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www.cers.com.br 1 www.cers.com.br 2 3. REQUISITOS – CONGRUÊNCIA EXTERNA E INTERNA 3.1. Noções introdutórias Os arts. 141 e 492 do CPC dispõem acerca da congruência, esclarecendo que a decisão deve enfrentar todos os pedidos deduzidos, incluindo os denominados pedidos implícitos, a exemplo da condenação ao paga- mento de custas e honorários advocatícios e a incidência de juros e correção monetária sobre as dívidas de valor. A congruência, no entanto, deve ser analisada não somente do ponto de vista do pedido e dos sujeitos que compõem a lide (congruência externA) , mas em relação a si mesma (congruência internA) . 3.1.1. Congruência externa Trata-se de regra que limita a atividade do magistrado, vinculando-o aos termos da demanda e aos sujei- tos do litígio. Dessa forma, o magistrado, ao proferir a sentença, deve apreciar e responder a todos os pedidos deduzidos, sendo-lhe defeso julgar além ou fora do que pleiteado. A regra valoriza, igualmente, o princípio do contraditório, pois garante à parte o direito de se manifestar e influenciar a decisão judicial proferida. A congruência externa divide-se em: A) Congruência objetiva: vincula o juiz, na apreciação da lide, aos elementos objetivos da demanda (causa de pedir e pedido), é dizer, o magistrado deve decidir a lide nos limites em que proposta, nem além, nem fora, nem aquém do que pedido. A inobservância da congruência objetiva acarreta em julgamento ultra, extra ou citra petita. A decisão será ultra petita quando conceder mais do que o pedido, a exemplo da sentença que condena o réu ao pagamento de indenização por danos materiais em valor superior ao pedido na exordial. A decisão que ultrapassa os limites do pedido deve ser invalidada, mas a invalidação restringe-se à parte em que supera os limi- tes do pedido. Entretanto, existem situações excepcionais em que é possível julgamento ultra petita: I. Pedido implícito; II. Fixação de multa coercitiva independentemente de pedido ou em valor superior ao pleiteado pelo requerente nas decisões que impõem obrigação de fazer, não fazer ou de entregar coisa; III. Nas ações de alimentos ou de oferta de alimentos, a doutrina defende a possibilidade de fixação de presta- ção alimentícia em valor superior ao pleiteado, havendo jurisprudência neste sentido1. Diz-se extra petita, por sua vez, a decisão que concede coisa distinta da pedida, a exemplo da decisão que condena à entrega de uma coisa determinada, quando o autor requereu a condenação ao pagamento de cer- ta quantia. Tratando-se de error in procedendo, imprescindível a invalidação de toda a decisão, salvo em relação à sentença objetivamente complexa (teoria dos capítulos da sentençA) quando o vício atingir apenas um ou alguns capítulos, sendo possível manter íntegros os demais. Por fim, citra petita é a decisão que deixa de apreciar pedido formulado ou fundamento de fato ou de di- reito alegado pela parte. O magistrado, portanto, omite-se na apreciação de algum pedido formulado pela parte, que pode consistir em uma questão principal ou incidental. O defeito, contudo, pode ser sanado com a oposição de embargos de declaração. a) Congruência subjetiva: do mesmo modo, a sentença deve guardar correlação com os sujeitos da lide, não produzindo efeitos em relação a terceiros que dela não tenham participado. A sentença, igualmente, será ultra petita quando seus efeitos atingirem, além da parte da relação processual, quem dela não participou; extra petita quando atingir tão somente quem não participa do processo; citra petita quando deixar de disciplinar a situação jurídica de todas as partes envolvidas na relação processual, no polo ativo ou passivo. Verificando-se um dos referidos vícios, como na hipótese da sentença que impõe obrigação a litisconsorte passivo necessário não citado, a decisão poderá ser anulada ou integrada conforme o caso. 1 “Em se tratando de Ação de Alimentos o pedido de pensionamento firmado na demanda é meramente estimativo, sobretudo quando em discussão direito de menor de idade, uma vez que o arbitramento da pensão alimentícia deve se dar conforme con- vencimento do magistrado singular, após a finalização da instrução, com a devida apreciação do trinômio necessida- de/possibilidade/proporcionalidade, inexistindo qualquer vício na sentença que fixa a obrigação alimentícia em quantia superi- or ao pleiteado pela parte.” (TJMG - Apelação Cível 1.0024.12.254005-7/003, Relator(a): Des.(a) Teresa Cristina da Cunha Peixoto, 8ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 14/05/2015, publicação da súmula em 25/05/2015) www.cers.com.br 3 Sendo ultra petita, basta que seja anulada a parte incongruente da decisão, retirando o capítulo referente ao sujeito que não participou do processo; sendo extra petita, deverá ser integralmente invalidada e, sobrevindo o seu trânsito em julgado, pode ser desconstituída por meio de ação rescisória; sendo, por fim, citra petita a decisão necessitará ser integrada em grau recursal para que seja acrescentado o capítulo faltante. 3.1.2. Congruência interna A sentença, assim como o pedido formulado na petição inicial, precisa observar alguns requisitos intrínse- cos, a saber: certeza, liquidez, clareza e coerência. Certeza: nos termos do art. 492, parágrafo único, CPC, a sentença deve ser certa, mesmo quando decida re- lação jurídica condicional. Afirma Fredie Didier Jr.2 que “certo é o pronunciamento do juiz quando ele expressa- mente certifica a existência ou inexistência de um direito afirmado pela parte, ou ainda quando expressamente certifica a inviabilidade de analisá-lo (quando falta requisito de admissibilidade do procedimento). A certeza con- substancia-se, portanto, na necessidade de que o juiz, ao analisar o pedido que lhe foi dirigido, firme um preceito, definindo a norma jurídica para o caso concreto e, com isso, retire as partes do estado de dúvida no qual se en- contravam”. O requisito da certeza, todavia, não impede que o magistrado, ao proferir sua decisão, crie uma condição de efi- cácia de seu pronunciamento, a exemplo da decisão que condena o beneficiário da assistência judiciária ao pa- gamento de custas e honorários advocatícios (o juiz certifica a existência das verbas e suspende a sua exigibilida- de até que sobrevenha mudança na capacidade econômica do beneficiário). Igualmente, a eficácia da sentença pode ficar sob condição legal suspensiva, como se verifica em relação ao reexame necessário (CPC, art. 496). Ressalte-se que é proibido ao magistrado condicionar a própria certeza da resposta estatal materializada na sen- tença. Nesse diapasão, não pode o magistrado, por exemplo, declarar o direito a uma indenização por danos que eventualmente venham a ser demonstrados em liquidação. Destarte, leciona Fredie Didier Jr. 3 que “o art. 492, parágrafo único, CPC, não veda que a decisão judicial preveja uma condição de eficácia do direito por ela certificado, isto é, não proíbe a prolação de uma decisão condicional; ele veda a não-certificação do direito afirmado e posto à análise do juiz.”. Liquidez: a decisão judicial que condena ao cumprimento de uma prestação (fazer, não fazer, dar coisa ou pagar quantiA) deve, necessariamente, apreciar os seguintes aspectos: A) an debeatur (existência da dívidA) ; B) o cui debeatur (a quem é devido), C) o quis debeat (quem deve); D) o quid debeatur (o que é devido) e e) o quantum debeatur (a quantidade devidA) . A Lei nº 9.099/95 veda a prolação de sentença ilíquida nas ações sujeitas ao procedimento sumaríssimo, ainda que o pedido seja ilíquido, nos moldes do seu art. 38, parágrafo único. Clareza e coerência: a sentença deve ser redigida de forma clara e direta, sem subterfúgios, nãopodendo o julgador se valer de expressões chulas e que dificultem a compreensão de sua conclusão. Ademais, a decisão judicial deve espelhar uma correlação entre seus elementos estruturais (relatório, fundamentação e conclusão). 4. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO SEU CONTEÚDO 4.1. Noções gerais O tema da classificação da sentença quanto ao seu conteúdo sempre foi objeto de acirradas divergências na doutrina, tanto nacional quanto estrangeira, predominando duas correntes de pensamento, a saber: 1. Classificação ternária: sentenças condenatória, constitutiva e declaratória; 2. Classificação quinária: sentenças condenatória, constitutiva, declaratória, mandamental e executiva lato sensu. A discussão, porém, perdeu um pouco o sentido com a edição da Lei nº 11.232/2005, ainda no CPC/73, uma vez que toda sentença que condena ao dever de prestar uma obrigação de fazer, dar coisa ou pagar quantia pode ser efetivada no mesmo processo, instituindo-se o processo sincrético. 2 Idem, op. cit. p. 304. 3 Idem, op. cit. p. 380. www.cers.com.br 4 4.2. Sentença condenatória É aquela que certifica a existência de um direito a uma prestação, que pode ser uma obrigação de fazer, dar coisa ou pagar quantia, viabilizando a realização da atividade executiva caso não cumprida espontaneamente. O direito à prestação corresponde ao direito subjetivo em sentido estrito. Uma vez não cumprida espontaneamente pelo devedor, este será considerado inadimplente e poderá ser constrangido a cumprir a obrigação de modo forçado. Porém, considerando que é vedada a autotutela em nosso ordenamento jurídico, o credor deverá se valer do procedimento jurisdicional executivo que se realiza nos mesmos autos da ação de conhecimento. Portanto, a atividade jurisdicional não se exaure com a certificação do direito subjetivo, exigindo-se a sua efetivação. Doutrina majoritária aponta que a sentença condenatória é formada por dois elementos lógicos: A) decla- ração da existência do autor; B) criação de condições para que sejam praticados atos materiais de execução, o que se justificaria em razão da aplicação de uma sanção executiva. 4.3. Sentença constitutiva Trata-se da decisão que certifica e efetiva direito potestativo, o qual constitui o poder jurídico conferido a alguém de submeter outrem à alteração, criação ou extinção de situações jurídicas. São exemplos de direito po- testativo: A) pedir o divórcio; B) rescindir ou anular um contrato; C) adotar alguém; D) rever a prestação alimen- tícia, entre outros. O deferimento do pedido implica na constituição de uma situação nova, a qual deve a outra parte se submeter sem direito a resistir. Por outro lado, tratando-se de direito que se efetiva no plano jurídico e não físico, a efetivação por meio de atividade executiva é dispensável, bastando a decisão por si para a efetivação do direito potestativo. Sendo assim, a decisão que decreta a nulidade de um contrato, por exemplo, é suficiente, de per si, para que a relação contra- tual seja extinta. 4.4. Sentença meramente declaratória Nos termos do art. 19 do CPC, é aquela que se limita a certificar a existência, inexistência ou modo de ser de uma relação jurídica, ou da autenticidade ou falsidade de um documento. Cuida-se, portanto, de decisão que tem por fim único garantir a certeza jurídica da relação discutida ou documento apresentado, pressupondo a exis- tência de uma situação de incerteza, de dúvida. Atenção! A sentença constitutiva inova; a sentença meramente declaratória apenas reconhece o que já existe ou não. 5. EFEITOS – EFICÁCIA PRINCIPAL, REFLEXA E ANEXA 5.1. Eficácia principal Trata-se dos efeitos principais que decorrem diretamente do conteúdo da decisão proferida, tais como a possibilidade de adoção de providências executivas (decisões condenatórias), a situação jurídica nova (decisões constitutivas) e a certeza jurídica (decisões declaratórias). 5.2 Eficácia reflexa A sentença, em determinadas circunstâncias, além de surtir os seus efeitos principais, afeta relação jurídi- ca estranha ao processo, a qual, no entanto, mantém um vínculo com a relação discutida em juízo. Assim, v.g., a sentença em uma ação reivindicatória repercute na relação jurídica entre o réu o terceiro adquirente do bem (CC, arts. 457 e seguintes). Igualmente, a sentença de despejo, rescindindo o contrato de locação, acarreta, por con- seguinte, o desfazimento da sublocação. 5.3 Eficácia anexa São efeitos da decisão que decorrem de previsão legal e não como consequência do conteúdo da senten- ça (ex lege), a exemplo da perempção (art. 486, § 3º, CPC) , que se forma com a terceira sentença de extinção do processo por abandono unilateral, e a separação de corpos, em razão da decretação do divórcio. Destaca-se, ainda, como efeito anexo, ou secundário, a hipoteca judiciária, prevista no art. 495, CPC, se- gundo o qual “a sentença que condenar o réu ao pagamento de prestação consistente em dinheiro e a que deter- minar a conversão de prestação de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como www.cers.com.br 5 título constitutivo de hipoteca judiciária”. Cuida-se de importante instrumento para prevenir a fraude à execução, haja vista que se assegura ao credor a possibilidade de buscar o bem onde quer que se encontre em razão do direito de sequela inerente à hipoteca judiciária. 6. PUBLICAÇÃO, RETRATAÇÃO E INTEGRAÇÃO 6.1. Publicação Confeccionada a sentença, deve ser providenciada a sua publicação, tornando-a pública, momento a par- tir do qual será o magistrado impedido de alterá-la, consoante reza o art. 494, CPC. Sendo proferida em audiência ou em sessão do órgão colegiado, será considerada publicada na própria audiência ou sessão; sendo proferida em gabinete, considera-se publicada com a juntada aos autos pelo escrivão. O prazo para recurso, contudo, só passa correr com a intimação das partes por meio de publicação na imprensa oficial. 6.2 Retratação A princípio, uma vez proferida a sentença, exaure-se a atividade do julgador que não pode se retratar do seu entendimento firmado na decisão. Entretanto, excepcionalmente, autoriza-se o magistrado a se retratar diante de recurso contra o indeferimento da petição inicial (CPC, art. 331) ou do julgamento de improcedência prima facie (CPC, art. 332). 6.3 Integração Integrar a decisão nada mais é do que complementá-la para corrigir eventuais defeitos, omissões ou con- tradições. O ordenamento jurídico contempla remédio recursal específico para tanto, os embargos de declaração, espécie de recurso cabível quando houver na sentença obscuridade ou contradição, bem como na hipótese de omissão acerca de ponto sobre o qual devia pronunciar-se o magistrado. Não obstante, excepcionalmente, o próprio julgador que proferiu a sentença pode alterá-la para corrigir inexatidões materiais e erros de cálculo, de ofício ou a requerimento da parte (CPC, art. 494, inciso I). www.cers.com.br 6 QUESTÕES 1. A respeito da sentença, assinale a alternativa INCORRETA. A) A extinção do processo por abandono da causa pelo autor depende de requerimento do réu, salvo se ainda não tiver sido oferecida contestação. B) A desistência da ação pode ser apresentada até a sentença, salvo em se tratando de mandado de segurança, cuja desistência é cabível inclusive após a decisão de mérito. C) O Novo Código de Processo Civil não permite o exercício do juízo de retratação em recurso de apelação inter- posto contra decisão meramente terminativa. D) Em regra, a prescrição e a decadência não devem ser reconhecidas sem que antes seja dada às partesopor- tunidade de manifestar-se. E) Se o processo for extinto, por exemplo, em razão do indeferimento da petição inicial, da ausência de pressu- posto processual, por falta de ilegitimidade ou de interesse processual, a propositura de nova ação depende da correção do vício que levou à sentença sem resolução do mérito. 2. À luz do Novo Código de Processo Civil é correto afirmar: A) Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, o juiz pode decidir de forma concisa. B) O juiz, ao sentenciar, deve observar a correlação entre o que foi pedido pelo autor e o conteúdo da sentença, sob pena de nulidade. C) A eficácia reflexa da sentença atinge tão somente as partes no processo. D) Depois de publicada a sentença o juiz não pode, de ofício, alterá-la, salvo para sanar omissões ou contradi- ções. 3. A hipoteca judiciária é exemplo de eficácia anexa da sentença. Sobre esse instituto, indique a alternativa INCORRETA. A) A sentença produz a hipoteca judiciária ainda que a condenação seja genérica ou que tenha sido impugnada mediante recurso dotado de efeito suspensivo. B) A hipoteca judiciária poderá ser realizada mediante apresentação de cópia da sentença perante o cartório de registro imobiliário, independentemente de ordem judicial, de declaração expressa do juiz ou de demonstração de urgência. C) A hipoteca judiciária, uma vez constituída, implicará, para o credor hipotecário, o direito de preferência, quanto ao pagamento, em relação a outros credores, observada a prioridade no registro. D) A decisão judicial que condene à entrega de coisa distinta em dinheiro é título constitutivo de hipoteca judiciá- ria. www.cers.com.br 7 GABARITO 1. C 2. B 3. D www.cers.com.br 8
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