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DOCÊNCIA EM SAÚDE EDUCAÇÃO ESPECIAL 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842e Educação especial / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 153p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-66104-31-8 1. Educação especial. 2. Política nacional de educação inclusiva. I. Portal Educação. II. Título. CDD 371.9 2 SUMÁRIO 1 ATENDIMENTO EDUCACIONAL AOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS .... 4 2 PROGRESSÃO SÓCIO-HISTÓRICA ........................................................................................ 12 3 EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA ....................................................................................... 21 4 PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS .................................................................. 28 4.1 Casos de necessidades especiais de ordem mental mais frequente na escola ................ 28 5 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM ......................................................................................... 30 6 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL .............................................................. 32 7 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA .............................................................. 56 7.1 Legislação e normas ............................................................................................................... 56 8 LDB – LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NO BRASIL (1996) ......................... 69 9 FRAGMENTO DO TEXTO DA LEI 9394/96, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 ........................ 70 10 PLANOS NACIONAIS DE EDUCAÇÃO ................................................................................... 72 11 DIRETRIZES E METAS PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL, SEGUNDO O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ATUAL ................................................................................................. 84 12 RESUMO DA LEGISLAÇÃO REFERENTE À EDUCAÇÃO INCLUSIVA ............................... 95 13 PROCEDIMENTOS DIDÁTICOS ESPECIAIS .......................................................................... 98 3 14 APRENDIZAGEM ESCOLAR .................................................................................................. 101 15 SUGESTÕES DE RECURSOS DE ACESSO AO CURRÍCULO PARA ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS, SEGUNDO NECESSIDADES ESPECÍFICAS .................................. 108 15.1 Para alunos com deficiência visual ...................................................................................... 108 15.2 Para alunos com deficiência auditiva ................................................................................... 109 15.3 Para alunos com deficiência mental ..................................................................................... 109 15.4 Para alunos com deficiência física ....................................................................................... 110 15.5 Para alunos com superdotação............................................................................................. 110 15.6 Para alunos com deficiências múltiplas .............................................................................. 111 15.7 Para alunos com condutas típicas de síndromes e quadros clínicos ............................... 111 16 ADAPTAÇÕES METODOLÓGICAS E DIDÁTICAS ................................................................ 113 17 ADAPTAÇÕES DOS CONTEÚDOS CURRICULARES E NO PROCESSO AVALIATIVO ..... 114 18 PROJETO DE BRINQUEDOTECA ......................................................................................... 116 19 JOGOS E ATIVIDADES LÚDICAS .......................................................................................... 118 20 EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................................................................ 125 21 PENSAMENTO LÓGICO ........................................................................................................ 134 22 BRINQUEDOS (Sugestões) .................................................................................................... 136 GLOSSÁRIO DAS NECESSIDADES ESPECIAIS/EDUCAÇÃO ESPECIAL .................................... 145 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 151 4 1 ATENDIMENTO EDUCACIONAL AOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS Por Educação Especial entende-se o atendimento educacional de excepcionais, isto é, daqueles que apresentam deficiências mentais, físicas, sensoriais, múltiplas deficiências, distúrbios de conduta e os superdotados. Embora o portador de necessidades especiais deva ser visto primeiramente como PESSOA, ele é também uma pessoa diferente. Sendo assim, o desenvolvimento harmonioso do educando sob o aspecto individual, individual-social e predominantemente social é o que se pretende atingir no processo educativo. A auto-realização, a qualificação para o trabalho, o exercício consciente da cidadania são decorrências de uma ação educativa eficaz e eficiente, seja ela dirigida a indivíduos portadores de necessidades especiais ou não. As diferenças entre a Educação Especial e a Educação comum não se encontram nos aspectos filosóficos, mas sim nas estratégias de ação que lhe são próprias e múltiplas, porque numerosa e variada é a sua clientela. O discurso acerca da inclusão de pessoas com deficiência na escola, no trabalho e nos espaços sociais em geral, tem-se propagado rapidamente entre educadores, familiares, líderes e dirigentes políticos, nas entidades, nos meios de comunicação etc. Isto não quer dizer que a inserção de todos nos diversos setores da sociedade seja prática corrente ou uma realidade já dada. As políticas públicas de atenção a este segmento, geralmente, estão circunscritas ao tripé educação, saúde e assistência social, sendo que os demais aspectos costumam ser negligenciados. A educação destas pessoas tem sido objeto de inquietações e constitui um sistema paralelo de instituições e serviços especializados no qual a inclusão escolar desponta como um ideal utópico e inviável. A saúde limita-se à medicalização e patologização da deficiência ou à reabilitação compreendida basicamente como concessão de órteses e próteses. A assistência social traduz-se na distribuição de benefícios e de parcos recursos, em um contexto de miséria e de privações, no qual impera a concorrência do assistencialismo e da filantropia. Em cada um destes setores, o foco do atendimento privilegia uma certa dimensão do contexto de vida familiar, comunitário e social. Para a educação, o sujeito com deficiência é um "aluno especial", cujas necessidades específicas demandam recursos, equipamentos e níveis de especialização definidos de acordo com a condição física, sensorial ou mental. No âmbito da saúde, o mesmo 5 aluno é tratado como "paciente", sujeito a intervençõestardias e de cunho curativo, enquanto no campo da assistência social ele é um "beneficiário" desprovido de recursos essenciais à sua sobrevivência e sujeito as formas de concessão de benefícios temporários ou permanentes de caráter restritivo. O que se observa, nestes setores, são ações isoladas e simbólicas ao lado de um conjunto de leis, projetos e iniciativas insipientes e desarticuladas entre as diversas instâncias do poder público. Em todos os casos, percebemos uma concepção de sujeito fragmentado, incompleto sem a necessária incorporação das múltiplas dimensões da vida humana. Existe uma teia de contradições e um fosso entre o discurso e a ação, pois o mundo continua representado pelo "nós, os ditos normais" e "eles", as pessoas com deficiência. Tais observações podem parecer pouco otimistas e talvez o sejam por representarem à perspectiva de quem tem a experiência da exclusão atravessada nas cenas do quotidiano e nos descaminhos da própria existência. Dificilmente, conseguimos abordar esta realidade sem exaltações ou animosidades, pois o tema tem suscitado debates calorosos que trazem em seu teor concepções divergentes e acentuam o antagonismo entre educação especial e inclusiva. Via de regra, deparamos com argumentos que se justificam pela análise do óbvio, isto é, pela explicitação das dificuldades e limitações vivenciadas no contexto do sistema escolar e no ambiente da sala de aula. Os professores do ensino regular ressaltam, entre outros fatores, a dura realidade das condições de trabalho e os limites da formação profissional, o número elevado de alunos por turma, a rede física inadequada, o despreparo para ensinar "alunos especiais" ou diferentes. Os professores da educação especial também não se sentem preparados para trabalhar com a diversidade do alunado, com a complexidade e amplitude dos processos de ensino e aprendizagem. A formação destes profissionais caracteriza-se pela qualificação ou habilitação específicas, obtidas por meio de cursos de pedagogia ou de outras alternativas de formação agenciadas por instituições especializadas. Nestes cursos, estágios ou capacitação profissional, esses especialistas aprenderam a lidar com métodos, técnicas, diagnósticos e outras questões centradas na especificidade de uma determinada deficiência, o que delimita suas possibilidades de atuação. Além disso, constatamos o receio, a insegurança e a resistência dos pais que preferem manter os filhos em instituições especializadas temerosos de que sejam discriminados e estigmatizados no ensino regular. Muitos deles desistiram por terem ouvido tantas vezes que 6 não havia vaga para o seu filho naquela escola ou que o melhor para ele é uma escola especial. Outros insistem por convicção ou simplesmente por se tratar da única opção no local de moradia da família, pois existem os que estão fora da escola pelas razões aqui apontadas. Os representantes de instituições e serviços especializados reagem ao risco iminente de esvaziamento ou desmantelamento destas estruturas. Trata-se de um campo de tensões no qual se manifestam o espírito de corpo e a con (fusão) entre as estruturas e os sujeitos nelas inseridos, o que dificulta a reflexão e o aprofundamento do debate. Esta realidade caótica evidencia um confronto de tendências opostas entre os adeptos da educação inclusiva e os defensores da educação especial. Por outro lado, constatamos uma inegável mudança de postura, de concepções e atitudes por parte de educadores, pesquisadores, de agentes sociais, formadores de opinião e do público em geral. Estas mudanças se traduzem na incorporação das diferenças como atributos naturais da humanidade, no reconhecimento e na afirmação de direitos, na abertura para inovações no campo teórico-prático e na assimilação de valores, princípios e metas a serem alcançadas. Trata-se, portanto, de propor ações e medidas que visem assegurar os direitos conquistados, a melhoria da qualidade da educação, o investimento em uma ampla formação dos educadores, a remoção de barreiras físicas e atitudinais, a previsão e provisão de recursos materiais e humanos entre outras possibilidades. Nesta perspectiva se potencializa um movimento de transformação da realidade para se conseguir reverter o percurso de exclusão de crianças, jovens e adultos com ou sem deficiência no sistema educacional. A despeito de figurar na política educacional brasileira desde o final da década de cinqüenta do século XX até os dias atuais, a educação especial tem sido com grande freqüência, interpretada como um apêndice indesejável. Numerosos são os educadores e legisladores que a vêem como meritória obra de alguns “abnegados” que se dispõe a tratar de crianças e jovens deficientes físicos ou mentais. O sentido a ela atribuído é, ainda hoje, muitas vezes, o de assistência aos deficientes e não o de educação de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. Mesmo quando entendida como modalidade de ensino, via de regra alvo de abordagens tecnicistas reducionistas, a educação especial tem sido definida como simples opção de métodos, técnicas e materiais didáticos diferentes dos usuais. Ou seja, a Educação Especial é definida como a modalidade de ensino que se caracteriza por um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais organizados para apoiar, suplementar e, em alguns 7 casos, substituir os serviços comuns, de modo a garantir a educação formal dos educandos que apresentam necessidades educacionais muito diferentes das da maioria das crianças e jovens. Tais educandos, também denominados de “excepcionais”, são justamente aqueles que hoje têm sido chamados de “alunos com necessidades especiais”. Entende-se que tais necessidades educacionais gerais da educação formal que lhe é oferecida. Nesse contexto, a educação especial no Brasil não tem merecido a necessária atenção dos estudiosos, de modo a empreenderem uma investigação científica de sua existência enquanto elemento significativo da política educacional. Ilustra tal afirmação o documento síntese, da Jornada de Pesquisa em Educação Especial, realizada em 1986, no rio de Janeiro, que sugere como principais linhas de pesquisa as seguintes: diagnóstico da deficiência mental educável, integração das pessoas portadoras de necessidades especiais, formação de recursos humanos, currículos e programas em educação especial, prevenção da excepcionalidade, relação criança-família-escola, reabilitação e profissionalização. Importante, também, é a constatação de que a todo o momento surge um “pioneiro” com um discurso pretensamente novo ou inovador, ignorando toda a trajetória desta modalidade de ensino, quer no âmbito da sociedade civil, quer no da ação governamental. A defesa da cidadania e do direito à educação das pessoas portadoras de necessidades especiais é atitude muito recente em nossa sociedade. Manifestando-se através de medidas isoladas, de indivíduos ou grupos, a conquista e o reconhecimento de alguns direitos dos portadores de deficiências podem ser identificados como elementos integrantes de políticas sociais, a partir de meados do século XX. Ignorando sua longa construção sócio-cultural, muitos têm sido os que entendem a situação atual como resultado exclusivo de suas próprias ações ou de contemporâneos seus. Em razão disso, é extremamente valioso clarificar alguns momentos da evolução das atitudes sociais e sua materialização, particularmente aquelas voltadas para a educação do portados de necessidades especiais. Nesse sentido, cabe alertar que, tanto na literatura educacional quanto em documentos técnicos, é freqüente a referência a situações de atendimento a pessoas deficientes (crianças e/ou adultos) como sendo educacionais, quando uma análise mais cuidadosa revela tratar-se de situações organizadas com outros propósitos que não o educacional.8 Podemos dizer então, que convivemos com dois tipos de educação, ou no mínimo de modos diferentes da educação. Quando falamos em educação especial, propomos integração, cursos específicos ou em nível de pós-graduação que tratam especificamente do assunto. A educação Especial assume, no momento, papel de fundamental importância, tendo em vista as crescentes exigências de uma sociedade brasileira em expansão e os desequilíbrios do atendimento educacional aos portadores de necessidades especiais, apesar do expressivo interesse que desperta o dos esforços realizados por instituições públicas e particulares. A problemática da educação especial vem sendo abordada de forma mais abrangente, pelos educadores contemporâneos, que fazem uso do pensamento crítico, colocando as questões educacionais “especiais” vinculadas ao contexto escolar mais amplo, ou seja, pertencente à complexidade. Social. Abordagem da educação especial no Brasil sempre esteve calcada em duas vertentes: a médico-pedagógica (ciências médicas e biológicas) e a psicopedagógica (com a introdução dos testes de inteligência e da adequação de procedimentos para a educação dos deficientes mentais). As crianças são consideradas educacionalmente “especiais” somente quando suas necessidades exigem a alteração do programa, ou seja, quando os desvios de seu desenvolvimento atingem um tipo em um grau que requerem providências pedagógicas desnecessárias para a maioria das crianças. Para fins didáticos, e para facilitar a comunicação entre os profissionais da psicologia, sociologia, fisiologia, medicina e educação, as crianças são agrupadas na seguinte classificação: 1. Desvios mentais, incluindo crianças que são: a) Intelectualmente superiores; b) Lentas quanto à capacidade de aprendizado; 2. Deficiências sensoriais, incluindo as crianças com: a) Deficiências auditivas; 9 b) Deficiências visuais; 3. Desordens de comunicação, incluindo as crianças com: a) Distúrbios de aprendizagem; b) Deficiências de fala e linguagem; 4. Desordens de comportamento, incluindo: a) Distúrbio emocional; b) Desajustamento social; 5. Deficiências múltiplas e graves, incluindo várias combinações: paralisia cerebral e retardamento mental, surdez e cegueira, deficiência físicas e intelectuais graves, etc. A visão social fragmentada muitas vezes percebida como estática traz a leitura de mundo e de homem, incorpora e acredita nas concepções acerca da impossibilidade de mudança e de desenvolvimento dos alunos. Apesar da percepção do progresso do aluno, há a esperança da previsão de um limite próximo. Muitas vezes a relação de desenvolvimento X aprendizagem, é percebida como dois processos independentes, quais sejam: um, o desenvolvimento “naturalmente predeterminado, e o outro, a aprendizagem que tem apenas a função de se adequar a essa evolução”. A psicologia soviética, por meio de estudos de Vigotsky (1984, 1987, 1988) e de Leontiev (1978), mostra-nos que o desenvolvimento ou maturidade não se dá por um processo exclusivamente interno, definido biologicamente, independente da aprendizagem, para que resulte daí um desenvolvimento com características especificamente humanas. Segundo Vigotsky (1984), a instrução adequadamente organizada provoca na criança o desenvolvimento mental e a emergência de processos superiores especificamente humanos. A apropriação dos bens culturais, construídos historicamente, por parte da criança é de fundamental importância para o processo de inclusão. Os quatro eixos básicos que constituíram o Paradigma da Inclusão partiram do entroncamento de quatro fontes básicas: a emergência da Psicanálise; a luta pelos Direitos Humanos, a Pedagogia Institucional e o movimento de Desinstitucionalização Manicomial ou Antipsiquiatria. Foram estes desencadeadores que delinearam um problema social, um problema 10 público - a questão da inclusão social - que vem tomando forma e exigindo novas práticas educacionais e sociais. As contribuições de Sigmund Freud e Jacques Lacan trouxeram uma nova forma de se conceber os seres humanos: a importância da linguagem, do inconsciente e da sexualidade nos processos de constituição dos sujeitos. Através dos ensinamentos de Freud e Lacan foi possível identificar que havia em relação à sociedade e aos sujeitos uma leitura ingênua do mundo. Uma crença na intencionalidade direta e linear das ações dos sujeitos e da sociedade. Freud revelou que o sujeito e a sociedade podem ir contra si mesmo. Os sujeitos não criam apenas através das suas ações, o que chamou de pulsão de vida. Eles podem também se destruir ou destruir ao outro, um processo bastante sofisticado que Freud denominou de pulsão de morte. Com isto foi tornando-se cada vez mais evidente que a sexualidade, a inteligência e a afetividade dos seres humanos não eram apenas produtos já dados, mas construções sociais e individuais. Para Freud e Lacan a ênfase estava nas relações e não em processos biológicos previamente concebidos e estruturados. Um exemplo é a questão atualíssima da violência nas escolas, vem revelando que não basta lidar apenas com o cognitivo, nós precisamos também trabalhar com a afetividade dos alunos, existe um desamparo familiar, social, político, ético, moral etc... encobrindo essa violência manifesta. Mais tarde, a luta pelos Direitos Humanos veio ampliar ainda mais esta proposta. Ela delineou uma outra passagem que é a luta pelos direitos políticos. De 1964 a 1968, no meio universitário e fora dele, emergiu, no mundo todo, a defesa pelos Direitos Humanos aplicados a todos os sujeitos. Independente do fato de se pertencer a uma dada raça, cor, religião, situação financeira, etc. O objetivo é que todos os sujeitos tivessem acesso e direito garantido aos mesmos parâmetros de ingresso nos processos sociais e educativos. A luta pela Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, veio revelar o papel estratégico que a Educação vem ocupando na manutenção, ao longo de décadas, de processos estigmatizadores. Em decorrência, não foi ao acaso que emergiu na França, na década de 60, a Pedagogia Institucional ou Pedagogia revolucionária, aquela cujas raízes se encontram no movimento frenetiano e no grupo dos Situacionistas Internacionais que, desencadearam no mundo todo, uma nova forma de ver a cultura e a Educação. Esse conceito situacionista revela a 11 importância de não mais focalizarmos o sujeito isoladamente. É preciso que se identifique também o contexto social - a situação ou ambiência - onde sujeito se encontra colocado. O movimento mais transformador da cultura na década de 60 e 70 foi o Movimento de Desinstitucionalização Manicomial, ou seja, da quebra das cadeias manicomiais, como lugares de atendimento e tratamento excludentes dos doentes mentais. Os movimentos de Desintitucionalização e Antipsiquiatria propiciaram novas luzes aos processos de atendimento e tratamento dos doentes mentais. Eles revelaram a importância de situações saudáveis para o bom andamento dos sujeitos. Situações onde os doentes mentais não ficassem excluídos dos ambientes comuns, mas fosse dado o direito de participar de uma forma mais ampla e digna dos contextos sociais comuns. Acreditamos que os conteúdos que atualmente surgiram em Educação Inclusiva não sejam referidos apenas ao momento presente. Revelam a existência de um problema social maior, um problema público, em relação à maneira como os portadores de necessidades especiais têm sido tratados ao longo da história da nossa civilização. A partir da década de 90 as discussões referentes à educação das pessoas com necessidades especiais começaram a adquirir alguma consistência, face às políticas anteriores de caracterizadas pela descontinuidade e dimensão secundária. A nova LDB 9.394/96em seu capítulo V coloca que a educação dos portadores de necessidades especiais devem se dar de preferência na rede regular de ensino, o que traz uma nova concepção na forma de entender a educação e integração dessas pessoas. Mas, o mero fato de constar em Lei, não significará muito se as ações ensejadas para a inclusão das pessoas com necessidades especiais não sejam planejadas e estruturadas de modo que elas tenham seus direitos plenamente respeitados. É urgente que pesquisadores e educadores concentrem esforços para discutir e pesquisar essa temática, em todos os níveis e modalidades de ensino. 12 2 PROGRESSÃO SÓCIO-HISTÓRICA Buscando na história da educação informações significativas sobre o atendimento educacional dos portadores de necessidades especiais, pode-se constatar que, até o século XVIII, as noções a respeito da deficiência eram basicamente ligadas ao misticismo e ocultismo, não havendo base científica para o desenvolvimento de noções realísticas. O conceito de diferenças individuais não era compreendido ou avaliado. “As noções de democracia e igualdade eram ainda meras centelhas na imaginação de alguns indivíduos criadores”. Considerando que, de modo geral, as coisas e situações desconhecidas causam temor, a falta de conhecimento sobre as deficiências sobre as deficiências em muito contribuiu para que as pessoas portadoras de necessidades especiais, por “serem diferentes”, fossem marginalizadas, ignoradas. A própria religião, com toda sua força cultural, ao colocar o homem como “imagem e semelhança de Deus’, ser perfeito, inculcava a idéia da condição humana como incluindo perfeição física ou mental”. E não sendo “parecidos com Deus”, os portadores de necessidades especiais (ou imperfeições) eram postos à margem da condição humana. Como exemplo tem o clássico “O corcunda de Notre Dame”, que nos mostra como uma pessoa com deficiência era visto no século passado. No clássico, o personagem Quasímodo é trancafiado em um mosteiro, não podendo falar ou conviver com outras pessoas ditas “normais”. O próprio padre isola-o devido a sua deficiência física. Através da história, o portador de necessidades educacionais especiais recebeu diferentes nomes, tratamentos e considerações sempre relacionados aos valores sociais, filosóficos, éticos e religiosos de cada período, nas diferentes culturas (Peranzoni & Freitas, 1998). Nesta análise, Krynski (1977) coloca que a história dos deficientes é tão longa quando a história do Homem, reportando-se ao Código de Hamurabi (2.100 a.C), ao Papiro de Tebas (1.552 a C), ao Talmud, Alcorão e Bíblia. Definitivamente os deficientes foram pessoas isoladas do convívio social à quem era atribuída possessão demoníaca. 13 Com o advento da Idade Média e do Cristianismo, a díade Bem x Mal comum à época ficou evidente também no tratamento dado aos indivíduos deficientes: ou eram considerados “marginais”, ou inocentes, puros enviados por Deus. Sobre este modelo construiu- se a idéia das instituições que sob a forma hospitalar teve suas origens no século XVII, passando pelo Renascimento, quando a Ciência Médica tomou lugar junto às explicações, que antes eram delineadas pelo misticismo. O Renascimento foi, então, importante na busca de soluções científicas, de forma que ao separar a Filosofia da Religião, muitos estados e doenças mentais puderam ser estudados empiricamente. Por outro lado, observa-se que um consenso social pessimista, fundamentado essencialmente na idéia de que a condição de “incapacitado”, “deficiente”, “inválido” é uma condição imutável, levou à completa omissão da sociedade em relação à organização de serviços para atender às necessidades individuais específicas dessa população. Assim, somente quando o “clima social” apresentou as condições favoráveis é que determinadas pessoas, homens ou mulheres, leigos ou profissionais, portadores de deficiência ou não, despontaram como líderes da sociedade em que viviam, para sensibilizar, impulsionar, propor, organizar medidas para o atendimento às pessoas portadoras de necessidades especiais. Esses líderes, enquanto representantes dos interesses e necessidades das pessoas portadoras de deficiência, ou com elas identificados, abriram espaços nas várias áreas da vida social para a construção de conhecimento e de alternativas de atuação com vistas à melhoria das condições de vida de tais pessoas. Embora estas ações em nenhum momento tenham sido obras de um só homem, é importante conhecer algumas medidas tomadas por alguns líderes que, de uma forma ou de outra, tiveram importância decisiva na evolução da educação especial. Foi principalmente na Europa que os primeiros movimentos pelo atendimento aos portadores de necessidades especiais, refletindo mudanças na atitude dos grupos sociais, se concretizaram em medidas educacionais. Tais medidas educacionais foram se expandindo, tendo sido primeiramente levadas para os Estados Unidos e Canadá e posteriormente pra outros países, inclusive o Brasil. Uma investigação sobre estas medidas mostra que até o final do século XX diversas expressões eram utilizadas para referir-se ao atendimento educacional aos portadores de deficiência: Pedagogia de Anormais, Pedagogia Teratológica, Pedagogia Curativa ou 14 Terapêutica, Pedagogia da Assistência Social, Pedagogia Emendativa. Algumas dessas expressões, ainda hoje são utilizadas, embora com grande impropriedade, segundo ponto de vista de muitos autores. No presente estudo, a análise criteriosa das informações possibilitou constatar que a primeira obra impressa sobre a educação de deficientes teve a autoria de Jean-Paul Bonet e foi editada na França em 1620 com o título Redação das Letras e Arte de Ensinar os Mudos a Falar. Constatou-se, também que a primeira instituição especializada para a educação de “surdos- mudos” (hoje Deficientes auditivos), foi fundada pelo abade Charles M. Eppée em 1770, em Paris. O abade Eppée inventou o método dos sinais, destinado a complementar o alfabeto manual, bem como a designar muitos objetos que não podem ser percebidos pelos sentidos. Sua obra escrita mais importante foi publicada em 1776 com o título A Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-Mudos. Os trabalhos do abade Eppée tiveram muita projeção na época e conduziram a realizações práticas pelo inglês Thomas Braidwood (1715-1806) e pelo alemão Samuel Heinecke (1729-1790). Ambos fundaram, em seus respectivos países, institutos para a educação de “surdos-mudos”. Heinecke inventou o chamado método oral para ensinar os “surdos-mudos” a ler e falar mediante movimentos normais dos lábios, hoje denominado “leitura labial ou leitura orofacial”. Tal método veio em oposição ao método de sinais e naquela época havia discussões e controvérsias sobre a validade de um e de outro. Hoje sabemos que o método de sinais tem predominado em todas as instituições educacionais. No entanto, as famílias ainda se utilizam da leitura labial, na maioria das vezes, por falta de entendimento ou desinteresse em aprender junto com o deficiente auditivo a linguagem de sinais. No atendimento aos deficientes da visão, dever ser destacado o papel de Valentin Haüy, que fundou em Paris o Institute Nationale des Jeunes Aveugles (Instituto Nacional dos Jovens Cegos), no ano de 1784. Naquela época Haüy já utilizava letras em relevo para o ensino de cegos, tendo merecido a aprovação da Academia de Ciências de Paris. Por não se caracterizar simplesmente como asilo, mas incluindo a preocupação com o ensino dos cegos (principalmente a leitura), o Instituto despertou reações bastante positivas e marcou seu início com grande sucesso. Com o passar dos anos seu sucesso foi tão grande que Haüy acabou sendo convidado a comparecer à corte de Luiz XVI para fazer uma detalhada exposiçãoquanto ao 15 empreendimento, um pouco antes da eclosão da Revolução Francesa que desacelerou ou eliminou muito do que fizera a França com o apoio da nobreza. Mas, logo após a regularização da vida do país, novas escolas para cegos foram abertas. E isso, aconteceu também em diversos outros países da Europa, quase todas elas seguindo o novo modelo apregoado por Haüy. Os exemplos mais positivos dessas escolas foram as de Liverpool em 1791, de Londres no ano de 1799 e, já no século XIX, de Viena em 1805 e de Berlim em 1806. Em 1819, esteve no Instituto Nacional de Jovens Cegos, em Paris, o oficial do exército francês Charles Barbier com sugestão que julgava ser bastante útil aos professores e alunos. Tratava-se de um processo de escrita, por ele idealizado, próprio para a transmissão de mensagens no campo de batalha à noite, sem utilização de luz para não atrair a atenção dos inimigos. Tal processo de escrita, codificada e expressa por pontos salientes, representava os trinta e seis sons básicos da língua francesa. A idéia de Barbier despertou o interesse de alguns professores e logo começou a ser utilizada pelos alunos internados no Instituto. Em 1829, um jovem cego francês, Louis Braille (1809-1852), estudante daquele Instituto, fez uma adaptação do código militar de comunicação noturna, criado por Barbier, paras as necessidades dos cegos. De início, tal adaptação foi denominada sonografia e, mais tarde, de braile. Até hoje não foi encontrado outro meio, de leitura e escrita, mais eficiente e útil para o uso das pessoas cegas. Baseado em seis pontos salientes na célula braile, este “código” possibilita sessenta e três combinações. Sistemas especiais de notação para a apresentação da Matemática em braile tornaram possível à criança cega aprender Aritmética pela escrita braile. Sistemas de notações para símbolos científicos têm sido também desenvolvidos. A notação musical em braile torna possível fornecer padrões musicais para qualquer instrumento musical ou para a voz. De fatos há provas de que a intenção original de Louis Braille era fornecer um meio tátil de notação musical. Uma forma mais abreviada ou contraída de braile é útil como taquigrafia para o estenógrafo cego ou para os apontamentos dos estudantes. Contando hoje com simbologia específica para a Matemática, Música, Química, Física, mais do que um “código”, este importante meio de leitura e escrita compõe o sistema braile. 16 Em relação aos portadores de deficiência física, registra-se que em 1832 teve início em Munique, Alemanha, uma obra eficaz para a educação de deficientes físicos, com a fundação de “uma instituição encarregada de educar os ditos coxos, manetas, os paralíticos...”. Também nesta época, começo do século XIX iniciou-se o atendimento educacional aos “débeis” ou “deficientes mentais”. O médico Jean Marc Itard (1774-1838) mostrou a educabilidade de um “idiota”, o denominado “selvagem de Averyon”. Reconhecido como a primeira pessoa a usar métodos sistematizados para o ensino de deficientes ou retardados mentais, Itard trabalhou durante cinco anos com Vítor, uma criança de doze anos, menino selvagem capturado na floresta de Averyon, no sul da França, por volta de 1800. Em 1801, publicou em Paris o livro onde registrou suas tentativas e que é tido como o primeiro manual de educação para retardados: De I’Éducation d’um Homme Sauvage. Sensorialista, organicista e médico, consideraram o comportamento do menino semelhante ao de um animal, devido à falta de socialização e educação, resultante de viver sozinho na floresta e, por isso, curável. Embora obtivesse algum sucesso na educação de Vítor, a maioria das autoridades foi levada a crer mais tarde que o menino tinha retardamento mental grave e fora abandonado pelos pais pouco antes da captura. Apesar disso, a metodologia de ensino da Itard ainda hoje é moderna. Itard obteve êxito em conseguir que o menino controlasse suas ações e lesse algumas palavras. Para tanto, empregou uma regra básica de aprendizagem, postulada por teóricos, tais como Thorndike e Hull: “repetir experiência de sucesso”. (...) o trabalho de Itard mostra a eficácia da instrução individual, da programação sistemática de experiências de aprendizagem e da motivação e recompensas. Edward Seguin (1812-1880), aluno de itard e também médico, prosseguiu com o desenvolvimento dos processos de ensino para os gravemente retardados, a partir do ponto em que Itard ficou. Em vez de trabalhar com um só menino, como Vítor, estabeleceu o primeiro internato público da França para crianças retardadas mentais, e imaginou um currículo para elas. Sua técnica era neurofisiológica, baseada na crença de que o sistema nervoso deficiente dos retardados podia ser reeducado pelo treinamento motor e sensorial. Desenvolveu amplos materiais didáticos pedindo aos professores que seguissem seus processos de treinamento sistemático, de modo também sistemático. Usava, ainda, cores, música e outros meios para motivar a criança. 17 Em 1846, em Paris, Seguin editou seu livro Traitement Moral, Hygiène et Éducation des Idiots, sendo recebido com indiferença. Apontando como pessoa de “caráter muito rígido”, colérico e pouco benevolente, emigrou para os Estados Unidos, onde, em 1907, publicou seu segundo livro Idiocy and its Treatment by the Physiological Methid. Nesta obra apresentou um programa para escola residencial. Johann j. guggenbühl (1816-1863), médico que viveu na mesma época que Seguin, embora não tenha obtido grande êxito no seu trabalho com retardados mentais severos, tornou- se famoso por seu trabalho, em um internato em Abendberg no Alpes Suíços, baseado na combinação de tratamento sensorial. Outra importante educadora que contribuiu grandemente para a evolução da educação especial foi Maria Montessori (1870-1956), médica italiana que aprimorou os processos de itard e Seguin, desenvolvendo um programa de treinamento para crianças retardadas mentais nos internatos de Roma. Suas técnicas para o ensino de retardados mentais foram experimentadas em vários países da Europa e da Ásia. Montessori enfatizou a “auto- educação” pelo uso de materiais didáticos que incluíam, dentre outros, blocos, encaixes, recortes, objetos coloridos e letras em relevo. Definiu dez regras de educação que parecia considerar adequada tanto a crianças normais em idade pré-escolar, como a crianças treináveis, em idade escolar: 1. As crianças são diferentes dos adultos e necessitam ser tratados de modo diferente. 2. A aprendizagem vem de dentro e é espontânea; a criança deve estar interessada numa atividade para se sentir motivada. 3. As crianças têm necessidade de ambiente infantil que possibilite brincar livremente, jogar e manusear materiais coloridos. 4. As crianças amam a ordem. 5. As crianças devem ter liberdade de escolha; por isso necessitam de material suficiente para que possam passar de uma atividade a outra, conforme o índice de interesse e de atenção o exijam. 6. As crianças amam o silêncio. 7. As crianças preferem trabalhar a brincar. 8. As crianças amam a repetição. 18 9. As crianças têm senso de dignidade pessoal; assim, não podemos esperar que façam exatamente o que mandamos. 10. As crianças utilizam o meio que as cerca para se aperfeiçoar, enquanto os adultos usam-se a si mesmos para aperfeiçoar seu meio. Ainda na Europa, destaca-se Alice Descoeudres (1928), médica belga, que elaborou uma proposta curricular para os retardados mentais leves. Sua orientação era a de que as atividades educativas deveriam ser desenvolvidas em ambiente natural, mediante instrução individual e grupal, focalizando deficiências sensoriais e cognitivas. Nos Estados Unidos, a primeira escola pública para surdos foi a American Scholl, de West Hartford, Connecticut,fundada em 1817, pelo Reverendo Thomas H. Gallaudet. A primeira escola canadense, a Institution Catholique dês Sourd-Muets, para meninos, foi fundada em Montreal em 18848. Cinqüenta anos depois de fundada a primeira escola para crianças cegas, em 1784, na França, por Valentin Haüy, foram instalados os primeiros internatos para cegos no s Estados unidos. Em 1829, em Massachusetts, foi instalado o New England Asylum for the Blind, que começou a funcionar com seis alunos em 1832. Neste mesmo ano, em Nova York foi fundada uma escola para cegos, o New York Institute for the Education of the Blind. A primeira escola para cegos inteiramente subsidiada pelo Estado foi a Ohio School for the Blind, fundada em 1837. Este fato foi bastante importante, pois despertou a sociedade para a obrigação do Estado para com a educação dos portadores de necessidades especiais. No ano de 1848, em Massachusetts, foi criado o primeiro internato público para deficientes mentais, introduzindo o método desenvolvido por Seguin. O responsável pela orientação de tal escola foi Samuel Gridley Howe. Como lembra Cruickhank, “o período de 1817 a 1850, foi de grande atividade em benefício das crianças portadoras de necessidades especiais. Nesta época apareceram escolas para os cegos, surdos e deficientes mentais. Programas para a criança com deficiência física ficaram para décadas posteriores”. No período de 1850 a 1920, nos Estados unidos, houve um aumento crescente das escolas residenciais, que eram um modelo europeu. Na última década do século XIX, entretanto, as escolas residências não eram mais consideradas instituições para tutela de crianças e adultos 19 sem esperança de vida independente e, portanto, sem possibilidades de educação. Em razão disso, começaram a ser desenvolvidos os programas de externato. Assim é que, em 1896, foi aberta à primeira classe especial diária pra deficientes mentais, em Previdence, Rhode Island. Em 1900, em Chicago, criou-se a primeira classe para cegos e a primeira classe de escola pública para “crianças aleijadas”. Em dez anos, abriram-se inúmeras escolas para cegos em diversas cidades dos Estados Unidos. Por volta de 1940, um anúncio publicado nos Times de Nova York pelo pai de uma criança com paralisia cerebral, levou a uma organização dos pais destas crianças no sentido de fundarem uma associação em defesa à educação de seus filhos. Nesta associação, os pais levantaram fundos tanto para centros de tratamento quanto para pesquisa, além de estimularem organizações governamentais para uma nova legislação que proporcionasse recursos para pesquisa, treinamento profissional e tratamento. Foi ainda Cruickshank quem fez a importante observação de que até o crescimento em atitudes e o amadurecimento social serem “experienciados” pela comunidade, os pais não eram livres para expressar sentimentos reais a respeito do problema que enfrentavam diariamente. (...) Como uma conseqüência do crescimento eu fui “experienciado” imediatamente ANTES E DURANTE a Segunda Guerra mundial, os pais através do país, no Canadá e alhures, começaram a se organizar no interesse de seus próprios filhos. Por volta de 1950, os pais de crianças com desenvolvimento mental retardado começaram a se organizar. Até então, tais crianças, principalmente as “retardadas mentais treináveis”, eram excluídas da escola, em virtude da existência de leis e regulamentos obstacularizadores. Com o objetivo principal de proporcionar atendimento a essas crianças e jovens nas escolas públicas primárias, os pais de retardados mentais se organizaram na National Association for Retarded Children – NARC. A NARC exerceu grande influência em vários países, tendo sido a inspiradora da criação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAEs, no Brasil. Desde o século XIX, com a criação das primeiras escolas especiais, até os dias de hoje, observa-se a evolução nas formas de se falar em deficiência e ao mesmo tempo, a perpetuação teórica dos conceitos e da maneira de se agir e praticar a educação especial. As aplicações práticas advindas das concepções seguem numa relação direta entre o que se pensa o que acha que se pensa e o que na realidade é. A atual posição das Políticas Nacionais de 20 Educação Especial provoca uma discussão sobre a introdução da educação especial não mais enquanto modalidade agregada à educação geral, mas como agente includente do processo, numa concepção contraposta aos ideais segregacionistas, assistencialistas e caritativos. 21 3 EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA O modelo de escola para todos é o que opta pela educação especial inclusiva, fazendo frente à educação especial segregada que se realiza a parte da educação geral regular. A escola para todos rompe com modelo instrutivo e transmissor, com a escola tradicional onde as crianças diferentes não encontram as condições mínimas para o seu progresso. É um novo modelo de escola aberta à diferença onde se tenta que as minorias encontrem uma resposta a suas necessidades especiais sem prejudicar os outros, mas muito pelo contrário, beneficiando todos os alunos em geral, por tudo o que traz de mudança e renovação e pelos novos recursos e serviços com que pode contar. O modelo de escola para todos pressupõe uma mudança de estruturas e de atitudes e a abertura à comunidade; deve mudar o estilo de trabalho de alguns professores que deverão reconhecer que cada criança é diferente das outras, tem as suas próprias necessidades específicas e progride de acordo com as suas possibilidades. Um novo modelo que compromete a comunidade escolar e lança um desafio ao conjunto da instituição. Embora sucintamente, pareceu-nos importante dar uma visão geral da forma como se tem processado ao longo do tempo o atendimento a pessoas com deficiência e incapacidades. Dividimos esta abordagem histórica em três épocas: uma primeira, que poderemos considerar como a pré-história da educação especial; uma segunda, aquela em que surge a educação especial entendida como o cuidado com a assistência, e por vezes também com a educação, prestada a certo tipo de pessoas e caracterizada por decorrer em situações e ambientes separados da educação regular; uma última etapa, muito recente em que nos encontramos atualmente, com tendências que nos levam a supor uma nova abordagem do conceito e da prática da educação especial na atualidade. Como vimos anteriormente, a humanidade prima pela igualdade de valores dos seres humanos, dentre os quais, a garantia de direitos. Cresce, portanto, a importância da educação num sentido mais amplo: "A educação para todos". Recentemente, em 1990 ocorreu o primeiro evento internacional que formulou a "educação para todos" - a Conferência Mundial de Jontiem sobre Educação para Todos, que se constitui fonte de justiça social, tendo como principal foco a necessidade de se prover maiores oportunidades de uma educação duradoura. Dentre os objetivos propostos está contemplado início de reformas educacionais significativas que assegurem uma escola inclusiva, isto é, uma escola que inclua em suas atividades, seus currículos, por intermédio de seus professores, serviços que efetivamente correspondam às 22 necessidades de seus alunos e que correspondam às necessidades das nações de formarem cidadãos responsáveis e instruídos. Com isso surge num segundo momento a retomada de discussões emergidas dentro de "educação para todos" a Conferência de Salamanca, garantido através da "Declaração de Salamanca” a inclusão das crianças com necessidades educacionais especiais. O conceito de necessidades educacionais especiais de acordo com a Declaração, passou a incluir além das crianças com deficiência, aquelas que estãoexperimentando dificuldades temporárias ou permanentes na escola. Com isso há uma aproximação dos dois tipos de ensino, o regular e o especial onde e educação especial é uma modalidade da educação geral. Isso significa na prática "incluir a educação especial na estrutura de educação para todos", de acordo a Declaração de Salamanca (Unesco, 1994). Corroborando com esse pensamento, Sassaki (1997) afirma que "os conceitos são fundamentais para o entendimento das práticas sociais". Neste sentido a inclusão social repousa sobre os seguintes princípios: 1. Aceitação das diferenças individuais; 2. Valorização de cada pessoa; 3. Convivência dentro da diversidade humana; 4. A aprendizagem através da cooperação. Nos dizeres de VERÍSSIMO, a inclusão social é: "Processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preocupam para assumir seus papéis na sociedade. Trata-se de um processo bilateral no quais as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades" (P. 08, 2001). Para fins de reflexão a respeito do tema inclusão, despontam duas tendências com os mesmos princípios como predominantes. A primeira, denominada como "inclusivista" no qual se agrupam os defensores da inclusão respaldada em bases legalistas do "direito de todas as pessoas" e dever do estado, e a segunda tendência denominada de "adaptadores" sociais na qual defendem que a inclusão está atrelada à adaptação da escola em seu caráter aparente. Discutir a educação de "alunos com necessidades educacionais especiais" implica resgatar o sentido da "Educação Especial", onde a educação escolar deve responder com 23 situações de ensino-aprendizagem diferentes das organizadas usualmente para a grande maioria dos educandos, ou seja, das situações comuns de ensino ou ensino regular. Na reflexão e estudo sobre a relação entre os educandos e a educação escolar, duas vias de análise podem ser utilizadas: a visão estática ou por dicotomia e a visão dinâmica ou por unidade. Pela primeira, os educandos são percebidos como comuns ou "especiais" (diferentes, deficientes, anormais, etc.) e a educação escolar, por sua vez, caracterizada como comum ou especial, visualizando-se aí uma correspondência necessária entre alunos comuns e escolas comuns, de um lado e, de outro, alunos "especiais" e escolas ou classes especiais. Pela segunda, entende-se que cada educando, na relação concreta com a educação escolar, poderá demandar uma situação de ensino-aprendizagem comum, especial, uma situação combinada (comum e especial) ou, ainda, preferencialmente, uma situação compreensiva (inclusiva). Defendo a abordagem dinâmica como aquela que, baseada no princípio da não segregação, possibilita a melhor compreensão da relação entre o educando e a educação escolar e comporta a organização de situações de ensino-aprendizagem mais condizentes com as necessidades educacionais a atender. A educação dos alunos com necessidades educacionais especiais, é importante lembrar, tem os mesmos objetivos da educação de qualquer cidadão. Algumas modificações são, às vezes, requeridas na organização e no funcionamento da educação escolar para que tais alunos usufruam dos recursos escolares de que necessitam para o alcance daqueles objetivos. Em razão disso, são organizados auxílios e serviços educacionais especiais para apoiar, suplementar e, em alguns casos substituir o ensino comum ou regular como forma de assegurar o ensino para esse aluando. Tais auxílios e serviços educacionais são planejados e desenvolvidos para assegurar respostas competentes por parte do sistema e da unidade escolar, ainda que especiais, as necessidades educacionais especiais ou diferenciadas apresentadas por determinados alunos no contexto escolar em que se encontram. As necessidades educacionais especiais são definidas e identificadas na relação concreta entre o educando e a educação escolar, conforme já enunciado. Assim, os recursos educacionais especiais requeridos em tal situação de ensino-aprendizagem é que se configuram como Educação Especial e não devem ser reduzidos a uma ou outra modalidade administrativa pedagógica como classe especial ou escola especial. Outro aspecto relevante diz respeito à identificação das necessidades educacionais como especiais e as conseqüentes decisões e orientações sobre o atendimento dos alunos que as apresentem. Tais atividades requerem a avaliação criteriosa por parte dos profissionais envolvidos, bem como da família de cada aluno. Embora se saiba, não é demais lembrar que 24 grande parte das necessidades educacionais, mesmo dos alunos portadores de deficiências, poderão ser atendidas apropriadamente, sem o concurso de ações e recursos especiais, na própria escola comum com os recursos regulares. Todavia, a presença de necessidades educacionais especiais, cujo atendimento esteja além das condições e possibilidades dos professores e dos demais recursos escolares comuns, demandará a provisão de auxílios e serviços educacionais propiciados por professores especialmente preparados para atendê-las. Por outro lado, as necessidades educacionais especiais são, às vezes, acompanhadas de necessidades especiais de outras ordens e que requerem também a intervenção da escola no sentido de encaminhar, orientar ou viabilizar o atendimento necessário, ainda que do âmbito social, médico ou outro, de forma indireta, cooperativa e integrada à educação escolar. Essas ponderações estão de acordo com a expectativa, mais freqüente em nossos dias, de que cada vez mais crianças com necessidades educacionais especiais estejam nas classes comuns e escolas comuns, sendo efetivamente atendidas em suas demandas escolares, ao mesmo tempo em que cada vez menos classes e escolas especiais sejam necessárias. Nesse movimento que, com ênfase crescente, objetiva descartar os serviços educacionais segregados e procura, para além da integração, garantir a inclusão de todas as crianças e jovens numa escola comum de qualidade "especial", é fundamental que atitudes de respeito ao outro como cidadão sejam concretizadas em ações de reestruturação da escola atual com vistas a tal propósito. É sabido que não são poucos os educandos que tem suas necessidades educacionais interpretadas como especiais ou muito diferentes por parte de professores mal preparados ou mal apoiados pelo sistema de ensino. Esta é outra circunstância que esta a merecer atenção cuidadosa das autoridades educacionais. Para além das conveniências administrativo-pedagógicas, é imperioso que sejam eliminados os mecanismos e procedimentos dificultadores da integração e da inclusão de todos na escola pública e gratuita com a qualidade esperada pela sociedade, o que não implica a extinção sumária de serviços e auxílios especiais. É preciso que se tenha em mente, também, que em tal perspectiva, as diferenças entre as necessidades educacionais especiais e as necessidades educacionais comuns se tornem cada vez menores até o ponto em que as necessidades singulares de cada educando possam ser percebidas e atendidas pela escola comum de "especial" qualidade. Nas situações onde tal circunstância não esteja ocorrendo, será importante, ainda, propiciar aos alunos com necessidades educacionais especiais os recursos educacionais também especiais que venham a demandar para que sua escolarização ocorra 25 satisfatoriamente e sejam evitados tantos outros mecanismos de discriminação negativa e exclusão sobejamente conhecidos pelos educadores brasileiros. Enquanto cidadãos de uma sociedade que se pretende democrática, temos que justar por uma educação de qualidade para todos. E essa busca não comportaqualquer exclusão, sob qualquer pretexto. No entanto, é preciso também que, para além dos ideais proclamados e das garantias legais, procuremos conhecer o mais profundamente possível as condições reais de nossa educação escolar, especialmente a pública e obrigatória. A partir daí poderemos identificar e dimensionar os principais pontos da mudança necessária para o alcance da qualidade que se espera da educação escolar. O que é preciso evitar, sempre que possível, é a segregação dos educandos pela simples má vontade ou pelo desentendimento dos responsáveis pelo ensino comum. Como se vê, é na relação concreta entre o educando e a Educação escolar que se localizam os elementos que possibilitam decisões educacionais mais acertadas, e não somente no aluno ou na escola. O sentido especial da educação consiste no amor e no respeito ao outro, que são as atitudes mediadoras da competência ou de sua busca para melhor favorecer o crescimento e desenvolvimento do outro. Em razão disso, é oportuno destacar que para se viabilizar efetivas mudanças de atitudes no contexto escolar com vistas à inclusão e a integração do portador de deficiência, é preciso que se deixe de apenas inferir ou assinalar a existência de preconceito e discriminação negativa na escola e se procure conhecer os principais obstáculos e suas justificativas. Além dos valores e crenças das pessoas envolvidas na educação escolar, outros fatores internos, tais como a organização (administrativa e disciplinar), o currículo, os métodos e recursos humanos e materiais da escola comum são os principais determinantes das condições para a inclusão ou não-segregação, para a integração ou até mesmo para a segregação de alunos portadores de deficiências. Entretanto, é importante observar que a escola é apenas uma dentre as instituições sociais. Ela pode até desencadear internamente mudanças para a obtenção de resultados mais imediatos, mas, isoladamente pouco poderá fazer ou mesmo mudar de fato, enquanto as atitudes do meio circundante permanecerem não problematizadas e continuarem se exercendo como já instaladas. O que não significa ignorar a "potencialidade dinâmica da educação escolar como impulsionadora das mudanças estruturais". O conhecimento da atuação da escola com relação à inclusão e a integração exigem uma abordagem holística do portador de deficiência que revele seu contexto de vida (da família, da escola e da sociedade). Apenas a título de ilustração deste enfoque, serão apontados, a 26 seguir, alguns aspectos importantes para o desenvolvimento de atitudes favoráveis à inclusão escolar e à integração. No âmbito da sociedade é importante destacar a necessidade de se rever à concepção sobre o portador de deficiência e o papel da escola, seja pelas pessoas individualmente, por grupos organizados para defesa da cidadania, pelos serviços estruturados, pelas campanhas de esclarecimento da população, etc, e, ainda, é preciso redimensionar as diretrizes norteadoras da ação dos órgãos públicos, da ação governamental global, dos investimentos financeiros, etc, a partir da visão dinâmica das condições do portador de deficiência. Quanto à escola, esta abrange duas dimensões: O sistema de ensino e a unidade escolar. Para que ambas se desenvolvam de forma organizada, é preciso então, que haja um conjunto de instruções e indicações coerentes, com sua realidade social, tanto para atender situações comuns, quanto situações especiais. É importante também que a escola assegure ao professor, condições necessárias ao desenvolvimento de seu trabalho, de tal modo que o seu papel de educador não seja diminuído. O Sistema de Ensino deve definir diretrizes para uma organização abrangente (autonomia financeira, administrativa e didática) de modo a incluir o atendimento de alunos portadores de deficiências nos serviços comuns e se necessário com recursos especiais; orientar as escolas sobre procedimentos didáticos e administrativos para favorecer a integração de alunos portadores de deficiências nas classes comuns; reconhecer a validade dos serviços e auxílios de educação especial como recursos que apóiam e suplementam a educação escolar regular. A Unidade Escolar ou a Escola deve ser estruturada de modo a compor um conjunto de recursos que garantam a atividade “meio” coerente com a atividade “fim”. Atualmente, o pensamento educacional tem apontado para a direção da elaboração de um currículo "especial" para cada escola, no sentido de que cada uma configura uma realidade específica, determinada pela combinação dos fatores internos e externos que atuam na sua organização e funcionamento. Tal currículo deve ser "especial", no sentido de que deve ser elaborado para atender às necessidades únicas de cada escola do sistema de ensino, em função das reais necessidades de seus alunos, e não para atender categorias ou tipos idealizados de alunos. À medida que essa idéia for, de fato, sendo concretizada, é possível que as diferenças entre educação comum e educação especial irão também diminuindo. E, nessa tendência, poder-se-á chegar ao ponto em que o que há de especial na "educação especial" e, conseqüentemente, no "currículo especial" se converta em um dos elementos de uma ação 27 socioeducacional global. “Em que assegure na medida necessária, o interesse por cada membro da comunidade, seja qual for sua condição e o tipo de auxílio que necessite". A organização administrativa, didática e disciplinar deve ter a maior amplitude possível a fim de contemplar a maior diversidade possível das condições dos alunos a atender. Para tanto é importante observar e criar condições físicas favoráveis no prédio escolar; definir a gestão democrática da escola contemplando o interesse por alunos com necessidades educacionais especiais; propiciar dignas condições de trabalho aos professores comuns e especializados; entender que nem todos os professores têm condições psíquicas e profissionais adequadas ao trabalho com portadores de deficiência requerendo orientação, preparo e apoio; elaborar um currículo suficientemente amplo para atender as necessidades dos alunos e da sociedade, incluindo as adaptações que forem necessárias; rever critérios de agrupamento dos alunos, bem como critérios de avaliação e promoção; garantir a infra-estrutura de recursos materiais necessários; envolver os pais e a comunidade no trabalho escolar; identificar e corrigir atitudes de desvalorização e/ou discriminação de alunos e professores por quaisquer razões (raça, cor, classe social, idade, sexo, deficiência, etc.); entender que as escolas, como a sociedade são espaços de choques de interesses e que o avanço da participação de um grupo implica a reavaliação do outro; valorizar a integração do professor especializado no corpo docente da escola, como elemento precedente e essencial à integração do aluno deficiente que esteja apresentando necessidades educacionais especiais; desenvolver ações práticas de respeito aos membros da comunidade escolar (alunos, pais, funcionários, professores, direção). Muitos outros pontos deveriam aqui figurar, entretanto, parece-me importante, neste momento, reiterar que as atitudes da escola frente à inclusão, à integração e à segregação do portador de deficiência e dos educandos com necessidades educacionais especiais dependem, essencialmente, da concepção de homem e de sociedade que seus membros concretizam nas relações que estabelecem dentro e fora do ambiente escolar. 28 4 PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS Os portadores de necessidades especiais podem ser assim especificados: • De ordem física: hemiplégicos, paraplégicos, tetraplégicos, mutilados. • De ordem sensorial: deficientes visuais, deficientes auditivos. • De ordem mental: situações mais freqüentes: portadores de Síndrome deDown, autismo, paralisia cerebral. • Outros: o superdotado, o portador de TDAH (portador do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e o portador de TDA (portador de transtorno de déficit de atenção). • Distúrbios de aprendizagem: dislexia, disgrafia, gagueira, baixo nível de cognição. 4.1 Casos de necessidades especiais de ordem mental mais freqüente na escola Conforme estudos realizados, os casos são os seguintes: • Paralisia cerebral - Prejuízo (seqüela de agressão encefálica) permanente do movimento e da postura, resultante de uma desordem encefálica não progressiva. É causada por fatores hereditários ou problemas havidos durante a gravidez, parto, período neonatal ou nos dois primeiros anos de vida. Pode ser acompanhada de rebaixamento mental e distúrbios convulsivos. Fatores causadores: no parto: hemorragia intracraniana, anoxia (falta de oxigênio), asfixia do nascimento e desconforto respiratório; pós-natais: meningites e encefalites (infecções), distúrbios vasculares, traumas e tumores cerebrais. Pode ser leve (85% dos casos), moderada (10%) ou severa (5%). Na maioria dos casos, os portadores têm plenas condições de freqüentar classes regulares em escolas comuns. • Síndrome de Down/trissomia - Não é doença. A síndrome de Down é conseqüência de um acidente genético - uma alteração no número de cromossomos (47, ao 29 invés de 46) e na distribuição de cromossomos (o par 21 recebe mais 1 cromossomo - trissomia - Lejêune, 1958). Não é considerada doença. Existem três tipos de trissomias, (trissomia simples, mosaico e translocação) sendo que, neste último caso, pode se dar por transmissão genética. O portador apresenta características fisionômicas peculiares, baixo estatura, como cabelo fino e liso, rosto arrendado, nariz achatado, prega palmar única, mãos pequenas, dedos curtos, pescoço curto e grosso, flacidez muscular. Podem ter desenvolvimento intelectual consideravelmente mais lento que as pessoas comuns. 95% dos portadores de síndrome de Down possuem déficit intelectual • Autismo/autista - Fenômeno patológico (Dicionário Aurélio) cerebral caracterizado pela limitação do desenvolvimento afetivo/social (desligamento do mundo); na maior parte dos casos, acompanha retardo mental (limitação e atraso no desenvolvimento intelectual). Acomete mais crianças do sexo masculino. Movimentos repetitivos de cabeça e membros, palavras e frases são comuns. Não há padrão de comunicação com outras pessoas, nem afetos. A terapia ocupacional é um dos meios de assistir o autista e integrá-lo à sociedade. Estereótipo é a denominação para os movimentos repetitivos dos sujeitos autistas. • Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - Considerado atualmente um transtorno psiquiátrico, caracteriza os alunos denominados "hiperativos". Os sujeitos não conseguem concentrar a atenção na situação de aula, ao mesmo tempo em que apresentam uma atividade corporal acima do considerado normal. É passível de tratamento através de medicamentos antedepressivos e terapia psicológica. Transtorno de Déficit de Atenção - Também considerado atualmente um transtorno psiquiátrico, caracteriza os alunos que não conseguem manter a atenção voltada para as situações de aula. São confundidos, muitas vezes, com os sujeitos dotados de baixa capacidade cognitiva, apresentam um quadro de melhora se submetidos a tratamento com medicamentos específicos (Ritalina). 30 5 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM Os distúrbios de aprendizagem, segundo estudos e pesquisas, são: • Dislexia - Distúrbio da aprendizagem, específico da linguagem, caracterizada por dificuldade na decodificação de palavras. Mostra insuficiência no processo fonológico. Apresenta sintomas variados. É hereditária e não acompanha, em absoluto, comprometimento da inteligência. Não é vista como doença e não apresenta comprometimento neurológico. • Disgrafia - Distúrbio de aprendizagem semelhante à dislexia, ocasionando dificuldades no desenvolvimento da escrita manual. Os portadores desse distúrbio podem escrever perfeitamente bem com máquinas de escrever ou teclados de computador. Diante de todos os pontos apresentados Com relação á Educação Especial e/ou Inclusiva, podemos concluir ainda, que é na convivência com outros e com o meio ambiente que as necessidades de qualquer ser humano se apresentam. Em razão disso, é importante questionar os critérios que tem sido utilizado para distinguir as necessidades especiais das necessidades comuns e vice-versa, em particular no contexto escolar. Sabemos, de há muito, que o homem se distingue de tudo o mais no mundo pela palavra e pela ação. E, como nos ensina Hannah Arendt, "esta inserção no mundo humano, por palavras e atos, é como um segundo nascimento, no qual confirmarmos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico original". É fundamental, pois, a compreensão de que a inclusão e integração de qualquer cidadão, com necessidades especiais ou não, são condicionadas pelo seu contexto de vida, ou seja, dependem das condições sociais, econômicas e culturais da família, da escola e da sociedade. Dependem, pois, da ação de cada um e de todos nós. Da Idade Média aos dias atuais, o homem parece ter cristalizado uma concepção estigmatizante e preconceituosa, o que dificulta o processo de inclusão. Diante da necessidade de uma mudança na postura pessoal frente ao aluno portador de deficiência, postura esta que vem sendo perpetuada de geração em geração, acredito que ainda estamos longe de um sucesso completo nos termos da inclusão escolar. Por mais que todos os esforços estejam dirigidos a este fim, a história da educação especial é muito clara e nos oferece muitas evidências de que somos hoje, resultado de todas as manifestações ocorridas em 500 anos de Brasil em termos políticos e sociais. Como as condições reais nem sempre são as ideais neste país, sinto ter que admitir que diante do 31 processo histórico, o caminhar indica que a história do sucesso da inclusão escolar incondicional dificilmente será contada em nosso país. 32 6 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL Inspirados em experiências concretizadas na Europa e Estadas Unidos, alguns brasileiros iniciaram, já no século XIX, a organização de serviços para atendimento a cegos, surdos, deficientes mentais e deficientes físicos. Durante um século, tais providências caracterizaram-se como iniciativas oficiais e particulares isoladas, refletindo o interesse de alguns educadores pelo atendimento educacional dos portadores de necessidades especiais. A inclusão da “educação de deficientes”, da “educação dos excepcionais” ou da “educação especial” na política educacional brasileira vem a ocorrer somente no final dos anos cinqüenta e início da década de sessenta do século XX. Não se pode falar em inclusão, sem lembrar ao menos um pouco, da parte legal que a envolve. Precisamos voltar à época do Brasil – Império, onde na Constituição de 1824, foi consagrado o direito à educação para todos os Brasileiros. Tendo esse direito se mantido nas Constituições de 1934, 1937 e 1946. Tendo ainda em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, onde se afirma o princípio da não discriminação e proclama o direito de toda pessoa à educação, inclusive, do portador de necessidades especiais. No início da República, ocorreu o fortalecimento da produção industrial no Brasil. Em 1910, contávamos com 3.424 indústrias e 159.600 operários Januzzi (1985). Nessa época, iniciavam-se os conflitos entre a burguesia industrial e a classe trabalhadora. De um lado, uma grande massa de operáriospauperizados, em condições miseráveis de vida, causadas pelo achatamento dos salários, e de outro, a burguesia industrial em busca da riqueza. A luta entre a burguesia industrial e trabalhadores resultou na produção de medidas sociais na tentativa de atenuar as tensões na sociedade. As escolas são criadas neste sentido, na condição de ocupar o tempo livre das crianças, que foram também alvo das políticas sociais. A divisão do trabalho imposta pelo emprego da máquina na indústria, que resulta na objetivação e simplificação do trabalho, permitiu o uso da força de trabalho de mulheres e crianças na produção. Segundo Fausto (1978), de 1898 até 1907, ocorreu um êxodo rural com a crise cafeeira que, juntamente com o fluxo migratório, contribuíram para a urbanização das cidades e para o crescimento industrial. A mão-de-obra disponível à indústria era composta em grande parte pelo emprego de mulheres e crianças: 33 A presença da mão-de-obra de mulheres e crianças na produção contribuía para ampliar a oferta de trabalhadores e para o achatamento dos salários. A baixa remuneração, a ausência de Leis trabalhistas e as difíceis condições de vida dos trabalhadores, resultavam em constantes confrontos entre os operários e industriais. Tais confrontos traduziram-se em inúmeras reivindicações trabalhistas, entre elas, a regulamentação do trabalho infantil, que foi assinada em 1927. A partir de então, com a regulamentação do trabalho para menores, as crianças que antes eram trabalhadores da fábrica, passam a freqüentar as escolas. Sua escolaridade ganha obrigatoriedade e a bandeira em favor da educação é levantada. No momento em que a criança ou jovem trabalhador encontra-se desocupado, temos a necessidade da escola. A expansão escolar sofre impulso. Surgem as campanhas nacionalistas e com elas as reformas educacionais. Revela-se o entusiasmo pela educação. O “otimismo pedagógico” se faz presente nas propostas educacionais, através do ideário escola novista que penetra nas escolas, incrementando técnicas e métodos de ensino. Segundo Jannuzzi (1990), há certa ambigüidade na definição de políticas no âmbito da educação especial, ora pende para o público, ora para o privado. Esta oscilação entre o público e o privado, presente nas primeiras iniciativas de atendimento especial ao PNE, apresenta uma tendência crescente. As parcerias do Estado com organismos particulares são, hoje, responsáveis pela manutenção de grande parte dos serviços de assistência e educação de crianças, adolescentes e PNEs. Além de criar e subsidiar instituições e serviços especializados em alguns Estados, o governo Federal passam a promover, a partir de 1957, campanhas isoladas para alocação de recursos financeiros específicos para projetos voltados para o atendimento do PNE. A primeira a ser organizada foi a Campanha para Educação do Surdo Brasileiro – CESB, em 1957, seguida da Campanha Nacional de Educação e Reabilitação dos Deficientes da Visão, em 1958 e da Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais em 1960. O objetivo geral dessas campanhas era buscar recursos para promover a educação, treinamento e assistência educacional às crianças PNEs, através da cooperação técnica e financeira, em todo território Nacional, entre entidades públicas e privadas que se ocupavam do atendimento das crianças deficientes. 34 A referência legal à educação especial, de âmbito nacional, apresenta-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB n.º 4024/61, que no capítulo III, reservou dois artigos, 88 e 89, para a educação do portador de deficiência: “Art. 88 – A educação de excepcionais deve no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de ensino, a fim de integrá-lo na comunidade”; Art. 89 – “Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos estaduais, receberá dos poderes políticos tratamento especial mediante bolsas de estudos, empréstimos e subvenções” (Brasil, 1961). A pretensão do Estado era de enquadrar o PNE nos serviços de educação comum, enquanto se propunha a auxiliar, com repasse de verbas, a iniciativa privada. O Estado passou a formalizar a educação do PNE, no plano nacional, com a LDB, mas não garantiu a especificidade do atendimento, já que o discurso era o de promover a integração. A parceria entre o público e o privado na educação, presente na LDB 4024/61, representou compromisso de duas tendências expressas no anteprojeto da referida Lei: de um lado a defesa do ensino particular e de outro a do ensino público. Os PNEs foram também contemplados na LDB 5692/71, no cap. 1, artigo 9º, com a previsão de atendimento especial de acordo com normas fixadas pelos conselhos de educação. A atuação dos conselhos seria no sentido de regulamentar os serviços implantados nos estados. Por ocasião desta concessão legal, dada pela nova LDB, defendia-se a educação do PNE, no bojo das políticas que privilegiavam a segurança nacional para o desenvolvimento, trazidas pelo regime militar após 64. A defesa da educação geral e do PNE cresce cada vez mais e os serviços de atendimento especial sofrem uma ampliação significativa na década de 70, sempre sob o argumento da educação como fator que contribui para o aumento da produtividade, como alavanca do progresso e do desenvolvimento do país. Essa tendência, presente nas primeiras iniciativas oficiais, com a criação de oficinas no interior das instituições, chega aos anos 70 com a implantação de várias propostas de preparação para o trabalho nas instituições especializadas. Tais propostas passam a ser vistas como a principal via de integração do PNE à sociedade. 35 A expansão do atendimento educacional pode ser entendida na medida em que, na década de 70, houve crescimento da produção industrial, com a adoção do modelo de desenvolvimento baseado na internacionalização da economia, o que possibilitou investimentos maciços de capital estrangeiro e a formação de imensos conglomerados econômicos, ocasionando crescente concentração de renda, processos desenfreados de urbanização e o surgimento de enormes bolsões de miséria nos centros urbanos. A pauperização da classe trabalhadora, trazida pelo achatamento dos salários, além da grande massa de trabalhadores desempregados, contribuiu para essa miséria. Com o salário baixo, o trabalhador se vê obrigado a prolongar sua jornada, a fazer horas extras. Com isto, o assalariado reduz as vagas disponíveis, já diminuídas pelo emprego da tecnologia na produção. Há um aumento do desemprego. Esse modelo de desenvolvimento econômico, “não evitou que 2,7% da mão-de-obra estivesse desempregada no final de 1973 e que ocorresse a proliferação do subemprego (lavadores e guardadores de carros, vendedores ambulantes, biscateiros, etc.) que atingiu 18,3% da população economicamente ativa na mesma época”. (Bueno, p. 322, 1993:) Diante disso, a expansão educacional vem atender e assistir os trabalhadores e seus filhos que não têm lugar na produção. A instituição escolar teria a função de prevenir a delinqüência e proteger as crianças para os riscos da rua: vadiagem, mendicância e outros. Assim, no Brasil, o cuidado do poder público com a parcela das crianças das camadas subalternas que estava nas ruas, aliou desde cedo à assistência à educação para o trabalho, no sentido de ocupá-las em atividades educacionais. Em 1971, a Lei 5692 faz referência ao ensino especial, conforme já estabelecido na LDB 4024/61, sempre sob a recomendação do engajamento ao ensino regular ou à educação geral. A educação especial é também contemplada no Plano Setorial de Educação e Cultura 1972/74. Este incorporou através do projeto prioritário n.º 35, a educação especial no rol das prioridades do País. Este projeto deu origem em 1973, ao CENESP – Centro Nacional de Educação Especial, primeiro
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