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História da tomografia computadorizada / Carvalho ACP
Rev Imagem 2007;29(2):61–66 61Rev Imagem 2007;29(2):61–66
História da tomografia computadorizada
Antonio Carlos Pires Carvalho1
História da Radiologia
Recebido para publicação em 26/4/2007. Aceito,
após revisão, em 20/9/2007.
1 Professor Adjunto do Departamento de Radiolo-
gia da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro,
RJ.
Correspondência: Prof. Dr. Antonio Carlos Pires
Carvalho. Rua José Higino, 290, ap. 401, Tijuca.
Rio de Janeiro, RJ, 20520-200. E-mail: acpcrj@
hucff.ufrj.br
Descritores:
História da Radiologia; Tomografia com-
putadorizada; G.N. Hounsfield; A.M. Cor-
mack.
Esta série de artigos sobre a história da radiologia traz uma satisfação especial a
quem, como eu, gosta do assunto. Rever o que foi feito, como e por quem foi feito
é sempre interessante. Hoje, é muito fácil sentar-se à frente de um aparelho “meio
antigo” e dizer “que porcaria!”. Mas se pensar que alguém precisou ter a idéia e
fazer algo, que foi sendo aperfeiçoado aos poucos e hoje em dia “voa”, esse alguém
deve lembrar que para voar num 747 ou num Concorde, primeiro teve de existir o
14-Bis. E é desses que criaram os teco-tecos que desejo sempre falar e lembrar.
Falar de tomografia computadorizada é falar de Röntgen, seus trabalhos e as
dificuldades inerentes ao exame do corpo humano. Ver por dentro sempre foi o
grande objetivo, isto é, sem abrir o paciente. Objetivo que começou a se tornar reali-
dade com os raios X, melhorou com a ultra-sonografia e que teve grande salto de
qualidade quando alguém resolveu tentar acoplar um computador a cristais sensí-
veis a radiações para construir imagens do interior do corpo. Hoje é desse alguém,
ou “desses alguéns” que pretendo falar e lembrar. Também se deve agradecer aos
detentores de direitos autorais de imagens e textos previamente publicados, que ge-
nerosamente autorizaram sua reprodução. Agradeço a autorização para reprodu-
ção de imagens e texto da Nobel Foundation e da American Mathematical Society.
Desde a sua descoberta, no final do século passado, os raios X têm sido utiliza-
dos como método de diagnóstico em medicina, através da radiografia e da radios-
copia. Com o passar dos anos, o diagnóstico radiológico passou por significativo
avanço tecnológico, pela produção de aparelhos de maior potência e qualidade,
resultando em melhor aproveitamento da radiação. Um dos momentos mais im-
portantes dessa evolução foi a introdução do computador, utilizado para a realiza-
ção de cálculos matemáticos a partir da intensidade dos fótons de raios X. Ambrose
e Hounsfield, em 1972, apresentaram um novo método de utilização da radiação
para medir descontinuidade de densidades, obtendo imagens, inicialmente do cé-
rebro, com finalidades diagnósticas. Neste método, cujo desenvolvimento transcorria
há 10 anos, seriam feitas diversas medidas de transmissão dos fótons de raios X, em
múltiplos ângulos e, a partir desses valores, os coeficientes de absorção pelos diver-
sos tecidos seriam calculados pelo computador e apresentados em uma tela como
pontos luminosos, variando do branco ao preto, com tonalidades intermediárias de
cinza. Os pontos formariam uma imagem correspondente a uma seção axial do
cérebro, que poderia ser estudada ou fotografada, para avaliação posterior.
Diz a lenda que Hounsfield, engenheiro da EMI Ltd., com liberdade total para
desenvolver pesquisas, estava realizando um trabalho para a Scotland Yard, sobre
a possibilidade de utilizar o computador para a reconstrução de “retratos falados”
de criminosos, identificação de escrita e impressões digitais, entre outras ativida-
des de uso policial, ou seja, padrões de reconhecimento. Ao final de alguns anos de
pesquisa, a polícia londrina desistiu do projeto, achando-o sem utilidade. Ficou o
Carvalho ACP / História da tomografia computadorizada
Rev Imagem 2007;29(2):61–6662
autor com anos de estudo em reconstruções matemáti-
cas nas mãos. Ambrose, neurorradiologista, uniu-se ao
grupo de trabalho, questionando se o material serviria
para ver o interior craniano. Hounsfield acreditava que
um feixe de raios X continha mais informação do que
aquela que era possível capturar com um filme e pen-
sou que um computador talvez pudesse ajudar a obter
essa informação[1].
Mas vamos tentar ordenar os fatos em ordem cro-
nológica, que em história é importante.
No início de século XX, um matemático austríaco,
Johann Radon, desenvolveu uma equação matemática,
a “transformada de Radon”, que futuramente seria a
base matemática da tomografia computadorizada. Há
quem refira que uma “transformada de Lorenz” e a
famosa “transformada de Fourier” também influencia-
ram e que estas equações matemáticas derivam de es-
tudos matemáticos de Galileu, e com isto já estamos
retrocedendo ao século XVI para falar de tomografia
computadorizada. Voltando ao século XX, Radon de-
monstrou que um objeto tridimensional poderia ser
reproduzido a partir de um conjunto de projeções. Este
conceito foi o fundamento para a tomografia computa-
dorizada algumas décadas depois.
Em um site da internet, mais exatamente da Ame-
rican Mathematical Society, há uma página que detalha
essa e outras equações, para quem quiser se aprofun-
dar mais na parte matemática do assunto[2]. Dela tirei
algumas figuras interessantes que aparecerão aqui, repro-
duzidas com autorização da American Mathematical
Society.
Em 1956, o físico e radioastrônomo Ronald Brace-
well usou a “transformada de Fourier” (matemático
francês que viveu entre 1768 e 1830) para obter uma
solução matemática como base para reconstrução das re-
giões de radiação de microondas do sol. Barrett e cols.[3]
encontraram artigos publicados em periódicos russos
datados de 1957 e 1958 que mostravam que a “equa-
ção invertida de Radon” foi descrita em termos integrais
como a solução para o problema da tomografia formu-
lado por eles. Esse estudo russo também apresentava um
desenho de um modelo semelhante a um computador
com televisão para mostrar os dados reconstruídos em
uma matriz 100 × 100. Mas Barrett e cols. não encon-
traram evidências de que o modelo tenha sido de fato
construído ou alguma imagem, obtida. Um dos autores
programou um computador com o algoritmo de recons-
trução exatamente como no modelo russo e mostrou
que ele trabalhava satisfatoriamente, porém como era
computacionalmente insatisfatório, o máximo que se
conseguiu foi uma imagem 32 × 32 de qualidade acei-
tável, sem artefatos. A tomografia computadorizada
médica começa a ser desenvolvida nos anos 60, de forma
lenta, por falta de apoio matemático. A mais prematura
demonstração foi feita por um neurologista, William
Oldendorf[4], que em 1961 construiu manualmente um
sistema de reconstrução de uma seção transversal de um
objeto constituído de argolas de ferro e alumínio. Em-
bora inventivo, o estudo experimental usou um método
considerado tosco de uma retroprojeção simples. O
invento, patenteado, resultante era considerado impra-
ticável porque necessitava extensa análise. Oldendorf
trabalhou sem o apoio de matemáticos e sem conheci-
mento dos trabalhos de Radon e Bracewell. Em 1963,
Kuhl e Edwards, respectivamente médico e engenheiro,
criaram um método de imagem para mostrar a distri-
buição de radionuclídeos. Realizaram estudos clínicos
por anos, mas a qualidade da imagem obtida não era
melhor que a dos equipamentos existentes, porque a
base matemática para um mapeamento acurado não
tinha sido incorporada ao método e os sistemas de com-
putadores existentes eram incapazes de realizar rapida-
mente os cálculos e a projeção.
A contribuição matemática fundamental para o
problema da reconstrução foi feita em 1963 e 1964 por
Allan Cormack[5,6], físico e matemático. Ele estudava a
distribuição dos coeficientes de atenuação do corpo para
que o tratamento por radioterapia pudesse ser mais bem
direcionado para o tumor alvo. E também estava desen-
volvendo um algoritmo matemático para a reconstru-
ção tridimensional da distribuiçãoda concentração de
radionuclídeos a partir dos dados coletados de um equi-
pamento de “câmera-pósitron” desenvolvido em 1962.
A questão que Cormack respondeu foi: “Supondo
que se conheçam todas as linhas integrais através de um
corpo de densidade variada, podemos reconstruir esse
mesmo corpo?” A resposta foi positiva, e ainda mais
construtiva, a partir das informações obtidas pelos raios
X. Em termos práticos, sabe-se que uma radiografia
mostra informações limitadas porque certas estruturas
são obscurecidas por outras de densidade maior. Pode-
mos tirar mais informação se pudermos ver dentro do
objeto, que foi o que Radon nos disse, pelo menos em
princípio, tornando seu teorema em uma ferramenta
prática, e não apenas uma matéria trivial. Para a recons-
trução, a transformada de Radon invertida foi a base
matemática.
Casselman[2], em seu artigo on-line recente, mostra
figuras representando o uso das equações matemáticas,
de um disco de metal homogêneo e de um modelo oval
com estruturas de densidades variadas, criando a ima-
gem a partir de reconstruções de 32, 64 e 128 pixels.
História da tomografia computadorizada / Carvalho ACP
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É nesse momento que surge a figura de Hounsfield.
Engenheiro, experiente com radares, particularmente
interessado em computadores, e com total liberdade da
EMI para realizar suas pesquisas, foi o criador do pri-
meiro computador totalmente transistorizado da Ingla-
terra. E já tinha idéias de estudar o interior de objetos
tridimensionais a partir da reconstrução obtida pela
absorção heterogênea de radiação pelos diferentes com-
ponentes. Criou o protótipo e inicialmente usou uma
fonte de amerício-241, emissora de raios gama. O tempo
de aquisição da imagem foi de nove dias e o computa-
dor levou 150 minutos para processar uma simples
imagem. A seguir Hounsfield adquiriu um tubo e um
gerador de raios X, provavelmente porque os raios X
tinham suas propriedades bem conhecidas, sendo uma
fonte confiável de informação. Assim, o tempo de aqui-
sição das imagens foi reduzido para nove horas. A idéia
de se concentrar na criação de um aparelho voltado para
o crânio surge durante discussões com radiologistas
experientes: Dr. James Ambrose, do Atkinson Morley
Hospital, Dr. Louis Kreel, do Northwick Park Hospital,
e Dr. Frank Doyle, do Hammersmith Hospital. Um cé-
rebro, fixado em formol e com algumas alterações, foi
conseguido e a imagem obtida mostrou a substância
branca e cinzenta, bem como as calcificações.
Após várias imagens experimentais com peças e
animais, foi feita a primeira imagem diagnóstica, em
uma paciente selecionada pelo Dr. Ambrose, com sus-
peita de tumor no lobo frontal esquerdo, ainda não-
confirmado. A imagem obtida, mostrando a lesão, cau-
sou euforia em Hounsfield e na equipe. Estas são suas
palavras, mantidas no original. “When we took the pic-
ture, there was beautiful picture of a circular cyst right
in the middle of the frontal lobe and, of course, it excited
everyone in the hospital who knew about the project”.
Fig. 1 – Projeção de um disco de metal homogêneo. (Reproduzida
com permissão da American Mathematical Society).
Fig. 2 – Imagem obtida de um disco homogêneo a partir das fórmu-
las matemáticas em que se baseia a tomografia computadorizada em
matrizes de 32, 64 e 128 pixels. (Reproduzida com permissão da Ame-
rican Mathematical Society).
Fig. 3 – Modelo assemelhado a um crânio feito de material com den-
sidades e dimensões diferentes. (Reproduzida com permissão da
American Mathematical Society).
Fig. 4 – Imagens do modelo da Fig. 3 em projeções de 32, 64 e 128
pixels. (Reproduzida com permissão da American Mathematical So-
ciety).
Fig. 5 – Protótipo de Hounsfield. (Figura obtida na Wikipedia, sem
restrição de uso).
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Essas primeiras imagens foram mostradas no con-
gresso anual do British Institute of Radiology, em 20 de
abril de 1972. As reações foram de empolgação. Curio-
samente, Hounsfield havia mostrado imagens seccionais
de peças de cadáveres e de animais no congresso euro-
peu realizado em Amsterdã no ano anterior, sem des-
pertar nenhum interesse. A comunidade médica ali
reunida não percebeu nem teve noção da revolução que
se aproximava. Nesse mesmo ano de 1971, uma greve
dos correios impediu a publicação do trabalho escrito
por Hounsfield. Ao início da comercialização do equi-
pamento, o tempo de aquisição de cada corte era de seis
minutos e o da reconstrução da imagem já era de dois
minutos, porque um minicomputador mais eficiente
havia sido adicionado ao sistema. A grande repercussão
mereceu destaque no jornal Times, em 21 de abril de
1972, sendo mostrada uma foto do primeiro aparelho
em uso.
Em 1973, após 18 meses de uso do primeiro equi-
pamento construído para uso clínico, Hounsfield[7] e
Ambrose[8] apresentaram os resultados e sua experiên-
cia em artigos publicados. Neste seu artigo de 1973, um
clássico já reimpresso algumas vezes, no qual apresen-
tou a técnica, Hounsfield escreve, e novamente mante-
nho o texto original: “It is possible that this technique may
open up a new chapter in X-Ray diagnosis. Previously,
various tissues could only be distinguished from one an-
other if they differed appreciably in density. In this pro-
cedure, absolute values of the absorption coefficient of the
tissues are obtained. The increased sensitivity of comput-
erized X-Ray section scanning thus enables tissues of simi-
lar density to be separated and a picture of the soft tissue
structure within the cranium to be built up”.
O primeiro tomógrafo do Brasil foi instalado em São
Paulo, no Hospital da Real e Benemérita Sociedade
Portuguesa de Beneficência, em 1977. Logo depois, o
primeiro aparelho do Rio de Janeiro iniciou seu funcio-
namento, em 28 de julho de 1977, na Santa Casa de
Misericórdia.
A tecnologia não parou de evoluir, criando os apa-
relhos chamados de segunda, terceira e quarta gerações,
os modelos helicoidais, cada vez mais rápidos, com ima-
gem mais refinada, tempo de realização do exame mais
curto e custo de produção menor, reduzindo acentua-
damente os preços dos equipamentos e dos exames.
Quando se comparam os números citados acima com
um tomógrafo moderno, que consegue adquirir todo o
volume do tórax, abdome e pelve de um paciente em
poucos segundos, podemos ver o quanto evoluiu a tec-
nologia. Surgida num momento em que se pensava que
a tomografia computadorizada não tinha mais para
onde evoluir, a aquisição volumétrica foi patenteada em
1976 e em junho de 1980 imagens tridimensionais com
resolução de 1.200 × 1.200 pixels são obtidas e exibi-
das quase em tempo real[9].
Em sua homenagem, as unidades de densidade,
inicialmente denominadas números EMI, foram reba-
tizadas unidades Hounsfield, eternizando sua importân-
cia para a medicina moderna.
Hounsfield recebeu o prêmio Nobel de Medicina de
1979, juntamente com Cormack, pela invenção da to-
mografia computadorizada. Recebeu dezenas de home-
nagens em vida, entre elas diversos títulos de “Doutor
Honoris Causa” de importantes universidades e o título
de “Sir”, por sua indicação a Cavaleiro do Império Bri-
tânico. Godfrey N. Hounsfield faleceu no dia 12 de
agosto de 2004.
Não se pode encerrar este texto sem citar as pala-
vras de Allan M. Cormack no banquete da entrega do
prêmio Nobel em 10 de dezembro de 1979.
“Vossas Majestades, Vossas Altezas Reais, Senhoras
e Senhores.
Godfrey Hounsfield pediu-me para falar por ambos.
Desejamos muito respeitosamente solicitar a Vossa Ma-
jestade que transmita à Fundação Nobel e ao Conselho
Nobel do Instituto Karolinska nossa intensa gratidão
pela honra que nos foi dada pelo recebimento do Prê-
mio Nobel de Medicina e Fisiologia.
Há ironia neste prêmio. Uma vez que nem Houns-
field nem eu somos médicos. De fato, não é muito exa-
Fig. 6 – Desenho esquemático do protótipo de Hounsfield – pode ser
visto na figura anterior, situado na parede atrás dele. (Figura obtida
na Wikipedia, sem restriçãode uso).
História da tomografia computadorizada / Carvalho ACP
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gero dizer que o que Hounsfield e eu sabemos de Me-
dicina e Fisiologia poderia ser escrito em uma pequena
folha de prescrição!
Enquanto há ironia na premiação, há também espe-
rança de que, agora nestes dias de especialização au-
mentando, há uma unidade na experiência humana,
uma unidade claramente conhecida por Alfred Nobel,
que um engenheiro e um físico, cada um de seu pró-
prio modo, contribuíram um pouco para o avanço da
Medicina.” (Reproduzido com permissão da Nobel
Foundation).
Uma minibiografia dos principais envolvidos na cria-
ção e desenvolvimento da tomografia computadorizada
merece fazer parte do encerramento deste trabalho.
Godfrey Newbold Hounsfield – Engenheiro, nas-
ceu em Nottinghamshire, Inglaterra, em 28/8/1919 e fa-
leceu em 12/8/2004. Desde criança tinha grande curio-
sidade sobre aparelhos mecânicos e elétricos. Aeropla-
nos o fascinavam e durante a Segunda Guerra alistou-
se como reservista voluntário na RAF e interessou-se
muito por eletrônica de radares e rádio, continuando
estes estudos no Faraday House Electrical Engineering
College de Londres. Em 1951 juntou-se ao grupo de
pesquisa da EMI, liderando a equipe que construiu o
primeiro computador totalmente transistorizado da
Inglaterra, o EMIDEC 1100, em 1958-1959. Mais tarde,
estudando padrões de reconhecimento, desenvolveu a
idéia básica da tomografia computadorizada. Gostava de
música, clássica ou ligeira, e tocava piano.
Allan MacLeod Cormack – Físico e matemático, fi-
lho de imigrantes escoceses, nasceu em Johannesburgo,
África do Sul, em 23/2/1924 e faleceu em Massachusetts,
EUA, em 7/5/1998 aos 74 anos, de câncer. Inicialmente
matriculado numa escola de engenharia, pois iria seguir
carreira semelhante ao pai e irmão, mudou de idéia ao
ocorrer mudança curricular e tomar contato com alguns
professores de física. Concluiu seu bacharelado em 1944
e o mestrado no ano seguinte. Entre 1947 e 1949 esteve
em Cambridge, onde conheceu sua futura esposa. Fez
parte de sua formação em física e cíclotron em Harvard
e depois mudou-se para os EUA, sendo contratado pela
Universidade Tufts, onde viveu o resto de sua vida, com
algumas poucas exceções de viagens à terra natal e al-
gumas visitas prolongadas a universidades com grandes
departamentos de física. Dedicava grande parte do seu
tempo à leitura e considerava sedentária a vida que le-
vava. Gostava de animais. Iniciou os estudos que o le-
variam ao prêmio Nobel ainda em seu país natal em
1956 e publicou seus trabalhos em 1963 e 1964. Postu-
mamente, recebeu a Ordem de Mapungubwe, a mais
alta honraria da África do Sul.
Fig. 7 – Godfrey N. Hounsfiled. (Reproduzido com permissão da
Nobel Foundation).
Fig. 8 – Allan M. Cormack. (Reproduzido com permissão da Nobel
Foundation).
James Abraham Edward Ambrose – Médico neu-
rorradiologista, nasceu em Pretória, África do Sul, em
5/4/1923 e em faleceu em 12/3/2006. Participou da Se-
gunda Guerra com piloto da caça da RAF, e após o fim
da guerra voltou a seu país. Ingressou na faculdade de
medicina de Cape Town e graduou-se em 1952. Dois
Carvalho ACP / História da tomografia computadorizada
Rev Imagem 2007;29(2):61–6666
anos depois foi à Inglaterra para especializar-se em ra-
diologia, concluindo em 1956. Recebeu treinamento em
neurorradiologia na Inglaterra e na Suécia. Ao longo
dos anos 60 realizou milhares de angiografias de caró-
tidas e pneumoencefalografias. Mas desejava mesmo
desenvolver métodos não-invasivos para estudo do cé-
rebro. Por estar no Atkinson Morley’s, ouviu falar em
um experimento conduzido por um engenheiro para
uma nova técnica de imagem. Por ser um eminente
radiologista, o Departamento de Saúde o colocou em
contato com Hounsfield, que havia sido considerado um
excêntrico por outro radiologista eminente. A recepção
mais simpática de Ambrose, que viu o potencial da idéia,
fez o resto. O Departamento mobilizou recursos e nas-
ceu a tomografia computadorizada. Ambrose recebeu
diversas condecorações ao longo de sua vida, embora
houvesse um consenso entre seus colegas que ele não
tinha recebido o devido crédito e reconhecimento por
seu trabalho. Aposentou-se em 1988 e mudou-se para
Argyll, uma pequena localidade, onde pôde dedicar-se
à pintura e às plantas e vida silvestre. Dizem que se não
fosse médico teria sido um horticultor. (Infelizmente,
não encontrei imagem do Dr. Ambrose sem restrição de
uso e não recebi autorização para reproduzir nenhuma
delas.)
Johann Radon – Nasceu em Tetschen, na Bohemia
(atual República Tcheca), em 6/12/1887 e faleceu em 25/
5/1956. Escreveu sua tese de doutorado sobre variações
em cálculos e a defendeu em 1910 na Universidade de
Viena. Em 1913 obteve sua livre-docência, com outra
tese sobre funções matemáticas. Dos quatro filhos que
teve, um morreu com 18 dias de vida, o segundo mor-
reu de doença, outro na guerra em 1943, e somente
Brigitte seguiu carreira acadêmica e tornou-se também
PhD em matemática. Passou pelas Universidades de
Hamburgo e Viena, mas foi em Greifswald que alcan-
çou pela primeira vez em 1922 o posto de professor
catedrático. Ao longo de sua vida trocou de universi-
dade algumas vezes, sempre galgando o posto máximo
da carreira. Foi membro da Academia de Ciências da
Áustria e da Sociedade Austríaca de Matemática, tendo
ocupado a presidência desta.
Fig. 9 – Johann Radon. (Figura obtida na internet, sem referência a
direitos autorais).
REFERÊNCIAS
1. Rogers LF. “My Word, What Is That?”: Hounsfield and the tri-
umph of clinical research. Radiology 2003;180:1501.
2. Casselman B. Mental calculation. [Acessado em: 19/1/2007].
Disponível em: http://www.ams.org/featurecolumn/archive/
tomography.html
3. Barrett HH, Hawkins WG, Joy ML. Historical note on computed
tomography. Radiology 1983;147:172.
4. Oldendorf WH. Isolated flying spot detection of radiodensity
discontinuities displaying the internal structural patterns of a
complex object. IRE Trans Biomed Electronics BME 1961;8:68–
72.
5. Cormack AM. Representation of a function by its line integrals,
with some radiological applications. J Appl Phys 1963;34:2722–
7.
6. Cormack AM. Representation of a function by its line integrals,
with some radiological applications: II. J Appl Phys 1964;35:
2908–13.
7. Hounsfield GN. Computerised transverse axial scanning (tomog-
raphy): Part 1. Description of system. Br J Radiol 1973;46:1016–
22.
8. Ambrose J. Computerised transverse axial scanning (tomogra-
phy): Part 2. Clinical application. Br J Radiol 1973;46:1023–47.
9. Beckmann EC. CT scanning the early days. Br J Radiol 2006;79:
5–8.

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