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Breve relato histórico dos Direitos e Garantias Fundamentais

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Breve relato histórico dos Direitos e Garantias Fundamentais
Os direitos fundamentais foram produto de acontecimentos históricos mundiais, nos quais a população como um todo, sofria com abusos, maus tratos, violações e grandes desigualdades que geraram marcas vistas até hoje, a exemplo as duas grandes guerras que culminaram em milhares de mortos, feridos, fome e tantas outras conseqüências negativas à humanidade. 
Assim, viu-se a necessidade de proteger o homem do poder estatal que abusava e oprimia o cidadão, sendo que os direitos fundamentais são produto desta necessidade, da luta pela limitação do poder estatal, e de uma lenta e profunda mudança histórica, política e jurídica que se firmou na Declaração de Virgínia de 1777 e na Declaração de Direitos do Homem, proclamadas pela Revolução Francesa em 1789.
No século XVIII, os direitos fundamentais se oficializam através da vontade do povo e elementos como o Estado, o indivíduo e o texto normativo, sendo que no jusnaturalismo, o individuo passou a possuir direitos inerentes à sua existência dos quais não podia dispor, alienar, tão pouco esses direitos prescreviam (DIMITRI, 2007).
Com a entrada do século XX, vieram às grandes preocupações dos diplomas constitucionais com questões sociais, sendo que a positivação dos direitos fundamentais, que via de regra estão nas Constituições do Estado, comprova a grande evolução da humanidade, conforme destaca SARLET:
Consagrando expressamente, no título dos princípios fundamentais, a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do nosso Estado democrático (e social) de Direito (art. 1º, inc. III, da CF), o nosso Constituinte de 1988 – a exemplo do que ocorreu, entre outros países, na Alemanha -, além de ter tomado uma decisão fundamental a respeito do sentido, da finalidade e da justificação do exercício do poder estatal e do próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em função da pessoa, e não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não meio da atividade estatal.
Prova de tais mudanças mencionadas pelo autor citado, foi a inserção na Constituição Federal de 1988, do capitulo dos direitos e garantias fundamentais anterior a organização do Estado, sendo que o mesmo ocorreu com o Código Civil de 2002 e com o Código Penal de 1940, que é anterior a Constituição Federal brasileira mas adotou conteúdo similar à outras constituições e leis de países diversos que já adotavam tais medidas.
Conceito de Direitos e Garantias Fundamentais
Os direitos e garantias fundamentais estão intimamente ligados à dignidade da pessoa humana, tendo por finalidade a proteção desta em todas as dimensões, seja na sua liberdade (direitos individuais), nas suas necessidades (direitos sociais, econômicos e culturais) e na sua preservação (direitos relacionados à fraternidade e à solidariedade) (ARAUJO;NUNES JUNIOR, 2005), tendo como base os princípios dos direitos humanos.
Reafirmando, o objetivo dos direitos fundamentais é a proteção da dignidade da pessoa humana, à liberdade, à dignidade, à propriedade e a igualdade entre todos, sendo que a expressão fundamental, afirma que esses direitos são imprescindíveis para o ser humano e o convívio social, sendo valores básicos sociais e, portanto, conteúdo axiológico (SARLET, 2005).
Para Dimoulis e Martins (2008, p 54), os direitos fundamentais seriam “direitos público-subjetivos de pessoas (físicas ou jurídicas) contidos em dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro do Estado[...]” e a finalidade desses direitos é “limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual”.
No Brasil esses direitos estão positivados na Constituição Federal vigente (1988), mais precisamente no Título II e também disperso em outros dispositivos dela. Vejamos o relato de Jayme Benvenuto Lima Junior acerca da Constituição Federal e os direitos fundamentais:
“A Constituição Brasileira de 1988 é, até o momento a que melhor acolhida faz aos Direitos Humanos em geral. Tanto em termos da quantidade e da qualidade dos direitos enumerados, como da concepção embutida no texto constitucional, a Carta de 1988 é inovadora”.
Os direitos fundamentais, geralmente estão positivados na Constituição Federal de cada pais, e por assim ser, podem tais direitos, divergirem de um pais para outro, pois as particularidades e cultura de cada nação – impressos no direito positivo pátrio – são diferentes, visto que primordialmente, são incidentes no território daquela comunidade específica.
Cumpre destacar que, embora exista positivamente na Constituição dos países, e tenha os mesmos princípios basilares, os direitos fundamentais sofrem relativa diferença entre os países devido aos fatores já mencionados.
 As Demissões dos Direitos e Garantias Fundamentais
Devido ao surgimento gradativo e de acordo com as demandas reivindicadas de cada época, alguns doutrinadores dividiram os direitos fundamentais em “dimensões	“ ou “gerações”, sendo que esta classificação diz respeito ao momento histórico em que tais direitos foram inseridos na ordem jurídica dos estados.
A diferenciação nos termos citados se dá no que se refere ao conceito das palavras. Enquanto geração é uma sobreposição, sucessão, substituição, dimensão é uma expansão, uma cumulação, é a proporção de algo. Assim, a doutrina majoritária adota o termo dimensão como sendo correto, pois afirmam que os direitos fundamentais não se sobrepõem, não sendo estes uma sucessão, mas sim, uma expansão, uma cumulação e fortalecimento dos direitos já consagrados (TRINDADE, 1997).
Os direitos fundamentais de primeira dimensão foram os primeiros a constar no instrumento normativo constitucional, inaugurando o constitucionalismo no Ocidente e referem-se ao principio da liberdade, são os direitos da liberdade, que configura direitos civis e políticos. Estão presentes nas Constituições de cada nação democrática e são direitos inerentes ao indivíduo, como por exemplo, o direito à propriedade, à intimidade, à igualdade, à vida, à inviolabilidade de domicilio, entre outros (BONAVIDES, 2006).
Segundo Araujo e Nunes Junior (2005, p. 116), os direitos fundamentais de primeira dimensão “representam uma ideologia de afastamento do Estado das relações individuais e sociais”, sendo que “o Estado deveria ser apenas guardião das liberdades, permanecendo longe de qualquer interferência no relacionamento social”.
Mister se faz destacar, que os “direitos da liberdade” caracterizam autonomia aos particulares, garantindo ação e emancipação do individuo quanto aos demais e o próprio Estado.
O instituto da segunda dimensão dos direitos fundamentais soma-se aos direitos de primeira dimensão, buscando aqueles, condições para o exercício destes. O século em que surgiu esse instituto, mais precisamente o século XX, foi marcado por grande degradação econômica, política e humanitária, diante da Segunda Guerra Mundial que devastou vários povos. Nos direitos fundamentais de segunda dimensão, nota-se a busca pela diminuição das desigualdades sociais e a busca de proteção aos menos favorecidos, sendo exigidas do Estado, condições mínimas de vida com dignidade, sendo esses os direitos econômicos, sociais e culturais. 
Esta segunda dimensão traduz grande evolução na proteção da dignidade humana, iniciando-se a consagração dos direitos sociais, estando estes direitos ligados ao que chamamos de Estado prestacionista em relação ao seu jurisdicionado, fornecendo o Estado educação, trabalho, saúde, lazer, assistência social, entre outros.
Com a segunda dimensão dos direitos fundamentais, firmou-se o pensamento de que o Estado além de preservar o indivíduo (direito de primeira dimensão), deveria preservar também a instituição, nivelando as classes econômicas ou pelo menos disciplinado as atividades privadas para que o interesse dos economicamente mais fortes, não prevalecesse exacerbadamente (CAVALCANTI, 1964).
Os direitos de terceira dimensão não se referem à um individuo ou a um grupo especifico,mas sim ao gênero humano. Vejamos o que diz Paulo Bonavides à respeito: 
Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos da terceira geração tendem a cristalizar-se neste fim de século enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo, ou de um determinado Estado. Têm primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta. Os publicistas e juristas já o enumeram com familiaridade, assinalando-lhe o caráter fascinante de coroamento de uma evolução de trezentos anos na esteira da concretização dos direitos fundamentais. Emergiram eles da reflexão sobre temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade.
Protege-se pela Constituição nessa terceira dimensão, os direitos a solidariedade e fraternidade, compreendendo, portanto, a paz, qualidade de vida, a comunicação, meio ambiente, progresso, entre outros direitos. Visa-se proteger o próprio ser humano, tutelando-se os direitos transindividuais, ampliando os horizontes de proteção e emancipação (FERREIRA FILHO, 2005).
Os direitos de quarta dimensão são produto de grande discussão doutrinaria, visto que poucos discorrem acerca de sua existência. Nesta dimensão, são compreendidos os direitos à democracia, à informação e ao pluralismo, que, em conjunto com os demais direitos dimensionais mencionados, tem-se a possibilidade da construção de uma sociedade aberta para o futuro (BONAVIDES, 2006).
A globalização e os avanços tecnológicos foram grandes responsáveis pela ascensão desta nova categoria de direitos humanos, segundo Bastos e Tavares (2000, p. 389). Vale destacar que, além dos direitos mencionados, esta dimensão visa também à proteção de direito a vida, relacionada com os avanços biotecnológicos e suas atuais decorrências, visando controlar a manipulação do patrimônio genético de cada indivíduo.
Diferença entre Direitos Fundamentais e Direitos Humanos
Embora os direitos fundamentais e os direitos humanos sejam muitas vezes utilizados como sinônimos, na verdade, há diferença entre eles. Os direitos fundamentais derivam na maioria das vezes dos direitos humanos, assim, seus conceitos são muito próximos.
Os direitos humanos encontram-se na ordem internacional, possuem caráter universal, tendo validade para todos os povos e nações, independente da ligação dos indivíduos com alguma ordem constitucional. São atemporais, sendo que sua duração não é determinada pelo tempo de vigência da ordem constitucional de determinado Estado e também não se perder com o passar do tempo (SARLET, 2006).
Esses direitos são considerados universais e inalienáveis, baseados na liberdade e dignidade que visam assegurar uma vida digna ao ser humano. Mister se faz mencionar a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), documento adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, visando que seus Estados-membros adotassem políticas publicas e legislações nacionais que se baseassem nos artigos da DUDH, que visa repudiar crimes internacionais e garantir direitos fundamentais a humanidade.
Já os direitos fundamentais, são direitos do ser humano, reconhecidos e positivados na Constituição de determinado Estado, sendo, portanto, de ordem interna de cada país, podendo assim, haver mutabilidade entre os direitos fundamentais positivados na ordem jurídica de cada pais.
O autor Ingo Wolfgang Sarlet, conceitua os direitos fundamentais e os diferencia dos direitos humanos como veremos a seguir:
O termo direitos fundamentais se aplica para aqueles direitos do ser humanos reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivado de determinado Estado, ao passo que a expressão direitos humanos guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se aquelas posições jurídicas quie se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que, portanto, aspiram a validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter supranacional (internacional).
Eficácia Horizontal e Eficácia Vertical dos Direitos Fundamentais 
28] FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 57.
25] MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 60.
[24] BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 563-569.
20] CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Princípios gerais de direito público. 2. ed. Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1964, p. 197.
[14] SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 182-183.
[7] SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na constituição federal de 1988. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 70.
[4] TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1997. Vol. 1. p 390.
[6] ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 109-110.
Sarlet
Alexandre de morais, 2005,, pag 13, direitos humanos fundamnetais
Dimitri, dimoulis Martins Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamnetais, 2007, pag 25
[12] BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 563-564.
[13] ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de Direito Constitucional. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 116.
[7] SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na constituição federal de 1988. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 89.

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