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5. Hutz%2c C. S.%2c Bandeira%2c D. R.%2c Trentini%2c C. M.%2c & Krug%2c J. S. (2016). Capitulo 4.

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4 
CUIDADOS TÉCNICOS NO INÍCIO DO 
PSICODIAGNÓSTICO 
Bruna Gomes Mônego 
Opsicodiagnóstico é um processo que deve ser planejado passo a passo, mas, 
quando estamos iniciando a vida profissional, não sabemos exatamente como é o primeiro 
passo. Existem diferentes opiniões e posturas, e você tem liberdade para fazer suas 
escolhas e construir o profissional que deseja ser. Neste capítulo, procuro trazer um pouco 
da minha visão, da minha prática e alguns assuntos ou dicas a que gostaria de ter tido 
acesso quando iniciei meu trabalho. Espero que ele possa servir como um guia para 
acompanhá-lo nessa incrível jornada do psicodiagnóstico. Não pretendo fornecer um 
manual de regras rígidas, mas entendo que a flexibilidade necessária para o trabalho do 
psicólogo é adquirida com o amadurecimento profissional e pessoal. 
Apresento este capítulo em duas seções. A primeira corresponde ao contato 
telefônico, à marcação da primeira entrevista e ao contrato. A segunda abordará a empatia 
e a relação terapêutica, considerando características do profissional e do paciente. 
COMO TUDO COMEÇA 
O contato telefônico 
Se você vai começar seu estágio ou trabalhar em uma clínica, é preciso saber que 
geralmente é o paciente quem vai procurar o serviço. Ele terá um acolhimento ou uma 
triagem e, em seguida, você pegará seus dados para entrar em contato e marcar a primeira 
entrevista. Ou seja, um pouco do trabalho foi adiantado e você já tem informações para 
se preparar melhor. Caso vá atender em seu próprio consultório, você mesmo coletará os 
primeiros dados e, se não tiver uma secretária, o paciente fará o contato diretamente com 
você. 
Ele irá contatá-lo porque, provavelmente, recebeu seu nome como indicação. Você 
receberá uma ligação de um número desconhecido e, ansiosamente, pensará: “Será que é 
um paciente?”. Se essa ansiedade for muito grande, você não ouvirá nada do que a pessoa 
do outro lado da linha falará. Portanto, mantenha sempre um papel e uma caneta à mão. 
Pergunte e anote o nome da pessoa que será avaliada e sua idade, solicite uma descrição 
genérica do problema e marque o horário. Caso não tenha uma agenda em mãos, diga que 
ligará depois para confirmar a data. Não há problema algum nisso. Inclusive, se não puder 
falar no momento, diga que retornará a ligação, mas nunca deixe de anotar o nome da 
pessoa e o número do telefone. Mais tarde, você poderá esquecer essas informações, 
vindo a se perder na lista de registros. É importante manter a calma durante esse primeiro 
contato telefônico, pois o indivíduo já está formando uma opinião sobre a sua 
competência ou capacidade de estabelecer confiança. 
Promova uma conversa em que você possa demonstrar ser atencioso e acolhedor. 
Pode perguntar sobre a demanda da avaliação: “Você poderia me adiantar alguma 
informação sobre o motivo da avaliação?” e “Quem a está solicitando?”. Caso obtenha 
esses dados por telefone, você terá como se preparar um pouco melhor, não sendo, assim, 
pego de surpresa na consulta. Além disso, se for uma demanda com a qual não trabalha, 
informe isso imediatamente ao indivíduo e, se possível, indique outro profissional ou 
instituição que possa ajudá-lo. 
Ao marcar a primeira sessão, solicite que o indivíduo leve documentos e materiais 
que você julgue necessários, como o encaminhamento do solicitante, resultados de 
exames, e laudos médicos e psicológicos. Quando a ligação é feita pelo responsável da 
criança para a qual se solicitou uma avaliação, você pode sugerir que ambos os 
responsáveis legais (p. ex., pai e mãe) compareçam e orientá-los a ir para a sessão sem a 
criança. Essa solicitação é feita por ser comum as famílias terem segredos ou opiniões 
que não são expressas na frente da criança, ou, ainda, assuntos de conteúdo mais íntimo 
do casal. Entretanto, muitas vezes o responsável a leva por não ter com quem deixá-la. 
Nessas situações, você poderá avaliar se ela tem idade suficiente para ficar na sala de 
espera com a secretária (caso disponha de uma), ou se entrará no consultório junto com o 
responsável. Se ela ficar de fora, divida o tempo entre os responsáveis e a criança, de 
modo a não deixá-la com a impressão de estar sendo excluída, afinal, ela é o cerne da 
avaliação. Caso a criança tenha de acompanhar toda a sessão, introduza-a na conversa. 
Quando fizer o contrato com o responsável, explique tudo a ela também. Em qualquer 
idade, a criança sabe quando está sendo incluída e valorizada. Olhe para ela, pergunte 
diretamente a ela, mostre-se interessado no que tem a dizer. Provavelmente você será 
capaz de observar aspectos da relação entre o responsável e a criança, como o estímulo e 
a valorização dada às opiniões infantis. 
No caso de adolescentes, você levará em conta a idade e a demanda, mas, em geral, 
é interessante que o primeiro atendimento seja conduzido com o próprio adolescente, pois 
se trata de uma etapa do desenvolvimento humano que busca identidade e autonomia. 
Esse posicionamento do psicólogo favorece uma relação de confiança, na medida em que 
o jovem percebe que o profissional o vê como alguém capaz de falar de si mesmo e de 
suas necessidades. 
Ele chegou ao consultório... 
Bom, seu paciente chegou e você vai buscá-lo na sala de espera. Cumprimente-o e 
apresente-se. O contato físico (abraço, aperto de mão, beijo na face) nesse momento, 
assim como na despedida, vai depender de como você se sente mais à vontade, mas não 
se esqueça de observar a reação do paciente. Tente deixá-lo à vontade também. Pacientes 
com traços paranoides, por exemplo, não costumam gostar de ser tocados. Depois disso, 
você vai guiá-lo até o consultório. Se esse trajeto for um pouco longo, pergunte se foi 
fácil achar o local, se conseguiu estacionar, como está o clima na rua ou outras questões 
impessoais, mas nunca indague sobre a queixa. Os assuntos referentes à problemática do 
indivíduo devem ser sempre abordados dentro do consultório, que é o local apropriado 
para isso, e porque você quer que toda a sua atenção esteja voltada às respostas, 
procurando preservar a confidencialidade das informações. 
Ouça-o! Esteja presente de corpo e mente. Prepare-se bem para esse momento e 
tenha em mente as perguntas que precisa fazer, mas não esqueça de ouvir as respostas. 
Psicólogos iniciantes tendem a se preocupar demasiadamente com obrigações e regras. 
Isso prejudica a relação terapêutica, assunto que será abordado mais adiante (Meyer & 
Vermes, 2001). Nem todo psicólogo iniciante experimenta um nível de ansiedade capaz 
de interferir em sua atenção – o que é ótimo. Conseguir lidar tranquilamente com 
situações novas é muito bom. Contudo, tanto o excesso de ansiedade quanto o de 
autoconfiança são capazes de “ensurdecer” o profissional. 
Ao receber um indivíduo que fez muitas avaliações, consultou diversos profissionais 
e queixa-se que ninguém soube avaliá-lo ou ajudá-lo, não é raro que o psicólogo 
experimente uma sensação de desafio e pensamentos do tipo “Eu vou conseguir!”, 
“Nenhum profissional se dedicou a ele como eu farei” ou, ainda, sofra uma intensa 
ansiedade e tenha pensamentos como “Se eu não conseguir, serei um fracasso”, “Eu não 
sou bom o suficiente para isso”, “Se eu falhar, ele ficará ainda mais desapontado”. 
Embora os pensamentos sejam sobre o desempenho do próprio psicólogo, a questão a ser 
refletida se refere ao indivíduo. Ou seja, será que ninguém soube avaliá-lo de fato ou é 
ele que não aceita o que lhe foi dito ou a ajuda que lhe foi oferecida? Se, de acordo com 
ele, há tantos profissionais incompetentes, será que algum lhe parecerá capaz? O que ele 
realmente está buscando? Esses questionamentos feitos por parte do psicólogo trarão uma 
visão mais clara do caso. 
Um exemplo desse tipo de situação é quandoos pais não aceitam determinado 
diagnóstico dado ao filho, ou não concordam que a dinâmica familiar ou que as práticas 
parentais utilizadas estão influenciando negativamente a criança. Quando você se deparar 
com situações semelhantes, reflita sobre a real necessidade de nova avaliação e se ela 
trará informações que ainda não foram investigadas (considere, também, a reaplicação de 
instrumentos psicológicos). Talvez o mais indicado seja uma orientação aos pais em vez 
de submeter novamente a criança a uma fatigante avaliação, fortalecendo, assim, o 
pensamento de que ela tem um problema tão grave que ninguém será capaz de ajudá-la. 
Marcar e receber o indivíduo na primeira sessão após o contato telefônico não -
significa que a avaliação será realizada. Você considerará pelo menos três pontos: o 
esclarecimento da demanda; a real necessidade da avaliação; e sua competência para 
realizá-la. Para o primeiro ponto, tenha em mente que “. . . o avaliador pode se encontrar 
com o avaliando ou com outras pessoas antes da avaliação formal a fim de esclarecer 
aspectos da razão para o encaminhamento” (Cohen, Swerdlik, & Sturman, 2014, p. 4). 
Para o segundo ponto, entenda que existem demandas que podem ser encaminhadas 
diretamente para a psicoterapia, por exemplo. Sobre o terceiro, é fundamental lembrarmos 
do Código de Ética Profissional do Psicólogo (Conselho Federal de Psicologia 
[CFP], 2005), que aponta que o psicólogo deve “. . . assumir responsabilidades 
profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e 
tecnicamente”. Claro que o psicólogo iniciante tem uma competência ainda limitada, mas 
ele estudará e fará supervisão. Outro aspecto que pode ser abordado aqui é quando 
determinada demanda não faz parte do seu campo de atuação. Restringir seu repertório 
de trabalho é uma escolha. 
Certa vez, um pai me ligou porque buscava um psicodiagnóstico para a filha de 4 
anos. Por telefone, não entendi exatamente o que ele queria e marquei uma consulta de 
esclarecimento. A pergunta que ele queria responder era: “Ela terá esquizofrenia no 
futuro?”. Havia história familiar positiva para o transtorno, e ele estava muito preocupado. 
Eu o ouvi atentamente, entendi o que queria, mas informei que não conseguiria dar essa 
resposta. Informei saber que esse tipo de avaliação existia em outros países, mas que eu 
não tinha formação adequada para essa prática e não conhecia nenhum profissional 
geograficamente próximo que a fizesse. Esclareci que minha avaliação apresentaria o 
estado emocional e/ou cognitivo atual da menina, mas que, por seu relato, eu não percebia 
necessidade para isso (ela também estava em psicoterapia). De qualquer forma, orientei-
o a respeito dos fatores de proteção, do ambiente saudável e do manejo parental. Não 
seria apropriado realizar uma avaliação sobre como ela estava naquele momento, sabendo 
que a expectativa do pai era outra. 
O contrato 
Passado o momento da recepção do indivíduo e do entendimento da demanda, é de 
extrema importância esclarecer o que é um psicodiagnóstico, visto que a imensa maioria 
das pessoas que procuram esse serviço não sabe bem como funciona esse processo e quais 
são seus direitos. Mantê-las sem esse conhecimento reforça ideias irreais, idealizadas ou 
preconceituosas sobre o processo. Essa explicação já introduz o contrato. 
Para versar sobre o contrato, vamos retomar o Código de Ética Profissional do 
Psicólogo (CFP, 2005) como princípio fundamental: “. . . o psicólogo contribuirá para 
promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da 
ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão” e tem como 
responsabilidade “. . . Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos, 
informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo profissional”. 
Tendo isso em mente, começo explicitando que o psicodiagnóstico é um processo 
avaliativo e informo ao avaliando, ou aos seus responsáveis, que: 
 Trata-se de um processo de investigação, cujo objetivo é responder à pergunta do 
encaminhamento 
 Não inclui o tratamento 
 Há benefícios para o caso em questão (reconhecer as dificuldades para adequar o mane-
jo parental e/ou escolar; reconhecer as potencialidades para planejar reabilitações e 
fortalecê-las; identificar o diagnóstico para escolher o melhor tratamento; entre tantos 
outros) 
 As indicações terapêuticas serão dadas ao final do processo 
 O processo possui uma estimativa de duração (devendo-se explicitar o número de 
sessões e o tempo de cada uma) 
 Com o conhecimento do paciente, entrarei em contato com quem eu julgar necessário, 
como, por exemplo, familiares, instituições, médicos e outros profissionais que o 
atendam – tal contato pode ser telefônico ou presencial 
 De acordo com o tipo de resposta fornecida pela avaliação e com suas limitações, pode-
se estabelecer alguns prognósticos ou causas explicativas de alguns problemas 
 Durante o processo, o paciente tem direito a documentos (declaração) que justifiquem 
faltas ao trabalho, caso seja necessário 
 Farei uma ou mais entrevistas devolutivas ao final do processo, juntamente com duas 
cópias do laudo, sendo uma para ele e outra para o profissional da saúde que o 
encaminhou 
 No caso de encaminhamento de escolas ou instituições que não são da área da saúde, 
providenciarei um atestado. Explicarei, resumidamente, a diferença entre esses 
documentos (os documentos serão abordados no Cap. 14). 
Esclareça sobre o sigilo. Quanto mais o paciente parecer desconfortável com a -
situação de avaliação, mais interessante será conversar sobre quais informações serão 
repassadas e quem terá acesso a elas. Adolescentes, por exemplo, tendem a ser mais 
desconfiados, pois costumam classificar o psicólogo como um agente dos pais. A questão 
prioritária desse aspecto é esclarecer que, como se trata de uma avaliação, você escreverá 
sobre o paciente e provavelmente falará com o profissional que o encaminhou (e/ou 
responsáveis), mas sempre com o cuidado de comunicar apenas o necessário para ajudá-
lo. Nunca garanta guardar todos os segredos do paciente. O trabalho do avaliador é 
responder a alguma pergunta feita e permitir que o paciente receba ajuda profissional 
sempre que necessário. 
O Código de Ética Profissional (CFP, 2005) aponta que, no contato com 
profissionais não psicólogos, deverão ser compartilhadas “somente informações 
relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das 
comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo”. 
Entre outras orientações, o International Test Comission (ITC, 2003) sugere que se 
explique aos interessados os níveis de confidencialidade antes de iniciar a avaliação e que 
se solicite as autorizações antes da divulgação dos resultados. É sempre difícil dar 
orientações genéricas sobre o sigilo, pois dependerá da demanda de cada caso. Assim, 
recomenda-se a discussão em supervisão ou com algum colega mais experiente. Além do 
conteúdo relatado pelo paciente, também há o material decorrente da avaliação, como 
testes e protocolos de registro que deverão ser armazenados conforme a Resolução nº 
001/2009 do CFP (2009). 
Informe ao paciente que vias de contato ele pode usar com você para, por exemplo, 
desmarcar o atendimento. Pode ser telefone, e-mail, aplicativos como o WhatsApp, redes 
sociais, entre outros. A cada dia, há mais alternativas de contato. No entanto, o que é 
comum e prático para algumas pessoas, pode não ser confortável para outras. Lembre-se 
que você deve estar atento aos canais de comunicação que disponibilizar e tenha grande 
cuidado com falhas na comunicação, comuns emmeios eletrônicos. O mais seguro 
continua sendo a ligação telefônica. Destaco que não me refiro ao atendimento on-
line (informações sobre essa prática devem ser consultadas e adquiridas com o CFP). 
Explique, também, que você anotará informações durante a avaliação. Nunca tive 
pacientes que se opuseram a essa prática, mas é importante deixar o paciente à vontade. 
Eu costumo dizer que não posso confiar na minha memória, que as anotações facilitam a 
redação posterior do laudo e que ele poderá olhá-las caso sinta-se desconfortável. 
Cuidados extras devem ser tomados com anotações oriundas de aplicações de 
instrumentos projetivos. 
Estabeleça algumas normas sobre faltas e atrasos e comunique-as ao paciente. 
Serviços-escola e clínicas costumam ter regras, como o desligamento do paciente após 2 
ou 3 faltas sem aviso prévio; tanto o atraso quanto a falta podem implicar custo extra para 
o paciente, além de estender por mais tempo o processo de avaliação. 
Tenha um cadastro de seus pacientes, com informações como nome completo, 
endereço, escolaridade, profissão, contatos telefônicos e e-mail. Você mesmo pode 
preencher esse cadastro ou entregá-lo para que o paciente o faça enquanto espera a sessão. 
Pode-se, ainda, acrescentar dados de saúde geral e de tratamentos ou avaliações 
anteriores, assim como o controle dos honorários. Existem softwares de gestão que 
podem ser utilizados, ou pode-se, ainda, manter um arquivo físico; acima de tudo, é 
importante que as informações sejam mantidas em local seguro e que sejam feitas cópias 
de segurança (backup) a fim de não perdê-las. 
Psicólogos, assim como muitos outros profissionais da saúde, são carentes de 
conhecimentos de gestão, em especial gestão financeira. Para que as finanças também 
sejam saudáveis, é preciso tratar o consultório como uma empresa. Os temas “dinheiro”, 
“valor” e “preço” são pouco discutidos durante a formação do psicólogo, gerando falta 
de preparo para essa atividade. Muitos alunos e colegas queixam-se de não saber cobrar 
e de ficar constrangidos ao fazê-lo, mas essa é uma prática necessária e será abordada 
com mais detalhes neste capítulo. 
Um dos motivos que vejo para termos tantas dificuldades para cobrar, além da falta 
de treinamento na graduação, é que não sabemos bem qual é o nosso produto. O que nós 
vendemos? Você já pensou nisso? Eu acredito que vendemos nosso conhecimento em 
saúde. Mas como estabelecer um valor para isso? 
Há muitos itens a serem considerados no preço a ser cobrado que são mais concretos 
do que o conhecimento. Segundo o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 
(SEBRAE, 2015?), 
Calcular corretamente os preços é essencial para a saúde financeira dos 
negócios. O preço é quanto o seu produto ou serviço vale para o consumidor. 
Para o seu negócio, o preço ideal de venda é aquele que cobre os custos do 
produto ou serviço e ainda proporciona o lucro desejado pela empresa. 
No preço, você precisa considerar os custos com: aluguel da sala, luz, condomínio, 
limpeza, telefone, internet, anuidade do Conselho Regional de Psicologia, anuidade do 
Sindicato dos Psicólogos (opcional), assessoria contábil e impostos (imposto predial 
territorial urbano, imposto sobre serviços de qualquer natureza, imposto de renda). Além 
disso, há os custos de materiais como testes e brinquedos, que serão usados com diversos 
pacientes, e os que irão variar de acordo com o caso avaliado: contato com instituições 
ou profissionais (telefone, gasolina, tempo); horas de supervisão; aquisição de protocolos 
de registro de respostas; horas trabalhadas no levantamento, correção e interpretação dos 
testes; horas trabalhadas na redação dos documentos e entrevistas devolutivas. Além de 
tudo isso, há o nosso conhecimento técnico a ser empregado durante o processo. 
A inadimplência é um problema muito comum em nossa profissão e de difícil 
solução. A possibilidade de não receber pelo trabalho feito também deve ser considerada 
tanto no valor quanto na forma de pagamento/recebimento. Defina os prazos de 
pagamento de forma que ele seja feito antes do fim do psicodiagnóstico. Alguns 
psicólogos trabalham com contratos por escrito. É uma prática interessante, que pode ser 
adotada com o suporte de um advogado. 
O profissional escolhe a forma como cobrará pelo serviço. Assim, você pode dar o 
valor da avaliação completa, com uma estimativa de tempo do processo, ou cobrar por 
sessão. Na segunda opção, é importante que se tenha maior precisão sobre quantas sessões 
serão necessárias para que o paciente possa se organizar financeiramente. Deve-se ter 
clareza de que, em qualquer das alternativas, o tempo da sessão propriamente dita é 
somente uma parte de tudo o que deve compor o preço. 
É comum as pessoas perguntarem o preço do psicodiagnóstico ao telefone, na 
primeira ligação. Pode ser difícil dar um valor preciso sem conhecer bem a demanda, mas 
você poderá informar um preço médio, dizer que precisará de mais informações sobre a 
demanda e/ou marcar uma sessão para esclarecimento da demanda e estipulação do valor. 
Para finalizar, considero de extrema importância apontar alguns aspectos éticos en-
volvidos na cobrança dos honorários. Nossa profissão tem algumas diferenças em relação 
ao restante do mercado. Não podemos fazer promoções, nem reproduções não autorizadas 
dos testes. Tampouco podemos desqualificar o processo a fim de reduzir o valor 
financeiro do psicodiagnóstico. O trabalho deve ser sempre competente, coerente e 
confiável, assim como assegura nosso Código de Ética Profissional (CFP, 2005): 
Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo: a) Levará em conta a 
justa retribuição aos serviços prestados e as condições do usuário ou 
beneficiário; b) Estipulará o valor de acordo com as características da atividade 
e o comunicará ao usuário ou beneficiário antes do início do trabalho a ser 
realizado; c) Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos 
independentemente do valor acordado. 
RELAÇÃO PSICÓLOGO-PACIENTE NO PSICODIAGNÓSTICO 
A relação terapêutica auxilia na cooperação do paciente durante o processo avaliativo e 
na sua disposição em buscar tratamento (quando for o caso) após a avaliação. A 
demonstração de empatia e a construção de uma relação de confiança também facilitarão 
a devolução dos resultados. Embora este capítulo não aborde a etapa de devolução, 
sabemos que, com certa frequência, o esforço conjunto entre psicólogo e paciente culmina 
em resultados que podem ser inesperados ou bastante ansiogênicos para o avaliado. Para 
o momento da comunicação desses resultados, a empatia é ainda mais crucial. 
Empatia e relação terapêutica 
A empatia é uma habilidade que inclui aspectos cognitivos, afetivos (Davis, 1980; 
Schreiter, Pijnenborg, & Rot, 2013) e comportamentais (Falcone et al., 2008; Irving & 
Dickson, 2004; Larson & Yao, 2005). Existem diversos processos sociocognitivos 
relacionados a ela, entre eles, o contágio emocional, que é um estado emocional 
autodirigido que pode constituir uma primeira etapa do processo empático, mas não é 
suficiente para tal. Empatia é sentir o que o outro está sentindo, sem uma conscientização 
do outro. Trata-se de uma sincronia da emoção do observador com a emoção do 
observado. Além da emoção, é possível que o observador sincronize as expressões faciais, 
a voz, a postura e os movimentos (Gouveia, Guerra, Santos, Rivera, & Singelis, 2007). 
Imagine, por exemplo, que um amigo seu está relatando algo trágico ou algum sofrimento 
e você percebe-se fazendo a mesma cara de assolamento que ele. Entretanto, é a empatia 
que é dirigida ao outro. Ela supõe compaixão, vontade de ajudar (Schreiter et al., 2013), 
capacidade para inferir estados mentais (Jiménez-Cortés etal., 2012) e se colocar 
intelectualmente no lugar do outro, a fim de entender a sua visão e de utilizar essa 
compreensão para resolver possíveis problemas interpessoais, além de conhecer os 
sentimentos do outro por meio de sua expressão comportamental (Schreiter et al., 2013). 
Todos nós, seres humanos, experienciamos os processos citados anteriormente em 
diversos momentos da vida, exceto, claro, na presença de determinadas patologias que 
apresentam alterações na empatia e em habilidades relacionadas. Entretanto, no contexto 
profissional, a angústia pessoal não auxilia, e o contágio emocional só é interessante se 
desencadear o processo empático como um todo. Caso contrário, estarei sendo sensível 
aos sentimentos do paciente, mas sem garantir a empatia necessária para que ele confie 
no meu trabalho. Lembre-se que o paciente deve confiar no profissional que você é e não 
no amigo que você poderia ser. 
Espera-se, então, que o psicólogo seja capaz de escutar atentamente o relato do -
paciente e “escutar” seu comportamento não verbal, compreender a situação pelo ponto 
de vista do paciente, compreender seu estado emocional, conectar-se emocionalmente 
com ele, legitimar suas emoções e sentimentos e promover apoio. 
Thwaites e Bennett-Levy (2007) sugeriram que a empatia do psicólogo pode ser 
compreendida em quatro aspectos diferentes: um se refere à sintonia empática; o outro 
diz respeito à postura empática e terapêutica; um terceiro indica a habilidade 
comunicativa para com o paciente; e o último trata do conhecimento declarativo que o 
psicólogo tem sobre a empatia. Acredito que especialmente os dois últimos aspectos 
poderiam ser abordados nos cursos de graduação de Psicologia. Todos os psicólogos -
ouviram, em algum momento do curso, que devem ser empáticos, mas poucos receberam 
ensinamentos sobre as definições de empatia e como demonstrá-la, apesar da existência 
de treinamentos efetivos de empatia (van Berkhout & Malouff, 2015, no prelo). 
Contudo, a experiência profissional não garante que o psicólogo seja empático 
(Schwartz & Flowers, 2009). Palhoco e Afonso (2011) investigaram a empatia de 
estudantes de Psicologia em diferentes etapas da formação e de terapeutas, tendo como 
hipótese a presença de uma diferença significativa entre os grupos que pudesse sugerir 
um aumento da capacidade empática em consonância com o aumento da experiência. Os 
resultados refutaram a hipótese. Foram verificados diferentes escores de empatia nos 
grupos, mas sem uma perspectiva de desenvolvimento gradual. Com isso, é possível 
adotar tanto uma perspectiva de que (a) experiências pessoais sejam mais importantes 
para o desenvolvimento dessa habilidade do que a formação em Psicologia; quanto uma 
visão de que (b) as grades curriculares das graduações em Psicologia não contemplam o 
treino de tais habilidades, e os alunos geralmente vão para estágios de clínica sem um 
preparo específico. 
Quanto à perspectiva dos pacientes, o profissional (médico) é visto como empático 
quando eles se sentem aceitos e compreendidos. Para isso, pressupõem-se duas vias: a 
cognitiva, que envolve a apreensão precisa do ponto de vista do paciente e a habilidade 
de comunicar isso; e a afetiva, que abarca a capacidade do profissional de proporcionar 
uma melhora emocional ao paciente (Kim, Kaplowitz, & Johnston, 2004). Nesse sentido, 
sua aceitação e sua compreensão não serão suficientes caso o paciente não as reconheça. 
Uma queixa frequente dos pacientes em psicoterapia é que seus terapeutas não se 
preocupam com eles. A questão que emerge disso é: será que os psicólogos expressam 
empatia da forma que acreditam estar expressando? Ou ainda: será que os psicólogos 
conseguem perceber como o paciente percebe essa expressão de empatia? (Schwartz & 
Flowers, 2009). Para melhorar essa conexão entre a dupla psicólogo-paciente, Schwartz 
e Flowers (2009) sugerem uma saudação calorosa, com contato olho no olho; o respeito 
a cada paciente; a observação dos próprios sentimentos em relação ao paciente; e 
questionamentos sobre a empatia sentida por ele e por seus problemas. Nesse sentido, a 
reflexão é sobre o que você sente, e não sobre como se expressa. Talvez você precise 
ouvir mais sobre os sentimentos do paciente e fazer o exercício de imaginar-se no lugar 
dele para, então, conseguir conectar-se (Schwartz & Flowers, 2009). 
Outra dificuldade comum que Schwartz e Flowers apontam é a crença de que, para 
sentir empatia, é necessário gostar do indivíduo. Eles citam um trecho de Carl Rogers 
(1955 apud Schwartz & Flowers, 2009) que considero tão relevante e imprescindível que 
vou citá-lo aqui: “O olhar positivo incondicional envolve a aceitação em relação à 
expressão do paciente de sentimentos negativos, ‘ruins’, dolorosos, temores, defensivos, 
anormais, da mesma forma que envolve a aceitação da expressão de seus sentimentos 
‘bons’, positivos, maduros, confiantes, sociais”. Assim, indivíduos com problemas de 
comportamento agressivo, por exemplo, costumam gerar desconforto, repulsa e uma 
postura de julgamento no psicólogo e, portanto, maior dificuldade em sentir empatia. A 
ideia é que você não precisa aceitar seus comportamentos “errados” para ser capaz de 
olhá-lo com o interesse e a preocupação necessários para ouvi-lo. 
Embora os autores se refiram ao processo psicoterápico, a empatia e a aceitação não 
são diferentes no psicodiagnóstico, mesmo que ele tenha duração menor ou não seja 
interventivo. A conexão com o paciente tem de existir para que se possa entender o que 
acontece com ele. O estudo de Larson e Yao (2005) permite uma reflexão muito 
interessante sobre a empatia na prática médica. Entre outros aspectos, os autores apontam 
que o construto em questão facilita a coleta de informações, auxiliando em um 
diagnóstico mais preciso, e tem um importante papel na eficácia dos tratamentos. 
A empatia é necessária para a relação terapêutica, mas não é o fim em si. Enquanto 
a empatia permeia qualquer relação humana, a relação é 
. . . uma interação de mútua influência entre terapeuta e cliente. Nela, a pessoa 
que buscou ajuda é privilegiada pelo trabalho de um profissional capacitado a 
utilizar técnicas e procedimentos específicos, ao mesmo tempo em que lança 
mão de habilidades sociais importantes, como a empatia. (Meyer & Vermes, 
2001, p. 101). 
Comumente, os pacientes sentem-se envergonhados ou desconfortáveis ao ter de 
falar sobre sentimentos, pensamentos e/ou comportamentos entendidos como 
inadequados por seu meio social. É possível que já tenham sido criticados ou 
ridicularizados pela família, por amigos e por colegas. A capacidade do psicólogo para 
demonstrar sua empatia, para valorizar a expressão desses temores (Thwaites & Bennett-
Levy, 2007) e para apresentar respeito, interesse e compreensão é essencial para que o 
paciente se sinta acolhido e atendido (Araújo & Shinohara, 2002), fortalecendo, assim, o 
vínculo. Uma relação terapêutica satisfatória é importante tanto para o paciente quanto 
para a saúde do profissional, pois melhora sua satisfação com o trabalho (Larson & Yao, 
2005). 
Características do psicólogo e do paciente 
Quanto às características do psicólogo, um estudo demonstrou que as habilidades para 
transmitir segurança, cuidado, compaixão e empatia foram positivamente associadas à 
relação terapêutica, assim como a percepção de profissionalismo e qualificação. Além 
disso, pacientes que perceberam seus psicólogos como tendo aceitação, compreensão, 
compromisso, compaixão, habilidades empáticas e interpessoais, além de motivos para 
agir em prol do melhor interesse dos pacientes, estiveram mais comprometidos com seus 
tratamentos (Holdsworth, Bowen, Brown, & Howat, 2014). Outra revisão da literaturaindicou os atributos pessoais do psicólogo que contribuíram positivamente para a relação. 
São eles: flexibilidade, experiência, honestidade, respeito, ser confiável, confiante, 
interessado, atento, amigável, caloroso e aberto (Ackerman & Hilsenroth, 2003). A lista 
pode ser ainda maior se incluirmos as habilidades de aceitação, a ausência de julgamentos, 
a genuinidade e a autoconfiança (Meyer & Vermes, 2001). 
Entretanto, não podemos esquecer que, antes de sermos psicólogos, somos humanos 
e precisamos de acompanhamento profissional, estudo e treinamento para perceber 
nossos próprios sentimentos e pensamentos a respeito dos pacientes. Parafraseando 
Thwaites e Bennett-Levy (2007), diferentemente do aprendizado de técnicas avaliativas 
ou terapêuticas, o desenvolvimento de habilidades empáticas não pode separar-se da 
“pessoa do psicólogo”. Trata-se de um amadurecimento pessoal, além de profissional. 
A atenção aos próprios sentimentos é essencial para o trabalho do psicólogo. 
Perceber a reação emocional que o paciente causa em nós é necessário, mas ela só pode 
ser entendida como “causada” pelo paciente se o profissional for muito bem treinado para 
reconhecer seus próprios medos, dificuldades e crenças pessoais. Inevitavelmente, os 
relatos dos pacientes tocam em nossas feridas, despertam lembranças, ativam sofrimentos 
e tornam-se gatilhos para certos pensamentos. Isso ocorre em maior ou menor grau porque 
somos humanos. Entretanto, o que deve ser evitado é a não diferenciação entre a história 
pessoal do psicólogo e as necessidades do paciente. 
Um estudo demonstrou diferenças nos estilos de psicólogos que realizaram 
psicoterapia pessoal em comparação àqueles que não tiveram essa experiência. Apoiados 
também em outras pesquisas, Couto, Farate, Torres, Ramos e Fleming (2013) sugeriram 
que profissionais sem essa vivência apresentavam maior retenção do paciente em 
tratamento. Desse modo, o psicólogo deve “. . . ter a habilidade para reconhecer, rotular, 
compreender e expressar suas emoções. Em vez de não ter sentimentos, ou de ser um 
perito na repressão” (Beck, Freeman, & Davis, 2005, p. 105). Tendo essa percepção, o 
psicólogo deve manter-se atento para que aspectos pessoais não interfiram negativamente 
no trabalho com o paciente. O autoconhecimento do psicólogo não é importante apenas 
para aqueles que trabalham com psicoterapia, é fundamental também no contexto do 
psicodiagnóstico. 
Como a relação terapêutica é estabelecida entre duas pessoas, ela não depende 
apenas dos aspectos do psicólogo. Características pessoais do paciente, assim como sua 
patologia (quando houver), a influenciarão. Além disso, a relação que se coloca entre a 
dupla psicólogo-paciente também é uma fonte de ricas informações para o 
psicodiagnóstico. Por meio dela, é possível observar os padrões comportamentais que o 
paciente manifesta e que, provavelmente, desencadeiam grandes prejuízos inter-
relacionais fora do consultório (Ventura, 2001). Quanto maior for a relação entre as 
dificuldades interpessoais do paciente e a demanda da avaliação, maior será a exploração 
disso por parte do psicólogo. 
Pacientes com transtorno da personalidade (que pode ou não ser o motivo do 
encaminhamento) terão maiores problemas no estabelecimento da relação, visto que a 
dificuldade central desse grupo é justamente a relação interpessoal. Indivíduos com traços 
de transtorno da personalidade borderline, por exemplo, têm grande dificuldade para 
estabelecer relações de confiança devido ao medo de serem abandonados. Esses 
obstáculos serão observados pelo psicólogo em uma relação conturbada (para mais 
informações, consultar as publicações de Marsha Linehan). O cuidado especial aqui é 
que, embora você queira investir no estabelecimento da confiança, o tempo limitado e 
curto do psicodiagnóstico poderá servir ao paciente como mais uma experiência de 
abandono. Pacientes hostis, arrogantes, raivosos, que gritam com o psicólogo com 
frequência geram raiva no profissional. Nessas situações, o ideal é manter uma postura 
empática, não agressiva e não defensiva, demonstrar firmeza e estabelecer limites 
(Ventura, 2001). 
Situações corriqueiras são as de pacientes com preconceitos relacionados a 
precisar/consultar um psicólogo. Nesses casos, é imprescindível permitir a expressão 
desse desconforto, esclarecer dúvidas e manter uma postura profissional, sem investir em 
uma disputa a favor da profissão. Outros indivíduos têm preconceito em relação à idade. 
Como a maioria dos psicólogos iniciantes é mais jovem do que os pacientes esperam, é 
inevitável deparar-se com essa situação. Acredito que problemas desse tipo dependem 
mais da tranquilidade do próprio profissional em aceitar o fato e desenvolver 
autoconfiança. 
Quando o psicólogo encontra um paciente com mais dificuldade para cooperar com 
o psicodiagnóstico, o primeiro deve pensar nos motivos que o segundo pode ter para isso. 
Uma revisão da literatura encontrou que ansiedade, evitação, desesperança, hostilidade, 
assunção de riscos ecomorbidades médicas são características relacionadas a baixo -
comprometimento do paciente para com a psicoterapia. Ou seja, muitos dos sintomas que 
os pacientes trazem para o atendimento ou para a avaliação são, justamente, fatores que 
dificultam o seu compromisso com a mudança (Holdsworth et al., 2014). Tratando-se do 
contexto do psicodiagnóstico, a questão é que, mesmo que não se esperem mudanças 
durante o processo avaliativo, o resultado do estudo nos sinaliza que tais características 
afetam a cooperação do paciente e perturbam o seu papel (que deve ser ativo) na busca 
de ajuda e no engajamento ao tratamento. Esses aspectos também precisam ser 
considerados nos encaminhamentos dados ao final do processo. 
Existem, ainda, outros fatores relacionados ao paciente que dificultarão a relação, 
como a falta de motivação, a falta de perspectiva ou de relevância do processo avaliativo, 
as expectativas inadequadas do processo (mesmo após as explicações do psicólogo) e as 
experiências negativas vividas com outros psicólogos e/ou psiquiatras. Beck e 
colaboradores (2005, p. 92) apontam alguns motivos para a não colaboração dos pacientes 
com a terapia que podem ser considerados também no contexto do psicodiagnóstico: “. . 
. desconfiança do terapeuta, expectativas irrealistas, vergonha pessoal, culpa 
externalizada e queixas contra outras pessoas (ou instituições), desvalorização de si 
mesmo ou de outros, medo de rejeição e fracasso”. 
A relação terapêutica no psicodiagnóstico 
A relação terapêutica é alvo de muitos estudos em psicoterapia. Os resultados a indicam 
como um dos principais preditores de melhora no tratamento em qualquer etapa do ciclo 
vital (Shirk, Karver, & Brown, 2011). Já no processo de psicodiagnóstico, ela é tão pouco 
explorada que gera dúvidas e conflitos. Não encontrei literatura ou diretrizes sobre as 
especificidades desse contexto. Percebo que alguns psicólogos tendem a ser mais 
distantes, por entenderem que é um processo muito curto para se estabelecer um vínculo. 
Outros não percebem os limites do contexto e estimulam uma proximidade maior do que 
a necessária. Considerando-se essa carência e tudo o que foi exposto neste capítulo, 
proponho algumas orientações sobre a relação terapêutica no psicodiagnóstico. 
Acredito que existam dois aspectos principais a serem abordados aqui. Um diz -
respeito ao objetivo da relação no psicodiagnóstico e o outro, ao seu limite. O objetivo 
é estabelecer um senso de colaboração e confiança. Esse trabalho em conjunto é 
essencial para a coleta de informações fidedignas e sinceras, de modo que o paciente 
possa se expor e confiar na devolução e nos encaminhamentos do psicólogo. Quando 
atender seupaciente em um processo psicodiagnóstico, tenha em mente que a relação a 
ser estabelecida não é apenas entre o paciente e você, mas sim entre o paciente e os 
psicólogos. Você fará muito bem a ele caso consiga demonstrar sua confiabilidade, mas 
será melhor ainda se ele aceitar que pode procurar um psicólogo em qualquer momento 
da vida para auxiliá-lo a enfrentar suas dificuldades. Não raro, somos o primeiro 
psicólogo na vida do paciente, e também não é raro que o encaminhamento inclua a 
psicoterapia. Desse modo, acredito que o psicólogo avaliador pode ter um importante 
papel na aderência do paciente aos tratamentos futuros. Outro objetivo possível é observar 
as características da vinculação do paciente como um dado para a análise da demanda, 
assunto já explorado neste capítulo. 
Por sua vez, o limite está entre o empenho e a observação do psicólogo para com a 
relação e as intervenções realizadas, sendo estas últimas o campo de atuação da 
psicoterapia (ver Cap. 15, sobre psicodiagnóstico interventivo). Durante o 
psicodiagnóstico, coletamos diversas informações sobre o paciente, mas nos mantemos 
focados na demanda/objetivo. Claro que queremos vê-lo melhorar e sentir-se bem, mas 
há um campo de atuação para cada etapa. Psicólogos que trabalham na clínica e depois 
iniciam atividades com avaliação psicológica podem ter mais dificuldade em não intervir. 
A questão do tempo também é importante. Em psicoterapia, a dupla constrói a -
confiança gradualmente; porém, no psicodiagnóstico, tudo ocorre de forma mais rápida, 
e precisamos ser capazes de estabelecer esse vínculo de forma mais imediata. Contudo, 
não é interessante que a ânsia do psicólogo em estabelecer confiança deixe o paciente 
desconfortável. A relação deve estar de acordo com o estilo do profissional, para que 
possa ser genuína e autêntica, caso contrário, o paciente perceberá um ambiente dúbio. 
Quando me refiro à presteza do profissional em demonstrar confiança, também -
considero as características do paciente. É preciso estar atento às diversas nuanças do 
comportamento verbal e não verbal dele e às suas próprias emoções. Tais observações, 
em conjunto com sua experiência (que será adquirida de forma gradual) e seu 
conhecimento técnico-científico, darão a você a habilidade de perceber o paciente. O 
“feeling clínico” não diz respeito à habilidade de intuir ou pressentir como o paciente é. 
Você deve conseguir percebê-lo porque estuda para isso e desenvolve essa habilidade. 
Não é uma mágica em que não é necessário qualquer esforço. O estabelecimento da 
confiança não depende apenas de disposição emocional, mas principalmente da 
competência do profissional e da capacidade do paciente em confiar. 
AGRADECIMENTO 
Agradeço ao discente de Psicologia Álvaro Zaneti e à psicóloga Beatriz Cattani pela 
leitura do manuscrito e sugestões. 
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