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Custeio da Seguridade Social na Constituição Federal

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Texto 04 = CUSTEIO DA SEGURIDADE SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 – ANÁLISE DO ARTIGO 195.
Professor Furlanetto – Direito Previdenciário
(01) 	O que são contribuições sociais?
A contribuição social tem natureza jurídica de tributo. Isto porque está prevista no art. 149 CF, e tal dispositivo diz que todas as contribuições devem observar o art. 146, III, ou seja, as normas gerais em matéria tributária – a natureza jurídica de um instituto é aferida de acordo com o regime jurídico a que é submetida.
(02) 	Que espécie de tributo seria a contribuição?
O art. 5° do CTN diz categoricamente que tributos são impostos, taxas e contribuições de melhoria. Os tribunais superiores, contudo, dizem que a CF 88 alargou esse rol, inserindo as contribuições especiais ou parafiscais e os empréstimos compulsórios. Na doutrina há posições em contrário, seguindo a tríade clássica, a divisão em 04 espécies (Ricardo Lobo Torres defende a teoria quadripartite), ou até mesmo a divisão em 02 espécies somente (Alfredo Augusto Becker defende que só são tributos os impostos e as taxas).
(03) 	Parafiscalidade e Extrafiscalidade:
Parafiscalidade não se confunde com extrafiscalidade. O imposto de importação é extrafiscal, pois sua função precípua não é arrecadar, mas regular o comércio internacional, estimulando ou desestimulando a importação de algum produto. Já a parafiscalidade foi criada para a manutenção das atividades paraestatais do governo. A atividade paraestatal surge com a evolução do Estado Liberal para o Estado Social. Na concepção do Estado Liberal clássico do séc. XIX, a função do Estado era de abstenção, de não intervenção na esfera privada, preservando as “regras do jogo”. O Estado Social assume funções que não eram típicas atividades estatais na concepção liberal, mas sim paralelas a estas atividades típicas, como, por ex., a saúde. Para atuar nesses novos segmentos, as atividades paralelas, o Estado necessita de dinheiro, e quem arca com isso é a sociedade. 
Assim, a parafiscalidade é criada como instrumento de receita para a manutenção da paraestatalidade. Na França, na década de 50, o Estado passou a atuar nestes segmentos paralelos, e necessitava de recursos para tanto. Para que o povo francês aceitasse financiar este custo, foi preciso que se argumentasse que a contribuição não iria para o governo, mas para a saúde, e para tanto nem seria o governo diretamente que arrecadaria tais receitas “extra-orçamentárias”, e sim uma entidade criada por ele especificamente para isso. A entidade aplicaria este dinheiro diretamente na atividade para que foi criada, a saúde, e assim diminuiu-se a insatisfação popular. Por ter a parafiscalidade nascido com este caráter político de “escusa estatal” para estimular o financiamento por parte dos contribuintes, a doutrina clássica no Brasil (como Aliomar Baleeiro) não a vê com bons olhos.
A contribuição parafiscal é amarrada a uma destinação específica para que foi criada, afetando sua receita àquele determinado fim. O Brasil criou o Estado Social com a CF 88, inserindo a contribuição parafiscal. 
(04) 	Na parafiscalidade seria necessária a delegação da capacidade tributária ativa a um ente descentralizado? 
Não. Pode a própria União diretamente arrecadar tais contribuições, segundo o STF.
(05) 	A Contribuição Social transita pelo orçamento público? 
A lei orçamentária é uma só, mas prevê 03 orçamentos: o orçamento fiscal, o orçamento de investimentos das estatais e o orçamento da seguridade social. Portanto, a receita de contribuição parafiscal está sim no orçamento, sendo submetida a controle pelo Tribunal de Contas.
Hoje, no Brasil, sobrou daquela parafiscalidade original da França somente a finalidade específica que justifica sua cobrança e a conseqüente afetação da receita àquele fim. Mesmo assim, é um atributo que sobrou “em termos”, pois em matéria de contribuição social há a DRU (desvinculação de receitas da União), onde a União pode utilizar 20% das receitas da seguridade social onde quiser. Por isso muitos autores têm abandonado o termo parafiscalidade, chamando somente de contribuições sociais, até porque traz um preconceito liberal de que a seguridade social não seria função do Estado, o que é anacrônico, não se podendo hodiernamente, por ex., dizer que a saúde não é uma função estatal.
O art. 149 CF prevê as contribuições de intervenção no domínio econômico (CIDEs), as contribuições de interesse das categorias profissionais (Contribuições Corporativas), a contribuição de iluminação pública, e as contribuições sociais.
Na visão do STF as contribuições sociais podem se subdividir em 02 espécies: a) contribuição social para a seguridade social; e b) contribuição social geral.
A seguridade social inaugura na CF o título da ordem social. No entanto, não esgota tal título, não resume todas as ações do governo em prol da coletividade. A educação, por ex., não está inserida na seguridade social. A contribuição que as empresas pagam para o chamado salário educação, portanto, é uma contribuição social geral. A contribuição social geral é aferida por exclusão, ou seja, é criada tendo em vista uma finalidade social diversa da seguridade.
(06) 	As contribuições sociais para a seguridade estão previstas somente no art. 195 CF? 
Além das previstas no art. 195, há também as contribuições para o PIS (Programa de Integração Social) – PASEP (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público), previstas no art. 239 CF. O PIS-PASEP foi criado na década de 70, e nem tributo era; lembrava muito o fundo de garantia, pois era uma contribuição feita pelas empresas com o intuito de formar um patrimônio do trabalhador, que poderia ser pago a ele cumpridas certas condições. 
Na CF 88 o PIS-PASEP foi recepcionado, mas com natureza jurídica de contribuição social, cujas receitas irão principalmente para o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) visando financiar o seguro-desemprego, e também para o abono anual pago ao trabalhador que ganha até 2 salários mínimos. 
O PIS-PASEP é uma contribuição para a seguridade social, pois o art. 201 diz que o seguro-desemprego seria uma contribuição previdenciária. No entanto, o legislador, ao disciplinar a matéria, diz que o seguro-desemprego fica a cargo do Ministério do Trabalho (e na prática o seguro-desemprego é mesmo requerido no Ministério do Trabalho, e não no INSS). Assim, pela lei o PIS-PASEP seria uma contribuição social geral, já que o seguro-desemprego estaria fora da Previdência.
 
(07) 	Agora analisaremos detalhadamente o art. 195, que começa dizendo:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
A principal fonte de custeio da seguridade social é a receita obtida com as contribuições sociais, pagas pela sociedade (financiamento de forma direta). Se as contribuições sociais não forem suficientes para o pagamento da seguridade social, o déficit deve ser coberto pelo governo, com as receitas dos impostos, do orçamento fiscal, que são pagos pela sociedade (financiamento de forma indireta).
Segue o art. 195, enumerando as contribuições sociais, sempre havendo referência à EC 20/98. Esta foi a primeira grande reforma previdenciária no Brasil pós-88, que teve como intenção ampliar as possibilidades de cobrança de contribuições sociais.
(08) 	inciso I: Contribuição do empregador, da empresa e entidades equiparadas
Hoje o inciso I diz o seguinte:
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
c) o lucro;
Na redação original, o inciso I só falava em contribuição do empregador. Agora fala em contribuiçãode empregador, empresa ou entidade equiparada a empresa, na forma da lei, alargando consideravelmente a sujeição passiva da contribuição social. Isto porque antes de 98 muitas sociedades conseguiam escapar da tributação alegando não ter empregados; não sendo empregador, não se podia cobrar a contribuição.
O art. 15 da lei 8.212/90 traz o conceito de empresa para o Direito Previdenciário:
Art. 15. Considera-se:
I - empresa - a firma individual ou sociedade que assume o risco de atividade econômica urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, bem como os órgãos e entidades da administração pública direta, indireta e fundacional;
II - empregador doméstico - a pessoa ou família que admite a seu serviço, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico.
Parágrafo único. Equipara-se a empresa, para os efeitos desta Lei, o contribuinte individual em relação a segurado que lhe presta serviço, bem como a cooperativa, a associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, a missão diplomática e a repartição consular de carreira estrangeiras.
No Direito Empresarial o titular de direitos e obrigações é a sociedade empresária, e não a empresa. A empresa é a atividade econômica, é o objeto do direito; o sujeito do direito, com personalidade jurídica, é a sociedade. O Direito Previdenciário utiliza uma terminologia mais vulgar, até porque a Constituição também o faz. O mais relevante, no entanto, não é este aspecto puramente formal, e sim a amplitude conceitual, o alargamento do conceito de empresa para fins propriamente previdenciários. Para o Direito Previdenciário até mesmo uma pessoa física pode ser equiparada a empresa (ex: pessoa física contrata ajudante para trabalhar de modo eventual – é equiparada a empresa). Entidades sem fins lucrativos são, para fins previdenciários, equiparadas a empresa (ex: sindicato, fundação, cooperativa). Todos estes terão que contribuir.
No sistema previdenciário, particularmente na previdência, o beneficiário direto é o trabalhador, mas a empresa também se beneficia (ex: quando o trabalhador fica doente, o empregador não paga o seu salário, mas sim o INSS). Desta feita, a entidade sem fins lucrativos que contrata mão-de-obra remunerada deve auxiliar no custeio dos benefícios que serão pagos a seus trabalhadores – é uma espécie de “patrocínio compulsório” imposto pela Constituição. Não é uma característica brasileira, sendo assim em todo o mundo – o que facilitou a criação do sistema previdenciário na Alemanha do séc. XIX (sistema ‘bismarckiano’, que exige a contribuição individual para que o sujeito possa auferir o benefício).
Uma pessoa física pode se equiparar a empresa mesmo contratando um trabalhador sem vínculo empregatício, mas essa contratação deve ser feita no exercício de alguma atividade. 
(09) 	alínea a: Contribuição sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício
Este é outro dispositivo alterado pela EC 20/98. A redação original falava tão somente em contribuição do empregador sobre a folha de salários. Para entender esta alteração, devemos fazer um parêntese para tratar da evolução histórica desta matéria.
Para cobrar o tributo, é necessário que se institua a contribuição por lei. A lei 7.787/89 e a lei 8212/90 instituíram a contribuição do empregador sobre a folha. Logo após a instituição da contribuição por essas leis algumas empresas se insurgiram contra tais diplomas, alegando sua inconstitucionalidade sob o fundamento de que não poderiam ser editadas sem que antes houvesse uma lei complementar definindo normas gerais sobre fato gerador, base de cálculo e contribuintes. Direito Tributário é matéria de competência legislativa concorrente, e, portanto, é a União que estabelece normas gerais, devendo fazê-lo por lei complementar. O CTN, no entanto, não define normas gerais sobre o fato gerador, a base de cálculo e os contribuintes da contribuição sobre a folha de salários.
O STF decidiu esta questão se valendo do art. 146, III, a, da CF, que diz que “Cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes”. O STF entendeu, então, que a lei complementar só seria necessária para os impostos, podendo a contribuição social já prevista na CF ser instituída por lei ordinária sem a existência anterior de LC estabelecendo normas gerais (para a criação de contribuição social não prevista na CF, contudo, é preciso LC, 
Há, ainda, outro problema. As leis 7.787/89 e 8212/90 previam a contribuição da empresa sobre os valores pagos a pessoas físicas com ou sem vínculo empregatício. À época a CF só falava em “folha de salários”, e em uma visão tradicional, do conceito do Direito do Trabalho, estrito, só o empregado recebe salário. O STF adotou esta visão, de que o salário é um termo técnico que retrata os valores pagos ao trabalhador subordinado na forma do art. 3° da CLT. O Supremo entendeu que as 02 leis extrapolaram a competência constitucional, declarando a inconstitucionalidade parcial com redução de texto de ambas, mais especificamente declarando inconstitucional o que ia além da folha de salários. A EC 20/98 veio alargar o conceito, prevendo agora expressamente que a contribuição deve ser paga mesmo que não haja vínculo empregatício.
(10) 	alínea b: Contribuição sobre a receita ou o faturamento – COFINS
É outro dispositivo alterado pela EC 20/98, pois em sua redação original falava somente em contribuição sobre o faturamento. 
(11) 	Qual a diferença entre faturamento e lucro? 
Faturamento é todo o dinheiro arrecadado com a atividade. Lucro é o que sobra do faturamento após pagas as despesas da atividade.
A receita bruta é um conceito ainda mais amplo que o faturamento; compreende o faturamento e os ganhos não operacionais, que são aqueles ganhos que não estão ligados ao objeto principal da empresa, como a receita de alienação de ativos, a receita de financeiros, etc. (ex: lucro de aplicação de dinheiro em ações da Petrobras; ex 2: terreno da empresa contabilizado com valor de 100 mil e vendido por 1 milhão – 900 mil são ganhos não operacionais).
A COFINS foi instituída pela LC 70/91, que vigora até hoje. Foi instituída por lei complementar, mas materialmente é lei ordinária, pois não havia reserva de LC para a matéria. Foi editada uma LC porque na época havia divergência se era matéria reservada ou não a lei complementar; só mais tarde é que o STF decidiu que não seria necessária a edição de LC. Por isso a LC 70/91 já foi várias vezes alterada por leis ordinárias.
A lei 9.718/98 alterou a LC 70/91 ampliando a base de incidência da COFINS sobre a receita bruta. Todavia, a lei 9.718/98 foi publicada algumas semanas antes da publicação da EC 20/98. Em razão disso, não havia embasamento constitucional quando da publicação da lei, não se admitindo a convalidação pela superveniência de emenda constitucional. A Procuradoria da Fazenda Nacional, no entanto, sustentava que a convalidação seria possível porque quando uma lei amplia a contribuição social isto não produz efeitos imediatos, mas só 90 dias depois; dentro desse período em que a lei não produzia efeitos sobreveio a EC 20/98, e por isso a teria convalidado. Este argumento da Fazenda foi rechaçado, pois a noventena atua no campo da eficácia, e o assunto deveria ser tratado nos planos da existência e da validade. A PFN trouxe também outro argumento, dizendo que no Direito brasileiro o faturamento é um conceito indeterminado, e por isso a lei poderia definir faturamento como sinônimo de receita bruta – foi outro argumento rechaçado pelo STF, que declarou a inconstitucionalidade parcial da lei 9.718/98 por ampliar a base da COFINS sem fundamento na CF.
Só em 2003 veio a lei 10.833 que novamente tocou nesta questão,majorando a base da COFINS para a receita bruta, mas só em algumas hipóteses. Portanto, o STF só admite a COFINS receita bruta nas hipóteses da lei 10.833/03, e não com base na lei 9.718/98. O STF decidiu isso em controle difuso de constitucionalidade, e por isso os prejudicados devem procurar o Judiciário para obter a tutela de seus direitos.
A LC 70/91 previa uma isenção de COFINS para prestadores de serviço, para empresas de profissão regulamentada (como, por ex., os escritórios de advocacia). Esta isenção foi revogada em 1996 pela lei 9.430, que a retirou da LC 70/91. Os escritórios de advocacia se insurgiram, alegando que a isenção era prevista em lei complementar e não poderia ser revogada por lei ordinária – por incrível que pareça, este argumento chegou a ser sumulado pelo STJ. O STF entendeu pela possibilidade de revogação da isenção da COFINS para prestadores de serviço com profissão regulamentada, já que a LC 70/91 é materialmente lei ordinária (a súmula do STJ foi cancelada).
Sobre o faturamento das empresas há outra contribuição que também incide, que é o PIS-PASEP. O PIS-PASEP em regra incide sobre o faturamento, embora possa incidir sobre a folha. Poderia haver duas contribuições sobre uma mesma base, o faturamento? Não é bitributação, que acontece quando dois sujeitos distintos cobram o mesmo tributo (ex: é o caso daquele que mora na rua limítrofe entre 02 municípios, e ambos cobram o IPTU). No caso do faturamento, é a União cobrando as duas contribuições. Seria um bis in idem tributário? O bis in idem não é inconstitucional, sendo possível uma nova tributação sobre uma mesma base desde que não chegue ao nível confiscatório. No caso particular que estamos analisando, o STF nem adentrou na questão do bis in idem, dizendo que quem instituiu esta tributação dupla sobre o faturamento foi o constituinte originário, e por isso seria completamente legítima.
(12) 	alínea c: Contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL)
Não foi alterada pela EC 20/98.
Sobre o lucro das empresas já incide outro tributo, o Imposto de Renda. O STF utilizou o mesmo argumento, de que foi instituição do constituinte originário, e ambos os tributos devem ser pagos.
E porque, então, a CSLL seria uma contribuição social e o IRPJ seria imposto? O art. 4° do CTN diz que a natureza jurídica do tributo é definida a partir de seu fato gerador, sendo irrelevantes a destinação e a denominação. O STF diz que, em razão do advento da CF 88, o art. 4° CTN não se aplica frente a contribuições sociais, pois o atributo que as qualifica é justamente a finalidade de sua instituição e a conseqüente afetação de sua receita a tais fins.
(13) 	inciso II – Contribuição do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201
A redação original falava somente em contribuição do trabalhador.
Atualmente, a primeira parte do inciso fala em trabalhador e demais segurados. Esses demais segurados que não são trabalhadores podem ser:
01 - aqueles que não exercem atividade remunerada, entrando por vontade própria no sistema (ex: dona-de-casa).
02 - os exercentes de mandato eletivo: em 1997 uma lei extinguiu o IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas) e encaminhou os exercentes de mandato eletivo (e os seus “empregadores”, ou seja, os entes federativos correlatos) para o Regime Geral, para o INSS. 
O STF analisou o caso de um Município que pedia a inconstitucionalidade da lei alegando que o Vereador não poderia ser equiparado ao trabalhador. O Supremo entendeu que o Vereador é um mandatário do povo, e realmente não se poderia enquadrá-lo como trabalhador; à época a o art. 195, II, CF só falava em contribuição do trabalhador, e, portanto, seria vedado incluí-lo no Regime Geral. O Município, assim, se eximiu de pagar a contribuição. Por causa disso a EC 20/98 alargou o conceito do inciso II, e uma nova lei de 2004 voltou a enquadrar os exercentes de mandato eletivo no RGPS.
A EC 20/98 também criou uma imunidade no art. 195, II: não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201. O aposentado e o pensionista do RGPS são imunes à tributação.
(14) 	Pode o aposentado pelo RGPS voltar a trabalhar? 
Em regra sim. Voltando a trabalhar ele volta a contribuir. No entanto, mesmo que ele tenha voltado a contribuir devido ao seu novo trabalho, não poderá se aposentar novamente pelo RGPS, embora possa receber outros benefícios, como o salário-família, o salário maternidade e a reabilitação profissional (quando o sujeito fica incapaz para um trabalho e a Previdência o ensina outro ofício). Desta feita, se o sujeito sofrer no seu novo trabalho um acidente que o deixe incapaz, não receberá aposentadoria por invalidez, continuando somente a receber a aposentadoria que já estava gozando. Mesmo que tenha tão poucos benefícios, se exercer nova atividade ele deve pagar a contribuição por força do princípio da solidariedade.
(15) 	Desaposentação: 
É uma forma criada pela doutrina de beneficiar o contribuinte. Imagine-se um sujeito que após a aposentadoria continuou trabalhando e, por conseguinte, continuou contribuindo. Este indivíduo pode, posteriormente, renunciar ao benefício que vinha percebendo para utilizar todo o tempo de serviço, anterior e posterior à aposentadoria renunciada, de modo a postular um benefício em condições mais vantajosas. É a hipótese, também, daquele aposentado pelo INSS que vem a passar em um concurso; este trabalhador pode desaposentar no INSS para levar o seu tempo de serviço.
Esse inciso II do art. 195 estabelece imunidade de contribuição para aposentadorias e pensões concedidas pelo RGPS. O servidor inativo, que se submete ao RPPS, poderia ser tributado? Hoje sim, por força de EC 41/03, que alterou o art. 40 CF, admitindo expressamente a incidência da contribuição. Antes da EC 41/03, o STF estendia por analogia a imunidade do art. 195, II para o servidor inativo – hoje isso não é mais possível. Isto viola a isonomia? No RGPS nenhum inativo contribui, mas há um teto. O servidor público inativo só contribui sobre o que ultrapassa esse teto. 
Em outras palavras, o servidor inativo que percebe benefício até o teto não contribui. Se um servidor, no entanto, tiver um benefício de R$ 20 mil, deverá contribuir com base em R$ 16.761,01, com a mesma alíquota dos servidores ativos. Na visão atual do STF, esta tributação é constitucional, e um dos argumentos principais é o princípio da solidariedade, além do que não há direito adquirido a regime jurídico, nem direito adquirido a não ser tributado.
(16) 	inciso III:
O art. 195, III, CF fala da contribuição social sobre a receita de concursos de prognósticos. No concurso de prognósticos, o conhecimento técnico do participante sobre a matéria pode influenciar no resultado. Já no mero jogo, a álea é plena.
A regra geral, pela lei 8.212, é de que toda a receita líquida do concurso de prognósticos é destinada à seguridade social. Outras leis específicas podem prever destinações diversas (na Timemania, por ex., muito pouco vai para a Seguridade Social). 
Há quem diga que tecnicamente o art. 195, III, não é sequer uma contribuição social, pois a União não poderia cobrar dela mesma. É, em verdade, um repasse de receitas dentro do orçamento.
(17) 	→ Contribuição do importador (art. 195, IV, CF):
Art. 195, IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.
O fundamento que o governo utilizou para a cobrança desta contribuição é a de que o produto estrangeiro muitas vezes chega mais barato ao mercado interno do que o produto nacional. Isto ocorre porque sobre o faturamento do produtor nacional incidem a COFINS e o PIS. Não é muito comum nos países estrangeiros tributar o faturamento, pois este elemento não demonstra riqueza alguma – a empresa pode ter um faturamento alto e estarendividada.
Para evitar uma “concorrência desleal”, o governo entendeu por bem cobrar do importador aquilo que seria cobrado na origem a título de COFINS e PIS. Daí os nomes dados pelo legislador: COFINS importação e PIS importação. 
Contudo, deve-se lembrar que para a União é muito mais vantajoso instituir uma contribuição do que um imposto, pois, além de não ter que dividir com os demais entes, aplica-se a DRU, podendo 20% desta receita ser utilizada em qualquer área.
Há quem diga que isso é um Imposto de Importação disfarçado. Contudo, o bis in idem não é inconstitucional, desde que não tenha efeito confiscatório. Os Tribunais têm admitido.
(18) 	○ Contribuições Previdenciárias
Da análise do art. 195 CF, temos que as contribuições mais importantes para o nosso estudo, sobretudo quando ingressarmos na legislação infraconstitucional, são 02: a Contribuição da empresa Sobre a Folha de Salários (art. 195, I, a) e a Contribuição do trabalhador (art. 195, II). O art. 167, XI, CF diz que estas duas contribuições têm destinação privativa à manutenção de benefícios do RGPS. O montante obtido por meio destas contribuições só pode ser utilizado na manutenção de benefícios do RGPS.
Art. 167. São vedados:
XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201.
As Contribuições do art. 195 são destinadas à seguridade social: Assistência, Previdência e Saúde. Estas 02 Contribuições que ressaltamos, no entanto, são mais particulares ainda, já que suas receitas são destinadas apenas à Previdência, ao RGPS. Por isso são chamadas de Contribuições Previdenciárias.
(19) 	Estas 02 Contribuições também aparecem na competência da Justiça do Trabalho, no art. 114, VIII, CF. 
A Justiça do Trabalho é destinada a dirimir conflitos entre empregado e empregador. O reclamante normalmente postula verbas de natureza salarial, e sobre estas incidem as duas Contribuições Previdenciárias. No entanto, havia dificuldade de se cobrar estes tributos, tendo em vista o grande número de causas trabalhistas. A EC 20/98 resolveu esse problema alterando o art. 114, e impondo que o Juiz do Trabalho execute de ofício as Contribuições Previdenciárias devidas. Já há regulamentação na CLT sobre o assunto. Mesmo havendo acordo entre as partes, incide a contribuição, salvo quando a verba é totalmente indenizatória. A lei 8.212 diz que o acordo deve dizer expressamente se a verba é salarial ou indenizatória.
(20) 	→ Art. 195, § 1°
§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União.
Por exemplo, o que o Estado de Goiás gasta com saúde consta do seu próprio orçamento, e não do da União. Este parágrafo é bem óbvio.
(21) 	→ Art. 195, § 2°
§ 2º - A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos.
Participam da elaboração da proposta de orçamento da seguridade social, representantes da Saúde, da Previdência e da Assistência Social. Cuidado, pois é somente da proposta. Quem faz efetivamente o orçamento é o Legislativo, pois o orçamento é aprovado por lei.
(22) 	→ Art. 195, § 3°
§ 3º - A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
Este dispositivo fala em “Poder Público” num sentido abrangente, alcançando a Administração Pública direta e indireta. Embora a lei 8.666 diga que a regularidade fiscal deve ser provada junto à Fazenda específica, ainda assim os Municípios, Estados e DF devem exigir a prova de quitação das Contribuições Sociais, que são de competência da União, por meio de Certidões Negativas de Débito emitidas pela Receita Federal.
(23) 	→ Art. 195, § 4° - Contribuições Sociais Residuais
§ 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.
Trata da competência residual da União para criar novas Contribuições Sociais. Este dispositivo remete ao art. 154, I, CF, que trata da competência residual da União para criar novos impostos:
Art. 154. A União poderá instituir:
I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição;
O dispositivo traz 03 requisitos para a criação de impostos residuais: 1) lei complementar; 2) ineditismo de fato gerador e base de cálculo; e 3) não-cumulatividade. 
Nenhum imposto foi criado com base no art. 154, I, até hoje.
A doutrina majoritária sempre entendeu que para a criação de nova Contribuição Social, os requisitos seriam os mesmos três exigidos para os impostos residuais. Em 1996 a LC 84/96 criou uma ‘nova’ contribuição, a contribuição social de empresas sobre valores pagos a pessoas físicas sem vínculo empregatício. Esta contribuição, hoje, está descrita no art. 195, I, a, CF, mas a redação atual desta alínea só veio com a EC 20/98. A sua redação original só falava em contribuição do empregador “sobre a folha de salários” 
(24) 	→ Art. 195, § 5° - Princípio da Pré-existência do Custeio frente ao Benefício
§ 5º - Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.
Alguns autores chamam o princípio da pré-existência do custeio frente ao benefício de “regra da contrapartida”. Para criar, majorar ou estender um benefício ou serviço da seguridade social deve-se apontar antes qual a fonte de seu custeio. Cumpre observar que esta é uma via de mão dupla: não se pode ter benefício sem custeio, mas também não pode haver custeio sem benefício. O Poder Público não pode criar uma Contribuição Social sem esclarecer qual a sua destinação.
(25) 	→ Art. 195, § 6°
§ 6º - As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".
Em matéria tributária, a regra geral é que se lei institui ou majora tributo, essa nova cobrança só poderá ser exigida a partir do exercício subseqüente (art. 150, III, b) – este é o princípio da anterioridade tributária. As contribuições sociais não se submetem a esse princípio, por disposição do art. 195, § 6º, que, por outro lado, diz que só poderão ser exigidas após 90 dias da publicação da lei – a doutrina chama isso de “anterioridade mitigada”, ou de “anterioridade previdenciária”, ou ainda “anterioridade nonagesimal”. (Zambitte diz que a anterioridade nonagesimal não é espécie do princípio da anterioridade; por isso chama de “noventena” ou “nonagintídio”).
O dispositivo fala ainda da “lei que as houver instituído ou modificado”. A redução de Contribuição Social deveria respeitar a noventena? Não, pois a noventena visa respeitar o princípio da não-surpresa, que perde o objeto em se tratando de redução de tributo.
Medida Provisória pode majorar Contribuição Social, pois é lei em sentido material. A noventena começa a correr a partir da publicação da MP, não sendo necessário esperar a conversão em lei.
(26) 	→ Art. 195, § 7°
§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.
Esta não é uma isenção, mas sim uma imunidade. A imunidade atua no plano da norma de competência, restringindo a competência tributária.Paulo de Barros Carvalho chama a imunidade de “norma de incompetência tributária”. Já a isenção é concedida por lei, consistindo, em uma concepção clássica, em uma dispensa legal de pagamento de tributo devido.
Muito cuidado, pois a lei, ao regulamentar este art. 195, § 7º, fala reiteradamente em isenção. Se uma questão de concurso copiar exatamente o texto da lei, como o fazem na maioria das provas de Previdenciário, deve-se analisar o contexto da pergunta, e talvez a resposta aceite falar em isenção.
Os favorecidos pela imunidade são as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. O veículo legislativo adequado a prever tais requisitos seria lei ordinária ou lei complementar? Embora a constituição fale tão somente em “lei”, a maioria dos autores defende que este dispositivo deve ser conjugado com o art. 146, II, CF, que diz que “cabe à lei complementar regular as limitações constitucionais ao poder de tributar”. A imunidade é justamente uma limitação constitucional ao poder de tributar; portanto, a lei de que trata o § 7º seria lei complementar. O art. 14 CTN é que traz estes requisitos a serem exigidos das entidades beneficentes de assistência social nos seus incisos:
I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título;
II - aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais;
III - manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.
(27) 	→ Art. 195, § 8°
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei.
Este dispositivo estabelece que o pequeno produtor, que exerça atividade em regime de economia familiar, contribui para a seguridade social tendo como base a receita obtida com a comercialização da sua produção, e essa única contribuição sobre a receita garantirá o benefício para cada um dos membros da família que trabalham para a produção.
Não é todo trabalhador rural que se insere aqui, mas só “o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes”.
A contribuição só incide quando há receita. Se o pequeno produtor, por ex., está na entressafra e nada conseguiu arrecadar neste período, não contribuirá com nada.
É um regime muito peculiar de contribuição – por isso é chamado segurado especial aquele que contribui na forma do art. 195, § 8° CF. Esta é uma exceção ao princípio da uniformidade de tratamento entre a população rural e a urbana (art. 194, p. u., II, CF).
(28) 	→ Art. 195, § 9° (inserido pela EC 20/98)
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-de-obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.
As contribuições de empresa (contribuição social sobre a folha; COFINS; contribuição social sobre o lucro líquido) podem ter alíquotas ou base de cálculo diferenciadas, em razão de vários fatores: a) da atividade econômica; b) da utilização intensiva de mão-de-obra; c) do porte da empresa; ou d) da condição estrutural do mercado de trabalho. 
Este dispositivo permite, assim, a adequação de alíquota ou base de cálculo destas contribuições sociais em razão das peculiaridades de cada atividade econômica, consistindo em aplicação mais específica do princípio da equidade na forma de participação no custeio (art. 194, p. u., V, CF).
Imagine-se um banco e uma indústria, tendo ambas uma receita igual. Para atingir essa receita, contudo, a indústria tem uma folha de salários muito maior do que a do banco. De modo a haver uma tributação mais justa, a alíquota da contribuição social sobre a folha paga pelos bancos será maior do que a paga pelas indústrias, já que estas têm utilização intensiva de mão-de-obra. Esta alíquota maior para os bancos ocorre na prática, e o STF entendeu, a priori, ser constitucional, com base no art. 195, § 9º.
Para o Direito Tributário, a natureza jurídica específica de um tributo é definida a partir de seu fato gerador (art. 4º CTN). A base de cálculo é a tradução numérica do aspecto material da hipótese de incidência; por isso, a base de cálculo está sempre vinculada ao fato gerador. Desnaturar a base de cálculo é também desnaturar o fato gerador.
Em matéria de contribuição social, todavia, é possível que a lei estabeleça diferentes bases de cálculo em razão da atividade econômica, visto que o art. 195, § 9º, autoriza – isso acontece, por ex., em favor de empresas da área rural. Cuidado, pois essa diferenciação só é possível na contribuição social de empresas.
(29) 	→ Art. 195, § 10
§ 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema único de saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida de recursos.
A lei de que trata este dispositivo é a lei 8.080.
(30) 	→ Art. 195, § 11
§ 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar.
A remissão não se confunde com a anistia. Pelo CTN, a remissão é uma forma de extinção do crédito. Já a anistia é uma exclusão do crédito, e restrita às penalidades.
As contribuições do art. 195, I, a, e II, são tipicamente previdenciárias. Dentro da seguridade social, o único ramo necessariamente contributivo é a previdência. Por isso, no sistema previdenciário o anormal, o incomum, é dispensar o recolhimento de uma contribuição devida, sob pena de se prejudicar os segurados como um todo. Desta feita, o que quis o constituinte foi evitar que o legislador, por motivos diversos, perdoasse contribuições previdenciárias muito altas, lesando o equilíbrio financeiro do sistema previdenciário.
Até o momento, não há lei complementar fixando o montante a que alude este parágrafo. Assim, este dispositivo não tem eficácia prática.
(31) 	→ Art. 195, § 12
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas.
Ao passar pelas etapas da cadeia produtiva, o produto é revendido várias vezes, até chegar ao consumidor final. Em cada uma destas revendas, que terá um preço maior em cada etapa, incidem o ICMS e o IPI. Ao pagar o tributo, o contribuinte utiliza como crédito aquilo que foi pago na etapa anterior. A idéia da incidência não-cumulativa é chegar a um resultado financeiro idêntico ao que se chegaria se houvesse uma incidência única do tributo na etapa final.
O art. 195, § 12, trata da COFINS e da COFINS importação. Cada uma das empresas da cadeia produtiva tem faturamento, sobre o qual incide a COFINS. É de se observar que o mesmo produto que foi revendido entre tais empresas integrou o faturamento de cada uma delas. A receita referente à mesma mercadoria foi considerada no faturamento de todas as empresas. Há, então, uma incidência em cascata da COFINS, pois a mesma parcela de receita é tributada várias vezes.
As empresas sempre reclamaram que houvesse uma sistemática de incidência não-cumulativa da COFINS, à semelhança do que já ocorre com o ICMS e o IPI. Postulavam que a lei previsse uma possibilidade de a empresa que está no final da cadeia produtiva retirar da base de cálculo da COFINS aquilo que já havia sidotributado nas etapas anteriores.
A lei 10.833/03 veio a regulamentar o art. 195, § 12, CF, disciplinando esta incidência não-cumulativa da COFINS.
Ao atender esta demanda de incidência não-cumulativa da COFINS, a arrecadação do fisco diminuiria. O governo federal, então, para não perder receita, aumentou a alíquota tradicional de 3% para 7,6%. Isto trouxe vários problemas, como no caso dos prestadores de serviços, que tiveram a alíquota da COFINS majorada sem ter etapas anteriores para compensar como crédito. Para corrigir esta situação, determinadas atividades econômicas, a exemplo dos prestadores de serviços, retornaram à sistemática antiga, pagando alíquota de 3%.
(32) 	→ Art. 195, § 13
§ 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento.
Este parágrafo fala de duas coisas distintas. Assim, deste preceito legal é possível extrair duas normas jurídicas diferentes.
A primeira norma que se extrai é referente à contribuição da empresa sobre a folha de salários. O empresariado brasileiro alega que tal contribuição desestimula a aquisição de mão-de-obra. Por isso, sempre propugnaram por uma “desoneração da folha de salários”, ou seja, por uma redução da carga tributária incidente sobre a folha, para estimular a contratação de empregados. Para compensar a redução da contribuição sobre a folha de salários, o Poder Público majoraria a COFINS. O objetivo seria a redução do desemprego e o crescimento econômico.
Esse tema, no entanto, é altamente controvertido. Alguns especialistas dizem que ao fazer esta substituição da contribuição sobre a folha pela COFINS, corre-se o risco de prejudicar a Previdência, pois a primeira é privativa da Previdência Social, mas a última não. O objetivo de reduzir o desemprego não seria alcançado automaticamente, pois para contratar as empresas precisam de demanda, de infra-estrutura para a atividade, etc.
Em razão deste debate, o § 13 do art. 195 previu a possibilidade da “substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento”, mas isto não foi implementado até o momento.
Agora, vejamos a segunda norma. Imagine-se, hipoteticamente, que uma lei crie esta substituição, que deve ser gradual. Esta lei reduziria a alíquota da contribuição sobre a folha, mas majoraria a alíquota da COFINS. Esta alíquota adicional da COFINS será cobrada na sistemática cumulativa, antiga, ou na sistemática não-cumulativa? O eventual acréscimo de COFINS, oriundo desta substituição, será cobrado na sistemática em que a empresa se enquadrar, de acordo com sua atividade econômica (ex: para os prestadores de serviço, seria cobrada na sistemática cumulativa).
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