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OS PRECEDENTES JUDICIAIS E O NCPC 01) CONSIDERAÇÕES INICIAIS A ideia dos precedentes judiciais vem relacionada com três princípios gerais de direito: Princípio da segurança jurídica Princípio da isonomia Princípio da coerência do direito Outro fator que traz atenção para o estudo dos precedentes judiciais diz respeito à morosidade judicial e as demandas repetitivas. Mesmo sendo considerado como adotando o sistema brasileiro o Civil Law (a lei como fonte principal), não se pode esquecer que a norma jurídica precisa ser interpretada. Com a expansão da jurisdição constitucional (um dos marcos do neoconstitucionalismo, na opinião de Barroso), a atuação do Poder Judiciário ganhou cada vez mais espaço: Súmula Vinculante (EC 45/2004) Repercussão Geral no Recurso Extraordinário (EC 45/2004) Efeito erga omnes e vinculante no controle concentrado de constitucionalidade 02) A ANARQUIA INTERPRETATIVA Marinoni, Mitidieiro e Arenhart, destacam que os efeitos negativos desse fenômeno que consiste em não se respeitar, dentro do próprio tribunal, suas próprias decisões em casos semelhantes. 03) A DOUTRINA DO “STARE DECISIS” Consiste na doutrina que estuda o respeito aos precedentes Ideia: O juiz ou tribunal deve observar os precedentes que resolveram problemas semelhantes. “Stare decisis” vertical – Os juízes e tribunais inferiores devem obedecer as decisões dos Tribunais Superiores (Ex: Súmula Vinculante; Decisões do STF em controle concentrado de constitucionalidade). “Stare decisis” horizontal – O tribunal deve observar seus próprios precedentes. 04) OS PROBLEMAS DO ART. 926 DO NCPC O dispositivo mencionado estabelece que: Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. Dispõe também que os tribunais editem súmulas que correspondam a sua jurisprudência dominante, observando as circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação. Marinoni, Mitidieiro e Arenhart, faz menção genericamente a jurisprudência, sem se preocupar em eventuais distinções que podem haver entre precedentes, jurisprudência e súmulas (tema que será abordado posteriormente). Outra crítica que os citados autores apresentam ao dispositivo é a não diferenciação entre a atuação das Cortes de Justiça (Ex: TJ e TRF) e os Tribunais Superiores (Ex: STF e STJ), pois esses possuem a função de dar a última palavra sobre o entendimento da norma. 05) DIFERENÇAS ENTRE PRECEDENTES, JURISPRUDÊNCIA E SÚMULAS Precedente: Decisão judicial tomada à luz de um caso concreto, cujo núcleo essencial pode servir como diretriz para o julgamento de casos análogos posteriores. Deve ter o efeito de transcender o caso concreto e não se limitar a aplicar a letra da lei (conclusão: nem toda decisão judicial é considerada um precedente). Jurisprudência: É o conjunto de decisões judiciais no mesmo sentido sobre a mesma matéria proferida pelos tribunais (são vários julgados num mesmo sentido). Súmula: Consiste na consolidação objetiva da jurisprudência, sendo editadas quando o tribunal reconhece a existência de entendimento majoritário sobre determinado assunto. A diferença entre precedente e jurisprudência é quantitativa, pois o precedente só se torna jurisprudência quando é reiterado inúmeras vezes, sem grandes variações. O precedente consiste em utilizar decisões tomadas em casos semelhantes do passado, para decidir casos atuais. O precedente versará apenas sobre questões de direito e não de matérias fáticas. 05) RATIO DECIDENDI E OBTER DICTUM No estudo dos precedentes judiciais, é importante saber o significado de ratio decidendi e obter dictum: Ratio Decidendi (01) – As razões pelas quais a decisão foi proferida daquela forma. Ratio Decideni (02) – São os motivos relevantes e determinantes da sentença, sendo a razão necessária e suficiente para resolver uma questão relevante do caso Obter Dictum – São elementos secundários que servem apenas para complementar o raciocínio do juiz. São considerações periféricas, não invocadas pelas partes e desnecessárias para à tomada da decisão. O juiz não pode simplesmente invocar o precedente para fundamentar a sua decisão, devendo verificar a compatibilidade da ratio decidendi com o caso a ser julgado, para seguir ou afastar a aplicação do precedente. 05) DISTINGUISHING E OVERRULING A doutrina do Stare Decisis não conduz ao engessamento do ordenamento jurídico. Nesse sentido é importante saber em que situações o precedente poderá não ser aplicado e até mesmo superado. Na distinção (distinguishing), demonstra-se a existência de diferenças relevantes entre os fatos geradores do precedente e aqueles constantes do novo julgamento. Dessa forma, existem peculiaridades fático-jurídicas no novo julgamento que não estão presentes no precedente, que permitem que o juiz não aplicar o mesmo no caso concreto. Já o overruling, é a técnica que permite a superação do precedente, sendo a resposta judicial ao desgaste da sua congruência social e coerência sistêmica. Para preservar a confiança no sistema de precedentes, a superação deve ser sinalizada pela Corte e poderá ter eficácia para o futuro (possibilidade de modulação dos efeitos temporais da decisão). Além desses institutos, registra-se a possibilidade o overriding (reescrita), onde irá ocorrer a redefinição do âmbito de incidência do precedente, restringindo seu campo de aplicação. Previsão normativa da distinção: Art. 489, § 1º, VI do NCPC Previsão normativa da superação: Art. 489, § 1º, VI; §§ 2º, 3º e 4º do Art. 927 todos do NCPC. 06) PREMISSAS ESSENCIAIS PARA O USO DOS PRECEDENTES Segundo Dierle Nunes, são as seguintes: Esgotamento prévio da temática antes da sua utilização como precedente; Estabilidade decisória dentro do tribunal – Stare decisis horizontal; Aplicação discursiva do precedente pelos tribunais inferirores – Stare decisis vertical; Separação entre ratio decidendi e obter dictum; Ao formar o precedente deve-se considerar todo o histórico da aplicação da tese ou instituto; Delineamento de técnicas processuais idôneas de distinção e superação do precedente.
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