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Ponto 15

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PROVA ORAL MAGISTRATURA FEDERAL – TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 2ª REGIÃO
PONTO 15
CONSTITUCIONAL - Defesa do Estado e das Instituições Democráticas. Estado de Defesa. Estado de Sítio. Forças Armadas. Segurança Pública.
Felipe Potrich
Atualização posterior em 09/01/2015, em azul
1. DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS
Fundamento: a fim de evitar a restrição arbitrária de direitos pelos governantes em momentos de crise, a Constituição deve consagrar os meios necessários, adequados e proporcionais para o restabelecimento da normalidade em situações de extrema gravidade institucional (“constitucionalização das circunstâncias excepcionais”).
O sistema constitucional de crises deve ser informado por dois critérios: necessidade e temporariedade.
A necessidade se caracteriza pela ocorrência de situações de extrema gravidade que demandem a adoção de medidas excepcionais para a manutenção da estabilidade da ordem constitucional e das instituições democráticas. A temporariedade impõe um prazo determinado para a duração do estado de legalidade extraordinária, o qual só pode perdurar legitimamente enquanto houver a situação emergencial.
Os aludidos princípios determinam que: a) os meios de resposta tenham sua executoriedade restrita e vinculada a cada anormalidade em particular e, ainda, ao lugar e tempo específicos; b) o poder de fiscalização política dos atos de exceção seja atribuído ao poder legislativo; c) haja possibilidade de controle judicial, que deverá ser realizado a tempore e a posteriori. 
1.1. Estado de Defesa: compreende uma série de medidas temporárias destinadas a preservar ou restabelecer, em uma área restrita e determinada, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por fatores políticos, sociais ou por fenômenos da natureza de grandes proporções (CF, art. 136). Referido instituto tem caráter preventivo e regional. A medida é privativa do Presidente da República (art. 84, IX).
Pressupostos (art. 136):
1) Materiais: a) grave e iminente instabilidade institucional que ameace a ordem pública ou a paz social; b) calamidade de grandes proporções na natureza que atinja a ordem pública ou a paz social;
2) Formais:
a) prévia manifestação dos Conselhos da República e de Defesa Nacional (obrigatória, mas não vinculante);
b) decretação pelo Presidente da República;
c) prazo de duração, não superior a 30 dias, admitida uma única prorrogação;
c) especificação das áreas abrangidas; e
d) indicação das medidas coercitivas, dentre as arroladas no art. 136, §1º.
Efeitos:
CF autoriza as seguintes medidas:
a) restrição aos direitos de: i) reunião; ii) sigilo de correspondência; iii) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica.
b) ocupação e o uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública. Obs: Carvalho Filho entende que a ocupação temporária designada pelo art .136, II, da CF configura, na verdade, hipótese de requisição, pois presente o estado de perigo público).
c) prisão por crime contra o Estado ou por outros motivos, por período não superior a dez dias, salvo autorização do Judiciário para período maior. 
Controle:
Dois tipos de controle: político e jurisdicional.
Político: 
I – concomitante: cabe ao Congresso Nacional decidir, por maioria absoluta, acerca da decretação do estado de defesa ou de sua prorrogação (CF, art. 136, § 4.°); e, ainda, as medidas referentes ao estado de defesa serão acompanhadas e fiscalizadas por uma Comissão composta por cinco membros da Mesa do Congresso Nacional (CF, art. 140);
II – posterior: cessado o estado de defesa, o Presidente da República enviará mensagem ao Congresso Nacional, especificando e justificando as providências adotadas (CF, art. 141, parágrafo único). Se o Congresso recusá-las, restará caracterizado algum crime de responsabilidade do Presidente, especialmente o atentado a direitos individuais (CF, art. 141).
Judicial:
I – concomitante: havendo prisão por crime contra o Estado, o executor da medida deverá comunicá-la ao juiz competente, mencionando o estado físico e mental do detido no momento de sua autuação, sendo vedada a sua incomunicabilidade. Caso a autoridade judicial considere a prisão ilegal ou verifique ser superior a dez dias, sem autorização do Poder Judiciário, deverá determinar seu relaxamento (CF, art. 136, § 3.°, I a III)
II – posterior: cessado o estado de defesa, seus executores ou agentes poderão ser responsabilizados caso tenham cometido algum tipo de ilicitude (CF, art. 141)
Segundo Alexandre de Moraes, será possível ao Poder Judiciário reprimir eventuais abusos e ilegalidades cometidas durante a execução das medidas do estado de defesa, inclusive por meio de mandado de segurança e habeas corpus, pois a excepcionalidade da medida não possibilita a total supressão dos direitos e garantias individuais e tampouco configura um salvo-conduto aos agentes políticos para total desrespeito à Constituição e às leis. Em relação, porém, à análise do mérito discricionário do Poder Executivo, a doutrina entende impossível, por parte do Poder Judiciário, a análise da conveniência e oportunidade política para a decretação. 
Síntese do Estado de Defesa: Competência do Presidente, após ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional; preservar ou restabelecer a ordem pública e a paz social; locais restritos e determinados; instabilidade institucional ou calamidade; prazo de duração de 30 dias, prorrogável uma vez por igual período; decreto ou prorrogação do estado de defesa é submetida ao Congresso Nacional, que decidirá por maioria absoluta se o mantém ou rejeita; possíveis restrições aos direitos de reunião, sigilo de correspondência, sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; ocupação e uso temporário (requisição) de bens e serviços nos casos de calamidade pública, com responsabilidade da União pelos danos e custos decorrentes; prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida e comunicada ao juiz competente, não podendo ser superior a 10 dias salvo autorização judicial, sendo vedada a incomunicabilidade do preso.
1.2. Estado de Sítio: medidas de maior gravidade do que o Estado de defesa. No estado de sítio o Presidente da República deve obrigatoriamente solicitar autorização do Congresso Nacional. 
Pressupostos:
1) Materiais:
a) comoção grave de repercussão nacional;
b) ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia das medidas tomadas durante o estado de defesa;
b) declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira;
2) Formais:
a) audiência dos Conselhos da República e de Defesa Nacional (obrigatória, mas não vinculante);
b) autorização por maioria absoluta do Congresso Nacional, em atendimento a solicitação fundamentada do Presidente da República;
c) decreto do presidente da República, estabelecendo a duração da exceção (não superior a 30 dias, prorrogável por igual período, mais de uma vez), as medidas necessárias e as garantias constitucionais que ficarão suspensas.
Prazo de 30 dias e guerra: na hipótese de guerra a medida perdurará enquanto for necessária, não havendo limitação temporal.
Efeitos:
CF autoriza as seguintes medidas para comoção grave de repercussão nacional ou para o caso de ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa:
I – obrigação de permanência em localidade determinada
II – detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;
III – restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei. Não se inclui, nesta hipótese, a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa (CF, art. 139, parágrafo único);
IV – suspensão da liberdade de reunião;
V – busca e apreensão em domicílio;
VI – intervenção nas empresas de serviços públicos; e,
VII – requisição de bens.
Declaração de estado de guerraou resposta a agressão armada estrangeira: a Constituição não elenca quais medidas coercitivas poderão ser adotadas, deixando em aberto o rol de garantias constitucionais passíveis de serem suspensas. Isso não significa, no entanto, a possibilidade de uma suspensão aleatória e irrestrita dessas garantias, o que seria incompatível com os princípios constitucionais, em especial, o princípio da proporcionalidade. Caso sejam adotadas medidas inadequadas, desnecessárias ou desproporcionais os mecanismos de controle político ou jurisdicional poderão ser acionados.
Controle:
Político: a) prévio, já que a decretação depende de prévia autorização do Congresso; b) concomitante: a Mesa do Congresso, ouvidos os líderes partidários, designará comissão composta por cinco de seus membros para fiscalizar e acompanhar a execução das medidas; c) sucessivo: cessado o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente, em mensagem ao Congresso, com especificação e justificação dessas providências. 
Judicial: a) concomitantemente à execução do estado de sítio, caso seja cometida alguma arbitrariedade por seus agentes e executores; b) posteriormente à sua cessação, no caso de responsabilização destes por eventuais ilícitos cometidos.
Síntese Estado de Sítio: Presidente, depois de ouvidos os Conselhos da República e da Defesa Nacional, deve solicitar autorização do Congresso para decretar ou prorrogar estado de sítio, e o Legislativo delibera por maioria absoluta; pode ser decretado nos casos de comoção grave de repercussão nacional ou ineficácia das medidas tomadas no estado de defesa (prazo de 30 dias, podendo ser prorrogável por igual prazo, tantas vezes quanto for necessário; restrição de direitos mais ampla do que no estado de defesa, mas limitada às hipóteses do art. 139 da CF), bem como nos casos de declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira (prazo indeterminado, ou seja, vigora enquanto perdurar a guerra ou agressão armada).
QUADRO COMPARATIVO ESTADO DE DEFESA E ESTADO DE SÍTIO 
	
	ESTADO DE DEFESA
	ESTADO DE SÍTIO
	ESTADO DE SÍTIO
	Previsão legal
	Art. 136, caput
	Art, 137, I
	Art. 137, II
	Hipóteses
	Ordem pública ou paz social ameaçada
Instabilidade institucional
Calamidade natural
	Comoção nacional
Ineficácia do Estado de Defesa
	Declaração de guerra
Resposta à agressão armada estrangeira
	Atribuição para decretação
	Presidente da República (art. 84, IX, CR/88)
	Presidente da República (art. 84, IX, CR/88)
	Presidente da República (art. 84, IX, CR/88)
	Procedimento
	Presidente verifica a hipótese legal, solicita pareceres dos Conselhos da República (art. 89) e de Defesa Nacional (art. 91). Com os pareceres decidirá se decreta ou não o Estado de Defesa
	Presidente verifica a hipótese legal, solicita pareceres dos Conselhos da República (art. 89) e de Defesa Nacional (art. 91). Com os pareceres, solicita ao Congresso Nacional autorização para decretação do Estado de Sítio, expondo os motivos determinantes do pedido. O Congresso Nacional somente poderá autorizar por maioria absoluta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Com a autorização, o Presidente poderá decretar o Estado de Sítio.
	IDEM AO PROCEDIMENTO DE DECRETAÇÃO DO ESTADO DE SÍTIO ANTERIOR.
	Prazo 
	Máximo de 30 dias, prorrogável por mais 30 dias uma única vez.
	Máximo de 30 dias, prorrogado por mais 30 dias, de cada vez.
	O tempo necessário da guerra ou para repelir a agressão armada estrangeira.
	Áreas abrangidas
	Locais restritos e determinados (art. 136).
	Âmbito nacional. Após o Decreto, o Presidente especificará as medidas específicas e as áreas abrangidas (art. 138, caput) 
	IDEM AO PROCEDIMENTO DE DECRETAÇÃO DE ESTADO DE SÍTIO ANTERIOR.
	Restrições a direitos e garantias individuais
	Poderão ser restringidos os direitos do art. 5º, XII (sigilo de correspondência e de comunicações telegráficas e telefônicas), XVI (direito de reunião) e LXI (exigibilidade de prisão somente em flagrante delito ou por ordem da autoridade judicial competente)
	Poderão ser restringidos do art. 5º, XI (inviolabilidade domiciliar), XII (sigilo de correspondência e de comunicações telegráficas e telefônicas), XVI (direito de reunião), XXV (direito de propriedade) LXI (exigibilidade de prisão somente em flagrante delito ou por ordem da autoridade judicial competente) e também o art. 220 (liberdade de manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação)
	Poderão ser atingidos, em tese, todas as garantias constitucionais -observadas as restrições adiante expostas constantes no Pacto de Direitos Civis e Políticos e na Convenção Americana de Direitos Humanos -, e desde que presentes três requisitos constitucionais:
Necessidade de efetivação da medida;
Tenham sido objeto de deliberação por parte do Congresso Nacional no momento de autorização da medida;
Devem estar expressamente previstos no Decreto presidencial.
	Controle político sobre a decretação
	Posterior. Decretado o Estado de Defesa ou sua prorrogação, o Presidente da República, dentro de 24 horas, submeterá o ato com a respectiva justificativa ao Congresso Nacional, que somente aprovará a decretação por maioria absoluta de ambas as Casas Legislativas editando o respectivo Decreto Legislativo. 
	Prévio. O controle do Congresso Nacional é prévio, vez que há necessidade de autorização para que o Presidente o decrete. 
	IDEM AO ESTADO DE SÍTIO ANTERIOR. 
	Fiscalização política sobre as medidas
	A mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao Estado de Defesa e ao Estado de Sítio.
	IDEM 
	IDEM
	Atividade parlamentar
	O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento até o término das medidas coercitivas. Em hipótese alguma permite-se o constrangimento do Poder Legislativo, sob pena de crime de responsabilidade (art. 85, III)
	IDEM. Além disso, no Estado de Sítio não se incluirá a possibilidade de restrição à liberdade de informação, a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva mesa.
	IDEM AO ESTADO DE SÍTO ANTERIOR. 
	Responsabilidade 
	Cessado o Estado de Defesa ou o Estado de Sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes. 
	IDEM
	IDEM
	Prestação de contas
	Cessada a situação excepcional, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências adotadas, com relação nominal dos atingidos, bem como a indicação das restrições aplicadas.
	IDEM
	IDEM
	Desrespeito dos requisitos e pressupostos constitucionais por parte do Presidente da República
	Crime de responsabilidade sem prejuízo das responsabilidades civis e criminais. 
	IDEM
	IDEM
Aplicação de Atos Internacionais de Direitos Humanos: embora não previsto expressamente na CF, tem, em tese, aplicabilidade, na hipótese de decretação de Estado de Sítio, notadamente por motivo de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira, as garantias previstas no Pacto de Direitos Civis e Políticos, art. 4, I, e da Convenção Americana de Direitos Humanos( Pacto de São José da Costa Rica),, art. 27, 1 e 2. 
Isso porque dispõe o §2º do art. 5º da CF que os direitos e garantias expressos na Constituição “não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Extrai-se do Pacto de Direitos Civis e Políticos:
    ARTIGO 4
Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente, os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações decorrentes do presente Pacto, desde que tais medidasnão sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhes sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social.
Por sua vez, dispõe o art. 27, I, 1 e 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos:
Artigo 27 - Suspensão de garantias
1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos. 
Casuística:
Requisição de bens do Estado pela União: "Constitucional. Administrativo. Mandado de segurança. Município do Rio de Janeiro. União Federal. Decretação de estado de calamidade pública no sistema único de saúde no Município do Rio de Janeiro. Requisição de bens e serviços municipais. Decreto 5.392/2005 do Presidente da República. Mandado de segurança deferido. Mandado de segurança, impetrado pelo Município, em que se impugna o art. 2º, V e VI (requisição dos hospitais municipais Souza Aguiar e Miguel Couto) e § 1º e § 2º (delegação ao Ministro de Estado da Saúde da competência para requisição de outros serviços de saúde e recursos financeiros afetos à gestão de serviços e ações relacionados aos hospitais requisitados) do Decreto 5.392/2005, do Presidente da República. Ordem deferida, por unanimidade. Fundamentos predominantes: (i) a requisição de bens e serviços do município do Rio de Janeiro, já afetados à prestação de serviços de saúde, não tem amparo no inciso XIII do art. 15 da Lei 8.080/1990, a despeito da invocação desse dispositivo no ato atacado; (ii) nesse sentido, as determinações impugnadas do decreto presidencial configuram-se efetiva intervenção da União no município, vedada pela Constituição; (iii) inadmissibilidade da requisição de bens municipais pela União em situação de normalidade institucional, sem a decretação de Estado de Defesa ou Estado de Sítio." (MS 25.295)
2. DAS FORÇAS ARMADAS
Definição Constitucional: são instituições de caráter permanente, compostas pela Marinha, Exército e Aeronáutica, que têm como autoridade suprema o Presidente da República e como finalidade a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. A defesa da lei e da ordem é subsidiária, uma vez que isso é da competência primária das forças de segurança pública, e depende de convocação dos legítimos representantes de qualquer dos poderes federais (Presidente da Mesa do Congresso Nacional, Presidente da República, Presidente do STF).
Não podem ser dissolvidas, salvo por decisão de Assembléia Nacional Constituinte. São organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República. Normas gerais devem ser dispostas em lei complementar.
A fixação e a modificação dos efetivos das Forças armadas dependem de lei de iniciativa do Presidente da República (art. 61, § 1º, I, CR/88), já que a atual Carta não adotou o princípio da periodicidade, como o fez a de 1824, 1934 e 1946. Em tempo de guerra, não se cuidará propriamente de efetivos, mas de mobilização nacional. 
Punições Disciplinares: a Constituição veda o cabimento de habeas corpus em relação a punições disciplinares militares (CF, art. 142, § 2.°). Esta vedação, no entanto, deve ser interpretada com temperamentos, por ser cabível a impetração quando o questionamento estiver relacionado à análise da legalidade da punição disciplinar, ou seja, quando se tratar de questões como incompetência da autoridade, falta de previsão legal para a punição, inobservância das formalidades legais ou excesso de prazo de duração da medida restritiva da liberdade. Portanto, a restrição constitucional se aplica exclusivamente ao mérito do ato, sendo cabível o writ constitucional para aferição dos aspectos formais. (RE 338.840)
Regime jurídico dos membros das Forças Armadas: 
- as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da República;
- posse em cargo ou emprego público civil: duas situações poderão ocorrer - se o vínculo for permanente, o militar será transferido para a reserva, salvo se, exercendo cargo militar de profissional da saúde – com profissão regulamentada -, venha, também, a exercer cargo, emprego ou função pública com as mesmas característica, porém, de natureza civil, hipótese em que será permitido ao militar a cumulação (EC 77/2014); se temporário, ficará agregado ao respectivo quadro, sendo, depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva (vale a mesma ressalva).
- posse em função eletiva: devem ser observadas as seguintes regras: I) se contar menos de dez anos de serviço, o militar deverá afastar-se da atividade; II) se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade (CF, art. 14, § 8.°).
- sindicalização e greve: proibidas ao militar;
- filiação partidária: o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos políticos;
- perda do posto e da patente: o oficial só perderá o posto e a patente ser for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra; o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença judicial transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso anterior (será submetido a processo visando à declaração de indignidade para o oficialato);
- aplicação de normas dos trabalhadores urbanos e dos servidores públicos: aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII (décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria), XII (salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei), XVII (gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal), XVIII (licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias), XIX (licença-paternidade, nos termos fixados em lei;) e XXV (assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas) e no art. 37, incisos XI (teto dos servidores públicos), XIII (é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público), XIV (os acréscimos pecuniários percebidos por servidor público não serão computados nem acumulados para fins de concessão de acréscimos ulteriores) e XV (irredutibilidade dos vencimentos); e 37 XVI, c, (possibilidade de acumulação de dois cargos de profissional da saúde com profissão regulamentada) (EC 77/2014).
- aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica do respectivo ente estatal;
- regulamentação por lei: a lei disporá sobre o ingresso nas forças armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a inatividade,os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações especiais dos militares, consideras as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos internacionais e de guerra. Súmula Vinculante 6: “não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial” . “I - A Constituição Federal não estendeu aos militares a garantia de remuneração não inferior ao salário mínimo, como o fez para outras categorias de trabalhadores. II - O regime a que submetem os militares não se confunde com aquele aplicável aos servidores civis, visto que têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos próprios. III - Os cidadãos que prestam serviço militar obrigatório exercem um múnus público relacionado com a defesa da soberania da pátria. IV - A obrigação do Estado quanto aos conscritos limita-se a fornecer-lhes as condições materiais para a adequada prestação do serviço militar obrigatório nas Forças Armadas (...)." (RE 570177, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, julgamento em 30.4.2008, DJe de 27.6.2008)
Serviço militar obrigatório: cidadãos recrutados para o serviço militar obrigatório exercem um verdadeiro múnus público, sujeitando-se, portanto, a um regime funcional peculiar. A Constituição vigente manteve o princípio da obrigatoriedade do serviço militar, admitida a escusa de consciência, desde que cumprida a prestação alternativa, sob pena de perda dos direitos políticos. A Lei 8.239/1991 estabelece como serviço alternativo o “exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar” (art. 3.°, § 2.°). 
3. DA SEGURANÇA PÚBLICA
Enquanto a Segurança Nacional refere-se às condições básicas de defesa do Estado, a Segurança Pública trata da manutenção da ordem pública interna, buscando desenvolver atividades de vigilância, prevenção e repressão de condutas delituosas. A segurança pública é de competência e responsabilidade de cada unidade da federação, tendo em vista as peculiaridades regionais e o fortalecimento do princípio federativo. Afastadas as áreas de atribuição das polícias da União (polícia federal, polícia rodoviária federal e policia ferroviária federal), o remanescente é de atribuição da organização policial dos Estados, que se não cumprida poderá dar ensejo à intervenção federal.
A União tem competência para fixar normas gerais sobre polícias militares e civis (arts. 22, XXI, e 24, XVI, CF).
A atividade de segurança pública deverá ser custeada exclusivamente com recursos provenientes de impostos e não por taxas, já que se trata de dever do Estado e direito de todos. Nesse sentido o seguinte julgado do STF:
“Em face do art. 144, caput, V e § 5º, da Constituição, sendo a segurança pública, dever do Estado e direito de todos, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através, entre outras, da Polícia Militar, essa atividade do Estado só pode ser sustentada pelos impostos, e não por taxa, se for solicitada por particular para a sua segurança ou para a de terceiros, a título preventivo, ainda quando essa necessidade decorra de evento aberto ao público. Ademais, o fato gerador da taxa em questão não caracteriza sequer taxa em razão do exercício do poder de polícia, mas taxa pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, o que, em exame compatível com pedido de liminar, não é admissível em se tratando de segurança pública.” (ADI 1.942-MC, Rel. Min. Moreira Alves, julgamento em 5-5-1999, Plenário, DJ de 22-10-1999.)
Tanto a União quanto os Estados possuem suas polícias, que são órgãos permanentes estruturados em carreiras (atividades típicas de Estado).
De acordo com o art. 144, § 9º, da CR/88, os servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados no referido artigo serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única.
Polícia ostensiva: age preventivamente na manutenção da ordem pública. É exercida pela polícia federal, rodoviária federal, ferroviária federal, polícia militar e corpo de bombeiros militar.
Polícia judiciária: atua repressivamente, apurando a materialidade e a autoria da prática criminosa. Exercida pela polícia federal e polícia civil.
Polícia civil e Direito de greve: há controvérsia na doutrina sobre a legitimidade de exercício do direito de greve por policiais civis. Ives Gandra: a vedação é princípio implícito para todas as forças de segurança. Marcus Orione Correia: não há diferença entre serviços públicos de saúde, educação ou segurança, de modo que a todos assiste o direito de greve; às Forças Armadas aplica-se a vedação por serem as únicas incumbidas da defesa da soberania nacional. STF: direito de greve não se aplica aos policiais civis. Existem serviços públicos nos quais a coesão social exige a prestação em sua totalidade, especialmente os desenvolvidos por grupos armados. Para este efeito, os serviços prestados pela polícia civil ocupam posição análoga à dos militares, em relações aos quais a Constituição proíbe a greve (CF, art. 142, § 3.°, IV). Com base neste entendimento, o Ministro considerou que o direito de greve não se aplica aos policiais civis (Rcl. 6.568, 21/05/2009)
Entendimento reafirmado em 2017: O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).
É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria. STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860)
Polícias da União:
1) Polícia Federal - Destina-se a apurar infrações penais contra a ordem política e social (não contra a ordem pública!) ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei.
A Lei nº 10.446/2002 regulamentou o art. 144, § 1º, I, da CR/88 nos seguintes termos: 
“O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais:
I – seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
II – formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990); e
III – relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e
IV – furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação.
Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência sejaautorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça.
V- falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal).(Redação determinada pela Lei n. 12.894/2013)
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 8 de maio de 2002; 181o da Independência e 114o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Miguel Reale Júnior”
Também compete à PF prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras e exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. A PF ainda é responsável pela investigação dos crimes eleitorais, os quais, entretanto, são investigados supletivamente pelas policias civis dos estados quando no município local do delito não houver Delegacia da Polícia Federal. 
ATENÇÃO: As atribuições da Polícia Federal não coincidem necessariamente com a competência da Justiça Federal. A PF investiga muitas vezes delitos de competência estadual. 
2) Polícia Rodoviária Federal: Destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais. 
3) Polícia Ferroviária Federal: Destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
 Polícias dos Estados:
1) Polícias Civis: Possuem a incumbência de exercer a função de polícia judiciária e apurar as infrações penais, exceto as militares e ressalvada a competência da União. No Distrito Federal a Polícia Civil é mantida pela União. As polícias civis são dirigidas por Delegados de Polícia de carreira. Mas atenção, pois o Comando da Polícia Civil do DF não é do Presidente da República, mas sim do Governador do Distrito Federal.
Obs: Informativo 857 do STF: É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que preveja que o chefe da Polícia Civil seja alguém que não integre a carreira. Essa pessoa deverá ser obrigatoriamente um Delegado de Polícia de carreira (art. 144, §4°, CF). Todavia, não é necessário que seja integrante da classe final da carreira. STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/11/2016
2) Polícias Militares e Corpo de Bombeiros: As polícias militarizadas dos Estados, bem como o Corpo de Bombeiros, são consideradas forças auxiliares e reservas do Exército e se subordinam, juntamente com as Polícias Civis, aos Governadores dos Estados e do DF. No caso do DF, embora a União seja responsável pela manutenção das forças de segurança, a subordinação, entretanto, ocorre com o Governador do DF. 
De acordo com o art. 144, § 8º, “Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.” No entanto, cumpre observar que as atividades das Guardas Municipais não compreendem o policiamento ostensivo, cuja competência é exclusiva da Polícia Militar.
Obs: Informativo 802 do STF: EMENTA:DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PODER DE POLÍCIA. IMPOSIÇÃO DE MULTA DE TRÂNSITO. GUARDA MUNICIPAL. CONSTITUCIONALIDADE. 1. Poder de polícia não se confunde com segurança pública. O exercício do primeiro não é prerrogativa exclusiva das entidades policiais, a quem a Constituição outorgou, com exclusividade, no art. 144, apenas as funções de promoção da segurança pública. 2. A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas legalmente previstas, embora possa se dar ostensivamente, constitui mero exercício de poder de polícia, não havendo, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não policiais. 3. O Código de Trânsito Brasileiro, observando os parâmetros constitucionais, estabeleceu a competência comum dos entes da federação para o exercício da fiscalização de trânsito. 4. Dentro de sua esfera de atuação, delimitada pelo CTB, os Municípios podem determinar que o poder de polícia que lhe compete seja exercido pela guarda municipal. 5. O art. 144, §8º, da CF, não impede que a guarda municipal exerça funções adicionais à de proteção dos bens, serviços e instalações do Município. Até mesmo instituições policiais podem cumular funções típicas de segurança pública com exercício de poder de polícia. Entendimento que não foi alterado pelo advento da EC nº 82/2014. 6. Desprovimento do recurso extraordinário e fixação, em repercussão geral, da seguinte tese: é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício de poder de polícia de trânsito, inclusive para imposição de sanções administrativas legalmente previstas.STF. Plenário. RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 6/8/2015 (Info 793).
participação de outros órgãos na execução de políticas de segurança
a participação das forças armadas na segurança pública
Hipóteses apontadas em que seria possível a participação das forças armadas:
	
a) estado de defesa, estado de sítio e intervenção federal; 
-previsão no texto constitucional.
-hipóteses excepcionais em que haverá controle por parte do Legislativo e Judiciário.
	
b) realização de investigações criminais no âmbito do inquérito policial militar; 
-previsão no art. 7o e 8o, b do CPPM
	
c) execução de operações de polciamento ostensivo em contextos em que predomine o interesse nacional; 
-previsão no art. 5o do Decreto 3897/2001
-ex.: visitas de chefes estrangeiros;
	
d) realização de policiamento ostensivo por solicitação do governador do estado quando os meios disponíveis na esfera estadual se mostrem insuficientes;
-previsão art. 15, p. 2o, LC 97/99
-o autor defende a inconstitucionalidade dessa hipótese (caracterizaria restrição na autonomia estadual).
-ex.: greve de policiais militares; 
O emprego das Forças Armadas na segurança pública deve ser evitado também para permitir que se concentrem na sua principal destinação constitucional, que é a defesa da soberania territorial do Brasil. Convertê-la em polícia é o caminho mais curto para que isso deixe de ocorrer.
SEGURANÇA VIÁRIA
EC 82/2014: acrescentou o §10º ao art. 144 da Constituição, estabelecendo acerca da “segurança viária”. Contudo, não houve inclusão desta como órgão de segurança pública.
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: 
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.  
Não há confundir as atribuições dos órgãos de segurança viária com aquelas exercidas pelas polícias rodoviárias Estaduais e Federal, pois a fiscalização destas é mais abrangente. Relaciona-se à segurança no trânsito e, ainda, à prevenção e repressão de infrações penais diversas (tais como roubo de carga, tráfico de drogas, contrabando etc...) - tarefa que não é atribuição da segurança viária em questão. 
O MINISTÉRIO PÚBLICO
Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, tem o Ministério Público poder para investigar infrações penais (poderes atribuídos expressamente às polícias Civil e Federal). Em síntese, para o STF, o Código de Processo Penal, em seu art. 4º, parágrafo único, dispõe que a apuração das infrações penais não exclui a competência de autoridades administrativas, a quem por lei seja conferida a mesma função investigatória. 
Nesse passo, se órgãos administrativos podem realizar investigações destinadas a averiguar a existência de infrações - algumas das quais consideradas crimes pela lei penal -, tais como a Receita Federal, o Banco Central e o COAF, com maior razão poderia fazê-lo o Ministério Público,titular privativo da ação penal pública.
É de se destacar, que o exercício de investigações pelo Ministério Público não inibe o exercício das competências das Polícias Civil e Federal. Há de se harmonizar as normas do art. 144 e 129 da CF. 
Demais disso, à luz do Código de Processo Penal, o Inquérito Policial é dispensável, podendo o Parquet ajuizar a ação penal sem este. Nesse contexto, no que tange à matéria em questão, o princípio hermenêutico dos Poderes Implícitos, por meio do qual, quando se atribui a algum órgão o exercício de determinada competência, também a ele se confere os meios necessários para esse exercício (quem dá o “meio”, dá o “fim”). Desta forma, sendo sabido caber ao Parquet promover, privativamente, a ação penal pública (competência constitucional), também lhe será lícito colher, por iniciativa própria, as provas destinadas a instruí-la (meios necessários). 
Não poderá, no entanto, o Ministério Público, a pretexto de realizar o controle externo da atividade policial, assumir a presidência de inquérito policial, atividade privativa de delegados de polícia. 
COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
As CPIs, conforme artigo 58, §3º, da CF, possuem poderes investigatório próprios das autoridades judiciais. Como não existe juiz-investigador no ordenamento pátrio, tem-se que cabe a tais Comissões apurar fatos certos, inclusive criminosos, exercendo poderes instrutórios que os magistrados possuem na fase da instrução processual penal , ressalvadas as medidas amparadas pela cláusula de reserva jurisdicional (decretação de prisões – salvo em flagrante-, autorização para interceptação telefônica, busca domiciliar etc...). 
Assim, poderão as CPIs, uma vez instauradas na forma prevista na Constituição: decretar prisão em flagrante; decretar a quebra de sigilo bancário e fiscal, bem como de dados telefônicos; determinar condução coercitiva de testemunha; ordenar realização de perícias e acareações etc...
a força nacional de segurança
-criado pelo Decreto 5.289/04, de constitucionalidade duvidosa. Supostamente regulamentaria a Lei 10.201/01, que institui o Fundo Nacional de Segurança Pública, mas na verdade a autorização para a criação da Força Nacional de Segurança somente ocorreu com a MP 345/07, convertida na Lei 11.473/07.
-a interpretação do art. 144 da CF como rol taxativo, defendida pelo STF, não contribui para esse tipo de arranjo cooperativo e deve, pelo menos no tocante a esse ponto, ser superada. Superados os vícios formais, da Força Nacional de Segurança pode representar uma importante inovação institucional cooperativas entre os entes federativos (federalismo cooperativo).
- TRF1 - a FNSP é constitucional, pois tem natureza de instrumento de cooperação (convênios e consórcios), não se configurando novo órgão de segurança pública:
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORÇA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA - FNSP. PROGRAMA DE COOPERAÇÃO FEDERATIVA. CRIAÇÃO PELO DECRETO Nº 5.289/2004. PORTARIAS EXPEDIDAS PELO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA QUE AUTORIZAM O EMPREGO DA FNSP NOS ESTADOS-MEMBROS. ILEGALIDADE NÃO CONFIGURADA. SENTENÇA MANTIDA. I - A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (art. 144 da Constituição Federal), constando do art. 241 do diploma constitucional que União, Estados, Distrito Federal e Municípios disciplinarão os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados. II - A Força Nacional de Segurança Pública - FNSP não constitui órgão autônomo de segurança pública, mas apenas instrumento de cooperação para auxiliar Estados-membros, por meio de ato formal de adesão, voluntário, a preservar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, de modo que não há que se falar em violação ao art. 144 da Constituição Federal. III - O só fato de a FNSP se destinar a garantir a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio não justifica a situação excepcional de intervenção da União nos Estados e no Distrito Federal, devendo ser observado, sempre que possível, o pacto federativo. IV - A ausência de previsão quanto à proibição de prorrogação do prazo inicialmente previsto para a atuação da FNSP afasta a alegação de inobservância da regra de que o programa de cooperação federativa, além do que o simples pedido de dilação do lapso de tempo inicialmente previsto não afasta seu caráter de ação episódica e planejada, desde que demonstrada a indispensável necessidade. V - Recurso de apelação do Ministério Público Federal ao qual se nega provimento. (AC 0000685-64.2009.4.01.3900 / PA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JIRAIR ARAM MEGUERIAN, SEXTA TURMA, e-DJF1 p.328 de 11/03/2013)
TRIBUTÁRIO: Obrigação Tributária. Conceito. Espécies. Nascimento. Extinção. Sujeitos. Capacidade. Domicílio. Responsabilidade Tributária.
Wellington Lopes da Silva - wton.lopes@yahoo.com
* Adotado, como base, o resumo TRF1/2014.
15.2.1. Obrigação tributária: conceito, espécies
Conceito
A obrigação, no direito tributário, tem a mesma conceituação do direito obrigacional comum, particularizando-se quanto ao objeto, que será sempre uma prestação de natureza tributária (Luciano Amaro). Assim, pode-se conceituar obrigação tributária como a relação jurídica (vínculo abstrato) que se forma entre um sujeito passivo e um sujeito ativo tributários, pelo qual o primeiro deve ao último uma prestação positiva ou negativa. Ricardo Alexandre leciona que, em direito tributário, a obrigação pode assumir as três formas previstas pelos civilistas: dar (pagar tributo ou multa); fazer (escriturar livros fiscais, entregar declarações etc); não fazer (não rasurar a escrituração fiscal, não receber mercadorias sem documentos fiscais etc). Adverte que, no direito tributário, como no direito privado, existem diversas modalidades de obrigações de fazer ou de não fazer sem qualquer conteúdo patrimonial economicamente apreciável, caracterizadas como um dever burocrático, como, por exemplo, a obrigação de não embaraçar a fiscalização.
Espécies
Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente.
§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos.
§ 3º. A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária. 
a) Obrigação principal. É obrigação de dar (dinheiro), decorre de lei e tem por objeto o pagamento do tributo ou penalidade (natureza patrimonial). 
b) Obrigação acessória. É obrigação de fazer ou não fazer, decorre da legislação tributária e tem por objeto prestações, positivas ou negativas, de interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos (entregar declaração, escriturar livro, emitir nova fiscal etc). O descumprimento da obrigação acessória é fato gerador da obrigação principal (“converte-se em obrigação principal”), relativamente à penalidade pecuniária que passa a ser devida. Paulo de Barros Carvalho critica a expressão obrigação acessória, porque nem sempre ela revela uma relação de acessoriedade com uma obrigação principal, nem sempre detém conteúdo patrimonial. Figure-se o caso de uma entidade imune ao IR, a qual, não obstante, continua obrigada à apresentação de declaração (tem “obrigação acessória”, sem ter a principal). Considera mais adequada, por isso, a expressão “dever instrumental”.
15.2.2. Obrigação tributária: nascimento e extinção
Fato gerador é entendido em dois sentidos: i) o primeiro, como uma descrição abstrata e hipotética de um fato necessário e suficiente para dar nascimento a uma obrigação tributária (hipótese de incidência); ii) o próprio fato concreto,ocorrido no mundo real, fenomênico, que efetivamente faz nascer a obrigação tributária (fato imponível ou fato jurídico tributário).
O nascimento da obrigação tributária se dá com a ocorrência, no mundo dos fenômenos (mundo real), de fato ou situação que se subsome à hipótese de incidência. É dizer, ocorrido algo que se ajuste à hipótese de incidência, considera-se realizado o fato gerador e, consequentemente, NASCIDA A OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA, independentemente da vontade das partes (natureza ex lege da obrigação tributária).
O conceito normativo de fato gerador é dado pelos arts. 114 e 115 do CTN:
Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência.
Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal.
Atenção para a diferença: o FG da obrigação principal circunscreve-se a uma hipótese de incidência prevista em lei (reserva legal); o da obrigação acessória, a uma hipótese prevista na legislação tributária (expressão mais ampla, que compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares, nos termos do art. 96 do CTN), embora, ainda assim, a sanção tenha de estar prevista em lei (CTN, art. 97, V).
Paulo de Barros Carvalho (Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1985) apresenta a noção de regra matriz de incidência tributária (ou norma jurídica tributária), que veicula uma hipótese de incidência (antecedente, suposto, proposição hipotética, descritor normativo) e uma consequência tributária (consequente, prescritor normativo). Aponta a hipótese de incidência como a descrição legislativa do fato que faz nascer a relação tributária. São elementos da hipótese de incidência:
a) Critério material. Comportamentos de pessoas, quer um fazer, quer um dar, quer um ser, formado, invariavelmente, por um verbo (de ação ou de estado), seguido de um complemento (por exemplo, auferir renda; ser proprietário de terreno).
b) Critério espacial. Coordenadas de espaço onde se dá o comportamento, como um ponto pré-determinado, uma área específica ou outra descrição bem genérica do espaço apto a desencadear a ocorrência do fato gerador (por exemplo, a área urbana, como critério espacial para fazer incidir o IPTU sobre o terreno). Critério espacial não se confunde com campo de eficácia espacial da lei tributária (a lei que disciplina o IPTU do Município X é eficaz em todo o território da municipalidade, mas o imposto incide sobre a propriedade predial e territorial exercida na área urbana).
c) Critério temporal. Coordenadas de tempo nas quais se dá o comportamento. Por esse critério, os fatos geradores classificam-se em instantâneos (ocorrem em um momento preciso da linha do tempo, como, por exemplo, o FG do imposto de importação); continuados ou periódicos simples (tomam por base um único evento que se prolonga no tempo, assim, por exemplo, o IPTU, cujo FG a lei reputa ocorrer cada dia 1º de janeiro); periódicos compostos ou periódicos complexivos (resultam da soma de diversos eventos que ocorrem em um período de tempo definido em lei, mas que devem ser considerados de maneira global, a exemplo da obtenção de renda, para o IR).
Ocorrida a hipótese de incidência, deve ser a consequência tributária, cujos elementos são:
d) Critério pessoal. As pessoas da relação jurídica obrigacional, a incluir o sujeito ativo (credor) e o sujeito passivo (devedor).
e) Critério quantitativo. A fórmula que determina o objeto da prestação, definida por base de cálculo (grandeza mensuradora dos aspectos da materialidade do fato gerador) e alíquota (fator que se conjuga à base de cálculo para determinar o valor da dívida tributária). 
A questão do imposto de renda. Como o imposto de renda é geralmente cobrado em um exercício financeiro, com base em fatos ocorridos no exercício anterior (ano-base), a questão é saber se é possível sua cobrança, em um exercício, com fundamento em lei vigente antes do final do ano-base, sem infringência ao princípio da irretroatividade da lei tributária (art. 150, III,”a”, CF). Se se considerar que o fato gerador do imposto de renda é complexivo, ou seja, somente se verificaria em 31 de dezembro de cada ano, não haveria violação ao princípio da irretroatividade. Isso porque lei vigente antes do término do ano-base não retroagirá, porque o fato gerador ainda é pendente. Sob essa ótica, o STF editara a sumula 584 (“Ao IR calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração”). No STJ, há precedentes afastando a aplicação súmula (EREsp 326810). O STF examinou a questão no RE 183130/PR e, em decisão publicada em 17/11/2014, tratando especificamente de tributação extrafiscal do IR sobre lucro proveniente de operações de exportação, afastou a incidência da Súmula n. 584/STF.
Situação de fato e situação jurídica
Como a obrigação tributária nasce com o fato gerador, é importante saber quando este se considera ocorrido, o que vem esclarecido no art. 116 do CTN:
Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus efeitos:
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios;
II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.
[...]
Exemplos de situação de fato: saída de mercadoria do estabelecimento, no caso do ICMS; entrada, no território nacional, da mercadoria importada, para o II; entrega do serviço, para o ISS etc. Exemplos de situação jurídica: propriedade, posse, transmissão etc.
Fato gerador submetido a condição suspensiva e a condição resolutória
Art. 117. Para os efeitos do inciso II do artigo anterior e salvo disposição de lei em contrário, os atos ou negócios jurídicos condicionais reputam-se perfeitos e acabados:
I - sendo suspensiva a condição, desde o momento de seu implemento;
II - sendo resolutória a condição, desde o momento da prática do ato ou da celebração do negócio.
Condição suspensiva é aquela que, enquanto ainda não ocorrida, suspende a eficácia do negócio jurídico. Assim, o fato gerador só ocorrerá quando a condição for implementada. Condição resolutória é aquela que, uma vez implementada, desfaz o negócio jurídico ou põe fim à prática do ato, até então eficaz. Logo, nessa hipótese, o fato gerador reputa-se ocorrido desde o momento da prática do ato ou da celebração do negócio jurídico.
Abstração do fato gerador (princípio do non olet)
As solenidades e formalismos próprios dos atos jurídicos privados não afetam o nascimento da obrigação tributária. Assim, para a configuração do fato gerador, não importa a circunstância de o negócio ser nulo ou anulável.
Art. 118. A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se:
I - da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos;
II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.
Duas consequências disso: i) pago o tributo, a superveniência de anulação ou decretação de nulidade do ato jurídico em que consistia o fato gerador tributário não dará lugar à repetição ou devolução do indébito; ii) os efeitos ou o objeto do ato ilícito, se corresponderem a um fato gerador, serão tributados (por exemplo, tributa-se a renda do tráfico de drogas, do jogo do bicho), em decorrência do princípio do non olet (CTN, art. 118). Importante observar que o legislador não pode eleger como hipótese de incidência a atividade ilícita, mas tão somente os consectários daquela atividade que venham a configurar fato gerador de alguma exação.
Evasão, elisão e elusão
	Elisão
	Evasão
	Economia lícita de tributos(planejamento tributário). Em geral, ocorre antes da realização do fato gerador (exceção: ao apresentar a declaração de IR, feita depois do FG, optando entre o modelo simplificado ou completo, de acordo com o que resultar em menor IR a pagar, o contribuinte pratica elisão fiscal).
	Economia ilícita de tributos (atos ilícitos praticados com a finalidade de reduzir a carga tributária). Em geral, ocorre após a realização do fato gerador (exceção: antes da saída da mercadoria do estabelecimento, o comerciante emite notas fiscais subfaturadas).
	Não há fraude, mas economia fiscal.
	Há fraude, de modo que autoriza a desconsideração do negócio jurídico e imposição da tributação correta (CTN, art. 149, VII).
	Elusão (1ª corrente) ou elisão ineficaz (2ª corrente)
	Comportamento do contribuinte que, a rigor, não é ilícito (é aparentemente lícito), mas adota um formato artificioso, atípico para a espécie de ato que está sendo praticado, tendo por finalidade fazer o tributo não incidir ou incidir de forma menos onerosa. 
	A doutrina tradicional enquadra essa situação como elisão fiscal, sendo essa a razão por que o parágrafo único do art. 116 do CTN (incluído pela LC n. 104, de 2001), que visa coibir essa prática, é chamado de “norma geral antielisiva”. Cuida-se de dispositivo ainda inaplicável, porque necessita de regulamentação. Houve uma tentativa de regulamentação por meio da MP n. 66, de 2002; mas, na conversão da MP na Lei n. 10.637, de 2002, a regulamentação foi retirada.
A maioria da doutrina considera inconstitucional a formulação de uma norma geral antielisiva. Argumenta que o sistema tributário nacional é concebido sob um conjunto rígido de regras e princípios (legalidade e tipicidade). Nessa linha, como só é possível a cobrança de tributos quando os fatos da vida se enquadrem na precisa definição legal da hipótese de incidência, não seria lícito violentar a norma tributária, para nela enquadrar negócios cuja concepção formal não se subsome ao tipo legal.
Assim, a doutrina não abraça a chamada “interpretação econômica” do fato gerador, que privilegia a substância (essência) do ato ou negócio jurídico em detrimento de sua forma.
O STF não se manifestou diretamente sobre o tema, até porque, viu-se, o art. 116, parágrafo único, do CTN ainda não foi regulamentado.
De todo modo, é importante observar que referido dispositivo, incluído pela LC n. 104/01, prevê que a autoridade administrativa pode desconsiderar atos ou negócios aparentes, que tenham servido para dissimular a ocorrência do fato gerador. É dizer, não se trata de desconstituir o ato ou negócio, mas apenas de desconsiderá-lo, para fins tributários, sempre que se apresentar um descompasso entre a situação jurídica real (o que foi efetivamente praticado) e a situação jurídica aparente (aquela formalmente retratada).
Na doutrina, há quem sustente que a disposição normativa confundiu “elisão” com “dissimulação”. Como essa última já se encontra contemplada no art. 149, VII, do CTN, seria desnecessária a previsão do art. 116, parágrafo único, do mesmo código.
Atenção! Cláudio Colnago, da banca examinadora do XV Concurso do TRF2 (2014) possui artigo intitulado O planejamento tributário como decorrência do direito fundamental à autonomia privada e a restrição do parágrafo único do art. 116 do CTN. No texto, sustenta que a Constituição protege os negócios jurídicos firmados pelo contribuinte, mediante o direito fundamental à autonomia privada. Afirma que referida proteção impede que o Poder Público venha a negar eficácia a negócios jurídicos fora das hipóteses previstas em lei, a qual deverá ser materialmente compatível com os enunciados constitucionais que conformam a autonomia privada (trabalho, livre iniciativa, legalidade, intimidade, exercício de atividade profissional). Defende que a lei que venha a estabelecer hipóteses de intervenção atua como concretização dos aludidos direitos fundamentais individuais, protegendo o indivíduo do arbítrio estatal. Por isso, continua, sob o ponto de vista legal, a interpretação mais correta do CTN aponta para a existência de dois regimes jurídicos dinstintos de intervenção sobre negócios jurídicos: de um lado, o do art. 149, VII (destinado a negócios viciados por dolo, fraude ou simulação) e, de outro, o do art. 116, parágrafo único (aplicável, em tese, a casos de abuso de direito). Conclui que esse último dispositivo só poderá ser invocado pelo Poder Público após sua regulamentação pelo Congresso Nacional. O contrário, arremata, importaria em violação do direito fundamental à autonomia privada, por representar uma intervenção desproporcional, por desnecessária (existência de meios menos gravosos de atingir a finalidade estatal: aprovação de lei ordinária).
Extinção da obrigação tributária
Dispõe o art. 113, § 1º, do CTN que a obrigação tributária “extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente”. Logo, extingue-se pelas modalidades previstas no art. 156 do CTN.
15.2.3. Obrigação tributária: sujeitos
Sujeito ativo
Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.
A sujeição ativa relaciona-se à capacidade tributária ativa, que pode ser delegada pelo ente que detém a competência tributária. Atenção: a competência tributária (poder de instituir o tributo – ponto 3.2) é indelegável; a capacidade tributária ativa é delegável.
Sujeito ativo e destinatário da arrecadação
O sujeito ativo da obrigação tributária deve ser pessoa jurídica de direito público. A pessoa jurídica de direito privado pode ser apenas destinatária do produto da arrecadação do tributo (Senac, Sesc, Sesi e demais entidades do Sistema “S” são destinatárias das contribuições paraestatais; as entidades sindicais são destinatárias das contribuições sindicais corporativas, de cuja obrigação o sujeito ativo é a União, por meio do MTE). Logo, as duas figuras (sujeito ativo e destinatário da arrecadação) não se confundem. 
Sujeito ativo e subrogação
Art. 120. Salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de direito público, que se constituir pelo desmembramento territorial de outra, subroga-se nos direitos desta, cuja legislação tributária aplicará até que entre em vigor a sua própria.
Sujeito passivo
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei.
Para distinguir contribuinte e responsável da obrigação principal, o CTN adotou o critério da proximidade: quem tem relação direta, imediata, mais próxima com o FG é contribuinte (sujeito passivo direto); quem está mais distante dele é responsável (sujeito passivo indireto). Aponta-se que o CTN teria utilizado, ainda, o critério econômico para distinguir as duas figuras: o contribuinte (sujeito passivo direto) tem relação de natureza econômica, pessoal e direta, com o fato gerador; o responsável (sujeito passivo indireto) não tem relação econômica, pessoal e direta com o fato gerador, mas, ainda assim, sua obrigação decorre da lei. Em todo caso, não pode a lei estabelecer livremente o responsável tributário, pois o art. 128 do CTN exige que o responsável, embora não realizando o fato gerador, tenha com ele alguma relação, mesmo não sendo relação econômica, direta e pessoal.
Importante distinguir entre contribuinte de direito e contribuinte de fato. O contribuinte de direito é aquele definido no art. 121, I, do CTN, ou seja, a pessoa que, possuindo relação pessoal e direta com o fato gerador, tem a obrigação de pagar o tributo. O contribuinte de fato não integra a relação econômica e, portanto, não tem obrigação legal de pagar o tributo, mas suporta o ônus da incidênciafiscal, que lhe é transferido pelo contribuinte de direito. Por exemplo, ao vender a mercadoria, o comerciante (contribuinte de direito) transfere, indiretamente, no preço, ao consumidor, o ônus do ICMS. A isso se dá o nome de “fenômeno econômico da repercussão”. Os tributos atingidos por esse fenômeno são denominados de “tributos indiretos”. O tema tem relevância, por exemplo, para fins de repetição de indébito tributário, nos termos do CTN: “Art. 166. A restituição de tributos que comportem, por sua natureza, transferência do respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove haver assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressamente autorizado a recebê-la”. 
Art. 122. Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.
Na obrigação acessória, não há bipartição entre contribuinte e responsável.
Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.
As relações jurídicas tributárias não são regidas pelo princípio da autonomia da vontade, de modo que, nos termos do art. 123 do CTN (acima), para fins tributários, vige a regra da “inoponibilidade das convenções particulares à Fazenda Pública”. A regra vale também para o Fisco, que não pode exigir o cumprimento da obrigação de terceiro, não-contribuinte. Assim, por exemplo, ainda que o contrato de aluguel do imóvel tenha transferido o encargo do IPTU para o locatário, não pode o proprietário do imóvel, invocando aquele pacto particular, pretender que o Fisco não lhe cobre o imposto, assim como não pode o Fisco exigi-lo diretamente do locatário.
Solidariedade
Art. 124. São solidariamente obrigadas:
I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal;
II - as pessoas expressamente designadas por lei.
Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem.
Art. 125. Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos da solidariedade:
I - o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais;
II - a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo;
III - a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais.
Solidariedade: mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. A existência de repartição rígida da competência tributária impede a existência de solidariedade ativa. No entanto, no âmbito tributário, é possível a solidariedade passiva, que somente pode ser estabelecida por lei. O art. 124 (acima) enuncia os dois grupos de devedores solidários: i) pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador (solidariedade “de fato”); ii) pessoas expressamente designadas por lei (solidariedade de direito). A existência da solidariedade de fato (art. 124, I) não afasta a conclusão de que só a lei pode estabelecer a solidariedade tributária, uma vez que, mesmo nessa hipótese, é a lei (o CTN) que estipula a solidariedade.
As características da solidariedade são aquelas do art. 124, p.u., e do art. 125 do CTN.
15.2.5. Capacidade tributária
Art. 126. A capacidade tributária passiva independe:
I - da capacidade civil das pessoas naturais;
II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios;
III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional.
Capacidade tributária é a aptidão para figurar no polo ativo (capacidade tributária ativa) ou passivo (capacidade tributária passiva) da obrigação. A nota marcante do art. 126 (acima) é que a capacidade tributária (mais abrangente) independe de outras modalidades de capacidade, previstas nos demais ramos do Direito. Assim, por exemplo, uma criança não tem capacidade civil, mas tem capacidade tributária, podendo ser contribuinte do imposto de renda (cujo recolhimento, evidentemente, será feito pelo responsável tributário). Do mesmo modo, o fato de a pessoa física não poder exercitar determinada atividade ou de a pessoa jurídica não estar regularmente constituída não lhes retira a capacidade tributária passiva.
15.2.6. Domicílio tributário
Domicílio tributário é o local em que o sujeito passivo mantém suas relações com o Fisco. A regra é que o domicílio tributário é eleito pelo sujeito passivo. Na falta de eleição, incide a disciplina do art. 127 do CTN:
Art. 127. Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio tributário, na forma da legislação aplicável, considera-se como tal:
I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade;
II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento;
III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante.
§ 1º Quando não couber a aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos deste artigo, considerar-se-á como domicílio tributário do contribuinte ou responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação.
§ 2º A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicando-se então a regra do parágrafo anterior.
15.2.7. Responsabilidade tributária
Requisitos da responsabilidade tributária: i) a pessoa eleita como responsável deve estar vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação (relação indireta, pois a direta e pessoal é própria do contribuinte); ii) expressa previsão em lei.
Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.
Classificação da responsabilidade tributária, de acordo com o momento em que surge o vínculo jurídico entre o responsável e o sujeito ativo do tributo:
	Responsabilidade por transferência
	Responsabilidade por substituição
	O “terceiro” ocupa o lugar do “contribuinte” APÓS a ocorrência do FG.
O sujeito A realiza o fato gerador, mas, por conta de um evento posterior, B é quem tem que pagar o tributo.
	O terceiro ocupa o lugar do contribuinte DESDE a ocorrência do FG.
O sujeito A pratica o fato gerador, mas, desde já, o sujeito B é quem deve pagar o tributo.
	Responsável: “terceiro”
	Responsável: “substituto tributário”
Contribuinte: substituído
	CTN, arts. 129 a 137.
	Doutrina entende que as hipóteses não estão no CTN, mas na legislação específica de certos tributos. Exemplos: ICMS e IR.
Responsabilidade tributária por substituição regressiva (para trás, antecedente)
Pessoas ocupantes das posições anteriores nas cadeias de produção e circulação são substituídas, no dever de pagar tributo, por aquelas que ocupam as posições posteriores (por exemplo, os produtores de leite são substituídos pelo laticínio).
Responsabilidade tributária por substituição progressiva (para frente, subsequente)
Pessoas ocupantes das posições posteriores nas cadeias de produção e circulação são substituídas, no dever de pagar tributo, por aquelas que ocupam as posições anteriores. O tributoé pago de uma só vez, sendo calculado sobre o valor pelo qual se presume que a mercadoria será vendida (regime de arbitramento ou de pauta fiscal). Por exemplo, os comerciantes varejistas de bebidas são substituídos pelo fabricante.
Parte da doutrina considera inconstitucional a substituição progressiva, sob estes argumentos: i) viola a tipicidade, uma vez que o fato gerador efetivamente não ocorreu (a maioria da doutrina e o próprio STF – RE 194.382 – afirmam, todavia, que não se trata de recolhimento de tributo antes da ocorrência do fato gerador, mas de pagamento antecipado); ii) viola a capacidade contributiva e a vedação ao confisco (refutam-se tais argumentos porque o substituto “recupera” do substituído o que pagou, por meio do fenômeno da repercussão econômica do tributo, que ocorre no preço da mercadoria). Ademais, a responsabilidade tributária para frente tem base no art. 150, § 7º, da CF/88.
A questão da restituição na substituição tributária para frente
CF/88. Art. 150. § 7.º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido. (Incluído pela EC n. 3, de 1993) 
Dispõe a CF que, na substituição para frente, se não se realizar o fato gerador presumido, tem lugar a imediata e preferencial restituição da quantia paga. E se o FG realizar-se, mas por valor menor? A questão é controvertida. Para a doutrina, deve-se proceder à devolução da diferença. O Fisco entende que não haverá devolução, sob estes argumentos: i) a sistemática da substituição progressiva perderia sua utilidade prática, pois a Administração Tributária precisaria voltar a fiscalizar a parte final da cadeia produtiva; ii) o silêncio eloquente do reformador constituinte no art. 150, § 7º, ao permitir expressamente a restituição apenas na hipótese de não ocorrência do fato gerador; iii) o FG presumido pode realizar-se por valor menor ou maior, não havendo devolução em nenhum dos casos, de modo que as diferenças, na prática, em boa parte, compensam-se. O STF, examinando substituição facultativa prevista no Convênio ICMS 13/97, considerou constitucional a não restituição na hipótese de FG realizado em valor menor do que o presumido (ADI 1815/AL, DJ 22/11/02). Há outras ADI sobre o tema, pendentes de julgamento (2675 e 2777).
INFORMATIVO 844 DO STF (OUT/2016). O STF, EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL, CONSIGNOU QUE A PRATICIDADE TRIBUTÁRIA NÃO PODE PREVALECER SOBRE A JUSTIÇA FISCAL E A VEDAÇÃO AO CONFISCO, DE MODO QUE O ART. 150, §7°, DA CRFB DEVE SER INTERPRETADO NO SENTIDO DE HAVER DIREITO À RESTITUIÇÃO (OU AO CREDITAMENTO POR PARTE DO SUJEITO PASSIVO) NÃO APENAS NOS CASOS EM QUE O FATO GERADOR PRESUMIDO NÃO SE CONCRETIZAR, COMO TAMBÉM NA HIPÓTESE DE ELE SE VERIFICAR A PARTIR DE UMA BASE DE CÁLCULO INFERIOR À QUE HAVIA SIDO PRESUMIDA.
REPERCUSSÃO GERAL
Substituição tributária: direito à restituição e base de cálculo presumida maior que a efetiva - 2
É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pago a mais, no regime de substituição tributária para a frente, se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida. (...).A Corte afirmou que a substituição tributária, prevista no art. 150, § 7º, da Constituição Federal, tem como fundamento o princípio da praticidade. Desse modo, promove comodidade, economicidade e eficiência na execução administrativa das leis tributárias.
Ponderou, entretanto, que o princípio da praticidade tributária também encontra freio nos princípios da igualdade, capacidade contributiva e vedação do confisco, bem como na arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS. Por conseguinte, é papel institucional do Poder Judiciário tutelar situações individuais que extrapolem o limite da razoabilidade.
Deve-se, portanto, interpretar aquele dispositivo constitucional em consonância com o significado jurídico-político do Estatuto Constitucional dos Contribuintes, tal como instituído pela Seção “Das Limitações do Poder de Tributar” da Constituição Federal. Noutras palavras, na qualidade de invenção humana voltada a discriminar o público do privado e redistribuir renda e patrimônio, a tributação não pode transformar uma ficção jurídica em uma presunção “juris et de jure”, tal como ocorreria se o fato gerador presumido tivesse caráter definitivo, logo alheio à narrativa extraída da realidade do processo econômico.
O Plenário observou, ainda, não haver autorização constitucional para cobrar mais do que resultaria da aplicação direta da alíquota sobre a base de cálculo existente na ocorrência do fato gerador. Assim, uma interpretação restritiva do § 7º do art. 150 da Constituição, com o objetivo de legitimar a não restituição do excesso, representaria injustiça fiscal inaceitável em um Estado Democrático de Direito, fundado em legítimas expectativas emanadas de uma relação de confiança e justeza entre Fisco e contribuinte. Desse modo, a restituição do excesso atende ao princípio que veda o enriquecimento sem causa, haja vista a não ocorrência da materialidade presumida do tributo. RE 593849/MG, rel. min. Edson Fachin, 19.10.2016. (RE-593849)
Responsabilidade, por transferência, dos sucessores (CTN, arts. 129 a 133)
Transferência imobiliária (art. 130). Tributos cujo FG seja a propriedade, domínio útil ou posse de bens imóveis, bem como as taxas ou contribuições de melhoria relativas a tais bens, subrogam-se nos respectivos adquirentes, salvo quando conste do título a prova de sua quitação. Na arrematação em hasta pública, a subrogação ocorre no preço.
Aquisição ou remição de bens (art. 131, I). A doutrina entende que esse dispositivo aplica-se exclusivamente aos bens móveis, uma vez que a responsabilidade pela aquisição dos bens imóveis foi taxativamente tratada no art. 130. As exceções do art. 130 (certidão negativa e subrogação no preço, na arrematação em hasta pública) não se aplicam à hipótese aqui examinada. A responsabilidade é pessoal (o terceiro adquirente ou remitente responde com exclusivismo).
Sucessão hereditária (art. 131, II e III). Colaciona-se, por sua clareza, esquema de Ricardo Alexandre (com adaptações), com o esclarecimento de que as linhas cheias (–––) representam o período por cujas obrigações (nascidas no interstício) as pessoas indicadas à esquerda respondem na condição de contribuintes; as linhas tracejadas (- - -) representam o período por cujas obrigações tais pessoas respondem na qualidade de responsáveis. Observações: i) a responsabilidade dos sucessores/cônjuge meeiro é limitada ao montante do respectivo legado/meação; ii) o STJ afirma que, na responsabilidade por sucessão, entendem-se incluídas na expressão “tributos” as multas moratórias (REsp 3.097).
Responsabilidade na sucessão empresarial (art. 132). A PJ que resultar da fusão, transformação ou incorporação de outra, ou em outra, é responsável pelos tributos devidos pela PJ fusionada, transformada ou incorporada até a data do ato sucessório. A cisão não foi prevista porque passou a ter previsão legal com a Lei n. 6.404/76, e o CTN é de 1966, 10 anos antes. O STJ (REsp 852.972, DJE 08/06/10, Rel. Min. Teori Zavascki) deu a seguinte solução: “[...] Embora não conste expressamente do rol do art. 132 do CTN, a cisão da sociedade é modalidade de mutação empresarial sujeita, para efeito de responsabilidade tributária, ao mesmo tratamento jurídico conferido às demais espécies de sucessão [...]”. Logo, aplica-se à cisão a mesma regra do art. 132. Na hipótese de extinção da pessoa jurídica, aplica-se o art. 132, p.u., pelo qual “o disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual”.
Súmula 554-STJ: Na hipótese de

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