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Introdução à Astronomia & Astrofísica Maria Jaqueline Vasconcelos 2/2017 Algumas constatações... l Há somente 400 anos percebemos que a Terra não é o centro do Universo; l Somente no início do século XX se percebeu que existiam outras galáxias e que o Universo era muito grande; l Há somente cerca de 50 anos se percebeu que o universo está em expansão . Alguns valores... l O Sol seria capaz de abrigar 13 milhões de Terras... l Existem 200 bilhões de estrelas em uma galáxia como a nossa; l Existem bilhões de galáxias; l O Universo tem entre 10 e 20 bilhões de anos; l Nosso sistema solar tem ~ 4,5 bilhões de anos. Algumas escalas de espaço e tempo l Se o sistema solar fosse do tamanho de uma mesa, a galáxia de Andrômeda ficaria a uma distância igual a 10x a distância à Lua e as galáxias mais distantes estariam a 60x a distância da Terra ao Sol; l Se todo o tempo desde o Big-Bang fosse comprimido em 1 ano, começando no dia 01 de Janeiro, teríamos: - a Terra se formando no meio de setembro; - os mamíferos aparecendo no dia 26 de dezembro; - toda a história humana ocorrendo na última ½ hora do dia 31 de dezembro! l O Universo é enorme e a Astronomia, como uma ciência exata, precisa atribuir valores quantitativos às grandezas observadas. O primeiro ponto é a localização dos objetos no céu! Astrometria: Definições e Sistemas de Coordenadas Sistemas de coordenadas terrestres Latitude & Longitude A latitude ϕ varia de 0° a 90° (Norte) e 0° a -90° (Sul). l A longitude λ vai de -180° (oeste) a +180° (leste). l É comum escrever a longitude também em horas, o que define os fusos horários. Meridiano de referência Equador → Paralelo de referência l O modo como a latitude é definida depende da superfície de referência utilizada: l Num modelo esférico da Terra, a latitude é o ângulo que um raio da esfera faz com o plano do equador = medida angular do arco de meridiano entre o equador e o ponto onde se toma a latitude. l Num modelo elipsoidal da Terra, a latitude de um lugar = latitude geodésica = ângulo que a normal ao elipsóide faz com o plano do equador - Neste caso, como os meridianos são elipses, a latitude não pode ser confundida com a medida angular do arco de meridiano entre o equador e o lugar. - As latitudes dos lugares representados nos mapas são latitudes geodésicas. • A latitude pode também ser definida como o ângulo entre a vertical do lugar (isto é, a direção do fio-de-prumo) e o plano do equador = latitude astronômica ou natural. • Uma vez que a vertical do lugar não coincide geralmente com a normal ao elipsóide de referência nesse lugar, a latitude astronômica é geralmente diferente da latitude geodésica. l O ângulo coberto pela longitude vale 360º; l Este ângulo é varrido em 24 horas. l Logo: l Assim, a cada 15º temos um fuso horário. h/º15 h24 º360 = Linha internacional de data v Desde 2008 o Brasil possui 3 fusos horários: ü UTC-2: Fernando de Noronha e Ilha de Trindade; ü UTC-3 (Hora oficial): regiões sul, sudeste, nordeste e os estados de Goiás, Tocantins, Pará e Amapá + Distrito Federal; ü UTC-4: os demais estados brasileiros. l A linha internacional da data: - Cruzada de leste para oeste: adicionam-se 24 horas; - Cruzada de oeste para leste: subtraem-se 24 horas. E como definir a posição dos objetos celestes? Isto é o que vemos... Isto é o que os gregos imaginavam ver... Isto é o que está no céu: cada estrela está a uma distância diferente. Mas, esta é outra história... l Desde a antiguidade notou-se que o céu está em constante movimento: - Durante o dia, o Sol se move no céu de leste para oeste; - Durante a noite, as estrelas também se movem de leste para oeste; - Durante o ano, algumas estrelas deixam de ser visíveis enquanto outras se tornam visíveis. Movimento dos objetos com relação a uma Terra “parada” Conceito de Esfera Celeste A esfera celeste é uma esfera ideal, sem raio definido, concêntrica com o globo terrestre. O eixo de rotação da Terra define os pólos N e S celestes. O pólo N celeste está na constelação da Ursa Menor, próximo à direção da estrela Polaris. O pólo S celeste está na constelação Octante, na direção da estrela Polaris Australis. A projeção do equador terrestre na esfera celeste define o equador celeste Zênite, Nadir e horizonte l Meridiano: qualquer círculo máximo que vai de um pólo a outro; l Círculo máximo: um círculo na superfície de uma esfera que a divide em 2 hemisférios l Zênite: ponto situado diretamente sobre a cabeça de um observador ou ponto no qual a vertical do lugar intercepta a esfera celeste, acima da cabeça do observador. l Nadir: ponto diametralmente oposto ao zênite Para um observador situado em uma colatitude φ: o círculo que passa pelo zênite, nadir, PNC e PSC é o meridiano local A intersecção do meridiano local com o horizonte define os pontos geográficos ou pontos cardeais N e o S. Os pontos cardeais L e O são definidos pela intersecção do horizonte com o equador celeste. O horizonte de um observador situado no pólo N terrestre = equador celeste Ele poderá observar somente objetos do hemisfério N celeste. O zênite e o nadir deste observador são, respectivamente, os pólos N e S celestes. Se o observador está no equador, seu horizonte será limitado pelos pólos N e S celestes. Todos os objetos acima do horizonte são visíveis enquanto que todos os objetos abaixo do horizonte não são visíveis! Terra gira no sentido oeste-leste → objetos na esfera celeste parecem se mover no sentido leste-oeste → movimento diurno sempre paralelo ao EC Nascer → objeto aparece no horizonte; Objetos circumpolares ↓ l sempre visíveis; l diferentes para diferentes latitudes. Ocaso → objeto desaparece no horizonte; Para um observador no PN (φ= 90º): l horizonte = equador celeste l zênite = PNC l nadir = PSC l Neste caso, as estrelas giram paralelamente ao EC e nunca se põem, são todas circumpolares. l As estrelas se movem paralelamente ao horizonte pois o ângulo que elas fazem com o horizonte é dado por 90º - φ. Para um observador situado em uma latitude de φ = 75ºN: l PNC está mais baixo 25º com relação ao zênite; l o EC está mais alto 25º com relação ao horizonte l As estrelas, que sempre giram paralelamente ao EC, agora se movem em arcos sobre o horizonte pois 90º – 75º = 25º l Algumas nascem e se põem, mas muitas são circumpolares; • o meridiano e o zênite não mudam sua posição com relação ao horizonte! Para um observador situado em uma latitude igual a 34ºN : l PNC está mais baixo do que o zênite e num ângulo de 56º com este; l o EC está mais alto no horizonte num ângulo de 56º com relação ao horizonte. l As estrelas, que sempre giram paralelamente ao EC, agora se movem em arcos ainda mais inclinados sobre o horizonte, num ângulo de 90º – 34º = 56º l elas nascem e se põem; l quando um objeto está cruzando o meridiano (acima do horizonte) ele está na sua máxima altitude. Para um observador situado no equador (φ = 0º): l PNC e PSC constituem os extremos do horizonte; l o EC coincide com o zênite! l O ângulo entre o ponto em que o objeto nasce e o horizonte é igual a 90º! l os objetos nascem e se põem; l todas asestrelas são visíveis por 12 horas. Movimento da Terra em torno do Sol (na direção anti-horária): no referencial da Terra, é o Sol quem se move (na direção horária): a projeção deste movimento na esfera celeste define a Eclíptica. Eclíptica: Movimento de translação Equinócios: pontos de intersecção da eclíptica com o equador celeste → ambos os hemisférios são igualmente iluminados Solstícios: pontos de maior afastamento angular entre o Sol e o equador celeste (23,5°) No hemisfério sul é ao revés Solstício de Inverno (S) ~ 22 de junho Equinócio de primavera, dia 22/09 Dia e noite com 12 h em todo lugar. Nos polos, dia 24 h. Solstício de Inverno (S) Solstício de Verão (N) Solstício de Inverno (N) Verão (S) A Note que a origem das estações do ano está na inclinação do eixo de rotação da Terra e não na distância da Terra ao Sol. Se fosse assim, não haveria razão para as estações do ano se alternarem nos hemisférios N e S! Sistema Horizontal de coordenadas Sistema fixo à Terra → as coordenadas dependem do lugar e do instante da observação; O plano fundamental utilizado neste sistema é o horizonte celeste Azimute (A): ângulo entre a linha N- S (com origem no N) e a extremidade no meridiano do objeto. Varia de 0° a 360° e é medido no sentido NLSO; Altura (h): ângulo entre o horizonte e a posição do objeto. Varia entre -90° a +90°; z = 90° - h (altura ou distância zenital) Z 18-09 – 20:40 Stellarium Mas... 19-09 – 20:40 20-09 – 20:40 21-09 – 20:40 22-09 – 20:40 l Sistema de simples definição mas... Como é baseado no horizonte e meridiano do observador: - Depende da latitude e longitude do observador; - Varia na mesma noite com o tempo → devido à rotação da Terra; - Varia de noite para noite. Por quê? l A Terra gira em torno do seu próprio eixo → dia solar → 360º em 24 h (convenção) (15º/h = 1º a cada 4 min); l Mas a Terra também translada em torno do Sol: 360º em 365 dias solares (convenção) → 360º/365 = 0,986º/dia solar ~ 1º/dia solar. l A Terra tem que girar ~ 361º para que o Sol volte à mesma posição no meridiano local. l Em 24h, as estrelas não voltam à mesma posição, mas estão 4 min “adiantadas”... Dia solar = 24 h Dia sideral = 23 h 56 m 4s 18-09 – 20:40 19-09 – 20:36 Sistema equatorial celeste Sistema fixo à esfera celeste → as coordenadas NÃO dependem do lugar e do instante da observação Ascensão reta (α): ângulo entre o ponto vernal (equinócio de outono no HN) e o meridiano do objeto . Varia de 0 a 24h (ou 0° a 360°). Cresce para leste, acompanhando o movimento anual do Sol; Declinação (δ): ângulo entre o equador celeste e a posição do objeto. Varia entre -90° a +90°; A distância polar p é p = 90° - δ O plano fundamental utilizado neste sistema é o equador celeste: α e δ de um objeto permanecem praticamente constantes por longos períodos de tempo. p A posição do ponto vernal varia devido à precessão dos equinócios, com T = 2,6 x 104 anos, à nutação, movimentos próprios e aberração. PNC hoje Os signos do zodíaco são calculados levando-se em consideração as tabelas babilônicas de 4.000 anos atrás. Isto implica que elas não foram corrigidas pela precessão dos equinócios. Assim, uma pessoa que pensa que é do signo de Touro, na verdade seria do signo de Áries! Sistema equatorial local Ângulo horário (H): ângulo medido sobre o EC com origem no meridiano local e extremidade no meridiano do astro l 12 h ≤ H ≤ +12 h (ou 0º ≤ H ≤ 360º) l cresce para oeste, ou seja, acompanha o movimento diurno do objeto → útil para a contagem do tempo! l A outra coordenada é a declinação. Sistema equatorial local l Pode-se definir a hora sideral (HS): ângulo horário do ponto vernal HS = Hγ = H* + α*, onde H* e α* se referem a uma estrela qualquer de coordenadas conhecidas. l Pode-se definir a hora solar como M = H⊙ + 12h, onde H⊙ é o ângulo horário do Sol e acrescenta-se 12h para que a culminação superior (passagem do astro pelo meridiano local H⊙ = 0h ) ocorra ao meio dia (12 horas) e não à meia-noite (0h) l Quando o objeto passa pelo meridiano: - sua altura é um extremo (como visto anteriormente) - H = 0º (culminação superior – altura máxima – distância zenital mínima) ou - H = 180º (culminação inferior – altura mínima – distância zenital máxima); - φ = - δ + z ou φ = δ - z O pólo elevado é o pólo que se encontra acima do horizonte do observador. Em nosso caso, o pólo elevado é o Sul. Da figura, vemos que a altura do pólo elevado é = |φ| Meridiano local Existe uma relação entre a distância zenital z (ângulo entre o Zênite e o objeto), a declinação δ (ângulo entre o EC e a posição do objeto) e a latitude do observador: ou z = δ - φ (Culminação ao N do Z) ou z = φ- δ (Culminação ao S do Z) z+=δ φ EC z+δ= z+=δ φ φ−− S N ou, z = Φ – δ Ou h = 90 – z = 90 – Φ + δ Usa-se para calcular a altura máxima de um dado objeto no céu Estrelas circumpolares e estrelas nunca visíveis Estrelas circumpolares: l δ ≥ 90º - φ (HN) l δ ≤ - (90º + φ) (HS – as coordenadas negativas) altura do pólo elevado Star trails in 10 hour exposure: estrelas circumpolares Estrelas nunca visíveis: l δ ≤ -(90º - φ) (HN) l δ ≥ 90º + φ (HS) ou z > 90° Medidas de tempo Dia Sideral: Intervalo de tempo necessário para que o ponto vernal passe 2x pelo meridiano de um observador qualquer = intervalo decorrido entre duas passagens meridianas do ponto γ. Ano sideral: Período de revolução da Terra em torno do Sol com relação às estrelas. Seu comprimento é de 365,2564 dias solares médios, ou 365d 6h 9m 10s. Ano tropical: Período de rotação da Terra em torno do Sol com relação ao Equinócio Vernal, isto é, com relação ao início da estações. Seu comprimento é 365,2422 dias solares médios, ou 365d 5h 48m 46s. Devido ao movimento de precessão da Terra, o ano tropical é levemente menor do que o ano sideral. O calendário se baseia no ano tropical. Dia Solar: • Intervalo de tempo decorrido entre duas passagens sucessivas do Sol pelo meridiano do lugar. • 3m56s mais longo do que o dia sideral → devido à translação da Terra em torno do Sol, de aproximadamente 1º (4 minutos) por dia (360º/ano=0,986º/dia). Como a órbita da Terra em torno do Sol é elíptica, a velocidade de translação da Terra em torno do Sol não é constante, causando uma variação diária de 1º 6' (4m27s) em dezembro, e 53' (3m35s) em junho. Tempo solar médio: Ângulo horário do centro do sol médio = sol fictício, que se move ao longo do Equador celeste (o Sol verdadeiro se move ao longo da Eclíptica), com velocidade angular constante → os dias solares médios são iguais entre si (ao passo que os dias solares verdadeiros não são iguais entre si porque o movimento do Sol na eclíptica não tem velocidade angular constante). Mas o movimento do Sol na eclíptica é anualmente periódico, assim o ano solar médio é igual ao ano solar verdadeiro. Tempo solar verdadeiro: Ângulo horário do centro do Sol. Equação do Tempo: Diferença entre o Tempo solar verdadeiro e o Tempo solar médio = diferença entre o meio dia verdadeiro (passagem meridiana do Sol), e o meio dia do Sol médio. Quando se faz a determinação da longitude de um local pela medida da passagem meridiana do Sol, se não corrigirmos a hora local do centro do meridiano pela equação do tempo, poderemosintroduzir um erro de até 4 graus na longitude. Tempo civil (Tc): É o tempo solar médio acrescido de 12 hr, isto é, usa como origem do dia o instante em que o sol médio passa pelo meridiano inferior do lugar. A razão da instituição do tempo civil é não mudar a data durante as horas de maior atividade da humanidade nos ramos financeiros, comerciais e industriais, o que acarretaria inúmeros problemas de ordem prática. Tempo universal (TU): É o tempo civil de Greenwich, na Inglaterra, definido como ponto zero de longitude geográfica na Conferência Internacional Meridiana, realizada em Washington em outubro de 1884. Lá está o Royal Observatory, Greenwich. Dia Juliano: l Proposto por Joseph Justus Scaliger em 1583, este sistema de contagem de tempo abole o uso de dias, meses e anos → contagem sequencial do tempo l Início: DJ = 0 = 12 horas do dia 1º de janeiro de 4713 a.C. no calendário juliano ou 24 de novembro de 4714 a.C. pelo calendário gregoriano (utilizado por nós). l Na astronomia, usam-se certos valores dos Dias Julianos como pontos de referência importantes, chamados de Épocas. Uma época largamente usada é a J2000; que corresponde ao Dia Juliano para o 1 de Jan de 2000 ao meio-dia = DJ 2451545,0. l Os Dias Julianos podem também ser usados para indicar a hora; o tempo do dia expresso como a fração de um dia inteiro, em que o meio-dia é o ponto 0 (zero). Por isso, as 15 horas do 1 de Janeiro de 1970 corresponde ao DJ 2440588,125 (dado que as 15h são 3 horas a partir do meio-dia e 3/24 = 0,125 dias).
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