Prévia do material em texto
1 - O Que é Ciência? A Compreensão Social do Conhecimento Científico ➔ Percepções Comuns: Ciência como algo distante, como desenvolvimento científico notável • Ciência como conhecimento catastrofista • Ciência sem diálogo com a sociedade • “Ciência” deriva do latim “scientia”, substantivo etimologicamente equivalente a “saber”, “conhecimento” • Mas... Todo saber é científico? ➔ Concepção tradicional: • Concepção tradicional ou “herdada” da ciência: • Ciência como … – empreendimento autônomo, objetivo, neutro – baseado na aplicação de um código de racionalidade – distante de qualquer tipo de interferência externa (sociais, políticas, psicológicas…). . ➔ Tradição clássica: • Dentro da tradição do empirismo clássico, casos de Francis Bacon e John Stuart Mill, o método científico era entendido basicamente como um método indutivo para o descobrimento de leis e fenômenos. • Bacon (1521-1626): O valor e a justificação do conhecimento consistem sobretudo de sua aplicação e utilidade prática ➔ Indução • A indução consiste em afirmar acerca de todos, aquilo que foi possível observar em alguns. • Ou seja, através de uma amostra definimos uma teoria genérica, incluindo elementos que não faziam parte dessa amostra/estudo. • A indução faz a generalização, isto é, cria proposições universais a partir de proposições particulares.” • Indução: o particular leva ao universal ➔ Indução Exemplos • O caso dos metais • Imagine um conjunto de metais. Ferro, cobre, estanho, chumbo, ouro... E outros • Observo que todos são sólidos. Como não encontro metal que não seja sólido, posso fazer a inferência por indução de que todos os metais são sólidos • Indução permite inferir regras a partir de casos ou situações particulares que tenham as mesmas propriedades • Mas se não observamos todos os casos, podemos criar regras falsas. Ex: existe um metal não sólido – mercúrio ➔ “Giro lógico” • J. Herschel (1792 –1871) e W. S. Jevons (1835 –1882) • O formalismo científico nem sempre se aplica • Numerosas idéias científicas surgem por múltiplas causas, algumas delas vinculadas à inspiração, à sorte em contextos internos das teorias, aos condicionamentos socioeconômicos de uma sociedade, sem que seja seguido, em todos os casos, um procedimento padrão ou regulamentado ➔ “Giro lógico” • O método científico passa a ser entendido como um procedimento de justificação post hoc e não de gênese ou descobrimento. Aplica-se o método hipotético-dedutivo (H-D), onde o apoio da experiência às hipóteses gerais continua sendo de caráter indutivo, porém se trata de uma indução ex post ou indução confirmatória. • Importante: indução é voltada para as generalizações, e a dedução para as particularidades Dedução • Deduzir é particularizar: aplicar uma “regra geral” a um caso particular • Ex: Verdadeira - Aristóteles – "P1:Todos os homens são mortais“. "P2:Sócrates é homem“. "Logo, Sócrates é mortal • Ex: Falsa – Todos os jogadores de futebol do Juventus da Mooca são bons jogadores de futebol – Ronivaldino é atacante do Juventus da Mooca – Ronivaldino é um bom jogador • Atenção: Dedução: as conclusões serão verdadeiras CASO, necessariamente, todas as premissas sejam verdadeiras. – Sua base é racionalista e pressupõe que apenas a razão (objetiva) pode conduzir ao conhecimento verdadeiro. ➔ Dedução • Assim, a ideia por trás do método dedutivo é ter um princípio reconhecido como verdadeiro e inquestionável, • Ou seja, uma premissa maior, a partir da qual o pesquisador estabelece relações com uma proposição particular, a premissa menor. • Ambas são comparadas para, a partir de raciocínio lógico, chegar à verdade daquilo que propõe, ou conclusão. • ➔ Dedução - Exemplos (exemplo retirado da Internet) • Por que o desejo de fama é tão presente no mundo atual? – “E válido destacar, antes de tudo, que o grande objetivo do ser humano em vida é a felicidade. Ser feliz no mundo capitalista em que vivemos parece estar baseado em desejos essencialmente materiais, tais como dinheiro e status social. Nessa perspectiva, se considerarmos que a fama é um meio de se atingir de maneira rápida tais ideais, não é de se estranhar que seja tão desejada na atualidade.” ➔ Dedução e Indução • Dedução: “Todos os homens são mortais“. “Sócrates é homem“. "Logo, Sócrates é mortal • Indução: quando percebemos que "João morreu", "Maria morreu", "Pedro morreu", e todos os outros seres humanos morreram (ou seja de várias constatações individuais), podemos concluir que "todos os seres humanos são mortais.” • Sherlock Holmes: dedução e/ou indução? ➔ O caso de Sherlock Holmes ➔ Critérios de cientificidade • Critérios de aceitabilidade de ideas em ciência – verificabilidade de enunciados – exigência da confirmabilidade crescente – falseabilidade de hipóteses ou teorias Falseabilidade • Para Popper, uma hipótese ou teoria só é científica se ela “passar no teste” da falseabilidade: – uma hipótese precisa “sobreviver” com êxito a numerosas e diversas tentativas de se provar a sua falseabilidade. ➔ Objetivo do método científico ➔ • Identificar a ciência como uma combinação peculiar de raciocínio dedutivo e inferência dedutiva (lógica + experiência)… • …auxiliadas, quem sabe, por virtudes cognitivas como a simplicidade, o poder explicativo ou o apoio teórico. ➔ A Reação ao Positivismo Lógico • A carga teórica da observação. O que se vê depende tanto das impressões sensíveis como do conhecimento prévio, das expectativas, dos pré-juízos e do estado interno geral do observador. • A infradeterminação. O que o argumento da infradeterminação afirma é que, dada qualquer teoria ou hipótese proposta para explicar um determinado fenômeno, sempre é possível produzir um número indefinido de teorias ou hipóteses alternativas que sejam empiricamente equivalentes à primeira, mas que proponham explicações incompatíveis do fenômeno em questão. ➔ O debate • O “Essencialistas”: mantêm que sejam adotados enfoques e procedimentos baseados em condições internas do método hipotético-dedutivo (H-D) • Sociólogos “contextualistas”, colocam ênfase nos fatores sociais ou instrumentais ➔ Orientações construtivistas • A ciência é apresentada como um processo social, e uma grande variedade de valores não epistêmicos (políticos, econômicos, ideológicos – em resumo, o “contexto social”) se acentua na explicação da origem, da mudança e da legitimação das teorias científicas – As descobertas científicas são susceptíveis a mais de uma interpretação, – Há mecanismos sociais, retóricos, institucionais etc. que limitam a flexibilidade interpretativa e favorecem o fechamento das controvérsias científicas ao promover o consenso acerca do que é “a verdade” em cada caso particular ➔ Thomas S. Kuhn A estrutura das revoluções científicas • O processo: • Revolução - Desenvolvimento de novo paradigma científico - Surgimento de novos problemas - Revolução – e assim por diante ➔ Bruno Latour • Defende que o estudioso da ciência se converta em um antropólogo, e, como tal, que entre no laboratório, como faria em uma tribo primitiva totalmente distante de sua realidade social, para descrever do modo mais puro possível a atividade que os cientistas e tecnólogos desenvolvem ali. • Em conseqüência, o imperativo da investigação consiste em abrir a “caixa- preta” do conhecimento e descrever o que há lá dentro Novos enfoques sobre a ciência: ciência reguladora • A atividade científica orientada a fornecer conhecimentos para assessorar na formulação de políticas é conhecida como ciência reguladora. – Ex:As análises de impacto ambiental, a avaliação de tecnologias, as análises de riscos etc. são exemplos de ciência reguladora. ➔ Ciência reguladora: questões para a científica • Qual é a responsabilidade dos cientistas na hora de resolver conflitos que surgem a partir da interação entre ciência e sociedade? • Existe, de fato, uma separação entre o âmbito científico e o político ? ➔ Novos enfoques sobre a ciência: transciência Weinberg - Muitas das questões que surgem no curso das interações entre a ciência e a sociedade (os efeitos nocivos secundários da tecnologia, ou as tentativas de abordar os problemas sociais mediante os procedimentos da ciência) dependem de respostas que podem dizer respeito à ciência, mas que, no entanto, a ciência não pode responder ainda ➔ Significado de questões transcientíficas • Os cientistas são incapazes de dar respostas precisas a elas • Muitas questões políticas e sociais possuem essa característica de transcientificidade ➔ Exemplos de problemas de transciência • Impossibilidade de: – determinar diretamente as probabilidades de que aconteçam eventos extremamente infreqüentes; (ex: reator nuclear) – extrapolar o comportamento dos protótipos ao comportamento dos sistemas em escalas reais sem uma perda de precisão; (ex: usina de Jirau) – responder questões de valor como, por exemplo, de que problemas deveria se ocupar a ciência. (ex: caro demais, falta de dados, ou questões de caráter ético, estético) ➔ Um exemplo de transciência? • O problema dos buracos negros 2 - O que é Tecnologia? ➔ Conteúdo • Técnica e natureza humana • Tecnologia como ciência aplicada • Demarcações sobre a tecnologia • A prática tecnológica • O conhecimento tecnológico Texto: Bazzo, O que é Tecnologia ➔ Tecnologia na Atualidade • “Tal é a onipresença da técnica na realidade que se pode afirmar, inclusive, que a própria realidade, em certo sentido, é uma construção técnica.” • A compreensão desse fenômeno … (requer) … explorar a influência das forças sociais, políticas e culturais na ciência e na tecnologia, e examinar o impacto que as tecnologias e as idéias científicas podem ocasionar à vida das pessoas. ➔ Objetivos • Obter “alfabetização (sobre tecnologia)”, o que requer… – Reflexão explícita acerca dos valores tecnológicos – A forma como eles são gerados – Como circulam nos diferentes contextos da sociedade, assim como nas distintas práticas e saberes. • Como atingir esses objetivos – Análises interdisciplinares – Identificar e se relacionar com diferentes atores e pressupostos argumentativos que buscam legitimar uma ou outra posição valorativa. ➔ Técnica e natureza humana • “A técnica tem permitido a transformação do meio onde os humanos vêm desenvolvendo sua vida, uma vez que eles próprios têm provocado a sua transformação.” • “Seguramente a técnica é uma das produções mais características do homem, mas também é certo que os seres humanos são, ao que parece, o produto mais singular da técnica.” Técnica “triunfalista” • “Parece ser próprio da espécie humana a contínua adaptação a qualquer condição ambiental mediante a construção técnica de artefatos e produtos que permitem que sua vida seja possível em todos os lugares do planeta, e inclusive fora dele.” • Qual é a relação dessa afirmação com o debate sobre sustentabilidade? ➔ O significado da tecnologia • A relação ciência-tecnologia – O termo “técnica” – refere-se a procedimentos, habilidades, artefatos, desenvolvimentos sem ajuda do conhecimento científico. – O termo “tecnologia” –refere-se àqueles sistemas desenvolvidos levando em conta esse conhecimento científico. ➔ Tecnologia como ciência aplicada • Visão positivista – Tecnologia como conhecimento prático que derivava diretamente da ciência (conhecimento teórico). (objetividade racional em Weber) • Positivismo – Teorias científicas podem explicar o mundo de forma objetiva, racional e livre de qualquer valor externo à própria ciência. – O conhecimento científico visto como um processo progressivo e acumulativo, que substitui o conhecimento passado. Consequências da visão positivista • Imagem intelectualista da tecnologia – Portanto, não é possível afirmar que exista uma determinada tecnologia sem uma teoria científica que a respalde. – Mas poderiam existir teorias científicas sem contar com tecnologias. • Pode-se argumentar que as teorias científicas são valorativamente neutras – Ninguém pode exigir responsabilidades dos cientistas a respeito de suas aplicações, quando são postas em prática. – Se houver responsabilidade, ela deveria recair sobre quem faz uso da ciência aplicada, isto é, da tecnologia. As tecnologias, como formas de conhecimento científico. ➔ Crítica à tecnologia como ciência aplicada • Shrum (1986): – Ciência e da tecnologia como duas subculturas simetricamente interdependentes • A imagem da tecnologia como ciência aplicada contribui para que tradicionalmente se dê pouca importância à análise da tecnologia. ➔ Demarcações sobre a tecnologia • Tecnologia pode ser compreendida como uma coleção de sistemas projetados para realizar alguma função. • Fala-se, então, de tecnologia como sistema e não somente como artefato, para incluir tanto instrumentos materiais como tecnologias de caráter organizativo: – A tecnologia não é uma mera aplicação prática dos conhecimentos científicos, tampouco a própria tecnologia, nem seus resultados, os artefatos, podem limitar-se ao âmbito dos objetos materiais. – Tecnológico não é só o que transforma e constrói a realidade física, mas também aquilo que transforma e constrói a realidade social. ➔ Exemplo ➔ Características que distinguem a tecnologia • Exeqüibilidade – precisa responder questões sobre: “onde”, “quando”, “por quem”, “para quem” • Caráter sistêmico – trama sociotécnica ; ex: automóvel, agrotóxicos etc • Heterogeneidade – componentes de diferentes tipos e procedências • Relação com a ciência – mais do que ciência aplicada: “saber como” e incorporação do conhecimento científico mediado por diversos fatores • Divisão do trabalho – entre quem desenvolve, produz, e opera ➔ A prática tecnológica • O conceito de prática tecnológica • “… v em a ser a aplicação do conhecimento científico ou organizado nas tarefas práticas por meio de sistemas ordenados que incluem as pessoas, as organizações, os organismos vivos e as máquinas” (Pacey, 1983, p. 21). ➔ A prática tecnológica • Três dimensões integradas: – Aspecto técnico – envolve máquinas, técnicas e conhecimentos com a atividade essencial de fazer funcionar as coisas; – Aspecto organizacional – administração e política públicas + atividades de engenheiros e outros profissionais, além de usuários e consumidores; – Aspecto cultural e ideológico – que se refere aos valores, às idéias e à atividade criadora. ➔ O conhecimento tecnológico • Habilidades técnicas – Referem-se a “saber como”, que se adquirem por ensaio e por erro e se transmitem por imitação. Trata-se de um tipo de conhecimento que é em grande parte tácito e não discursivo. • Máximas técnicas – São o “saber como” codificado. Tratam-se de conhecimento adquirido por ensaio e por erros, porém transmissíveis lingüisticamente. • Leis descritivas – São as generalizações derivadas diretamente daexperiência, por isso também são denominadas “leis empíricas”. Não são leis científicas porque não formam parte de uma trama teórica que as explique. • Regras tecnológicas – São formulações lingüísticas para realizar um número finito de atos em uma ordem dada; representam teoricamente o saber tecnológico. São normas que se caracterizam por estar fundamentadas cientificamente; são formas baseadas em leis capazes de dar razão à sua efetividade, e que indicam como se deve proceder para conseguir um determinado fim. • Teorias tecnológicas – Uma teoria tecnológica guarda uma relação particular com a ação, seja porque fornece conhecimento sobre os objetos da ação ou porque nos informa sobre a mesma ação. Há dois tipos de teorias tecnológicas: – Substantivas - São essencialmente aplicações das teorias científicas. (ex: aerodinâmica) – Operativas – Nascem na pesquisa aplicada sobre a relação homem -máquina em situações aproximadamente reais, que podem não guardar relação com teorias substantivas. (pesquisa peracional) • Os experimentos científicos provam a adequação de uma teoria; os experimentos tecnológicos, sua efetividade. 3 - O Que é Ciência, Tecnologia e Sociedade ? - BAZZO, W. A.; et al; (2003). Introdução aos Estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade). Cuadernos de Iberoamérica. OEI, Madrid, Cap 4: O que é Ciência, Tecnologia e Sociedade? (até item 4.4.). - COUTINHO DA SILVA, P.B. Ciência, Tecnologia e Sociedade na América Latina nas Décadas de 60 e 70: Análise de obras do período. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência, Tecnologia e Educação, Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ, Rio de Janeiro, 2015. Cap. 1 ➔ CTS como uma área de conhecimento • Estuda os aspectos sociais da ciência e da tecnologia • No que se aplica a: - Fatores sociais que influenciam a mudança técnico-científica - Consequências sociais e ambientais da ciência e da tecnologia ➔ Cinco etapas da argumentação 1. Compreender de que forma a ciência e tecnologia são percebidas na sociedade 2. Quais são os modelos políticos utilizados por diferentes países (em especial os industrializados) para gerir o desenvolvimento científico e tecnológico • A partir desse entendimento, vamos compreender... 3. CTS como uma reação acadêmica contra a visão essencialista e triunfalista da ciência e da tecnologia 4. Uma nova concepção do fenômeno científico e tecnológico que emerge desde a década de 1970 5. Uma reflexão de natureza ética sobre as conexões entre o estudo acadêmico e o ativismo social ➔ Compreender de que forma a ciência e tecnologia são percebidas na sociedade • Coutinho da Silva: “CTS é um campo multidisciplinar cujo objeto de estudo é a inter-relação entre o desenvolvimento científico e tecnológico e o contexto social através de uma perspectiva crítica, interdisciplinar e oposta à visão clássica, otimista e linear que envolvia (e de certa forma ainda envolve) a ciência e tecnologia desde o início do século XX.” • Concepção clássica: modelo de desenvolvimento linear • + ciência = (conduz a) + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social • Coutinho da Silva: “CTS é um campo multidisciplinar cujo objeto de estudo é a inter-relação entre o desenvolvimento científico e tecnológico e o contexto social através de uma perspectiva crítica, interdisciplinar e oposta à visão clássica, otimista e linear que envolvia (e de certa forma ainda envolve) a ciência e tecnologia desde o início do século XX.” • Concepção clássica: modelo de desenvolvimento linear • + ciência = (conduz a) + tecnologia = + riqueza = + bem-estar social ➔ Origens da concepção essencialista • O pós-Segunda Guerra Mundial • Energia nuclear • (projeto Manhattan: https://www.youtube.com/watch?v=92hIUB-drtk) • Pílula anticoncepcional • Computadores • Agrotóxicos • Constituição de centros federais de ciência e tecnologia • “Casamento” entre ciência, tecnologia e estratégias econômicas e militares após a II Guerra Franklin Delano Roosevelt • Quais deveriam ser as diretrizes para a política científico-tecnológica americana? • Vannevar Bush: The Endless Frontier (1945) • Crença na habilidade continuada da ciência de encontrar respostas • Apoio à inovação ➔ Cinco mitos gerados pela visão essencialista de ciência, segundo Daniel Sarewitz • Mito do “benefício infinito” Mais ciência e mais tecnologia geram aumento de bem estar da sociedade, mesmo não existindo garantias de que a transição entre laboratório e sociedade seja possível ou gere bem estar social; • Mito da pesquisa livre Pesquisa voltada para a ciência básica ou para processos fundamentais da natureza geram benefícios sociais, dando carta branca, com este argumento, para que a ciência se regule sozinha, sem necessidade de participação social. Esta lógica, se não muito prejudicial a países desenvolvidos, o é para países em desenvolvimento, onde os problemas sociais existentes necessitam que haja um direcionamento maior dos recursos para estudá-los; • Mito da responsabilidade Qualquer pesquisa científica feita enquadrada num sistema de normas de qualidade feito pela própria comunidade científica seria ética e responsável com relação à sociedade; • Mito da autoridade Confere ao conhecimento científico produzido, e por consequência o cientista que o produziu, um caráter objetivo que pode ser utilizado como autoridade para resolver questões políticas, colocando a ciência e cientistas num patamar superior a qualquer outro tipo de conhecimento humano; • Mito da autonomia da ciência Concepção que considera autônomo de questões morais e sociais o conhecimento científico “de fronteira”, sendo interpretado como um fenômeno natural ao qual a sociedade deveria se adaptar. ➔ O mal-estar pela ciência - Bazzo • Uma das críticas a essa visão de ciência e tecnologia é que a concepção essencialista / modelo linear representa um cheque em branco para a ciência e a tecnologia • Apesar do avanço do conhecimento... diversos desastres têm ocorrido... • ... e vários avanços resvalam em questões éticas não resolvidas • ... ou podem significar danos à vida (aquecimento global, transgênicos, clonagem etc) • A partir dos anos 1960 e 1970 os estados nacionais começaram a colocar limites ao modelo linear por meio de instrumentos técnicos e legislativos ➔ Relembrando: Os estudos CTS (ou estudos sociais da ciência e da tecnologia) Objetivo: • Estudar os aspectos sociais da ciência e da tecnologia • No que se aplica a: - Fatores sociais que influenciam a mudança técnico-científica - Consequências sociais e ambientais da ciência e da tecnologia • Propõe uma nova forma de se compreender (e se fazer) ciência e tecnologia • Propõe a regulação social da C&T no campo das políticas públicas • Novas formas de educação • de caráter interdisciplinar para compreender a relação entre C&T e sociedade ➔ Duas tradições • Europeia: Entender a contextualização social dos estudos da ciência • Analisar como diversos fatores sociais influem na mudança científica e tecnológica • Exemplo: Analisar as diferentes opções que grupos sociais têm sobre alternativas tecnológicas• Americana: • Consequências sociais e ambientais da ciência e da tecnologia • Exemplo: é melhor deixar com os especialistas a gestão do risco pela aplicação do conhecimento científico e pela utilização dos artefatos tecnológicos ➔ Elemento central: envolvimento público • Argumento instrumental: a participação pública é a melhor garantia para evitar a resistência social e a desconfiança nas instituições • Aumenta legitimidade e melhora resultados • Argumento normativo : trata-se de democracia, pois os cidadãos são os maiores defensores de seus próprios interesses e a participação constrói entendimentos coletivos • Argumento substantivo: os juízos dos leigos são tão válidos quanto dos especialistas • Mas... Quem participa? ➔ Participação: Duas perspectivas Teoria pluralista: participam cidadãos que representam grupos de interesse organizados voluntariamente ◆ Grupos de cidadãos, ONGs, grupos de cientistas ◆ Teoria da participação direta: participam os indivíduos na formulação de políticas ◆ Público / partes interessadas diretamente afetado ◆ Público / partes interessadas potencialmente afetado ◆ Consumidores dos produtos científicos e tecnológicos ➔ C&T e questões éticas • Há C&T que... • Aumentam a concentração de riquezas • Provocam guerras • Investigam áreas com grande periculosidade social e ambiental (biotecnologia, energia nuclear) • Gastam recursos com questões de prioridade duvidosa (astronomia extragaláctica) • Mas a decisão é dos cientistas? • Os comitês de participação “científica” estão cheios de homens de negócio 4 - O Nascimento Da Ciência Moderna Os Caminhos Diversos da Revolução Científica nos Séculos XVI e XVII O percurso do conhecimento científico moderno A trajetória da Revolução Científica (Introdução) A nova concepção da natureza e do mecanicismo A matematização de real, na Natureza e do Universo A valorização da experiência e a experimentação Os artesãos, os técnicos e sua contribuição O inquérito e a nova concepção de verdade A polêmica entre “antigos” e “modernos” Os significados da revolução científica ➔ A trajetória da Revolução Científica 1. Passa-se da investigação das causas metafísicas para a investigação da causalidade física – o sentido e a finalidade do que existe, como entender o ser (ontologia) e como compreender o universo (cosmologia) ➔ A nova concepção da natureza e do mecanicismo • Desde Platão se entende a Natureza como um conjunto ordenado: há uma ordem no Cosmos • Qual é a relação homem-natureza? • Existe um princípio que rege aos dois? • O homem está integrado à natureza? • [ a concepção divina da natureza, criada por Deus em seis dias, para ser desfrutada pelo homem ] • A partir do século XVI começa uma “desdivinização do mundo”, com a dificuldade de se separar a noção de ordem da existência de Deus e de uma finalidade. ➔ A Natureza Mecânica-Matemática • Galileu: Deus escreveu o “grande livro da Natureza”, mas era possível identificar uma “Natureza Máquina” (Machina Mundi) • Galilei vai pata o Tribunal do Santo Ofício em 1632 • Westphalia: 1648 • Galileu: independência do mundo natural-objetivo em relação ao mundo humano-subjetivo. ➔ A matematização de real, na Natureza e do Universo • O pensamento de Copérnico (heliocêntrico) e Galileu (matematização do conhecimento sobre a natureza) • Se beneficiou da expansão dos números indo-árabes desde o século XII • E mais dois processos impostantes • A) A construção progressiva do Estado moderno, cobrança de impostos para manutenção da estrutura burocrática e do aparato militar, com necessidade de contabilidade; • B) O desenvolvimento da economia de mercado ➔ A valorização da experiência e a experimentação • Embora a valorização da experiência tenha raiz nos gregos [ incluindo Tucídedes ] • Com a percepção do caráter “horizontal” do tempo e do espaço • Ela se expandiu com a “sabedoria do mar” • Ou com a experiência prática das coisas • Fugindo da escolástica baseada na autoridade, no conhecimento dos antigos, no saber mágico-hermético • Cria-se um novo critério de verdade • Leonardo Da Vinci – 1508 – busca da superação da dicotomia teoria-prática, estabelecendo sincronia entre essas duas dimensões do conhecimento. – Duas vertentes: • Empirismo sensorial (a experiência vivida) • Racionalismo crítico-experiencial (observação quantitativa (+) e qualitativa (-) repetida, comparada, pluripessoal e transmissível com fundamentação • Método experimental se expande fora da Península Ibérica • Experiência como conhecimento reproduzível e experiência como prática (especialmente dos navegantes) • Francis Bacon: – experiência mais qualitativa do que quantitativa – Caráter público do conhecimento • Robert Boyle e Robert Hooke (1660) – Produção do vácuo em laboratório • Newton: mecânica e ótica • A “verdade” passa a ser científica obtida por meio de prova experimental e não de teorias abstratas. ➔ Os artesãos, os técnicos e sua contribuição • Os artífices e sua contribuição para os cientistas • Os “artesãos superiores” prestam auxílio fundamental ao “intelectuais especulativos” – Invenção técnica e os artefatos de engenharia – Se desenvolve a colaboração entre técnicos e eruditos defendida por Bacon em 1620 • Surgimento de academias e entidades científicas – 1660 Royal Society of London ➔ O inquérito e a nova concepção de verdade • O ideia de uma investigação se desenvolve inicialmente coma religião (Idade Média – séculos V a XV) • E se desenvolve com novas formas jurídicas (a partir do século XII) • A ideia de uma verdade (“absoluta”) à qual os inquéritos chegam, passa a fazer parte dos governos, uma técnica de administração, uma modalidade de gestão” que fortaleceu o poder monárquico a partir do século XIII • Tornou-se uma maneira de “autenticar a verdade” (Michel Foucault) • Inquérito experimental tornou-se a fórmula do “saber-poder” ➔ Os significados da revolução científica (página 64) • A ciência moderna... – não reconhece autoridade – É experimental – Tende para uma imagem do mundo que é mecanicista – Procura, tanto quanto possível, descrever ou explicar as coisas e os acontecimentos naturais em termos matemáticos, quantificando as qualidades • Newton: ciência mecanicista e experimental 6 - Ciência e a Estrutura Social Democrática Robert K. Merton • 1910 – 2003 • Funcionalismo estrutural • Sociologia da ciência • Estudos da burocracia • Estudos da comunicação de massa ➔ A ciência e o cientista • Os cientistas estão imersos em certos tipos de estrutura social • Ou seja, os cientistas se veem obrigados a justificar os caminhos da ciência para outros membros da sociedade [?] ➔ Ciência • Diversos significados.. A) Um conjunto de métodos por meio dos quais os conhecimentos são comprovados B) Um acervo de conhecimentos acumulados, provenientes da aplicação desses métodos C) Um conjunto de valores e costumes culturais que governam as atividades chamadas científicas D) Qualquer combinação dos itens anteriores • Um conjunto de valores e costumes culturais que governam as atividades chamadas científicas • Ou seja.. • A análise visa identificar a estrutura cultural da ciência, ou .. • Um aspecto limitado da ciência como instituição – Quais são os costumes que circundam os métodos da ciência? ➔ Ethos da Ciência • Proposição: • Os métodos são expedientes técnicos, mas também obrigações morais • O “ethos” da ciência é esse complexo de valores e normas ... que se considera como constituindo uma obrigação moral parao cientista • Ethos – Refere-se aos valores que o indivíduo deve observar para ter suas ações aceitas pela sociedade – Em outras palavras é a expectativa da sociedade sobre o indivíduo • As normas são expressas na forma de prescrições, proscrições (proibições), preferências e permissões • Que são transmitidas na forma de preceitos e pelo exemplo • A ciência se desenvolve em diversas estruturas sociais, mas quais fornecem melhor contexto institucional para seu maior desenvolvimento? • A meta institucional da ciência é a ampliação de conhecimentos comprovados – São feitas predições que devem ser empiricamente confirmadas e serem logicamente congruentes • Proposição central: existem quatro imperativos institucionais que constituem o “ethos” da ciência moderna ➔ Imperativos Institucionais • Universalismo • Comunismo • Desinteresse • Ceticismo organizado ➔ Universalismo • As pretensões à verdade devem ser submetidos a critérios impessoais preestabelecidos – Devem estar em consonância com a observação e com o conhecimento já previamente confirmado • Ou seja, há regras científicas que devem ser observadas, e os trabalhos produzidos devem seguir padrões universais de avaliação • Deve haver um caráter internacional, impessoal, virtualmente anônimo da ciência • E deve existir livre acesso a todas as atividades científicas – Somente a competência pode servir de parâmetro para se fazer ciência • Assim, o universalismo implica na defesa do talento: • “A aceitação ou a rejeição dos pedidos de ingresso nos registros da ciência não devem depender dos atributos pessoais ou sociais do requerente; não têm importância em si mesmas a raça, a nacionalidade, a religião e as qualidades de classe ou pessoais. A objetividade exclui o particularismo.” • Mas a ciência nem sempre está integrada à estrutura social na qual ela se insere – Ex: uma ditadura, nazismo podem querer determinar, ou limitar, a ciência • No entanto, o universalismo implica que o conhecimento científico é um patrimônio da humanidade – O patriotismo pode ser uma roupagem que traz o disfarce da virtude para ao preconceito científico • “Na medida em que uma sociedade é democrática, oferece oportunidade para o exercício de critérios universalistas na ciência.” ➔ Comunismo • O segundo elemento central do “ethos” científico é o comunismo, no sentido de propriedade comum dos bens. • Uma teoria não deve ser propriedade exclusiva do descobridor e de seus herdeiros • O direito do cientista sobre sua propriedade intelectual limita-se ao reconhecimento • A ciência deve ser de domínio público, o que implica no imperativo da comunicação de resultados • Existe pois uma obrigação moral de comunicar a riqueza da ciência • Esse caráter comunal implica também no reconhecimento de que a ciência é feita a partir de uma herança cultural: – Caráter cumulativo • “O comunismo do “ethos” científico é incompatível com a definição da tecnologia como “propriedade privada” numa economia capitalista • O conceito de propriedade intelectual é uma discrepância do capitalismo – Ex: patentes e necessidades sociais ➔ Desinteresse • O desinteresse é um outro elemento institucional básico • Refere-se ao tratamento imparcial do objeto de pesquisa • Não se trata de um distanciamento altruísta, mas sim de um procedimento pressuposto do trabalho científico • Quando a estrutura de controle sobre a ciência se torna insuficiente, abre-se a possibilidade do surgimento de pseudociências – A criação de mitos se tornam mais compreensíveis ao público em geral – [ teorias da conspiração ] ➔ Ceticismo Organizado • Refere-se à suspensão do julgamento até que os fatos estejam nas mãos.. • E que se faça o exame imparcial das crenças de acordo com critérios empíricos e lógicos • Esse “ethos” tem envolvido a ciência em conflitos com outras instituições • A ciência não deve fazer uma separação entre o sagrado e o profano.. • A resistência por parte das religiões passou a ser a de grupos econômicos e políticos 7 - Ciência em Ação Como Seguir Cientistas e Engenheiros Esboços de história econômica da ciência e da tecnologia Bruno Latour Bruno Latour: antropólogo, sociólogo e filósofo da ciência Jano – O Deus romano das transições ➔ Por onde começar a estudar Ciência e Tecnologia ? Algumas histórias - John Whitaker, 1985 – liga seu computador e testa sequências de DNA - Jim Watson e Francis Crick, 1951 – analisavam a imagem obtida por o raio X do ácido desoxirribonucléico de Rosalind Franklin e tentam encontrar a forma do ácido e se as pontes de fosfato ficavam dentro ou fora da molécula - Tom West, 1980 – tenta fazer funcionar um computador chamado Eagle na Data General - Ao nos depararmos com a “ciência pronta”, vemos um aparato... - ... Algo pronto, que chamamos de “caixa-preta” - Para a cibernética seria algo complexo demais ➔ Caixa Preta Para a CTS, é algo que se assume, se utiliza, sem se questionar como é feito, por que foi feito, por quem foi feito, em quais condições foi feito, e quais alternativas poderiam ter sido feitas... - Latour: “Incerteza, trabalho, decisões, concorrência, controvérsias” É isso que está dentro das caixas-pretas - Para abri-la é necessário chegar “ao nó da questão”, ou seja, onde cientistas e engenheiros trabalharam arduamente para decifrar, para criar algo - No caso de John Whitaker (1985), a estrutura do DNA já pé uma “caixa-preta” , que pode ser consultada nos livros. - Mas a construção da caixa-preta traz consigo diversas “pegadas” ➔ O que tem dentro do computador? - Tom West, 1980 – Computador Eagle versus VAX - tenta fazer funcionar um computador chamado Eagle na Data General -Avaliação do concorrente: - Um computador construído segundo a cultura da empresa.. “cautelosa”, “burocrática”, “protocolar”, “burocracia”, “minimização de riscos” - Ou seja: contexto e conteúdo se confumdem ➔ Quando o suficiente é suficiente? A ciência tem duas faces: uma que sabe e uma que ainda não sabe ➔ O caso do DNA Jim Watson - Acatar o que é universalmente aceito ou acreditar na opinião de um especialista? - A contestação do conhecimento universalmente aceito depende de fatores como local, oportunidade e expectativa ➔ O Caso Eagle - “A eficiência dependerá de quem tiver sucesso; de nada adianta decidir, na hora, quem está certo e quem está errado” - “Não era só o pessoal do software que tinha de continuar feliz:.. Tb o pessoal da produção, do marketing, da documentação técnica, dos designers... Cada grupo de interesse..” ➔ Ciência em construção e ciência acabada - Para o lado esquerdo, a caixa-preta pode ser fechada, e a controvérsia se encerra - Para o lado direito, fatos e máquinas em fase de construção estão sempre subdeterminados - Mas quem abre a caixa-preta da ciência para a sociedade? - Como os leigos podem dar uma olhada? ➔ A história da busca da dupla hélice do DNA https://www.youtube.com/watch?v=1vm3od_UmFg Os usos sociais da ciência Por uma sociologias clínica do campo científico BORDIEU ➔ O campo científico - Como se manifesta a ciência? Quais são seus usos? - Bourdieu: - De um lado, a ciência se manifestaria na sua própria produção. Ex: o texto científico. Nesse sentido, para compreender a ciência basta acessá-la (ler o texto, por exemplo) - De outro lado, teorias críticas, como o marxismo, buscam “relacionar o texto ao contexto” A estrutura social e econômica seria responsável pelos caminhos da ciência: a produção científica como resultado da luta de classes, por exemplo. - Para Bourdieu, entre essas duas interpretações existe o“campo” - Há uma certa autonomia daquele que produz ciência (ou arte, literatura etc) - Mas há, também, forças institucionais - Uma questão central para Bourdieu é o grau de autonomia que os campos usufruem. - “O campo: o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem, ou difundem a arte, a literatura ou a ciência.” - “Esse universo é um mundo social como os outros, mas que obedece a leis sociais mais ou menos específicas.” - O campo é o espaço (de jogo) no qual interagem – por cooperação e conflito – os agentes (os participantes). - Os agentes não são estáticos: têm espaço de manobra. - Busca-se fugir… - da noção de “ciência pura”, totalmente livre de qualquer necessidade social. - Da noção de “ciência escrava”, sujeita a todas as demandas político econômicas. - As pressões externas são “mediatizadas” pela lógica do campo, que é um “mundo social” ➔ A autonomia do campo - Possui capacidade de refratar, retraduzindo as demandas externas. Ex: como a doença da vaca-louca vai se retraduzir num campo dado? (pesquisa alimentar, artes etc) - Quanto mais autônomo for um campo, maior será o seu poder de refração, e mais as imposições externas serão transfiguradas. ➔ A heteronomia do campo - Ao contrário da autonomia, a heteronomia se manifesta pelo fato de que os problemas exteriores, em especial os problemas políticos, aí se exprimem diretamente. A “politização” de um campo não é manifestação de sua independência, pelo contrário ➔ A luta no interior do campo - O que os agentes podem e não podem fazer? - O que determina essa relativa autonomia é a estrutura das relações objetivas. Ou seja, é a posição que eles ocupam na estrutura do campo que determina, ou oriente, suas tomadas de posição; ➔ A autonomia do agente - Bourdieu -“Só compreendemos, verdadeiramente, o que diz ou faz um agente engajado num campo ... um economista, um escritor, um artista etc) se estamos em condições de nos referirmos à posição que ele ocupa nesse campo, se sabemos ´de onde ele fala`.” -Não importa, tanto, a sua “condição de classe”, que seria o foco da análise marxista. A estrutura do campo - Essa estrutura é, grosso modo, determinada pela distribuição do capital científico. - Os agentes (indivíduos ou instituições) caracterizados pelo volume de seu capital determinam a estrutura do campo em proporção ao seu peso, que depende do peso de todo os outros agentes Ou seja, de seu poder relativo A relação agente - campo - No domínio da pesquisa científica, os pesquisadores ou as pesquisas dominantes definem o que é, num dado tempo, o conjunto de objetos importantes. - Ou seja, os agentes fazem os fatos científicos, e até mesmo fazem, em parte, o campo científico. - O campo é um jogo no qual as regras do jogo estão elas próprias postas em jogo. O capital científico - As oportunidades que um agente tem de submeter as forças do campo aos seus desejos são proporcionais à sua força sobre o campo - Ou seja, são proporcionais ao seu capital cientifico, ou, mais precisamente, à sua posição na estrutura da distribuição do capital. Luta entre agentes e definição do campo No domínio da pesquisa científica, os pesquisadores ou as pesquisas dominantes definem o que é, num dado momento do tempo, o conjunto de objetos importantes.” ** Os agentes fazem os fatos científicos e até mesmo fazem, em parte, o campo científico ** Capital Científico e Capital Simbólico Cada campo é o lugar de uma forma específica de capital O capital científico é uma espécie particular do capital simbólico (baseado em atos de conhecimento e reconhecimento) O capital (científico / simbólico), outorga Legitimidade Prestigio Autoridade Duas espécies de capital científico -Capital temporal (ou político), baseado no poder institucional -Capital específico, baseado no poder do prestígio pessoal, que repousa sobre o conhecimento A revolução da tecnologia da informação - Castells Um revolução tecnológica - Proposição de Castells: - No final do século XX vivemos “um desses raros intervalos da história” - “...Cuja característica é a transformação de nossa cultura material por meio de mecanismos de um novo paradigma tecnológico, que se organiza em torna da tecnologia da informação.” As mudanças - Constelação de grandes avanços tecnológicos - Materiais avançados, fontes de energia, aplicações da medicina, técnicas de produção (existentes ou potenciais) e outras - O processo de transformação tecnológica expande-se exponencialmente - Devido à sua capacidade de gerar interfaces entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum Características da Revolução Tecnológica Segundo Melvin Kranzberg e Carroll Pursell 1. Penetrabilidade – presente em todos os domínios da atividade humana não como fonte externa de impacto, mas como elemento constituinte do exercício da atividade Induzem novos produtos, mas são voltadas para o processo 2. Papel proeminente da tecnologia da informação, processamento e comunicação Tecnologia da informação é para essa revolução o que as fontes de energia foram para as outras revoluções (vapor e eletricidade) O elemento central é a aplicação dos conhecimentos de TI e da informação para a geração de conhecimento e de dispositivos de processamento / comunicação da informação em um ciclo de realimentação cumulativo entre a inovação e seu uso 3. Inovação e uso “Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa” Usuários assumem o controle da tecnologia 4. Existe uma relação muito mais próxima entre os processos sociais de criação e manipulação de símbolos (a cultura da sociedade) e a capacidade de produzir e distribuir bens e serviços (forças produtivas) 5. Aplicação imediata da cultura da sociedade no próprio desenvolvimento da tecnologia gerada, conectando o mundo através da tecnologia da informação. Lócus da Inovação Tecnológica EUA: Vale do Silício (Califórnia) Mundo industrializado: antigas áreas metropolitanas Elementos Centrais do Paradigma Tecnológico 1. Sua matéria-prima Muda-se de “informação para agir sobre a tecnologia” para “tecnologia para agir sobre a informação” 2. Penetrablidade A tecnologia é parte integral de toda atividade humana. Todos processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados (mas não determinados) pelo novo meio tecnológico 3. Lógica de Redes - Presente em qualquer sistema ou conjunto de relações. As vantagens de estar em rede crescem exponencialmente, e o custo cresce de forma linear 4. Flexibilidade - Processos são reversíveis, e organizações e instituições podem ser modificadas 5. Crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado - convergências também em áreas de conhecimento distintas (biologia e microeletrônica, biologia e teorias sociais de conflitos). Pontos Fundamentais - O paradigma da TI não evolui para seu fechamento como um sistema, mas caminha para a abertura, na direção de uma rede de acessos múltiplos - É forte e impositivo na sua materialidade, mas adaptável e aberto em seu desenvolvimento histórico. - Principais atributos são abrangência, complexidade e disposição em forma de rede A Tabela Periódica de Expertises Expertises Ubíquas - Ubíquas – capacidade de fazer o que é “normal”, ou comum, em uma sociedade - O que todos os membros de uma sociedade devem possuir para viver nela - Existe um grande acumulo de conhecimento tácito - Aquilo que vc sabe fazer sem ser capaz de explicar as regras de como realizá-las. - São as realizações triviais - Falar a língua da sociedade, senso moral, discernimento político - A expertiseubíqua das pessoas comuns não deve ser confundida com a expertise dos especialistas. - Algumas das coisas que todos nós podemos fazer exigem grande habilidade. - Mas isso não implica que todas as coisas que todos nós podemos fazer demandam grande habilidade, inclusive as coisas nas quais temos grande experiência. - Toda expertise humana esbarra em um conhecimento tácito - Ou seja, em um conhecimento das regras que não podem ser expressas - O conhecimento tácito permeia a aquisição de conhecimento de duas formas: - Alguns tipos de aquisição de conhecimentos correspondem à aquisição de mais conhecimento tácito especializado - Outros tipos de aquisição de conhecimento envolvem a aplicação de conhecimento tácito ao longo da aquisição de informações - Nesse caso, o conhecimento tácito é aquele encontrado em expertise ubíqua - Exemplo: Uso da expertise ubíqua associada à língua natural possibilita adquirir novas informações Divisão inicial dos tipos de expertise - Aquelas que podem ser adquiridas unicamente a partir da utilização do conhecimento tácito ubíquo - Aqueles que envolvem conhecimento tácito especializado Conhecimento Tácito Ubíquo e Conhecimento Tácito da Área Especializada - Os primeiros níveis de expertise especializada envolvem somente o conhecimento tácito ubíquo - Os níveis mais elevados exigem imersão em conhecimento tácito da área especializada para que mais conhecimento tácito possa ser adquirido - Dirigir é conhecimento tácito amplamente distribuído, mas não é ubíquo. Requer treinamento especializado e internalização de regras não declaradas sobre a dinâmica das vias de locomoção. Expertises que envolvem apenas conhecimento tácito ubíquo - Conhecimento de Buteco - Sabe-se algo, de fonte muitas vezes incerta, que permite tomar alguma atitude, formar algum juízo primário. - Conhecimento Popular da Ciência - Tem-se uma compreensão mais profunda acerta do significado das informações - Permite inferências: p.exe: deduções (antibióticos não curam viroses, gripe é virose, antibiótico não cura gripe) - Conhecimento de Fonte Primária - Contato com referências primárias... Mas é o suficiente? Compreensão Popular da Ciência e a Ciência Controversial - Quando a ciência é objeto de controvérsia, faz enorme diferença a compreensão científica popular e a compreensão científica profunda - “A compreensão popular esconde detalhes, não tem acesso ao tácito, e camufla as dúvidas dos cientistas.” (p. 31) - “a distância leva ao encantamento” - Quanto mais distante se está do locus de criação do conhecimento, mais certo se parece o conhecimento - A certeza esconde a “falhabilidade”... (ou a estrutura de falseabilidade) - As descrições são grosseiramente simplificadas Compreensão Popular da Ciência e a dificuldade de se lidar com incertezas - “Porém julgamentos sólidos, ou, pelo menos, julgamentos esclarecidos, dentro de uma ciência controversial devem considerar mais incertezas do que a compreensão popular permite. - “Por essa razão, no caso da ciência controversial, um nível de entendimento equivalente à compreensão popular tende a gerar julgamentos técnicos ruins.” - Qualquer que seja o resultado do julgamento baseado em conhecimento popular – certo ou errado – é um problema (de confiabilidade). - A compreensão popular não distingue entre ciência consensual e ciência controversial. - Assim, a compreensão popular apresenta o controversial como se fosse um conhecimento revelado que emerge de uma comunidade unificada de “experts” (jornalistas nos dias atuais, por exemplo...) - E isso que converte qualquer esforço genuíno de aumento da compreensão pública em simples propaganda. Conhecimento de Fonte Primária - Conhecimento que vem da leitura de fonte primária, ou quase primária. - Mas qual é a literatura a ser lida? - Caso não se leia o que é produzido por quem está na fronteira do conhecimento, pode-se ter (normalmente se tem) uma falsa impressão do conteúdo da ciência, bem como do nível de certeza - Somente a troca contínua com a comunidade especializada no assunto permite ter um conhecimento aproximado Expertises que Envolvem Conhecimento Tácito Especializado Do conhecimento tácito ubíquo ao conhecimento tácito especializado - O fundamental é a “enculturação”. - É somente por meio da prática comum com indivíduos já enculturados que vêm a ser entendidas as regras que não podem ser escritas. - Divide-se a expertise aprendida pela imersão em uma cultura (conhecimento tácito especializado) em dois tipos: - Expertise contributiva - Expertise por interação Expertise Contributiva - Expertise contributiva - Refere-se à habilidade de desempenhar uma prática especializada. - Quem possui expertise contributiva consegue (de fato) contribuir para a área a que pertence a expertise - Uma habilidade que se “incorpora” ao indivíduo - Estágios: - Novato - Principiante avançado - Competência - Proficiência – “incorporação” - Expertise – ocorre uma internalização, ou “incorporação”, E a socialização dentro das práticas de grupos relevantes. (p. 38) Expertise por Interação Consiste na expertise na linguagem de uma área do conhecimento na ausência de expertise na sua prática Há duas proposições sobre as formas de conhecimento: - Visão informal: seria necessária uma imersão total em toda uma forma de vida para se dominar uma linguagem - Visão formal: Visão formal: ter maestria na linguagem pertencente a um campo compreende a aquisição do conhecimento proposicional - um conjunto de fatos e regras formais conquistados através da leitura e da instrução. A proposta de expertise por interação fica entre essas duas visões: - O meio termo entre a atividade prática e os livros (porém mais próxima da visão informal do que da formal) Necessária para a interdisciplinariedade É ela que permite a análise social do conhecimento científico. Passa-se da “entrevista” para a “discussão” e desta para a “conversa”. Mas a expertise por interação tem (pode ter) limites, como, por exemplo, ser capaz de transmitir o conhecimento. A expertise por interação é compreendida por quem tem expertise contributiva, mas não o é, necessariamente, por quem tem, também, expertise por interação. Expertise por interação e a habilidade de interagir e de refletir “Defendemos que, se uma pessoa tem expertise contributiva em um campo, ela também tem expertise por interação; porém, se essa pessoa não tem uma habilidade disponível para conversar e refletir, ela, possivelmente, tem pouco a conseguir do ponto de vista de interação com os outros, no que diz respeito à expertise.” Um expert contributivo pode ter “expertise por interação latente”. “As coisas que devem ser aprendidas para manifestar a expertise latente tem a ver com o domínio da fala, da reflexão, da tradução e assim por diante, e não com a construção de lasers, a física das ondas gravitacionais, a condução de automóveis etc” (p. 58) A transformação da expertise por interação latente em expertise por interação manifesta são chamadas de - Habilidade de interagir Uma diferença importante entre expertise por interação e habilidade de interagir é que esta, diferentemente daquela, não é parasitária, ou seja, pode ser passada de geração para geração. A habilidade de interagir é uma "inclinação", como a bondade É mais uma natureza amável ou um dom de observação do que uma habilidade especializada. Habilidade de interagir: os pais que têm o hábito de falar muito passam esse comportamento para os filhos. Assim, a habilidade de interagir é uma “inclinação”, algo que se tem como “dom”. - Habilidade de refletir Em parte é, também, uma inclinação, um “dom” Porém, pode(e normalmente é) uma habilidade mais profissionalizada e especializada do que a habilidade de interagir - É ensinada de forma consciente Habilidade de refletir ajuda na expertise por interação Muito cientistas não têm preocupação com sua interação Mas a habilidade de refletir, que é expandida pela capacidade de interação, é parte da expertise contributiva. Os impactos de Belo Monte Belo Monte https://www.youtube.com/watch?v=bjW4GQUU5O8 Belo Sun https://www.youtube.com/watch?v=afuejLCYJWQ Reflita: quais são as habilidades necessárias das partes envolvidas para que tais conflitos fossem reduzidos ? Mas trata-se apenas de uma questão de habilidades? Onde estão as dimensões políticas dos comportamentos? ACT UP em ação: A cura da AIDS e a Expertise Leiga Harry Colins e Trevor Pinch Histórico 1981 – Surge em forma rara de câncer em homossexuais 1982 – Primeiros congressos médicos fazem referência à AIDS 1983 – Mais de 2000 pessoas mortas nos EUA. Ataques de pânico em geral na sociedade 1984 – Governo Reagan anuncia descoberta da causa da AIDS (o vírus HIV) e capacidade de detecção 1985 – FDA lança primeiro teste para a detecção de AIDS. Remédio AZT é lançado 1986 – Presidente Regan menciona AIDS em público pela primeira vez 1986 - Project Inform é criado por Martin Delaney 1987 – ACT UP é criado em Nova Iorque 1988 - Dallas Buyers Club 1995 – Clinton estabelece o comitê de assessoramento presidencial sobre AIDS 1996 – FDA aprova a primeira vacina a ser utilizada em humanos O problema A agência reguladora de medicamentos dos EUA criou procedimentos severos para aprovação de medicamentos após o escândalo da talidomida. Novas liberações de medicamentos demorariam de seis a oitos anos Pessoas portadoras do vírus queriam pressa... E passaram a pressionar Pessoas passam a adquirir o medicamento AZT contrabandeado [ veja “Clube de Compras de Dallas” ] ACT UP populariza o conhecimento sobre AIDS Ciência e conhecimento popular / tradicional Do ponto de vista teórico, surgem dúvidas Pessoas leigas em assuntos científicos complexos podem fazer contribuições significativas para a ciência? Caso sim, quais são as dificuldades para isso? O caso do Act Up ilumina quais questões? Demandas – ACT UP - Grupo de leigos de São Francisco no início dos anos 1980s - Buscava.. Obter e divulgar informação correta e transparente sobre AIDS Acesso a tratamento público e humanizado Reduzir o processo de aprovação de drogas Incluir pessoas de todos os grupos atendidos em experimentos com novas drogas Enfrentar o preconceito em relação a soropositivos O rigor científico diante da morte - Testes usavam a metodologia de “duplo cego” - “Estudo duplo-cego ou ensaio clínico em dupla ocultação é um método de ensaio clínico realizado em seres humanos onde nem o examinado (objeto de estudo) nem o examinador sabem o que está sendo utilizado como variável em um dado momento. É comumente usado como critério de validação de práticas experimentais quantitativas em ciência.” (wiki) - Pessoas contaminadas queriam testar qualquer coisa e questionavam a ética do duplo cego diante da morte certa daquele que recebesse o placebo - Médicos diziam que eras antiético começar a testar outra droga sem saber qual era a mais eficiente, e, para isso, precisavam definir a eficiência da primeira O procedimento científico - “Na Fase I, um teste pequeno é necessário para determinar o nível de toxicidade e a dosagem eficaz. - Na Fase II, é realizado um teste maior e mais longo para determinar o grau de eficiência. - Na Fase lll, um teste ainda maior é necessário para comparar sua eficácia com outros tratamentos. Esse processo custa dinheiro e consome tempo - normalmente, pode levar entre seis e oito anos para que um medicamento ultrapasse todas essas etapas.” Problemas éticos e metodológicos - Epidemia foi classificada como uma “praga gay” E a comunidade gay tinha predisposição a não confiar no mundo da ciência e da medicina, principalmente porque a homossexualidade havia sido rotulada, por muitos anos, como uma doença - E um estudo cientificamente bem conduzido necessitava que um número grande de pessoas morresse… Ativistas: “A AIDS era uma forma de genocídio por omissão” - Ativistas começaram a questionar o método de duplo-cego Poderiam ser comparados grupos com a mesma doença Ou uma pessoa infectada poderia ser comparada com sua própria evolução Pacientes que se Tornam Sujeitos do Conhecimento Cansada da demora com os procedimentos oficiais, a comunidade gay começa a testar por conta própria, mas com ajuda da iniciativa privada Em 1989, o NIAID aprovou o uso público da pentamidina aerossolizada ... Com base nos registros de testes feitos pelos ativistas Primeira vez que o órgão do governo do EUA aprova um medicamento sem testes feitos por ele mesmo A entrada no conhecimento científico Uma barreira... Vencida... Foi a compreensão dos termos técnicos - Estudo - Participar de congressos - Ler protocolos de pesquisa - Aprender com profissionais simpatizantes “ativistas queriam desafiar os experts constituídos jogando no campo do adversário” (p. 200) A entrada no conhecimento científico - O conhecimento sobre o comportamento das pessoas ajudou na construção de testes estatísticos - Ativistas passaram a desempenhar um papel de intermediação entre a comunidade científica e as pessoas portadoras do vírus, convencendo-as sobre a importância dos testes - “Ao aprenderem a linguagem da ciência, os ativistas se tornaram capazes de traduzir a sua experiência em uma crítica poderosa sobre a metodologia padrão dos testes clínicos.” (p. 204) - Ao falar a língua dos cientistas, forçaram-nos a responder A entrada no conhecimento científico - Em 1990 bioestatísticos contestaram o paradigma de se fazer testes com grupos homogêneos Sugeriu que pacientes deveriam fazer parte do planejamento dos testes clínicos ... E os testes passaram a ser realizados conforme os protocolos sugeridos originalmente pelos ativistas - A questão central é a de que a expertise seja reconhecida como válida A importância do conhecimento tradicional Universidades buscam aproximar conhecimentos acadêmico e tradicional https://www.youtube.com/watch?v=fF_Fu0UJ_FI Sistemas de Inovação Pelaez e Sbicca Conteúdo - Elementos de análise dos sistemas de inovação - Principais indicadores utilizados para se compreender a dinâmica de um Sistema Nacional de Inovação (SNI) Análise de SNI em dimensões regionais e setoriais Estudos de caso: EUA, Japão, Coréia do Sul e Brasil SI como base para políticas públicas de C&T O que é sistema de inovação - Conjunto de instituições públicas e privadas que contribuem nos âmbitos macro e micro para o desenvolvimento e a difusão de novas tecnologias - Visão diferente de Schumpeter: Foco na inovação que ocorre no âmbito da firma - Visão de sistema: “A analise do processo de inovação, tanto em relação ao surgimento e à difusão do conhecimento, tanto na transformação desses em novos produtos e processos de produção, só pode ser feita focalizando-se o todo (o sistema), e não as partes que o constituem.” (p. 417) Atores - Universidades e centros de pesquisa Pesquisa básica - Empresas Pesquisa aplicada - Poder público Coordenador do sistema Aprendizado e mudança - Atores não organizam um processo linear. Na verdade, o processo depende de: feedbacks e relações interativas entre ciência, tecnologia e aprendizado Aprendizado - Learning-by-doing – aumento da eficiência das operações de produção. - Learning-by-using – aumento da eficiência nouso de sistemas complexos. - Learning-by-interacting - aumento da eficiência resultante do envolvimento entre usuários e produtores. - A capacitação tecnológica é cumulativa. É preciso dominar o “estado da arte” das tecnologias já em uso. - A aprendizagem é predominantemente interativa e socialmente imersa Mensuração do Desempenho de um Sistema de Inovação - Normalmente: Gasto em P&D como proporção do PIB - Mas, assim, mensura-se os gastos mais diretamente envolvidos, e não o resultado tecnológico obtido… que pode não ser nem local, nem imediato - E não se diz nada sobre o ambiente institucional no qual o sistema está inserido - É o mesmo problema de se medir inovação pelo número de patentes registradas Possíveis indicadores do Sistema - Bibliometria Número de autores em produção científica e citações - Identificação de redes de relação entre instituições e países - Mapeamento da formação de novos campos de C&T Possíveis Indicadores de Resultado 1. Volume de produção 2. Novos produtos 3. Proporção de produtos e processos de tecnologia de ponta comercializados no mercado Indicadores socioeconômicos devem refletir os insumos e os produtos atribuídos ao SI nos três âmbitos envolvidos no SI: o institucional, o tecnológico e o econômico. Dimensões do SI Possibilidades de estudo: - âmbito nacional, o regional (Vale do Silício), - âmbito supranacional (América Latina), ou o - âmbito setorial (indústrias automobilísticas). Enfoque nacional - Processos de aprendizagem ligados a políticas públicas - Circulação de conhecimento tácito determinado por meios nacionais de interação, língua, normas, cultura - Mas esse enfoque tem dificuldade de apreender o que as empresas fazem em uma economia globalizada. Há características institucionais, competitivas, interativas e organizacionais que não são nacionais - Dificuldade adicional devido ao caráter heterogêneo de países - E vários casos, pode ser melhor uma abordagem regional e setorial Enfoque regional e setorial - Muitas vezes a inovação ocorre em função de dinâmicas locais, ou em uma área de conhecimento específica - Visão setorial captura mais facilmente o que grupo de firmas está fazendo (em um determinado setor) Ex: aviação Sistemas Nacionais de Inovação - Estados Unidos - Grande salto de inovação no final do século XIX em: Tecnologias de transporte, comunicação, e tecnologias de produção e máquinas agrícolas - Explicações - Beneficiou-se de elevado grau de learning-by-doing - Uso e aprimoramento de tecnologias existentes - Mudanças organizacionais - Política pública antitruste 1890 (contra formação de monopólios) - Alto preço relativo do trabalho - EUA Anos 1930s: Uma terça parte de todo o gasto para pesquisa Anos 1940s: parcerias empresas – universidades 1944 / 1945: Projeto Manhatam & Big Science 1950s: Pesquisa financiada por verbas militares 1985: 75% dos fundos federais para empresas, 12% em laboratórios federais, e 9% para universidades - EUA / Resumo Investimentos em educação Participação de empresas, governo e universidades Lei antitruste Verbas militares / indústria de defesa Participação do investimento estrangeiro direto - Japão Isolamento até 1868 – Início da modernização da era Meiji até 1902 1904: educação básica de seis anos tornou-se compulsória. Educação universitária com apoio britânico Importação de tecnologia dos EUA e Europa Segunda Guerra: forte investimento tecnológico e importação no pós-Guerra - Japão Investimentos do governo não tão relevantes quanto os das firmas: indústrias ultrapassaram os EUA em proporção do PIB Grande capacidade de difusão de tecnologia Empresas permaneceram nas mãos de japoneses Perfil das empresas japonesas Estabilidade do empregado / rotação de cargos Pessoal de tecnologia assume direção Atualmente: mantém SNI, mas crescimento nacional perdeu pujança. - Coréia do Sul “Colonização” japonesa e destruição de infraestrutura em guerras Anos 1960s: Forte intervenção governamental, com formação de conglomerados (chaebols) para ganhos de escala Governo incentivou fortemente a integração vertical - Coréia do Sul Monopólio – um único produtor no mercado Duopólio – dois produtores Oligopólio – um grupo de empresas ou governo controla o mercado Forte investimento em educação a partir de 1951 Manutenção das empresas sob controle nacional coreano Crise da dívida externa anos 1980s: maior parceria com Japão Anos 1990s: crise internacional e pouco investimento em pesquisa - Brasil Investimentos em industrialização a partir dos 1930s CNPq em 1951, BNDE em 1952, e FINEP em 1967 1956/60 – Plano de Metas – Indústria pesada, infraestrutura, automobilística Planos Nacionais de Desenvolvimento I, II e III: previsão de capacitação no país e criação de tecnologia própria Sem apoio das políticas econômicas para P&D e para a compra de tecnologias Sem vínculos com o setor privado - Brasil Anos 1970s: Investimento em indústria de base (siderurgia, celulose e petroquímicos) e em setor de bens de capital (equipamentos elétricos, telecomunicações, ferroviários, aeroviários) Fim da política de substituição de importações Criação do MCT em 1985 (mas sem um projeto amplo de C&T) Uso das estatais para estabilização econômica com tarifas abaixo do custo Redução do investimento de estatais em P&D Sem um forte aparato de pesquisa nacional Conclusão: a diversidade de fatores Gastos governamentais e investimentos em P&D, em educação e em infraestrutura Conjuntura internacional: guerras e comércio Padrões tecnológicos e organizacionais e de competição vigentes nas firmas Atividades de ensino e pesquisa básica e aplicada nas universidades A política de C&T não pode se desenvolver de forma isolada de outras políticas que dão suporte à inovação, como as econômicas, sociais e de educação. Hiato tecnológico, Catching-up, e Capacidade Absortiva Fontes Gabriel Porcile e Luís Eduardo Esteves - Os determinantes do catching-up: um modelo dinâmico. (pág. 2 a 6) Sabrina Rossi de Oliveira - O desenvolvimento da capacidade absortiva em projetos tecnológicos entre universidade e empresa: um estudo de caso da cooperação UNISINOS – HT Micron (pág. 38 – 46) O problema Conhecimentos em ciência e tecnologia são considerados fatores relevantes para explicar o processo de diferenciação que diferencia as nações em mais e menos desenvolvidas. Mas... existem condições para que as nações menos desenvolvidas venham a diminuir as diferenças existentes nesses conhecimentos? Ou seja, há como reduzir o hiato tecnológico, ou mesmo tornar-se líder no conhecimento científico e tecnológico? Catching-up “Esta é a principal hipótese sobre o conceito de catching-up: é possível que o país tecnologicamente atrasado possa crescer a taxas maiores que os países que compartilham a fronteira da tecnologia mundial, simplesmente utilizando os conhecimentos já desenvolvidos pelos países que estão na fronteira tecnológica.” (Abramovitz, 1986; UNCTAD, 2005) Portanto, pode-se dizer, com elevado nível de consenso, que: Os países têm potencial para crescer a uma taxa mais rápida do que o líder tecnológico, garantindo a convergência da renda per capita entre os países. - Porque esses países mais atrasados podem explorar os conhecimentos já consolidados pelos países líderes - E podem desenvolver o país com a introdução de novas técnicas que não estão na fronteira do conhecimento A redução do hiato-tecnológico pode explicar trajetórias de convergência (ex: renda) Mas essa redução não garante que um país avance para além de um determinado nível de redução. O que determina a redução e a superação é a capacidade absortiva - “[0] esforço que cadanação realiza no sentido de iniciar o processo de catching-up, i.e., a aquisição de capacidade absortiva realizada por cada nação para obter um maior desenvolvimento.” Capacidade Absortiva Principais abordagens: - Cohen e Levinthal (1989, 1990) - Zahra e George (2002) - Vega-Jurado, Gutiérrez-Gracia e Fernandes-de-Lúcio (2008) - Murovec e Prodan (2009) - Lim (2009) Capacidade Absortiva por Cohen e Levinthal A capacidade absortiva é - um componente crítico para o processo de inovação em sentido global, - ao mesmo tempo em que é um subproduto das próprias atividades de P&D [é fim e é meio / processo] - Ou seja: “P&D não somente gera nova informação, mas também realça a habilidade da firma em assimilar e explorar informação existente” A CA está diretamente relacionada ao estoque de conhecimento prévio detido pela organização. E se relaciona com: - A capacidade de interação da organização com seu ambiente, - E com a sua estrutura interna de comunicação Elementos de constrangimento / facilitação Desenvolvimento da CA depende de: - Gatekeepers (guardiões do conhecimento – quem monitora e traz novos conhcimentos) - Boundary-spanners (quem rompe fronteiras do conhecimento existente) - Expertise de quem recebe CA depende de comunicação e capacidade de utilizar conhecimentos Mais do que isso: CA possui pathdependency Depende de um “círculo virtuoso” Capacidade Absortiva por Zahra e George CA é dinâmica, definitivamente pathdependent, e possui 4 dimensões: - Aquisição: capacidade de identificar e adquirir conhecimento disponível. - Assimilação: capacidade de processar o conhecimento capturado. - Transformação: capacidade de combinar o novo conhecimento com o que a organização já detêm - Exploração: utilização dos novos conhecimentos em ações economicamente viáveis Elementos Antecedentes: - Fontes externas e complementaridade de conhecimento relacionamentos interinstitucionais: consórcios de P&D, alianças e joint ventures - Experiência da organização: Internalizada na memória da organização Fatores de ativação: - Acontecimentos internos (crises ou fracassos) - Acontecimentos externos (inovações industriais radicais, políticas governamentais) que tanto desencadeiam quanto influenciam o desenvolvimento da capacidade absortiva - Mecanismos sociais de integração Reduzem barreiras ao compartilhamento de informação - Regimes de apropriabilidade Referem-se às dinâmicas industriais e institucionais que determinam a habilidade da firma de proteger os benefícios advindos de suas inovações em produtos e processos Por isso, geram vantagens competitivas Capacidade Absortiva por Vega-Jurado, Gutiérrez-Gracia e Fernandes-de-Lúcio Foco no cohecimento: quanto mais aplicável o conhecimento externo, mais fácil é para a firma adquiri-lo e explorá-lo, isso porque ele requer menos expertise científica, sendo, na prática, mais eficientemente obtido via relacionamento com clientes ou fornecedores. Duas capacidades absortivas: - Científica: advinda de universidades e centros de pesquisa e, com menor aplicabilidade imediata. - Tecnológica: teria como função permitir a integração pela firma do conhecimento já materializado em ferramentas e processos, o qual está pronto para ser manejado. Capacidade absortiva determinada por: - Conhecimento organizacional engloba o grupo de habilidades, conhecimentos e experiências que a organização possui - Formalização se refere à extensão na qual os procedimentos, regras e instruções guiam os processos da organização (seguem diretrizes) - Mecanismos sociais de integração constituem as práticas que reduzem as barreiras para a troca de informação dentro da organização (interação interpessoal). Capacidade Absortiva por Murovec e Prodan CA dividida em dois tipos: - Science-push: baseada em informação científica e tecnológica proveniente de universidades, centros de pesquisa e outras empresas praticantes de P&D - Demand- pull: relaciona-se com informação mercadológica proporcionada por clientes, fornecedores, competidores e demais atores comerciais. Capacidade Absortiva por Lim - Capacidade absortiva relativa à disciplina envolve a aquisição de conhecimento científico básico de determinada tecnologia. Muito cara. - Ex: semicondutores IBM: 30 anos de pesquisa - Capacidade absortiva específica do domínio habilidade de assimilar conhecimentos úteis para a solução de problemas reais de uma determinada área - Ex: Texas Instruments, Motorola etc: O que fazer com a tecnologia desenvolvida - Capacidade absortiva codificada assimilação do conhecimento já cristalizado em ferramentas e processos. - Ex: parcerias e alianças que propiciaram a sua transmissão por toda a indústria “O caráter da capacidade absortiva a ser praticado pela organização, bem como o processo pelo qual se dá sua construção, está estritamente relacionado com o tipo de conhecimento que se pretende adquirir.” Relativo à disciplina: é longo e complexo, e depende da trajetória da organização Mas nem toda CA é longa, dispendiosa e depende da trajetória da organização. Pós-Grande Indústria e Neoliberalismo - PRADO Objetivos da discussão Faz-se normalmente nos dias de hoje uma conexão estreita entre neoliberalismo e mundialização do capitalismo (a qual é também chamada, de modo especialmente superficial, de globalização). Por mundialização entende-se comumente a reconstrução, a unificação do mercado mundial sob a égide do capital internacional e financeiro; Por neoliberalismo compreende-se o pensamento político, assim como a prática de governança e de reestruturação do Estado, originado do predomínio do capital financeiro em relação ao capital produtivo, em nível global. Para compreender melhor a natureza dos dois termos é necessário investigar as mudanças que estão ocorrendo na base do modo de produção capitalista: as expressões “economia do conhecimento”, “capital social” indicam uma relação de exploração maior ou menor em relação à fase inicial do capitalismo? qual é a relação da fazer atual do capitalismo com a produção de conhecimento (ou C&T em uma dimensão mais ampla? Como “funciona” o capitalismo contemporâneo – quais são as suas “formas fenomenais” Proposta de Prado: O Ksmo está saindo da fase da grande indústria para a fase da pós-grande indústria (2004) Quais são as mudanças que vamos investigar? - O sistema de máquinas para a inteligência coletiva - Do capital ativo fixo para o capital ativo intangível Três momentos do liberalismo - Liberalismo clássico - Liberalismo social - Neoliberalismo Conceito de processo de trabalho ajuda a distinguir os 3 momentos do liberalismo Liberalismo Clássico Inicialmente o processo de trabalho era uma determinação do trabalhador (individual) – surgimento das profissões. Essa determinação é rompida pelo nascimento do sistema capitalista O processo de trabalho se torna coletivo, e a independência, a individualidade e a privacidade do trabalhador lhe são subtraídas O trabalho passa ser um movimento de um processo de produção administrado pelo capitalista - Nessa administração, o trabalhador é subsumido, ou seja, subordinado Marx vê duas formas de exploração - Subsunção formal – extração da mais-valia absoluta pelo prolongamento da jornada de trabalho (sobretrabalho). Associada ao período de cooperação e manufatura - Subsunção real - extração da mais-valia relativa, quando o capital passa a controlar o modo de se trabalhar e obtém aumentos de produtividade do trabalho: + produtividade = redução do custo de reprodução