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4 CUIDADOS TÉCNICOS NO INÍCIO DO PSICODIAGNÓSTICO Bruna Gomes Mônego Opsicodiagnóstico é um processo que deve ser planejado passo a passo, mas, quando estamos iniciando a vida profissional, não sabemos exatamente como é o primeiro passo. Existem diferentes opiniões e posturas, e você tem liberdade para fazer suas escolhas e construir o profissional que deseja ser. Neste capítulo, procuro trazer um pouco da minha visão, da minha prática e alguns assuntos ou dicas a que gostaria de ter tido acesso quando iniciei meu trabalho. Espero que ele possa servir como um guia para acompanhá-lo nessa incrível jornada do psicodiagnóstico. Não pretendo fornecer um manual de regras rígidas, mas entendo que a flexibilidade necessária para o trabalho do psicólogo é adquirida com o amadurecimento profissional e pessoal. Apresento este capítulo em duas seções. A primeira corresponde ao contato telefônico, à marcação da primeira entrevista e ao contrato. A segunda abordará a empatia e a relação terapêutica, considerando características do profissional e do paciente. COMO TUDO COMEÇA O contato telefônico Se você vai começar seu estágio ou trabalhar em uma clínica, é preciso saber que geralmente é o paciente quem vai procurar o serviço. Ele terá um acolhimento ou uma triagem e, em seguida, você pegará seus dados para entrar em contato e marcar a primeira entrevista. Ou seja, um pouco do trabalho foi adiantado e você já tem informações para se preparar melhor. Caso vá atender em seu próprio consultório, você mesmo coletará os primeiros dados e, se não tiver uma secretária, o paciente fará o contato diretamente com você. Ele irá contatá-lo porque, provavelmente, recebeu seu nome como indicação. Você receberá uma ligação de um número desconhecido e, ansiosamente, pensará: “Será que é um paciente?”. Se essa ansiedade for muito grande, você não ouvirá nada do que a pessoa do outro lado da linha falará. Portanto, mantenha sempre um papel e uma caneta à mão. Pergunte e anote o nome da pessoa que será avaliada e sua idade, solicite uma descrição genérica do problema e marque o horário. Caso não tenha uma agenda em mãos, diga que ligará depois para confirmar a data. Não há problema algum nisso. Inclusive, se não puder falar no momento, diga que retornará a ligação, mas nunca deixe de anotar o nome da pessoa e o número do telefone. Mais tarde, você poderá esquecer essas informações, vindo a se perder na lista de registros. É importante manter a calma durante esse primeiro contato telefônico, pois o indivíduo já está formando uma opinião sobre a sua competência ou capacidade de estabelecer confiança. Promova uma conversa em que você possa demonstrar ser atencioso e acolhedor. Pode perguntar sobre a demanda da avaliação: “Você poderia me adiantar alguma informação sobre o motivo da avaliação?” e “Quem a está solicitando?”. Caso obtenha esses dados por telefone, você terá como se preparar um pouco melhor, não sendo, assim, pego de surpresa na consulta. Além disso, se for uma demanda com a qual não trabalha, informe isso imediatamente ao indivíduo e, se possível, indique outro profissional ou instituição que possa ajudá-lo. Ao marcar a primeira sessão, solicite que o indivíduo leve documentos e materiais que você julgue necessários, como o encaminhamento do solicitante, resultados de exames, e laudos médicos e psicológicos. Quando a ligação é feita pelo responsável da criança para a qual se solicitou uma avaliação, você pode sugerir que ambos os responsáveis legais (p. ex., pai e mãe) compareçam e orientá-los a ir para a sessão sem a criança. Essa solicitação é feita por ser comum as famílias terem segredos ou opiniões que não são expressas na frente da criança, ou, ainda, assuntos de conteúdo mais íntimo do casal. Entretanto, muitas vezes o responsável a leva por não ter com quem deixá-la. Nessas situações, você poderá avaliar se ela tem idade suficiente para ficar na sala de espera com a secretária (caso disponha de uma), ou se entrará no consultório junto com o responsável. Se ela ficar de fora, divida o tempo entre os responsáveis e a criança, de modo a não deixá-la com a impressão de estar sendo excluída, afinal, ela é o cerne da avaliação. Caso a criança tenha de acompanhar toda a sessão, introduza-a na conversa. Quando fizer o contrato com o responsável, explique tudo a ela também. Em qualquer idade, a criança sabe quando está sendo incluída e valorizada. Olhe para ela, pergunte diretamente a ela, mostre-se interessado no que tem a dizer. Provavelmente você será capaz de observar aspectos da relação entre o responsável e a criança, como o estímulo e a valorização dada às opiniões infantis. No caso de adolescentes, você levará em conta a idade e a demanda, mas, em geral, é interessante que o primeiro atendimento seja conduzido com o próprio adolescente, pois se trata de uma etapa do desenvolvimento humano que busca identidade e autonomia. Esse posicionamento do psicólogo favorece uma relação de confiança, na medida em que o jovem percebe que o profissional o vê como alguém capaz de falar de si mesmo e de suas necessidades. Ele chegou ao consultório... Bom, seu paciente chegou e você vai buscá-lo na sala de espera. Cumprimente-o e apresente-se. O contato físico (abraço, aperto de mão, beijo na face) nesse momento, assim como na despedida, vai depender de como você se sente mais à vontade, mas não se esqueça de observar a reação do paciente. Tente deixá-lo à vontade também. Pacientes com traços paranoides, por exemplo, não costumam gostar de ser tocados. Depois disso, você vai guiá-lo até o consultório. Se esse trajeto for um pouco longo, pergunte se foi fácil achar o local, se conseguiu estacionar, como está o clima na rua ou outras questões impessoais, mas nunca indague sobre a queixa. Os assuntos referentes à problemática do indivíduo devem ser sempre abordados dentro do consultório, que é o local apropriado para isso, e porque você quer que toda a sua atenção esteja voltada às respostas, procurando preservar a confidencialidade das informações. Ouça-o! Esteja presente de corpo e mente. Prepare-se bem para esse momento e tenha em mente as perguntas que precisa fazer, mas não esqueça de ouvir as respostas. Psicólogos iniciantes tendem a se preocupar demasiadamente com obrigações e regras. Isso prejudica a relação terapêutica, assunto que será abordado mais adiante (Meyer & Vermes, 2001). Nem todo psicólogo iniciante experimenta um nível de ansiedade capaz de interferir em sua atenção – o que é ótimo. Conseguir lidar tranquilamente com situações novas é muito bom. Contudo, tanto o excesso de ansiedade quanto o de autoconfiança são capazes de “ensurdecer” o profissional. Ao receber um indivíduo que fez muitas avaliações, consultou diversos profissionais e queixa-se que ninguém soube avaliá-lo ou ajudá-lo, não é raro que o psicólogo experimente uma sensação de desafio e pensamentos do tipo “Eu vou conseguir!”, “Nenhum profissional se dedicou a ele como eu farei” ou, ainda, sofra uma intensa ansiedade e tenha pensamentos como “Se eu não conseguir, serei um fracasso”, “Eu não sou bom o suficiente para isso”, “Se eu falhar, ele ficará ainda mais desapontado”. Embora os pensamentos sejam sobre o desempenho do próprio psicólogo, a questão a ser refletida se refere ao indivíduo. Ou seja, será que ninguém soube avaliá-lo de fato ou é ele que não aceita o que lhe foi dito ou a ajuda que lhe foi oferecida? Se, de acordo com ele, há tantos profissionais incompetentes, será que algum lhe parecerá capaz? O que ele realmente está buscando? Esses questionamentos feitos por parte do psicólogo trarão uma visão mais clara do caso. Um exemplo desse tipo de situação é quandoos pais não aceitam determinado diagnóstico dado ao filho, ou não concordam que a dinâmica familiar ou que as práticas parentais utilizadas estão influenciando negativamente a criança. Quando você se deparar com situações semelhantes, reflita sobre a real necessidade de nova avaliação e se ela trará informações que ainda não foram investigadas (considere, também, a reaplicação de instrumentos psicológicos). Talvez o mais indicado seja uma orientação aos pais em vez de submeter novamente a criança a uma fatigante avaliação, fortalecendo, assim, o pensamento de que ela tem um problema tão grave que ninguém será capaz de ajudá-la. Marcar e receber o indivíduo na primeira sessão após o contato telefônico não - significa que a avaliação será realizada. Você considerará pelo menos três pontos: o esclarecimento da demanda; a real necessidade da avaliação; e sua competência para realizá-la. Para o primeiro ponto, tenha em mente que “. . . o avaliador pode se encontrar com o avaliando ou com outras pessoas antes da avaliação formal a fim de esclarecer aspectos da razão para o encaminhamento” (Cohen, Swerdlik, & Sturman, 2014, p. 4). Para o segundo ponto, entenda que existem demandas que podem ser encaminhadas diretamente para a psicoterapia, por exemplo. Sobre o terceiro, é fundamental lembrarmos do Código de Ética Profissional do Psicólogo (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2005), que aponta que o psicólogo deve “. . . assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente”. Claro que o psicólogo iniciante tem uma competência ainda limitada, mas ele estudará e fará supervisão. Outro aspecto que pode ser abordado aqui é quando determinada demanda não faz parte do seu campo de atuação. Restringir seu repertório de trabalho é uma escolha. Certa vez, um pai me ligou porque buscava um psicodiagnóstico para a filha de 4 anos. Por telefone, não entendi exatamente o que ele queria e marquei uma consulta de esclarecimento. A pergunta que ele queria responder era: “Ela terá esquizofrenia no futuro?”. Havia história familiar positiva para o transtorno, e ele estava muito preocupado. Eu o ouvi atentamente, entendi o que queria, mas informei que não conseguiria dar essa resposta. Informei saber que esse tipo de avaliação existia em outros países, mas que eu não tinha formação adequada para essa prática e não conhecia nenhum profissional geograficamente próximo que a fizesse. Esclareci que minha avaliação apresentaria o estado emocional e/ou cognitivo atual da menina, mas que, por seu relato, eu não percebia necessidade para isso (ela também estava em psicoterapia). De qualquer forma, orientei- o a respeito dos fatores de proteção, do ambiente saudável e do manejo parental. Não seria apropriado realizar uma avaliação sobre como ela estava naquele momento, sabendo que a expectativa do pai era outra. O contrato Passado o momento da recepção do indivíduo e do entendimento da demanda, é de extrema importância esclarecer o que é um psicodiagnóstico, visto que a imensa maioria das pessoas que procuram esse serviço não sabe bem como funciona esse processo e quais são seus direitos. Mantê-las sem esse conhecimento reforça ideias irreais, idealizadas ou preconceituosas sobre o processo. Essa explicação já introduz o contrato. Para versar sobre o contrato, vamos retomar o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005) como princípio fundamental: “. . . o psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão” e tem como responsabilidade “. . . Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional”. Tendo isso em mente, começo explicitando que o psicodiagnóstico é um processo avaliativo e informo ao avaliando, ou aos seus responsáveis, que: Trata-se de um processo de investigação, cujo objetivo é responder à pergunta do encaminhamento Não inclui o tratamento Há benefícios para o caso em questão (reconhecer as dificuldades para adequar o mane- jo parental e/ou escolar; reconhecer as potencialidades para planejar reabilitações e fortalecê-las; identificar o diagnóstico para escolher o melhor tratamento; entre tantos outros) As indicações terapêuticas serão dadas ao final do processo O processo possui uma estimativa de duração (devendo-se explicitar o número de sessões e o tempo de cada uma) Com o conhecimento do paciente, entrarei em contato com quem eu julgar necessário, como, por exemplo, familiares, instituições, médicos e outros profissionais que o atendam – tal contato pode ser telefônico ou presencial De acordo com o tipo de resposta fornecida pela avaliação e com suas limitações, pode- se estabelecer alguns prognósticos ou causas explicativas de alguns problemas Durante o processo, o paciente tem direito a documentos (declaração) que justifiquem faltas ao trabalho, caso seja necessário Farei uma ou mais entrevistas devolutivas ao final do processo, juntamente com duas cópias do laudo, sendo uma para ele e outra para o profissional da saúde que o encaminhou No caso de encaminhamento de escolas ou instituições que não são da área da saúde, providenciarei um atestado. Explicarei, resumidamente, a diferença entre esses documentos (os documentos serão abordados no Cap. 14). Esclareça sobre o sigilo. Quanto mais o paciente parecer desconfortável com a - situação de avaliação, mais interessante será conversar sobre quais informações serão repassadas e quem terá acesso a elas. Adolescentes, por exemplo, tendem a ser mais desconfiados, pois costumam classificar o psicólogo como um agente dos pais. A questão prioritária desse aspecto é esclarecer que, como se trata de uma avaliação, você escreverá sobre o paciente e provavelmente falará com o profissional que o encaminhou (e/ou responsáveis), mas sempre com o cuidado de comunicar apenas o necessário para ajudá- lo. Nunca garanta guardar todos os segredos do paciente. O trabalho do avaliador é responder a alguma pergunta feita e permitir que o paciente receba ajuda profissional sempre que necessário. O Código de Ética Profissional (CFP, 2005) aponta que, no contato com profissionais não psicólogos, deverão ser compartilhadas “somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo”. Entre outras orientações, o International Test Comission (ITC, 2003) sugere que se explique aos interessados os níveis de confidencialidade antes de iniciar a avaliação e que se solicite as autorizações antes da divulgação dos resultados. É sempre difícil dar orientações genéricas sobre o sigilo, pois dependerá da demanda de cada caso. Assim, recomenda-se a discussão em supervisão ou com algum colega mais experiente. Além do conteúdo relatado pelo paciente, também há o material decorrente da avaliação, como testes e protocolos de registro que deverão ser armazenados conforme a Resolução nº 001/2009 do CFP (2009). Informe ao paciente que vias de contato ele pode usar com você para, por exemplo, desmarcar o atendimento. Pode ser telefone, e-mail, aplicativos como o WhatsApp, redes sociais, entre outros. A cada dia, há mais alternativas de contato. No entanto, o que é comum e prático para algumas pessoas, pode não ser confortável para outras. Lembre-se que você deve estar atento aos canais de comunicação que disponibilizar e tenha grande cuidado com falhas na comunicação, comuns emmeios eletrônicos. O mais seguro continua sendo a ligação telefônica. Destaco que não me refiro ao atendimento on- line (informações sobre essa prática devem ser consultadas e adquiridas com o CFP). Explique, também, que você anotará informações durante a avaliação. Nunca tive pacientes que se opuseram a essa prática, mas é importante deixar o paciente à vontade. Eu costumo dizer que não posso confiar na minha memória, que as anotações facilitam a redação posterior do laudo e que ele poderá olhá-las caso sinta-se desconfortável. Cuidados extras devem ser tomados com anotações oriundas de aplicações de instrumentos projetivos. Estabeleça algumas normas sobre faltas e atrasos e comunique-as ao paciente. Serviços-escola e clínicas costumam ter regras, como o desligamento do paciente após 2 ou 3 faltas sem aviso prévio; tanto o atraso quanto a falta podem implicar custo extra para o paciente, além de estender por mais tempo o processo de avaliação. Tenha um cadastro de seus pacientes, com informações como nome completo, endereço, escolaridade, profissão, contatos telefônicos e e-mail. Você mesmo pode preencher esse cadastro ou entregá-lo para que o paciente o faça enquanto espera a sessão. Pode-se, ainda, acrescentar dados de saúde geral e de tratamentos ou avaliações anteriores, assim como o controle dos honorários. Existem softwares de gestão que podem ser utilizados, ou pode-se, ainda, manter um arquivo físico; acima de tudo, é importante que as informações sejam mantidas em local seguro e que sejam feitas cópias de segurança (backup) a fim de não perdê-las. Psicólogos, assim como muitos outros profissionais da saúde, são carentes de conhecimentos de gestão, em especial gestão financeira. Para que as finanças também sejam saudáveis, é preciso tratar o consultório como uma empresa. Os temas “dinheiro”, “valor” e “preço” são pouco discutidos durante a formação do psicólogo, gerando falta de preparo para essa atividade. Muitos alunos e colegas queixam-se de não saber cobrar e de ficar constrangidos ao fazê-lo, mas essa é uma prática necessária e será abordada com mais detalhes neste capítulo. Um dos motivos que vejo para termos tantas dificuldades para cobrar, além da falta de treinamento na graduação, é que não sabemos bem qual é o nosso produto. O que nós vendemos? Você já pensou nisso? Eu acredito que vendemos nosso conhecimento em saúde. Mas como estabelecer um valor para isso? Há muitos itens a serem considerados no preço a ser cobrado que são mais concretos do que o conhecimento. Segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2015?), Calcular corretamente os preços é essencial para a saúde financeira dos negócios. O preço é quanto o seu produto ou serviço vale para o consumidor. Para o seu negócio, o preço ideal de venda é aquele que cobre os custos do produto ou serviço e ainda proporciona o lucro desejado pela empresa. No preço, você precisa considerar os custos com: aluguel da sala, luz, condomínio, limpeza, telefone, internet, anuidade do Conselho Regional de Psicologia, anuidade do Sindicato dos Psicólogos (opcional), assessoria contábil e impostos (imposto predial territorial urbano, imposto sobre serviços de qualquer natureza, imposto de renda). Além disso, há os custos de materiais como testes e brinquedos, que serão usados com diversos pacientes, e os que irão variar de acordo com o caso avaliado: contato com instituições ou profissionais (telefone, gasolina, tempo); horas de supervisão; aquisição de protocolos de registro de respostas; horas trabalhadas no levantamento, correção e interpretação dos testes; horas trabalhadas na redação dos documentos e entrevistas devolutivas. Além de tudo isso, há o nosso conhecimento técnico a ser empregado durante o processo. A inadimplência é um problema muito comum em nossa profissão e de difícil solução. A possibilidade de não receber pelo trabalho feito também deve ser considerada tanto no valor quanto na forma de pagamento/recebimento. Defina os prazos de pagamento de forma que ele seja feito antes do fim do psicodiagnóstico. Alguns psicólogos trabalham com contratos por escrito. É uma prática interessante, que pode ser adotada com o suporte de um advogado. O profissional escolhe a forma como cobrará pelo serviço. Assim, você pode dar o valor da avaliação completa, com uma estimativa de tempo do processo, ou cobrar por sessão. Na segunda opção, é importante que se tenha maior precisão sobre quantas sessões serão necessárias para que o paciente possa se organizar financeiramente. Deve-se ter clareza de que, em qualquer das alternativas, o tempo da sessão propriamente dita é somente uma parte de tudo o que deve compor o preço. É comum as pessoas perguntarem o preço do psicodiagnóstico ao telefone, na primeira ligação. Pode ser difícil dar um valor preciso sem conhecer bem a demanda, mas você poderá informar um preço médio, dizer que precisará de mais informações sobre a demanda e/ou marcar uma sessão para esclarecimento da demanda e estipulação do valor. Para finalizar, considero de extrema importância apontar alguns aspectos éticos en- volvidos na cobrança dos honorários. Nossa profissão tem algumas diferenças em relação ao restante do mercado. Não podemos fazer promoções, nem reproduções não autorizadas dos testes. Tampouco podemos desqualificar o processo a fim de reduzir o valor financeiro do psicodiagnóstico. O trabalho deve ser sempre competente, coerente e confiável, assim como assegura nosso Código de Ética Profissional (CFP, 2005): Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo: a) Levará em conta a justa retribuição aos serviços prestados e as condições do usuário ou beneficiário; b) Estipulará o valor de acordo com as características da atividade e o comunicará ao usuário ou beneficiário antes do início do trabalho a ser realizado; c) Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos independentemente do valor acordado. RELAÇÃO PSICÓLOGO-PACIENTE NO PSICODIAGNÓSTICO A relação terapêutica auxilia na cooperação do paciente durante o processo avaliativo e na sua disposição em buscar tratamento (quando for o caso) após a avaliação. A demonstração de empatia e a construção de uma relação de confiança também facilitarão a devolução dos resultados. Embora este capítulo não aborde a etapa de devolução, sabemos que, com certa frequência, o esforço conjunto entre psicólogo e paciente culmina em resultados que podem ser inesperados ou bastante ansiogênicos para o avaliado. Para o momento da comunicação desses resultados, a empatia é ainda mais crucial. Empatia e relação terapêutica A empatia é uma habilidade que inclui aspectos cognitivos, afetivos (Davis, 1980; Schreiter, Pijnenborg, & Rot, 2013) e comportamentais (Falcone et al., 2008; Irving & Dickson, 2004; Larson & Yao, 2005). Existem diversos processos sociocognitivos relacionados a ela, entre eles, o contágio emocional, que é um estado emocional autodirigido que pode constituir uma primeira etapa do processo empático, mas não é suficiente para tal. Empatia é sentir o que o outro está sentindo, sem uma conscientização do outro. Trata-se de uma sincronia da emoção do observador com a emoção do observado. Além da emoção, é possível que o observador sincronize as expressões faciais, a voz, a postura e os movimentos (Gouveia, Guerra, Santos, Rivera, & Singelis, 2007). Imagine, por exemplo, que um amigo seu está relatando algo trágico ou algum sofrimento e você percebe-se fazendo a mesma cara de assolamento que ele. Entretanto, é a empatia que é dirigida ao outro. Ela supõe compaixão, vontade de ajudar (Schreiter et al., 2013), capacidade para inferir estados mentais (Jiménez-Cortés etal., 2012) e se colocar intelectualmente no lugar do outro, a fim de entender a sua visão e de utilizar essa compreensão para resolver possíveis problemas interpessoais, além de conhecer os sentimentos do outro por meio de sua expressão comportamental (Schreiter et al., 2013). Todos nós, seres humanos, experienciamos os processos citados anteriormente em diversos momentos da vida, exceto, claro, na presença de determinadas patologias que apresentam alterações na empatia e em habilidades relacionadas. Entretanto, no contexto profissional, a angústia pessoal não auxilia, e o contágio emocional só é interessante se desencadear o processo empático como um todo. Caso contrário, estarei sendo sensível aos sentimentos do paciente, mas sem garantir a empatia necessária para que ele confie no meu trabalho. Lembre-se que o paciente deve confiar no profissional que você é e não no amigo que você poderia ser. Espera-se, então, que o psicólogo seja capaz de escutar atentamente o relato do - paciente e “escutar” seu comportamento não verbal, compreender a situação pelo ponto de vista do paciente, compreender seu estado emocional, conectar-se emocionalmente com ele, legitimar suas emoções e sentimentos e promover apoio. Thwaites e Bennett-Levy (2007) sugeriram que a empatia do psicólogo pode ser compreendida em quatro aspectos diferentes: um se refere à sintonia empática; o outro diz respeito à postura empática e terapêutica; um terceiro indica a habilidade comunicativa para com o paciente; e o último trata do conhecimento declarativo que o psicólogo tem sobre a empatia. Acredito que especialmente os dois últimos aspectos poderiam ser abordados nos cursos de graduação de Psicologia. Todos os psicólogos - ouviram, em algum momento do curso, que devem ser empáticos, mas poucos receberam ensinamentos sobre as definições de empatia e como demonstrá-la, apesar da existência de treinamentos efetivos de empatia (van Berkhout & Malouff, 2015, no prelo). Contudo, a experiência profissional não garante que o psicólogo seja empático (Schwartz & Flowers, 2009). Palhoco e Afonso (2011) investigaram a empatia de estudantes de Psicologia em diferentes etapas da formação e de terapeutas, tendo como hipótese a presença de uma diferença significativa entre os grupos que pudesse sugerir um aumento da capacidade empática em consonância com o aumento da experiência. Os resultados refutaram a hipótese. Foram verificados diferentes escores de empatia nos grupos, mas sem uma perspectiva de desenvolvimento gradual. Com isso, é possível adotar tanto uma perspectiva de que (a) experiências pessoais sejam mais importantes para o desenvolvimento dessa habilidade do que a formação em Psicologia; quanto uma visão de que (b) as grades curriculares das graduações em Psicologia não contemplam o treino de tais habilidades, e os alunos geralmente vão para estágios de clínica sem um preparo específico. Quanto à perspectiva dos pacientes, o profissional (médico) é visto como empático quando eles se sentem aceitos e compreendidos. Para isso, pressupõem-se duas vias: a cognitiva, que envolve a apreensão precisa do ponto de vista do paciente e a habilidade de comunicar isso; e a afetiva, que abarca a capacidade do profissional de proporcionar uma melhora emocional ao paciente (Kim, Kaplowitz, & Johnston, 2004). Nesse sentido, sua aceitação e sua compreensão não serão suficientes caso o paciente não as reconheça. Uma queixa frequente dos pacientes em psicoterapia é que seus terapeutas não se preocupam com eles. A questão que emerge disso é: será que os psicólogos expressam empatia da forma que acreditam estar expressando? Ou ainda: será que os psicólogos conseguem perceber como o paciente percebe essa expressão de empatia? (Schwartz & Flowers, 2009). Para melhorar essa conexão entre a dupla psicólogo-paciente, Schwartz e Flowers (2009) sugerem uma saudação calorosa, com contato olho no olho; o respeito a cada paciente; a observação dos próprios sentimentos em relação ao paciente; e questionamentos sobre a empatia sentida por ele e por seus problemas. Nesse sentido, a reflexão é sobre o que você sente, e não sobre como se expressa. Talvez você precise ouvir mais sobre os sentimentos do paciente e fazer o exercício de imaginar-se no lugar dele para, então, conseguir conectar-se (Schwartz & Flowers, 2009). Outra dificuldade comum que Schwartz e Flowers apontam é a crença de que, para sentir empatia, é necessário gostar do indivíduo. Eles citam um trecho de Carl Rogers (1955 apud Schwartz & Flowers, 2009) que considero tão relevante e imprescindível que vou citá-lo aqui: “O olhar positivo incondicional envolve a aceitação em relação à expressão do paciente de sentimentos negativos, ‘ruins’, dolorosos, temores, defensivos, anormais, da mesma forma que envolve a aceitação da expressão de seus sentimentos ‘bons’, positivos, maduros, confiantes, sociais”. Assim, indivíduos com problemas de comportamento agressivo, por exemplo, costumam gerar desconforto, repulsa e uma postura de julgamento no psicólogo e, portanto, maior dificuldade em sentir empatia. A ideia é que você não precisa aceitar seus comportamentos “errados” para ser capaz de olhá-lo com o interesse e a preocupação necessários para ouvi-lo. Embora os autores se refiram ao processo psicoterápico, a empatia e a aceitação não são diferentes no psicodiagnóstico, mesmo que ele tenha duração menor ou não seja interventivo. A conexão com o paciente tem de existir para que se possa entender o que acontece com ele. O estudo de Larson e Yao (2005) permite uma reflexão muito interessante sobre a empatia na prática médica. Entre outros aspectos, os autores apontam que o construto em questão facilita a coleta de informações, auxiliando em um diagnóstico mais preciso, e tem um importante papel na eficácia dos tratamentos. A empatia é necessária para a relação terapêutica, mas não é o fim em si. Enquanto a empatia permeia qualquer relação humana, a relação é . . . uma interação de mútua influência entre terapeuta e cliente. Nela, a pessoa que buscou ajuda é privilegiada pelo trabalho de um profissional capacitado a utilizar técnicas e procedimentos específicos, ao mesmo tempo em que lança mão de habilidades sociais importantes, como a empatia. (Meyer & Vermes, 2001, p. 101). Comumente, os pacientes sentem-se envergonhados ou desconfortáveis ao ter de falar sobre sentimentos, pensamentos e/ou comportamentos entendidos como inadequados por seu meio social. É possível que já tenham sido criticados ou ridicularizados pela família, por amigos e por colegas. A capacidade do psicólogo para demonstrar sua empatia, para valorizar a expressão desses temores (Thwaites & Bennett- Levy, 2007) e para apresentar respeito, interesse e compreensão é essencial para que o paciente se sinta acolhido e atendido (Araújo & Shinohara, 2002), fortalecendo, assim, o vínculo. Uma relação terapêutica satisfatória é importante tanto para o paciente quanto para a saúde do profissional, pois melhora sua satisfação com o trabalho (Larson & Yao, 2005). Características do psicólogo e do paciente Quanto às características do psicólogo, um estudo demonstrou que as habilidades para transmitir segurança, cuidado, compaixão e empatia foram positivamente associadas à relação terapêutica, assim como a percepção de profissionalismo e qualificação. Além disso, pacientes que perceberam seus psicólogos como tendo aceitação, compreensão, compromisso, compaixão, habilidades empáticas e interpessoais, além de motivos para agir em prol do melhor interesse dos pacientes, estiveram mais comprometidos com seus tratamentos (Holdsworth, Bowen, Brown, & Howat, 2014). Outra revisão da literaturaindicou os atributos pessoais do psicólogo que contribuíram positivamente para a relação. São eles: flexibilidade, experiência, honestidade, respeito, ser confiável, confiante, interessado, atento, amigável, caloroso e aberto (Ackerman & Hilsenroth, 2003). A lista pode ser ainda maior se incluirmos as habilidades de aceitação, a ausência de julgamentos, a genuinidade e a autoconfiança (Meyer & Vermes, 2001). Entretanto, não podemos esquecer que, antes de sermos psicólogos, somos humanos e precisamos de acompanhamento profissional, estudo e treinamento para perceber nossos próprios sentimentos e pensamentos a respeito dos pacientes. Parafraseando Thwaites e Bennett-Levy (2007), diferentemente do aprendizado de técnicas avaliativas ou terapêuticas, o desenvolvimento de habilidades empáticas não pode separar-se da “pessoa do psicólogo”. Trata-se de um amadurecimento pessoal, além de profissional. A atenção aos próprios sentimentos é essencial para o trabalho do psicólogo. Perceber a reação emocional que o paciente causa em nós é necessário, mas ela só pode ser entendida como “causada” pelo paciente se o profissional for muito bem treinado para reconhecer seus próprios medos, dificuldades e crenças pessoais. Inevitavelmente, os relatos dos pacientes tocam em nossas feridas, despertam lembranças, ativam sofrimentos e tornam-se gatilhos para certos pensamentos. Isso ocorre em maior ou menor grau porque somos humanos. Entretanto, o que deve ser evitado é a não diferenciação entre a história pessoal do psicólogo e as necessidades do paciente. Um estudo demonstrou diferenças nos estilos de psicólogos que realizaram psicoterapia pessoal em comparação àqueles que não tiveram essa experiência. Apoiados também em outras pesquisas, Couto, Farate, Torres, Ramos e Fleming (2013) sugeriram que profissionais sem essa vivência apresentavam maior retenção do paciente em tratamento. Desse modo, o psicólogo deve “. . . ter a habilidade para reconhecer, rotular, compreender e expressar suas emoções. Em vez de não ter sentimentos, ou de ser um perito na repressão” (Beck, Freeman, & Davis, 2005, p. 105). Tendo essa percepção, o psicólogo deve manter-se atento para que aspectos pessoais não interfiram negativamente no trabalho com o paciente. O autoconhecimento do psicólogo não é importante apenas para aqueles que trabalham com psicoterapia, é fundamental também no contexto do psicodiagnóstico. Como a relação terapêutica é estabelecida entre duas pessoas, ela não depende apenas dos aspectos do psicólogo. Características pessoais do paciente, assim como sua patologia (quando houver), a influenciarão. Além disso, a relação que se coloca entre a dupla psicólogo-paciente também é uma fonte de ricas informações para o psicodiagnóstico. Por meio dela, é possível observar os padrões comportamentais que o paciente manifesta e que, provavelmente, desencadeiam grandes prejuízos inter- relacionais fora do consultório (Ventura, 2001). Quanto maior for a relação entre as dificuldades interpessoais do paciente e a demanda da avaliação, maior será a exploração disso por parte do psicólogo. Pacientes com transtorno da personalidade (que pode ou não ser o motivo do encaminhamento) terão maiores problemas no estabelecimento da relação, visto que a dificuldade central desse grupo é justamente a relação interpessoal. Indivíduos com traços de transtorno da personalidade borderline, por exemplo, têm grande dificuldade para estabelecer relações de confiança devido ao medo de serem abandonados. Esses obstáculos serão observados pelo psicólogo em uma relação conturbada (para mais informações, consultar as publicações de Marsha Linehan). O cuidado especial aqui é que, embora você queira investir no estabelecimento da confiança, o tempo limitado e curto do psicodiagnóstico poderá servir ao paciente como mais uma experiência de abandono. Pacientes hostis, arrogantes, raivosos, que gritam com o psicólogo com frequência geram raiva no profissional. Nessas situações, o ideal é manter uma postura empática, não agressiva e não defensiva, demonstrar firmeza e estabelecer limites (Ventura, 2001). Situações corriqueiras são as de pacientes com preconceitos relacionados a precisar/consultar um psicólogo. Nesses casos, é imprescindível permitir a expressão desse desconforto, esclarecer dúvidas e manter uma postura profissional, sem investir em uma disputa a favor da profissão. Outros indivíduos têm preconceito em relação à idade. Como a maioria dos psicólogos iniciantes é mais jovem do que os pacientes esperam, é inevitável deparar-se com essa situação. Acredito que problemas desse tipo dependem mais da tranquilidade do próprio profissional em aceitar o fato e desenvolver autoconfiança. Quando o psicólogo encontra um paciente com mais dificuldade para cooperar com o psicodiagnóstico, o primeiro deve pensar nos motivos que o segundo pode ter para isso. Uma revisão da literatura encontrou que ansiedade, evitação, desesperança, hostilidade, assunção de riscos ecomorbidades médicas são características relacionadas a baixo - comprometimento do paciente para com a psicoterapia. Ou seja, muitos dos sintomas que os pacientes trazem para o atendimento ou para a avaliação são, justamente, fatores que dificultam o seu compromisso com a mudança (Holdsworth et al., 2014). Tratando-se do contexto do psicodiagnóstico, a questão é que, mesmo que não se esperem mudanças durante o processo avaliativo, o resultado do estudo nos sinaliza que tais características afetam a cooperação do paciente e perturbam o seu papel (que deve ser ativo) na busca de ajuda e no engajamento ao tratamento. Esses aspectos também precisam ser considerados nos encaminhamentos dados ao final do processo. Existem, ainda, outros fatores relacionados ao paciente que dificultarão a relação, como a falta de motivação, a falta de perspectiva ou de relevância do processo avaliativo, as expectativas inadequadas do processo (mesmo após as explicações do psicólogo) e as experiências negativas vividas com outros psicólogos e/ou psiquiatras. Beck e colaboradores (2005, p. 92) apontam alguns motivos para a não colaboração dos pacientes com a terapia que podem ser considerados também no contexto do psicodiagnóstico: “. . . desconfiança do terapeuta, expectativas irrealistas, vergonha pessoal, culpa externalizada e queixas contra outras pessoas (ou instituições), desvalorização de si mesmo ou de outros, medo de rejeição e fracasso”. A relação terapêutica no psicodiagnóstico A relação terapêutica é alvo de muitos estudos em psicoterapia. Os resultados a indicam como um dos principais preditores de melhora no tratamento em qualquer etapa do ciclo vital (Shirk, Karver, & Brown, 2011). Já no processo de psicodiagnóstico, ela é tão pouco explorada que gera dúvidas e conflitos. Não encontrei literatura ou diretrizes sobre as especificidades desse contexto. Percebo que alguns psicólogos tendem a ser mais distantes, por entenderem que é um processo muito curto para se estabelecer um vínculo. Outros não percebem os limites do contexto e estimulam uma proximidade maior do que a necessária. Considerando-se essa carência e tudo o que foi exposto neste capítulo, proponho algumas orientações sobre a relação terapêutica no psicodiagnóstico. Acredito que existam dois aspectos principais a serem abordados aqui. Um diz - respeito ao objetivo da relação no psicodiagnóstico e o outro, ao seu limite. O objetivo é estabelecer um senso de colaboração e confiança. Esse trabalho em conjunto é essencial para a coleta de informações fidedignas e sinceras, de modo que o paciente possa se expor e confiar na devolução e nos encaminhamentos do psicólogo. Quando atender seupaciente em um processo psicodiagnóstico, tenha em mente que a relação a ser estabelecida não é apenas entre o paciente e você, mas sim entre o paciente e os psicólogos. Você fará muito bem a ele caso consiga demonstrar sua confiabilidade, mas será melhor ainda se ele aceitar que pode procurar um psicólogo em qualquer momento da vida para auxiliá-lo a enfrentar suas dificuldades. Não raro, somos o primeiro psicólogo na vida do paciente, e também não é raro que o encaminhamento inclua a psicoterapia. Desse modo, acredito que o psicólogo avaliador pode ter um importante papel na aderência do paciente aos tratamentos futuros. Outro objetivo possível é observar as características da vinculação do paciente como um dado para a análise da demanda, assunto já explorado neste capítulo. Por sua vez, o limite está entre o empenho e a observação do psicólogo para com a relação e as intervenções realizadas, sendo estas últimas o campo de atuação da psicoterapia (ver Cap. 15, sobre psicodiagnóstico interventivo). Durante o psicodiagnóstico, coletamos diversas informações sobre o paciente, mas nos mantemos focados na demanda/objetivo. Claro que queremos vê-lo melhorar e sentir-se bem, mas há um campo de atuação para cada etapa. Psicólogos que trabalham na clínica e depois iniciam atividades com avaliação psicológica podem ter mais dificuldade em não intervir. A questão do tempo também é importante. Em psicoterapia, a dupla constrói a - confiança gradualmente; porém, no psicodiagnóstico, tudo ocorre de forma mais rápida, e precisamos ser capazes de estabelecer esse vínculo de forma mais imediata. Contudo, não é interessante que a ânsia do psicólogo em estabelecer confiança deixe o paciente desconfortável. A relação deve estar de acordo com o estilo do profissional, para que possa ser genuína e autêntica, caso contrário, o paciente perceberá um ambiente dúbio. Quando me refiro à presteza do profissional em demonstrar confiança, também - considero as características do paciente. É preciso estar atento às diversas nuanças do comportamento verbal e não verbal dele e às suas próprias emoções. Tais observações, em conjunto com sua experiência (que será adquirida de forma gradual) e seu conhecimento técnico-científico, darão a você a habilidade de perceber o paciente. O “feeling clínico” não diz respeito à habilidade de intuir ou pressentir como o paciente é. Você deve conseguir percebê-lo porque estuda para isso e desenvolve essa habilidade. Não é uma mágica em que não é necessário qualquer esforço. O estabelecimento da confiança não depende apenas de disposição emocional, mas principalmente da competência do profissional e da capacidade do paciente em confiar. AGRADECIMENTO Agradeço ao discente de Psicologia Álvaro Zaneti e à psicóloga Beatriz Cattani pela leitura do manuscrito e sugestões. REFERÊNCIAS Ackerman, S. J., & Hilsenroth, M. J. (2003). A review of therapist characteristics and techniques positively imp acting the therapeutic alliance. Clinical Psychology Review, 23, 1-33. Araújo, C. F., & Shinohara, H. (2002). Avaliação e diagnóstico em terapia cognitivo-comportamental. Interaçã o em Psicologia, 6(1), 37-43. Beck, A. T., Freeman, A., & Davis, D. D. (2005). Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade. Porto A legre: Artmed. Cohen, R. J., Swerdlik, M. E., & Sturman, E. D. (2014). Testagem e avaliação psicológica: Introdução a testes e medidas. Porto Alegre: Artmed. Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2005). Resolução CFP nº 010/05. Aprova o Código de Ética Profission al do Psicólogo. Recuperado de http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2005/07/resolucao2005_10.pdf Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2009). 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