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Resumo Brasileira I P2

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Resumo Brasileira I P2
Os Planos Bresser e Verão
O Plano Bresser objetivava promover um choque deflacionário na economia, buscando evitar erros do Plano Cruzado. A inflação foi diagnosticada como inercial e de demanda, em consequência, o plano foi concebido como hibrido, contendo elementos heterodoxos e ortodoxos.
Pelo lado ortodoxos, as políticas fiscais e monetárias, serviriam ativamente usadas contra a inflação. Os juros reais positivos serviriam para contrair o consumo e também evitar a especulação de estoques. Pretendia-se reduzir o déficit publico através do aumento de tarifas, eliminação de subsídios, corte de gastos e corte de investimentos públicos. Para controlar a defasagem de preços, foram decretados aumentos antes do congelamento.
Do lado heterodoxo, foi decretado um congelamento de preços e salários no nível vigente quando do anuncio do plano a ser realizado em 3 fases: (1) congelamento total por 3 meses; (2) flexibilização do congelamento; (3) descongelamento. Os salários ficavam indexados a uma nova base, a Unidade de Referencia de Preços (URP), que era prefixada a cada 3 meses com base na taxa de inflação media dos 3 meses precedentes. Com o objetivo de acabar com o gatilho salarial, sem que se gerasse uma crise política, foi introduzido, através da URP, um esquema que garantia a correção mensal, mas aumentava a defasagem entre a inflação do mês e seu repasse aos salários. Se a inflação se acelerasse ou desacelerasse, a variação seria suavizada pela média. A taxa de cambio não foi congelada.
O Plano Bresser teve sucesso inicial na redução da inflação. Porem o congelamento pretendido não foi respeitado. Diante do temor de um novo congelamento, houve remarcações preventivas de preços, que contribuíram para aumentar os desequilíbrios entre preços relativos. Acordos salariais firmados com categorias do funcionalismo acabaram por minar a redução do déficit público e contribuíram para a elevação da taxa mensal de inflação. O melhor resultado partiu das contas externas, com a flexibilização do cambio. 
Bresser saiu do ministério. Mailson da Nobrega assumiu. Repudiando as ideias heterodoxas de combate a inflação e propôs uma politica ortodoxa gradualista, com o intuito de estabilizar a inflação e reduzir gradualmente o déficit público. A Política do Feijão com Arroz, se baseava no congelamento dos valores nominais dos empréstimos do setor público e não contenção salarial do funcionalismo público. A taxa de inflação no primeiro trimestre de 1988 ficou próxima a pretendida pelo governo, mas os aumentos de preços públicos e um choque agrícola desfavorável fizeram com que os preços se acelerassem no segundo trimestre. A politica monetária não logrou ser contracionista devido aos mega-superavits da balança comercial que se acumularam. O insucesso do gradualismo no combate a inflação levou a uma radicalização das propostas de desindexação.
No Plano Verão, foram extintos todos os mecanismos de indexação, inclusive a URP que, ao atrelar os salários aos preços, com defasagem, era uma grande força de contenção da aceleração inflacionaria. O novo plano também era hibrido, que continha elementos ortodoxos, como redução de despesas de custeio, reforma administrativa para reduzir custos, limitações a emissões de títulos públicos pelo governo e medidas de restrição ao credito e heterodoxos, como o congelamento de preços e salários. Foi criado o cruzado novo, com parida 1:1 com o dólar. E não foram decretadas novas regras de indexação, sendo o congelamento anunciado por tempo indeterminado. O Plano Verão permitiu transferência de rendas entre credores e devedores, ao não instituir regras para a conversão das dividas pós-fixadas. E assim como Bresser, foram decretados aumentos prévios de preços públicos e tarifas. Procurava-se corrigir as receitas do governo pela inflação acumulada desde o utlimo reajuste e ainda deixar margem para uma inflação residual que ocorresse ate o fim do congelamento. Na pratica, o ajuste fiscal não ocorreu, e os elevados juros praticados foram incapazes de conter o movimento de antecipação do consumo, movido pelo temor de explosão de preços após o fim do congelamento. Os trabalhadores começaram a reivindicar reposições salariais.
A inflação baixou no primeiro mês, mas entrou em rota ascendente. Sem nenhum mecanismo de coordenação de expectativas devido a extinção dos indexadores, cada agente olhava o índice que melhor lhe convinha. Houve um grande aumento da inflação.
Privatização, abertura e desindexação: a primeira metade dos anos 90
A inflação nos anos 80 havia ultrapassado 80% ao mês e a economia estava estagnada. Fernando Collor de Mello foi eleito pelo povo brasileiro na primeira metade dos anos 90. Collor trazia um discurso centrado na denúncia da corrupção, assistência as camadas mais desfavorecidas da sociedade e promessas de profundas reformas estruturais.
As reformas introduziram uma ruptura com o modelo de crescimento, que era de substituição de importações, com elevada participação do estado e proteção tarifaria, foram os primeiros passos da abertura comercial e financeira, bem como o processo de privatização.
A mudança de modelo
O modelo de substituição de importações defendia 3 papeis fundamentais para o estado: o de indutor da industrialização através da concessão de credito e do uso intensivo de instrumentos cambiais; o de empreendedor, a fim de eliminar os principais pontos de estrangulamento da economia; e o de gerenciador dos escassos recursos cambiais, a fim de evitar sobreposição de picos de demanda por divisas e crises cambiais. Mas esse modelo deixou algumas sequelas na economia como a estrutura de incentivos distorcida em certos setores; um certo viés anti-exportador; e um endividamento do estado.
A crise financeira do estado foi agravada pelos sucessivos fracassos no combate a inflação. A economia sofreu 5 choques de 1986 a 1991. Enquanto isso, a indústria deixava de acompanhar os avanços tecnológicos e organizacionais. A retração do investimento prejudicou a indústria de bens de capital. 
Foi lançado o Consenso de Washington, onde uma série de reformas que os países em desenvolvimento deveriam tomar foram listadas. Que visavam assegurar a disciplina fiscal e promover ampla liberalização comercial e financeira, além de forte redução do papel do estado na economia. Foi lançado também, o Plano Brady, que reestruturou a divida soberana de 32 países, mediante a troca desta por bônus de emissão do governo do país devedor, que contemplavam abatimento do encargo da divida, que alterou as condições de liquidez, mas havia oferta abundante de poupança externa para realizar reformas e um profundo ajuste fiscal. 
Privatização e abertura
O governo lançou a PICE (Política Industrial e de Comércio Exterior), que visava uma intensificação da abertura econômica e de privatização. A PICE incentivava a competição e a competitividade. Aumentou-se os gastos com P&D, o contexto internacional era pró-reformas, havia insatisfação do público e deterioração de serviços prestados por algumas estatais, além da dificuldade em avaliar os ativos de diversas estatais após anos de alta inflação, crise no estado, aumentou as privatizações, acreditando que haveria aumento da competitividade e da eficiência.
O PND (Plano Nacional de Desestatização) foi considerado prioritário, pretendia-se: reduzir a divida pública, utilizar os cruzados novos bloqueados como recursos para a privatização. Foram privatizadas cerca de 33 empresas de 1990-94.
A dificuldade em vencer a inflação acabou por ocupar o maior espaço dentre os esforços do governo, deixando as privatizações em segundo plano.
Quanto as políticas de comércio exterior, o governo Collor adotou o cambio livre, intensificou o programa de liberalização da politica de importações, acabaram as formas mais importantes de controles quantitativos de importação, para dar ligar a um controle tarifário, com alíquotas cadentes. Foi anunciada uma reforma tarifaria, na qual se anunciou que todos os produtos teriam reduções graduaisao longo de 4 anos, preanunciando reduções graduais, o governo pretendia preparar os produtores nacionais para a transição para uma economia mais aberta.
Os dois Planos Collor
O Plano Collor I foi lançado no dia 15 de março de 1990, no ano em que o presidente assumiu. O cruzeiro foi reintroduzido como padrão monetário e foi promovido um novo congelamento de preços de bens e serviços, mas não contava com muita credibilidade, as medidas do congelamento foram desrespeitadas.
Promoveu um aumento da arrecadação, através de novos tributos, como o aumento do IPI, IOF e outros; redução de prazos de recolhimento; suspensão de benefícios e incentivos fiscais e medidas conta a sonegação. Reduziu-se os ministérios, extinguiu autarquias, fundações e uma campanha para demissões de funcionários. Implementou-se ainda um regime de cambio flutuante.
HOUVE O SEQUESTRO DE LIQUIDEZ!! Todas as aplicações financeiras que ultrapassassem NCr$50.000 foram bloqueadas durante 18 meses. O governo se comprometia a devolver os cruzados novos bloqueados, transformados em cruzeiros em 12 prestações iguais e sucessivas, além disso, os recursos bloqueados receberiam correção monetária mais juros de 6% ao ano. Todos os débitos existentes deveriam ser liquidados na moeda antiga, bem como o pagamento de impostos. Existia uma “fragilidade financeira do estado”, que o plano propunha resolver através de uma desindexação parcial da economia e desoneração temporária do pagamento de juros sobre a moeda indexada. Que nada mais era do que depósitos bancários (oferecidos como contas remuneradas), que tinham por contrapartida títulos públicos e privados de overnight, que tinha liquidez absoluta e rendimento superior a inflação.
O bloqueio dos recursos foi considerado uma inadmissível intervenção estatal, que tirava a confiança dos poupadores, com graves consequências para o país. Argumentava-se que o limite do imposto era tão baixo, que prejudicava até pequenos poupadores, e a remuneração oferecida era menor do que o rendimento das aplicações. Outros aspectos do plano que foram questionados: congelamento dos preços, dado seu desgaste perante ao publico; o ajuste fiscal, que se baseava no aumento de receitas e não em corte de gastos; e o caráter recessivo do plano.
Crítica de Afonso Pastore: o bloqueio dos ativos monetários restringia apenas o estoque de moeda indexada existente, mas não acabava com o processo que a criava, não eliminava o seu fluxo. É o fluxo que gera inflação e não o estoque. O risco envolvido em operações overnight é o risco de caixa. O banco central promovia operações ao longo do dia, vendendo ou comprando títulos públicos, a fim de avaliar as condições no mercado interbancário. No fechamento das operações, o banco central se comprometia em liquidar as posições dos bancos, recomprando os títulos em excesso no mercado a uma taxa de juros real positiva, porém não punitiva. Então o banco central não conseguia ter controle sobre o fluxo de moeda.
O Plano Collor I conseguiu fazer a inflação baixar dos 80% para 10% ao mês, mas ao mesmo tempo a economia sofria uma forte retração. Logo a inflação voltou a se acelerar.
Em fevereiro de 1991, foi lançado o Plano Collor II, no qual a forma de alcançar o controle da inflação era através da racionalização dos gastos nas administrações públicas, do corte das despesas e acelerando o processo de modernização do parque industrial. O Plano propunha dar fim a indexação na economia. Criava-se o neogradualismo, a dinâmica de formação dos preços seria “predominantemente forward looking, de tal sorte que a memória inflacionária, ou componente auto-regressivo da inflação teria uma influencia pequena sobre a inflação corrente.
O neogradualismo partiria do principio que as pessoas observam o comportamento fiscal corrente do governo e dele inferem suas expectativas de inflação. Seria um “círculo virtuoso”, em que os cortes fiscais baixam a inflação, e isso gera mais credibilidade e novos espaços políticos para melhorar os fundamentos, permitindo a inflação cair lentamente. Mas não funcionou. Possibilitou a queda da inflação em alguns meses, mas os escândalos políticos levaram ao impeachment do presidente, o que inviabilizou toda e qualquer ação que dependesse da credibilidade do governo.
Itamar franco assumiu, mas apenas durante 1 ano.
O Plano Real: concepção e prática
O plano foi concebido em 3 fases: promover um ajuste fiscal que levasse ao estabelecimento do equilíbrio das contas do governo, com objetivo de eliminar a inflação; criar um padrão estável de valor denominado Unidade Real de Valor – URV; conceder poder liberatório a unidade de conta e estabelecia as regras de emissão e lastreamento da nova moeda para garantir estabilidade.
A primeira fase foi composta por esforços de ajuste fiscal: o Programa de Ação Imediata (PAI) e o Fundo Social de Emergencia (FSE). O PAI visava redefinir a relação da união com os estados e municípios e do BACEN com os bancos estaduais e federais, e promovia combate a sonegação, também estabelecia novos tributos e incluía o acordo com o FMI. O FSE era constituído pela desvinculação de algumas receitas do governo, para atenuar a excessiva rigidez dos gastos da união.
o Plano Real torna-se diferente dos outros porque percebe que o diagnostico do desajuste das contas públicas era a principal causa da inflação. Mas não significava que não se daria importância a desindexação, o qual foi importante na segunda fase, com a URV. O ajuste fiscal era uma precondição para o fim da alta inflação.
Edmar Bacha: a coexistência entre déficit operacional baixo e alta inflação não deveria ser interpretado como prova da pouca relevância do desajuste fiscal para a inflação, o fenômeno estava longe de significar que as contas publicas estavam relativamente equilibradas, existia um déficit potencial. Segundo o autor, o déficit medido pela demanda por recursos era maior que o déficit efetivamente verificado ao final do ano fiscal. Existia um desajuste fiscal muito elevado, mas conforme a inflação corroía os gastos do governo em termos reais, surgia um déficit moderado. A adequação entre o hiato dos recursos era feita de 2 maneiras: o orçamento embutiria uma previsão inflacionaria bem inferior a efetivamente observada, e como as receitas eram indexadas e as despesas eram fixas em termos nominais, a subestimativa da inflação favorecia a redução do déficit; o Ministério da Fazenda adiava a liberalização das verbas orçamentarias. Os dois efeitos levavam a um efeito Tanzi as avessas.
As mudanças realizadas pelo PAI e pelo FSE não foram suficientes para assegurar o equilíbrio fiscal, o desajuste fiscal que antes se refletia na inflação passada, começou a se espelhar no crescimento da relação dívida/PIB. Mas a falta de ajustes fiscais não implicou no retorno da inflação. A inflação foi reduzida ate no período que sucedeu a introdução da moeda, quando ocorreu a desvalorização cambial em 1999. Na pratica o ajuste fiscal não foi condição para a estabilidade. Em contrapartida, a desindexação promovida pela URV teve papel fundamental para o combate a inflação.
A segunda fase do plano real tinha como preocupação eliminar o componente inercial da inflação, partindo do suposto que era necessário zerar a memória inflacionária. Ao invés de se congelar preços, a desindexação seria feita de forma voluntaria, através de uma quase moeda, que reduziria o período de reajuste de preços. 
A proposta da URV, foi lançada com base na “larida”, que tinha semelhanças como livre-arbítrio para a adesão dos preços e contratos ao novo indexador; depósitos e ativos financeiros compulsoriamente denominados no indexador; conversão das rendas contratuais pelo seu valor real médio; dólar atrelado a variação do indexador... Mas importantes mudanças foram feitas.
Simonsen, observou que o valor da “nova moeda” (indexada) não seria estável como pretendiam na proposta Larida, o valor oscilava quando a inflação se acelerava (ou desacelerava), em função da impossibilidade de evitar alguma defasagem entre a apuraçãodo índice de preços e a fixação do valor de ORTN. A circulação de uma “moeda velha” com uma “moeda nova” (indexada) permitiria que o público manifestasse repudio a “velha moeda” em favor da “nova”, fazendo explodir a velocidade de circulação, gerando uma hiperinflação na “velha moeda”. O problema é que com a explosão inflacionária, o índice representado pela “nova moeda” ficaria defasado em relação a inflação corrente. Ocorreria alguma perda de poder aquisitivo na “nova moeda”, gerando inflação. A hiperinflação na “velha moeda” contaminaria a “nova”.
O Plano Real evitaria essa fuga, porque não existiria uma “nova moeda”, apenas uma nova unidade de conta. A URV foi racionalizada como um processo de recuperação das funções de uma mesma moeda. Assim se recuperaria a função de unidade de conta para depois de emitida, resgatar a função de reserva de valor. Ainda permanecia como meio de pagamento o cruzeiro real. O BACEN fixou uma paridade entre o cruzeiro real e a URV, tendo por base a perda do poder aquisitivo do cruzeiro real. Estabeleceu-se que os preços finais teriam que ser expressos em cruzeiros, sendo a cotação em URVs facultativa. Essa medida visava evitar um encurtamento do período de reajustes, o que aceleraria a inflação.
Pérsio Arida: seria preciso impor juros altos para evitar a aceleração da inflação, que se verificou no plano cruzado com a explosão de demanda pós congelamento. Então a equipe do governo optou por elevar as taxas reais de juros e elevar as taxas de depósitos compulsórios.
Os salários foram convertidos pela média dos valores reais obtidos nos quatro meses anteriores, mas foi introduzido o pagamento pelo conceito caixa, eram fixos em URV e pagos pela URV do dia do pagamento, uma correção mensal dos salários. As demais obrigações contratuais deveriam estar expressas na nova unidade de conta.
A medida provisória 542, deu inicio a terceira fase do plano real, apresentava um conjunto de medidas sobrepostas, algumas das quais inconsistentes entre si. Eram elas: o lastreamento da oferta monetária domestica em reservas cambiais, na equivalência R$1 = US$ 1; fixação de limites máximos para o estoque de base monetária por trimestre, podendo as metas serem revistas em até 20%; introdução de mudanças institucionais no funcionamento do Conselho Monetario Nacional, buscando dar passos em direção de uma maior autonomia do BACEN.
A MP estabeleceu o lastro sem garantir a conversibilidade entre o dólar e o real – o que retirava parte de sua credibilidade; sabia-se que a redução da inflação pela URV levaria a uma natural remonetização da economia, mas a magnitude em que se daria o fenômeno era ainda desconhecida. Nesse sentido, o risco de as metas monetárias estabelecidas pela MP serem ultrapassadas era bastante alto; a MP foi acusada de conter uma grave inconsistência econômica ao lançar, simultaneamente, ancoras monetária e cambial em uma economia com mobilidade de capitais. Quanto a esse aspecto, poucos dias depois, foi esclarecido que o real adotaria ancora monetária (metas) e o cambio atuaria numa banda assimétrica, isto é, seria livre para oscilar para baixo, mas teria o teto fixo em 1real = 1dolar. 
Em outubro de 1994, devido ao insucesso das metas monetárias, o governo resolveu mudar de ancora, abandonando a monetária em prol da cambial.
A evolução da economia no período de 1990-94
O crescimento do PIB no período foi de 1,3% ao ano. O setor de serviços permaneceu estagnado, mas a agricultura e a indústria tiveram comportamento bastante volátil.
O sequestro da liquidez do Plano Collor I, gerou uma forte retração na economia, particularmente na indústria. E com a crise política do impeachment, o PIB caiu, se não fosse o bom desempenho da agropecuária, o resultado teria sido pior. A retração da indústria foi forte no setor de bens de capital. O crescimento dos juros reais provocou uma forte retração nas vendas de bens de consumo duráveis.
Em 1993-94, a economia apresentou taxas expressivas de crescimento, que esteve associado a recuperação da indústria e ao bom resultado da agropecuária, que era chamada de ancora verde do real, pois um aumento da oferta no setor contribuiu para a queda da inflação. A demanda estava reprimida e houve um afrouxamento da politica monetária e a oportunidade de renovar o parque industrial, devida as novas oportunidades de financiamento provocadas pela estabilização.
O crescimento só foi contido com a crise mexicana de 1994, pela elevação de juros que a ela se sucedeu.
Em relação a balança comercial, deve-se ter em conta a recessão sofrida pela economia no inicio do período e sua posterior expansão e a intensificação da abertura comercial. As exportações aumentaram, principalmente de manufaturados, de 1992 a 1994. Enquanto as importações aumentaram continuamente ao longo do período, onde a própria abertura comercial foi um incentivo.
Quanto as contas públicas, o Plano Collor I ao introduzir novos tributos e aumentar alíquotas, provocou uma melhora significativa nas contas primarias, que passaram de déficit para superávit. Esse resultado primário continuou a melhorar, seguindo os princípios do neogradualismo. Os esforços realizados pelo PAI – sobretudo no que se refere ao combate a sonegação, aliado a desvinculação de receitas do FSE – permitiram uma melhora do resultado primário, que ultrapassou 5% do PIB. Antes da entrada do real, houve uma clara melhora nas contas públicas.
Estabilização, Reformas e Desequilíbrios Macroeconômicos: OS ANOS FHC. (1995-2002)
A crise em gestação: 1995-1998
O Plano Real foi muito bem sucedido no controle da inflação: contrariamente ao que tinha acontecido previamente, quando após alguns meses a inflação voltava mais forte, as taxas de variação anual dos preços caíram continuamente entre 1995 e 1998. O problema da gestão macroeconômica era: o desequilíbrio externo crescente e uma séria crise fiscal.
O desequilíbrio externo: a razão era o aumento das importações que se seguiu ao Plano Real, combinado com um desempenho baixo das exportações. Além da piora da conta corrente associada ao comportamento da Balança Comercial, o financiamento do próprio déficit em conta corrente, a partir de 1995, gerou um efeito de realimentação dos desequilíbrios. Como estes eram financiados com novo endividamento externo e com a entrada de capitais na forma de investimento direto estrangeiro (IDE), a acumulação de estoques de passivos externos – divida ou estoque de capital do país – implicava pagamentos crescentes de juros e de lucros e dividendos. O resultado é que o déficit de serviços e rendas praticamente dobrou no primeiro governo FHC. 
Todos esses fenômenos eram consequência da forte apreciação cambial que tinha se verificado nos primeiros meses do real e que cobrava seu preço nos anos depois.
Havia o medo de que, se o Brasil deixasse o cambio desvalorizar mais, repetiria a experiência do México, onde a forte desvalorização cambial experimentada anos antes tivera grande impacto inflacionário. Ao optar por manter o cambio sobrevalorizado, tudo indica que FHC julgou que era melhor lidar com uma situação externa difícil, mas que até então parecia contornável, do que com uma desvalorização que era vista como “salto no escuro”.
O melhor momento para uma desvalorização maior teria sido em 1995, quando o nível de atividade estava caindo rapidamente, e um cambio mais desvalorizado enfrentaria uma pressão de demanda muito baixa. Mas na época, o governo entendeu que a memoria da indexação ainda estava muito presente e que a inflação ainda era alta, o que desaconselharia passos mais ousados na linha de uma desvalorização mais intensa. Pouco depois, a oportunidade se fechou, pois em 1996, o PIB cresceu mais de 6%, o que tornaria arriscado soltar o cambio. 
O cenário politico havia mudado e estava se discutindo a reeleição do presidente em 1998. 
Havia também, a esperança de que o resto do mundo continuasse a financiar o país, em um processo no qual os ajustes fossem feitos gradualmente e o governo se beneficiasse do papel de “ponteaté o restabelecimento do equilíbrio”, que poderia ser representada pelas volumosas privatizações.
A crise fiscal 
Entre os ajustes teria de ser incluído o enfrentamento do segundo grave problema, representado por uma situação fiscal critica. Caracterizada por: um déficit primário do setor publico consolidado; um déficit publico (nominal) de nada menos que 7% do PIB; uma divida pública crescente.
Quando se levam em conta os juros reais, única forma em que a comparação com os anos anteriores a 1995 faz sentido, pois os juros e o déficit nominais anteriores a 1994 eram enormes, mas não tinham maior significado econômico, a responsabilidade fical expansionista é clara. 
O desfecho dos desequilíbrios
Entre 1995 e 1998, houve um progressivo desgaste da ancora cambial como instrumento básico da politica econômica. Embora essa ancora tivesse sido funcioanl em um primeiro momento para o combate a inflação, com o passar dos anos os problemas dela decorrentes começaram a se mostrar crescentemente onerosos. Por um lado, porque a deterioração da conta corrente estava gerando um aumento acelerado dos passivos externos do país. E, por outro, porque a necessidade de compensar esse déficit externo mediante a entrada de capitais que se sentissem atraídos pelas elevadas taxas de juros oferecidas no mercado passou a gerar uma despesa financeira significativa. Isso, por sua vez, pressionava as contas publicas e contribuía para piorar a trajetória da relação divida publica/PIB, além de representar um entrave para a melhora do nível de atividade. A politica econômica baseada na combinação de déficits em conta corrente e de taxas de juros reais elevadas poderia ser sustentada enquanto houvesse espaço para a ampliação do endividamento, tanto externo quanto publico. Entretanto, com o passar do tempo – e diante das crises que sacudiram os mercados internacionais no primeio governo FHC – esse espaço foi progressivamente se fechando e praticamente deixou de existir no decorrer do segundo semestre de 1998, quando o resto do mundo deixou de financiar o brasil e a rolagem da divida interna passou a ser feita a taxas de juros proibitivas.
Entre o final de 1994 e 1998, o mercado financeiro internacional foi sacudido por 3 crises importantes. A primeira foi a do Mexico, que eclodiu em 1994, e afetou fortemente os mercados emergentes no primeiro semestre de 1995. A segunda foi a dos países da Asia em 1997. E a terceira foi a da Russia, em 1998. Em todas elas, o Brasil foi seriamente afetado pelo “efeito contagio” associado a redução dos empréstimos aos países ditos emergentes.
A estratégia de continuar a financiar os desequilíbrios chegou a ganhar força novamente por um breve período, no segundo semestre de 1998, o governo conseguiu concluir com êxito a privatização da Telebrás. Depois de 3 ataques especulativos contra o Real, o instrumento clássico de combate a esses ataques, a alta taxa de juros, não mais se mostrava suficiente para debelar o problema, além de agravar seriamente a situação fiscal. Foi nesse contexto de crise que FHC iniciou o seu segundo mandato presidencial, em janeiro de 1999.

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