 que	 os
títulos	 de	 crédito	 são	 tipos	 legais,	 ou	 seja,	 só	 receberiam	 a	 qualificação	 de	 título	 de	 crédito	 aqueles
documentos	assim	definidos	em	lei.
Ademais,	 segundo	 a	 doutrina	 especializada,	 do	 conceito	 de	 títulos	 podemos	 extrair	 também	 suas
principais	características.	Primeiro,	os	 títulos	de	crédito	possuem	natureza	 essencialmente	 comercial,
4.1.
daí	 porque	 o	 direito	 cambiário	 é	 sub-ramo	 específico	 do	 direito	 comercial,	 desenvolvido	 com	 a
finalidade	clara	de	 conferir	 aos	 títulos	de	 crédito	 as	prerrogativas	necessárias	 ao	cumprimento	de	 sua
função	primordial:	circulação	de	riqueza	com	segurança.
Pode-se	dizer	ainda	que	os	títulos	de	crédito	(i)	são	documentos	formais,	por	precisarem	observar
os	 requisitos	 essenciais	 previstos	 na	 legislação	 cambiária,	 (ii)	 são	 considerados	bens	móveis	 (nesse
sentido,	aliás,	dispõem	os	arts.	82	a	84	do	Código	Civil),	 sujeitando-se	aos	princípios	que	norteiam	a
circulação	desses	bens,	como	o	que	prescreve	que	a	posse	de	boa-fé	vale	como	propriedade,	e	(iii)	são
títulos	de	apresentação,	 por	 serem	 documentos	 necessários	 ao	 exercício	 dos	 direitos	 neles	 contidos.
Outra	característica	dos	 títulos	de	crédito	é	que	eles	constituem	 títulos	executivos	extrajudiciais	 (art.
585	do	Código	de	Processo	Civil),	por	configurarem	uma	obrigação	líquida	e	certa.
Destaque-se	 também	 que	 os	 títulos	 de	 crédito	 representam	 obrigações	 quesíveis	 (querable),
cabendo	ao	credor	dirigir-se	ao	devedor	para	receber	a	importância	devida,	e	que	a	emissão	do	título	e	a
sua	entrega	ao	credor	têm,	em	regra,	natureza	pro	solvendo,	isto	é,	não	implica	novação	no	que	se	refere
à	relação	jurídica	que	deu	origem	ao	título:	a	relação	jurídica	que	originou	o	título,	portanto,	não	irá	se
confundir	com	a	relação	cambiária	representada	pelo	título	emitido.
Por	 fim,	cabe	 ressaltar	que	o	 título	de	crédito	é	 título	de	resgate,	 porque	 sua	 emissão	pressupõe
futuro	pagamento	em	dinheiro	que	extinguirá	a	relação	cambiária,	e	é	 também	um	título	de	circulação,
uma	vez	que	sua	principal	função	é,	como	já	afirmamosreiteradas	vezes,	a	circulabilidade	do	crédito.
Princípios	e	características	dos	títulos	de	crédito:
Princípio da cartularidade
Quando	se	afirma	que	o	 título	de	crédito	é	o	documento	necessário	ao	exercício	do	direito	nele
mencionado,	há	uma	 referência	clara	ao	princípio	da	cartularidade,	 segundo	o	qual	 se	entende	que	o
4.1.1.
exercício	de	qualquer	direito	representado	no	título	pressupõe	a	sua	posse	legítima.	O	titular	do	crédito
representado	no	título	deve	estar	na	posse	deste	(ou	seja,	da	cártula),	que	se	torna,	pois,	imprescindível
para	a	comprovação	da	própria	existência	do	crédito	e	da	sua	consequente	exigibilidade.
Em	síntese,	o	princípio	da	cartularidade	nos	permite	afirmar	que	o	direito	de	crédito	mencionado	na
cártula	não	existe	sem	ela,	não	pode	ser	transmitido	sem	a	sua	tradição	e	não	pode	ser	exigido	sem	a	sua
apresentação.
É	em	função	da	obediência	ao	princípio	da	cartularidade	que	alguns	autores	 inserem	os	 títulos	de
crédito	 na	 categoria	 de	documentos	dispositivos,	 que	 consistem,	 justamente,	 naqueles	 documentos	 que
são	imprescindíveis	para	o	exercício	dos	direitos	que	eles	representam.
Também	 se	 costuma	 utilizar,	 com	 o	 mesmo	 sentido	 de	 cartularidade,	 a	 expressão	 princípio	 da
incorporação,	segundo	o	qual	o	direito	de	crédito	materializa-se	no	próprio	documento,	não	existindo	o
direito	 sem	o	 respectivo	 título.	A	 incorporação,	pois,	 representa	a	 relação	direta	que	 se	opera	entre	o
documento	e	o	direito	de	crédito,	não	existindo	este	sem	aquele.
Em	 obediência	 ao	 princípio	 da	 cartularidade,	 (i)	 a	 posse	 do	 título	 pelo	 devedor	 presume	 o
pagamento	do	 título,	 (ii)	 só	é	possível	protestar	o	 título	apresentando-o,	 (iii)	 só	é	possível	 executar	o
título	apresentando-o,	não	suprindo	a	sua	ausência	nem	mesmo	a	apresentação	de	cópia	autenticada.
A	desmaterialização	dos	títulos	de	crédito
É	preciso	destacar,	todavia,	que	o	princípio	da	cartularidade	ou	incorporação,	hodiernamente,	vem
sendo	posto	em	xeque,	em	virtude	do	crescente	desenvolvimento	tecnológico	e	da	consequente	criação	de
títulos	de	crédito	magnéticos,	ou	seja,	que	não	se	materializam	numa	cártula.
O	próprio	Código	Civil	estabeleceu	expressamente	em	seu	art.	889,	§	3.º,	que	“o	título	poderá	ser
emitido	 a	 partir	 dos	 caracteres	 criados	 em	computador	 ou	meio	 técnico	 equivalente	 e	 que	 constem	da
escrituração	do	emitente,	observados	os	requisitos	mínimos	previstos	neste	artigo”.
A	doutrina	 tem	se	 referido	a	esse	processo	como	a	desmaterialização	dos	 títulos	de	crédito,	 que
acaba	por	contestar,	de	certa	forma,	o	princípio	da	cartularidade,	dada	a	proliferação	dos	títulos	em	meio
magnético,	sem	que	eles	sejam,	enfim,	materializados	num	documento	em	meio	físico.
A	 desmaterialização	 dos	 títulos	 de	 crédito,	 enfim,	 por	 permitir	 a	 criação	 de	 títulos	 não
cartularizados,	ou	seja,	não	documentados	em	papel,	cria	situações	em	que,	por	exemplo,	o	credor	pode
executar	um	determinado	título	de	crédito	sem	a	necessidade	de	apresentá-lo	em	juízo.	É	o	que	ocorre
com	as	chamadas	duplicatas	virtuais,	muito	comuns	na	praxe	mercantil,	as	quais	podem	ser	executadas
mediante	a	apresentação,	apenas,	do	instrumento	de	protesto	por	indicações	e	do	comprovante	de	entrega
das	mercadorias	(art.	15,	§	2.º,	da	Lei	5.474/1968).
Nesse	sentido,	vale	 lembrar	a	 inovação	trazida	pela	Lei	11.419/2006,	a	qual	deu	nova	redação	ao
art.	 365,	 §	 2.º,	 do	CPC/1973,	 que	 passou	 a	 ter	 o	 seguinte	 teor:	 “tratando-se	 de	 cópia	 digital	 de	 título
executivo	extrajudicial	ou	outro	documento	relevante	à	instrução	do	processo,	o	juiz	poderá	determinar	o
seu	depósito	em	cartório	ou	secretaria”.	Essa	disposição	foi	repetida	pelo	CPC/2015,	no	art.	425,	§	2º.
Vale	destacar	também	a	Lei	11.076/2004,	que	criou	títulos	eletrônicos	para	o	agronegócio.
Enfim,	 o	 processo	 de	 desmaterialização	 dos	 títulos	 de	 crédito	 é	 uma	 consequência	 natural	 do
desenvolvimento	do	comércio	eletrônico,	que	exige	que	repensemos	o	conceito	de	documento,	o	qual	não
pode	mais	ser	visto	apenas	como	algo	materializado	em	papel.	O	documento	eletrônico	é	uma	realidade
já	consolidada	nos	dias	atuais,	e	o	mercado,	obviamente,	foi	quem	mais	rápido	se	adaptou	a	ela,	criando
a	assinatura	digital,	por	meio	do	sistema	de	criptografia.
Atualmente,	 o	 Brasil	 já	 possui	 regulamentação	 legal	 da	 matéria:	 trata-se	 da	 Medida	 Provisória
2.200/2,	 de	 2001,	 a	 qual	 instituiu	 a	 Infraestrutura	 de	 Chaves	 Públicas	 Brasileira	 (ICP-Brasil)	 e	 que
dispôs,	em	seu	art.	1.º,	o	seguinte:	“Fica	instituída	a	Infraestrutura	de	Chaves	Públicas	Brasileira	–
ICP-Brasil,	 para	 garantir	 a	 autenticidade,	 a	 integridade	 e	 a	 validade	 jurídica	 de	 documentos	 em
forma	 eletrônica,	 das	 aplicações	 de	 suporte	 e	 das	 aplicações	 habilitadas	 que	 utilizem	 certificados
digitais,	bem	como	a	realização	de	transações	eletrônicas	seguras”.
Finalmente,	em	consonância	com	esse	processo	de	desmaterialização	dos	 títulos	de	crédito,	 foram
editados	os	Enunciados	460	e	461	da	Jornada	de	Direito	Civil	do	CJF,	que	possuem	a	seguinte	redação,
respectivamente:	 “Art.	 889.	 As	 duplicatas	 eletrônicas	 podem	 ser	 protestadas	 por	 indicação	 e
constituirão	título	executivo	extrajudicial	mediante	a	exibição	pelo	credor	do	instrumento	de	protesto,
acompanhado	do	comprovante	de	entrega	das	mercadorias	ou	de	prestação	dos	serviços”;	“Art.	889,	§
3.º	 Os	 títulos	 de	 crédito	 podem	 ser	 emitidos,	 aceitos,	 endossados	 ou	 avalizados	 eletronicamente,
mediante	 assinatura	 com	certificação	digital,	 respeitadas	as	 exceções	previstas	 em	 lei”.	 No	mesmo
sentido,	decidiu	o	STJ	pela	validade	da	chamada	duplicata	virtual:
Embargos	 de	 divergência	 em	 recurso	 especial.	Divergência	 demonstrada.	 Execução
de	 título	 extrajudicial.	 Duplicata	 virtual.	 Protesto	 por	 indicação.	 Boleto	 bancário
acompanhado	 do	 instrumento	 de	 protesto,	 das	 notas	 fiscais	 e	 respectivos
comprovantes	de	entrega	das	mercadorias.	Executividade	reconhecida.
1.	Os	acórdãos	confrontados,	em	face	de	mesma	situação	fática,	apresentam	solução
jurídica	diversa	para	a	questão	da	exequibilidade	da	duplicata	virtual,	com	base	em
boleto	bancário,	acompanhado	do	instrumento	de	protesto	por	indicação	e	das	notas
fiscais	 e	 respectivos	 comprovantes	 de	 entrega	 de	 mercadorias,	 o	 que	 enseja	 o
conhecimento	dos	embargos	de	divergência.
2.	 Embora	 a	 norma	 do	 art.	 13,	 §	 1.º,	 da	 Lei	 5.474/1968	 permita	 o	 protesto	 por
indicação	nas	hipóteses	em	que	houver	a	retenção	da	duplicata	enviada	para	aceite,	o
alcance	 desse	 dispositivo	 deve	 ser	 ampliado	 para	 harmonizar-se	 também	 com	 o
instituto	da	duplicata	virtual,	conforme	previsão	constante	dos	arts.	8.º	e	22	da	Lei
9.492/1997.
3.	 A	 indicação	 a	 protesto	 das	 duplicatas	 mercantis	 por	 meio	 magnético	 ou	 de
4.2.
gravação	eletrônica	de	dados	 encontra	amparo	no	art.	 8.º,	 parágrafo	único,	 da	Lei
9.492/1997.	O	art.	22	do	mesmo	Diploma	Legal,	a	seu	turno,	dispensa	a	transcrição
literal	 do	 título	 quando	 o	 Tabelião	 de	 Protesto	 mantém	 em	 arquivo	 gravação
eletrônica	da	imagem,	cópia	reprográfica	ou	micrográfica	do	título	ou	documento	da
dívida.
4.	 Quanto	 à	 possibilidade	 de	 protesto	 por	 indicação	 da	 duplicata	 virtual,	 deve-se
considerar	que	o	que	o	art.	13,	§	1.º,	da	Lei	5.474/1968	admite,	essencialmente,	é	o
protesto	 da	 duplicata	 com	 dispensa	 de	 sua	 apresentação	 física,	 mediante	 simples
indicação	 de	 seus	 elementos	 ao	 cartório	 de	 protesto.	 Daí,	 é	 possível	 chegar-se	 à
conclusão	de	que	é	admissível	não	somente	o	protesto	por	indicação	na	hipótese	de
retenção	 do	 título	 pelo	 devedor,	 quando	 encaminhado	 para	 aceite,	 como
expressamente	 previsto	 no	 referido	 artigo,	 mas	 também	 na	 de	 duplicata	 virtual
amparada	em	documento	suficiente.
5.	Reforça	o	entendimento	acima	a	norma	do	§	2.º	do	art.	15	da	Lei	5.474/1968,	que
cuida	de	executividade	da	duplicata	não	aceita	e	não	devolvida	pelo	devedor,	isto	é,
ausente	 o	 documentofísico,	 autorizando	 sua	 cobrança	 judicial	 pelo	 processo
executivo	 quando	 esta	 haja	 sido	 protestada	 mediante	 indicação	 do	 credor,	 esteja
acompanhada	 de	 documento	 hábil	 comprobatório	 da	 entrega	 e	 recebimento	 da
mercadoria	e	o	sacado	não	tenha	recusado	o	aceite	pelos	motivos	constantes	dos	arts.
7.º	e	8.º	da	Lei.
6.	No	 caso	dos	 autos,	 foi	 efetuado	o	 protesto	 por	 indicação,	 estando	o	 instrumento
acompanhado	 das	 notas	 fiscais	 referentes	 às	 mercadorias	 comercializadas	 e	 dos
comprovantes	de	entrega	e	recebimento	das	mercadorias	devidamente	assinados,	não
havendo	 manifestação	 do	 devedor	 à	 vista	 do	 documento	 de	 cobrança,	 ficando
atendidas,	 suficientemente,	as	exigências	 legais	para	se	 reconhecer	a	executividade
das	duplicatas	protestadas	por	indicação.
7.	O	protesto	de	duplicata	virtual	por	indicação	apoiada	em	apresentação	do	boleto,
das	 notas	 fiscais	 referentes	 às	mercadorias	 comercializadas	 e	 dos	 comprovantes	 de
entrega	 e	 recebimento	 das	 mercadorias	 devidamente	 assinados	 não	 descuida	 das
garantias	devidas	ao	sacado	e	ao	sacador.
8.	 Embargos	 de	 divergência	 conhecidos	 e	 desprovidos	 (EREsp	 1.024.691/PR,	 Rel.
Min.	Raul	Araújo,	Segunda	Seção,	j.	22.08.2012,	DJe	29.10.2012).
Princípio da literalidade
Quando	se	diz	que	o	título	de	crédito	é	o	documento	necessário	ao	exercício	do	direito	literal	nele
representado,	faz-se	referência	expressa	ao	princípio	da	literalidade,	segundo	o	qual	o	título	de	crédito
4.3.
vale	 pelo	 que	 nele	 está	 escrito.	 Nem	 mais,	 nem	 menos.	 Em	 outros	 termos,	 nas	 relações	 cambiais
somente	os	atos	que	são	devidamente	lançados	no	próprio	título	produzem	efeitos	jurídicos	perante	o	seu
legítimo	portador.
A	 literalidade,	 em	 síntese,	 é	 o	 princípio	 que	 assegura	 às	 partes	 da	 relação	 cambial	 a	 exata
correspondência	entre	o	teor	do	título	e	o	direito	que	ele	representa.	Por	um	lado,	o	credor	pode	exigir
tudo	o	que	está	expresso	na	cártula,	não	devendo	se	contentar	com	menos.	Por	outro,	o	devedor	também
tem	o	direito	de	só	pagar	o	que	está	expresso	no	título,	não	admitindo	que	lhe	seja	exigido	nada	mais.	Daí
porque	Tullio	Ascarelli	mencionava	que	o	princípio	da	literalidade	age	em	duas	direções,	uma	positiva	e
outra	negativa.
Perceba-se	 a	 importância	 do	 princípio	 da	 literalidade	 para	 que	 os	 títulos	 de	 crédito	 cumpram	de
forma	segura	a	sua	função	precípua	de	circulação	do	crédito:	como	a	pessoa	que	recebe	o	 título	 tem	a
certeza	 de	 que	 a	 partir	 de	 sua	 simples	 leitura	 ficará	 ciente	 de	 toda	 a	 extensão	 do	 crédito	 que	 está
recebendo,	sente-se	segura	a	realizar	a	operação.
Assim,	uma	quitação	parcial,	por	exemplo,	deve	ser	feita	no	próprio	título,	porque,	caso	contrário,
poderá	ser	contestada.	O	mesmo	ocorre,	também,	com	o	aval	e	com	o	endosso.	Um	aval	tem	que	ser	feito
no	próprio	título,	sob	pena	de	não	produzir	efeito	de	aval.	O	endosso,	da	mesma	forma,	tem	de	ser	feito
no	próprio	título,	sob	pena	de	não	valer	como	endosso.
Se	 o	 aval	 é	 feito,	 eventualmente,	 num	 instrumento	 separado	do	 título,	 não	 será	 válido	 como	 aval,
porque	não	 respeita	o	princípio	da	 literalidade.	Poderá	valer,	no	máximo,	como	uma	 fiança,	que	é	um
instituto	do	direito	civil	assemelhado	ao	aval,	porém	com	efeitos	jurídicos	diversos.
Princípio da autonomia
O	 terceiro	 e	 mais	 importante	 princípio	 relacionado	 aos	 títulos	 de	 crédito,	 considerado	 a	 pedra
fundamental	de	todo	o	regime	jurídico	cambial,	é	o	princípio	da	autonomia.	Por	esse	princípio,	entende-
se	que	o	 título	de	 crédito	 configura	documento	 constitutivo	de	direito	novo,	 autônomo,	originário	 e
completamente	 desvinculado	 da	 relação	 que	 lhe	 deu	 origem.	 Assim,	 as	 relações	 jurídicas
representadas	num	determinado	título	de	crédito	são	autônomas	e	independentes	entre	si,	razão	pela	qual
o	 vício	 que	 atinge	 uma	 delas,	 por	 exemplo,	 não	 contamina	 a(s)	 outra(s).	Melhor	 dizendo:	 o	 legítimo
portador	 do	 título	 pode	 exercer	 seu	 direito	 de	 crédito	 sem	 depender	 das	 demais	 relações	 que	 o
antecederam,	estando	completamente	imune	aos	vícios	ou	defeitos	que	eventualmente	as	acometeram.
Assim,	como	bem	ensinou	o	próprio	Cesare	Vivante,	o	direito	representado	num	título	de	crédito	é
autônomo	porque	a	sua	posse	legítima	caracteriza	a	existência	de	um	direito	próprio,	não	limitado	nem
destrutível	por	relações	anteriores.
Um	exemplo	prático	explica	melhor.	Digamos	que	“A”	compra	um	carro	de	“B”,	sendo	esta	compra
instrumentalizada	 por	 meio	 da	 emissão	 de	 uma	 nota	 promissória	 no	 valor	 de	 R$	 10.000,00	 (dez	 mil
reais).	 “B”,	 por	 sua	vez,	 tem	uma	dívida	perante	 “C”	no	valor	 aproximado	de	R$	10.000,00	 (dez	mil
4.3.1.
reais).	Nesse	caso,	 “B”	poderá	quitar	 a	dívida	que	 tem	perante	 “C”	utilizando-se	da	nota	promissória
dada	por	“A”,	endossando-a	(o	endosso,	como	veremos	a	seguir,	é	o	ato	cambial	próprio	para	transferir
um	título	de	crédito)	para	“C”,	que	se	torna	o	titular	dessa	nota,	podendo	cobrar	o	seu	respectivo	valor	de
“A”	na	data	do	vencimento.	Nessa	hipótese,	“A”	poderá	recusar-se	ao	pagamento	do	título	alegando,	por
exemplo,	 eventual	 nulidade	 da	 venda	 que	 “B”	 lhe	 fez,	 venda	 essa	 que,	 como	 dito	 acima,	 originou	 a
emissão	da	nota	promissória?	A	 resposta	 é	 negativa,	 e	 a	 justificativa	 está	 exatamente	na	 aplicação	do
princípio	 da	 autonomia	 dos	 títulos	 de	 crédito.	 Ora,	 se	 as	 relações	 representadas	 naquele	 título	 são
autônomas	e	independentes,	os	eventuais	vícios	que	maculam	a	relação	de	“A”	com	“B”	não	atingem	a
relação	de	“B”	com	“C”	nem	a	relação	deste	com	“A”.
Pode-se	 entender,	 agora,	 por	 que	 afirmamos	 que	 o	 princípio	 da	 autonomia	 é	 o	 mais	 importante
princípio	do	regime	jurídico	cambial.	Não	fosse	ele,	não	haveria	segurança	nas	relações	cambiais,	e	os
títulos	perderiam	suas	principais	características:	a	negociabilidade	e	a	circulabilidade.	Afinal,	ninguém
se	 sentiria	 seguro	 ao	 receber	 um	 título	 de	 crédito	 como	 pagamento,	 via	 endosso,	 haja	 vista	 a
possibilidade	de	ser	surpreso	pela	alegação	de	um	vício	anterior,	do	qual	sequer	tinha	conhecimento.	Em
decorrência	 do	 princípio	 da	 autonomia,	 portanto,	 a	 pessoa	 que	 recebe	 um	 título	 de	 crédito	 numa
negociação	não	precisa	se	preocupar	em	 investigar	a	 sua	origem	nem	as	 relações	que	eventualmente	o
antecederam,	uma	vez	que	ainda	que	 tais	 relações	existam	e	estejam	viciadas,	elas	não	contaminam	as
relações	futuras	decorrentes	da	circulação	desse	mesmo	título.
A	abstração	dos	títulos	de	crédito	e	a	inoponibilidade	das	exceções	pessoais	ao	terceiro
de	boa-fé
Decorrentes	do	princípio	da	autonomia,	há	dois	outros	 importantes	princípios	–	ou	subprincípios,
como	preferem	alguns	autores,	uma	vez	que	não	trazem	nenhuma	ideia	nova	em	relação	à	autonomia,	mas
apenas	 uma	 outra	 forma	 de	 se	 encarar	 este	 princípio.	 Trata-se	 dos	 subprincípios	 da	 abstração	 e	 da
inoponibilidade	das	exceções	pessoais	ao	terceiro	de	boa-fé.
Segundo	o	subprincípio	da	abstração,	entende-se	que	quando	o	 título	circula,	ele	se	desvincula	da
relação	que	lhe	deu	origem.	Assim,	no	exemplo	dado	anteriormente,	quando	“B”	endossou	o	título	para
“C”,	fazendo-o	circular,	tal	título	se	desvinculou	da	operação	que	lhe	deu	origem	–	a	compra	e	venda	do
carro.	 A	 abstração	 significa,	 portanto,	 a	 completa	 desvinculação	 do	 título	 em	 relação	 à	 causa	 que
originou	sua	emissão.
Veja-se	 que	 enquanto	 a	 relação	 cambial	 é	 travada	 entre	 os	 próprios	 sujeitos	 que	 participaram	 da
relação	 que	 originou	 o	 título,	 existe	 uma	 vinculação	 entre	 esta	 relação	 e	 o	 título	 dela	 originado.	 No
mesmo	exemplo	 já	mencionado,	se	“B”	não	circula	o	 título	para	“C”,	há	uma	vinculação	entre	o	 título
emitido	e	a	relação	de	compra	e	venda	que	acarretou	sua	emissão.
Resta	claro,	portanto,	que	a	circulação	do	título	é	fundamental	para	que	se	opere	a	sua	abstração,	ou
seja,	para	que	o	 título	 se	desvincule	completamente	do	seu	negócio	originário.Posto	em	circulação,	o
título	 passará	 a	 vincular	 outras	 pessoas,	 que	 não	 participaram	 da	 relação	 originária,	 e	 que	 por	 isso
assumem	obrigações	e	direitos	tão	somente	em	função	do	título,	representado	pela	cártula.
Não	custa	 lembrar,	ainda,	que	essa	abstração,	decorrente	do	princípio	da	autonomia	dos	 títulos	de
crédito,	desaparecerá	com	a	prescrição	do	título.	A	prescrição	do	título	opera,	pois,	não	apenas	a	perda
da	 sua	 executividade,	 mas	 também	 a	 perda	 da	 sua	 cambiaridade,	 ou	 seja,	 o	 título	 perde	 as	 suas
características	 intrínsecas	 de	 título	 de	 crédito,	 dentre	 elas	 a	 abstração.	 Por	 isso,	 caberá	 ao	 credor,	 na
cobrança	de	 título	prescrito,	 demonstrar	 a	 origem	da	dívida,	 o	 locupletamento	 ilícito	 do	devedor	 etc.,
conforme	tem	decidido	o	Superior	Tribunal	de	Justiça:
Direito	comercial	e	processual	civil.	Agravo	no	agravo	de	 instrumento.	Embargos	à
ação	monitória.	Nota	promissória	prescrita.	Propositura	de	ação	 contra	o	avalista.
Necessidade	 de	 se	 demonstrar	 o	 locupletamento.	 Precedentes.	 Prescrita	 a	 ação
cambial,	desaparece	a	abstração	das	relações	jurídicas	cambiais	firmadas,	devendo
o	 beneficiário	 do	 título	 demonstrar,	 como	 causa	 de	 pedir	 na	 ação	 própria,	 o
locupletamento	ilícito,	seja	do	emitente	ou	endossante,	seja	do	avalista.	Agravo	não
provido	(STJ,	AgRg	no	AG	549.924/MG,	Rel.	Min.	Nancy	Andrighi,	DJ	05.04.2004,	p.
260).
Direito	Comercial.	Recurso	Especial.	Embargos	à	ação	monitória.	Cheque	prescrito.
Propositura	 de	 ação	 contra	 o	 avalista.	 Necessidade	 de	 se	 demonstrar	 o
locupletamento.	Precedente.	–	Prescrita	a	ação	cambial,	desaparece	a	abstração	das
relações	 jurídicas	 cambiais	 firmadas,	 devendo	 o	 beneficiário	 do	 título	 demonstrar,
como	causa	de	pedir	na	ação	própria,	o	 locupletamento	 ilícito,	 seja	do	emitente	ou
endossante,	 seja	 do	 avalista.	 –	 Recurso	 especial	 a	 que	 não	 se	 conhece	 (STJ,	 REsp
457.556/SP,	Rel.	Min.	Nancy	Andrighi,	DJ	16.12.2002,	p.	331).
O	princípio	da	inoponibilidade	das	exceções	pessoais	(a	expressão	exceção	é	aqui	utilizada	em	seu
sentido	técnico-processual,	significando	defesa)	ao	terceiro	de	boa-fé,	por	sua	vez,	nada	mais	é	do	que	a
manifestação	 processual	 do	 princípio	 da	 autonomia.	 Assim,	 ainda	 utilizando	 o	 exemplo	 acima
mencionado,	se	“A”,	procurado	por	“C”,	não	paga	a	dívida	constante	do	título,	“C”	poderá	executar	“A”,
e	este,	ao	apresentar	os	embargos,	não	poderá	opor	o	vício	existente	na	relação	originária,	travada	entre
“A”	e	“B”.	Com	efeito,	os	vícios	relativos	à	relação	que	originou	o	título	são	oponíveis	apenas	contra
“B”,	mas	não	contra	“C”,	terceiro	de	boa-fé	que	recebeu	o	título	legitimamente.
Afinal,	 em	 função	 do	 princípio	 da	 autonomia,	 o	 portador	 legítimo	 do	 título	 de	 crédito	 exerce	 um
direito	próprio	e	autônomo,	desvinculado	das	relações	jurídicas	antecedentes,	por	força	do	subprincípio
da	abstração.	Sendo	assim,	o	portador	do	título	não	pode	ser	atingido	por	defesas	relativas	a	negócio	do
qual	ele	não	participou.	O	título	chega	a	ele	completamente	livre	dos	vícios	que	eventualmente	adquiriu
em	relações	pretéritas.
A	inoponibilidade	das	exceções	pessoais	ao	terceiro	de	boa-fé	está	assegurada	pelo	art.	17	da	Lei
Uniforme,	segundo	o	qual	“as	pessoas	acionadas	em	virtude	de	uma	letra	não	podem	opor	ao	portador
5.
5.1.
exceções	fundadas	sobre	as	relações	pessoais	delas	com	o	sacador	ou	com	os	portadores	anteriores,	a
menos	que	o	portador	ao	adquirir	a	 letra	tenha	procedido	conscientemente	em	detrimento	do	devedor”.
No	mesmo	sentido,	dispõe	o	art.	916	do	Código	Civil	que	“as	exceções	fundadas	em	relação	de	devedor
com	os	portadores	precedentes,	somente	poderão	ser	por	ele	opostas	ao	portador,	se	este,	ao	adquirir	o
título	tiver	agido	de	má-fé”.
Vale	 ressaltar	que	a	boa-fé	do	portador	do	 título	se	presume.	Por	essa	 razão,	 se	o	devedor	quiser
opor	exceções	pessoais	contra	ele,	deverá	se	desincumbir	do	ônus	de	provar	a	sua	má-fé,	demonstrando,
por	exemplo,	que	houve	conluio	entre	o	atual	portador	do	título	e	seu	antigo	titular.	Não	demonstrada	a
má-fé,	 todavia,	 as	 exceções	 pessoais,	 como	 já	 frisamos,	 são	 inoponíveis	 ao	 terceiro	 de	 boa-fé,	 que
exercerá	seu	direito	de	crédito	sem	ser	atingido	por	nenhum	vício	ligado	a	relações	anteriores.
As	defesas	que	o	devedor	pode	opor	a	um	 terceiro	de	boa-fé,	portanto,	 resumem-se,	basicamente,
àquelas	que	digam	respeito	a	relações	diretas	entre	eles,	bem	como	eventuais	alegações	relativas	a	vício
de	forma	do	título,	ao	próprio	conteúdo	literal	da	cártula,	a	prescrição,	a	falsidade,	entre	outras.
Por	 fim,	 vale	 destacar	 que	 alguns	 autores	 confundem	 a	 abstração	 como	 subprincípio	 do	 regime
jurídico	cambial	e	a	abstração	que	caracteriza	os	chamados	títulos	de	crédito	abstratos,	que	não	têm	a
sua	emissão	condicionada	a	certas	causas	previstas	em	lei,	o	que	ocorre	apenas	com	os	títulos	causais.
CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
Costuma-se	classificar	os	 títulos	de	crédito	a	partir	de	diversos	critérios.	Passaremos,	a	partir	de
agora,	a	abordar	os	principais	critérios	classificatórios	utilizados	pela	doutrina.
Quanto à forma de transferência ou circulação
Sendo	 a	 negociabilidade	 e	 a	 circulabilidade	 as	 principais	 características	 dos	 títulos	 de	 crédito,
conforme	já	apontamos,	a	classificação	deles	quanto	à	forma	de	transferência	merece	destaque.	Segundo
esse	critério,	os	 títulos	podem	ser:	 a)	 ao	portador;	b)	nominal	 à	ordem;	c)	nominal	não	à	ordem;	e	d)
nominativos.
Título	ao	portador	é	aquele	que	circula	pela	mera	tradição	(art.	904	do	Código	Civil),	uma	vez	que
neles	a	identificação	do	credor	não	é	feita	de	forma	expressa.	Sendo	assim,	qualquer	pessoa	que	esteja
com	a	simples	posse	do	título	é	considerada	titular	do	crédito	nele	mencionado.	A	simples	transferência
do	documento	(cártula),	portanto,	opera	a	transferência	da	titularidade	do	crédito.
Título	nominal,	por	sua	vez,	é	aquele	que	identifica	expressamente	o	seu	titular,	ou	seja,	o	credor.	A
transferência	 da	 titularidade	 do	 crédito,	 pois,	 não	 depende	 apenas	 da	 mera	 entrega	 do	 documento
(cártula)	 a	 outra	 pessoa:	 é	 preciso,	 além	 disso,	 praticar	 um	 ato	 formal	 que	 opere	 a	 transferência	 da
titularidade	do	crédito.	Nos	títulos	nominais	com	cláusula	“à	ordem”,	esse	ato	formal	é	o	endosso,	típico
do	 regime	 jurídico	 cambial	 (art.	 910	 do	 Código	 Civil).	 Já	 nos	 títulos	 nominais	 com	 cláusula	 “não	 à
5.2.
5.3.
ordem”	esse	ato	formal	é	a	cessão	civil	de	crédito,	a	qual,	como	o	próprio	nome	já	indica,	submete-se	ao
regime	jurídico	civil.
Por	fim,	os	títulos	nominativos,	segundo	o	art.	921	do	Código	Civil,	são	aqueles	emitidos	em	favor
de	pessoa	determinada,	cujo	nome	consta	de	registro	específico	mantido	pelo	emitente	do	título.	Nesse
caso,	portanto,	a	 transferência	 só	 se	opera	validamente	por	meio	de	 termo	no	 referido	 registro,	o	qual
deve	ser	assinado	pelo	emitente	e	pelo	adquirente	do	título	(art.	922	do	Código	Civil).
Em	regra,	os	títulos	de	crédito	típicos,	nominados	ou	próprios	–	letra	de	câmbio,	nota	promissória,
cheque	e	duplicata	–	são	títulos	nominais	à	ordem,	ou	seja,	devem	ser	emitidos	com	indicação	expressa
do	beneficiário	do	crédito	e	podem	circular	via	endosso.	O	único	caso	de	 título	ao	portador,	quanto	a
estes	títulos	próprios,	é	o	do	cheque	até	o	limite	de	R$	100,00	(cem	reais),	conforme	veremos	adiante.
Quanto ao modelo
Segundo	 esse	 critério	 classificatório,	 os	 títulos	 de	 crédito	 podem	 ser	 títulos	 de	 modelo	 livre	 ou
títulos	de	modelo	vinculado.
Título	de	modelo	livre	é	aquele	para	o	qual	a	lei	não	estabelece	uma	padronização	obrigatória,	ou
seja,	a	sua	emissão	não	se	sujeita	a	uma	forma	específica	preestabelecida.	É	o	que	ocorre,	por	exemplo,
com	 a	 letra	 de	 câmbio	 e	 com	 a	 nota	 promissória,	 títulos	 de	 crédito	 que	 podem	 ser	 criados	 em	 uma
simples	folha	de	papel,	bastando	para	tanto	que	nela	constem	os	requisitos	essenciais	desses	títulos.
Já	o	 título	de	modelo	vinculado,ao	 contrário,	 se	 submete	 a	 uma	 rígida	padronização	 fixada	pela
legislação	cambiária	específica,	só	produzindo	feitos	legais	quando	preenchidas	as	formalidades	legais
exigidas.	É	o	que	ocorre	com	o	cheque	e	com	a	duplicata.	Esta,	por	exemplo,	em	obediência	ao	disposto
no	 art.	 27	 da	 Lei	 das	Duplicatas	 (Lei	 5.474/1968),	 deve	 ser	 emitida	 segundo	 as	 normas	 fixadas	 pelo
Conselho	Monetário	Nacional.
Quanto à estrutura
Segundo	esse	critério	classificatório,	os	 títulos	de	crédito	podem	ser	uma	ordem	de	pagamento	ou
uma	promessa	de	pagamento.
Os	títulos	que	se	estruturam	como	ordem	de	pagamento	–	letra	de	câmbio,	cheque	e	duplicata	–
se	caracterizam	por	estabelecerem	três	situações	jurídicas	distintas	a	partir	da	sua	emissão:	em	primeiro
lugar,	tem-se	a	figura	do	sacador,	que	emite	o	título,	ou	seja,	ordena	o	pagamento;	em	segundo	lugar,	tem-
se	a	situação	do	sacado,	contra	quem	o	título	é	emitido,	ou	seja,	trata-se	da	pessoa	que	recebe	a	ordem	de
pagamento;	por	fim,	tem-se	a	figura	do	tomador	(ou	beneficiário),	em	favor	de	quem	o	título	é	emitido,
isto	é,	pessoa	a	quem	o	sacado	deve	pagar,	em	obediência	à	ordem	que	lhe	foi	endereçada	pelo	sacador.
No	cheque,	por	exemplo,	que	se	estrutura	como	uma	ordem	de	pagamento,	como	dito	acima,	podem-
se	 ser	 facilmente	 identificadas	 as	 figuras	 do	 sacador	 (correntista	 que	 emite	 o	 cheque),	 do	 sacado
(instituição	financeira	que	cumprirá	a	ordem	de	pagamento	que	lhe	foi	dada)	e	o	tomador	(terceiro	que
5.4.
recebe	o	cheque	como	forma	de	pagamento	e	que	irá	descontá-lo).
Por	outro	lado,	nos	títulos	que	se	estruturam	como	promessa	de	pagamento	–	nota	promissória	–
existem	apenas	duas	situações	jurídicas	distintas:	de	um	lado	tem-se	a	figura	do	sacador	ou	promitente,
que	 promete	 pagar	 determinada	 quantia;	 de	 outro,	 tem-se	 a	 situação	 do	 tomador,	 beneficiário	 da
promessa	que	receberá	o	valor	prometido.
Quanto às hipóteses de emissão
Por	 fim,	 os	 títulos	 de	 crédito,	 segundo	 esse	 derradeiro	 critério	 classificatório,	 podem	 ser	 títulos
causais	ou	títulos	abstratos.
Título	causal	é	aquele	que	somente	pode	ser	emitido	nas	restritas	hipóteses	em	que	a	lei	autoriza	a
sua	emissão.	É	o	caso,	por	exemplo,	da	duplicata,	que	só	pode	ser	emitida,	como	será	visto	com	mais
detalhes	adiante,	para	documentar	a	realização	de	uma	compra	e	venda	mercantil	(duplicata	mercantil)	ou
um	contrato	de	prestação	de	serviços	(duplicata	de	serviços).
Título	 abstrato,	 por	 sua	 vez,	 é	 aquele	 cuja	 emissão	 não	 está	 condicionada	 a	 nenhuma	 causa
preestabelecida	em	lei.	Em	síntese:	podem	ser	emitidos	em	qualquer	hipótese.	É	o	caso,	por	exemplo,	do
cheque,	que	pode	ser	emitido	para	documentar	qualquer	relação	negocial.
Nesse	ponto,	é	preciso	reforçar	observação	que	já	fizemos	anteriormente:	não	se	deve	confundir	a
abstração	como	subprincípio	do	regime	jurídico	cambial	com	a	abstração	ora	analisada.	Aquela,	como
visto,	 é	 um	 predicado	 de	 qualquer	 título	 de	 crédito,	 já	 que	 todos	 eles	 podem	 circular	 e,
consequentemente,	se	desprender	da	relação	que	lhes	deu	origem.	Esta	significa	tão	somente	um	atributo
que	alguns	títulos	ostentam,	o	de	não	ter	sua	emissão	submetida	a	causas	preestabelecidas	na	legislação.
No	entanto,	é	preciso	deixar	claro	que	essa	é	uma	opinião	particular	nossa,	a	qual,	a	despeito	de	ser
compartilhada	por	alguns	autores	de	renome,	não	é	seguida,	ao	que	nos	parece,	pela	doutrina	majoritária.
Muitos	autores,	pois,	tratam	a	abstração	com	um	único	sentido,	razão	pela	qual	defendem	que	os	títulos
causais,	como	a	duplicata,	não	se	desvinculariam	da	relação	original,	ainda	que	postos	em	circulação.
6.
6.1.
TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE
Dentre	 os	 principais	 títulos	 de	 crédito	 previstos	 na	 legislação	 brasileira,	 destacam-se	 quatro:	 (i)
letra	de	câmbio,	(ii)	nota	promissória,	(iii)	cheque	e	(iv)	duplicata.	São	títulos	que	possuem	disciplina
legal	específica	e	que,	por	isso,	são	denominados	comumente	de	títulos	de	crédito	próprios	ou	típicos.
Letra de câmbio
Trata-se,	 talvez,	 do	 título	de	 crédito	 com	origem	histórica	mais	 remota,	 já	mencionada,	 em	 linhas
gerais,	 no	 tópico	 inicial	 do	 presente	 capítulo.	 No	 período	 italiano	 da	 evolução	 do	 direito	 cambiário,
situado	 na	 Idade	 Média,	 a	 descentralização	 do	 poder	 político	 favoreceu	 o	 surgimento	 de	 cidades
(burgos)	com	relativa	autonomia,	a	qual	se	manifestava,	sobretudo,	na	utilização	de	moeda	própria.	Isso,
por	sua	vez,	exigiu	o	desenvolvimento	das	operações	de	câmbio,	dado	o	fato	de	que	as	moedas	de	cada
cidade	eram	diferentes.
A	 letra	 de	 câmbio,	 pois,	 surge	 como	 decorrência	 dessas	 operações	 cambiais	 (câmbio	 trajetício).
6.1.1.
Com	efeito,	quando	um	determinado	comerciante	realizava	negócios	em	determinada	cidade,	acumulava
uma	soma	de	riqueza	representada	por	moeda	local.	Ao	chegar	a	outra	localidade,	todavia,	a	moeda	era
diferente.	Ele,	então,	sempre	que	deixava	uma	cidade	na	qual	negociara,	trocava	todo	o	seu	dinheiro	com
um	banqueiro,	que	 lhe	entregava	uma	carta	 (littera	cambii),	 ordenando	que	outro	banqueiro	pagasse	 a
quantia	nela	fixada	ao	seu	portador.
A	letra	de	câmbio	é	considerada	pelos	doutrinadores	como	o	título	mais	apropriado	para	servir	de
referência	no	estudo	da	 teoria	geral	dos	atos	cambiários,	em	razão	de	sua	estrutura	permitir,	com	mais
facilidade,	o	exame	dos	aspectos	mais	relevantes	relacionados	à	constituição	e	à	exigibilidade	do	crédito
cambial.	Trata-se,	todavia,	de	título	que	não	vingou	no	Brasil,	tendo	sido	substituído,	na	praxe	comercial,
pela	duplicata.
Alguns	 autores	 afirmam	que	a	 letra	de	 câmbio	não	 teria	 tido	aceitação	no	Brasil	 por	possuir	uma
sistemática	 interessante:	 é	 emitida	 por	 alguém	 para	 que	 outro	 aceite	 e	 pague.	 Enfim,	 é	 um	 título	 de
crédito	que	depende	sobremaneira	da	boa-fé.
Saque	da	letra
A	letra	de	câmbio	é	um	título	de	crédito	que	se	estrutura	como	ordem	de	pagamento,	razão	pela	qual,
ao	ser	emitida,	dá	origem	a	três	situações	jurídicas	distintas:	a)	a	do	sacador,	que	emite	a	ordem;	b)	a	do
sacado,	a	quem	a	ordem	é	destinada;	c)	a	do	tomador,	que	é	o	beneficiário	da	ordem.
Essas	 três	 situações	 jurídicas	 distintas	 a	 que	 nos	 referimos	 acima	não	precisam,	 necessariamente,
estar	ocupadas	por	 três	pessoas	diferentes.	De	fato,	a	Lei	Uniforme	admite,	em	seu	art.	3.º,	que	a	 letra
seja	sacada:	(i)	à	ordem	do	próprio	sacador;	(ii)	sobre	o	próprio	sacador;	ou	(iii)	por	ordem	e	conta	de
terceiro.
No	primeiro	caso,	o	sacador	e	o	tomador	são	a	mesma	pessoa,	ou	seja,	a	letra	é	emitida	por	alguém
em	seu	próprio	benefício.	No	segundo	caso,	o	sacador	e	o	sacado	são	a	mesma	pessoa,	ou	seja,	a	letra	é
emitida	 pelo	 sacado	 contra	 ele	 mesmo.	 Já	 no	 terceiro	 caso,	 ocorre	 a	 situação	 usual,	 em	 que	 as	 três
situações	jurídicas	são	ocupadas	por	sujeitos	de	direito	também	distintos,	ou	seja,	uma	pessoa	(sacador)
ordena	que	alguém	(sacado)	pague	a	outrem	(tomador).
Em	tese,	a	letra	de	câmbio	deve	ser	emitida	preenchendo	os	seus	requisitos	essenciais,	estabelecidos
na	legislação	(arts.	1.º	e	2.º	da	Lei	Uniforme):	a)	a	expressão	letra	de	câmbio	(cláusula	cambiária);	b)
uma	ordem	incondicional	para	pagamento	de	quantia	determinada;	c)	o	nome	do	sacado;	d)	o	nome	do
tomador;	e)	a	assinatura	do	sacador;	f)	a	data	do	saque;	g)	o	lugar	do	pagamento	ou	a	menção	de	um	lugar
junto	ao	nome	do	sacado;	h)	o	lugar	do	saque	ou	a	menção	de	um	lugar	junto	ao	nome	do	sacador.
Quanto	 ao	 segundo	 requisito,	 perceba-se	 que	 não	 se	 admite	 que	 o	 cumprimento	 da	 obrigação
mencionada	 na	 letra	 fique	 sujeito	 à	 implementação	 de	 qualquer	 condição,	 suspensiva	 ou	 resolutiva.	 E
mais:	quanto	ao	valor	da	 letra,	deve	 ser	mencionada	a	moeda	de	pagamento,	 e	o	art.	1.º,	 inciso	 II,	do
Decreto	2.044/1908	estabelece	que	as	letras	emitidas	em	território	brasileiro	devem	ser	pagas	em	moeda
nacional.	Admite-se	 também	emissão	de	 letra	 com	 indexação,	desde	que	o	 índice	 seja	 conhecido	e	de
ampla	utilização	na	praxe	comercial.

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