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SUJEITO DE DIREITO DEFEITOS NO ORDENAMENTO JURIDICO:PORQUE CADA JUIZ JULGA DE MANEIRA DIFERENTE E A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO: UMA PÁGINA A SER VIRADA NO DIREITO BRASILEIRO

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SUJEITO DE DIREITO DEFEITOS NO ORDENAMENTO JURIDICO:PORQUE CADA JUIZ JULGA DE MANEIRA DIFERENTE E A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO: UMA PÁGINA A SER VIRADA NO DIREITO BRASILEIRO 
POR:VANDERLEI APARECIDO BARALDI JUNIOR
 DISCIPLINA:Direito Civil
CURSO :Direito
PROFESSORA: Mariana Daniel
RESUMO
O velho dogma da completude do sistema jurídico codificado acaba por arremessar juridicidade sobre diversos fatos e, ainda, excluindo uma realidade que insiste comparecer diante do Direito desafiando seus conceitos e previsões.A ascensão do sujeito de direito trouxe a repersonalização do Direito Civil com ênfase ao princípio da dignidade da pessoa humana. Na verdade, podemos mesmo cogitar numa humanização de todo o direito privado em substituição a intensa patrimonialização anteriormente experimentada.Também há de se dar uma releitura ao conceito de sujeito de direito posto que outrora vinha sendo “patrimonializado” sendo ser com aptidão para os direitos das obrigações e para os direitos reais.Sendo a propriedade uma necessidade do homem, um mínimo de pertencimento, a projeção matéria de sua personalidade jurídica, a sua esfera jurídica palpável. Nesse novo arranjamento do direito civil moderno traduzido por ser direito patrimonial destinado a partilhar o mundo entre seus diversos proprietários.É óbvio que o ser da pessoa depende do ter (grifo meu) e, essa intensa “mercadorização” dos homens alcança então apropriação dos objetos e de direitos (como o autoral, títulos de crédito, e, etc...) a permitir trocas generalizadas.Os mais deferentes casais já cogitam em ter sua prole sob o que chamam “design babies” em tradução literal e brutalizada são os “bebês desenhados’ onde suas características genéticas estão predeterminadas, podendo inclusive prover deficiências físicas como, por exemplo, a surdez para não destoar dos pais em futura convivência.O fortalecimento do capitalismo vem apoiado na desmaterialização da riqueza, onde se passa a conhecer novas formas de bens de natureza incorpórea (como o fundo de comércio, patentes das invenções, marcas, ações e outros títulos).O próprio desenvolvimento tecnológico empreende uma marcha frenética despontando novos valores e novas riquezas cada vez mais efêmeras e instáveis.A noção de personalidade jurídica dos seres humanos que constitui bastião clássico do Direito Privado corresponde à idéia de titularidade, ou seja, de ser titular de direitos e obrigações de direito subjetivo como direito individual.
PALAVRA-CHAVE : SUIJEITO DE DIREITO,NACITURO.
2. A IMPORTÂNCIA DO TEMA 
A proteção da pessoa humana é o tema do momento do Direito Civil Brasileiro e, por isso, não nos cansamos de pregar a prevalência de um Direito Civil amparado na proteção da pessoa, distanciado de uma visão anterior, que eraessencialmente patrimonialista.
 Aqui, essa visão personalista ganha relevo no estudo das questões atinentes ao nascituro. Por óbvio que, para a análise da pessoa humana e das consequências advindas da sua proteção máxima, estampada no Texto Maior (art. 1º, inc. III, da Constituição Federal de 1988),4 é preciso saber o momento a partir do qual a pessoa encontra-se amparada pelo manto da proteção legal. 
As discussões a respeito do nascituro, da sua concepção como pessoa humana e da proteção de seus direitos não é nova no Direito Brasileiro e que serviu como referência para o presente artigo. 
A contribuição do presente trabalho é justamente a de defender a tese concepcionista, ou seja, de que o nascituro é pessoa humana, gozando de ampla proteção legal. Acredita esse autor que o momento é de reflexão profunda e, quem sabe, de virar as páginas bibliográficas que defendem as outras teses relativas ao nascituro, e que não lhe atribuem personalidade jurídica, o que, para um Direito Civil Personalizado, é algo inadmissível. Também, pelo surgimento da quarta geração ou dimensão de direitos, aqueles relacionados com a proteção do patrimônio genético da pessoa humana, acreditamos que as teses que negam personalidade ao nascituro estão totalmente ultrapassadas. Mesmo com a conclusão pela teoria concepcionista, não deixaremos de analisar as outras teorias, apontando os seus principais defensores no Brasil. Superadas essas teses, e para amparar nossa posição, abordaremos as questões práticas atinentes à consagração de direitos ao nascituro: a possibilidade de ele pleitear danos morais, os danos morais advindos da sua morte, a sua legitimidade para o ingresso da ação de investigação da paternidade, os alimentos do nascituro, a possibilidade de ele ser adotado e de ser-lhe nomeado um curador. Como o trabalho é essencialmente personalista, deixaremos de tratar de questões patrimoniais relativas ao nascituro. Quanto às questões sucessórias, essas são objeto de trabalho, escrito em co-autoria com José Fernando Simão.Como se sabe, as discussões envolvendo os direitos sucessórios do nascituro e do embrião são das mais controvertidas, merecendo, portanto, uma pesquisa própria. Sem prejuízo disso, as conclusões deste trabalho não deixam de influir também nas questões patrimoniais relacionadas com o nascituro. 	Em suma, o propósito do artigo é trazer conclusões que visualizam horizontes de valorização da pessoa humana na proteção dos direitos do nascituro, belo destino para onde caminha o nosso Direito Privado. 
3.CONCEITO DE SUJEITO DE DIREITO
A pessoa como sujeito de direito originou-se das correntes filosóficas que mais se propagaram com a Revolução Francesa (berço verdadeiro do jusnaturalismo e do iluminismo) e que gerou as três dimensões dos direitos fundamentais (a saber: liberdade, igualdade e fraternidade).
E, daí o direito objetivo passou a ser criação e reflexo das mais diversas manifestações da personalidade humana. Seria o direito subjetivo inerente a própria natureza humana e serviria como limite ético necessário para legitimar a atuação do Estado.Assim, a pessoa humana fora reduzida por ser simples elemento na relação jurídica. Então, nascituro é sujeito de direito porém não é pessoa. Tem efetivamente seus direitos resguardados, como uma pessoa em potencial (também como a prole futura).
A questão que urge saber é se embrião humano é sujeito de direito. Enquanto in vitro, não. Mas uma vez nidado no útero humano já se tornaria nascituro e, conseqüentemente, um sujeito de direito.
Outro problema é temporal-científico pois após quatorze dias o embrião passaria a desenvolver sistema nervoso, e  a partir daí, não se admite que seja o embrião tratado como mera coisa.
A manipulação de embriões humanos e das células-tronco está permitida para fins terapêuticos de pesquisa mas jamais por pura mercancia. A existência jurídica de pessoa é de ser humano sendo composto de corpo e alma.
E a supervalorização da racionalidade humana que veio a propiciar a apreensão jurídica do que é externo à razão humana. E redundou na idéia de que o corpo do sujeito de direito é coisa e, como tal, pode ser objeto de relações jurídicas.
Porém, os embriões “in vitro” distam do que seja persona concebida pela lei formal. Por outro lado, representa vida e digna de ser protegida.  Há proteção legal aos nascidos com vida, aos nascituros e, por fim, a prole eventual (como seres não concebidos) desta forma, podemos assim por analogia tratar os embriões humanos.
Embriões concebidos criogenizados e, mantidos em laboratório, não são pessoas naturais, embora também possamos protegê-los a guisa do que já se faz com os nascituros.
Registre-se que é odiosa a prática chamada de “design baby” onde os genitores projetam até mesmo deficiências físicas arquitetadas meticulosamente e geneticamente pela vontade dos pais biológicos.
O filho não pode ser uma mercadoria programada e pré-concebida pelos pais, exceto se for para livrá-los de patologias e falhas genéticas lastimáveis e que possivelmente possam comprometer uma vida saudável e digna.
Não há entre nós, a proteção jurídica específica para o embrião. Apesar de ser uma pessoa codificada ou ainda um sujeito virtual em oposição do sujeito real e concretoque corresponde à pessoa humana.
A subjetividade jurídica se traduz em ser titularidade de direitos que vai além dos bens patrimoniais, como direitos à segurança, a um mínimo de dignidade para se sobreviver em sociedade.
E o corpo é a materialização formal da personalidade mas restringe-se essa titularidade do sujeito de direito a fim de se evitar a comercialização espúria de sangue, células, órgãos e tecidos humanos.
Tal restrição é mais protetiva do que castradora. Pois embora o corpo pertença ao sujeito de direito, sua perfeição estética e funcional pode ser torneada pois poderá decidir se tatuar, colocar piercings , fazer circuncisão, praticar esportes radicais e até violentos, bem como dispor de seu corpo vivo como cobaia de experimentos e pesquisas científicas mediante consentimento esclarecido.
A Lei de Biossegurança de 24/03/2005 em seu art. 5º permite francamente para fins de terapia a utilização das células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos in vitro ou excedentários.
Tal permissão ventila ampliação da noção de titularidade das pessoas envolvidas indo além de suas próprias vidas, como é o caso da fertilização post mortem. Mas seria a paternidade e a maternidade dados ou referenciais apenas genéticos e biológicos? Tão-somente?
Nova parentalidade se avulta até em razão do anonimato do doador de sêmen que pode ser descoberto caso seja necessário, por exemplo, identificar certa propensão genética para certas patologias ou falhas genéticas comprometedoras.
Há ou não vínculo parental com embrião fertilizado in vitro? 
Cabe ressaltar que antes do advento da Lei de Biossegurança o Código Civil de 2002 (a Lei 10.406 que entrou em vigor em 10/01/2003) instituiu disciplina aplicável aos embriões excedentários caracterizando uma extensão do conteúdo da titularidade em relação ao novo ser.
Até pelo fato de a qualquer tempo tais embriões serem transferidos para útero humano e vir completar seu desenvolvimento, tornando-se plena e juridicamente pessoa ao nascer com vida.
A estrutura formal da relação jurídica coloca as pessoas no “cargo” de sujeito de direito (não porque são reconhecidas a sua natureza humana e dignidade mas por lhes atribui faculdades ou obrigações de agir, delimitando o exercício de poderes ou exigindo o cumprimento de deveres).
O sistema jurídico oferece apenas respostas patrimonializantes a respeito do significado do ser humano e de sua dignidade. O que nos remete fatalmente a seguinte pergunta crucial: - “Para que servem os embriões humanos?”.
São objetos de reprodução humana, objeto de estudo e pesquisa? Ou servirão apenas para se transformar em pessoas, perpetuando assim certas famílias ou ascendentes genéticos?
Ratifique-se que o embrião não é pessoa. E, não se compra, não se vende e nem se testa. 
Cabendo outra inquirição: - Por que proteger os embriões?
Somente a nova racionalidade do Direito Civil contemporâneo, somente a lógica atualizante poderá propor revisão das categorias e conceitos jurídicos. E, o sujeito de direito que é o mais importante destes, poderá inserindo-se nas relações jurídicas (na dinâmica do Direito) poderá continuar adquirindo direitos e deveres.
Portanto, o conceito de pessoa não é mais puramente operacional, pois se admite a personificação do patrimônio. Logo, a personalidade não é apenas o sinônimo de sujeito de direito. É valioso o esforço doutrinário no sentido de distinguir as noções de personalidade, subjetividade e capacidade.
A personalidade é valor característico da pessoa humana, é elemento axiológico prioritário em nosso ordenamento jurídico.
Que veio a mitigar a hermética esfera das relações privadas. E, veio a ser estendida até aos entes despersonalizados. Portanto, como é um dos fundamentos da república brasileira a dignidade da pessoa humana evidencia que a vida e a pessoa são valores cardeais que recebem tutela privilegiada além de prioritária.
A liberdade e a complexidade do conceito de pessoa vem moldar de maneira peculiar o complexo único e indivisível, onde os caracteres humanos cingem-se ao valor absoluto da pessoa humana. Enfim, norteia-se o Direito pelos prismas da solidariedade, eticidade e operabilidade desenhando um novo conceito de sujeito de direito. Mais amplo, mais igualitário e pleno aonde a diversidade e as diferenças sejam elos a ungir ainda mais a humanidade.
 
 
4. O CONCEITO DE NASCITURO 
 	Para Plácido e Silva nascituro “designa, assim, o ente que está gerado ou concebido, tem existência no ventre materno: está em vida intra-uterina. Mas, não nasceu ainda, não ocorreu o nascimento dêle, pelo que não se iniciou sua vida como pessoa”. Em seu Dicionário jurídico, Maria Helena Diniz conceitua o nascituro como sendo “Aquele que há de nascer, cujos direitos a lei põe a salvo”. O nascituro é justamente aquele que foi concebido e ainda não nasceu.
O Código Civil de 2002 trata do nascituro em seu art. 2º, cuja redação é muito próxima do art. 4º da codificação anterior. Ambos os dispositivos trazem como conteúdo a personalidade, que é a soma de aptidões ou caracteres da pessoa. Com todo o respeito ao posicionamento em contrário, deve-se entender que a personalidade não se confunde com a capacidade de direito, prevista no art. 1º do atual Código Civil, que vem a ser a condição que a pessoa tem de ser sujeito de direitos e deveres, na ordem privada.Pois bem, como se pode perceber, a confrontação dos dispositivos transcritos no quadro traz a conclusão de que, na essência, são idênticos, com a pequena observação de que o Código Civil de 1916 utilizava a expressão “homem”, enquanto que o Código Civil de 2002 prefere “pessoa”. Isso, para uma melhor adaptação ao que consta da 
própria Constituição, que no seu art. 1º, inc. III, utiliza a última. Também, a expressão 
“pessoa” é conquista do movimento feminista, que sempre pregou a denominação na flexão universal, não mais se utilizando o termo “homem”, no masculino. 
Mas ambos os dispositivos transcritos apresentam o problema da utilização das expressões “nascimento” e “concepção”, não tomando uma posição concreta quanto à personalidade do nascituro.11 Por isso é que, supostamente, a dúvida quanto à posição da codificação persiste entre nós. 
Uma outra indagação que surge do art. 2º do atual Código é se ele engloba ou não o embrião, o que divide grandes estudiosas do tema no Brasil. Maria Helena Diniz responde negativamente, conceituando o embrião como sendo o produto da fecundação do óvulo pelo espermatozóide, tendo vida extrauterina.12 Justamente por isso, a Professora da PUC/SP elaborou proposta legislativa que inspira o PL n. 6.960/2002, de autoria original do saudoso Deputado Ricardo Fiuza, e pela qual o art. 2º da atual codificação ficaria com a seguinte redação: “A personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do embrião e do nascituro”. Ressalte-se que o referido projeto legislativo foi reproposto recentemente pelo Deputado Léo Alcântara, recebendo o número 276/2007. Para a professora Heloísa Helena Barboza deixa claro de que a figura do nascituro não se confunde com o embrião, merecendo ambos um tratamento diferenciado, principalmente no tocante aos direitos sucessórios de ambos.
Mas essa respeitável corrente doutrinária e mesmo a proposta legislativa estão longe de ser unânimes. Vale dizer, aliás, que a Professora da USP mudou de entendimento, pois antes, nos idos de 1983, também defendia que o embrião não se confundia com o nascituro, o que demonstra que realmente a questão é controvertida, a deixar dúvidas até na mente do mais sapiente aplicador do Direito. A mudança de entendimento da professora da USP se deu diante dos notáveis avanços das técnicas de reprodução assistida, trazendo a nova realidade de tratamento jurídico do embrião pré-implantatório. Estamos filiados a essa última corrente, ou seja, entendemos que a expressão nascituro, constante do art. 2º do Código Civil, deve ser lida em sentido amplo, e incluir também o embrião, inclusiveaquele que se encontra crioconservado, entendimento que será basilar para amparar a nossa tese, como se verá ao final. 
Por oportuno, é importante dizer que o Deputado Vicente Arruda, então nomeado como relator para analisar o antigo PL n. 6.960/2002 na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação na Câmara dos Deputados, vetou a proposta de alteração do art. 2º do atual Código Civil.
Superado esse ponto, é interessante aqui demonstrar as três principais correntes quanto à personalidade jurídica do nascituro, já que o art. 2º do Código Civil não toma um posicionamento firme quanto à questão, utilizando tanto as expressões “nascimento” quanto “concepção”. Estudaremos então, pela ordem, a teoria natalista, a teoria da personalidade condicional e a teoria concepcionista.
4.1. A TEORIA NATALISTA 
A teoria natalista prevalecia entre os autores modernos do Direito Civil Brasileiro, para quem o nascituro não poderia ser considerado pessoa, pois o Código Civil exige, para a personalidade civil, o nascimento com vida. Assim sendo, o nascituro não teria direitos, mas mera expectativa de direitos. 
Do ponto de vista prático, a teoria natalista nega ao nascituro mesmo os seus direitos fundamentais, relacionados com a sua personalidade, caso do direito à vida, à investigação de paternidade, aos alimentos, ao nome e até à imagem. Com essa negativa, a teoria natalista esbarra em dispositivos do Código Civil que consagram direitos àquele que foi concebido e não nasceu. Essa negativa de direitos é mais um argumento forte para sustentar a total superação dessa corrente doutrinária. 
4.2 A TEORIA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL 
A teoria da personalidade condicional é aquela pela qual a personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas os direitos do nascituro estão sujeitos a uma condição suspensiva, ou seja, são direitos eventuais. Como se sabe, a condição suspensiva é o elemento acidental do negócio ou ato jurídico que subordina a sua eficácia a evento futuro e incerto. No caso, a condição é justamente o nascimento daquele que foi concebido. Como fundamento da tese e da existência de direitos sob condição suspensiva, pode ser citado o art. 130 do atual Código Civil.
O grande problema dessa corrente doutrinária é que ela é apegada a questões patrimoniais, não respondendo ao apelo de direitos pessoais ou da personalidade a favor do nascituro.28 Vale ressaltar, por oportuno, que os direitos da personalidade não podem estar sujeitos a condição, termo ou encargo, como propugna a corrente. Além disso, essa linha de entendimento também acaba reconhecendo que o nascituro não tem direitos, mas apenas direitos eventuais sob condição suspensiva, ou seja, também mera expectativa de direitos. 
Na verdade, com todo o respeito ao posicionamento em contrário, consideramos que a teoria da personalidade condicional é essencialmente natalista, pois também parte da premissa de que a personalidade tem início com o nascimento com vida. 
Por isso, em uma realidade que prega a personalização do direito civil, uma tese essencialmente patrimonialista não pode prevalecer. 
4.4. A TEORIA CONCEPCIONISTA 
A teoria concepcionista é aquela que sustenta que o nascituro é pessoa 
humana, tendo direitos resguardados pela lei. Esse é o entendimento defendido por vários autores e apontam que a origem da teoria está no Esboço de Código Civil elaborado por Teixeira de Freitas, pela previsão constante do art. 1º da sua Consolidação das Leis Civis, pelo qual “As pessoas considerão-se como nascidas apenas formadas no ventre materno; a Lei lhes conserva seus direitos de sucessão ao tempo de nascimento”
Também no Direito Comparado não tem sido diferente o posicionamento de alguns juristas. Na Itália, Pierangelo Catalano é adepto da doutrina concepcionista, defendendo a equiparação do nascituro às pessoas nascidas. Entre os autores portugueses, esse também parece ser o posicionamento de José de Oliveira Ascensão, ao reconhecer até mesmo direitos sucessórios ao nascituro. No Direito Espanhol, Luis Díez-Picazo e Antonio Gullón demonstram toda uma preocupação de proteção dos direitos do concepturo, principalmente pela proteção da sua vida. 
O que se percebe pela pesquisa que formulamos é que, entre nós e atualmente, prevalece a teoria concepcionista e não a mais a teoria natalista. Além dos argumentos doutrinários, várias questões práticas trazidas a lume reforçarão a tese de que, realmente, o nascituro deve ser dito como pessoa humana, dotado de proteção quanto aos seus direitos da personalidade. Demonstraremos a seguir as razões pelas quais filiamo-nos também a esse entendimento. 
 Por tudo o que foi exposto no presente trabalho, percebe-se que há uma página a ser virada na bibliografia do Direito Civil Brasileiro, aquela que afirma que o nascituro não é pessoa humana, tendo apenas expectativa de direitos. Não temos dúvida em 
afirmar que o nascituro é pessoa, tendo direitos amparados pela lei. Se o art. 2º do Código Civil em vigor deixa dúvidas, a interpretação sistemática do sistema não pode afastar o reconhecimento desses direitos. Por isso, podemos reafirmar que prevalece entre nós a teoria concepcionista. 
5.O JUIZ E O ATO DE JULGAR
O texto estudado expõe uma reflexão aprofundada da responsabilidade em que se encontra investido o Estado-Juiz, sua atuação jurisdicional merece tamanho destaque, pois nele está incumbida a ação de analisar e julgar os conflitos existentes na sociedade, para tanto, usa-se das leis positivadas do nosso ordenamento jurídico para manter tal ordem. Dessa forma, destacamos a atuação do poder judiciário que tem como função típica a atuação no cumprimento dessas leis. O juiz por sua vez é o principal responsável pela aplicação dessas normas no caso concreto, é nesse contexto que encontramos a antinomia entre a emoção e a razão. O ato de julgar segundo o entendimento judicante é estruturado pela imparcialidade e neutralidade do magistrado que o pratica, mas, como não envolver sentimentos ou até mesmo tomar um partido, sendo o juiz um mero mortal investido do poder do Estado?
O texto abre diversos meios para questionar sobre os fatores que englobam a decisão de um juiz, sendo que vários críticos se manifestam ponderando que o julgador, para alguns, deve ser mais vinculado à emoção e outros, à razão. Ainda nesse viés podemos perceber que o texto ressalta que o juiz não utiliza apenas um desses fatores, razão ou emoção, mas sim de ambos, usando-os de forma paralela. Não existe uma verdade absoluta, ou seja, razão e emoção se misturam, pois não há como um ser humano se distanciar de sua emoção, de seus saberes, de sua trajetória de vida, de seus conhecimentos, de suas preferências, portanto, é notório que se somente uns desses fatores forem utilizados, a prestação jurisdicional será falha, pois um juiz deve considerar as provas de um processo, assim como, o que levou as partes a procurarem a justiça, além disso, deve analisar os fatores sociais os quais são de extrema importância para se proferir uma sentença.
. É entre esses e outros acórdãos, ou sentenças, que podemos perceber o quanto um Juiz pode ser guiado pela emoção. Bisson viu além das provas inseridas entre tantas páginas do processo. Denota-se a importância de analisar todo o contexto, a história, de ambas as partes envolvidas no processo. Isso chama-se prestação jurisdicional. Desse modo, ao escolher uma profissão temos que ter o tato bem apurado para nos colocarmos a disposição de algo que nos torne pessoas felizes como o que faremos, e ao nos deparar com situações atípicas podermos escolher aquilo que não somente nos satisfaça, mas sim a sociedade como um todo.	
Nesse sentido, entendemos que o juiz não deve optar em totalidade pela plena razão muito menos pela emoção, pois ambas usadas em sua totalidade acabariam por manter um caráter arbitrário, ou até mesmo, parcial. O magistrado por sua vez deve manter um equilíbrio entre a razão e a emoção a fim de manter uma equidade em seus julgados, pois o juiz é como qualquer outro ser humano:composto de sentimento, interesses, culturas e etc. 
O autor cita a crise do conhecimento dentro do universo judicial, a imposição da objetividade racional frente à idéia da subjetividade, o agir pelo pensar, e não pelo sentir. Defende a idéia de que as decisões judiciais são ao mesmo tempo objetivas e subjetivas, e não puramente imparciais, onde o magistrado tem a capacidade de no momento de seu veredito ou no cumprimento de sua função jurisdicional, apagar por instantes seus sentimentos, anseios e ideais. Como ele mesmo diz, “somente o humano percebe o humano”, logo o ato de julgar é uma ação humana, portanto envolve todos os elementos existentes na consciência humana, a razão, a emoção e o sentir.
Este artigo mostra a grande dificuldade que se passa nos bastidores de uma decisão judicial, pode-se observar que mesmo sem intenção, o juiz envolve fatores emotivos, o magistrado, assim como qualquer indivíduo, está sujeito ao erro, ou a sofrer influências de seu inconsciente. O autor não apresenta solução para o problema, se o ato de julgar é realizado por homens, logo estes, seres racionais e emocionais, decidem segundo seu convencimento.
Portanto, é através dessas influências que cai por terra a tese de que o juiz é imparcial ou neutro, pois a presença da razão e emoção no ato de julgar é indissolúvel, haja vista que a sociedade muda tanto no tempo quanto no espaço, e para isso é necessário certo nível de flexibilidade entre a razão e a emoção com o objetivo único de estabelecer sentenças justas.
Dessa maneira, em resumo, ressalta-se a importância do equilíbrio entre a razão e a emoção em uma decisão judicial. Uma sentença justa e adequada é aquela em que o juiz considera não apenas as leis e normas que compõem o ordenamento jurídico, mas o conjunto entre essas leis e os fatores sociais, culturais e históricos.
6.CONCLUSÃO
Por tudo o que foi exposto no presente trabalho, percebe-se que há uma página a ser virada na bibliografia do Direito Civil Brasileiro, aquela que afirma que o nascituro não é pessoa humana, tendo apenas expectativa de direitos. Não temos dúvida em afirmar que o nascituro é pessoa, tendo direitos amparados pela lei. Se o art. 2º do Código Civil em vigor deixa dúvidas, a interpretação sistemática do sistema não pode afastar o reconhecimento desses direitos. Por isso, podemos reafirmar que prevalece entre nós a teoria concepcionista. E por causa disso cada juiz julga de uma forma ora usam as doutrinas ,ora suas próprias emoção.
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