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DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 1 DIREITOS HUMANOS Os direitos humanos são um conjunto de direitos considerados essenciais e indispensável para uma vida humana digna pautada na liberdade, igualdade e dignidade. Os direitos humanos possuem estrutura variada, podendo ser: • Direito-pretensão, consistindo na busca de algo, gerando a contrapartida de outrem o dever de prestar – exemplo: direito à educação fundamental, que gera o dever do Estado de prestá-la gratuitamente (art. 208, I, da CF/88); • Direito-liberdade, consistindo na faculdade de agir que gera a ausência de direito de qualquer outro ente ou pessoa – exemplo: liberdade de credo, de modo que, quando alguém o tem, o Estado ou terceiros não possuem nenhum direito (ausência de direito) de exigir que essa pessoa tenha determinada religião (art. 5°, VI, da CF/88); • Direito-poder, implicando uma relação de poder de uma pessoa de exigir determinada sujeição do Estado ou de outra pessoa – exemplo, uma pessoa tem o poder de, ao ser presa, requerer a assistência da família e de advogado, o que impõe a autoridade pública providenciar tais contatos (art. 5°, LXIII, da CF/88); • Direito-imunidade, consistindo na autorização dada por uma norma a uma determinada pessoa, impedindo que outra interfira de qualquer modo – exemplo: uma pessoa é imune à prisão, a não ser em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente (art. 5°, LVI, da CF/88). DIREITO DO HOMEM, DIREITOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS A doutrina costuma fazer uma diferenciação entre esses institutos e terminologias, conforme segue. DIREITOS DO HOMEM Trata-se exatamente do direito biológico, jusnatural, aquele que está inerente ao ser humano. Dessa forma, tais direitos independem de positivação porque são inatos. (Jusnaturalismo – independe de positivação) DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 2 Ex: direito à vida – basta a condição de ser humano para possuir o direito à vida, não havendo necessidade de positivação. DIREITOS FUNDAMENTAIS São também direitos do homem, no entanto, estão positivados e encontram sua positivação no direito interno. São nacionais (plano interno) Por serem mais restritos territorialmente, se preocupam menos com questões de relativismo cultural. Ex: o direito à vida como “direito do homem” foi observado sob a ótica do art. 5°, caput, da CF/88, tendo-se, portanto, um direito fundamental à vida. DIREITOS HUMANOS São direitos pertencentes ao ser humano, como os demais, no entanto, estão positivados no direito externo. São supranacionais (plano internacional) Conferem atenção especial a questões de relativismo cultural devido à abrangência territorial global. Ex: o mesmo direito à vida ao ser previsto no Pacto de São José da Costa Rica – que é um Tratado Internacional – é considerado um direito humano à vida. DIREITOS HUMANOS NA HISTÓRIA A ANTIGUIDADE ORIENTAL: período compreendido entre os séculos VIII e II a.C. DICA DE PROVA: nas questões discursivas ou mais teóricas, os examinadoras costumam não aceitar a confusão de tais Direitos. Assim, por exemplo, o examinado não poderá falar em Direito Humano à vida, previsto na CF/88, mas sim em Direito Fundamental à vida. DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 3 • Menes (3100-2850 a.C.), no Antigo Egito; • Código de Hammurabi (1792-1750 a.C.), na Suméria antiga, sendo considerado o primeiro código de normas de condutas, esboçando os direitos dos indivíduos, em especial o direito à vida, propriedade e honra. GRÉCIA E A DEMOCRACIA ATENIENSE: período compreendido entre o século V a.C.) • A democracia ateniense foi aquela que adotou, quando aos direitos políticos, a participação política dos cidadãos, ainda que com diversas exclusões; • Platão, em A República (400 a.C.) defendeu a igualdade e a noção do bem comum; • Aristóteles, na Ética a Nicômaco, chamou atenção para a importância do agir com justiça, para o bem todos da pólis, mesmo em face de leis injustas; • A peça de Sófocles, Antígona (421 a.C.). A REPÚBLICA ROMANA • O direito romano contribuiu para a proteção dos direitos humanos com a sedimentação do princípio da legalidade; • Lei das Doze Tábuas; • Consagração de direitos como o da propriedade, liberdade, personalidade jurídica, entre outros. INFLUÊNCIAS DO CRISTIANISMO E DA IDADE MÉDIA • Entre os hebreus (1800-1500 a.C.), os cinco livros de Moisés (Torah) prescrevem solidariedade e preocupação com o bem-estar de todos; • O cristianismo contribuindo quando em trechos bíblicos prega-se a igualdade e solidariedade com o semelhante; • São Tomás de Aquino, em sua obra Suma Teológica (1273), defendeu a igualdade dos seres humanos e a aplicação justa da lei; • Na Idade Média ainda surgem os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a determinados estamentos, como a Declaração das Cortes de Leão adotada na Península Ibérica em 1188 e a Magna Carta inglesa de 1215 (catálogo de direitos dos indivíduos contra o Estado). INÍCIO DA IDADE MODERNA DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 4 • Questionamento do Estado Absolutista durante o século XVII e a busca pela limitação do poder; • Petition of Rights de 1628 estabelecendo o dever do rei de não cobrar impostos sem a autorização do Parlamento; • Habeas Corpus Act (1679), a qual formalizou o mandado de proteção judicial aos que haviam sido injustamente presos; • Bill of Rights (1689), reduzindo o poder autocrático dos reis; • Act of Settlement (1701), que serviu tanto para fixar de vez a linha de sucessão da cora inglesa, quanto para reafirmar o poder do Parlamento e a necessidade do respeito da vontade da lei, resguardando-se os direitos dos súditos contra a volta da tirania dos monarcas. HOBBES, GRÓCIO, LOCKE, ROUSSEAU E OS ILUMINISTAS • Thomas Hobbes (Leviatã – 1651) foi um dos primeiros a ter um texto que versa claramente sobre o direito do ser humano, que é ainda tratado como sendo pleno no estado da natureza, concluindo que o ser humano abre mão de sua liberdade inicial e se submete ao poder do Estado, ao passo que esse oferece segurança ao indivíduo, diante das ameaças de seus semelhantes. No entanto, o indivíduo não possuirá nenhuma proteção contra o poder do Estado; • Hugo Grócio (Da guerra e da paz – 1625) defendeu a existência do direito natural, de cunho racionalista, reconhecendo, assim, que suas normas decorrem de “princípios inerentes ao ser humano”; • John Locke (Tratado sobre o governo civil – 1689) defendeu o direito dos indivíduos mesmo contra o Estado. O governo não pode ser arbitrário e deve ter seu poder limitado pela supremacia do bem público; • Abbé Charles de Saint-Pierre (Projeto de paz perpétua – 1713) defendeu o fim das guerras europeias e o estabelecimento de mecanismos pacíficos para superar as controvérsias entre os Estados em uma precursora ideia de federação mundial; • Jean-Jacques Rousseau (Do contrato social – 1762) prega que a vida em sociedade é baseada em um contrato – o pacto social – entre homens livres e iguais; • Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas – 1766) sustentou a existência de limites para a ação do Estado na repressão penal, balizando os limites do jus puniendi que reverberam até hoje; • Kant (Fundamentação da metafísica dos costumes – 1785) defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, que não tem preço ou equivalente. Justamente em virtude dessa dignidade, não se pode tratar o ser humano como um meio, mas sim como um fim em si mesmo. DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 5 FASE DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL E DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS • As revoluções liberais, inglesa, americana e francesa, e suas respectivas Declarações de Direitosmarcaram a primeira clara afirmação histórica dos direitos humanos; • Processo de independência das colônias britânicas na América do Norte, culminando na Constituição norte-americana de 1787; • Declaração do Bom Povo de Virgínia (1776); • Projeto de Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, de 1791, reivindicando a igualdade de direitos de gênero; • Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) consagrada como sendo a primeira com vocação universal. Esse universalismo será o grande alicerce da futura afirmação dos direitos humanos no século XX, com a edição da Declaração Universal dos Direitos Humanos. FASE DO SOCIALISMO E DO CONSTITUCIONALISMO SOCIAL • Europa do século XIX: movimentos socialistas ganham apoio nos seus ataques ao modo de produção capitalista; • Revolução Russa (1917) que estimulou novos avanços na defesa da igualdade e justiça social; • Introdução dos chamados direitos sociais, que pretendiam assegurar condições materiais mínimas de existência, em várias Constituições; • Constituição do México (1917) e da República da Alemanha (Constituição de Weimar de 1919) e, no Brasil, a Constituição de 1934; • Plano do Direito Internacional: consagrou-se, pela primeira vez, uma organização internacional voltada à melhoria das condições dos trabalhadores – a Organização Internacional do Trabalho, criada em 1919 pelo próprio Tratado de Versailles que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS • Nova organização da sociedade internacional no pós-Segunda Guerra Mundial; fatos anteriores levaram ao reconhecimento da vinculação entre a defesa da democracia e dos direitos humanos com os interesses dos Estados em manter um relacionamento pacífico na comunidade internacional; • Carta da Organização das Nações Unidas pós-Segunda Guerra Mundial e Declaração Universal dos Direitos Humanos; • Carta de São Francisco: tratado institutivo da ONU. DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 6 OS QUATRO STATUS DE JELLINEK (NA VISÃO DOS DIREITOS HUMANOS) Desenvolvida em fins do século XIX por Georg Jellinek aponta quatro status (situações jurídicas) do indivíduo perante o Estado, conforme segue: a) Status passivo (status subjectionis): significa que o indivíduo pode se encontrar em uma situação de subordinação em relação ao Poder Público, possuindo deveres face ao Estado (obrigações e imposições, como, por exemplo, a imposição do serviço militar obrigatório). Aqui, temos o indivíduo numa relação de SUJEIÇÃO/SUBORDINAÇÃO em relação ao Estado. b) Status ativo (status activus): o indivíduo pode participar nas decisões políticas, o que se relaciona com os direitos fundamentais de participação política. Temos o indivíduo exercendo a sua capacidade de democracia direta, de direito ao voto, da participação política, da pluralidade democrática. c) Status negativo (status libertartis): existe uma esfera de liberdade do indivíduo que deve ser respeitada pelo Estado. Trata-se de uma esfera especialmente protegida, não devendo o Estado interferir nessa esfera de liberdade. Em razão disso, o indivíduo pode exigir do Estado uma abstenção (postura negativa, um não fazer). d) Status positivo (status civitatis): situação jurídica na qual o indivíduo pode exigir do Estado uma atuação, uma postura positiva, um fazer algo. Relaciona-se com direitos a prestações – ações concretas para viabilizar a aplicação de determinados direitos, por exemplo, direito à educação, direito à saúde. TEORIA DAS GERAÇÕES OU DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS A teoria das gerações dos direitos humanos foi lançada pelo jurista francês de origem checa, Karel Vasak, que classificou os direitos humanos em três gerações, cada uma com características próprias. Posteriormente, alguns autores passaram a defender a ampliação da classificação para quatro ou até cinco gerações. DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 7 GERAÇÃO OU DIMENSÃO? QUAL A TERMINOLOGIA MAIS ADEQUADA? O termo gerações de direitos humanos é a terminologia mais tradicional, mas atualmente alguns doutrinadores entendem não ser a terminologia correta a ser utilizada, uma vez que “geração” passa a impressão errônea de que uma geração supera, substitui a outra, o que não acontece. O termo dimensão, por sua vez, é classificado como o mais adequado, uma vez que os direitos humanos são complementares, e não blocos isolados, são dinâmicos e inesgotáveis. ATENÇÃO: por serem dinâmicos, não raras vezes iremos encontrar um direito humano em mais de uma dimensão (ou geração). Cada geração foi associada a um dos componentes do lema da Revolução Francesa: “liberdade, igualdade, fraternidade”. PRIMEIRA DIMENSÃO Surgiu na passagem do Estado Absolutista, onde o rei concentrava em si a figura do Estado, para o Estado Liberal. No Estado Absolutista o indivíduo não era protagonista, deixado de lado, ficando em segunda plano. O Estado, opressor, não possuía limitações. Dessa forma, passou-se a exigir que o Estado não mais intervisse nas relações dos indivíduos. Exigiam-se liberdades negativas, ou seja, uma abstenção estatal. É atribuída ao Estado uma obrigação de não fazer, de não atuar, onde o indivíduo passa a ser visto com o centro. O Estado passa a ter um papel passivo. DIREITOS DESSA GERAÇÃO: direitos individuais, civis e políticos, direito à vida, à liberdade, à propriedade. DOCUMENTOS RELEVANTES: Magna Carta (1215), que garantiu o direito à propriedade; Bill of Rights, inserida justamente na passagem do Estado Absolutista para o Estado Liberal; Declaração do Bom Povo do Estado da Virgínia (1776); Declaração dos Direitos dos Homens e do Cidadão. No Brasil: Constituição do Império (1824) e Constituição da República (1891). DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 8 SEGUNDA DIMENSÃO Com a Revolução Industrial e chegada do século XX os indivíduos passaram a precisar da intervenção do Estado, ou seja, um fazer estatal. Busca-se alcançar a liberdade material, substancial. DIREITOS DESSA GERAÇÃO: direitos de igualdade, direitos econômicos, sociais e culturais. DOCUMENTOS RELEVANTES: Constituição Mexicana, Constituição de Weimar e Tratado de Versalhes. No Brasil: Constituição de 1934 – “Era Vargas”. TERCEIRA DIMENSÃO Nessa dimensão tem-se como um grande marco a “Internacionalização dos Direitos Humanos”. Com o fim da Segunda Guerra Mundial os países se uniram e criaram a Organização das Nações Unidas (1945), que prezava pela fraternidade e solidariedade. Retira-se o foco do indivíduo e de seus interesses e necessidades pessoais. Não se busca mais satisfazer o particular, mas sim o interesse da coletividade, ou seja, os direitos difusos e coletivos (direitos que pertencem a todos). A titularidade, portanto, é indeterminada. DIREITOS DESSA GERAÇÃO: direitos difusos e coletivos; meio ambiente; autodeterminação dos povos. DOCUMENTOS RELEVANTES: Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). No Brasil: Constituição de 1988 – “Constituição Cidadã”. QUARTA E QUINTA DIMENSÃO Alguns doutrinadores trazem essas novas dimensões. Na quarta dimensão temos, por exemplo, o pluralismo político, o biodireito, a bioética, autodeterminação dos povos, direito à internet, entre outros. Na quinta dimensão, por sua vez, tem-se o direito à paz e à segurança internacional. DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 9 JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA No julgamento do MS 22.164/SP, o Tribunal Pleno, de Relatoria Celso de Mello, DJ de 17.11.195, p. 392206, sintetizou a classificação dos direitos humanos em gerações: Os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais, realçam o princípio da liberdade. Os direitos de segunda geração (direito econômico, sociais eculturais) que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas, acentuam o princípio da igualdade. Os direitos de terceira geração materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS Universalidade: os direitos humanos são atribuídos a TODOS os seres humanos, não importando nenhuma qualidade adicional, como nacionalidade, credo, opção política, orientação sexual, entre outras. São, portanto, oponíveis a todo o ser humano. Como consequência dessa característica temos que o indivíduo que tiver seu direito violado, negligenciado em âmbito interno, poderá recorrer a instâncias internacionais para garantir a proteção deles. Historicidade: os direitos humanos são considerados históricos porque são fruto das manifestações ocorridas ao longo dos anos, sendo resultado daquilo que a sociedade ansiava em determinado momento da história. Complementariedade: os direitos humanos se complementam. Um direito conquistado em determinado período é agregado e reforçado por outro. Relatividade: os direitos humanos não são absolutos, sendo, portanto, relativos. Eles são relativizados, inclusive, por outros direitos humanos. ATENÇÃO: há dois direitos que são tidos como absolutos! A Declaração Universal dos Direitos Humanos traz que 02 direitos não podem ser relativizados em hipótese alguma, sendo, portanto, considerados absolutos. São eles: DIREITO À VEDAÇÃO À TORTURA e DIREITO À VEDAÇÃO À ESCRAVIDÃO. Inexauribilidade: os direitos humanos são inesgotáveis, não possuem fim. Ademais, são inexauríveis no sentido de que têm a possibilidade de expansão, a eles podendo ser sempre acrescidos novos direitos, a qualquer tempo, conforme preceitua, inclusive, o §2° do artigo 5° da CF/88. “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 10 tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Essencialidade: os direitos humanos são essências, são básicos a vida em sociedade. Indisponibilidade ou Inalienabilidade: os direitos humanos não possuem valoração econômica. Eles não podem ser vendidos ou alienados. Irrenunciabilidade: os indivíduos detentores dos direitos não podem abrir mão deles, ou seja, não pode renunciá-los. Imprescritibilidade: o titular do direito não o perderá por não utilizá-lo, ou seja, eles não podem sair da esfera de proteção pelo simples não exercício de seu titular. Vedação ao retrocesso: não há a possibilidade de extinção dos direitos já conquistados, já tutelados. Não pode o Estado proteger menos do que já protegia anteriormente. RESERVA DO POSSÍVEL E O MÍNIMO EXISTENCIAL O mínimo existencial se refere a um conjunto de direitos cuja concretização e eficácia é imprescindível para promover condições adequadas de existência digna, fundada na dignidade da pessoa humana. São assegurados o direito geral de liberdade e os direitos sociais básicos, como o direito à educação, à saúde, à moradia, à alimentação, à previdência e assistência social, entre outros. Sabemos que os direitos sociais, em especial, demandam um fazer estatal, ou seja, sua efetivação muitas vezes depende da implementação de políticas públicas. Ocorre que a efetivação desses direitos pode esbarrar em argumentos referentes à falta de recursos disponíveis pelo Estado. Surge então o que a doutrina denomina de “reserva do possível”. Trata-se de uma teoria desenvolvida originariamente pelo Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, pelo qual se reconhece a limitação de recursos estatais, impedindo a implementação imediata de todos os direitos que exigem prestações positivas por parte do Estado. Dessa forma, o Estado não pode ser exigido a concretizar todos os direitos que dependam de prestações, uma vez que seus recursos são finitos. Os recursos públicos não sendo ilimitados, não haveria a possibilidade de se implementar absolutamente tudo aquilo que fosse exigido. DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 11 Muitas das vezes, diante da omissão do Estado na implementação de políticas públicas e na efetivação dos direitos tidos como essenciais para a existência digna, surge o Poder Judiciário que, provocado, pode intervir, exigindo do Poder Executivo a adoção de providências que visem a melhoria da qualidade da prestação daquilo que foi exigido. Em nosso ordenamento jurídico, o próprio Supremo Tribunal Federal já decidiu pela constitucionalidade dessa intervenção, de modo que não há ofensa ao princípio separação dos poderes. O STF reconheceu que a cláusula da reserva do possível não pode ser invocada com o propósito de obstaculizar a implementação de direitos, pois tal conduta do Poder Público viola a “garantia constitucional do mínimo existencial”, que é fruto, para o STF, da junção do art. 1º, III (dignidade humana), e do art. 3º, III (erradicação da pobreza e da marginalização, bem como redução das desigualdades sociais e regionais), da Constituição (STF, ARE 639.337 AgR, rel. Min. Celso de Mello, j. 23-8-2011, 2ª T., DJe de 15-9-2011). EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Eficácia vertical dos direitos fundamentais: consiste na aplicação dos direitos fundamentais às relações entre Estado e particulares. Refere-se à relação de subordinação que o particular tem com o Estado. Eficácia horizontal dos direitos fundamentais: consiste na aplicação dos direitos fundamentais às relações entre os próprios particulares. Acrescenta-se que parte da doutrina desenvolveu a eficácia diagonal dos direitos fundamentais. Essa eficácia é tida como um meio termo entre as duas anteriormente citadas, uma vez que é uma relação entre particulares, mas em que há uma desigualdade fática, ou seja, é composta exclusivamente por particulares, mas existe um desequilíbrio. É o que acontece, por exemplo, em relações de trabalho. DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Dimensão objetiva: trata-se de uma construção do Tribunal Constitucional alemão, na década de, e guarda relação com o “objeto” dos direitos fundamentais. Se refere às normas que impõem deveres ao Estado, DIREITOS HUMANOS – Por: Viviane Constante 12 além de consagrar os valores mais importantes em uma comunidade política. A dimensão objetiva se preocupa com o próprio direito fundamental. Dimensão subjetiva: está voltado ao sujeito, ao indivíduo e sua relação com o Estado. É o indivíduo “dizendo” ao Estado que precisa de prestações positivas, ou seja, que o Estado interfira nas relações quando o particular assim necessitar; e, as prestações negativas, ou seja, que o Estado não interfira nas relações em que o particular não precisa de sua interferência. BIBLIOGRAFIA CASTILHO, Ricardo. Direitos humanos / Ricardo Castilho. – 6. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018. – (Coleção sinopses jurídicas; v. 30). 1. Direitos humanos - Brasil I. Título. II. Série. RAMOS, André de Carvalho Curso de Direitos Humanos. 7. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
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