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Secretaria da Educação do Estado do Ceará - SEDUC-CE Professor de Geografia Educação Brasileira Temas Educacionais e Pedagógicos. 1 História do pensamento pedagógico brasileiro. ........................................ 1 1.1 Teoria da educação, diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro. ........................................... 4 1.2 Projeto político pedagógico. ..................................................................................................................................... 13 2 A didática e o processo de ensino e aprendizagem. 2.1 Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avaliação. .......................................................................................................................... 20 2.2 A sala de aula como espaço de aprendizagem e interação. ................................................................................ 30 2.3 A didática como fundamento epistemológico do fazer docente. ....................................................................... 34 3 Principais teorias da aprendizagem. 3.1 Inatismo, comportamentalismo, behaviorismo, interacionismo, cognitivismo. 3.2 As bases empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas teorias de aprendizagem. .............................................................................................................................................................................................. 39 3.3 Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para a psicologia e pedagogia. .................................................. 43 3.4 Teoria das inteligências múltiplas de Gardner. .................................................................................................... 47 3.5 Psicologia do desenvolvimento: aspectos históricos e biopsicossociais. ........................................................ 53 3.6 Temas contemporâneos: bullying, o papel da escola, a escolha da profissão, transtornos alimentares na adolescência, família, escolhas sexuais. ........................................................................................................................ 69 4 Teorias do currículo. 4.1 Acesso, permanência e sucesso do aluno na escola. .................................................. 94 4.2 Gestão da aprendizagem. 4.3 Planejamento e gestão educacional. .................................................................. 97 4.4 Avaliação institucional, de desempenho e de aprendizagem. .......................................................................... 103 4.5 O Professor: formação e profissão. ....................................................................................................................... 123 4.6 A pesquisa na prática docente. .............................................................................................................................. 125 4.7 A dimensão ética da profissão. .............................................................................................................................. 133 5 Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira. ................................................................... 138 6 Políticas educacionais para a educação básica. ..................................................................................................... 149 6.1 Ensino Médio. 6.1.1 Diretrizes, Parâmetros Curriculares, currículo e avaliação. 6.1.2 Interdisciplinaridade e contextualização no Ensino Médio. 6.1.3 Ensino Médio Integrado: fundamentação legal e curricular. ...... 157 6.2 Educação Inclusiva. ................................................................................................................................................. 186 6.3 Educação, trabalho, formação profissional e as transformações do Ensino Médio. 6.4 Protagonismo Juvenil e Cidadania. ..................................................................................................................................................................... 192 Administração Pública 1 Conceito de administração pública. .............................................................................................................................. 1 2 Conceito de servidor público. ........................................................................................................................................ 3 3 Princípios da administração pública. ........................................................................................................................... 4 4 Direitos e deveres dos servidores públicos. 5 Responsabilidade dos servidores públicos. 6. Servidor Estadual. 6.1 Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado do Ceará (Lei nº 9.826/1974 – 6.1.1 Do provimento dos cargos – Capítulos I a X. 6.1.2 Dos direitos, vantagens e autorizações – Capítulos I a VI. 6.5.3 Do regime disciplinar – título VI – Capítulos I a VII) ......................................................................................................................... 8 6.2 Lei nº 15.243/2012 (Disciplina o Art. 3º da lei nº 15.064/2011). ....................................................................... 8 6.3. Estágio Probatório Servidor Estadual (Lei nº 9.826/1974, Lei nº13.092 de 08 de janeiro de 2001, Lei nº15.744, 29 de dezembro de 2014 e Lei nº 15.909, de 11 de dezembro de 2015) ............................................... 9 6.4.Carreira do Magistério-Concurso, provimento, carga horaria e jornada de trabalho(Lei nº10.884/1984, Lei 12.066/1993, Lei nº 14.404/2009) .............................................................................................................................. 32 6.5. Ampliação da carga horária de trabalho do Grupo MAG (LEI Nº15.451, de 23 de outubro de 2013 e o Decreto nº31.458, de 01 de abril de 2014.) ................................................................................................................. 44 6.6. Promoção profissionais Grupo MAG (Lei nº 15.901 de 10 de dezembro de 2015, DECRETO Nº32.103, de 12 de dezembro de 2016. ................................................................................................................................................ 46 6.7. Sistema Remuneratório dos profissionais MAG de nível superior (leis nº 15.243, de 6 de dezembro de 2012, nº15.901, de 10 de dezembro de 2015, LEI Nº16.104, 12 de setembro de 2016, nº16.513, 15 de março de 2018 e nº16.536, 06 de abril de 2018). .................................................................................................................. 50 Legislação Básica da Educação 1 Lei nº 9.394/1996 e alterações (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) .............................................. 1 2 Lei nº 8.069/1990 e alterações (Estatuto da Criança e do Adolescente) ............................................................ 15 3 Constituição da República Federativa do Brasil (Art. 205 a 214) ......................................................................... 46 4 Emenda Constitucional nº 53/2006 ........................................................................................................................... 48 5 Lei nº 11.494/2007 e alterações ................................................................................................................................. 50 6 Lei nº 11.114/2005 ....................................................................................................................................................... 58 7 Lei nº 11.274/2006 ....................................................................................................................................................... 59 8 Lei nº 13.415, de 2017 ..................................................................................................................................................59 9 Lei Federal Nº 13.005/2014 (Plano Nacional de Educação).................................................................................. 62 10 Lei Estadual Nº 16.025/2016 (Plano Estadual de Educação) ............................................................................. 76 Língua Portuguesa 1 Compreensão e interpretação de textos. ..................................................................................................................... 1 2 Tipologia textual. .............................................................................................................................................................. 3 3 Ortografia oficial. ........................................................................................................................................................... 10 4 Acentuação gráfica. ....................................................................................................................................................... 14 5 Emprego das classes de palavras. .............................................................................................................................. 15 6 Emprego do sinal indicativo de crase. ....................................................................................................................... 41 7 Sintaxe da oração e do período. .................................................................................................................................. 44 8 Pontuação. ...................................................................................................................................................................... 54 9 Concordância nominal e verbal. ................................................................................................................................. 56 10 Regência nominal e verbal. ....................................................................................................................................... 59 11 Significação das palavras. .......................................................................................................................................... 63 Leitura e Interpretação de Dados e Indicadores Educacionais Leitura e interpretação de dados e indicadores educacionais envolvendo dados e informações referentes à matrícula, à taxa de atendimento escolar, às taxas de escolarização líquida e bruta, à taxa de distorção idade- série, às taxas de rendimento (aprovação, reprovação e abandono), aos resultados do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará - SPAECE, do Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB, Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB, Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA; leitura e interpretação de dados apresentados em tabelas, gráficos e mapas; resolução de problemas que envolvam o cálculo de porcentagem com dados fornecidos em diferentes formatos. ............................................................................................................................................................. 1 Conhecimentos Específicos 1 Concepções do pensamento geográfico e sua influência no ensino da Geografia. 1.1 Sociedade, lugar e paisagem no ensino da Geografia. 1.2 Currículo: cultura e territorialidade no ensino da Geografia. 1.3 Novas abordagens teóricas e metodológicas no ensino da Geografia. 1.4 Novas tecnologias de comunicação e informação no ensino da Geografia. 1.5 Aspectos avaliativos no Ensino da Geografia ........................................... 1 2 Geopolítica e Econômica. 2.1 O espaço como produto do homem. 2.2 Capitalismo; 2.3 Desenvolvimento e subdesenvolvimento. 2.4 Economia do pós-guerra. 2.5 O Brasil, a nova ordem mundial e a globalização. 2.6 O comércio internacional. 2.7 O MERCOSUL. 2.8 A economia mundial e do Brasil. 2.9 O problema da dívida externa. 2.10 Energia e transporte. 2.11 A agropecuária. 2.12 O comércio. 2.13 A indústria. 2.14 Os serviços. 2.15 As relações de trabalho. 2.16 As desigualdades sociais e a exploração humana. 2.17 A revolução técnico- científica .............................................................................................................................................................................. 46 3 Geografia da população. 3.1 A população e as formas de ocupação do espaço. 3.2 Os contrastes regionais do Brasil. 3.1 Urbanização e metropolização ................................................................................................................... 106 4 Ecologia. 4.1 Ecossistemas naturais. 4.2 Impactos ambientais. 4.3 Recursos naturais e devastação histórica. 4.4 Política ambiental ..................................................................................................................................................... 132 5 Competências e habilidades propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a disciplina de Geografia ................................................................................................................................................... 136 A apostila OPÇÃO não está vinculada a empresa organizadora do concurso público a que se destina, assim como sua aquisição não garante a inscrição do candidato ou mesmo o seu ingresso na carreira pública. O conteúdo dessa apostila almeja abordar os tópicos do edital de forma prática e esquematizada, porém, isso não impede que se utilize o manuseio de livros, sites, jornais, revistas, entre outros meios que ampliem os conhecimentos do candidato, visando sua melhor preparação. Atualizações legislativas, que não tenham sido colocadas à disposição até a data da elaboração da apostila, poderão ser encontradas gratuitamente no site das apostilas opção, ou nos sites governamentais. Informamos que não são de nossa responsabilidade as alterações e retificações nos editais dos concursos, assim como a distribuição gratuita do material retificado, na versão impressa, tendo em vista que nossas apostilas são elaboradas de acordo com o edital inicial. Porém, quando isso ocorrer, inserimos em nosso site, www.apostilasopcao.com.br, no link “erratas”, a matéria retificada, e disponibilizamos gratuitamente o conteúdo na versão digital para nossos clientes. Caso haja dúvidas quanto ao conteúdo desta apostila, o adquirente deve acessar o site www.apostilasopcao.com.br, e enviar sua dúvida, que será respondida o mais breve possível, assim como para consultar alterações legislativas e possíveis erratas. Também ficam à disposição do adquirente o telefone (11) 2856-6066, dentro do horário comercial, para eventuais consultas. Eventuais reclamações deverão ser encaminhadas por escrito, respeitando os prazos instituídos no Código de Defesa do Consumidor. É proibida a reprodução total ou parcial desta apostila, de acordo com o Artigo 184 do Código Penal. Apostilas Opção, a opção certa para a sua realização. EDUCAÇÃO BRASILEIRA APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 1 Pensamento Pedagógico Brasileiro1 O Brasil, no início do século XIX, ao cabo de três séculos de colonização era um país de contrastes, de situações extremas: de um lado o litoral e de outro o sertão, riqueza e pobreza, cultura popular sincrética e ortodoxia filosófica e religiosa, de uma devassidão de costumes e de uma rigidez impecável de comportamento, valores cristãos e de escravidão, mandonismo rural e massa servil, economia exportadora e produção de autoconsumo, prevalecendo ainda a contradição de um país dividido em múltiplas dicotomias.E uma delas, a educação. Lembremos que a nação brasileira, conforme Monarcha era inculta, patriarca, conservadora, oligárquica e acima de tudo, estava atrasada e doente. Na verdade, esta foi a cara do Brasil na Primeira República, que sucede o período de escravidão, da abolição e do tempo monárquico pós- independência. Neste atravessamento, os livres-pensadores da época, com suas visões incertas de mundo, livres da religião e cheios de métodos-científicos veem no novo regime – A República, como derradeira abolição dos privilégios de classe, cor, raça e religião. Todavia não representou a alforria para a maioria ao ingresso na vida, no mercado de trabalho e em especial na educação. Isto porque não houve esclarecimento e conquista das massas humanas, sob os princípios das luzes e virtudes que por sinal foram a euforia da aurora da Primeira República, mas que, infelizmente esquecida e apagadas as luzes e as virtudes postas de lado, em favor da “[...] depravação dos costumes, à predominância dos vícios oligárquicos [...], à transformação da liberdade em licenciosidade, à instrução popular reduzida ao ler e escrever de poucos”. Na verdade milhares de excluídos da alfabetização. E o Estado-República? Após treze anos, o governo nada fez para ensinar o povo a ler e escrever. De repente o governo acorda e se depara com a possível ruína da nação, das elites e do povo, pois o ímpeto modernizador republicano se perderá. Sem povo não existe nação e não temos povo no Brasil, porque não temos educação nacional organizada. A intervenção ou medicação para esta crise foi indicada em 1927, na 1ª Conferência Nacional de Educação, no qual profissionais especialmente do campo da saúde e do ensino por meio do lema norte-americano: sanitation over all, visam a higienização do povo através do saneamento do meio físico, social e moral eliminando a “doença endêmica multiforme e a ignorância do povo”. O povo é inculto e está doente! Acreditem, a educação e a saúde são o elixir com direito a bula que deverá higienizar e educar o povo. Tomando, lendo e seguindo a risca a bula o povo terá acesso à riqueza, ao progresso, ao civismo, ao respeito e moralidade tão desejados ao povo ou do povo para alguém? 1 Texto adaptado de MÜLLER, C. A. baseado no livro de GADOTTI, M. Pensamento Pedagógico Brasileiro. Conforme Bomeny, “O grande problema do Brasil, o analfabetismo de praticamente 80% de sua população, aparece como uma condenação ao projeto republicano.” Essa citação apresenta um quadro, não tão confiável em termos de dados conforme Bomeny, mas delata a instabilidade educacional e política da nação no inicio do século XX. Para corrigir tal distorção, houve um empenho nacional pela alfabetização em massa. “O remédio parecia milagroso: alfabetizando a população, corrigiam-se de pronto todas as mazelas que afetavam a sociedade brasileira em sua expressiva maioria”. Na verdade, vigorou o princípio da ciência positivista com caráter liberal, como direção essencial para instaurar o progresso, a inovação no país. Um destes movimentos foi chamado de Escola Nova, tendo como base Anísio Texeira e organizado por intelectuais inspirados nas ideias político-filosóficas de igualdade entre os homens e do direito de todos à educação. “O movimento via na educação integral vinculada a um sistema estatal de ensino público, livre e aberto, como sendo capaz de modernizar o homem brasileiro, e de transformar essa espécie de “Jeca Tatu” em um sujeito laborioso, disciplinado, saudável e produtivo”. Devemos considerar que esta força intelectual, desejava pela educação, salvar o Brasil do estrago causado por uma política educacional elitista, responsável pelos índices de analfabetismo, bem como pela doença que se alastrou sobre a nação. Nesta perspectiva, os ideais para a renovação da educação foram influenciados em grande parte pela calorosa “conversão” de Anísio Teixeira no movimento educacional norte-americano (pragmatismo), pelo qual o aprendizado ocorre pela capacidade de observação, experimentação do aluno tendo como orientador, ou facilitador o professor treinado para este fim. O movimento reformador queria ver contemplado as suas demandas político-pedagógicas por meio de um sistema nacional de educação, bem como definir um programa educacional para o país. Houve muitas discussões e participações de segmentos. A Igreja acaba participando da discussão na tentativa de garantir seus interesses e territórios enquanto formadora de mentes e de condutas. Já, os educadores reformistas que elaboraram em 1932 o Manifesto da Educação Nova, defendendo a democratização da educação - escola pública gratuita e laica. Em contrapartida, outro movimento buscava estabelecer a proposta de Fernando Azevedo, que tem como base a distinção clara entre educação para elite, enquanto civilizadora e, a educação para a massa, enquanto força instintiva e afetiva. As discussões se estenderam, e os pioneiros são acusados de partidários de ideais contrários aos interesses da nação. O interessante é que este grupo objetivava ser reconhecido como base para uma sociedade capitalista, liberal e de livre- mercado. Todavia, no pós 1930, alguns interesses educacionais da nação foram reclamados na Reforma de Capanema, e houve a retomada das campanhas sanitaristas, que viabilizaram as Reformas no Ensino Secundário tendo como base as orientações humanistas de caráter elitista; criação do Sistema de Ensino Profissional (Senai, Sesi, Senac, Sesc) direcionado ao povo visando formar mão-de-obra qualificada e, Reforma Universitária objetivando um padrão nacional de organização. Em suma, criados para incorporar a massa inculta ao mercado de trabalho e este efeito permanece até hoje. Por uma prática libertadora No atravessamento de ideais, Germano, diz que a vida política do Brasil sempre esteve enlaçada pelas Forças Armadas e em especial pelo exército, principalmente a partir Temas Educacionais e Pedagógicos. 1 História do pensamento pedagógico brasileiro. APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 2 da segunda metade do século XIX, com a Guerra do Paraguai, a qual revelou conflitos entre o Exército e o Poder Imperial. Esses laços se estenderam à abolição da escravatura em 1888; na instauração da República em 1889; cooperou para o fim da República em 1930; auxiliou no estabelecimento da ditadura de Vargas, período conhecido como Estado Novo; destituiu o mesmo Vargas em 1945, bem como, esteve presente no suicídio de Vargas; e, instaurou o golpe de Estado de 1964. O Estado Novo constitui-se, de acordo com Germano, na consolidação do domínio burguês no Brasil e este movimento efetiva uma acentuada intervenção do Estado na economia, na modernização, na educação, entre outros, fazendo com que os militares abandonem as posições reformistas e busquem neste momento, o fortalecimento das “Forças Armadas, na segurança interna e na defesa externa”. Esse deslocamento dos militares preanuncia um aspecto importante do pós 64: a ideologia da Segurança Nacional. Ou seja, é o momento do antiliberalismo e do anticomunismo. Devido a crise econômica e política, o inicio dos anos 60 foi crítico para as elites brasileiras. Conforme Germano, a instabilidade e insustentabilidade do Estado em criar condições favoráveis para um crescimento econômico e de garantir a seletividade de classe e a reprodução da dominação política da burguesia, em 1964 é deflagrado através da participação da elite, de multinacionais, do Governo dos Estados Unidos, e das Forças Armadas como executiva, o golpe, chamado pelos militares de Revolução de 64. A ditadura foi consolidada enquanto processo pelos chamados Atos Institucionais - AI, por meio dos quais, os direitoscivis são aluídos. Nessa brutal repressão, milhares de pessoas tornaram-se expatriados políticos, torturadas, mortas em nome da Segurança Nacional. O regime militar, deste período, realizou a Reforma Universitária, através da Lei 5.540/68, e a Reforma do Ensino de 1° e 2° Graus, Lei 5.692/71. Nessas propostas, o homem deverá ser adestrado para a Segurança Nacional. Em um cenário de intensos discursos e ações, surgem ideais em favor de reformas estruturais na sociedade brasileira. Em um primeiro momento, Paulo Freire traz a possibilidade de compreendermos que pela educação, enquanto prática libertadora será possível ampliar a participação das massas e conduzi-las à sua organização crescente, conforme Gadotti citando Freire: [...] as elites (intelectuais) são assistencionalistas e não têm receio de recorrer à repressão e ao autoritarismo quando se sentem ameaçadas. Por outro lado, as classes médias estão em busca de ascensão social e se apoiam nas elites. Desta forma, a solução para transformar a sociedade opressora está nas mãos das massas populares, “conscientes e organizadas”. Nessa perspectiva, a pedagogia do oprimido3, enquanto processo, buscaria a superação de uma cultura colonial para uma sociedade aberta. Esse movimento deveria buscar a conscientização do sujeito articulado com uma práxis desafiadora e transformadora da realidade. Para tanto, torna- se imprescindível estabelecer um diálogo crítico horizontal (oposta ao eletismo) como condição para favorecer e sustentar o amor, a humildade, a esperança, fé e confiança nas relações entre os sujeitos para descobrirem-se como sujeitos históricos no processo. Em linhas gerais, Paulo Freire, conforme Gadotti caracteriza duas concepções opostas de educação: a concepção bancária literalmente burguesa, pois, o educador é o que sabe e julga e os alunos meros objetos. Em contrapartida, a concepção problematizadora funda-se justamente na relação dialógico-dialética entre educador e educando – ambos aprendem juntos, ambos se emancipam. Ser fiel a Paulo Freire significa, antes de mais nada, reinventá-lo e reinventar-se como ele. Nisto, aliás, consiste a superação (aufhebung) na dialética: não é nem a cópia e nem a negação do passado, do caminho já percorrido pelos outros. É a sua transformação e, ao mesmo tempo, a conservação do que há de fundamental e original nele, e a elaboração de uma síntese qualitativa. Em outro movimento, de acordo com Gadotti, o educador e antropólogo Brandão nos apresenta a educação popular como alternativa à educação dominante e à conquista de novas formas de organização de classes. Esse deslocamento aconteceria através de uma educação como processo de humanização ao longo da vida e de maneira variada. Então, o processo de ensino-aprendizagem não é algo imposto e sim um ato de conhecimento e de transformação social, pois, o aprender se daria a partir do conhecimento que o aluno traz consigo, ou seja, um saber popular e para o educador é estar comprometido politicamente e, ser solidário e responsável por buscar a direção justa para que possam em conjunto construir uma consciência cidadã até que o “povo assume de uma vez o leme e a direção do barco”. Nesta perspectiva, a educação popular, será um processo que busca na organização e na persistência, a participação na formação, o “fortalecimento e instrumentalização das práticas e dos movimentos populares, com o objetivo de apoiar a passagem do saber popular ao saber orgânico, ou seja, do saber da comunidade ao saber de classe na comunidade”. Em uma sociedade, conforme Gadotti, que se fundamenta nos princípios da eficiência e do lucro, as pessoas acabam dissipando sua identidade e viram função alienada que segue às cegas as regras da moral, da ciência, da religião etc., que são articuladas pelo poder mágico do discurso vigente. Nesse contexto, Rubem Alves propõe a educação como um espaço possível de desinstalação. Ou seja, procura construir uma educação, uma escola, enquanto espaço de prazer e da fala. Este é o enfoque principal de Alves, citado por Gadotti, a linguagem, a fala ao lado do corpo. O educador fala com o corpo. É no corpo de cada educador e de cada educando que estão escritas as suas histórias. Daí a necessidade de lê-lo e relê-lo constantemente. O corpo é o primeiro livro que devemos descobrir; por isso, é preciso reaprender a linguagem do amor, das coisas belas e das coisas boas, para que o corpo se levante e se disponha a lutar. Mostra a importância da formação do educador comprometido consigo mesmo e com o aluno, capaz de superar a burocratização e a uniformização a que são submetidos. Inquietando-se com o papel da saber e com a crescente desumanização das relações humanas. Nas palavras de Gadotti, é valorizar o prazer, o sentimento, a arte e a paixão na educação e na vida humana. O melhor método? O método do amor é melhor do que o racional para educar, aprender e ensinar. E por que não nos deixarmos envolver pela paixão de conhecer o mundo? Eis a proposta de prática pedagógica de Madalena Freire, na qual é possível o exercício do diálogo desde a primeira educação articulando conhecer e viver, envolvidos pela paixão. O trabalho de Madalena Freire, conforme Gadotti busca superar a dicotomia entre o cognitivo e o afetivo para que a educação seja um processo prazeroso. Nas palavras de Madalena Freire: o ato de conhecer é tão vital como comer ou dormir, e eu não podemos comer ou dormir por alguém. A escola em geral tem esta prática, a de que o conhecimento pode ser doado, impedindo que a criança e, também, os professores o construam. Só assim a busca do conhecimento não é preparação para nada, e sim VIDA, aqui e agora. E é vida que precisa ser resgatada pela escola. A partir do vivido da criança, o educador pode planejar e organizar as atividades escolares sem perder a direção pedagógica e o seu papel organizativo. As atividades se configuram a partir dos interesses das crianças, da sua vivência, para que o processo de construção do conhecimento e do afetivo, por exemplo, a alfabetização e a construção de um APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 3 sistema de representação (leitura e escrita), fluam naturalmente na vida da criança para que quando adulto, a vida possa fluir sem artifícios. É procurando compreender as atividades espontâneas das crianças que vou, pouco a pouco, captando os seus interesses, os mais diversos. As propostas de trabalho que não apenas faço às crianças, mas que também com elas discuto, expressam, e não poderia deixar de ser assim, aqueles interesses. Não é de estranhar, pois, que as crianças se encontrem nas suas atividades e as percebam como algo delas, ao mesmo tempo em que vão entendendo o meu papel de organizadora e não de “dona” de suas atividades. Creio que cabe aos professores o exercício proposto por Freire, de se permitirem entender a espontaneidade dos nossos alunos (crianças, jovens, adultos), enquanto condição possível para desestabilizar uma pedagogia atrelada desde muito tempo à autoridade, para reprodução homogeneizadora e, como “campo de vigilância sobre o tempo, o espaço, o movimento, os gestos, para produzir corpos submissos, exercitados e dóceis”. Na verdade, o movimento proposto e quando articulado às práticas pedagógicas é dar sentido não somente para as atividades, mas também às relações que se constituem no espaço pedagógico. Esse deslocamento chama para uma nova postura não somente ao professor, mas também ao aluno. Ao professor, Gadotti citando Chauí cabe algumas perguntas: qual há de ser a função do educador atual? Como romper com essa violência chamada modernização? Como não cair nas armadilhas do conhecer para não pensar, adquirir e reproduzir para não criar, consumirem lugar de realizar o trabalho de reflexão? Ampliando ideais, emancipando ideias. Refletindo sobre os discursos, os ideais e práticas do ontem e do hoje, salvo importantes exceções, percebe-se a constância não somente na nossa história política, mas também à educação voltada, nas palavras de Germano, para manobras do alto, estabelecendo a continuidade, as restaurações, as intervenções e exclusões das massas populares por meio do autoritarismo. Não é para menos que a insígnia, conforme Gadotti, da tradição brasileira é a influência de oligarquias que “compartilham” interesses para conservar o controle do poder. Hoje, esses conceitos e práticas se estendem e respingam na educação com um novo figurino, uma nova e boa maquiagem em nome do moderno. Todavia, modernizar ainda significa, de acordo com Gadotti citando Florestan Fernandes, reajustar as economias periféricas às estruturas e aos dinamismos das economias centrais e é claro, ao bom andamento dos negócios. Nesta perspectiva, uma coisa é certa: de um passado muito presente o pensamento pedagógico brasileiro busca uma práxis, conforme Germano, de resistência à dominação de classe, ao domínio estrangeiro, ao imperialismo e à transplantação cultural, configurando-se como um instrumento de luta em favor da identidade nacional, mediante a valorização e o fortalecimento das raízes culturais do povo brasileiro em busca da construção de um futuro melhor, diferente do passado/presente. Todavia devemos considerar de acordo com Gadotti, para o qual a crise do modelo de educação voltada para a rigidez e inflexibilidade não é apenas interna à escola e sim de acordo com os autores Schwartzman e Brock, que o problema da educação no Brasil, em um primeiro momento, estava erroneamente pautado na falta de escolas, às crianças que não iam para a escola, e à carência de verbas. Neste sentido, foi considerada, a necessidade de construir escolas, melhores salários ao corpo docente e claro, convencer os pais a enviarem seus filhos à escola. Passados alguns bons anos, nos deparamos com os reais problemas: a má qualidade das escolas, a famosa repetência e acrescento aqui a qualidade das aprendizagens. Como após tantas reformas, investimentos, e elaborações de políticas e ações à educação, persistem ainda as elevadas taxas de evasão e repetência e muitas outras dificuldades? Creio que muitas escolas hoje estão afastadas não de uma concepção democrática e libertadora. Isto porque, na grande maioria dos PPP das escolas, estas propostas, conceitos se fazem presentes na escrita. Mas, no planejamento, na prática, no exercício diário da intervenção pedagógica em sala de aula, esta práxis não se faz presente. Tristemente, encontramos influência de uma pedagogia, conforme Gadotti, do bom senso, e do silêncio, desconectada da vida dos educadores e dos alunos. “Uma vida opaca e conciliadora, e na qual é preciso ser falso, esconder interesses, montar estratégias, ser “esperto” e “levar vantagem. Entretanto, se o Brasil precisa de mais e melhor educação, conforme previsto no Programa de Governo de Dilma Rousseff é porque a qualidade do ensino é um dos pilares que sustenta a proposta por meio da valorização do professor. Valoração, renovação, ação. Eis o sentido, das formações e\ou capacitações que deverão propiciar ao professor a redescoberta da sua função e tarefa - assumidas em juramento. Fazer com que o professor saia de um monólogo e busque entender as relações recíprocas existentes entre domínio do saber e o domínio do saber fazer. Ou seja, tomar consciência do seu verdadeiro exercício, como dinamizador do processo de ensino-aprendizagem e organizador da intervenção pedagógica. Esse processo de reflexão em formação pode tornar consciente os modelos teóricos e epistemológicos que se evidenciam na sua prática, para então refletir sobre o saber e o saber fazer. Essa situação levará o professor a rever o que propôs e se dispor a novas possibilidades, modificando sua proposta, dispondo-se a repensá-la, ou manter a mesma proposição. Neste sentido, penso que a questão pontual para uma melhor educação seja a possibilidade do professor estabelecer relações entre teoria e prática, assumindo seu papel no processo de ensino-aprendizagem e a importância deste trabalho ser em conjunto entre professor x aluno, professor x professor. É buscar dar sentido ao que somos ao que fazemos e por que fazemos. Na verdade as colocações apresentadas nos mostram o esforço para permitir um processo de ensino-aprendizagem voltado à constituição de sentidos, ou seja, produzir significado mostrando ao aluno o que aquele conteúdo tem a ver com a vida dele e por que é importante e como aplicá-lo em uma situação real. Chamar os professores, conforme Mello, para uma reflexão sobre a própria prática pedagógica: o que se faz e com quais objetivos se faz. Torna-se muito importante ter um parâmetro de como estamos para saber o que precisamos mudar. Ninguém muda se não tem consciência do que precisa mudar. Já sabemos o que mudar? Penso que se este movimento estiver, conforme Gadotti, a construir um caminho próprio, libertando-se de um pensamento transplantado, buscando realmente a superação e transformação das dependências enraizadas nos modelos, nos paradigmas e das teorias elaboradas em outros contextos, em especial aqueles de países hegemônicos, estaremos sim, caminhando para um comprometimento real para a transformação social. Um processo, uma luta contra si mesmo à tomada de consciência e contínua; o engajamento, por uma real mudança. APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 4 O pensamento pedagógico moderno: iluminista, positivista, socialista, escolanovista, fenomenológico- existencialista, antiautoritário, crítico2. O Pensamento Moderno. Nos séculos XVI e XVII, surge uma classe social contra o modo de produção feudal. Modificou e concentrou novos meios de produção, iniciando um sistema de cooperação, começando um trabalho em série que se estruturou no século XX. Assim, a produção não se apresentava mais isoladamente, passando a constituir um esforço coletivo. Essa sociedade buscou o domínio sobre a natureza, desenvolvendo técnicas, artes, estudos, como a matemática, astronomia, ciências físicas, geografia, medicina e biologia. Giordano Bruno (15481600) desenvolveu a astronomia; Galileu Galilei (15641642) construiu um telescópio, descobriu os satélites de Júpiter e a lei da gravidade; William Harvey (15781657) teorizou a circulação do sangue; Francis Bacon (15611626) criou uma nova organização para as ciências, propondo a diferença entre a fé e a razão, não se envolvendo nas divergências religiosas que deixam em dúvida a compreensão da realidade – criou o método indutivo de investigação que foi uma de suas obras que se opôs ao método de Aristóteles de dedução. Bacon é considerado o precursor do método científico moderno. René Descartes (1596 1650), escritor do Discurso do Método, mostra os caminhos para o estudo e a pesquisa, que além de criticar o ensino humanista, propôs a matemática como ciência perfeita. Descartes confirmou o dualismo da filosofia, quando se referiu à relação entre o pensamento e o ser. Convicto do potencial da razão humana, criou um método novo, o de conhecimento do mundo substituindo a fé pela razão e pela ciência. Tornase assim o pai do racionalismo. Procurou conciliar a religião e a ciência, mas sofreu influência da burguesia no século XVII, considerada, ao lado das ideias progressistas da França, o medo das classes populares. Descartes apresentou, pelo Discurso do Método, quatro princípios: - Não considerar como verdadeiro o que não se conhecesse, ou seja, evitar a precipitação não conceituando o que não seapresentasse claro ou se apresentasse com dúvida. - Dividir cada dificuldade encontrada em número de parcelas possíveis e necessárias para melhor resolvêIas. - Conduzir ordenadamente os pensamentos, pelas coisas mais simples e fáceis, e pouco a pouco chegar até o conhecimento das mais complicadas. - Numerar tudo e revisar, para ter a certeza de nada omitir. Descartes, precursor da filosofia moderna, escreveu sua principal obra em francês, uma das línguas populares à época, possibilitando acessibilidade de um maior número de pessoas. O latim medieval se representava como o representante da religião, da filosofia, da diplomacia e da literatura. Já o comércio se utilizava das línguas como o italiano, o espanhol, o holandês, o francês, o inglês e o alemão. No século XVI, ocorreu uma grande revolução linguística, exigindo dos educadores o bilinguismo, ou seja o latim e o vernáculo. A Igreja percebeu a importância desse conflito, 2 UNINOVE. História do Pensamento Pedagógico. exigindo, através do Concílio de Trento (1562), que as pregações ocorressem em vernáculo, ou seja, na língua popular da região em que se estivesse. Após o Discurso do Método, João Amos Comênio (1592- 1670) escreveu a Didática Magna (1657), como método pedagógico. Ensinar palavras, como sombras das coisas, Comênio dizia que a escola deveria ensinar o conhecimento das coisas. O pensamento pedagógico moderno caracterizava- se pelo realismo. John Locke (16321704) perguntavase de que serviria o latim para a sociedade, que trabalha nas fábricas. Ensinar mecânica e cálculo era mais importante. Mas as classes dirigentes continuavam aprendendo latim e grego: um bom cidadão deveria recitar versos de Horácio ou Ovídio aos ouvidos apaixonados de sua namorada. As humanidades continuavam fazendo parte da educação da nobreza e do clero. Locke, em seu Ensaio sobre o entendimento humano, combateu o inatismo, antepondo a ideia da experiência sensorial, ou seja, nada existe em nossa mente que não tenha sua origem nos sentidos. A pedagogia realista é contra o formalismo humanista, pregando a superioridade do domínio do mundo exterior sobre o domínio do mundo interior, a supremacia das coisas sobre as palavras. Desenvolveu a paixão pela razão (Descartes) e o estudo da natureza (Bacon). De humanista, a educação tornase científica. O conhecimento só possuía valor quando preparava para a vida e para a ação. O surto das ciências naturais, da física, da química, da biologia, despertou interesse pelos estudos científicos e abandonou os estudos de autores clássicos e das línguas da cultura grecoIatina. Até a moral e a política deveriam ser modeladas pelas ciências da natureza. A educação não era mais considerada um meio para aperfeiçoar o homem. A educação e a ciência eram consideradas um fim em si mesmo. O cristianismo afirmava que era preciso saber para amar. Ao contrário, dizia Bacon, saber é poder, sobretudo poder sobre a natureza. Dividia as ciências em da memória ou histórica, da imaginação ou poética, e da razão ou filosófica. Locke colabora com a educação da seguinte forma: a criança, ao nascer, era, segundo ele, uma tábula rasa, um papel em branco sobre o qual o professor podia escrever de tudo. Comênio, considerado o grande educador e pedagogo moderno e um dos maiores reformadores sociais de sua época, foi o primeiro a propor um sistema articulado de ensino, reconhecendo o igual direito de todos ao saber. Para ele, a educação deveria ser permanente, isto é, acontecer durante toda a vida. Afirmava que a educação nunca termina porque nós sempre estamos sendo homens e, portanto, estamos sempre nos formando. Comênio é defensor de que a organização do sistema educacional deveria compreender 24 anos, correspondendo a quatro tipos de escolas: a escola Materna, dos 0 aos 6 anos; a escola Elementar ou Vernácula, dos 6 aos 12 anos; a escola Latina ou Ginásio, dos 12 aos 18; e a Academia ou Universidade, dos 18 aos 24 anos. Em cada família deveria existir uma escola Materna; em cada município ou aldeia, uma escola Primária; em cada cidade, um Ginásio; e em cada capital, uma Universidade. O ensino deveria ser unificado, todas as escolas deveriam ser articuladas. Seriam assim distribuídas: a escola Materna cultivaria os sentidos e ensinaria a criança a falar; a escola Elementar desenvolveria a língua materna, a leitura e a escrita, incentivando a imaginação e a memória, além do canto, das ciências sociais e da aritmética. A escola Latina se destinaria, sobretudo, ao estudo das ciências. Para os estudos universitários, recomendava trabalhos práticos e viagens. Aí se formariam os guias espirituais e os funcionários. À academia só deveriam ter acesso os mais capazes. 1.1 Teoria da educação, diferentes correntes do pensamento pedagógico brasileiro. APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 5 Como se vê, apesar dos avanços, a educação das classes populares e a democratização do ensino ainda não se colocava como questão central. Aceitava-se facilmente a divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, resultado da própria divisão social. Para as classes dominantes, o ideal era a formação do galant homme, que almejava a conquista de uma posição nas cortes. Daí teve-se na época um enorme desenvolvimento das academias cavalheirescas. Os grandes educadores da ocasião eram na verdade clérigos ou preceptores de príncipes e nobres. Essa educação nobre procurava desenvolver a curiosidade, a instrução atraente e diversificada, por meio, de historietas e fábulas, com finalidade moral e religiosa. Ser honesto, sábio, ter bom gosto e espírito nobre e galanteador. Assim a educação da classe dominante seria composta pelo clero e pela nobreza. Já no século XVII surge a luta das camadas populares pelo acesso à escola. Instigada pelos novos intelectuais iluministas e por novas ordens religiosas, a classe trabalhadora, em formação, podia e devia ter um papel na mudança social. O acesso à formação tornou-se essencial para articular seus interesses e elaborar sua própria cultura de resistência. Entre os protestantes, os metodistas, por exemplo, impulsionaram as escolas dominicais, que, embora pretendessem utilizar a escola como veículo de formação religiosa, possibilitavam o acesso de crianças pobres e necessitadas ao saber. Alguns principados alemães providenciaram uma legislação específica da escola, além de se criar bibliotecas públicas ainda no século XVII. No século seguinte surgem as bibliotecas circulantes. Ao contrário da ordem dos jesuítas, surgiram várias ordens religiosas católicas que se dedicavam à educação popular: a congregação dos oratorianos, fundada por Filipe Néri (1515- 1595) ; a Sociedade dos Irmãos das Escolas Cristãs, fundada por Jean Baptiste de La Salle (1651 1719). Muitas dessas escolas ofereciam ensino inteiramente gratuito e na forma de internato. Tratava-se, contudo, de uma educação filantrópica e assistencialista. Esses dois modelos de educação, o primeiro real e público, e o segundo religioso e privado, foram exportados para as colônias: para a América britânica, o modelo das escolas dominicais protestantes; para a América espanhola e portuguesa, as escolas católicas. O Pensamento Iluminista Entre 1453 e 1789, determinase o período da Idade Moderna, com o predomínio do sistema absolutista, concentrando o poder nas mãos do clero e da nobreza. A Revolução Francesa acabou com essa situação. Ela já fazia parte do discurso dos grandes pensadores daquela época, denominados de iluministas. Voltados para a racionalidade e o combate a favor das liberdades, contra o pensamento da Igreja e a prepotência dos governantes. Esses pensadoreseram também chamados de enciclopedistas, pelas ideias liberais publicada sob a supervisão de Diderot e D'Alembert com o nome de Enciclopédia. Entre os iluministas, destacase JeanJacques Rousseau (17121778), precursor de uma nova era na história da educação. Constituiu-se no marco que separa a velha da nova escola. Entre suas obras, citamos: Sobre a Desigualdade entre os Homens, O contrato social e Emílio. Rousseau resgata a relação entre a educação e a política, e centraliza o tema da infância na educação. A criança não seria mais considerada um adulto em miniatura, mas viveria em um mundo próprio necessário de compreensão; o educador deve fazer-se educando de seu educando; a criança nasce boa, o adulto é que perverte a criança. No século XVIII as camadas populares reivindicam a educação pública, e pela primeira vez o Estado instituiu a obrigatoriedade escolar, como na Prússia, em 1717. Na Alemanha, cresce a intervenção do Estado na educação, com as Escolas Normais, e planos que se voltam para a grande revolução pedagógica nacional francesa do final do século. Nunca se havia discutido tanto a formação do cidadão por meio das escolas como durante os seis anos da Revolução Francesa. A escola pública é o resultado dessa revolução burguesa. Os teóricos iluministas buscavam uma educação inspirada nos princípios da democracia, laica e gratuita. Com ela a ideia da unificação do ensino público acontece em todos os graus, mas ainda era elitista, pois só os com maior capacidade podiam prosseguir até a universidade. O iluminismo busca libertar a repressão dos monarcas e o despotismo do clero. O movimento pela liberdade individual iniciado no período anterior busca refúgio no ideal de vida do bom selvagem, livre de todos os condicionamentos sociais. É lógico que essa liberdade só podia ser praticada por poucos, aqueles que eram, livres do trabalho material, e que tinham sua sobrevivência garantida por um regime econômico de exploração do trabalho. O estado natural do homem é demonstrado pelo espaço que Rousseau dedicou para uma sociedade existente entre os homens primitivos, exemplificando os índios das Américas. Sua obra Emílio mostra o personagem de mesmo nome, educado sem contato com outros homens e com nenhuma religião, apenas no convívio com a natureza. Sem contato com ninguém, Emílio fica apenas nas mãos de um preceptor ideal, Rousseau. A educação não deveria apenas instruir, mas permitir que a natureza acontecesse na criança, sem reprimi-la buscar modelos. Na teoria da bondade natural do homem é que se baseia Rousseau, sustentando que só os instintos e os interesses naturais deveriam direcionar. Direcionava-se para uma educação racionalista e negativa, ou seja, de restrição da experiência. Rousseau foi precursor da escola nova, iniciada no século XIX, teve grande êxito na primeira metade do século XX, sendo ainda hoje muito presente. Suas filosofias tiveram muita influência sobre os educadores da época, como Pestalozzi, Herbart e Froebel. Rousseau dividiu a educação em três momentos: a infância (natureza até 12 anos) ; maturidade (força, razão e paixões, dos 12 aos 20 anos devendo ter o desenvolvimento científico maior para a vida social) ; a sabedoria e o casamento (dos 20 aos 25anos). No século XVIII, Rousseau realiza a transição do controle da educação da Igreja para o Estado, e nessa época desenvolveu-se o esforço da burguesia em estabelecer o controle civil (não religioso) da educação por meio da instituição do ensino público nacional, assim o controle da Igreja sobre a educação e os governos civis foi aos poucos decaindo com o crescente poder da sociedade econômica. A Revolução Francesa baseou-se também nas exigências populares de um sistema educacional. A Assembleia Constituinte de 1789 elaborou vários projetos de reforma escolar e de educação nacional. O mais importante é o projeto de Condorcet (17431794) propondo o ensino universal para eliminar a desigualdade. Contudo, a educação proposta não era exatamente a mesma para todos, pois admitia-se a desigualdade natural entre os homens. Condorcet reconheceu que as mudanças políticas precisavam ser acompanhadas de reformas educacionais. Foi partidário da autonomia do ensino, ou seja, cada indivíduo deveria conduzir-se por si mesmo. Demonstrou ser defensor da educação feminina para que as futuras mães pudessem educar seus filhos, pois considerava as mulheres mestras naturais. As ideias revolucionárias tiveram grande influência no pensamento pedagógico de outros países, principalmente na Alemanha e na Inglaterra, criando seus sistemas nacionais de APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 6 educação, e na América do Norte a participação do Estado na educação era significativa. A Revolução Francesa tentou plantar no educando a consciência de classe, centro do conteúdo programático, pois a burguesia tinha clareza do que queria da educação, pois trabalhadores com formação de cidadãos seriam mais participativos de uma nova sociedade liberal e democrática. Os pedagogos revolucionários foram os primeiros políticos da educação. Alguns, como Lepelletier (17601793), pretenderam que nenhuma criança recebesse outra formação que não a revolucionária, por meio de internatos obrigatórios, gratuitos e mantidos pelas classes dirigentes. Essa ideia, porém, não obteve êxito. Seu autor morreu na guilhotina. No final, a própria revolução recusou o programa educacional de universalização da educação criado por ela mesma. Froebel (17821852) foi o idealizador dos jardins da infância, pois considerava que o desenvolvimento da criança dependia de uma atividade espontânea (o jogo), uma atividade construtiva (o trabalho manual) e um estudo da natureza. Valorizava a expressão corporal, o gesto, o desenho, o brinquedo, o canto e a linguagem. Para ele a auto atividade representava a base e o método de toda a instrução. Como Herbart, valorizava os interesses naturais da criança. Via a linguagem como a primeira forma de expressão social e o brinquedo como uma forma de auto expressão. Depois de Froebel, os jardins da infância se multiplicaram até fora da Europa, atingindo até os Estados Unidos. Suas ideias ultrapassaram a educação infantil. Os fabricantes de brinquedos, jogos, livros, material recreativo e jornais para crianças foram influenciados pelas ideias de Froebel. Inspirou- se nele John Dewey, um dos fundadores do pensamento escolanovista. O iluminismo educacional representou o fundamento da pedagogia burguesa, que até hoje insiste predominantemente na transmissão de conteúdos e na formação social individualista. A burguesia percebeu a necessidade de oferecer instrução, mínima para a massa trabalhadora. Por isso, a educação se dirigiu para a formação do cidadão disciplinado. O surgimento dos sistemas nacionais de educação, no século XIX, foi o resultado e a expressão da importância que a burguesia, como classe ascendente, emprestou à educação. Além de Rousseau, outro grande teórico destacase nesse período: é o alemão Emanuel Kant (17241804). Descartes defendia que todo conhecimento era inato e Locke que todo saber era adquirido pela experiência. Kant supera essa contradição, ou seja, mesmo negando a teoria platônico cartesiana das ideias inatas, mostrou que algumas coisas eram inatas como à noção de espaço e de tempo, que não existem como realidades fora da mente, mas apenas como formas para pensar as coisas apresentadas pelos sentidos. Por outro lado, sustentou que o conhecimento do mundo exterior provém de experiência sensível das coisas. Admirador de Rousseau, Kant acreditava que o homem é o que a educação faz dele através da disciplina, da didática, da formação moral e da cultura. Para Kant, espaço, tempo, causalidadee outras relações não eram realidades exteriores. Essa afirmação foi acentuada por outros filósofos alemães, entre eles, Fichte (17621814) e Hegel (17701831), que acabaram negando a existência de qualquer objeto fora da mente, pois é o idealismo subjetivo e absoluto que mais tarde será rebatido por Karl Marx. O que a moderna ciência da educação, na definição de seus conceitos básicos, chama de aculturação, socialização e personalização, representa algumas das descobertas de Kant. Para ele, o educando necessita realizar esses atos, pois é o sujeito que tem de cultivar-se, civilizar-se, para assim corresponder à natureza. Assim, o verdadeiro objetivo do homem é que desenvolva inteiramente, por si mesmo, tudo o que está acima da ordem mecânica de sua existência animal e não participe de nenhuma outra felicidade e perfeição que não tenha sido criada por ele mesmo, livre do instinto, por meio de sua própria razão. A nova classe mostrou, ao apagar das luzes da Revolução de 1789, que não estava de todo em seu projeto a igualdade dos homens na sociedade e na educação. Uns acabaram recebendo mais educação do que outros. Aos trabalhadores, diria Adam Smith (17231790), economista político burguês, que será preciso ministrar a educação apenas em conta-gotas. A educação popular deveria fazer com que os pobres aceitassem de bom grado a pobreza. Anunciava-se o princípio fundamental de educação burguesa, sendo uma educação distinta para cada classe, pois a classe dirigente teria a instrução para governar, e a classe trabalhadora, a educação para o trabalho. Essa concepção dualista da educação deverá ser sistematizada no século XIX pelo pensamento pedagógico positivista. O Pensamento Positivista A concepção da educação burguesa no século XVIII foi consolidada pelo pensamento positivista. No iluminismo e na sociedade burguesa duas forças opostas se fizeram presentes no final do século XVIII. O movimento popular e socialista, e o movimento elitista burguês. Eles chegam ao século XIX denominados de marxismo de Karl Marx, e de positivismo de Augusto Comte. Comte estudou na escola politécnica de Paris, recebendo influência de alguns intelectuais, como Joseph Louis Lagrange, matemático e o astrônomo Pierre Simon de La Place. Secretário de SaintSimon, seguiu a orientação para o estudo das ciências sociais e as ideias de que os fenômenos sociais como os físicos podem ser reduzidos a leis, e de que todo conhecimento científico e filosófico deve ter por finalidade o aperfeiçoamento moral e político da humanidade. Comte tem como sua principal obra o Curso de Filosofia Positiva, composta de seis volumes, publicadas entre 1830 e 1842. Separado de sua primeira mulher, conheceu Clotilde de Vaux, cuja morte ocorreria no ano seguinte. Com ela viveu em perfeita comunhão espiritual. Depois da perda de Clotilde, Comte transformoua na sua musa inspiradora para uma nova religião, cujas ideias se encontram na obra Política Positiva, ou Tratado de Sociologia instituindo a religião da humanidade (18511854). A segunda parte de sua vida teve como objetivo transformar a filosofia em religião, assim como a primeira parte tentou transformar a ciência em filosofia. Para Augusto Comte, a derrota do iluminismo e dos ideais revolucionários deveuse à ausência de concepções científicas. Para ele, a política tinha de ser uma ciência exata. Já Marx buscava as razões do fracasso na própria revolução burguesa, que era contraditória, ou seja, proclamava a liberdade e a igualdade, mas não as realizaria enquanto não mudasse o sistema econômico que instaurava a desigualdade na base da sociedade. Uma verdadeira ciência, para Comte, analisa todos os fenômenos, tanto humanos, como os de fatos, sendo, portanto, uma ciência positiva. Tanto nas ciências da natureza quanto nas ciências humanas, o afastar qualquer preconceito ou pressuposto ideológico seria coerente. A ciência precisava ser neutra. Leis naturais e harmônicas regem a sociedade. O positivismo é a doutrina que consolida a ordem pública, desenvolvendo nas pessoas uma sábia resignação ao seu estado de fato. Nada de doutrinas críticas, destrutivas, subversivas e revolucionárias como as do iluminismo da Revolução Francesa ou as do socialismo, ou seja, só uma doutrina positiva serviria de base da formação científica da sociedade. Comte combateu o espírito religioso, mas acabou propondo a instituição do que chamou religião da humanidade para substituir a Igreja. APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 7 Segundo ele, a humanidade passou por três etapas sucessivas: o estado teológico, durante o qual o homem explicava a natureza por agentes sobrenaturais; o estado metafísico, no qual tudo se justificava por meio de noções abstratas como essência, substância, causalidade, etc.; e o estado positivo, o atual, em que se buscam as leis científicas. Da Lei dos Três Estados, Comte formalizou o sistema educacional, afirmando que em cada homem as fases históricas se reproduziriam, que cada indivíduo repetiria as fases da humanidade. Na primeira fase, a da infância, a aprendizagem não teria um caráter formal, transformaria gradativamente o fetichismo natural iniciando uma concepção abstrata do mundo. Na segunda, a da adolescência e da juventude, o homem adentraria no estudo sistemático das ciências. Aos poucos, o homem na idade madura chegaria ao estado positivo, passando do estado metafísico. Não mais abraçaria a religião de um Deus abstrato, e ratificaria a religião do Grande Ser, a Humanidade. A educação formaria, portanto, a solidariedade humana. Na realidade, a Lei dos Três Estados, de Comte, acabava esbarrando com a evolução dos educandos. Estes, de modo algum, seguiam uma previsão tão positiva. De fato, as crianças não imaginavam forças divinas para explicar o mundo e nem os jovens se mostravam muito preocupados com as abstrações metafísicas, ou seja, elas não explicam a evolução da história. Seguindo Comte, Herbert Spencer (18201903) deixou a concepção religiosa do mestre e valorizou o princípio da formação científica na educação. Buscou conhecimentos que realmente contavam para os indivíduos se desenvolverem, e concluiu que os conhecimentos adquiridos na escola necessitavam, ante de tudo, possibilitar uma vida melhor, com relação à saúde, ao trabalho, à família, para a sociedade em geral. Essa tendência cientificista na educação continuava o movimento sensorialista dois séculos antes. Mas, na prática, a introdução das ciências no currículo escolar ocorreu muito vagarosamente, resistindo à dominação da filosofia, da teologia e das línguas clássicas. A tendência cientificista ganhou força com o desenvolvimento da sociologia em geral e da sociologia da educação. Afinal, o positivismo negava a metodologia das ciências sociais em relação às ciências naturais, identificando- as, e essa identificação será posteriormente criticada pelo marxismo. Um dos principais expoentes na sociologia da educação positivista foi Émilie Durkheim (18581917), que considerava a educação como imagem e reflexo da sociedade. A educação é um fato fundamentalmente social, e a pedagogia seria a teoria dessa prática social. Durkheim é o verdadeiro mestre da sociologia positivista moderna. Em Regras do Método Sociológico, afirma que a primeira regra é considerar os fatos sociais como coisas. A sociedade se compara a um animal, ou seja, possui um sistema de órgãos em que cada um desempenha um papel específico. Alguns deles seriam naturalmente mais privilegiados do que outros, e esse privilégio, por ser natural, representa um fenômeno normal, como em todo organismo vivo, predominando a lei da sobrevivência dos mais capacitados (evolucionismo) e a luta pela vida, em nada modificável.Esse conjunto de ideias pedagógicas e sociais revela o caráter conservador e reacionário do positivismo na educação. O positivismo é a doutrina que visa à substituição da manipulação do real pela visão científica, e que acabou estabelecendo uma nova fé, a fé na ciência, que vinculou a imaginação científica à pura observação experimental. Seu lema sempre foi a ordem e o progresso, acreditando que para progredir seria preciso ordem, e que a pior ordem é sempre melhor do que qualquer desordem. Portanto, o positivismo tornou-se uma ideologia da ordem social. Para os pensadores positivistas, a libertação social e política passava pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia, sob o controle das elites. O positivismo nasceu como filosofia, mas, ao dar uma resposta ao social, afirmouse como ideologia. A expressão do positivismo no Brasil inspirou a Velha República e o golpe militar de 1964. Nessa ideologia da ordem, o país não seria mais governado pelas paixões políticas, mas pela racionalidade dos cientistas desinteressados e eficientes, os tecnocratas. A tecnocracia, principalmente pós 64, nos oferece um exemplo prático do ideal social positivista, preocupado apenas com a manutenção dos fatos sociais, e entre eles, a existência concreta das classes. Isso serviu muito às elites brasileiras, quando sentiram seus privilégios ameaçados pela organização crescente da classe trabalhadora. Daí terem recorrido aos dirigentes militares, que são as elites ordeiras, vislumbradas por Comte. A teoria educacional de Durkheim opõese à de Rousseau. Este afirmava que o homem nasce bom e a sociedade o perverte; Durkheim declarava que o homem nasce egoísta e só a sociedade pode tornáIo solidário. Por isso, a educação, se definia como ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontravam ainda preparadas para a vida social. O pensamento positivista, na pedagogia, gerou o pragmatismo que só considerava válida a formação utilizada na vida presente. Entre esses pensadores, temos Alfred North Whitehead (18611947), para quem a educação é a arte de utilizar os conhecimentos, Bertrand Russel (1872 1970) e Ludwig Wittgenstein (18891951). Esses últimos estavam preocupados com a formação do espírito científico e com o desenvolvimento da lógica. Apesar do pouco entusiasmo que os educadores progressistas brasileiros demonstraram pelo pensamento pedagógico positivista, ele trouxe muitas contribuições para o avanço da educação, principalmente pela crítica que exerceu sobre o pensamento humanista cristão. No Brasil, o positivismo influenciou o primeiro projeto de formação do educador, no final do século passado. O valor dado à ciência no processo pedagógico justificaria maior atenção ao pensamento positivista. É inegável sua contribuição ao estudo científico da educação. O Pensamento Socialista A educação socialista formouse do movimento popular pela democratização do ensino. Esse movimento compartilhou da presença de intelectuais comprometidos com essa causa e com a transformação social. O conceito socialista de educação se opõe ao da burguesia. Na educação socialista essas ideias não são recentes, mas por não atender aos interesses dominantes, têm sido relegadas a um plano inferior. A república de Platão já seria a manifestação do comunismo utópico, pois ligava a educação à política. Thomas Morus (14781535) fez decididamente a crítica da sociedade egoísta e propôs em seu livro Utopia o fim da propriedade, a redução da jornada de trabalho para seis horas diárias, a educação laica e a coeducação. O francês Graco Babeuf (17601796) educou seus filhos formulando princípios da pedagogia socialista, entre eles uma escola pública e única para todos, manisfestandose, no seu Manifesto dos Plebeus, contra a educação dominante e opressora aos interesses do povo, relacionando ao seu estado de miséria. A primeira educação pública socialista foi anunciada por Marx (18181883) e Engels (18201895) e desenvolvida por Vladimir Ilich Lênin (18701924). Marx e Engels nunca realizaram uma análise sistemática da escola e da educação, pois suas ideias encontramse vinculadas ao longo de vários trabalhos. A problemática educativa foi colocada de modo APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 8 ocasional e fragmentada, mas sempre no contexto da crítica das relações sociais e das linhas para a sua modificação. No seu Manifesto do Partido Comunista, defendem uma educação pública e gratuita para todas as crianças, baseados nos seguintes princípios: a eliminação do trabalho de crianças na fábrica, a associação entre educação e produção material, a educação politécnica abrangendo três aspectos: mental, físico e técnico, adequados à idade das crianças, jovens e adultos, e da inseparabilidade da educação da política, portanto, da totalidade do social e da articulação entre o tempo livre e o tempo de trabalho, isto é, o trabalho, o estudo e o lazer. Marx defende o trabalho infantil, mas que este trabalho deva ser regulamentado, de maneira que em nada se pareça com a exploração infantil capitalista. Ele sustenta, por razões fisiológicas, que as crianças e os jovens de qualquer sexo devem dividirse em três classes, tendo cada uma delas um tratamento específico: de 9 a 12 anos, com jornada de trabalho de duas horas por dia, de 13 a 15 anos, com jornada de trabalho de quatro horas por dia; e de 15 a 17 anos, com jornada de trabalho de seis horas por dia. Já Mikhail Bakunin (18141876) propõe a luta contra o elitismo educacional da burguesia, que é imoral, e Francisco Ferrer Guardia (18591909), seguidor de Bakunin, defendia uma educação racional, laica, integral e científica, baseada nos seguintes princípios: da ciência e da razão, do desenvolvimento harmônico da inteligência e da vontade, do moral e do físico, do exemplo e da solidariedade, e da adaptação dos métodos à idade dos educandos. Ferrer é considerado um dos educadores mais importantes do pensamento pedagógico antiautoritário. Lênin atribuiu grande importância à educação no processo de transformação social. Como um dos revolucionários a assumir o controle de um governo, pôde experimentar na prática a implantação das ideias socialistas na educação. Acreditando que a educação deveria desempenhar um importante papel na construção de uma nova sociedade, afirmando que mesmo a educação burguesa que tanto criticava era melhor que a ignorância. A educação pública deveria ser política, pois o trabalho no terreno do ensino é a mesma luta para derrotar a burguesia, e ainda declaramos publicamente que a escola à margem da vida, à margem da política, é falsa e hipócrita. Exceto a Rússia, na Europa não existe nenhum país tão bárbaro, no qual as massas populares tenham sido espoliadas do ensino, da cultura, e do saber, por isso, no decreto de 26 de dezembro de 1919, obrigava todos os analfabetos de 8 a 50 anos de idade a aprender a ler e a escrever em sua língua. Nas notas escritas entre abril e maio de 1917, para a revisão do programa do partido, Lênin defendeu a anulação da obrigatoriedade de um idioma do Estado, o ensino geral e politécnico, gratuito e obrigatório até os 16 anos, a distribuição gratuita de alimentos, roupas e material escolar, a transmissão da instrução pública aos organismos democráticos da administração autônoma local, a abstenção do poder central de toda a intervenção no estabelecimento de programas escolares e na seleção do pessoal docente, a eleição direta dos professores pela própria população e o direito desta de destituir os indesejáveis, a proibição dos patrões de utilizar o trabalho das crianças até os 16 anos, a limitação da jornada de trabalho dos jovens de 16 a 20 anos a quatro horas, a proibição de que os jovens trabalhassem à noiteem empresas insalubres ou nas minas. Pistrak, um dos primeiros educadores da Revolução Russa, seguindo a filosofia de Lênin, dizia não existir prática revolucionária sem teoria revolucionária, e ainda que sem a teoria pedagógica revolucionária não existe a prática pedagógica revolucionária. Atribuía ao professor um papel de militante ativo; dos alunos esperavase que trabalhassem coletivamente e se organizassem autonomamente. Auto- organização e trabalho coletivo para superar o autoritarismo professoral da escola burguesa. Para que houvesse essa autoorganização, Pistrak procurava mostrar a importância da aprendizagem para a vida do educando e a necessidade dela para a prática de uma determinada ação. O professor seria um conselheiro. Só a assembleia dos alunos podia estabelecer punições. Os mandatos de representação dos alunos seriam curtos para possibilitar alternância. Os métodos escolares seriam ativos e vinculados ao trabalho manual, seja no trabalho agrícola, seja no trabalho industrial; o aluno tinha de se sentir participativo do progresso da produção, segundo sua capacidade física e mental. O aluno não iria à fábrica para trabalhar, mas para compreender a totalidade do trabalho. Na fábrica, dizia Pistrak, eclode toda a problemática do nosso tempo. A sua visão educacional coincidiu com o período de ascensão das massas na Revolução Russa, a qual exigia a formação de homens vinculados ao presente, inalienados, mais preocupados em criar o futuro do que em cultuar o passado, e cuja busca do bem comum superasse o individualismo e o egoísmo. Devese a Pistrak o projeto da revolução soviética no plano da educação, especialmente no nível do ensino primário e secundário. Enfatizou a necessidade de criar uma nova instituição escolar na sua estrutura e no seu espírito, suprimindo a contradição entre a necessidade de criar um novo tipo de homens e as formas da educação tradicional. Isso implicava uma profunda mudança na instituição escolar, e preferiu então optar pela criação da nova instituição no lugar da transformação da velha estrutura. A Educação da Escola Nova A Escola Nova é o movimento de renovação da educação, depois da escola pública burguesa, de maior significado. A fundamentação do ato pedagógico na ação, na atividade da criança, já se estruturava desde a escola alegre de Vitorino de Feltre (13781446), que seguia a pedagogia romântica e naturalista de Rousseau; mas só no começo do século XX que teve consequências importantes sobre os sistemas educacionais e a forma de pensar dos professores. O escolanovismo se expandiu no mundo, resultando uma renovação que valorizou a auto formação e a espontaneidade da criança. A Escola Nova propõe uma educação instigadora de mudança social e, ao mesmo tempo, uma transformação da sociedade, e a sociologia da educação e a psicologia educacional também contribuíram para essa renovação. Um dos pioneiros da Escola Nova foi Adolphe Ferrieri (18791960), educador, escritor e conferencista suíço. Ferrieri lecionou no Instituto JeanJacques Rousseau, de Genebra, e foi talvez o mais convicto divulgador da escola ativa e da educação nova na Europa. Suas ideias se basearam em concepções biológicas, transformandose depois numa filosofia espiritualista. Considerava que o impulso espiritual é a raiz da vida, e que o dever da educação seria conservar ou aumentar esse impulso. Para ele, o ideal da escola ativa é a atividade espontânea, pessoal e produtiva. Em 1899 fundou o Bureau Internacional das Escolas Novas, em Genebra, e devido à criação de inúmeras escolas novas com tendências diferentes, em 1919 o Bureau aprovou trinta itens considerados básicos para a nova pedagogia, e para uma escola se enquadrar no movimento, deveria cumprir pelo menos dois terços das exigências, ou seja, a Educação Nova seria integral, intelectual, moral e física, ativa, prática, com trabalhos manuais obrigatórios, individualizada, autônoma, campestre em regime de internato e coeducação. Ferrieri coordenou a articulação internacional da Escola Nova e, conseguiu sintetizar correntes pedagógicas distintas em suas manifestações, porém unidas na preocupação de APOSTILAS OPÇÃO Educação Brasileira 9 colocar a criança no centro das perspectivas educativas. Criticava a escola tradicional, afirmando que ela substituiu a alegria de viver pela inquietude, o regozijo pela gravidade, o movimento espontâneo pela imobilidade, as risadas pelo silêncio. John Dewey (18591952), educador norteamericano, foi o primeiro a formular o novo ideal pedagógico, afirmando que o ensino deveria darse pela ação e não pela instrução. Para ele, a educação continuamente reconstruía a experiência concreta, ativa, produtiva, de cada um. A educação de Dewey era essencialmente pragmática e instrumentalista, buscando a convivência democrática sem, porém, pôr em questão a sociedade de classes. A experiência concreta da vida se apresentava sempre diante de problemas que a educação poderia ajudar a resolver, recorrendo a uma escala de cinco estágios do ato de pensar, que ocorrem diante de algum problema, e, portanto, o problema nos faria pensar. São eles: uma necessidade sentida, a análise da dificuldade, as alternativas de solução do problema, a experimentação de várias soluções, até que o teste mental aprove uma delas, e a ação como a prova final para a solução proposta, que deve ser verificada de maneira científica. Conforme tal visão, a educação era essencialmente um processo e não um produto, um processo de reconstrução e reconstituição da experiência, um processo de melhoria permanente da eficiência individual. O objetivo da educação se encontraria no próprio processo, e o fim dela estaria nela. A educação se confundiria com o próprio processo de viver. Aumentar o rendimento da criança, seguindo os próprios interesses vitais dela. Essa rentabilidade serviria aos interesses da nova sociedade burguesa, ou seja, a escola deveria preparar os jovens para o trabalho, para a atividade prática e para o exercício da competição. Nesse sentido, a Escola Nova acompanhou o desenvolvimento e o progresso capitalistas, representou uma exigência desse desenvolvimento, propôs a construção de um homem novo dentro do projeto burguês de sociedade, porém poucos foram os pedagogos escolanovistas que ultrapassaram o pensamento burguês para evidenciar a exploração do trabalho e a dominação política, próprias da sociedade de classes. Só o aluno poderia ser autor de sua própria experiência, daí o paidocentrismo, ou seja, o aluno como centro na Escola Nova. Essa atitude necessitava de métodos ativos e criativos também centrados no aluno. Assim, os métodos de ensino significaram o maior avanço da Escola Nova. Muitas foram as contribuições neste sentido, por exemplo, o método dos projetos, de Willian Heard Kilpatrick (1871- 1965), é centrado numa atividade prática dos alunos, cujos projetos poderiam ser manuais, como uma construção; de descoberta, como uma excursão; de competição, como um jogo; de comunicação, como a narração de um conto, etc. Esse projeto passaria por algumas etapas, como designar o fim, preparar o projeto, executáIo apreciando o seu resultado. Discípulo de Dewey, Kilpatrick preocupavase, com a formação do homem para a democracia e para uma sociedade em constante mutação. Para ele, a educação baseiase na vida para tornáIa melhor, ou seja, a educação é a reconstrução da vida em etapas cada vez mais elaboradas. E a base da educação está na atividade, ou melhor, na auto atividade decidida. A pedagogia norteamericana recorreu ao método de projetos sistematizados para globalizar o ensino a partir de atividades manuais. Classificavamse os projetos em quatro grupos: de produção, de consumo, de
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