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Fichamento SPQR cap. 7 História Antiga 2

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Fichamento - História Antiga 2
BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga. São Paulo: Planeta, 2017.
Capítulo 7 – Do Império aos imperadores
1. Biografia do autor e obras:
2. Resumo:
3. Identificar os objetivos principais: listá-los em forma de citação.
4. Identificação do tema: o tema não é o problema ou o objetivo do texto, mas o assunto que está sendo tratado. Por isso é só listar os temas principais abordados pelo (s) autor/es.
5. Tese (s) do autor (es): nem sempre a tese está explicita, nem mesmo no início do texto; ela pode estar nas entrelinhas ou no final do texto.
6. Ideias
Cícero versus Verres
1)- Enquanto sinistras cruzes ainda estavam enfileiradas na Via Ápia em 70 a.C., o ano após a derrota final do exército de Espártaco, Cícero levantou-se num tribunal romano para processar Caio Verres [Gaius Verres] em nome de um grupo de sicilianos ricos. Seu objetivo era que tivessem uma compensação pelos roubos e depredações de Verres quando governador da ilha. O caso deslanchou a carreira de Cícero, que derrotou de modo espetacular os advogados e oradores consagrados que se juntaram para a defesa de Verres. Na realidade, o sucesso de Cícero foi tão espetacular que, depois de duas semanas de um julgamento previsto para durar muito tempo, Verres concluiu que o resultado não poderia ser revertido e, antes que o tribunal voltasse a se reunir após pausa para férias, foi voluntariamente para o exílio em Marselha, com boa parte dos seus ganhos obtidos ilicitamente – Pg. 249.
2)- Como todo promotor é praticamente obrigado a fazer, Cícero certamente exagerou a perversidade de Verres, em uma memorável, mas às vezes enganosa, combinação de ultraje moral, meias-verdades, autopromoção e piadas (particularmente com o nome “Verres”, que significa literalmente “porco) – Pg. 251.
3)- Na década de 70 a.C., com vastos territórios sob influência romana, fruto de dois séculos de lutas, negociações, agressão e boa sorte, a natureza do poder romanos e dos pressupostos dos romanos a respeito de suas relações com o mundo que agora dominavam estava mudando. Em termos amplos, o rudimentar Império de obediência havia se transformado, ao menos em parte, em um Império de anexação – Pg. 251.
4)- Uma evidência preciosa disso é o texto da lei sob a qual Verres foi processado. O texto não tem a fama da retórica vistosa de Cícero, mas nos levao aos bastidores, às tentativas romanas de criar uma estrutura legal, e arranjos práticos, para lidar com os direitos dos cidadãos das províncias – Pg. 252.
5)- Em meados do século I a.C., montados em suas conquistas além-mar, Pompeu, o Grande, e Júlio César haviam se tornado rivais em busca de poder autocrático: comandavam o que, na realidade, eram seus exércitos particulares; haviam desconsiderado princípios republicanos de modo ainda mais abrangente do que Sula ou Mário; e abriram a perspectiva do governo de um homem só, que o assassinato de César não conseguiu obstruir – Pg. 253.
Governantes e governados
1)- Em discurso eloquente, proferido ao voltar de um cargo menor na Sardenha. Caio Graco dirigiu palavras duras a seus colegas que iam lá com “ânforas cheias de vinho, trazendo-as para casa transbordando de prata. O domínio romano era quase sempre intervencionista pelos padrões dos regimes imperiais mais recentes: os habitantes locais mantinham seu próprio calendário, cunhagem de moedas, deuses, seus próprios sistemas jurídicos e governo civil. Mas onde e quando esse domínio se mostrou mais direto, parece ter caído em algum ponto do espectro entre exploração impiedosa, de um lado, e negligência, precariedade de recursos e ineficiência, de outro – Pg. 253.
2)- O homem que seis anos mais tarde liderou os assassinos de César estava a essa altura enfiado até o pescoço na usura, ocupado em emprestar dinheiro ao povo de Salamina, em Chipre, a juros ilegais de 48%. Cícero tinha uma clara simpatia pelos salaminianos e retirou o destacamento de soldados romanos que seu predecessor havia “emprestado” aos agentes de Brutus para ajuda-lo a extrair o que lhe deviam; conta-se que haviam sitiado a Câmara de Conselheiros em Salamina, obrigando cinco dos conselheiros locais a passarem fome até morrer. Mas Cícero, em vez de ofender o bem relacionado credor, decidiu fazer vista grossa à questão toda – Pg. 255.
3)- Muitos dos relatos desses malfeitos eram parte de uma discussão mais ampla, que começou por volta do final do século II a.C., a respeito de quais deveriam ser as regras e princípios éticos de um governo além-mar, ou – para colocar em termos ainda mais gerais – sobre como deveria ser o relacionamento com o mundo exterior quando os estrangeiros se tornavam pessoas a serem governadas, e não só combatidas – Pg. 255.
4)- E um século antes, em 149 a.C., havia sido criado em Roma um tribunal criminal permanente, com objetivo principal de oferecer indenizações aos estrangeiros e o direito de obter reparação contra extorsões cometidas pelos governadores romanos. Nenhum Império mediterrâneo havia tentado fazer isso sistematicamente antes. Pode ser um sinal de que a corrupção no governo do exterior havia começado cedo. Também mostra que existia há muito tempo vontade de combater a corrupção. A lei sob a qual Verres foi indiciado, originalmente parte do programa de reformas de Caio Graco, mostra aenorme parcela de cuidado, precisão e sofisticação legal que havia sido dedicada a esse problema por volta da década de 120 a.C. – Pg. 256.
5)- Trata-se da lei romana em sua manifestação mais bem cuidada e precisa, demonstrando uma competência sofisticada na elaboração de documentos legais, sem paralelo em nenhum outro lugar do mundo clássico antes dessa data, e bem distante dos esforços pioneiros, mas toscos, das Doze Tábuas – Pg. 257.
Senadores sob fogo
1)- Em linha com boa parte do resto de seu programa na década de 120 a.C., Caio tentava também policiar as atividades dos senadores. Sua reforma tinha tanto a ver com a política interna de Roma como com os sofrimento dos moradores das províncias – Pg. 258.
2)- Os équites estavam no topo da hierarquia romana de riqueza, detentores de substanciais propriedades, o que os colocava à parte da grande maioria dos cidadãos comuns, e com frequência tinham íntimas ligações com senadores. Eram muitos milhares por volta do final do século II a.C., em comparação com algumas poucas centenas de senadores – Pg. 258.
3)- Alguns equestres estavam envolvidos nos negócios potencialmente lucrativos da taxação provincial, graças a outra lei de Caio Graco. Pois foi ele quem primeiro dispôs que a coleta de impostos na nova província da Ásia deveria, como muitas outras responsabilidades do Estado, ser contratada com empresas privadas, frequentemente de propriedade dos equestres. Esses provedores eram conhecido como publicani – “provedores de serviços públicos” ou “publicanos”, como os coletores de impostos são chamados nas antigas traduções do Novo Testamento, o que confunde os leitores modernos – Pg. 259.
4)- Colocado em outros termos, quanto mais os publicani fossem capazes de arrochar os provinciais, maior o seu ganho – e eles não eram passíveis de processo sob a lei de reparação de Caio. Os romanos sempre haviam ganhado dinheiro com suas conquistas e seu Império, mas cada vez mais estavam em jogo interesses comerciais explícitos e até organizados – Pg. 259.
5)- Um caso notório dizia respeito a um senador, condenado por extorsão por um júri equestre tendencioso, que tinha tamanha confiança em seu histórico honrado, em sua reputação e popularidade, que foi para o exílio na própria província que supostamente seria a cena de seus crimes. Há um cheiro de favorecimento do Senado aqui – Pg. 260.
Roma à venda
1)- As alegações de corrupção, incompetência e exclusivismo esnobe de importantes senadores foram tópicos importantes nos amplos debates políticos realizados ao longo do último século da República. Esses eram os temas centrais do ensaio de Salústio A guerra contra Jugurta, uma devastadora análisedo prolongado fracasso de Roma em lidar com o governadora norte-africano, que a partir de 118 a.C. – por uma combinação de assassinatos dinásticos, intrigas e massacre indiscriminado – começou a estender seu controle pelo litoral mediterrâneo da África – Pg. 261.
2)- Essa lamentável história da África levantou grandes questões. Seria o Senado de fato capaz de conduzir o Império e proteger os interesses de Roma além-mar? Se não, que tipo de capacidade era necessária, e onde poderia ser encontrada? Para vários observadores romanos, a vulnerabilidade do Senado à propina era um grande fator para o fracasso: “Roma é uma cidade à venda e fadada a cair tão logo encontre um comprador”, foi o comentário sarcástico que Jugurta supostamente teria feito ao deixar a cidade – Pg. 262.
3)- Mas os romanos tendiam a usar o suborno como uma escusa prática toda vez que a guerra, as eleições ou os vereditos da corte não tinham o desfecho que esperavam. Corrupção direta desse tipo era provavelmente menos comum do que alegavam. E qualquer que fosse o esnobismo no cerne da classe governante, havia na prática mais espaço para talentos novos, ou talentos mais atuais, do que as raivosas afirmações de Salústio admitem – Pg. 263.
4)- Em essência, os soldados trocavam a absoluta lealdade a seus comandantes pela promessa de um pacote de aposentadoria – em uma permuta que na melhor das hipóteses passava ao largo dos interesses do Estado e na pior delas transformava as legiões em uma nova modalidade de milícia privada concentrada inteiramente nos interesses do seu general. Quando os soldados de Sula, e depois os de Julio César, seguiram seu líder e invadiram Roma, foi em parte devido à relação entre legiões e comandantes forjada por Mário – Pg. 264.
5)- Alguns dizem que [Mário], alucinando em seu leito de morte, agia como se tivesse obtido o comando contra Mitridates e expedia ordens para seus cuidadores, como se fossem soldados. Uma história triste de um homem idoso e iludido, mas o princípio do controle popular das nomeações no exterior que ele havia defendido foi várias vezes reafirmado ao longo das décadas seguintes – Pg. 265.
Pompeu, o Grande
1)- Cícero dirigiu-se ao povo romano em um encontro público sobre a segurança do Império. Agora pretor, e de olhos voltados para o consulado, falou em favor da proposta de um tribuno de colocar Pompeu no comando de uma guerra de longa duração, intermitente, contra mesmo o rei Mitridates, que já durava vinte anos, com sucesso dúbio. Os poderes de Pompeu incluiriam o controle quase total de um grande trecho de 40 mil soldados à sua disposição, e o direito de propor a paz ou de manter a guerra e de firmar tratados de modo mais ou menos independente – Pg. 266.
2)- Mesmo que tenha apenas chegado perto desses números, foi um massacre frio e calculado, mas é difícil resistir à sensação de que por volta da década de 60 a.C., após as campanhas de Sula nos anos 80 a.C., Mitridates poderia ter sido mais propriamente perturbador do que perigoso, e que havia se tornado um inimigo conveniente nos círculos políticos romanos: um bicho-papão que justificava as campanhas potencialmente lucrativas e uma arma com a qual era possível bater em rivais acusando-os de inativos – Pg. 266.
3)- Ao defender seu apoio a esse comando especial, Cícero destacou o sucesso relâmpago de Pompeu no ano anterior ao limpar o Mediterrâneo de piratas, graças também aos poderes abrangentes votado por uma Assembleia popular – Pg. 267.
4)- Bem-sucedido novamente, acabou virando cônsul para 70 a.C., com a idade de apenas 35 anos e saltando todos os cargos menores, flagrantemente em desacordo com as recentes regulamentações de Sula sobre o assunto. Era tão ignorante do que acontecia no Senado – que como cônsul ele deveria presidir -, que pediu a um amigo mais esclarecido que escrevesse para ele um manual sobre os procedimentos senatoriais – Pg. 268.
5)- Ao longo dos quatro anos seguintes, sob os termos de seu novo comando, Pompeu empenhou-se em redesenhar o mapa da parte oriental do Império Romano, do mar Negro ao norte da Síria e Judeia ao sul. Na prática, não pode ter feito isso sozinho; contou com a ajuda de centenas de amigos, oficiais menores, escravos e assessores – Pg. 269.
6)- No triunfo que ele celebrou em 61 a.C., em seu retorno a Roma e no dia em que completava 45 anos de idade (sem dúvida uma coincidência planejada), conta-se que Pompeu usou uma capa que havia pertencido a Alexandre, o Grande. Onde ele poderia ter encontrado essa fantasiosa peça de vestuário é impossível saber – e ele não enganou muito observadores romanos sagazes, que se mostraram não menos céticos do que nós em relação à autenticidade do tecido. Mas era algo presumivelmente voltado para combinar não só com o nome (“o Grande”) que havia tomado emprestado de Alexandre, mas também as ambições de uma conquista imperial grandiosa – Pg. 269.
O primeiro imperador
1)- Pompeu deu boas razões para ser chamado de primeiro imperador romano. É verdade que acabou passando para a história como o homem que por último apoiou a causa da República contra o poder cada vez mais independente de César, e portanto como um oponente ao poder imperial – Pg. 270.
2)- Júlio César, por exemplo, foi a primeira pessoa viva cuja cabeça figurou numa moeda cunhada em Roma. Até então, as moedas romanas tinham desfilado apenas imagens de heróis havia muito tempo falecidos, e a inovação foi um sinal ostensivo do poder pessoal de César, e um exemplo seguido por todos os governantes romanos – Pg. 270.
3)- Mesmo assim, como um pacote, as honrarias de Pompeu ocorreram em uma escala totalmente nova. É difícil de entender como foi possível, depois desse tipo de engrandecimento no Oriente, e depois do poder que exerceu na reorganizações de vastas extensões do território, que Pompeu voltasse a Roma para se tornar um senador comum, apenas um entre vários. Ao que parece, foi exatamente isso que fez – Pg. 271.
4)- Deve ter parecido um passo arriscado, pois conta-se que Pompeu desfrutou desse novo privilégio apenas uma vez – e isso, como um escritor romano muito bem observou setenta anos mais tarde, “já foi frequência excessiva” – Pg. 273.
5)- Uma dos grande dilemas ao longo da República romana sempre foi como equilibrar a realização individual e a celebridade com a igualdade idealizada da elite e com os princípios de compartilhamento de poder – Pg. 273.
6)- Sempre houve figuras históricas antes de Pompeu cuja proeminência entrou em conflito com a estrutura de poder tradicional do Estado. Mário e Sula são exemplos óbvios. Porém, mais de cem anos antes deles, apesar de sua série de grandes vitórias, ou talvez por causa disso, Cipião Africano decidiu passar o fim de sua vida em um exílio virtual, após várias tentativas de tribunais romanos diminuírem-lhe a importância: daí seu enterro no sul da Itália e não no grande túmulo da família Cipião em Roma – Pg. 273.
O Bando dos três
1)- Em 60 a.C., dois anos depois de voltar a Roma, Pompeu ficou frustrado com o Senado, que não havia ratificado formalmente seu assentamento no Oriente em vez disso, procrastinava, confirmando o assentamento passo a passo, em vez de fazê-lo em bloco – Pg. 274.
2)- O apoio mútuo parece a melhor maneira de conseguir vários objetivos. Assim, num acordo totalmente não oficial, os três juntaram recursos, poder, contatos e ambições para conseguir o que queriam a curto e também a longo prazo – Pg. 274.
3)- Para muitos observadores antigos esse foi outro marco na estrada que levou à queda do governo republicano. O poeta Horário, examinando retrospectivamente as coisas a partir de outra ponta dessa queda, foi um daqueles que apontaram o ano 60 a.C., ao aludir, conforme datação romana tradicional, à “guerra civil que começou quando Metelo era cônsul”. “Catão, o jovem” – o grande neto do “Velho” e um dos inimigos mais devotados de César – argumento que a cidade havia sido subvertida não quando César e Pompeu brigaram, mas quando se tornaram amigos – Pg. 274.
4)- Césarfoi devidamente eleito cônsul para 59 a.C. e, em meio a uma séria de medidas que lembrava muito os programas de tribunos radicais anteriores, legislou a favor dos outros dois. E também assegurou para si um comando militar no sul da Gália, onde uma vasta área do outro lado dos Alpes foi anexada – Pg. 275.
5)- Em 52 a.C., por exemplo, após o assassinato de Clódio, Pompeu foi eleito cônsul único. Em vez de nomear um ditador para cuidar da crescente crise, com todas as memórias da ditadura de Sula, o Senado decidiu dar a um só homem um cargo que por definição sempre fora compartilhado. Dessa vez a aposta rendeu. Em poucos meses, Pompeu não havia só tomado firme controle da cidade com também arrumara um colega cônsul, embora da própria família: seu novo sogro – Pg. 278.
6)- A descrição que César fez dessas campanhas nos sete volumes do seu Comentários sobre a Guerra na Gália, uma versão editada de seus despachos oficias anuais desde a linha frente, enviados a Roma, começa com a sua famosa e impessoal abertura, “Gallia est omnis divisa in partes tres" (A Gália inteira divide-se em três partes) – Pg. 279.
7)- César era extremamente preocupado com a sua imagem pública, e os Comentários são uma justificativa cuidadosamente elaborada de sua conduta e um desfile de seus talentos militares. Mas são também um dos primeiros exemplos do que poderíamos chamar de etnografia imperial – Pg. 279.
8)- Lendo as entrelinhas dos Comentários, qualquer um pode notar que os motivos da década de confrontos com a Galia foram as ansiedades romanas a respeito dos inimigos no norte, e também o desejo de César de superar em glória militar qualquer um de seus rivais – Pg. 279.
9)- Ao fazer isso, César lançou os alicerces da geografia política da moderna Europa, além de massacrar 1 milhão de pessoas por toda a região. Seria errado imaginar que os gauleses eram inocentes amantes da paz brutalmente esmagados por forças de César. Um visitante grego do início do século I a.C. ficou chocado ao encontrar cabeças inimigas casualmente pregadas na entrada das casas gaulesas, embora admitisse que, depois de um tempo, você se habituava com aquela visão, e os mercenários gauleses haviam trabalhado muito na Itália até que o poder de Roma fechou-lhes o mercado – Pg. 280.
10)- César e seus apoiadores insistiam que esse tratamento seria humilhante, que a sua dignitas – uma combinação caracteristicamente romana de autoridade, prestígio e direito ao respeito – estaria sendo atacada. A questão subjacente era brutalmente direta: César, com mais de 40 mil soldados à sua disposição e a apenas alguns dias da Itália, seguiria o exemplo de Sula ou de Pompeu? – Pg. 281.
11)- Em dezembro daquele ano, o Senado votou por uma maioria de 370 a 22 que César e Pompeu deveriam abrir mão de seus comandos simultaneamente. Pompeu estava em Roma à época, mas desde 55 a.C., graças a outro lance engenhoso, era governador da Espanha, exercendo o cargo remotamente, por meio de delegados – um arranjo inédito que virou uma recurso-padrão do governo dos imperadores. O sinal mais claro da impotência do Senado a essa altura é que a reação de Pompeu a essa votação esmagadora tenha sido simplesmente ignorá-la, e que César, após mais algumas rodadas de negociações infrutíferas, tenha decidido marchar para a Itália – Pg. 281.
Lançando os dados
1)- O que aconteceu em seguida foram quatro anos de guerra civil. Alguns dos apoiadores de César em Roma logo se juntaram a ele no norte da Itália, enquanto Pompeu foi empurrado para o comando dos “anticesarianos” e decidiu sair da Itália e lutar a partir de sua base de poder no Oriente. Em 48 a.C., suas forças foram derrotadas na Batalha de Farsalo, no norte da Grécia, e Pompeu foi assassinado logo depois, quando tentou se refugiar no Egito. Mas apesar de sua famosa rapidez (celeritas era um de seus temas), César ainda levou mais três anos, até 45 a.C., para superar seus adversários romanos na Àfrica e na Espanha, assim como para resolver os problemas com Farnácio, filho e usurpador de Mitridates. Entre a travessia do Rubicão e sua morte em março de 44 a.C., César fez apenas algumas rápidas visitas a Roma; a mais longa foi a estadia de cinco meses, a partir de outubro de 45 a.C. Do ponto de vista da cidade, tornou-se um ditado em grande medida ausente – Pg. 283.
2)- O irônico é que Pompeu, sua figura-símbolo, era tão autocrático quanto César. Qualquer que fosse o lado vencedor, como observou Cícero, o resultado estava destinado a ser o mesmo: escravidão para Roma – Pg. 283.
3)- Uma grande mudança, porém, ocorreu: a guerra civil romana agora envolvia quase todo o mundo conhecido. Enquanto as guerras entre Sula e seus rivais haviam testemunhado incidentes ocasionais no Oriente, a guerra entre os seguidores de César e de Pompeu abrangeu o Mediterrâneo, da Espanha à Grécia e Ásia Menor – Pg. 284.
4)- O Egito teve papel importante em fornecer apoio. Foi ali que Pompeu, o homem que havia antes governado o mundo romano, encontrou seu ignomioso fim em 48 a.C. Ele esperava uma calorosa acolhida quanto aportou. Na realidade, foi decapitado pelos apoiadores de uma dinastia local, convencidos de que, ao eliminarem o líder inimigo, estariam ganhando pontos com César – Pg. 285.
5)- O assassinato, no entanto, revelou-se um grande lance equivocado para os seus perpetradores. César, que chegou algum dias depois, ao que parece chorou ao lhe mostrarem a cabeça de Pompeu, e em seguida apoiou uma dos rivais ao trono do Egito. Esse rival era a rainha Cleópatra VII, mais conhecida por sua aliança, política e romântica, com Marco Antônio, no capítulo seguinte das guerras civis romanas. Mas a essa altura os interesses dela estavam todos em César, com quem teve um caso e – a crer em suas afirmações sobre paternidade – também um filho – Pg. 285.
Os idos de Março
1)- Deveria partir para o Oriente no dia 18 de março, mas apenas alguns dias antes disso, um grupo de cerca de vinte senadores descontentes, apoiados ativa ou passivamente por outros doze, levou-o à morte – Pg. 286.
2)- A ação, apropriadamente, teve lugar na nova casa do Senado, que Pompeu construíra em seu novo complexo do teatro, diante de uma estátua dele próprio, que acabou salpicada com o sangue de César. Graças em parte à reelaboração do tema na peça Júlio César, de Shakespeare, o assassinato do ditador romano em nome da libertas, tem sido desde então o modelo para o último recurso da oposição contra a tirania e para assassinos baseados em princípios – Pg. 286.
3)- Apesar de suas raras aparições em Roma, César iniciou uma grande programa de reformas maior ainda que o de Sula. Um deles governa nossa vida até hoje. Pois – com a ajuda dos cientistas especialistas que conheceu em Alexandria – César introduziu em Roma o que veio a se tornar nosso sistema ocidental de medição do tempo – Pg. 287.
4)- Mas tinha planos ainda mais ambiciosos de reformular o governo romano, incluindo tentativas de regularizar – até de microgerir – todo tipo de aspecto da organização civil, não só em Roma, mas em toda a Itália. Isso abrangeria desde questões sobrem quem deveria exercer cargos em comunidades italianas (nada de coveiros, alcoviteiros, atores ou leiloeiros, a não ser que estivessem aposentados) até questões como a manutenção de estradas (donos das casas seria responsáveis pela calçada em frente a sua residência) e administração do trânsito (nada de veículos de carga pesada em Roma durante o dia, exceto para propósitos como a construção e reparos de templos, ou remoção de entulhos de demolições) – Pg. 288.
5)- Quase piores no contexto romano foram os fortes indícios de que ele pretendia tornar-se rei. Em ocasião famosa mas bastante sombria, apenas um mês antes de seu assassinato, seu leal lugar-tenente e um dos cônsules daquele ano, Marco Antônio, aproveitou a festa da Lupercália para oferecer a César uma coroa real – Pg. 288.
6)- Mesmo que fosse um “Não, obrigado”, sua postura de ditador, assumida de várias formas desde 49 a.C., parecia perniciosa a alguns.Ele primeiro foi nomeado para o cargo de curto mandato, para realizar eleições para o consulado do ano seguinte – um procedimento bastante tradicional, exceto pelo fato não tradicional de ele ter supervisionado a sua própria eleição – Pg. 289.
7)- O que agora pode parecer a melhor qualidade de César era, ironicamente, a que estava em conflito mais flagrante com a tradição republicana. Ele deu muito valor à sua clementia, ou misericórdia [...] César perdoara vários de seus futuros assassinos, entre eles Brutus, depois de eles terem lutado do lado de Pompeu na guerra civil. De muitas maneiras, a clementia era o slogan político da ditadura de César. No entanto, provocou tanta oposição quanto gratidão, pelo simples fato de que, por virtuosa que possa ter sido em muitos aspectos, era de feição, inteiramente monárquica. Apenas aqueles com o poder de fazer de outro modo podem exercer misericórdia. A clementia, em outras palavras, era o antítese da libertas republicana. Diziam que Catão havia se matado para escapar dela – Pg. 289, 290.
8)- Mas eles estavam também defendendo uma visão de liberdade e da importância das tradições republicanas que remontava, na mitologia de Roma, ao momento em que o ancestral distante de Brutus foi fundamental para expulsar os Tarquínios e se tornar um dos membros do primeiro par de cônsules. Na realidade, o desenho de uma moeda de prata emitida mais tarde pelos assassinos sublinha exatamente esse aspecto, ao mostrar o chapéu característico – o pileus, ou quepe da liberdade – que os escravos usavam quando lhes era concedida a liberdade. A mensagem, portanto, era que o povo romano havia sido libertado – Pg. 291.
7. Problematizações principais
8. Listar as fontes e os principais autores (historiografia) mencionados no texto
9. Síntese crítica do texto:

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